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Autores - Texto: Natália Tavares Reis.

Ana Bárbara Xavier Luciano Lucena


Autores - Vídeos: AFEPA ONLINE

INTRODUÇÃO AS INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS
.
O uso de múltiplos medicamentos, ou poli farmácia, é comum e crescente na prática clínica,
principalmente em pessoas acima de 65 anos. Este crescimento relaciona-se a vários fatores,
como o aumento da expectativa de vida e o consequente aumento da multimorbidade, à maior
disponibilidade de fármacos no mercado.

Quando dois medicamentos são administrados concomitantemente a um paciente, eles


podem agir de forma independente entre si, ou podem propiciar aumento ou diminuição de
efeito terapêutico ou de efeito tóxico de um ou de outro.

DEFINIÇÃO
Interação Medicamentosa: Modificação do efeito de uma droga no organismo quando
administrada em combinação com outras drogas, com potencialização ou redução do efeito
terapêutico, ou com reações adversas com distintos graus de gravidade.

As respostas decorrentes da interação podem acarretar potencialização do efeito


terapêutico, redução da eficácia, aparecimento de reações adversas com distintos graus de
gravidade ou ainda, não causar nenhuma modificação no efeito desejado do medicamento,
Portanto, a interação entre medicamentos pode ser útil (benéfica), causar respostas
desfavoráveis não previstas no regime terapêutico (adversa), ou apresentar pequeno
significado clinico.

Nessa video-aula a Dra. Amouni M. Mourad traz os principais mecanismos de Interações


As interações benéficas são abordagens terapêuticas fundamentais em diversas
patologias. No tratamento da hipertensão arterial severa a combinação de medicamentos com
mecanismos de ação diferentes promove a redução mais eficiente da pressão sanguínea; na
quimioterapia antineoplásica a associação de antagonistas serotoninérgicos e dopaminérgicos
está recomendada para minimizar o quadro de náusea e vômito 4, na sedação a associação de
hipnóticos, analgésicos e bloqueadores neuromusculares é necessária para manutenção do
estado anestésico completo.

Em contrapartida as interações adversas podem acentuar os efeitos indesejados dos


medicamentos, acarretar ineficácia terapêutica e colocar em risco a vida do paciente.

MECANISMOS DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

• ANTERIOR A ABSORÇÃO

INTERAÇÃO FARMACÊUTICA (OU INCOMPATIBILIDADE)

São interações do tipo físico-químicas que ocorrem quando dois ou mais medicamentos
são administrados na mesma solução ou misturados no mesmo recipiente e o produto obtido
é capaz de inviabilizar a terapêutica clínica. Portanto, acontecem fora do organismo, durante o
preparo e administração dos medicamentos parenterais (incompatibilidade entre os agentes
misturados ou com o veiculo adicionado) e freqüentemente resultam em precipitação ou
turvação da solução; mudança de coloração do medicamento ou inativação do princípio ativo.

Devem-se a reações fisicoquímicas que resultam em:


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• Alterações organolépticas – evidenciadas como mudanças de cor, consistência (sólidos),


opalescência, turvação, formação de cristais, floculação, precipitação, associadas ou não a
mudança de atividade farmacológica.

• Diminuição da atividade de um ou mais dos fármacos originais.

• Inativação de um ou mais fármacos originais.


• Formação de novo composto (ativo, inócuo, tóxico).

• Aumento da toxicidade de um ou mais dos fármacos originais. A ausência de alterações


macroscópicas não garante a inexistência de interação medicamentosa.

As interações benéficas são abordagens terapêuticas fundamentais em diversas


patologias. No tratamento da hipertensão arterial severa a combinação de medicamentos com
mecanismos de ação diferentes promove a redução mais eficiente da pressão sanguínea ; na
quimioterapia antineoplásica a associação de antagonistas serotoninérgicos e dopaminérgicos
está recomendada para minimizar o quadro de náusea e vômito, na sedação a associação de
hipnóticos, analgésicos e bloqueadores neuromusculares é necessária para manutenção do
estado anestésico completo.

Em contrapartida as interações adversas podem acentuar os efeitos indesejados dos


medicamentos, acarretar ineficácia terapêutica e colocar em risco a vida do paciente.

