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A Biotecnologia tem tido avanços significativos na saúde humana.

Segundo a Convenção sobre


Diversidade Biológica da ONU (1992), a Biotecnologia é entendida como qualquer aplicação
tecnológica que use sistemas biológicos, organismos vivos ou derivados destes, para fazer ou
modificar produtos ou processos para usos específicos.

Novos medicamentos têm sido criados, em especial para doenças raras ou não tratadas
previamente. Os métodos de produção biotecnológica fornecem versões mais seguras de
tratamentos existentes em quantidades ilimitadas. A Biotecnologia tem revolucionado a
investigação e o desenvolvimento de novos medicamentos e permite um melhor
direcionamento do produto para doenças específicas e grupos de doentes específicos.

Os medicamentos biotecnológicos já representam cerca de 10 a 15% do mercado


farmacêutico. Mais de um quinto dos novos medicamentos lançados no mercado mundial a
cada ano são derivados da Biotecnologia, número que provavelmente irá aumentar, devido
aos avanços científicos. A aplicação da Biotecnologia na área da saúde tem contribuído
também para um crescente número de produtos inovadores.

Segundo a Fundação Biominas, São Paulo, Minas Gerais e o Sul do país concentram a maior
número de empresas no setor, com patentes depositadas para produtos inovadores. Os ativos
intangíveis (especificamente marcas e patentes) exercem um papel cada vez mais importante
na criação de valor das empresas, contribuindo assim para o crescimento da indústria
farmacêutica.

O professor do ICTQ – Instituto de Ciência e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico,


Tarcísio Liberato de Souza Júnior do ICTQ relata que a biotecnologia tem um importante papel
na transformação da indústria farmacêutica, por meio de técnicas inovadoras que contribuem
para o tratamento de diversas doenças. “O desenvolvimento de biofármacos, como os
anticorpos monoclonais, são parte dessa revolução, possibilitando tratamentos de diversos
tipos de câncer e doenças autoimunes”.

Futuro

A Biotecnologia continuará a proporcionar novos avanços na investigação clínica nos próximos


anos, conduzindo a tratamentos em áreas que já nos eludiram anteriormente (inclusive
VIH/SIDA, cancro, asma, doença de Parkinson, doença de Alzheimer), e continuará igualmente
a oferecer alternativas aos atuais tratamentos convencionais disponíveis.

A utilização da Biotecnologia no desenvolvimento de novos medicamentos tem diversas


vantagens específicas:
1. A Biotecnologia permite o desenvolvimento e a produção de novas substâncias que foram
anteriormente além das capacidades das tecnologias tradicionais. Este processo inclui a
concepção e a produção de novos medicamentos, com maior eficácia e especificidade e,
consequentemente, menos efeitos colaterais. Um exemplo disto é o tratamento para a
esclerose múltipla.

2. As preocupações com a segurança dos produtos nos países desenvolvidos têm desaparecido
graças ao desenvolvimento de medicamentos biotecnológicos. A Biotecnologia oferece um
maior controle sobre o processo de fabrico, permitindo uma redução significativa dos riscos de
contaminação por agentes infecciosos. Um bom exemplo são os produtos de sangue utilizados
para tratar a hemofilia.

3. A Biotecnologia oferece produtos mais direcionados para doenças específicas e grupos de


doentes, através da utilização de tecnologias inovadoras, em particular, a genética. Os
exemplos incluem, entre outros, os tratamentos para doenças raras e alguns tipos de cancro.

4. Alguns produtos não são naturalmente criados em quantidade suficiente para fins
terapêuticos. A Biotecnologia permite a produção em larga escala de substâncias existentes,
como por exemplo a insulina, no campo do tratamento da diabetes.

7 inovações que a biotecnologia trouxe para a indústria farmacêutica

Por ser uma ciência multidisciplinar, a biotecnologia pode trazer benefícios e inovações para as
mais diversas áreas, desde a agricultura à robótica. Especialistas acreditam que a colaboração
entre áreas só traz benefícios e, por isso, listamos as principais inovações que a biotecnologia
trouxe para a indústria farmacêutica.

