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FARMACOLOGIA I

- Interacções Farmacológicas
7ª Aula Teórico-Prática_09.Novembro.2018
Ana Serralheiro
SUMÁRIO
- Interacções Farmacológicas
- Definição
- Previsibilidade das Interacções
- Fármacos mais Susceptíveis de Provocar Interacções
- Tipos de Interacções e Principais Mecanismos de Interacção
- Interacções Farmacêuticas
- Interacções Farmacocinéticas
- Interacções Farmacodinâmicas
- Regras Práticas de Prevenção e Detecção de Interacções

Ana Serralheiro
INTERACÇÕES FARMACOLÓGICAS
Modificação da resposta a um dado fármaco (profiláctica, terapêutica ou de diagnóstico)
pela acção de um segundo agente químico (fármaco, elemento da dieta ou ambiental)

 A acção de cada um ou de ambos os fármacos pode ser:


 Aumentada
 Diminuída
 Aparecimento de um novo efeito, que não se verifica quando
cada um dos fármacos é administrado isoladamente

ÚTEIS ou DESEJADAS • L-dopa + benserazida / carbidopa


(sinergismo: bloqueio da
- Aumento da eficácia / efectividade descarboxilação periférica da L-dopa)
INTERACÇÕES - Aumento da segurança • sulfametoxazol + trimetoprim
(potenciação da acção terapêutica)
FARMACOLÓGICAS

• fluoxetina + inibidores MAO-A


NOCIVAS ou INDESEJADAS (síndrome serotoninérgica: náuseas,
- Diminuição da eficácia /efectividade ansiedade, confusão, febre e morte)
- Diminuição da Segurança - Aumento
de reacções secundárias ou tóxicas
Ana Serralheiro
INTERACÇÕES FARMACOLÓGICAS

AUMENTO DA FREQUÊNCIA E GRAVIDADE

1. POLIPRAGMASIA – Grande tendência para o uso


simultâneo de vários fármacos no mesmo doente
2. Uso de fármacos potentes e de margem terapêutica
estreita (ex: digitálicos, anticoagulantes, antiarrítmicos)
3. Acesso facilitado e mais frequente ao tratamento
medicamentoso por parte da população

A probabilidade de ocorrência de interacção é tanto maior quanto


maior for o nº de fármacos que se administram simultaneamente
 Doentes que utilizam 5 medicamentos têm 50% de probabilidade de
ocorrência de uma interacção
 Doentes que utilizam 7 medicamentos, a probabilidade aumenta para 100%

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PREVISIBILIDADE DAS INTERACÇÕES
Altamente previsiveis, previsíveis, não previsíveis e não definida

1. Altamente Previsíveis
Ocorrem em quase todos os doentes que recebem a combinação que origina
a interacção
2. Previsíveis
Ocorrem na maior parte dos doentes que recebe a combinação
3. Não Previsíveis
Ocorrem apenas em alguns doentes que recebem a combinação
4. Não Definida
Não existem dados disponíveis sobre os quais se baseia a predictibilidade

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FÁRMACOS MAIS SUSCEPTÍVEIS DE
PROVOCAR INTERACÇÕES
 A importância de uma interacção depende de factores relacionados com os
fármacos e com a patologia em questão: Importância da interação:
Fármacos e patologia em questão

 Magnitude da variação produzida e amplitude da margem terapêutica


 Quanto maior for a gravidade da patologia, maior significado terá uma
interacção que reduza a acção do fármaco
Fármaco: Magnitude da variação e amplitude da margem terapêutica
Patologia: Gravidade, quanto maior é maior terá o significado da interação que reduza a ação do
fármaco
 Os fármacos que mais frequentemente desencadeiam interacções são:
o Grande afinidade para as proteínas, deslocando com maior facilidade outros
fármacos dos seus locais de acção (ex: AINEs)
o Aumentam ou diminuem o metabolismo de outros fármacos
(ex: Antiepilépticos, rifampicina)
o Alteram a função renal e a eliminação de outros fármacos (ex: Diuréticos)

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FÁRMACOS MAIS SUSCEPTÍVEIS DE
PROVOCAR INTERACÇÕES

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TIPOS DE INTERACÇÕES

INTERACÇÕES FARMACOLÓGICAS
FARMACÊUTICAS FARMACOCINÉTICAS FARMACODINÂMICAS
Incompatibilidade do tipo FQ Resposta modificada devida a sinergismo, antagonismo e
potenciação. Divergância ao nível dos recetores e
Incompatibilidades de tipo Modificação do efeito processos moleculares após a ativação dos recetores

físico-químico que farmacológico de um fármaco Modificação da resposta


impedem a administração por alteração dos seus farmacológica por fenómenos
simultânea de dois ou mais processos de absorção, de sinergismo, antagonismo e
fármacos na mesma distribuição, metabolismo e potenciação
formulação eliminação Alteração do ADME,
consequentemente diferença na
concentração no local de ação e/ou
tempo de permanência no
organismo

