Você está na página 1de 9

www.bjns.com.

br

DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

Prescrição farmacêutica de tor de fitoterapia no Centro Integrado de Saúde


medicamentos fitoterápicos (CIS), dentro do Campus Centro da Universidade
Anhembi Morumbi. Concluímos que apenas 20%
Paola Alvares Marques1;
da população atendida retornou para suas consul-
Marina Maki Moriya2;
tas de acompanhamento. Os dados obtidos mos-
Thainá Aparecida Simão3;
tram que a população não possui conhecimento
Gabriel Dias4;
sobre esta atribuição do farmacêutico, fato que se
Valéria Maria de Souza Antunes5;
fosse exposto, poderia ajudar a população como
Carlos de Oliveira Rocha6
um todo, uma vez que o farmacêutico faz parte
1
Discente da Universidade Anhembi Morumbi do sistema de saúde e é o profissional detentor do
2
Discente da Universidade Anhembi Morumbi conhecimento sobre interações medicamentosas
3
Discente da Universidade Anhembi Morumbi e toxicológicas, entre outras.
4
Discente da Universidade Anhembi Morumbi
5
Docente da Universidade Anhembi Morumbi.
6
Docente da Universidade Anhembi Morumbi.
Palavras-chave: Prescrição Farmacêutica. Fitote-
rapia. Medicamentos.
Recebido em novembro de 2018.
Aceito em janeiro de 2019.
Descrição e importância da fitoterapia na
prática terapêutica
Resumo
Os fitoterápicos, sejam eles com finalidades profi-
A prescrição de fitoterápicos por farmacêuticos láticas, curativas, paliativas ou para diagnósticos, são
é uma área recente e ainda em desenvolvimento reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde
e, mesmo sendo a terapia medicinal mais antiga desde 19781. Sempre foram um recurso muito valioso
do mundo, sempre foi prescrito por médicos. Sa- e muito procurado pelo homem que buscou na na-
be-se muito pouco sobre suas interações medica- tureza fontes para melhorar a sua qualidade de vida.
mentosas e alimentares e sobre suas toxicidades, A evolução do conhecimento sobre os fitoterápicos e
já que são compostos de extrema complexidade. suas moléculas fez com que a própria medicina tradi-
Os medicamentos vegetais, que em tempos não cional evoluísse, pois, novas moléculas foram criadas
muito distantes eram uma forma de medicina baseando-se nas moléculas oriundas das plantas².
empírica, tornaram-se hoje um grande mercado e De acordo com Ministério da Saúde, fitoterapia
cada vez mais se investe em pesquisas ao redor do é “uma terapêutica caracterizada pela utilização de
mundo em busca de novas moléculas advindas da plantas medicinais em suas diferentes formas farma-
natureza. Este trabalho visa analisar a questão da cêuticas, sem a utilização de substâncias ativas iso-
prescrição farmacêutica de fitoterápicos ser mais ladas, ainda que de origem vegetal, cuja abordagem
utilizada pela população, visto que é uma possi- incentiva o desenvolvimento comunitário, a solida-
bilidade acessível e que, aparentemente, é desco- riedade e a participação social”³. Equivocadamen-
nhecida pela população, que não está habituada a te, muitas pessoas chamam a fitoterapia de “terapia
consultas com o farmacêutico prescritor. Foram alternativa” ou de “medicina de pobre”. Essa terapia
estudados 107 prontuários preenchidos durante é um dos métodos mais antigos e ricos já utilizados
as consultas realizadas com os alunos de gradua- pela medicina natural. A fitoterapia é muito mais do
ção e pós-graduação do curso de Farmácia, acom- que preparar um chá, significa a riqueza da cultura
panhados de um professor farmacêutico prescri- milenar, sabedoria, conhecimento acumulado e par-

