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Biológicos e de Biotecnologia
Introdução
Para compreendermos melhor aquilo que vai ser dado daqui em diante é importante que
consideremos alguns conceitos, como aqueles que estão descritos de seguida:
• Biotecnologia define-se como a ciência que faz uso dos seres vivos, ou de parte deles,
para a produção de bens e serviços. Alguns exemplos de bens produzidos por processos
de biotecnologia, em que “temos animais a trabalhar para nós” são o pão, o iogurte e a
cerveja.
É também importante considerarmos que a biotecnologia combina diversas disciplinas,
algumas mais básicas e outras mais complexas, como é o caso da genética., havendo por
isso uma congregação de conhecimentos.
Nesta cadeira vamos aplicar a biotecnologia à área da saúde (biotecnologia vermelha), mais
concretamente à área do medicamento estudando, por exemplo, proteínas recombinantes e
anticorpos monoclonais, terapia genética e novos alvos terapêuticos, novos fármacos e novas
vacinas.
Medicamento
De forma geral, podemos dizer que os medicamentos de biotecnologia ou biológicos são, à partida,
mais bem aceites, menos tóxicos e apresentam menos efeitos adversos.
Falaremos agora um pouco das proteínas terapêuticas e mais especificamente no seu potencial.
Este tipo de proteínas é usado para o tratamento e prevenção de doenças há mais de 100 anos:
• 1890 – Von Behring extraiu o soro de coelhos e cavalos que tinham tido difteria e tétano
e consequentemente aplicar este em pessoas (processo de imunização passiva com o
objetivo de prevenir as doenças em questão);
Imunogenicidade define-se como a capacidade de o organismo reagir contra algo que lhe é estranho.
Por fim, falaremos agora de como ocorre a produção das proteínas terapêuticas.
Os esquemas acima têm representadas todas as etapas que levam à produção de uma proteína
terapêutica, a partir de uma sequência de DNA que codifica para ela (esta pode ser arranjada por
exemplo, a partir de uma base de dados). Depois da seleção da cadeia de DNA é feita a transcrição
em mRNA e posteriormente, a partir deste último, com ação da transcriptase reversa são
preparados dos cDNA. Por sua vez, os cDNA são amplificados por técnicas de PCR e de seguida,
estes são inseridos num plasmídeo (com capacidade de replicar numa célula, devido à presença de
diversos componentes) que vai servir para transformar as E. Coli e desta forma aumentar a
produção da sequência do cDNA significativamente.
Depois de garantirmos que o processo está a decorrer como previsto vamos realizar a transfeção,
isto é, inserir o plasmídeo numa célula de mamífero (capacidade de fazer modificações pós-
tradução, nomeadamente a glicosilação). A partir daqui, vamos produzir em larga escala e no final
temos de extrair e purificar de forma a obtermos as nossas proteínas terapêuticas.
Comecemos por falar daquela que é a segmentação do mercado referente aos medicamentos de
biotecnologia. Esta segmentação compreende o tipo de produto, a aplicação terapêutica e a área
geográfica:
Com base na figura anterior podemos ter uma ideia daqueles que são os valores de mercado
relativamente ao tipo de produto em questão, basicamente os anticorpos monoclonais dominam
em termos de quantidade e de vendas. Já em relação à área geográfica é importante que
consideremos que Ásia-Pacífico é um mercado emergente.
Do ponto de vista económico, os bios farmacêuticos, estão neste momento com taxas de
crescimento enormes (pensa-se que até 2026 o mercado cresça cerca de 7,3% e cerca de 17%
na Ásia-Pacífico). Para além disso, na Europa e EUA, estão mais de 100 substâncias recombinadas
aprovadas para o uso clínico, algo que se justifica pelo aumento da população idosa e consequente
aumento das doenças crónicas e dos cancros que leva a uma necessidade de novas alternativas
terapêuticas. E, o facto destes medicamentos virem tratar doenças que não tinham cura e terem
menos efeitos adversos associados também contribui para o aumento da procura no mercado.
Mais de 1/5 dos novos medicamentos lançados no mercado mundial a cada ano são derivados da
biotecnologia.
A nível do TOP 10 de despesas que os EUA tiveram com prescrições no ano de 2018 voltamos a
ter também uma supremacia dos medicamentos de biotecnologia.:
Vamos agora falar das diferenças de características entre os medicamentos químicos e os
medicamentos de biotecnologia/biológicos:
Biológicos:
Químicos: Biotecnológicos:
-Fatores de coagulação;
-Paracetamol (C8H9NO2); -Insulina humana;
-Vacina viral ou bacteriana;
-Aciclovir (C8H11N5O3). -Eritropoietina.
-Insulina porcina.
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1. Nos medicamentos de biotecnologia não verificamos limitações a nível de produção;
2. A produção dos medicamentos de biotecnologia apresenta um controlo muito apertado,
o que leva a uns menores números de contaminações;
3. O excipiente da albumina humana é usado para estabilizar as proteínas terapêuticas, como
os medicamentos biológicos são mais estáveis não precisam desta adição e por isso, não
correm o risco de toxicidade;
4. Os medicamentos de biotecnologia são mais puros devido a apresentarem um processo
mais controlado;
5. Os medicamentos biológicos são mais eficazes porque a célula hospedeira apresenta nela
todos os mecanismos de reparação ativos, não havendo o risco de no final do processo
termos proteínas não viáveis;
6. Os medicamentos biológicos apresentam menos risco de conter agregados pois as células
vivas apresentam a capacidade de eliminar tudo o que não interessa;
7. Os medicamentos biológicos apresentam um menor custo de produção que os
medicamentos de biotecnologia.
Produtos “naturais”
Biológicas “naturas”
modificados
Desenvolvimento e Processo Geral de Fabrico
Define-se por desenvolvimento tecnológico o conjunto de todos os processos que têm que ser
feitos até à obtenção da SA e que levam a que a produção da proteína terapêutica seja mais
rentável. O aumento da rentabilidade no mesmo período de tempo leva nos à obtenção de uma
proteína mais pura e a um processo de fabrico mais consistente.
Por sua vez, define-se desenvolvimento farmacêutico como todos os passos que têm de ser dados
para garantir que a nossa SA adquire a função desejada. Um exemplo disto, é a vacina da Covid19
que têm como SA RNA viral, no entanto, este é instável e por isso, de forma a garantir que este
chega às células alvo, foi necessário o seu revestimento com lípidos.
A nível da interação entre os medicamentos e as células é importante que consideremos que nos
medicamentos tradicionais (químicos) estamos a falar de pequenas moléculas, como já referido,
que têm a capacidade de atravessar a barreira celular através de vários mecanismos,
tais como:
Por sua vez, os medicamentos de biotecnologia, devido às suas elevadas dimensões não
conseguem atravessar a membrana das células e por isso, a forma mais comum de produzirem o
seu efeito é por transdução do sinal. É de salientar que nem todos os medicamentos de
biotecnologia exercem efeito através desta via e um exemplo é a vacina da SARS-COV2 em que,
como já referido, o RNA entra na célula envolvido por lípidos.
Nos tumores há uma produução descontrolada de EGF, logo, existem medicamentos de biotecnologia que
são anti-fator de crescimento (anticorpos monoclonais).
As proteínas recombinantes são consideradas uma mais valia, pois são de fácil obtenção, não existe limitação
na quantidade disponível (devido à capacidade reprodutiva) e apresentam mecanismos de ação ao nível dos
alvos terapêuticos muito bem conhecidos e estudados.
A azul está representada a sequência de aa da insulina humana.
Nas diferentes cores estão representadas modificações, ao nível da
sequência de aa, que foram possíveis através do uso da tecnologia de
DNA recombinante. Desta forma, foi permitido o alcance de insulinas
com vantagens terapêuticas. Por exemplo, a glargina que é uma insulina
de ativação lenta devido à introdução de mais dois aa na cadeia β. Isto
pode ser considerado uma arma terapêutica que permite a obtenção
continua de níveis basais de insulina no organismo.
Importante referir que nem todas as fases deste estudo têm o mesmo valor! No início temos
muitos dados em estudo, mas pouco valor, por outro lado, quando chegamos aos ensaios clínicos
as moléculas já estão muito bem estudadas, existindo poucos dados mas muito valor.
Como exemplos daquilo que foi referido temos:
1.
Esta hormona nativa apresenta dois domínios, um com a capacidade de ligação à prolactina e outro
que se liga à hormona de crescimento. Através de técnicas de DNA recombinante conseguimos
obter uma molécula que não apresenta local de ligação à prolactina- fármaco usado para o nanismo.
2.
O fator de necrose tumoral é responsável por alguns linfomas, pois trata-se de uma citoquina pró-
inflamatória que dá o sinal à célula para morrer e quando está em défice pode levar então a esta
patologia. Posto isto, foi criado um fator de necrose tumoral para doentes com linfomas.
3.
A fibrose quística é uma doença genética associada a problemas pulmonares e nutricionais
e que se caracteriza por disfunções ao nível das glândulas endócrinas e à consequente
produção excessiva de muco. Pessoas com esta doença são mais suscetíveis a infeções
bacterianas.
O processo geral de fabrico ocorre em ambientes com os quais não estamos familiarizados e com
os quais não temos contacto durante o nosso percurso universitário. É também de referir que em
nada o ambiente das empresas de biotecnologia têm a ver com o de empresas de medicamentos
químicos.