Alteração da concentração de Receptores farmacológicos


fármaco que atinge o local de Processos moleculares
acção e/ou tempo de subsequentes à activação dos
permanência no organismo receptores

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INTERACÇÕES FARMACÊUTICAS
Características físico-químicas dos fármacos podem dar origem a incompatibilidades que
tornem impossível a sua administração na mesma forma farmacêutica
Características FQ Incompatibilidade Impossibilidade de administração na mesma FF

Exemplos – Alteração do pH e inactivação


- Anfotericina B precipita quando misturada em soro fisiológico mas não com dextrose 5%
- Tiopental precipita com a adição de soluções de fármacos com pH ácido
- Fenitoína precipita em solução ácida e soluções de dextrose 5%
- Hidrocortisona inactiva penicilinas e heparina

Normas gerais para evitar interacções farmacêuticas


• Adição do fármaco a uma solução parentérica de tipo simples
(NaCl isotónico ou glicose a 5%)
• Não adicionar fármacos a frascos que contenham sangue, soluções de
aminoácidos ou emulsões gordas
• Idealmente, adicionar apenas um fármaco à solução. Quanto maior for o nº
de fármacos, maior é a probabilidade de ocorrerem interacções
• A adição do fármaco à solução parentérica deverá ser realizada pouco
tempo antes da sua administração

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INTERACÇÕES FARMACOCINÉTICAS
Modificação do efeito farmacológico de um fármaco por alteração dos seus processos de
Absorção, Distribuição, Metabolismo e Eliminação (sistema ADME)

Absorção
Ligação ou formação de sais de cálcio, magnésio, alumínio + tetraciclinas (↓absorção)
cafeína + ergotamina (↑ absorção)
complexos / Adsorção
carvão activado + varfarina ou levotiroxina (↓absorção)
Alteração do pH Antimuscarínicos + cetoconazol (↑pH gástrico, com ↓absorção do
(grau de ionização) cetoconazol)

Antimuscarínicos + levodopa (↑metabolização gástrica, ↓absorção)


Alteração da velocidade de Antimuscarínicos + paracetamol
esvaziamento gástrico Opiáceos + paracetamol ou antiarrítmicos (↓esvaziamento gástrico)
metoclopramida + diazepam (↑esvaziamento gástrico, ↑absorção)
Alteração do peristaltismo Antidiarreicos + clindamicina (↑absorção – efeitos tóxicos)
intestinal Laxantes + formas de libertação prolongada (↓absorção)
Ligação ou Formação de complexos/Adsorção; Alteração do pH; Alteração da velocidade de esvaziamento gástrico e Alteração do peristaltismo intestinal

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INTERACÇÕES FARMACOCINÉTICAS
Absorção
Antibióticos + anticoagulantes orais (↓síntese de vit.K, potenciação
Alteração da flora intestinal do efeito anticoagulante)

Alteração dos Competição por sistemas de transporte, diminuindo a absorção


transportadores intestinal. Indução/inibição de transportadores (P-gp)
Neomicina e fenolftaleína – atrofia das vilosidades intestinais
Alteração da mucosa GI conduzindo a uma má absorção generalizada

Alteração da flora intestinal; alteração de transportadores e Alteração da mucosa GI

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INTERACÇÕES FARMACOCINÉTICAS
Distribuição
AAS + tolbutamida (↑efeito hiploglicemiante)
Ligação às proteínas AAS + metotrexato (↑toxicidade)
plasmáticas Sulfamidas + anticoagulantes orais (↑risco hemorragia)
Furosemida + varfarina (↑risco hemorragia)
Ligação às proteínas
quinidina + digoxina (↑toxicidade)
tecidulares

Ligação às proteínas plasmáticas e tecidulares

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INTERACÇÕES FARMACOCINÉTICAS
Metabolismo
INTERACÇÕES FARMACOLÓGICAS – Metabolismo CYP450
INDUÇÃO ENZIMÁTICA INIBIÇÃO ENZIMÁTICA

Estimulação da actividade enzimática, Inibição da actividade enzimática,


aumentando a velocidade de eliminação com aumentando a concentração plasmática
a consequente diminuição da concentração com o consequente aumento da
na biofase e actividade terapêutica intensidade do efeito, tempo de semi-vida
Indução enzimática: aumento da elimanção e e toxicidade
diminuição da concentração na biofase Inibição enzimática: aumento da concentração do fármaco, assim aumento
da intensidade do efeito, tempo de semi-vida e toxicidade

