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ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

1. INTRODUÇÃO

DEFINIÇÃO DE TRANSGÊNICOS:

Os Transgênicos (ou organismos geneticamente modificados) são organismos

que adquiriram, pelo uso de técnicas modernas de Engenharia Genética,

características de outro organismo. O termo geneticamente modificado tem sido

utilizado para descrever a aplicação da tecnologia do DNA recombinante para a

alteração genética de animais, plantas e microorganismos.

HISTÓRICO:

O termo Biotecnologia foi utilizado pela primeira vez em 1919 por um

engenheiro agrícola da Hungria, porém as primeiras aplicações biotecnológicas

datam de meados de 1800 AC, com o uso de leveduras para fermentar vinhos e

pães.

A Genética é uma ciência do século XX, pois, em 1900 as Leis de Mendel

foram redescobertas e começaram a ser aplicadas. Nos primeiros ¾ deste século, a

genética mendeliana contribuiu significativamente para a sustentação do

crescimento populacional de nosso planeta, produzindo maiores safras de alimentos

qmaior longevidade humana. O crescimento acelerado do campo da biotecnologia,

entretanto, ocorreu a partir da década de 70 com o desenvolvimento da Engenharia

Genética (ou Tecnologia do DNA Recombinante).

Com a decifração do código genético e a manipulação do DNA neste último

quarto de século, aceleram-se as descobertas científicas e suas aplicações

biotecnológicas. Com isso, abriram-se novas perspectivas econômicas nos campos da

saúde humana, sanidade animal e produção de alimentos. Surgiram técnicas

biotecnológicas como a produção e pesquisa de plantas e animais transgênicos,

clonagem de mamíferos, produção de proteínas humanas em microorganismos,

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plantas e animais, mapeamento do genoma humano, técnicas de detecções e

diagnósticos por PCR e Terapia Gênica.

Os primeiros experimentos com plantas transgênicas foram conduzidos em

1986, nos E.U.A e na França. Entre 1986 e 1995, 56 culturas foram testadas em

mais de 3.5 mil experimentos realizados em mais de 15 mil locais (34 países). Em

1996 e 1997, o número de países que testaram plantas transgênicas aumentou para

45, tendo sido conduzidos somente nestes dois anos mais de 10 mil experimentos.

Neste período, as culturas mais testadas foram a do milho, soja, tomate, canola,

batata e algodão. Na maioria dos casos as características genéticas introduzidas

foram tolerância a herbicidas, resistência a insetos, qualidade do produto e

resistência a vírus.

TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE:

O isolamento dos genes de interesse é conduzido por meio de técnicas de

clonagem molecular que consiste em induzir um organismo e amplificar a seqüência

de DNA de interesse, em sistemas que permitem uma fácil purificação e

recuperação do referido fragmento de DNA. Para isso, são utilizados vetores de

clonagem (plasmídeos ou vírus) nos quais a seqüência de DNA de interesse é


inserida, utilizando a enzima DNA ligase. Quando necessário, o fragmento de DNA

de interesse pode ser liberado do vetor por meio de enzimas de restrição. Uma vez

isolado o gene de interesse, estes fragmentos de DNA (genes) são incorporados

(por meio das técnicas de Engenharia Genética) no Genoma do organismo alvo,

resultando em um organismo geneticamente modificado (OGM), cuja característica

adquirida passa a ser hereditária.

A tecnologia do DNA Recombinante foi desenvolvida em 1973 e permite a

transferência do material genético de um organismo para o outro de forma efetiva

e eficiente. Ao invés de promover o cruzamento entre organismos relacionados para

obter uma característica desejada, cientistas podem identificar e inserir, no

genoma de um determinado organismo, um único gene responsável pela

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característica em particular. O gene inserido artificial ou intencionalmente no

genoma de um organismo é denominado transgene. Desta forma, tem-se alteração

precisa e previsível.

Antes do desenvolvimento da tecnologia do DNA Recombinante, a técnica

utilizada era a do Melhoramento Clássico, na qual a transferência de genes se dava

por meio de cruzamentos (reprodução sexuada), misturando todo o conjunto de

genes dos dois organismos em combinações aleatórias. A técnica exigia uma enorme

demanda de tempo e não era precisa.

