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Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Farmacocinética
Objetivos
• Apresentar os conceitos e a aplicabilidade da farmacocinética como ferramenta na prá-
tica clínica farmacêutica, fornecendo subsídios para que o profissional possa interpretar
e solucionar problemas inerentes aos fenômenos cinéticos que podem influenciar a con-
centração plasmática de medicamentos.
Caro Aluno(a)!
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e as atividades propostas para esta Unidade
Bons Estudos!
UNIDADE
Farmacocinética
Contextualização
A Farmacocinética é uma das áreas da Farmacologia, responsável por estudar o que
ocorre com os fármacos após sua administração em um organismo.
O termo foi utilizado pela primeira vez em 1953, quando o emérito professor de
pediatria Dr. Friedrich Hartmut Dost foi questionado sobre a Disciplina que mais havia
influenciado a terapêutica na época. De acordo com a história, ele respondeu sem hesi-
tar: “a Farmacocinética e sua filha, a Biofarmácia”.
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Introdução
Em inúmeras situações patológicas, as drogas medicamentosas são empregadas com
função medicinal. Esses agentes podem ser empregados com função de cura, tratamen-
to, prevenção ou diagnóstico (Katzung et al., 2013).
Nos dias atuais, ao mesmo tempo em que Ciências das áreas médica e farmacêutica
se esforçam para utilizar de maneira eficaz os medicamentos existentes, outras áreas
estão engajadas na árdua tarefa de encontrar e desenvolver drogas que sejam eficazes
e seguras, para que possam ser acrescentadas ao acervo terapêutico destinado ao
tratamento ou à prevenção de doenças(Golan et al., 2009).
Dessa forma, apenas quando houver integração bem sucedida dessas fases ocorrerá
terapia medicamentosa bem sucedida. Por exemplo, um fármaco analgésico que
apresente um range terapêutico elevado pode ser de pouca utilidade se sofrer rápida
degradação no trato gastrointestinal e/ou não atingir a circulação sanguínea sistêmica,
caso seja demasiadamente irritante para ser administrado parenteralmente (Leblanc,
1997; Katzung et al., 2013).
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UNIDADE
Farmacocinética
A figura 1 resume todos os processos pelo qual um fármaco deve passar, desde o
momento da escolha da Forma Farmacêutica e seu princípio ativo até o objetivo final
(Efeito Terapêutico).
DISTRIBUIÇÃO
Droga metabolisada
e/ou excretada
Sequência de eventos necessários para que um fármaco possa realizar seu efeito
em um organismo após a administração de uma dose. PK: farmacocinética, PD:
Farmacodinâmica, PRM: Problemas Relacionados aos Medicamentos.
Conceitos Básicos
Muitos conceitos básicos são amplamente utilizados na área da farmacologia e far-
macocinética. Sendo assim, revisa-los é de grande importância. Em conformidade com
autores clássicos como Silva (2002); Rang et al. (2006); Brunton (2012)
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»» Fármaco: substância química, estruturalmente definida, utilizada para o forne-
cimento de elementos essenciais para o organismo, na prevenção, no tratamen-
to e no diagnóstico de doenças, infecções ou de situações de desconforto e na
correção de funções orgânicas desajustadas;
»» Dose de Ataque: consiste na dose única que é suficiente para elevar rapidamente
a concentração plasmática terapêutica do fármaco no organismo. A palavra dose
é derivada do grego dosis, que significa ação de dar ou o que pode ser dado;
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Farmacocinética
Tóxica
Supra
terapêutica
Sub
AUC terapêutica
tmax Tempo
Figura 3: Esquema Representativo da Administração de um Comprimido por via Oral (100% de dose)
Fonte: Adaptado de Tozer e Rowland (2009)
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»» Eficácia ou Efetividade: capacidade de um fármaco produzir o efeito máximo
desejado;
DL50 80mg
IT = IT = IT = 10
EC50 8mg
100
Efeito Efeito
Terapêutico Tóxico
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monstrando a resposta
% de indivíduos
50
EC50 DL50
25
0
2 4 8 16 32 64 128 256
Dose diária (mg)
Parâmetros Farmacocinéticos
Parâmetros farmacocinéticos são os valores de referência relacionados aos
fenômenos sofridos pelo fármaco no organismo.
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UNIDADE
Farmacocinética
Farmacocinética x Farmacodinâmica
A Farmacocinética pode ser descrita como uma Ciência pertencente à área da
Farmacologia, que é responsável por estudar os processos e/ou fenômenos que envolvem
a manutenção das concentrações plasmáticas de uma droga após sua administração
por qualquer via de administração ou forma farmacêutica (Neal, 2012; Soares, 2013;
Shargel e Yu, 2015).
Diversos autores descrevem que esse termo indica a movimentação da droga pelos
sistemas orgânicos, envolvendo os termos: Absorção, Distribuição, Metabolismo e
Eliminação (ADME). Por outro lado, há autores que consideram outras duas fases de
grande importância: Liberação, Absorção, Distribuição, Metabolismo, Eliminação e
Reabsorção (LADMER) (Silva, 2002; Tozer e Rowland, 2009; Shargel e Yu, 2015).