De forma descritiva, durante este processo temos um fermentador (local onde existe a produção
da proteína terapêutica) e três colunas de filtração que servem para purificar a SA pois ao sair do
fermentador a solução obtida contém o a proteína de interesse e tudo o resto que resulta do
metabolismo das células. Em relação às três colunas:
Quando esta 1ª etapa está concluída ocorre lavagem com uma solução salina, que leva à libertação
da proteína terapêutica.
Durante todo o processo de fabrico é necessário um elevado rigor e, como já referido, as empresas
de biotecnologia são altamente controladas por regras e padrões de qualidade. Existe uma
necessidade de atualização constante daqueles que são os dossiers dos medicamentos, tanto dos
novos medicamentos como daqueles que já estão a ser comercializados (exemplo: um
medicamento que já está no mercado, mas do qual se sabe que existe um processo de purificação
mais eficaz do que o que se encontra descrito no dossier, isto leva à necessidade de revisão e
alteração do processo). Isto, leva então a problemas de consistência pois se estamos
constantemente a fazer alterações nos processos, então temos também de estar constantemente
a validar os mesmos, o que leva a um aumento da complexidade de todo o processo de fabrico
dos medicamentos biotecnológicos.
Para garantirmos a qualidade necessária existem vários aspetos a ter em consideração, tais como:
É importante referir que não é a farmacopeia que está na base dos requisitos para os
medicamentos de biotecnologia, porque ela contém os processos mais básicos e não tão
atualizados.
Isto leva-nos então às cGMP, isto é, Current Good Manufacturing Pratices, que estão sim na base
dos requisitos para o fabrico de medicamentos de biotecnologia prevenindo contaminações, falhas
no processo e assegurando dos padrões de qualidade. Envolvem vários pontos, tais como:
• Gestão da Qualidade Pessoal (em cada processo temos de ter pessoas com a qualificação
e a formação necessária);
• Instalações e equipamentos;
• Documentação (um dos aspetos mais críticos das cGMP e tem que ser muito
salvaguardado e atualizado pois se algum procedimento não corre esperado tem de se
justificar o porquê: “porque é que a caneta está à direita quando devia estar à esquerda?”)
• Produção;
• Controlo de qualidade;
• Contratos para fabrico e análise;
• Queixas e retiradas do mercado;
• Autoinspeção (auditorias internas, feitas por um departamento da própria empresa, para
garantir que tudo está a correr como esperado).
Falaremos agora das instalações necessárias para o processo de fabrico dos medicamentos de
biotecnologia. Estas instalações estão associadas a condições extremas com regras muito rigorosas
sendo na sua maioria “salas limpas” (salas estéreis, com pressão de ar positiva, o que garante que
não entra ar do exterior, presença de filtros HEPA, processos de limpeza e desinfeção constante
e com acesso de pessoas condicionado aos técnicos que lá trabalham, sendo que todos os acessos
ficam registados). Para além disto, em relação aos sistemas de água é importante que consideremos
que temos tanto água purificada (apresenta uma quantidade de iões não controlada) como água
para injetáveis (apresenta um elevado controlo) e por fim, em relação aos armazéns é de salientar
que existe um para as matérias-primas e outro para os produtos acabados, sendo que estes se
encontram em extremidades opostas da fábrica.
Conceitos de fábrica em campanha/em exclusividade: medicamentos para doenças raras a sua produção
não tem que ser muito extensa, há que rentabilizar as instalações, e por isso usam-se fábricas em
campanha, isto é, durante um período produz-se um determinado medicamento, quando se acaba a
produção ocorre uma limpeza e depois vai se produzir outro. Por sua vez, a produção em exclusividade
é quando a empresa só produz um tipo de medicamento de biotecnologia.
Falaremos agora da documentação, a qual já vimos a importância anteriormente. Esta
documentação baseia-se em registos exaustivos de forma a preveni/minimizar ao máximo os erros,
garantir a traçabilidade de fabrico de cada lote (especialmente por reações de infecciosidade) e
tornar possível a reprodutibilidade do processo de fabrico (cada ciclo de fabrico deve cumprir as
mesmas especificações).
As cGMP dizem-nos quais as documentações que são obrigatórias, tais como as Standard Operating
Procedures (SOP), as especificações em termos de instalações, tecnologia utilizada e materiais, as
fórmulas de fabrico, processamento e embalagens e os registos.
IMP: Definem-se especificações obrigatórias como aquelas que têm que ser cumpridas (ex: em relação às
salas limpas) e especificações de alerta como aquelas que se trata de recomendações, as empresas de
biotecnologia tendem a cumprir ambas.
Vamos agora ver algum dos aspetos mais importantes no processo de produção da proteína
começando pelos sistemas de expressão (que tipos de células vamos utilizar?). A escolha do tipo
de célula a utilizar para a produção da nossa proteína de interesse entre células de procariotas e
de eucariotas (que podem ser de leveduras, insetos, plantas, fungos e maníferos) depende daquilo
que são as suas características, pois grande parte das proteínas terapêuticas necessitam de
modificações pós tradução para adquirirem função (estas normalmente são feitas em células
eucariotas e de mamíferos).
As células de mamífero podem à partida não ser as 1ºas opções porque demoram mais tempo a
dividir-se e necessitam de condições de cultura mais exigentes e consequentemente podem ser
necessários fatores de crescimento que têm que ser usadas no meio de cultura, no entanto,
quando se precisa de fazer modificações pós tradução estas limitações caem por terra
O quando acima representa-nos os prós e contras dos tipos de células. No caso das células de
mamíferos podemos verificar que um dos contras representados é a dependência do soro fetal
(composto que permite um bom crescimento das células de mamífero, mas apresenta riscos de
contaminação, sobretudo com o prião responsável pela doença das vacas loucas) que apesar de
já não se usar tanto continua a ser uma “tentação” devido ao facto de apresentar um custo mais
baixo do que os restantes soros sintéticos que a indústria possa adquirir. É também de salientar
que as células eucariotas de planta não são opção devido ao facto de serem geneticamente
instáveis.
Ainda em relação aos sistemas de expressão é importante falarmos dos animais transgénicos que
também apresentam capacidade de produzir proteínas de interesse terapêutico, mas têm
desvantagens como a dependência do tempo para que o animal cresça, questões relacionadas com
a saúde do animal e necessidade de elevada purificação. Neste momento, não está autorizada a
produção de proteínas terapêuticas a partir deste tipo de células (um exemplo de um fármaco
produzido por este meio foi a Antitrombina III).
A seleção do sistema de expressão vai depender de vários fatores, tais Curiosidade: As células mais
utilizadas são as células de
como, a natureza da proteína a produzir (nem todo o tipo de proteínas mamífero, mais concretamente as
vai ser produzido em todo o tipo de células), a origem da proteína a células embrionárias de rim e as
produzir, o uso terapêutico, quantidade necessária e o custo. células de ovário de rato.
A tabela seguinte mostra-nos as principais características dos vários sistemas de expressão que
podemos ter:
Importante salientar que se entende por secreção a capacidade que as células têm de secretar a
proteína que produz. Trata-se de um parâmetro importante porque nós temos a necessidade de
saber onde está a proteína, de forma a podermos encontrá-la e consequentemente purificála.
Falaremos agora do crescimento em células de cultura (focando nas células de mamífero) que
pode ocorrer tanto em suspensão (processo mais desejável e rentável, mas não se pode usar
sempre pois as células não se encontram imobilizadas) como em aderênica (células estão
imobilizadas):
• Monolayer;
• Ligadas a microcarriers;
Temos uma espécie de esferas nas quais se promove a aderência das células à superfície, ocorre
um aumento da área de aderéncia.
• Aprisionada em matrizes.
Em relação aos tipos de células é importante referir que não se podem usar células estaminais
(porque não são diferenciadas) nem células percursoras (células intermédias que também são
instáveis). Por sua vez, as células diferenciadas (epiteliais, fibroblásticas e linfobásticas) são estáveis,
no entanto não são “universais” e por isso usam-se as células desdiferenciadas, diferenciaram-se
numa função, mas foram desdiferenciadas porque fora sujeitas a um processo que as fez esquecer
as suas funções. A biblioteca de células mais comum é a American Type Culture Collection (ATCC)
onde as empresas adquirem as células para a produção de proteínas terapêuticas.
Em relação aos requisitos para as culturas de células temos de destacar a importância da assepsia
(a nível de todo o equipamento utilizado) e também a importância o meio de cultura. Este último é
normalmente definido como simples devido ao facto de apresentar uma composição muito bem
definida (e que tem de ser adequada ao crescimento das células). A composição dos meios de
cultura incluídos no fermentador está descrita na tabela seguinte:
• A glucose (e os açúcares no geral) tem de ser adicionada de forma controlada para garantir
ativação do metabolismo secundário que vai influenciar a produção da nossa proteína;
• As hormonas funcionam como fator de crescimento;
É importante reter que estas condições vão permitir, se forem bem controladas, o crescimento
ótimo das células e a produção otimizada da proteína terapêutica.
Ao longo de todo o processo é importante que ocorra uma monitorização e uma avaliação das
culturas, mais concretamente, devem-se realizar/analisar:
• Observações microscópicas;
De forma a avaliar-mos a morfologia das nossas células, para garantir que está tudo a correr como
suposto.
• Crescimento celular;
Devemos garantir que as células crescem segundo uma taxa que estava prevista.