PAPEL DOS TRANSGÊNICOS NA ECONOMIA MUNDIAL:

Neste século, é esperado um rápido desenvolvimento na biotecnologia,

especificamente, animal e vegetal. O século passado teve um grande

desenvolvimento na biotecnologia microbiana, que se iniciou com a Patente

concedida a Weizman com o desenvolvimento da fermentação acetona-butanol. A

produção direta de trigo rico em lisina é uma das pesquisas em desenvolvimento e

deverá resultar em um produto mais economicamente viável que o enriquecimento

do trigo com a lisina obtida de microorganismos. Também o leite deverá ser uma

fonte mais rica de proteínas humanas que os microorganismos e as vacinas obtidas

de plantas seriam bem mais viáveis e baratas que as atuais.

A modificação genética de microorganismos continua sendo uma importante

complementação para as modificações genéticas de plantas e animais, especialmente

para a produção de metabólitos secundários, biofertilizantes e biopesticidas,

bioprocessamento, biorremediação e tratamento de águas.

De acordo com uma pesquisa sobre a expectativa de comercialização de

produtos obtidos de organismos geneticamente modificados nos E.U.A, a agricultura

tem um grande potencial de crescimento e uma forte posição nas vendas em volume.

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Tabela 1: Comercialização de produtos biotecnológicos nos E.U.A (milhões de
dólares)

Taxa de
Perspectiva
Setor Econômico 1996 2001 Crescimento
2006
Anual

Terapêuticos 7555 13935 25545 13

Diagnósticos 1760 2705 4050 9

Agricultura 285 740 1740 20

Especialidades 275 690 1600 19

Diagnósticos Não-
225 330 465 8
Médicos

Total 10100 18400 33400 12

Fonte: Genetic Engeneering News. December,1995, p.6.

Já existem sementes manipuladas sendo cultivadas no mundo em uma área de

30 milhões de hectares e seu mercado deverá movimentar cerca de US$ 3 bilhões.

No Brasil, muitos alimentos transgênicos importados já são comercializados e

o país planeja importar 3 milhões de toneladas de milho da Argentina e E.U.A, onde

as lavouras transgênicas são liberadas oficialmente.

Na década de 90, os E.U.A aprovaram dezenas de produtos geneticamente

modificados e outra grande quantidade apareceu no mercado europeu e o ritmo

atual de liberação de Organismos Geneticamente Modificados indica que na

primeira década deste século já teremos uma centena de produtos geneticamente

modificados nas prateleiras dos supermercados, podendo-se chegar na casa dos

milhares em algumas décadas.

II. VEGETAIS GENETICAMENTE MODIFICADOS:

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A China foi o primeiro país a comercializar plantas transgênicas no início da

década de 90, com a introdução do fumo resistente a vírus, seguido pelo tomate

resistente a vírus. Em 1994, a Calgene obteve a primeira aprovação nos EUA para

comercializar o tomate transgênico “Flavr-Savr”, que apresentava amadurecimento

retardado. A área global de culturas transgênicas cresceu de 1.7 para 27.8 milhões

de hectares, em 1998 e as duas principais culturas transgênicas cultivadas em oito

países foram soja e milho.

A maioria dos produtos já liberados para a comercialização contêm

transgenes que codificam características que visam minimizar estresses

ambientais, incluindo tolerância a herbicidas, resistência a insetos e vírus. No

entanto, as características que visam aumentar a qualidade nutricional dos

alimentos vêm se tornando progressivamente mais importantes e deverão

prevalecer nas próximas gerações de produtos transgênicos.

É essencial melhorar a produção e a distribuição de gêneros alimentícios para

livrar da fome uma população mundial crescente, enquanto reduzimos os impactos

ambientais. Para isso, é necessário utilizar de forma adequada e responsável as

novas tecnologias e descobertas científicas.

Alimentos produzidos através de tecnologias de modificação genética podem

ser mais nutritivos, estáveis quando armazenados e, em princípio, podem promover

saúde trazendo benefícios para consumidores, seja em nações industrializadas ou

em desenvolvimento.