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–– Interpretação de respostas inesperadas ao fármaco ou, ainda, prevenção de
possíveis PRMs relacionados à posologia ou dose;
–– Ajustes de doses e posologia em situações como:
–– Insuficiência renal, hepática, hemodiálise, diálise peritoneal;
–– Monitoramento de concentrações plasmáticas e individualização de doses.
A
CEM para B
respostas
Efeito máximo adversas
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Farmacocinética
Absorção de Fármacos
A absorção de medicamentos é definida como “a passagem do princípio ativo contido em
uma forma farmacêutica, de seu local de administração para a corrente sanguínea e/ou lin-
fática” (Figura 5). Portanto, esse processo é fundamental para a obtenção de bons níveis de
concentração plasmática, e pode ser influenciado em conformidade com o quadro a seguir
(Lüllmann e Al., 2000; Grahame-Smith e Aronson, 2004; Raffa et al., 2005; Neal, 2012).
Além dos fatores resumidos no quadro acima, podem ser citados, ainda: interações
medicamentosas, alimentares, volume de líquido (água e, quando possível, sucos, refrige-
rante à base de cola) utilizado para a administração de comprimidos e cápsulas (Van De
Waterbeemd et al., 2001; Grahame-Smith e Aronson, 2004; Golan et al., 2009).
Absorção
Interstício
A partir de:
Trato gastrintestinal
Boca
Estomago
Intestino delgado
Passagem da droga de seu local Intestino grosso
de administração para a Reto Plasma
corrente sanguínea ou linfática Pele
Pulmão
Epitélio
A partir de:
Administração subcutânea
Administração intramuscular
Capilar
Distribuição de fármacos
A absorção do fármaco pode ser considerada pré-requisito básico para que as con-
centrações plasmáticas adequadas sejam alcançadas, mas de nada adianta o fármaco
ser bem absorvido se ele não chegar até seu local de ação.
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sistemas, incluindo líquido intersticial, fluído intracelular, tecido muscular, tecido ósseo,
SNC e tecido adiposo, além de unhas e pelos (Dipiro et al., 2010; Fuchs e Wannmacher,
2010; Brunton, 2012).
Além do disposto acima, a circulação sanguínea pode ser afetada pelo débito cardíaco,
pois se compararmos um paciente normal àqueles portadores de insuficiência cardíaca,
pode-se notar prejuízo considerável na velocidade de distribuição. Ademais, fármacos
altamente lipossolúveis quando comparados a fármacos hidrossolúveis irão se difundir
com maior afinidade para o tecido adiposo (Rang et al., 2006; Shargel e Yu, 2015).
Péle
Cérebro
Coração
Músculo Esqulético
Alto fluxo Baixo fluxo
sanguíneo sanguíneo
Distribuição Distribuição
rápida lenta
Tecido Adipóso
Rim
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Farmacocinética
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Figura 9: Curvas Concentração Plasmática x Tempo, Demonstrando
Modelo de Distribuição Monocompartimental (A) e Bicompartimental (B)
Fonte: Acervo do Conteudista
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UNIDADE
Farmacocinética
ser alterada (Munson et al., 1996; Raffa et al., 2005; Katzung et al., 2013).
Assim, uma forma de que dispomos para quantificar a distribuição é o Vd. Fármacos
com Vd elevado, que apresenta maior concentração da droga nos tecidos extravascula-
res e, consequentemente, sua concentração plasmática é baixa; por outro lado, drogas
com Vd baixo encontram-se em maiores concentrações no plasma e baixas nos tecidos
(Leblanc, 1997; Katzung et al., 2013).
Dose Administrada
Vd =
Concentração Plasmática da Droga
Por exemplo: Caso um paciente receba um determinado medicamento na concentração de
300mg e após sua completa distribuição (equilíbrio cinético) seja quantificada
em seu plasma a concentração de 30mg/L, o valor de Vd será de 10L, indican-
do que a droga está homogeneamente distribuída nesse volume.
Quadro 2. Provável Relação Existente entre Volume Aparente de Distribuição e Compartimentos Orgânicos
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Metabolismo (Biotransformação)
O metabolismo pode ser definido como um conjunto de reações bioquímicas (enzimá-
ticas) que modula a síntese e a degradação de substâncias químicas em um dado organis-
mo. Em relação ao metabolismo de drogas, o principal objetivo é converter uma molécula
química, lipossolúvel, em uma substância mais hidrossolúvel, facilitando seu processo de
eliminação pelo sistema urinário. Entretanto, nem sempre esse processo pode ocorrer de
imediato; dependendo da estrutura química do fármaco; é necessário que ele passe por mais
de uma fase de metabolismo para que possa ser eliminado (Streck e Costa, 1999; Tozer e
Rowland, 2009).
Assim, nesses processos, a molécula química envolvida pode ser inativada (caso se
trate de uma substância ativa) e/ou ativada (tratando-se de uma pró-droga).