• Eficiència do plaqueamento;
Produção
As proteínas terapêuticas são então produzidas em fermentadores a nível industrial (termo prático)
e temos essencialmente 4 tipos de fermentadores:
Tratam-se de os mais utilizados e apresentam um sistema de pás que permite a agitação do meio
de cultura.
Neste tipo de fermentador a produção das células em cultura pode ocorrer tanto em supensão,
como em aderência (com recurso a esferas).
• Airlift;
Neste tipo de biorreatores a agitação é conseguida pela entrada de ar, o que também permite a
circulação do meio de cultura pelas células.
• Fixed bed;
No fixed bed o meio de cultura passa pelas células que estão em aderência.
• Biorreator de membrana.
Nos biorreatores de membrana as células encontram-se em aderência nas membranas e por elas
fazemos passar o meio de cultura.
O ideal é que a produção ocorra em suspensão, mas isto nem sempre é possível e por isso usa-
se também a produção em aderência (sendo que o usa de esferas é a forma a mais frequente
de aderência e a melhor maneira de promover a imobilização das células).
Do ponto de vista dos protocolos de fermentação que podem ser utilizados é importante
considerarmos que a cinética de crescimento das células e consequentemente da formação de
produto não depende apenas do tipo de fermentador selecionado, depende também da forma
como o crescimento celular é alcançado (protocolo de fermentação). Na prática, temos 3 tipos de
protocolos que são passíveis e que podem ser utilizados:
• Batch;
Numa fase inicial é adicionado o volume total do meio de cultura ao reator, sem adição de
suplemento, as células vão crescendo e produzindo a proteína de interesse. Esta vai se acumulando
juntamente com os produtos resultantes do metabolismo das células.
Este protocolo leva a células com baixa densidade celular e a um menor rendimento que o processo
seguinte.
• Fed-Batch;
• Perfusão.
Protocolo de fermentação mais recente e por isso não tão utilizado. O meio de cultura vai sendo
renovado à medida que o processo vai ocorrendo. As células vão se acumulando na membrana.
Permite-nos uma boa produtividade pois apenas a proteína terapêutica é retida pela membrana.
Basicamente, podemos dizer que estes são os três protocolos que podem ser utilizados na
produção dos medicamentos de biotecnologia e em qualquer um destes as células passam por
fases distintas, algumas em que não estão a produzir, outras em que não estão a crescer e outras
em que estão a fazer tudo. Podemos assim dividir o processo em 4 fases:
1. Fase de adaptação;
Subdivide-se em precoce, médio e tardio. A fase de crescimento exponencial tardio ocorre quando
se atinge o topo do crescimento do número de células e se alcança uma densidade celular
significativa. Neste momento vamos induzir a produção da proteína de interesse, através da
mudança de uma das condições do meio (por exemplo através do aumento da temperatura).
3. Fase estacionária;
Nesta fase a taxa de crescimento diminui, o meio começa a ser consumido e ocorre um aumento
dos produtos residuais. Podemos verificar que o nº de células mortas é igual ao nº de células vivas.
4. Fase de morte.
Ocorre um aumento dos produtos residuais acumulados, começando estes a tornar-se tóxicos. Para
além disto verifica-se também um decréscimo das concentrações de nutrientes no meio.
Purificação da SA
Após a produção ocorre a necessidade de purificar aquelas que foram as proteínas terapêuticas
obtidas. Dentro do fermentador podemos não só encontrar a proteína de interesse terapêutico
como também todas as células que não morreram, os produtos resultantes do metabolismo das
células e o meio de cultura. Desta forma, a primeira coisa a saber é onde está a nossa proteína
para desta forma determinar a maneira como será feita a purificação.
Há escala laboratorial trabalham-se volumes pequenos, por isso, a purificação pode ser feita por
centrifugação. Já a nível industrial recorremos normalmente a métodos que envolvem mais do que
uma etapa:
O quadro seguinte apresenta vários métodos de purificação, com base nos critérios FQ das
proteínas (determinadas nos processos de desenvolvimento tecnológico):
São vários os contaminantes que podemos encontrar em todo o processo de produção das
proteínas terapêuticas, o quadro seguinte mostra alguns exemplos:
Comecemos então por falar dos vírus, que podem ser introzidos pelo meio de cultura, por infeção
na linha celular de produção ou durante o processo de produção (devido ao manuseamento
humano). Estes contaminantes têm de ser sempre inativados ou removidos no processo de
purificação. Para isto é importante sabermos quais os processos a que a nossa proteína possa ser
sujeita para a eliminação de vírus.
Um dos métodos mais frequentes é então a inativação dos vírus por pH extremos (valores ácidos)
e a remoção por meio de cromatografias e filtrações. É também de referir que os métodos de
remoção não compromentem a viabilidade da proteína.
Para além dos vírus, como já vimos, as nossas proteínas podem ainda estar expostas a outros
contaminantes que dependendo da sua natureza são eleminados de formas distintas, temos como
exemplos:
• Bactérias;
Devido à sua dimensão são normalmente removidas por filtração simples, no entanto, queremos
sempre evitar a contaminação e para isso temos de trabalhar sempre em ambiente de esterilização.
Por vezes ocorre a necessidade de adicionar antibióticos ao meio de cultura (apesar de não ser
aconselhado devido à posterior necessidade de processos de purificação mais caros e mais
rigoroso.) Os antibióticos beta lactamicos estão proibidos devido às alergias.
A forma mais comum para eleminar estes contaminantes passa pela cromatografia de troca iónica.
• DNA celular.
O DNA celular trata-se de um contaminante que é sempre possível, e é mais frequente quando
existe necessidade de lise celular para a purificação da proteína. São mais problemáticos quando
podem ter na sua constituição fragmentos de DNA que podem levar à formação de tumores
(oncogenes, risco presente nas células de mamífero). No entanto, nunca houve nenhum
medicamento com este risco pois os protocolos de purificação são muito rigorosos.
A farmacopeia tem determinado um valor máximo de DNA celular que pode estar presente, mas
as empresas de biotecnologia acabam por adotar valores muito mais rigorosos para evitar quaisquer
tipos de risco.
Após o processo de produção e purificação obtemos aquela que é a substância ativa a granel. Esta
precisa de ser formulada de forma a, depois do enchimento, obter aquele que será o produto final
(estável e com capacidade de conservação).
Neste passo de formulação temos de considerar vários aspetos tais como, devemos conhecer
bem as suas propriedades físicas e químicas (que tipo de proteína estamos a falar, hidrofibicidade,
solubilidade, modificações pós tradução) pois isso vai influenciar o tipo de excipientes que temos de
adicionar para garantir que a nossa proteína vai ser estável em solução aquosa (exemplo). Para
além disto também precisamos se considerar a população alvo, o tipo de administração (recipientes
de conservação da insulina são administradas por canetas pelo utente, já as vacinas da COV19 são
armazenadas em frascos de vidro), entre outros aspetos.
É também importante que se conheçam os principais fatores de stress da nossa proteína, isto é,
fatores que devem ser evitados durante o processo de produção e desta forma impedir que a
nossa proteína de interesse deixe de ser viável:
Na prática, muitas bio farmacêuticas são da América
A proteína é formulada para garantir a estabilidade
e a exportação de medicamentos para a Europa
para a temperatura para a qual ela foi estudada e desta
está sujeita a regras muito rigorosas e custos muito
forma, elevações de temperatura ou alterações de
elevados. Devido a isto é comum que se dê a “falsa
temperatura podem comprometer o produto final. Um
identidade” de que o processo de fabrico (o passo
exemplo disto é a insulina que quando não está em
do enchimento) ocorre na Europa, conseguindo
uso deve ser mantida no frio e quando está a ser
evitar os custos. Isto implica que se a SA conseguir
utilizada é aconselhada a ser mantida à temperatura
ser exportada já conservada é só chegar à europa
ambiente. O congelamento acidental é muito grave,
e esterilizar, mas se esta tiver de ser congelada, na
significando praticamente a destruição da proteína de
europa vamos ter de a descongelar e reformular
interesse,
para garantir o enchimento.
A formulação tem de garantir a segurança
microbiológica, tendo a maior parte que ser estéreis (no caso de administração IV). O enchimento
tem de ser feito em assepsia e para isso tem de haver uma esterilização final por filtração (nano
filtração), em salas de fluxo laminar e na presença de filtros HEPA. Ainda relativo à segurança
microbiológica é comum a realização de testes de descontaminação viral (de forma a garantir que
os contaminantes foram eliminados durante a purificação) e a necessidade de garantir que houve
uma total remoção dos pirogénios.
Falaremos agora do produto final, e é não esquecer a necessidade de esterelização final em casos
de formulações para adminitasção parenteral antes do processo de enchimento. Por sua vez, este
ocorre de forma automática e pode ser feito em frascos, ampolas ou serigas pré-cheias.
Em relação ao produto final é necessário considerarmos ainda outros pontos, tais como:
• A liofilização do produto final é muito pouco frequente, porque implica retirar água e ao
administrarmos vamos ter a necessidade de ressuspender o que pode alterar a estabilidade
da nossa proteína de interesse;
• Necessidade de fechar e rotular a embalagem 1ª, sendo que tanto a rotulagem como a
cartonagem são definidas durante o processo de desenvolvimento tecnológico, seguindo
regras apertadas pois é necessário garantir todas as especificações de qualidade, dos vidros
e das embalagens.
• Distribuição pelas embalagens secundárias;
• Controlo de qualidade;
• Comercialização / utilização clínica.