Esforços em conjunto, organizados, devem ser feitos para investigar os

efeitos potenciais no meio ambiente (positivos ou negativos) dos vegetais

transgênicos em suas aplicações específicas. Esses esforços devem ser avaliados

tomando-se como referência os efeitos de tecnologias convencionais da agricultura,

que estejam atualmente em uso.

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BENEFÍCIOS PROMOVIDOS PELOS TRANSGÊNICOS NA AGRICULTURA:

A tecnologia dos transgênicos tem sido utilizada para produzir uma variedade

de plantas para alimentação, principalmente com características preferidas pelo

mercado, algumas tendo se tornado sucessos comerciais. Os desenvolvimentos

resultantes em variedades comercialmente produzidas em países como EUA e

Canadá têm se centralizado no aumento de vida em prateleiras de frutas e vegetais,

dando resistência contra pragas de insetos ou viroses, e produzindo tolerância a

determinados herbicidas. Enquanto essas características têm trazido benefícios

aos agricultores, os consumidores dificilmente notaram qualquer benefício além de,

em casos limitados, um decréscimo no preço devido a custos reduzidos e aumento

da facilidade de produção (University of Illinois,1999; Falck-Zepeda et al 1999).

Temos a seguir, alguns exemplos que mostram o uso da tecnologia da

modificação genética de vegetais aplicada a alguns problemas específicos da

agricultura, indicando o potencial para obter benefícios:

 Resistência a pragas: Temos como exemplo a papaia que é resistente

ao vírus Ringspot e que tem sido comercializada e plantada no Hawai desde 1996

(Gonsalves, 1998). Este exemplo prova a eficiência do uso de modificação

genética em vegetais visando obter maior resistência a uma praga específica.

Outro benefício paralelo está no fato de que, ao se criar maior resistência a

pragas, diminui ou se elimina a necessidade do uso de pesticidas. Temos como

exemplo as plantações transgênicas resistentes aos insetos do Bacillus

thurringiensis , que permitiu uma redução significativa no uso de inseticidas.


Porém, alguns pontos devem ser considerados, como o fato de que as populações

de pragas ou organismos causadores de doenças podem vir a se adaptar à planta

transgênica, como acontece com o uso de inseticidas. Outro ponto a ser

levantado é a diferença no biótipo de pragas no mundo, que faz com que

plantações resistentes desenvolvidas para serem utilizadas na América do Norte,

possam ser resistentes a pragas que não preocupam nos países africanos, por

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exemplo. Há necessidade, portanto, de maior pesquisa com plantas transgênicas,

que tenham se mostrado resistente a pragas regionais, para verificar sua

sustentabilidade em face ao aumento de pressões diante de pragas ainda mais

virulentas.

 Colheitas mais abundantes: Como exemplo temos as pesquisas que

envolvem a produção de alimentos de alto-rendimento. O maior exemplo é o trigo

semi-anão que possui genes insensíveis à giberelina. A introdução desses genes

faz com que se obtenha uma planta mais baixa, mais forte e que aumenta o

rendimento da safra diretamente, uma vez que se reduz o alongamento das

células na parte vegetativa, de forma que a planta desenvolva mais sua parte

reprodutiva (comestível). Estes genes (NORIN 10) agem da mesma forma quando

utilizados para transformar outras espécies de plantas importantes como

alimento.

 Tolerância a pressões bióticas e abióticas : O desenvolvimento de

plantações que tenham uma resistência inata ao stress biótico ou abiótico

ajudaria a estabilizar a produção anual. Como exemplo, temos o vírus Mottle

Amarelo do arroz (RYMV), que devasta os arrozais africanos. Após o fracasso

dos métodos convencionais de cruzamentos entre o arroz selvagem e cultivado,

os pesquisadores utilizaram uma técnica de imunização genética, através da

criação de plantas de arroz transgênico resistentes ao RYMV. Como exemplo de

combate ao stress abiótico temos a produção de ácido cítrico nas raízes e a

melhor tolerância ao alumínio em solos ácidos (de La Fuente et al 1997).

