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Transgenia: quebrando barreiras em prol da agropecuária brasileira

O homem seleciona plantas com as características que deseja e realiza o


cruzamento entre elas há séculos a fim de que essas características sejam
passadas para as plantas descendentes. Essa técnica é conhecida como
‘melhoramento genético clássico ou convencional’ e pode ser realizada de forma
“caseira”.
Já a transgenia, é a evolução do melhoramento genético convencional e só é
possível de ser realizada em laboratório, com equipamentos adequados. Essa
tecnologia permite um nível de precisão que não seria possível na natureza,
acelerando as mudanças desejadas em um organismo.
Sinônimo para a expressão "Organismo Geneticamente Modificado" (OGM), a
transgenia é caracterizada pela modificação do DNA de um organismo que
recebeu um gene de outro organismo doador. Essa alteração no seu DNA
permite que o organismo apresente uma característica que não tinha antes. Na
natureza, sempre ocorreram (e ainda ocorrem) alterações ou mutações naturais.
A transgenia nada mais é do que uma evolução do melhoramento genético
convencional, já que permite transferir características de interesse agronômico
entre espécies diferentes. Isso quer dizer que essa tecnologia permite aos
cientistas isolarem genes de microrganismos, por exemplo, e transferi-los para
plantas, com o objetivo de torná-las resistentes a doenças ou mais nutritivas,
entre outras inúmeras aplicações.
Em 2024, se completam três décadas do desenvolvimento do primeiro produto
alimentar geneticamente modificado no mundo – um tomate com maior
durabilidade criado na Califórnia, Estados Unidos. Hoje, a cada 100 hectares
plantados com soja no Planeta, 80 são de sementes com genes alterados. No
caso do milho, são 30 para cada 100. Os Estados Unidos lideram o plantio,
seguidos pelo Brasil e Argentina.
Hoje, das culturas cultivadas em nosso país com biotecnologia, 92% da soja é
transgênica, 90% do milho e 47% do algodão também é geneticamente
modificado.

Razões para dizer NÃO aos transgênicos


1 - Maior uso de agrotóxicos – De cada 10 hectares plantados com
transgênicos no mundo, quase 7 deles são com soja, milho, algodão ou canola
resistentes a herbicida. O uso repetido de um mesmo herbicida tem levado ao
aparecimento de plantas resistentes. Essas plantas que não são mais
controladas pelo herbicida levam o produtor a aumentar a dose do agrotóxico ou
usar outros produtos mais tóxicos. Na Argentina, o uso de Roundup cresceu 86%
com a soja transgênica. Nos Estados Unidos, cresceu mais de 70%.
2 - Criação de novas pragas – os transgênicos do tipo Bt produzem uma toxina
em todas as partes da planta que serve para controlar lagartas. Estudos já
mostraram que a quantidade de toxina Bt varia na planta ao longo do ciclo da
cultura. Isso pode criar insetos resistentes ao Bt. Há ainda o risco de que outros
insetos também morram ao se alimentar das plantas Bt. Isso pode prejudicar o
equilíbrio ecológico e o controle biológico de pragas. Como as plantas Bt
controlam só alguns insetos, elas não eliminam o uso de inseticidas.
3 - Contaminação das variedades crioulas – a experiência tem mostrado que
é muito difícil manter os transgênicos sob controle depois que eles são liberados.
No caso da soja, a contaminação da produção orgânica e convencional vem
acontecendo desde a semente até a armazenagem. O uso de máquinas e
colhedeiras pode misturar as sementes. No caso do milho o problema é ainda
muito mais grave. Além das máquinas e caminhões, a contaminação pode
acontecer pelo vento, que carrega o pólen a distâncias muito grandes.
4 - As sementes são patenteadas – todo agricultor que planta semente
transgênica deve pagar uma taxa para a empresa dona da semente. Essa taxa
é conhecida como royalty. Ao comprar a semente o agricultor assina um contrato
com a empresa assumindo o compromisso de não vender, não guardar e não
plantar no ano seguinte as sementes colhidas. A empresa faz isso como forma
de garantir que o agricultor terá que comprar suas sementes no próximo ano.
Com as sementes transgênicas o agricultor fica totalmente dependente de
empresas como Monsanto e Syngenta.
5 - Controle de multinacionais – Apenas 4 empresas multinacionais dominam
quase todo o mercado de transgênicos no mundo e 49% de todo o mercado de
sementes. Isso pode reduzir a oferta de sementes não-transgênicas no mercado
e deixar os produtores sem opção.
6 - Há caminhos mais sustentáveis para a agricultura – A agroecologia é um
movimento que cresce cada vez mais no Brasil inteiro. As experiências com
agroecologia vêm mostrando ótimos resultados na redução de custos, no
aumento e na diversificação da produção e na segurança alimentar das famílias.
A agroecologia incorpora novas técnicas ao mesmo tempo em que valoriza e
resgata o saber camponês. As sementes crioulas são adaptadas aos sistemas
agroecológicos e deixam o agricultor livre da dependência da indústria de
insumos e sementes.