É de referir, ainda a cerca das embalagens, que as embalagens primárias dizem respeito a frascos,
seringas, canetas injetoras (multi ou uni dose) e que a escolha do material (vidro ou polímero em
casos de revestimento) depende de vários fatores, tais como se medicamento é para administração
crónica (formulados em canetas injetoras que permitem a administração subcutânea pelo paciente)
ou para administração aguda (seringas (unidose) ou frasco de vidro (multidose)).
No caso do vidro, este trata-se de um material transparente e isso permite observar o produto, ou
seja, permite ver se houve desnaturação da proteína. Por outro lado pode libertar metais pesados
e consequentemente levar a contaminações. Também as seringas apresentamum revestimento
em óleo de silicone que pode ser libertado para a proteína e formar agregados.
Em relação às agulhas é de referir que as de menor diâmetro não cauam tanta dor, no entanto,
estão associadas a uma maior resistência. →Todos estes parâmetros tem de ser ponderados!
Em relação às vias de adminsitração sabemos que a via parenteral é a mais utilizada, no entanto,
existem outras possibilidades:
• Parentérica;
Via mais frequente e a preferencial. É de salientar que dentro desta via se alterarmos de uma
administração IV para uma IM podemos também estar a alterar as propriedades farmacocinéticas
do composto que estamos a administrar.
• Oral;
Esta seria a via preferível, no entanto, não é comum nem frequente pois estamos a tratar de
proteínas que seriam facilmente degradadas se fossem administradas por esta via, çevando a uma
baixa biodisponibilidade. No entanto existem vacinas orais, pois a imunização não necessita que
chegue ao local alvo grandes quantidades da proteína terapêutica.
As principais estratégias usadas para aumentar a biodisponibilidade das proteínas administradas por
outras vias passam pela encapsulação em micro ou nano partículas, pela introdução de modificação
químicas que aumentem a permeabilidade e a resistência à degradação e ainda a coadministração
de inibidores das protéases. Obviamente, tudo isto levanta problemas, por exemplo ao aumentarmos
a permeabilidade temos de garantir que a conseguimos reverter pois caso contrário vamos ter
problemas ao nível da segurança. Ainda nenhuma destas alternativas é comercializada como
alternativa terapêutica
Farmacocinética e farmacodinâmica das proteínas terapêuticas
Quando um fármaco é administrado, atinge uma determinada concentração nos fluídos corporais
e em função da concentração, assim se desenvolve o seu efeito terapêutico (eficácia) bem como
a sua toxicidade (potenciais efeitos aversos).
A partir do momento em que a dose de um medicamento é administrada, vai ser processada pelo
organismo envolvendo os fenómenos de farmacocinética. Estes implicam os processos de ADME
(absorção, destribuição, metamoblismo e excreção) e caracteriza-se como “o que o corpo faz ao
fármaco”. Por sua vez, a farmacodinâmica caracteriza-se pela intensidade do efeito terapêutico,
assim como a toxicidade do fármaco, vulgarmente “o que o fármaco faz ao corpo”. O efeito
terapêutico é desenvolvido quando se antinge a concentração terapêutica.
Estes principios gerais são aplicáveis às proteínas terapêuticas. No entanto, referente a estas ultímas,
existem alguns desafios devido às suas características, estes passam por:
• Estrutura e pureza;
• Proteínas terapêuticas são produzidas em organismos vivos e, por isso, não são
homogéneas, acabando por ser mais difíceis de seguir no organismo humano;
• Apresentam similaridade estrutural e funcional com proteínas e nutrientes endógenos;
Exemplo: Insulina → quando adminisrada torn-se muito díficil a destinção entre insulina exógena e
endógena.
• Envolvimento em processos fisiológicos endógenos a nível molecuar, incluíndo mecanismos
de feedback;
É de referir que o facto do sistema imunitário ser tão importante neste processo justifica a forte
possibilidade dos medicamentos biológicos e de biotecnologia induzirem uma resposta imunitária.
Imunogenecidade
• Reação Ag-Ac;
Pode ainda existir o risco de desenvolvimento de uma reação cruzada em que um Ac apresenta
a capacidade de reconhecer diferentes Ag, mesmo que se ligue com afinidades diferentes.
Os medicamentos de biotecnologia têm todas as características de um antigénio imunogénico pois
são considerados “estranhos” para o hospedeiro, apresentam um elevado peso molecular,
apresentam complexidade química e degrabilidade enzimática. Posto isto, a questão que surge é, é
desejável que uma proteína terapêutica seja imunogénica?
→ De uma forma geral não, pois queremos que o nosso fármaco seja o menos imunogénico
possível para possibilitar o tratamento a longo prazo. No entanto, existem exceções como
é o caso das vacinas, onde pretendemos que sejam bastante imunogénicas para exercer
o efeito pretendido.
• Sequências de aminoácidos;
• Glicosilações;
Quanto mais glicosilada determinada proteína for, maior é a sua imunogenicidade. Isto ocorre porque
a proteína vai ser mais hidrofílica, precisando da ação do sistema imunitário para ser processada.
• Contaminantes e impurezas;
O mais prejudicial passa pela formação de agregados de proteína (proteína agregada é mais
imunogénica). Isto pode ocorrer em situações de má conservação, choque térmico e mudanças
de pH.
• Via de administração;
Quando se administra proteínas terapêuticas por via intravenosa, é possível administrar doses mais
baixas, sendo que o tempo o tempo de permanência da proteína no organismo é também menor
(tempo de exposição ao sistema imunitário menor → menor imunogenicidade).
Por sua vez, a administração por via SC tem maior tendência para imunogenicidade, o que justifica
que muitas vacinas sejam administradas por esta via.
Não é que o método utilizado para detetar a imunogenicidade influencie os resultados, porém, só
é possível quantificar quanto é que um medicamento é imunogénico através da medição dos Ac-
antifármaco (que o nosso organismo desenvolveu após a administração). Os métodos utilizados dão
muitas vezes discrepâncias nos resultados → Em determinados estudos a imunogenicidade de um
fármaco segundo um determinado método é próxima de 0%, enquanto segundo outro método é
perto de 60%.
Dependendo das características e do estado de saúde dos doentes, assim se pode desenvolver
maior ou menor imunogenicidade. Obviamente, um doente sob tratamento imunossupressor será
menos suscetível a desenvolver uma reação imunogénica.
• Fatores desconhecidos.
Anticorpos monoclonais
O conceito de anticorpo vem de “anti corpo estranho”, isto é substância contra corpos estranhos.
Estes anticorpos tratam-se de moléculas proteicas que os mamíferos produzem e que participam
na resposta imunitária, responsáveis pela eliminação do organismo dos antigénios estranhos que
com ele contactam.
Anticorpo ~ Imunoglobulina ~
No nosso organismo temos exatamente 5 tipos de anticorpos, IgG, IgM,
Gamaglobulina
IgA, IgE e IgD.
As imunoglobulinas G são as mais utilizadas para a produção de anticorpos monoclonais, pois como
podemos observar na tabela anterior, são as que apresentam um maior tempo de semi-vida, uma
forma molecular mais fácil de prefundir, apresentam capacidade de ativar o complemento e
apresentam a capacidade de se ligarem a recetores Fc dos fagócitos.
Regiões variáveis
Regiões constantes
Basicamente, as imunoglobulinas com especificidade definida preparadas a partir de uma linha celular
monoclonal. Veremos agora os diferentes mecanismos de ação:
• Apoptose;
Os anticorpos monoclonais são capazes de induzir a cascata das caspases, que vai levar a uma
destruição do DNA e, com isso, levar à morte celular programada.
Este mecanismo apenas é possível para alguns anticorpos monoclonais. Consiste na ligação de um
Ac monoclonar a um radionuclido, ou qualquer toxina, e dirigí-lo para a célula alvo.
Mecanismo de ação relativamente recente e que consiste num processo é que uma região variável
do anticorpo reconhece o Ag e a outra reconhece os recetores das células, ativando o sistema
imunitário.
A principal vantagem associada a este mecanismo passam por aproximar a célula alvo do linfócito
T, provocando a sua destruição (útil nos processos tumorais).
É de referir que um anticorpo monoclonal pode ter mais do que um mecanismo de ação.
Esta estratégia consistia em infetar os linfócitos B com vírus oncológicos (Epstein-Bar), dando-lhe
características de imortalidade (produziam Ac de forma constante), o mesmo foi tentado com
agentes mitogénicos. O principal problema deste processo passava pelo facto de que os Ac
produzidos não eram específicos.
Esta estratégia foi apresentada em 1975 e o seu principal objetivo passava por encontrar a
especificidade do anticorpo através da imunização do animal.
Os principais inconvenientes desta técnica passam pelo facto de se usarem animais, ser um
processo moroso, ser díficil produzir anticorpos que também sejam tóxicos o animal e maior
probabilidade de imunogenicidade para o homem.
Tecnologia que permite identificar as sequências de DNA que são específicas para um determinado
Ag. Isto pode ser feito com recurso a bacteriófagos (mais frequente) ou animais transgénicos.