 Uso de terras marginalizadas: Solos com elevados índices de salinidade

e alcalinidade podem ser utilizados caso se consiga obter um transgênico que

tenha por característica ser resistente nessas condições. Como exemplo, temos

um gene de tolerância em manguezais ( Avicennia marina) que foi clonado e

transferido para outras plantas e através dele pôde-se observar que as plantas

transgênicas mostraram-se mais tolerantes a altas concentrações de sal.

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 Benefícios nutricionais: Temos o exemplo da introdução de genes de

para obter maior produção de beta caroteno, precursor da vitamina A,

extremamente necessária e cuja deficiência nos animais causa cegueira. A

semente deste transgênico apresenta cor mais amarelada (Ye et al,2000).

Também já se desenvolveu o arroz transgênico com elevados níveis de ferro, de

forma a combater a anemia. Este arroz foi produzido usando-se genes envolvidos

na produção de proteínas capazes de ligar o ferro e de uma enzima que facilita a

disponibilidade de ferro na dieta humana (Goto et al, 1999). As plantas

transgênicas contêm entre 2 e 4 vezes mais ferro do que normalmente

encontrado no arroz convencional.

 Vacinas e produtos farmacêuticos derivados de plantas transgênicas :

Mesmo já estando disponíveis nos países em desenvolvimento, as vacinas

apresentam um custo elevado para produzir e utilizar. Diante disso, muitas vezes

as vacinas acabam não chegando até as pessoas que realmente necessitam dessa

imunização. Para eliminar este problema, os pesquisadores estão estudando o uso

de plantas transgênicas na produção de vacinas e fármacos. Como exemplo, temos

as vacinas contra as doenças infecciosas do aparelho gastro-intestinal, que são

produzidas em plantas como batatas e bananas (Mason H.S. Amtzen C.J. 1995).

Outro exemplo interessante está no anticorpo recentemente identificado em

sementes de arroz e trigo, que reconhece células cancerosas do pulmão, mama e

cólon e que poderá ser muito importante no diagnóstico ou terapia contra o

câncer (Stoger et al 2000). O desenvolvimento de plantas transgênicas, para

produzir agentes terapêuticos, tem enorme potencial para auxiliar na solução de

problemas com a saúde nos países em desenvolvimento.

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EXEMPLOS PRÁTICOS DE PLANTAS TRANSGÊNICAS:

 Mostarda com alto teor de beta-caroteno: O instituto de pesquisa

indiano TEI anunciou recentemente um projeto de desenvolvimento da chamada

mostarda dourada, cujo óleo tem alto teor beta-caroteno, precursor da vitamina

A, que ajuda a combater diversas doenças, como a cegueira noturna, a

xeroftalmia (ressecamento da córnea), diarréias e sarampo. A pesquisa é

conjunta com a Universidade de Michigan e a Monsanto. A deficiência em

vitamina A atinge cerca de 250 milhões de pessoas no mundo.

 Tomates resistentes ao excesso de sal : Segundo a revista “Nature

Biotechnology”, graças à injeção de um único gene capaz de absorver um

excedente de sal em plantações de tomate, cientistas conseguiram fazer crescer

e desenvolver em água contendo forte teor de sódio, tomates perfeitamente

comestíveis. O gene introduzido atua sobre uma proteína como um filtro capaz de

captar e isolar o sódio excedente.

PROCEDIMENTOS PARA A OBTENÇÃO DE VEGETAIS TRANSGÊNICOS:

Para obter plantas transgênica são necessários:

- um gene de interesse;

- uma técnica para transformar células vegetais através da introdução do

gene de interesse.

- uma técnica para gerar uma planta inteira a partir de uma só célula

transformada.

Após esta última etapa, teremos uma planta transgênica, porque ela contém,

além dos genes naturais, um gene adicional proveniente de outro organismo, que

pode ser uma planta, uma bactéria ou até um animal.