1 – Biossensores

Os biossensores baseados em biotecnologia combinam diferentes componentes biológicos


(como antígenos, enzimas, anticorpos e células de micro-organismos) com componentes
eletroquímicos (na maioria das vezes) com estruturas de sensores comuns, com o objetivo de
sinalizar ou quantificar a presença de uma determinada substância. No Brasil, por exemplo,
existem pesquisas para o desenvolvimento de biossensores para a detecção de doenças
infecciosas (como dengue e zika vírus) e também de tumores.
Estes dispositivos podem se tornar aparelhos portáteis e baratos, semelhantes aos utilizados
para medir taxas de glicose no sangue, tanto na clínica quanto por pacientes diabéticos em
casa. Estima-se que o mercado de biossensores foi avaliado em cerca de US$ 16 bilhões em
2016, de acordo com a Markets and Markets, empresa de pesquisa e consultoria norte-
americana na área de tecnologia da informação. A previsão é que alcance US$ 27 bilhões até
2022. Deste total, os biossensores médicos detêm 66% do mercado. Além de sua aplicação na
indústria farmacêutica, eles podem ser utilizados em biorremediação e em investigações
forenses.

2 – Biofármacos

Biofármacos são medicamentos obtidos por meio de técnicas biotecnológicas que utilizam
células geneticamente modificadas para a produção de proteínas terapêuticas. O exemplo
mais clássico é a produção de insulina recombinante para pacientes diabéticos. Mas há outros
exemplos bem famosos de biofármacos, como os anticorpos monoclonais para o tratamento
de câncer: Trastuzumabe (comercialmente Herceptin, utilizado no tratamento de câncer de
mama) e Rituximab (comercialmente Rituxan ou Mabthera, utilizado no tratamento de
linfomas e leucemias).

O mercado global de biofármacos é estimado em US$ 160 bilhões ao ano. No Brasil, existem
algumas farmacêuticas nacionais com projetos de desenvolvimento de biofármacos, como a
Libbs, a Cristália, a Recepta e a BioNovis (joint venture criada pelos laboratórios Aché, EMS,
Hypermarcas e União Química).

3 – Antibióticos

Você sabia que os antibióticos também são produzidos por intermédio da biotecnologia? Eles
são compostos do metabolismo secundário de micro-organismos, geralmente produzidos
durante a fase tardia de crescimento de bactérias e fungos. Na Medicina, os antibióticos são
utilizados para controlar doenças infecciosas, pois inibem o crescimento de micro-organismos
mesmo em concentrações baixas.

A produção biotecnológica de antibióticos é focada em processos fermentativos de alguns


micro-organismos, como Penicillium spp e Streptomyces spp. Antibióticos semissintéticos, por
sua vez, são primeiramente produzidos por fermentação, purificados e depois sofrem
alterações graças a reações de química orgânica.

O surgimento de superbactérias resistentes aos antibióticos disponíveis é um tópico muito


importante dentro da Medicina e da indústria farmacêutica. Pesquisadores do Brasil e do
mundo estão trabalhando para o desenvolvimento de novos tipos de antibióticos para o
tratamento de infecções por bactérias resistentes aos medicamentos tradicionais. Por
exemplo, pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) em Campinas-SP estão
desenvolvendo um antibiótico para bloquear a formação da parede celular de bactérias do tipo
bacilo. PB alerta: É muito importante o uso de antibióticos apenas após prescrição médica
para evitar o surgimento das superbactérias.

4 – Humano-no-chip

Ao ler o título deste tópico você logo pensou em chips implantados no corpo? Calma! A
tecnologia de humano-no-chip (ou human-on-a-chip em inglês) na verdade é uma plataforma
que pode ser utilizada para o teste de novos medicamentos, substituindo o uso de animais e
buscando reproduzir a complexidade de interações que existem entre os órgãos do corpo
humano.

A biotecnologia permite o cultivo de tecidos humanos em três dimensões, criando arranjos


que simulam a morfologia e a funcionalidade dos órgãos. Diferentes tecidos podem ser
cultivados num mesmo chip, que tem um tamanho de um smartphone, e computadores
controlam a circulação de um fluido que cumpre parcialmente as funções do sangue.