Benefícios
Os transgênicos buscam soluções sustentáveis para os desafios agrícolas e
alimentares como, por exemplo, resistência à doenças e pragas e tolerância a
estresses climáticos, como a baixa disponibilidade de umidade no solo. Algumas
vantagens da aplicação dessa tecnologia na agricultura são:
1 - Alimentos ricos em nutrientes  Algumas técnicas de modificações
genéticas podem ser utilizadas para aumentar a quantidade de nutrientes nos
alimentos. O exemplo mais comum é o arroz dourado, um grão modificado que
é rico em betacaroteno, para ajudar o organismo que tem deficiência da vitamina
A.
2 - Preservação do meio ambiente  Com modificações que permitem a
redução da necessidade de aplicação de defensivos agrícolas para combater as
pragas. Assim, também se gasta menos água na preparação dos agrodefensivos
e menos combustíveis nos tratores e máquinas usados para aplicar esses
produtos na lavoura. A engenharia genética torna algumas lavouras mais
produtivas e, desta forma, contribui para reduzir a necessidade de plantio em
novas áreas, reduzindo significativamente a emissão de gases do efeito estufa,
como o gás carbônico.
3 - Aumento da produtividade  A combinação dos fatores citados acima
proporcionam, ainda, vantagens em termos de produtividade, já que os
transgênicos reduzem as perdas nas lavouras. Isso faz com que uma maior
quantidade de alimentos estejam disponíveis, sem a necessidade de aumentar
a área plantada.
4 - Podem ajudar a combater a fome  Segundo documento da Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o mundo terá 2
bilhões de pessoas a mais para alimentar até 2030 e a biotecnologia (e os
alimentos transgênicos), pode ajudar a enfrentar esse desafio.

Transgênicos e agrotóxicos: boas práticas agrícolas


Indivíduos e organizações que são contra a produção de alimentos transgênicos
afirmam que eles incentivam o aumento do uso de agrotóxicos na lavoura, já que
as plantas transgênicas são mais resistentes.
Na verdade, um milho transgênico, por exemplo, pode carregar um gene que o
torne resistente a algum inseto, como uma lagarta. Isso significa que o produtor
não vai precisar aplicar um inseticida nesse milho por conta dessa lagarta, mas
pode ser que ele precise aplicar outro tipo de produto, como um herbicida para
combater as plantas daninhas da lavoura, algo que ele já teria que fazer se o
alimento não fosse transgênico.
Além disso, não é financeiramente interessante para o agricultor utilizar mais
agrotóxico do que o necessário, já que esse produto representa um custo
adicional para a manutenção da lavoura. Portanto, o recomendado é que o
produtor siga sempre as boas práticas agrícolas na plantação,
independentemente de cultivar alimentos transgênicos ou convencionais.

Transgenia: aliada da agricultura para enfrentar os desafios alimentares


As opções de aplicação dos organismos transgênicos são infinitas e podem
cobrir as mais diversas áreas. Na agricultura sustentável, por exemplo, a
biotecnologia permite produzir mais comida, com qualidade, a um custo menor
e sem necessidade de aumentar a área de cultivo. Atualmente, os OGMs já estão
contribuindo significativamente para sustentar o aumento da demanda de
produtividade por hectare, que é a área de plantio utilizada pelo produtor. Como
não restam muitas fronteiras agrícolas (terras novas para plantar), é necessário
produzir mais em cada hectare plantado. Mas, além do aumento da
produtividade, a biotecnologia pode trazer outros benefícios como plantas mais
nutritivas ou com composição mais saudável.

Biotecnologia e biossegurança: unidas para garantir a segurança do


consumidor brasileiro
Uma das questões que mais preocupa o consumidor no Brasil é em relação à
segurança dos produtos geneticamente modificados.
Nesse sentido, é importante ressaltar que em quase trinta anos de uso em todo
o mundo, pessoas de cerca de 50 países consumiram alimentos transgênicos
em larga escala, sem nenhum registro de impacto negativo no meio ambiente ou
na saúde humana e animal. Antes de chegar ao consumidor, todo transgênico é
exaustivamente analisado por meio de rígidos testes laboratoriais e de campo.
Mais de duas mil pesquisas sobre o tema já foram realizadas por grupos de
estudos, órgãos científicos e agências reguladoras. Cerca de 130 delas foram
feitas somente na União Europeia nos últimos 25 anos, todas seguindo padrões
rigorosos definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela FAO.
Nenhuma delas encontrou evidências de que os alimentos transgênicos possam
causar câncer ou outras doenças em seres humanos ou animais.
Além disso, é fundamental que a sociedade brasileira saiba que o Brasil possui
uma das leis de biossegurança mais rigorosas do mundo. A biossegurança
engloba um conjunto de ações voltadas para a prevenção e minimização de
riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção e desenvolvimento
tecnológico, visando à saúde do homem e dos animais, à preservação do meio
ambiente e à qualidade dos resultados.