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GENES DE INTERESSE:

O genoma de uma bactéria contém em média 5000 genes, o de plantas, entre

40000 e 60000, enquanto o genoma humano consiste de aproximadamente 30.000

genes. Os genes são segmentos de um mesmo tipo de molécula: o ácido

desoxirribonucléico (DNA) e é esta característica que permite que genes de um

organismo sejam potencialmente funcionais em outro.

Uma das possibilidades para isolamento de um gene é a construção de uma

“biblioteca genômica” e, para isso, o DNA do organismo contendo o gene de

interesse é extraído. Em seguida o DNA é cortado em fragmentos menores

utilizando as enzimas de restrição. Estes fragmentos são, então, ligados a outros

fragmentos de DNA, mas que podem se replicar em bactérias, onde este material é

inserido e replicado por várias vezes. Depois, seleciona-se a colônia de bactérias

que contém o fragmento de DNA correspondente ao gene de interesse. Diversos

genes de interesse agronômico já foram isolados, entre eles temos:

- Gene que codifica uma proteína capaz de modificar herbicidas,

inativando-os. Os herbicidas são muito usados no controle de ervas daninhas,

entretanto, algumas culturas não sobrevivem à aplicação deste produto. Deste

modo, culturas contendo este gene poderiam tornar-se resistentes ao herbicida,

facilitando assim o controle das ervas.

- Gene que codifica uma proteína de alto valor nutricional, presente

na castanha-do-pará. Este gene poderia ser usado para aumentar o valor nutricional

de culturas importantes como feijão e soja.

- Genes bacterianos que codificam proteínas com propriedades

tóxicas para insetos. Os insetos que se alimentassem de plantas expressando este

gene morreriam ou se desenvolveriam com menor eficiência, levando ao seu controle

na cultura.

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TRANSFERÊNCIA DOS GENES DE INTERESSE:

A transferência dos genes se dá diretamente na célula vegetal, sendo o

processo mais utilizado (especialmente para o caso de monocotiledôneas), ou

através de agrobactérias. A transferência é alcançada por um dos métodos

seguintes:

A-) Eletroporação de protoplastos e células vegetais: Protoplastos são

células vegetais, desprovidas de parede celular. Para a transformação, são

incubados em soluções que contêm os genes a serem transferidos e, em seguida, um

choque elétrico de alta voltagem é aplicado por curtíssimo tempo. O choque causa

uma alteração da membrana celular, o que permite a penetração e eventual

integração dos genes no genoma.

B-) Biobalística: Técnica introduzida no início da década de oitenta. Baseia-

se na utilização de microprojéteis de ouro ou tungstênio cobertos com os genes de

interesse. Os microprojéteis são acelerados com pólvora ou gás em direção aos

alvos que, neste caso, são os tecidos vegetais. Os genes entram nas células junto

com o projétil de maneira não-letal, localizando-se aleatoriamente nas organelas

celulares. Em seguida, o DNA é dissociado das micropartículas pela ação do líquido

celular, ocorrendo o processo de integração do gene exógeno no genoma do

organismo a ser modificado. A velocidade alcançada pelos microprojéteis atinge

cerca de 1500 Km/h.

Uma das vantagens do sistema é que este permite a introdução e expressão

gênica em qualquer tipo de célula. Assim, foi permitida a transformação in situ de

células diferenciadas sem necessidade de regeneração. Outra importante vantagem

está na possibilidade de obtenção de plantas transgênicas através da

transformação de células-mãe do meristema apical. A técnica de biobalística

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mostrou-se bastante eficiente, pois as micropartículas conseguem atingir as três

camadas do meristema apical.

REGENERAÇÃO DAS PLANTAS A PARTIR DAS CÉLULAS

TRANSFORMADAS:

Uma vez inserido o gene na célula vegetal, por um dos métodos mencionados

acima, esta célula ou grupos delas são estimuladas a gerar uma planta transformada.