Trata-se de uma técnica aleatória onde partimos de uma biblioteca de cDNAs, selecionamos um
conjunto destes últimos que irão codificar para regiões híper variáveis de Ac e aleatoriamente
coloca-se cada uma dessas sequências num bacteriófago. Este último vai então traduzir a sequência
de DNA em RNA e ainda um péptido que fica à superfície da bactéria → péptido resultante entra
em contacto com o Ag.. Posteriormente, o péptido que melhor reconhece o Ag é selecionado e
colocado na zona híper variável do Ac por tecnologia de DNA recombinante (rDNA). O grande
problema deste processo passa pelo facto de apresentar um custo muito elevado.
Apesar de tudo, foi o phage display que permitiu que hoje em dia existem anticorpos 100% de
origem não animal.
• Murinos;
• Quiméricos;
Nota: Cerca de 60% das pessoas que tomam Infliximab desenvolvem reações
alérgicas provenientes da imunogenicidade.
• Humanizados;
• Humanos.
Todos os exemplos apresentados dizem respeito a anticorpos monoclonais inteiros, no entanto, já
existe a possibilidade de se ter aplicações terapêuticas com fragmentos de Ac (apresentam menor
peso molecular e, por isso, apresentam maior capacidade de difusão no organismo), são exemplos:
• Fab ou F(ab)2;
Ambos são constituídos por uma cadeia leve e metade da cadeia pesada. Atuam ao nível do
reconhecimento de Ags.
No F(ab)2 ocorre a ligação de 2 fragmentos Fab por um péptido ou uma ponto dissulfúrica.
Exemplo de Fab: Idarucizumab atua na reversão da hipo coagulação induzida pelo Dabigatrano,
utilizado essencialmente em cirurgias de emergência.
• ScFv;
Fragmento variável (metade da cadeia leve + ¼ cadeia pesada) que se podem apresentar sob a
forma de dímeros ou trímeros. Atua no reconhecimento de Ags.
Exemplo 1: Single chain variable fragment → Brolucizumab → pequenas dimensões (25 kD) e pode
ser produzido por E. Coli pois não necessita de glicosilações.
• Bi-específicos;
Fragmento que de um lado da região variável reconhece um antigénio e do outro reconhece, por
exemplo, uma célula T. São muito usados nos processos neoplásicos.
Exemplo: Aflibercept e Dulaglutido (agonista dos GLP-1 indicado para o tratamento da diabetes do
tipo 2, consiste na terapêutica inicial mais adequada e apresenta um tempo de semi vida longo
(ig4)).
• Nanobodies;
“Single arm”.
Apresentam um peso molecular que varia entre 12 e 15 kD. As suas aplicações são sobreponíveis
aos ScFv.
• Imunoglobulinas conjugadas.
Adiciona-se à imunoglobulina um agente citotóxico. A principal vantagem passa por dirigir o agente
para o alvo.
Para além dos anticorpos referidos podemos ainda der outros tipos, tais como:
Em termos de nomenclatura:
À direita temos uma lista de todos os anticorpos monoclonais que são comercializados em Portugal.
Como sabemos, a resposta imunitária é constituída por uma resposta inata (imediata e não
específica e que resulta do 1º contacto com o Ag → complemento,
granulócitos/monócitos/macrófagos, células NK, células mastocitárias e basófilos) e uma resposta
adaptativa (específica a um determinado Ag → linfócitos B e linfócitos T).
Comecemos agora a falar dos diferentes anticorpos monoclonais que atuam ao nível do
SI/inflamação:
• Anti-CD3 → Muromonab* (origem murina → muito imunogénico);
O CD3 é fundamental para ativação do LT que este reconheça um antigénio apresentado por
MHC, pois trata-se de um componente do TCR. Ao
bloquearmos o CD3 é induzida a endocitose do
complexo e a consequente inativação da célula T, pois
o TCR não consegue reconhecer o Ag.
O CD52 é uma glicoproteína que existe na superfície dos LT, LB, macrófagos, NK e alguns
granulócitos. O Ac monoclonal ao ligar-se a esta glicoproteína marca a célula para ser destruída,
travando desta forma a resposta imunitária e o processo
inflamatório.
Como foi referido, caso a célula T seja ativada ocorre uma cascata de reações que culmina com
a transcrição e codificação de IL-2, que é uma citoquina envolvida nos processos inflamatórios. O
CD25 é um componente do recetor da IL-2.
O mecanismo de ação que foi explicado é denominado de neutralização, no entanto existem outros
pelos quais os anti-TNF podem atuar, são exemplo a ligação ao TNF transmembranar com
produção de citoquinas e a morte celular mediada pelo complemento (CDC e ADCC).
Estes anticorpos podem ser utilizados para a artrite reumatóide, artrite idiopática juvenil, doença de
Crohn, colite ulcerosa, espondilite anquilosante, artrite psoriática e psoríase.
Em termos de segurança, o mais seguro é o adalimumab, seguido co certolizumab e, por fim, o
infliximab (apresenta 60% de imunogenecidade).
A integrina é uma proteína que existe na superfície dos LT helper de memória (migram para o
epitélio intestinal). Esta apresenta a capacidade de interagir com a molécula MAdCAM-1 (subexpressa
na mucosa intestinal) e desta forma induzir a resposta inflamatória crónica.
O principal uso deste Ac monoclonal passa pelo tratamento da doença de Crohn e da colite ulcerosa.
Falaremos agora de tumores, sendo importante salientar que estes podem tanto ser benignos
(localizados) como malignos (metastiza e invade vários órgãos). A principal causa dos tumores
prende-se com o crescimento descontrolado, devido à existência de fatores de crescimento em
excesso, descontrolo ao nível do recetor dos fatores de crescimento, diminuição dos fatores de
inibição do crescimento, descontrolo no recetor dos fatores de inibição do crescimento, redução
da resposta imunitária (imunodeficiência, imunossupressão) e angiogénese (origina tumores sólidos).
Os fatores genéricos de causa tumoral nos quais os Ac monoclonais atuam são a redução da
resposta imunitária e a angiogénese.
No nosso organismo ocorrem frequentemente mutações, no entanto, estas não ocasionam células
tumorais pois o nosso SI identifica essas mutações e destrói as células que as transportam. Em
situações de imunodeficiência/imunossupressão esta defesa não está ativa podendo levar ao
aparecimento de tumores.
Muitos tumores tem a capacidade de expressar fatores angiogénicos, que promovem a produção
de novos vasos sanguíneos que vão auxiliar a proliferação e manutenção do tumor.
Pretende-se ainda que o Ac monoclonal utilizado leve à morte da célula tumoral, através de:
Estes Ac impedem a ligação do EGF ao seu recetor. Como? Pois bem, ligam-se ao domínio
extracelular do recetor e impedem a ligação do EGF, impedindo desta forma as reações de
sinalização interna que levam à proliferação e ao crescimento celular.
Estes anticorpos têm maior afinidade para o recetor do que o próprio EGF e ainda apresentam a
capacidade de internalização do recetor. São, por tanto, bastante eficazes na travagem do
crescimento das células tumorais.
No caso concreto de cetuximab, este atua ainda por citotoxicidade mediada por anticorpo, sendo
capaz de induzir, através do fragmento constante, a interação com células do SI e também
potenciar a morte celular por essa via.
Em termos de uso terapêutico , e como referido, estes Ac podem ser utilizados para o
tratamento do cancro da mama ou para o tratamento do cancro gástrico. Do ponto de vista
da segurança, ambos apresentam cardiotoxicidade (disfunção ventricular e insuficiência cardíaca
congestiva), podem provocar anemia e leucopenia e ainda alterações GI (como náuseas,
vómitos e diarreia).
Ambos os anticoorpos referidos são considerados complexos, ambos de IgG1 e que divergem
pelo facto de Bevacizumab ser humanizado e o Ramacirumab ser humano.
Em termos de mecanismo de ação é de salientar que existem vários tipos de VEGF, assim
como vários recetores. Desta forma, o Bevacizumab liga-se ao ligando (VEGF) e impende a
sua interação com o recetor, por sua vez, o Ramucinumab liga-se ao recetor do VEGF e
impede que o ligando se ligue ao recetor. Ambos os Ac também pidem atuar através da
inibição da angiogénese, no entanto os mecanismos divergem:
Em termos de uso terapêutico, estes anticorpos monoclonais podem ser utilizados para o
tratamento do cancro do colon e reto, cancro do ovário, glioblastoma, degenerescência
macular, cancro gástrico, cancro do pulmão de células não-pequenas e cancro hepatocelular.
Em termos de segurança, como estes fármacos levam a uma cessão da produção de óxido
nítrico (vasodilatador) vai ocorrer um comprometimento e aumento da resistência vascular
periférica, podendo causar situações de HTA, diminuição da força de injeção ventricular,
hemorragia e eventos tromboembólicos. Um outro efeito adverso passam pelo atraso da
cicatrização, que ocorre com a toma de ambos os fármacos, mas é mais evidente com o
Bevacizumab.
Então como referido, o recetor da morte celular programada (PD-1) está presente na superfície
das células T e quando estimulado pelo ligando vai impedir a função dos LT. Falaremos então dos:
O PD-L1 encontra-se expresso nas células tumorais, ao contrário do que acontece com o PD-L2.
As células tumorais tomam partido do PD-L1 para suprimir
a atividade das células T, exressando elevadas quantidades
deste ligando.
Em termos de uso terapêutico, este Ac monoclonais podem ser utilizados para o tratamento do
cancro do pulmão das células não-pequenas e do cancro urotelial. Já em termos de segurança,
quando usados para o tratamento do cancro do pulmão, podem causar reações adeversas como
cansaço, redução do apetite, dispneia, tosse, náuseas, dor músculo-esquelética e obstipação. Por
sua vez, quando usados para o tratamento do cancro urotelial, podem levar ao aparevimento de
infeções no trato urinário.