Essa tecnologia permitirá que a indústria farmacêutica crie remédios e tratamentos mais
seguros, sem precisar recorrer a testes em animais. No Brasil, a tecnologia Human-on-a-chip já
está presente no LNBio em Campinas e integra o portfólio de projetos da Rede Nacional de
Métodos Alternativo ao Uso de Animais (RENAMA).

5 – Impressão de órgãos

Atualmente, a lista de espera para o transplante de órgãos é muito longa, e existem problemas
relacionados à imunossupressão (provocada para evitar problemas de incompatibilidade entre
o doador e o transplantado). Pensando nisso, pesquisadores uniram a medicina, a
biotecnologia e a engenharia e estão desenvolvendo órgãos humanos com o uso de
impressoras 3D.

Nas próximas décadas, com a bioimpressão, órgãos poderão ser desenvolvidos a partir de
células do próprio paciente, evitando o problema de rejeição e encurtando o tempo de espera
para um transplante.

No Brasil, a pesquisa em bioimpressão 3D de órgãos vem sendo desenvolvida por


pesquisadores da Divisão de Tecnologias Tridimensionais (DT3D), do Centro de Tecnologia da
Informação Renato Archer (CTI), uma das unidades de pesquisa do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação, localizada em Campinas (SP).

6 – Medicina personalizada

Pensadores e guias espirituais já consideravam há bastante tempo que “cada ser humano é
único”, mas agora a Medicina está enxergando por este lado também. Com o avanço das
técnicas de sequenciamento de DNA, as informações genéticas estão facilmente disponíveis
para os médicos, que vão poder escolher o tratamento/remédio adequado para cada doença
de acordo com as particularidades do genoma do paciente.

Iniciativas de Medicina de Precisão e de criação de banco de dados (biobancos) se espalharam


pelo mundo. As informações coletadas, com dados genéticos, biópsias de amostras e registros
médicos ajudam os cientistas a entender as particularidades de cada indivíduo e a definir qual
o tratamento melhor se adequa a cada condição e paciente. No Brasil, por exemplo, surgiu a
iniciativa do BIPmed, o primeiro banco de dados genômicos com dados da América Latina.

A medicina de precisão (ou medicina personalizada) já é uma realidade para a escolha do


tratamento de alguns tipos específicos de câncer. Por exemplo, o tratamento com o
biofármaco Trastuzumabe (comercialmente Herceptin) só é indicado para pacientes com
câncer de mama cujos tumores expressam um oncogene específico, o HER2.

Para conhecer mais sobre o assunto, acesse Medicina de Precisão: futuro para os tratamentos
de doenças, um texto do Profissão Biotec escrito por uma especialista da Unicamp.

7 – Terapia gênica

Utilizando técnicas de biotecnologia, pesquisadores buscam “consertar” genes que possuam


defeitos e provoquem doenças, na chamada terapia gênica. Algumas dessas terapias já foram
aprovadas para o uso clínico e já foram destaques no portal de notícias do Profissão Biotec.

Em 2017 foram aprovadas duas terapias utilizando células imunes geneticamente modificadas
coletadas do próprio paciente (terapia CAR T-cell): tisagenlecleucel (Kymriah) — para crianças
e adultos com leucemia avançada, da Novartis; e axicabtagene ciloleucel (Yescarta) — para
pacientes com linfoma difuso de grandes células B, da Kite pharma. Também em 2017, uma
vacina contra câncer, chamada mRNA-4157 entrou na fase I de testes clínicos.
Em relação à técnica de edição gênica CRISPR, que trouxe avanços em diversas áreas de
pesquisas biológicas, dois testes clínicos foram anunciados para avaliar a tecnologia para o
tratamento de câncer. No Brasil, diversos centros já realizam pesquisa com CRISPR, como, por
exemplo, o LNBio em Campinas.

Como vimos, a biotecnologia também está presente no setor farmacêutico, trazendo inovação
em diversos produtos e serviços. Alguns deles, como os biofármacos, antibióticos, biocenoses
e algumas das terapias gênicas, já estão disponíveis para auxiliar no tratamento e diagnóstico
de pacientes.

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