A transformação de uma célula vegetal é um tipo de manipulação genética que

atende ao mesmo princípio da transformação de microrganismos, estabelecido pela

primeira vez em 1973, quando Stanley e Cohen, em São Francisco, introduziram o

gene proveniente de uma rã em uma bactéria. No entanto, há diferenças conceituais

entre a situação com microrganismos e com plantas: nos primeiros, os objetivos

finais são mudanças operadas no nível celular, enquanto que em eucariotos

superiores, como plantas e animais, as mudanças obtidas no nível celular não são

significativas, a não ser que possam ser transferidas para todas as células do

organismo. Ou seja, o domínio das técnicas de regeneração de plantas inteiras a

partir de uma única célula é condição sine qua non na biotecnologia aplicada para a

agricultura. E como cada espécie de planta tem diferentes exigências hormonais,

nutricionais e ambientais para a regeneração, esta etapa ainda representa o maior

gargalo na criação de plantas transgênicas, embora esta técnica já esteja

estabelecida para inúmeras plantas de interesse econômico.

III. ANIMAIS TRANSGÊNICOS

A manipulação transgênica em animais é uma das questões mais

controversas dentro da comunidade científica. A tecnologia pode ser usada para

criar animais de fazenda mais produtivos, transformá-lo em “fábrica de remédios”

ou desenvolver modelos animais em laboratório para estudo de doenças humanas.

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Em resumo, um transgene é um fragmento de DNA, em geral a

seqüência completa de um gene, artificialmente introduzido no genoma de outro

organismo.

Para obter um organismo transgênico, primeiro o gene de interesse é

identificado e isolado (clonagem gênica). Depois, é preciso montar o transgene,

porque nem todo gene é expresso (levando a célula a produzir proteína) em todos os

tecidos. Só os glóbulos vermelhos do sangue, por exemplo, expressam a

hemoglobina, proteína que transporta o oxigênio aos tecidos. Além disso, a

expressão dos genes em cada célula varia de acordo com seu estado funcional.

Montagem de um transgene (desenvolvimento de camundongos transgênicos)

A expressão gênica depende de uma intrincada rede de controle baseada,

entre outras coisas, no reconhecimento de seqüências de DNA denominadas

“promotores”. A presença de certo promotor junto ao gene dirige sua expressão

para determinado tipo de célula. Como os promotores não codificam proteínas, são

alvos preferenciais para manipulação.

É possível usar enzimas de restrição para cortar o DNA em locais específicos

e também, “emendar” fragmentos de DNA com outras enzimas. Isso levou à idéia de

ligar um promotor de função bem conhecida a um transgene. Em tese, um promotor

que coordene a expressão do gene de uma proteína da pele pode induzir a expressão

de qualquer transgene na pele. Esse é o truque usado para dirigir a expressão de um

transgene para determinadas células de um camundongo.

Preparado o conjunto promotor-transgene, o passo seguinte é injetá-lo em

pró-núcleos de embriões. Estes são transferidos para o útero de fêmeas receptivas

(em estado de falsa-prenhez, induzido pelo cruzamento com machos

vasectomizados). Os filhotes nascem em 20 dias, mas ainda é necessário examinar o

DNA para confirmar se tem o transgene e selecionar os positivos (transgênicos).

Por último, a proteína associada ao transgene é identificada nos filhotes e seu nível

de expressão é medido em células específicas.

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Uma linhagem de camundongos transgênicos é com freqüência uma

ferramenta poderosa para o estudo in vivo de processos biológicos. Podem-se

reproduzir doenças humanas (câncer, diabetes, imunodeficiências e outras) ou

alterar vias metabólicas específicas e avaliar em detalhes a atuação celular. Esses

animais permitiriam grandes avanços em áreas como imunologia, neurologia, biologia

celular e outras.

Embora seja um grande avanço tecnológico, a geração de animais

transgênicos tem limitações. Por ser aleatória, a integração do transgene ao DNA

pode resultar na mutação de outro gene (e não do gene alvo). Também há variações

no número de cópias integradas e no nível de expressão do transgene, ou seja, na

quantidade produzida da proteína correspondente. Além disso, como o gene-alvo

continua intacto, não se sabe a priori como sua expressão será afetada pelo

transgene. Isso exige a geração de várias linhagens independentes de animais com o

mesmo transgene, para comparar o efeito no organismo de diferentes doses da

proteína em estudo.

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