INTERAÇÃO FARMACOCINÉTICA
As interações deste tipo interferem no perfil farmacocinético do medicamento, podendo
afetar o padrão de absorção, distribuição, metabolização ou excreção. São interações difíceis de
prever, porque ocorrem com medicamentos de princípios ativos não relacionados. Modificam a
magnitude e duração do efeito, mas a resposta final do medicamento é preservada.

INTERAÇÕES QUE MODIFICAM A ABSORÇÃO

Absorção é o processo de transferência do medicamento do local de administração para


a corrente sanguínea. Fatores como o fluxo sanguíneo do trato gastrointestinal (TGI), pH,
motilidade, dieta e presença de outras substâncias e o tipo de formulação farmacêutica interferem
nesse evento.

INTERAÇÕES QUE MODIFICAM A METABOLIZAÇÃO

No processo de metabolização os medicamentos são transformados pelas enzimas


microssomias hepáticas em frações menores, hidrossolúveis. As interações que ocorrem nesta
fase são precipitadas por medicamentos com capacidade de inibirem ou induzirem o sistema
enzimático.
INTERAÇÕES QUE MODIFICAM A EXCREÇÃO

A maioria dos medicamentos é eliminada quase que totalmente pelos rins. Desta forma, a
taxa de excreção de vários agentes pode ser modificada através de interações ao longo do
néfron. As alterações do pH urinário interferem no grau de ionização de bases e ácidos fracos
afetando as respostas farmacológicas, por exemplo, o bicarbonato de sódio é utilizado para
aumentar a excreção de ácidos fracos em casos de intoxicação por barbitúricos.

INTERAÇÃO FARMACODINÂMICA

A interação farmacodinâmica causa modificação do efeito bioquímico ou fisiológico do


medicamento. Geralmente ocorre no local de ação dos medicamentos (receptores
farmacológicos) ou através de mecanismos bioquímicos específicos, sendo capaz de causar
efeitos semelhantes (sinergismo) ou opostos (antagonismo).

SINERGISMO

Sinergismo é um tipo de resposta farmacológica obtida a partir da associação de dois ou


mais medicamentos, cuja resultante é maior do que simples soma dos efeitos isolados de cada
um deles. O sinergismo pode ocorrer com medicamentos que possuem os mesmos mecanismos
de ação (aditivo); que agem por diferentes modos (somação) ou com aqueles que atuam em
diferentes receptores farmacológicos (potencialização). Das associações sinérgicas podem surgir
efeitos terapêuticos ou tóxicos.

ANTAGONISMO

No antagonismo a resposta farmacológica de um medicamento é suprimida ou reduzida


na presença de outro, muitas vezes pela competição destes pelo mesmo sítio receptor. São tipos
de interações que podem gerar respostas benéficas, por exemplo, no caso da utilização do
naloxone (antagonista opióide) nos quadros de depressão respiratória causados pela morfina, ou
acarretar ineficácia do tratamento, por exemplo, no caso da associação indevida entre o
propranolol (bloqueador de receptores b) e do salbutamol (agonistas de receptores b) 16,17,2
EFEITO DE ALIMENTOS SOBRE A ABSORÇÃO DE
MEDICAMENTOS
O uso concomitante de medicamentos com alimentos pode ter implicações clínicas
importantes, contudo, muitas dessas combinações não produzem interações ou resultam em
interações sem importância clínica.

Como resultado, alguns medicamentos são preferentemente administrados com alimento,


seja para aumentar a absorção ou para diminuir o efeito irritante sobre o estômago; de modo
oposto, há medicamentos que têm a disponibilidade e a eficácia diminuídas se administrados com
alimentos. Nestes casos, a administração deve ser feita com estômago vazio, ou seja, uma hora
antes ou duas horas depois das refeições.

Dietas com elevado teor de proteínas, repolho e ingestão crônica de etanol podem
aumentar a biotransformação de fármacos enquanto o maior consumo de carboidratos, dietas
vegetarianas, ingestão aguda de etanol, consumo de xantinas (café, alguns chás,
cacau/chocolate), ácido ascórbico e tocoferol podem diminuir a biotransformação.