Os principais órgãos e sistemas relacionados a essa atividade são: fígado, trato gas-
trintestinal, plasma e rins, entre outros. Como descrito acima, em algumas situações, é
necessário que o fármaco passe por ao menos duas fases distintas para melhorar seu
processo de eliminação, fases essas chamadas de Fase I e Fase II (Wilkinson, 2005;
Wannmacher e Ferreira, 20112).
Excreção de Fármacos
A principal via de eliminação de drogas é o sistema renal, mas não é a única; podem
ser citadas, ainda, a via pulmonar (importante para fármacos voláteis como o álcool e
anestésicos gasosos); o leite materno, o sistema biliar (via importante para fármacos que
dependem do ciclo entero-hepático, como os contraceptivos hormonais, cloranfenicol, te-
traciclinas, rifampicina e digoxina), a saliva (atualmente, muitos fármacos e substâncias en-
dógenas tem sido monitorados por meio de sua concentração salivar), o suor e a via fecal,
entre outras (Munson et al., 1996; Silva, 2002; Rang et al., 2006; Katzung et al., 2013).
A principal característica que um fármaco deve ter para ser eliminado pelo sistema renal
é ser hidrossolúvel. Durante esse processo, ele poderá passar por um ou mais dos seguintes
fenômenos: filtração glomerular, reabsorção tubular passiva e secreção tubular ativa;
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Farmacocinética
» Secreção Tubular Ativa: fármacos que não são filtrados e/ou não se difundem
pelo epitélio do túbulo para sua luz podem ser secretados ativamente por meio
de transportadores localizados no túbulo proximal. Por exemplo, as penicilinas,
cefalosporinas, digoxina e diuréticos tiazídicos são fármacos secretados ativamente
por esse processo. Por outro lado, drogas como a probenicida são capazes
de reduzir a atividade do sistema de transporte de penicilinas, cefalosporinas,
digoxina e outras, promovendo um efeito de preservação desses fármacos.
Outro ponto muito importante é, ainda, que os fármacos descritos anteriormente
competem entre si pelo sistema de secreção, ou seja, a penicilina e os diuréticos
tiazídicos (hidroclorotiazida) e os diuréticos de alça (furosemida) podem diminuir
de forma considerável a eliminação de digoxina, podendo induzir a ocorrência de
intoxicação digitálica.
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Ajuste de Doses em Regime de Administração de Fármacos em
Dose Única
Em inúmeras situações patológicas são administrados medicamentos em regime de
dose única. Nesse caso, a dose estipulada para uma boa terapêutica deve ser aquela
que leva em consideração o Vd, a F, e a Cterapêutica desejada.
Assim, para ajustar a dose certa a ser administrada para se obter a concentração
plasmática correta, pode-se utilizar a equação:
Ceficaz x Vd
D=
F
Por exemplo: Caso seja necessário determinar a melhor dose de um dado fármaco, a ser
administrado por via oral, e que precise alcançar a concentração plasmática
eficaz de 5 mg/L, que apresente um Vd = 50L, F=80%, a dose estipulada
seria de:
F x Dose = Ceficaz x Vd
0,8 x Dose = 5mg/L x 50L
Dose = 250mg/0,8
Dose = 312,50mg
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Farmacocinética
Assim, a equação utilizada para esse tipo de ajuste de dose pode ser expressa da
seguinte forma:
F x Dose = Ceficaz x CL x ∆t
Por exemplo: Levando-se em consideração um paciente asmático que deverá ser medicado
com teofilina por via oral, em regime de administração 3x ao dia (8/8 H) e
sabendo-se que a concentração terapêutica ideal para esse fármaco é de 10
a 20 mg/L; que foi estabelecida pelo clínico a concentração desejada de 12
mg/L; que a taxa de depuração do fármaco (CL) em condições normais é de
0,04L/h/kg, e que o paciente apresenta massa corpórea de 65 kg, como o
fármaco será administrado por via oral, sua F=80%; portanto, a dose estima-
da para essa situação é:
F x Dose = Ceficaz x CL x ∆t
0,8 x Dose = 12mg / L x 0,04 L / H x 65kg x 8 H
0,8 x Dose = 12mg / L x 0,04 L / H x 65kg x 8 H
0,8 x Dose = 249,6 mg
Dose = 249,6 mg / 0,8
Dose = 312mg a cada 8 H
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Pharmacokinetics: From Academic Curiosity to Essential Tool in 40 years
https://goo.gl/K17CJQ
Interactive Clinical Pharmacology
https://goo.gl/V7j1
Unit 8: Pharmacological principles of drug actions
https://goo.gl/xMwZCQ
Leitura
Clinical Pharmacokinetics Service & Anticoagulation Guidelines
https://goo.gl/RRGBlx
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UNIDADE
Farmacocinética
Referências
BRUNTON, L. L., BRUCE A. CHABNER, AND BJÖRN C. KNOLLMANN. As Bases
Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 12. Porto Alegre: MCGRAW
HILL - ARTMED, 2012. 2112.
LÜLLMANN, H.; AL., E. Color Atlas of Pharmacology. 2. New York: Thieme, 2000.
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SHARGEL, L.; YU, A. B. Applied Biopharmaceutics & Pharmacokinetics. 7.
New York: Mcgraw-hill, 2015. 928.
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