• Anti-CTLA4 → Ipilimumab;
O padrão de toxicidade que se pode observar passa pelo desenvolvimento de reações cutâneas
graves (ex.: Síndrome Stevens-Johnson, necrólise epidérmica tóxica), colite autoimune, hepatite
autoimune, pancreatite autoimune, tiroidite autoimune, problemas neurológicos, pneumonite
autoimune e uveite autoimune.
O que se sabe “by the back” é que os probemas de imunogenecidade causados pelos Ac
monoclonais referidos, podem afetar uma grande variabilidade de orgãos, tal como mostra a figura
seguinte:
Falaremos agora de outro tipo de anticorpos monoclonais que já não atuam pela exacerbação do
SI:
O Rituximab foi o primeiro Ac monoclonal a ser aprovado para o tratamento do cancro. Este, atua
reconhecendo o CD-20, ligando-se e induzindo a destruição da celula B por citotoxicidade
dependente do complemento e por
citotoxicidade dependente do anticorpo.
Falaremos agora dos anticorpos monoclonais conjugados que interagem com o CD33 (antigénio
expresso na superfície dos blastos leucémicos mieloides), como é o exemplo do Gemtuzumab
ozogamicina.
Este Ac monoclonal é derivado de uma IgG4 e como o próprio nome indica apresenta-se ligado a
uma ozogamicina (derivado semi sintético da caliqueamicina) de forma covalente. Em termos de
mecanismo de ação, este Ac forma um complexo Ag-fármaco que leva à endocitose do complexo
e libertação da caliqueamicina (no interior da célula tumoral promove a destruição da mesma). Este
Ac monoclonal pode ainda atuar por ADCC e CDC.
Vacinas
Em 1978, Edward Jenner, descobriu a vacina contra a varíola e, a partir daí, começou a surgir o
conceito de “medicamento preventivo”, algo que era desconhecido até então. A partir deste
momento, começou-se também a perceber que sempre que existiam surtos (de varíola) havia
sempre um determinado grupo da população que não ficava doente, as leiteiras que ordenhavam
vacas, isto acontecia porque elas desenvolviam a varíola das vacas, menos grave, e ganhavam uma
espécie de “imunidade”.
Falaremos agora daquelas que são as principais diferenças entre as vacinas e os medicamentos de
biotecnologia:
• Doses → as vacinas apresentam doses muito baixas (na gama dos microgramas), enquanto
os restantes apresentam doses bem superiores (gama dos miligramas);
• Frequência → As vacinas apresentam baixa frequência de administração, com
espaçamentos de variam de meses (influenza) a anos (tétano);
• Tipo de formulação → As vacinas são na sua grande maioria suspensões e emulsões, por
sua vez, a maioria dos restantes medicamentos de biotecnologia apresentam-se sob a
forma de soluções;
• Indicação terapêutica → As vacinas são profiláticas enquanto os restantes apresentam
todos propriedades/indicações terapêuticas;
• Público-alvo → As vacinas podem ser administradas em qualquer pessoa. Os restantes
medicamentos são normalmente administrados em tratamentos dirigidos.
• Número de ingredientes ativos → As vacinas podem ter vários (exemplo: epídotos), os
restantes medicamentos apresentam apenas 1.
Na resposta imune dependente de um Ag, ocorre um ataque a este último mediado pelas células
APC (células apresentadoras de Ag profissionais). Estas últimas, reconhecem o Ag exónego,
fagocitam-no, processam-no e apresentam-no às células efetoras da resposta adaptativa (células
T) através das MHC II.
No processo descrito, é de destacar que as células B irão desenvolver imunidade humoral através
do seguinte processo:
No caso dos LT citotóxicos, após a sua ativação pelas citoquinas, estes passam a conseguir
reconhecer Ag que são apresentados pelas MHC I (reconhecem o Ag proveniente do Ag infecioso)
e, consequentemente, produzem porfirinas que destroem a célula infetada.
Agora surge a questão, quando é que o Ag está intacto? Pois bem, quando é suficientemente
pequeno para chegar por si aos tecidos linfóides e ser reconhecido ao nível dos recetores dos LB
e quando são transportados pelas APC intactas.
Existem alguns aspetos relevantes para o desenvolvimento das vacinas, sendo de referir que, para
que uma vacina seja capaz de desenvolver resposta imunológica é necessário garantir que o
organismo reage à vacina como se estivéssemos a apresentar um agente infecioso. Posto isto:
Como é que as APC distinguem algo que é prejudicial de algo que é endógeno? Através de
recetores de reconhecimento padrão associados ao patogénico (PAMPs). Na membrana das APC
podemos encontrar os PRRs que vão então reconhecer os PAMPs.
Desta forma, as vacinas vão ter de ter PAMPs para que ocorra resposta imunitária.
➢ Ativação PRRs;
• Apresentação do Ag;
• Ativação das células B e T.
É importante conseguirmos perceber quais as respostas que devem estar ativas para a vacina que
queremos produzir.
Em termos de vacina ideal, esta não existe, no entanto: seria 100% eficiente para indivíduos de
todas as idades; iria provocar uma proteção pela vida fora apenas com uma administração; não iria
provocar reações adversas; seria estável a condições variadas; fácil administração
(preferencialmente oral); seria produzida em quantidades ilimitadas e seria barata.
Em termos de vacinas vivas atenuadas, a forma clássica para a atenuação dos agentes patogénicos
passa pela passagem do agente infecioso por diversas células de macaco, de forma a sofrerem
mutações que os torna incapazes de se ligarem a proteínas das células dos hospedeiros humanos.
→ obviamente todo este processo apresenta riscos, tais como o facto de a atenuação poder ser
revertida. Os agentes patogénicos podem ainda ser atenuados por modificações genéticas, através
da eliminação/modificação daquela que é a sequência responsável pela virulência.
Falaremos agora das vacinas recombinantes, cuja estratégia está na base das vacinas de
subunidades. Como podemos observar, após a identificação das proteínas responsáveis pela
patogenicidade ocorre a sua inserção num
plasmídeo, seguido da transfeção de uma
célula hospedeira. A célula vai produzir
proteínas responsáveis por induzir a
resposta imune e as proteínas
recombinantes vão ser isoladas.
• Vacinas de DNA;
➢ Vacinas de DNA “nu” → DNA vinculado através de um plasmídeo, mas apresenta
um “sistema de entrega à célula”;
Ocorre então o desenvolvimento de imunidade humoral e celular, ou seja, uma boa resposta
imunológica.
➢ Vacina de DNA de vetor → Utiliza-se o vetor viral para fazer chegar o DNA dentro
da célula.
Ocorre o isolamento do gene que codifica para a proteína de interesse e a sua inserção num gene
de plasmídeo. Seguidamente, ocorre transfeção do plasmídeo na célula hospedeira em conjunto
com o vírus (vetor) → a célula hospedeira vai produzir o vírus recombinado, que expressa à sua
superfície a proteína contra a qual se quer induzir a resposta imunitária.
• Vacinas em RNAm;
Trata-se de vacinas mais recentes e que apresentam um excelente perfil de segurança, uma
expressão proteica temporária (não integrativa) e uma melhor imunogenicidade em comparação
com as vacinas em DNA plasmídeo.
Estas podem ser utilizadas para a terapêutica oncológica, nos casos de vacinas personalizadas e no
combate à atual pandemia. A principal dificuldade relacionada com este tipo de vacinas prende-se
com a estabilidade e os fracos níveis de expressão (desvantagem).
De uma forma geral, em termos das vacinas de ácidos
nucleicos podemos ter:
Todo este processo é feito para identificar qual o marcador tumoral em causa. A partir daqui vamos
produzir o marcador e inocular os indivíduos de forma a reforçar a resposta imunitária,
Falaremos agora do coronavírus (ssRNA+). Este vírus foi descoberto pela primeira vez nos anos
60 (morcegos, aves e répteis) apresentando até aos dias de hoje 4 estirpes conhecidas.
• Vaxzevria (Astrazenca);
Modo de ação: É introduzida na célula hospedeira um adenovírus (vetor viral) modificado e não
replicante. Este expressa a proteína S na sua conformação (trimérica pré-fusão → + estável) e
estimula tanto os Ac neutralizantes como a resposta celular.
Composição: Frascos para injetáveis multidose que contém 8 doses ou 10 doses de 0,5 ml por
frasco para injetáveis;
Indicação terapêutica: Imunização ativa para prevenir a COVID-19 causada pelo vírus SARS-CoV-2,
em indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos;
Posologia e modo de administração: Imunização ativa para prevenir a COVID-19 causada pelo vírus
SARS-CoV- 2, em indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos; IM (deltóide);
Desta forma, uma pessoa imunizada, quando contacta com vírus vai ter anticorpos que se vão ligar
ao vírus impedindo que este interaja com a nossa célula e para além disso, os anticorpos
neutralizantes vão marcar o agente infecioso para a destruição, indo depois as células natural Killer
(NK) destruir o agente infecioso.
• Vaccine Janssen;
Composição ➔ Frasco para injetáveis multidose que contém 5 doses de 0,5 ml;
➔ Uma dose (0,5 ml) contém:
- Adenovírus tipo 26 (humano) que codifica a glicoproteína S (spike*) do SARS-CoV-2 (Ad26.COV2-S), não
inferior a 8,92 log10 unidades infeciosas (U.Inf.)