Proteínas e carboidratos acidificam a urina, aumentando o tempo de eliminação de


fármacos ácidos, como barbitúricos e sulfonamidas, e podem provocar aumento do efeito
farmacológico. Dieta pobre em proteínas, como nas vegetarianas, e consumo de leite e derivados
alcalinizam a urina, favorecendo a reabsorção de fármacos alcalinos, prolongando sua meia -vida
no organismo e aumentando a excreção de fármacos ácidos.

Fármacos podem modificar o metabolismo de nutrientes, e, em alguns casos, determinar


alteração do estado de nutrição. Por exemplo, o metotrexato e a ciclosporina lesam a mucosa
intestinal, diminuindo a absorção de cálcio. Antiácidos, laxativos e antimicrobianos podem causar
a perda de nutrientes. Nestes e em outros casos, o suplemento dietético pode ser necessário
para restabelecer as condições normais de nutrição do paciente.

Zinco, magnésio, ácido ascórbico e riboflavina apresentam função de grande relevância


na biotransformação hepática de fármacos; o zinco, por exemplo, é elemento básico para a
atividade de enzimas específicas do processo de biotransformação.

INTERAÇÃO DE FÁRMACOS COM EXAMES DE


LABORATÓRIO

Fármacos ou metabólitos podem alterar resultados de exames de laboratório por


interferência analítica (quando alguma propriedade física ou química da droga interferem com a
reação do teste) ou efeito biológico (quando o medicamento causa alterações a nível corporal).
Assim, Como exemplo de interferência analítica pode-se citar o falso aumento dos valores de
frutosamina no soro de pacientes utilizando o captopril. Já na interferência por efeito fisiológico
ou in vivo se pode citar as drogas enalapril e a hidroclorotiazida que provocam alterações nas
dosagens de ácido úrico no soro.
IMPACTO DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

As interações medicamentosas são um dos principais fatores para o aumento da taxa de


internação nos hospitais, o aumento no tempo de estadia e a morbimortalidade dos pacientes.
Estudo realizado por Stoll e Kopittke (2015), revela que no Brasil quase metade dos pacientes
internados submetidos a quimioterapia tem pelo menos uma IMM potencial, a qual pode resultar
em uma falha na farmacoterapia ou até na morte do paciente.

DEIXAMOS COMO PRINCIPAL INDICAÇÃO DE MATERIAL DE LEITURA COMPLEMENTAR


https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alia
s=1316-interacoes-medicamentos-uso-racional-medicamentos-temas-selecionados-n-4-
6&category_slug=assistencia-farmaceutica-958&Itemid=965

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REFERÊNCIAS

Nascimento RCRM, Álvares J, Guerra Junior AA, Gomes IC, Silveira MR, Costa EA, et al.
Polifarmácia: uma realidade na atenção primária do Sistema Único de Saúde. Rev Saúde
Pública. 2017;51 Supl 2:19s

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.


Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Formulário terapêutico
nacional 2010: Rename 2010/Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos.
– 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

Barros, Elvino. Medicamentos na prática clínica. Elvino Barros, Helena M.T. Barros. Porto
Alegre: Artmed, 2010.

SECOLI, Silvia Regina. Interações medicamentosas: fundamentos para a pratica clínica da


enfermagem. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2001, vol.35, n.1 [cited 2020-07-03], pp.28-
34. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-
62342001000100005&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1980-
220X. https://doi.org/10.1590/S0080-62342001000100005.

AMARAL, Raiene Oliveira. PREVALÊNCIA DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS


CLINICAMENTE MANIFESTADA EM PACIENTES HOSPITALIZADOS: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA São Cristóvão, SE Novembro de 2016 Available from:
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/10393/2/Raiane_Oliveira_Amaral.pdf

MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.


HOEFLER, Rogério e WANNMACHER Lenita - Interações de Medicamentos. Acessado em
17 de junho de 2020. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1316-
interacoes-medicamentos-uso-racional-medicamentos-temas-selecionados-n-4-
6&category_slug=assistencia-farmaceutica-958&Itemid=965

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