Mecanismos de indução: Mecanismos de inibição:


- Aumento da actividade - Competição reversível pela enzima
- Aumento da expressão enzimática - Formação de um complexo enzima-
(transcrição genética) substrato inactivo
- Destruição da enzima

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INTERACÇÕES FARMACOCINÉTICAS
Metabolismo
INTERACÇÕES FARMACOLÓGICAS – Metabolismo CYP450
INDUTORES ENZIMÁTICOS INIBIDORES ENZIMÁTICOS

Barbitúricos cimetidina
fenobarbital amiodarona
griseofluvina diltiazem
carbamazepina verapamil
fenitoína eritromicina
rifampicina claritromicina
hipericão cloranfenicol
(tabaco, etanol) cetoconazol
isoniazida
fluoxetina
disulfiram
alopurinol
(sumo de toranja)

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INTERACÇÕES FARMACOCINÉTICAS
Metabolismo
carbamazepina + contraceptivos orais (↓concentração, eficácia)
Indução enzimática rifampicina + ciclosporina (↓eficácia imunodepressora)
fenobarbital + varfarina (↑risco trombose)
cimetidina + diazepam
Inibição enzimática cimetidina + varfarina
cetoconazol + sinvastatina
Alteração do fluxo
Bloqueadores β + lidocaína (↓da eliminação hepática)
sanguíneo hepático

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INTERACÇÕES FARMACOCINÉTICAS
Excreção
Diminuição da filtração
ciclosporina, captopril
glomerular
Competição por sistemas de Sulfonamidas, diuréticos tiazídicos, salicilatos, indometacina,
metotrexato, cefalosporinas, dicumarol
transporte tubular activo
indometacina + penicilinas (↓excreção)
Excreção renal de bases fracas aumenta com a acidificação da
Alteração do pH urinário urina e diminui quando esta se torna alcalina
Excreção renal de ácidos fracos aumenta com a alcalinização da
urina e diminui com a sua acidificação

Diminuição da filtração glomerular; competição por sistemas de transporte tubular activo e alteração do pH urinário

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INTERACÇÕES FARMACODINÂMICAS
Modificação da resposta farmacológica por fenómenos de sinergismo ou antagonismo
de fármacos que actuam ou nos mesmos receptores ou nos mesmos sistemas
fisiológicos
Fenómenos de sinergismo ou antagonismo nos msm recetores ou sistemas fisiológicos: modificação da resposta farmacológica

INTERACÇÕES FARMACODINÂMICAS
ASSOCIAÇÃO EFEITO
Álcool + Ansiolíticos
Antidepressivos
Antihistamínicos Potenciação da depressão do SNC
Antipsicóticos
Sedativos
Opiáceos
Anticoagulantes orais + Clofibrato
Ácido nalidíxico Quinolona Aumento do efeito anticoagulante
Sulfamidas

Furosemida + Propranolol Aumento do bloqueio β


Antidiabéticos + Bloqueadores β Hipertensão arterial, hipoglicemia

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INTERACÇÕES FARMACODINÂMICAS

INTERACÇÕES FARMACODINÂMICAS
ASSOCIAÇÃO EFEITO
Fenotiazinas + agonistas colinérgicos e Antagonismo
adrenérgicos
Antihipertensivos + antiarrítmicos + Sinergismo
antianginosos
Antidepressivos + IMAO Sinergismo

Salicilatos + heparina Aumento do efeito anticoagulante

Aminoglicosídeos + Anfotericina B
Vancomicina
Aumento da nefrotoxicidade
Ciclosporina
Cefaloridina
Neomicina + anticoagulantes orais Diminuição da produção de vit. K

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REGRAS DE PREVENÇÃO/DETECÇÃO

1. Conhecer bem os fármacos que com mais frequência produzem interacções


2. Considerar com especial cuidado, as interacções que dão origem a situações mais
graves (ex: crises hipertensivas, quebras bruscas de pressão arterial, arritmias,
hipoglicemia)
3. Evitar tanto quanto possível os fármacos que com mais probabilidade originam
interacções perigosas (ex: inibidores da MAO)
4. Considerar a vulnerabilidade de órgãos cuja patologia pode originar mais
frequentemente uma interacção (ex: insuficiência renal)
5. Reduzir ao mínimo os fármacos a administrar e o nº de tomas diárias
6. Considerar a possibilidade de uma interacção quando o doente não reage
favoravelmente à medicação
7. Durante o tratamento, observar cuidadosamente a acção terapêutica e tóxica
quando se adicionam ou suprimem fármacos
8. Quando os sinais clínicos não são suficientemente claros, medir os níveis
plasmáticos de fármaco

Ana Serralheiro

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