* Produzida numa linha celular PER.C6 TetR e por tecnologia de DNA recombinante
Indicação Imunização ativa para prevenir a COVID-19 causada pelo SARSCoV- 2 em indivíduos com idade igual ou
superior a 18 anos
Posologia e modo ➔ Administrada em regime de dose única de 0,5 ml;
de adm. ➔ IM (de preferência no deltoide);
Mecanismo de ação Igual ao enteriormente descrito, apenas muda o tipo de Adenovírus que é utilizado.
• Vaccine Moderna (vacina em mRNA → nucleósido modificado para aumentar a
estabilidade);
Composição ➔ Frasco para injetáveis multidose que contém 10 doses de 0,5 ml;
➔ Uma dose (0,5 ml) contém:
- 100 microgramas de RNA mensageiro (mRNA) (encapsulado em nanopartículas lipídicas SM-102 → estas
dão estabilidade e permitem que a vacina entre na célula por fusão);
- RNA mensageiro (mRNA) de cadeia simples, com estrutura 5’-Cap, produzido utilizando transcrição in vitro
num sistema livre de células a partir dos moldes correspondentes de DNA, que codifica a proteína S (Spike)
do vírus SARS-CoV-2.. Esta proteína S vai estar na estrutura de pré-fusão.
Indicação Imunização ativa para prevenir a COVID-19 causada pelo SARSCoV- 2 em indivíduos com idade igual ou
superior a 18 anos
Posologia e modo ➔ Administrada num esquema de 2 doses (0,5 ml cada) e recomenda-se que a segunda seja administrada
de adm. 28 dias após a primeira.
➔ IM (de preferência no deltoide);
Mecanismo de ação Ocorre a entrada na célula, no entanto, não existe interação com o genoma do hospedeiro. Os os
ribossomas traduzem a proteína no citoplasma e a Spike é interpretada como endógena, forma péptidos.
A partir daqui o processo é igual ao já referido.
Basicamente, o mecanismo de ação das vacinas é sempre o mesmo em todas. A única coisa que
varia é a forma como chegamos à Splike. De uma forma geral é preciso termos em atenção que
as vacinas em mRNA são sempre mais dificilmente conservadas que as vacinas em DNA e por isso
desenvolveram-se técnicas como a proteção/incorporação em nanopartículas lípicas:
• Guardasil 9 ® → Administração ocorre por volta dos 11/12 anos, imunização a cada 10 anos;
Esta vacina é contra a L1 dos vários tipos de HPV e faz uso de uma tecnologia denominada de
partícula tipo vírus- VLP. Estas VLPs são nada mais que vírus sem material genético (apenas
apresentam a cápside) e são apresentadas às células como o agente infecioso tendo a capacidade
de gerar resposta imunitária de uma forma mais eficaz.
A proteína L1 é produzida por DNA recombinante e neste caso a célula hospedeira em que o
plasmídeo é introduzido é uma levedura.
Basicamente vamos obter uma resposta anti tumoral, pois ocorre a produção de anticorpos
neutralizantes, uma vez que as partículas são consideradas exógenas e apresentadas pelas MHC II.
Esta apresentação leva à ativação de LT CD4 que produzem citoquinas e ativam LB, responsáveis
por desenvolver Ac específicos neutralizantes contra os vários tipos de HPV.
Ambos os tipos de vacina são inativados. O ovo é inoculado com estirpe viral, o vírus cresce, é
isolado, inativado por via química, fracionado e são as componentes resultantes do fracionamento
(contendo Hemaglutinina e neuraminidase) que são utilizados para inoculação. A utilização de ovos
é vantajosa pois trata-se um método bastante acessível.
O vírus da hepatite B trata-se de um vírus com genoma em DNA (circular, parcialmente cadeia
dupla com fragmentos de RNA) que se replica copiando o RNA anti-Ag em DNA (TR). Este vírus
apresenta um invólucro lipídico e trata-se de um vírus oncogénico.
Este vírus transmite-se de uma forma muito facilitada sendo que o seu principal reservatório diz
respeito a animais selvagens (primatas e morcegos). Entre os humanos a transmissão ocorre em
contacto com fluidos infetados ou órgãos e pode ou não se manifestar através de sintomas. Apenas
os indivíduos sintomáticos transmitem a doença.
A produção das nossas células sanguíneas acontece de acordo com as nossas necessidades basais
e, em determinadas situações há um aumentar do processo hematopoiético, no sentido de produzir
maior quantidade de células sanguíneas, nomeadamente, os g.v. na gravidez, “quando o organismo
não reage” por situações de hipoxia e em infeções sistémicas (aumento dos fatores estimuladores
das colónias de granulócitos).
• Eritropoietina (EPO) → uma glicoproteína (hormona) secretada pelas células renais. Tem erca
165 aminoácidos, 2 pontes dissulfureto, 4 glicosilações (3 na aspargina e 1 na serina). O gene
que codifica para a EPO está localizado no cromossoma 7.;
A principal função da EPO é do ponto de vista regulatório. Falaremos da Epo recombinante que
pode aparecer sob a forma de epoetina alfa, epoetina beta e epoetina zeta (esta última é o bio
similar da epoetina alfa). Estas, apresentam exatamente a mesma sequência de aminoácidos que a
EPO humana e em termos de efeito a alfa e a beta também são iguais à endógena.
Este composto é utilizado no tratamento de doenças renais ou IR, IRC (clearance da creatinina
reduzida) e ainda anemia induzida por quimioterapia. Em Portugal aparece comercializada sob a
forma de Aranesp.
O facto de per peguilada aumenta o seu tempo de semivida, no entanto, apresenta menos afinidade
para o recetor EPO (compensação).
A sua comercialização em Portugal é indicada para a anemia em DRC, em fases mais avançadas.
Em Portugal apenas temos comercializado o G-CFS por isso é aquele sob o qual vamos falar mais
concretamente.
➢ Granulocyte-Macrophage Colony-
Stimulating Factor (GM-CSF);
Falaremos agora concretamente daqueles que são os medicamentos hemoderivados. Existem
atualmente vários produtos hemolisados no âmbito da biotecnologia, sendo que estes trouxeram
vantagens, pois antes do seu aparecimento antes a única opção terapêutica era a extração de
plasma humana (medicamento biológico), porém a administração continuada de um medicamento
biológico extraído a partir do plasma humano pode gerar resistências por parte do organismo que
recebe o fármaco. Nesse sentido, os fatores de coagulação recombinantes vieram constituir uma
outra alternativa. Também apresentam menor imunogenicidade
Desta forma, em primeira alternativa devem ser usados sempre fatores recombinantes. Apenas as
pessoas que já usavam biológicos é que os usam, a não ser que desenvolvam reações de
imunogenicidade e aí passa-se para fatores recombinantes. É de referir que um dos excipientes
que pode ser utilizado para a produção destes compostos recombinantes passa pela albumina.
Quando há deficiências ao nível dos fatores de coagulação ou ao nível do sistema fibrinolítico ocorre
um desequilíbrio. Deste desequilíbrio pode ocorrer, por um lado, hemorragia e por outra trombose.
A estrutura apresenta 3 domínios (A, B e C), sendo que a maior parte das glicosilações ocorre ao
nível do B. As sulfatações dos resíduos de tirosina ocorrem entre o domínio A e B → Devido às
glicosilações os sistemas de expressão tem de ser sempre células de mamífero (CHO, BHK e HEK).
Neste momento, em Portugal, este fator pode ser obtido através do plasma humano ou a partir
de tecnologia de DNA recombinante.
No caso do fator recombinante, apesar do domínio B ter muitas glicosilações, estas não são
importantes para a atividade biológica. Desta forma, começou-se a eliminar de forma a melhorar a
sua expressão. Este composto, apresentam uma semivida curta e, por isso, tentaram-se estratégias,
no entanto, não existiram muitas alterações.
Este fator trata-se de uma proteína madura com cerca de 416 aa com o domínio Gla na sua região
N-terminal.
A carboxilação é fundamental e se não houver, não se criam locais de ligação específico de iões
cálcio. Estes como são carregados positivamente vão promover a ligação com a parede do vaso
(membranas lipídicas), que são carregadas negativamente. Isto ocorre porque quando há lesão
vascular, para a formação do trombo é necessário a ativação dos fatores de coagulação, plaquetas
e vaso lesionado.
Este fator pode ser obtido através do plasma humano ou através de técnicas de DNA recombinante.
Nestas últimas é necessário a presença de sistemas de expressão (células de mamífero) que façam
esta carboxilação, se não, o fator IX não é ativo.
No caso do fator recombinante, este apresenta uma sequência idêntica à do fator humano,
apresenta um tempo de semivida curto (utilizam-se estratégias, bem-sucedidas, que consistem na
fusão entre o fator IX e a Fc da IgG, a fusão entre o fator e a albumina e a peguilaçao). Em termos
de considerações farmacêuticas (forma, prazo de validade e impurezas) é igual ao anterior.
Falaremos agora do fator VIIa que se trata de uma glicoproteína com +/-57kDa e que apresenta
uma estrutura semelhante ao fator IX. É composto por dois domínios de crescimento e um domínio
catalítico. Os principais desafios na produção deste fator prendem-se com a necessidade de
carboxilações, sendo obtido por estratégias de DNA recombinante.
