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E TECNOLOGIA DE
MEDICAMENTOS
LÍQUIDOS E
SEMISSÓLIDOS
Introdução
A biotecnologia é um ramo da ciência que utiliza sistemas biológicos, organis-
mos vivos ou seus derivados na produção ou modificação de produtos. Novos
medicamentos e vacinas têm sido desenvolvidos por meio da biotecnologia,
2 Aspectos biofarmacêuticos e biotecnológicos de novos medicamentos
Biotecnologia e medicamentos
Nas últimas décadas, a biotecnologia tem avançado consideravelmente nas
áreas da medicina e da farmácia, sendo possível hoje produzir medicamen-
tos em quantidades suficientes a partir da biologia molecular. Os fármacos
biotecnológicos ou biofármacos obtidos pela tecnologia do ácido desoxir-
ribonucleico recombinante (DNAr) são exemplos clássicos da aplicação da
biotecnologia na produção de medicamentos (ALLEN JR., 2016; ALLEN JR.;
POPOVICH; ANSEL, 2013).
De acordo com Allen Jr., Popovich e Ansel (2013, p. 597), o termo biotec-
nologia refere-se a “[...] qualquer técnica que utilize organismos vivos (i.e.,
microrganismos) na produção ou modificação de produtos”, sendo que o
termo biotecnologia frequentemente é usado de forma intercambiável com
“engenharia genética” no contexto da ciência e da saúde. Embora grandes
avanços tenham sido observados nas últimas décadas, o conceito de biotec-
nologia não é novo. Organismos vivos têm sido manipulados desde a época
da Primeira Guerra Mundial a fim de solucionar problemas e melhorar a
qualidade de vida das pessoas.
O início da aplicação da biotecnologia na indústria farmacêutica foi mar-
cado pela aprovação da primeira insulina humana recombinante em 1982,
pela agência reguladora norte-americana Food and Drug Administration
(FDA). Até então, esse medicamento só podia ser extraído de animais. Atual-
mente, a biotecnologia é aplicada no desenvolvimento de vacinas, reagentes
para diagnóstico, materiais médicos e odontológicos, bem como na terapia
celular e na terapia gênica. Os primeiros fármacos biotecnológicos eram de
Aspectos biofarmacêuticos e biotecnológicos de novos medicamentos 3
DNA recombinante
Anticorpos monoclonais
Os anticorpos, também conhecidos como imunoglobulinas (Ig), são moléculas
proteicas produzidas e secretadas por linfócitos B que atuam na defesa do
organismo. De acordo com Costa (2019, documento on-line), “[...] a utilização
dos anticorpos como recurso terapêutico iniciou-se com a descoberta de que
o soro animal imunizado com toxinas ou vírus possuía uma grande eficácia
contra esses agentes que são causadores de doenças em humanos”.
Os anticorpos monoclonais (AcMs) são obtidos pela técnica de fusão celular
(hibridoma), ou seja, a partir da fusão de linfócitos B, previamente estimu-
lados com o antígeno de interesse, com células de mieloma. Os hibridomas
formados podem ser mantidos e armazenados em culturas. A partir daí,
podem produzir grandes quantidades de anticorpos com alta qualidade. Por
meio dessas células híbridas, é possível selecionar uma linhagem específica
de células que produzam imunoglobulinas monoespecíficas (VITOLO et al.,
2015; ALLEN JR.; POPOVICH; ANSEL, 2013).
De modo geral, os anticorpos apresentam estrutura em forma de Y, formado
por quatro cadeias polipeptídicas, sendo duas pesadas e duas leves. Essas
cadeias são unidas por meio de ligações covalentes e não covalentes (como
pontes de hidrogênio, interações hidrofóbicas e de Van der Waals e ligações
iônicas) (COSTA, 2019).
8 Aspectos biofarmacêuticos e biotecnológicos de novos medicamentos
vir-: viral;
bac-: bacteriano;
li- ou lim-: imunológica;
les-: lesões infecciosas;
cir-: cardiovascular;
col-, mel-, mar-, got-, gov-, pr(o)-, tu-: tumores no cólon, melanoma,
mama, testículo, ovário, próstata e miscelano, respectivamente.
-u- = humano;
-o- = camundongo;
-a- = rato;
-zu- = humanizado;
-e- = hamster;
-i- = primata;
-xi- = quimera.
As moléculas de DNA são duplicadas a cada ciclo, sendo que os ciclos são
repetidos até se obter material suficiente da sequência de DNA copiado. Allen
Jr., Popovich e Ansel (2013) relata como exemplo que, se forem realizados 20
ciclos a taxa de 90% de sucesso, isso resulta na amplificação de 375 mil vezes
uma sequência de DNA.