Embrapa: há mais de 40 anos na vanguarda das pesquisas biotecnológicas


A biotecnologia despontou na década de 80 na Embrapa como uma ferramenta
capaz de acelerar o melhoramento genético das culturas agrícolas.
A engenharia genética, ou a capacidade de desenvolver a transformação
genética de plantas pela transferência de genes, nada mais é do que uma
evolução das técnicas de melhoramento genético em prol de uma agricultura
mais produtiva e saudável.
As pesquisas de engenharia genética na Embrapa, especialmente na Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, que é uma das 46 unidades de pesquisa
da Embrapa, têm como principal foco o desenvolvimento de plantas resistentes
e tolerantes a estresse bióticos (pragas) e abióticos. O objetivo é reduzir a
aplicação de defensivos agrícolas, tornando a sua alimentação e o seu dia-a-dia
mais saudáveis!
Essas pesquisas resultaram na aprovação pela CTNBio para cultivo comercial
de dois produtos geneticamente modificados: soja tolerante a herbicidas e feijão
transgênico resistente ao vírus do mosaico dourado.

Quais são os alimentos transgênicos aprovados no Brasil?


Vale lembrar que poucas são as culturas que tem uma versão geneticamente
modificada e autorizada para uso comercial.
No Brasil, os principais alimentos transgênicos aprovados e cultivados
atualmente são a soja, o milho, o algodão e a cana-de-açúcar. Os dois primeiros
representam 81% de toda a área cultivada com variedades transgênicas no país.
A CTNBio também autorizou o cultivo de feijão e eucalipto transgênicos em solo
brasileiro.
Todos os alimentos transgênicos liberados para uso comercial no país podem
ser consultados no site da CTNBio.
Como identificar um alimento transgênico
Os alimentos transgênicos possuem a mesma composição que os alimentos
convencionais. Eles são digeridos da mesma maneira que um não transgênico
e não sofrem nenhuma alteração do ponto de vista da aparência e nem quanto
aos nutrientes ou sabor. Exceto, é claro, os produtos que foram enriquecidos
nutricionalmente de forma intencional, como é o caso do arroz dourado. Mas um
milho modificado para ser resistente a insetos, por exemplo, possui as mesmas
proteínas, fibras e vitaminas que o milho convencional.
A única forma de constatar que você está consumindo um alimento transgênico
é pela identificação na embalagem. De acordo com a legislação brasileira, todo
produto que contenha qualquer porcentagem de um ingrediente geneticamente
modificado deve ter, no rótulo, o símbolo de transgênico, que consiste na
representação de um triângulo amarelo, com a letra T dentro.

Considerações Finais
A grande questão da produção de transgênicos fica à mercê de questões
socioambientais e da saúde humana de quem ingere estes alimentos. Ainda há
muita falta de conhecimento sobre o assunto de parte da população geral, bem
como pouca informação divulgada sobre testes e pesquisas apuradas, o que
deixa muitas dúvidas sobre o assunto.

Prós
 Custo baixo devido à produção e larga escala.
 Torna acessível diversos tipos de alimento a toda a população.
 Facilita a vida do agricultor, que quando compra uma semente
transgênica, tem menos gastos com pesticidas e outros produtos
químicos.
Contras
 Há desgaste do ambiente e alterações que podem tornar-se irreversíveis,
como a aplicação de agrotóxicos, que penetra na terra e através da chuva
atinge os rios e toda fauna e flora que está interligado.
 Dúvidas geradas quanto à própria saúde humana e os riscos que podem
se desencadear a longo tempo.
 Os transgênicos são cruzamentos que não acontecem ou aconteceriam
naturalmente no ambiente, conduzindo o modelo agrícola para um
caminho insustentável – levando a alimentação e a qualidade de vida ao
descaso, cada vez mais.
A importância que se dá à alimentação e ao estilo de vida é de suma importância,
uma vez que nossos atos decorrem ao longo do tempo e desencadeiam
consequências boas ou ruins.

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