Um exemplo de um fator VIIa recombinante é o Eptacog alfa, liofilizado e com um prazo de validade
de aproximadamente 3 anos. É essencialmente utilizado para o tratamento de hemorragias em
doentes com anticorpos contra os fatores VIII e IX.
Este fator pode ser obtido através de derivados do plasma humano ou técnicas de DNA
recombinante.
• Vonicog alfa;
É utilizado concomitantemente com o fator VIII para o tratamento da hemorragia em doentes com
deficiência ao nível do fator. O seu prazo de validade é de 36meses quando conservado entre 3º-
5ºC e de 12 meses quando conservado à temperatura ambiente.
• Catridacacog;
A antitrombina trata-se de um inibidor do fator IXa, Xa, XIa e da trombina. Este composto trata-se
de uma glicoproteína de cadeia simples potenciada pela ligação à heparina e outros
glicoaminoglicados. Uma deficiência ao nível da trombina aumenta o risco de trombose.
A antitrombina apenas pode ser obtida através do plasma humano e é utilizada na profilaxia da
trombose venosa em pessoas com deficiência congénita de antitrombina.
Os agentes trombolititos são usados em casos de AVC e EAM. O primeiro agente trombolitito que
apareceu diz respeito à Estreptoquinase, um ativador de plasminogénio humano (de origem
bacteriana), apresenta uma elevada imunogenicidade o que pode por em risco uma utilização futura.
Outros ativadores de
plasminogénio humano:
• Reteplase;
Proteína truncada, de cadeia simples e não glicosilação, o que permite a expressão em E.Coli. Este
composto apresenta uma menor afinidade para a fibrina comparativamente com outros ativadores.
É muito resistente à degradação.
De uma forma geral os medicamentos derivados de plasma humano são preparados a partir de
mais de 12 dádivas, no entanto, é de salientar o risco para difusão da infecciosidade.
Hemoderivados
Fração líquida do sangue Tipos
➔ O que resta depois de separados os elementos figurados ➔ Albumina e soluções de proteínas plasmáticas;
do sangue, recolhido num anticoagulante; ➔ Imunoglobulinas;
➔ O que é separado por filtração ou centrifugação contínua ➔ Fatores de coagulação e antiproteases;
do sangue, tornado incoagulável. ➔ Outras frações plasmáticas ou combinações.
Algumas das estratégias desenvolvidas para reduzir o nível de infecciosidade no sangue humano
passam pela seleção de dadores, análise de dádivas, dista de dadores, quarentena de sangue não
testado e investigação de problemas.
A dadiva em Portugal é benévola, no entanto, por exemplo nos EUA é paga e há um negócio do
sangue muito significativo à volta disso
Do ponto de vista dos critérios de elegibilidade dos dadores, é importante termos a noção que
existem vários critérios que estão definidos e que são classificados uns critérios mínimos para que
a pessoa possa ser dadora, tais como a idade (18-65 anos sendo que pode ser dador um individuo
com mais de 65 ano se o seu médico de família atestar essa possibilidade) e o peso (acima de
50kg).
Do ponto de vista da análise que é feita sangue do dador (mais concretamente à hemoglobina)
estão definidos valores mínimos, quer para homens quer para mulheres assim como a quantidade
total de proteínas e as plaquetas.
Existem situações, em que os dadores podem ser excluídos da possibilidade de doar sangue:
É também de salientar a importância das análises das dádivas, sendo que a cada uma é avaliado o
grupo sanguíneo e a presença das principais infeções virais (HIV, Hepatite B e Hepatite C).
Oligonucleótidos
Existe alguma investigação ao redor destes compostos, no entanto, na prática não existe muita
aplicação.
Como são obtidos? Basicamente, pegamos em pequenas cadeias de nucleótidos (DNA ou RNA) de
forma que estas interajam com o nosso alvo terapêutico. Daqui, surge outra questão, como é que
conseguimos identificar esta sequência que tem de ser de tal forma específica para interagir com
o alvo e não com outras regiões? → O conseguir da especificidade para determinado alvo
terapêutico está relacionado com facto sabermos que do ponto de vista estatístico, ao nível do
genoma aleatório, nós só temos sequências específicas de 15 a 17 bases, algo que só ocorre 1x no
genoma humano, ou seja, isto que dizer que do ponto de vista estatístico nos sabemos que 1
determinada sequência de nucleótidos de DNA ou RNA só acontece 1x no genoma humano o que
significa que se eu a identificar eu consigo dirigir para aquele alvo e não para outro.
Os efeitos terapêuticos que conseguimos obter a partir da técnica descrita passam pela ligação a
biomoléculas, alterando a sua função, e a ligação a determinados recetores específicos da célula.
Podem também existir determinados efeitos não intencionais, tais como a complementaridade
parcial com outros ácidos nucleicos e a ligação a proteínas e péptidos.
Estes oligonucleoótidos são sensíveis a reações nucleares, ou seja, são instáveis e podem ser
degradados facilmente. Outras características que também dificultam a sua utilização ou a sua
administração terapêutica têm a ver com a difícil aplicação intracelular e com as características
físico-químicas que vão condicionar a expressão e acumulação no tecido alvo, ou seja, os
oligonucleoótidos são moléculas polares pequenas cuja expressão a nível renal é muito rápida por
outro lado uma vez administrados os macrófagos do sistema imunitário facilmente.
Do ponto de vista dos aptâmeros terapêuticos o que temos hoje em dia são aptâmeros que
interagem com recetores, que interagem com o domínio ativo de enzimas inibindo a sua atividade,
podem também atuar por sequestro de ligandos e podem também ser utilizados em imagiologia
(apesar de não existir nenhum com esta finalidade).
• Pegaptanig;
• Pengnivacogin;
Aptâmero modificado e conjugado com PEG. Atua como inibidor do fator IXa da coagulação e
encontra-se indicado na trombose. As principais RAMs associadas à toma deste composto passam
por reações alérgicas com características comuns.
Moléculas de DNA ou RNA de cadeia simples, que geralmente consistem 13-25 nucleótidos A maioria atuam por
recrutamento de RNase H
Definem-se biossimilares como medicamentos biológicos (no sentido de derivarem de uma fonte
biológica) altamente similar a outro já existente no mercado e aprovado pela EU há pelo menos 10
anos. De uma forma geral, a aprovação destes medicamentos é centralizada.
Em termos de categorias, como podemos observar na tabela seguinte, podemos ter heparinas e
biossimilares produzidos por tecnologias de DNA recombinante (proteínas). Este último grupo pode
se subdividir em fatores de crescimento, hormonas, proteínas de fusão e Ac monoclonais.
Falaremos agora da aprovação de biossimilares ao nível da EU. Sempre que cai a patente de um
medicamento biológico de referência e há uma determinada empresa que pretende desenvolver
e produzir um biossimilar, deve fazer um pedido de aprovação à EMA. Esta não tem poder de
decisão, mas tem o poder de emitir pareceres. Assim, o pedido é avaliado pelos vários comités
científicos da EMA, avaliando o dossier que foi submetido de forma a emitirem depois um parecer
científico. Esse parecer científico vai para a UE e é ela que aprova, tomando a decisão se entra ou
não no mercado.
Para a aprovação dos biossimilares são necessários determinados
estudos, tais como: prova de qualidade, eficácia e segurança (não
só p/ biossimilares, mas para todos no geral); estudo de qualidade
farmacêutica completo dele próprio e estudos comparativos de
qualidade (são estes estudos que comprovam a similaridade do
biossimilar com o de referência, é de referir que são muito
exaustivos).
O biossimilar é mais barato, levando a uma maior gestão dos recursos públicos. Ainda assim, continua
a ser um processo bastante moroso e dispendioso, continuando a ser considerado caro. Fica mais
barato até 20%.
É de salientar que estes estudos não são esecíficos dos medicamentos biossimilares, pois já existiam
antes mesmo do seu aparecimento. Alterações maior (ao nível da dormulaçao) são aquelas que
podem, eventualmente, alterar a segurança ou a eficácia do fármaco. Também é de referir que
quanto maiores forem as diferenças entee o biossimilar e a proteína humana que ele mimetiza,
mais imunogénico pode ser.
A monitorização da segurança dos biossimilares obedece aos mesmos requisitos aplicáveis a todos
os medicamentos biológicos, nomeadamente: plano de gestão de risco (PGR), estudos de segurança
pós .autorização (podem ser solicitados pela EMA, de forma a monitorizar de forma mais apertada
as possíveis reações adversas → se este estudo foi pedido ao medicamento de referência tem,
na maioria dos casos, de cer feito no biossimilar), recolha espontânea de reações adversas e RPS
e monitorizaçao adcional.
Nos medicamentos medicamentos biológicos não se pode usar um ou outro, como se se tratasse
do mesmo medicamento, como ocorre entre medicamento genérico e de marca. Tem de ver
decisão positiva de intercambialidade. Esta, é tomada a nível nacional, pelas comissões de farmácia
e terapêutica., sendo de referir que o médico pode aconselhar a mudança do fármaco, no entanto,
o farmacêutico não pode.
Farmacovigilância
No portal RAM podem ser feitas as notificações espontâneas das RAMs, sendo que se deve sempre
adicionar determinados parâmetros, tais como a suspeita de RAM, a evoluçao da reaçao, o
medicamento causador e o ID profissional. No caso dos biossimilares é ainda importante referir a
rastreabilidade dos lotes.