Terapia gênica
A terapia gênica consiste em transferir um material genético exógeno para
dentro das células somáticas, com o objetivo de corrigir um defeito adquirido
ou herdado e introduzir uma nova função ou propriedade nas células. O avanço
da biotecnologia tem proporcionado o desenvolvimento de meios eficientes e
seguros para transferência de genes para as células. Com isso, a terapia gênica
tornou-se uma opção viável para o tratamento de muitas imunodeficiências
com delineamento genético e fisiopatologia molecular conhecidos (ALLEN
JR.; POPOVICH; ANSEL, 2013). A terapia gênica destaca-se pelo seu elevado
grau de pontualidade terapêutica e por provocar poucos efeitos colaterais.
Além disso, sua aplicação vai além do tratamento de doenças (PAIVA, 2017)
Para a transferência do material genético para o interior das células,
é necessária a utilização de um vetor, para que não ocorra a degradação
do gene e para garantir que a inserção seja feita do modo mais eficiente
possível. Esses vetores podem ser virais ou não virais. Os meios virais são
os mais utilizados na terapia gênica, pois apresentam alta eficiência. Os
retrovírus, adenovírus, vírus adenoassociados e herpes vírus simples são os
mais utilizados. As técnicas não virais de transferência de DNA incluem lipos-
somas, plasmídeos, microinjeção, eletroporação e biobalística (bombardeio
de partículas) (PAIVA, 2017).
De acordo com Allen Jr., Popovich e Ansel (2013), o primeiro protocolo
a utilizar terapia gência foi realizado em 1990, no National Institutes of
Health, em pacientes com deficiência de adenosina desaminase (ADA).
Supressões no gene que codifica a ADA, assim como mutações pontuais,
podem resultar em redução elevada ou perda da atividade dessa enzima,
o que pode resultar no desenvolvimento da imunodeficiênica grave com-
12 Aspectos biofarmacêuticos e biotecnológicos de novos medicamentos
apresentar baixa toxicidade ao hospedeiro, por não ter efeito sobre seus
genes. De acordo com Paiva (2017, documento on-line), o objetivo dessa
técnica no combate ao HIV é:
[...] usar RNA de interferência (RNAi) sintético e, o mais usado é o siRNA, junto
ao sistema do complexo RISC para silenciar genes de replicação ou de infecti-
vidade do vírus durante a replicação, pois nesse momento tem exposição do
genoma viral por meio do mRNA. Sendo assim, esse tipo de tratamento inibe
a replicação viral e tenta diminuir a infectividade do vírus, fazendo com que,
quando utilizada em ensaios laboratoriais com camundongos, haja a redução
da carga viral no organismo.
Produção de vacinas
A biotecnologia tem contribuído de modo significativo no desenvolvimento
de novas vacinas, bem como na descoberta de novos antígenos, adjuvantes,
vetores e sistemas de entrega. As primeiras vacinas eram fundamentadas
em patógenos, bactérias ou vírus, sendo estes atenuados ou inativados, e,
em alguns casos, reativos.
De acordo com Oliveira e Silva (2020), as vacinas podem ser classificadas
em três gerações, de acordo com a preparação do princípio ativo, nesse caso
os antígenos vacinais:
[...] os genes para o antígeno de interesse são localizados e clonados, [...] o DNA
é injetado diretamente no músculo do indivíduo ou animal. Após a vacinação do
antígeno de interesse, as células musculares passam a expressá-lo, desencadeando
resposta imunológica desejada.
Referências
ALLEN JR., L. V. Introdução à farmácia de Remington. Porto Alegre: Artmed, 2016.
ALLEN JR., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas farmacêuticas e sistemas de
liberação de fármacos. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
CÂMARA, B. Terapia com anticorpos monoclonais. 2014. Disponível em: https://www.
biomedicinapadrao.com.br/2014/05/terapia-com-anticorpos-monoclonais.html. Acesso
em: 27 ago. 2020.
COSTA, A. S. da. Aplicação dos anticorpos monoclonais na biotecnologia. 2019. Tra-
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https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/prefix/13642/1/21302810.pdf. Acesso
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lância, regulamentação e mercado no Brasil. 2019. Disponível em: http://www.revista.
oswaldocruz.br/Content/pdf/Edicao_19_Veridiana_Oliveira.pdf. Acesso em: 27 ago. 2020.
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