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 1
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019
DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

tilhado entre gerações. No Brasil, a medicina popular para estabelecer diferenças entre os benefícios que a
é um reflexo das uniões étnicas de todos os povos que fitoterapia pode oferecer e mitos que foram se dese-
aqui habitavam, como os índios e os imigrantes, que nhando ao longo dos anos.
disseminaram seu conhecimento sobre as plantas lo-
cais ou trazidas para cá e seus usos, passando esses Uso racional de fitoterápicos
conhecimentos de geração em geração4, 5.
Ao longo dos anos, inúmeros foram os avanços Segundo Simões7, em estudos fotoquímicos que
científicos na área da fitoterapia. Hoje sabemos que abrangem a utilização de vegetais, é comum observar
os processos vitais de biossíntese são os responsáveis que existe o pensamento de que plantas medicinais de
pela formação, acúmulo e degradação de inúmeras uso tradicional já foram testadas e aprovadas, acarre-
substâncias orgânicas no interior das células que for- tando assim o uso inadequado e abusivo, principal-
mam os diversos tecidos dos organismos animais e mente pela população de baixa renda que acredita na
plantas. Das plantas são extraídos diversos ativos e autossugestão e na esperança de cura, não cogitando
grande parte deles são responsáveis pela aplicabili- que as plantas medicinais que podem aliviar sinto-
dade na alimentação e na saúde, o que pode ser um mas, também podem induzir o paciente a desconside-
estímulo ao desenvolvimento do conhecimento de rar sinais importantes, mascarar sintomas e retardar o
muitas plantas dentro do âmbito da química orgânica atendimento médico, podendo levar então à patolo-
e suas estruturas, que nós fornece compostos que são gias graves. Corre o risco de consequências às vezes
extremamente diversificados6 . irremediáveis, visto que a adesão para um tratamento
Trata-se da fitoquímica, cuja função é conhecer e com um medicamento fitoterápico está arraigada ao
identificar os constituintes químicos das plantas e ou paradigma, “se é natural não faz mal”, estabelecido
o grupo de metabólitos secundários que se tornam por falta de informação ou pelo conhecimento popu-
relevantes7. Já a pesquisa científica com plantas medi- lar, trazido através do tempo e contribuindo para o
cinais envolve inúmeros aspectos, o que permite aos uso indiscriminado11.
pesquisadores conhecimentos amplos e que incluem, A hipersensibilidade talvez seja um dos efeitos co-
desde misticismo de muitas seitas e práticas de saú- laterais mais apresentados. Causados, normalmente,
de que utilizam das plantas medicinais, até o estudo pelo uso irracional de plantas medicinais, seus efei-
detalhado de uma espécie vegetal8. Ao buscar obter tos podem variar de uma dermatite temporária até
substâncias ativas de plantas, o principal aspecto re- um choque anafilático12. Para a segurança do usuário,
levante consiste em buscar informações na medicina 2000 Produtos Fitoterápicos foram classificados pelo
popular. Hoje em dia, é sabido que é muito mais pro- Ministério da Saúde como Medicamentos Fitoterá-
vável encontrar atividade biológica em plantas de uso picos e passaram a ter uma legislação específica. A
na medicina popular, do que em plantas escolhidas ao Anvisa passou a fiscalizar sua procedência, eficácia e
acaso9. segurança no uso da classe destes medicamentos13. A
A fitoterapia pode ser considerada parte integral Política Nacional de Medicina Tradicional e a Regula-
da terapêutica desde o início dos tempos até os dias mentação de Medicamentos Fitoterápicos criada em
atuais; sua integração na terapêutica não vem apenas 2006 discute a respeito das políticas da medicina tra-
de base histórica, mas também deriva da parte quími- dicional fitoterápica. O Brasil inclui-se a esta política
ca, radicada na estrutura dos princípios ativos. Gran- porque possui a maior diversidade genética vegetal do
de parte dos fármacos empregados atualmente deri- mundo, com cerca de 55.000 espécies catalogadas de
vam direta ou indiretamente de princípios ativos que um total estimado entre 350.000 e 550.000 espécies14.
inicialmente foram isolados de plantas. Muitos desses O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Far-
princípios ativos isolados exercem ações farmacoló- macológicas (SINITOX) registrou a ocorrência de
gicas potentes e produzem efeitos rápidos10. Sendo 8.501 casos de intoxicação por plantas no Brasil no
assim, estudos de plantas e sua aplicação clínica para período de 2004 a 2008. Desses registros, 12,4% es-
fins terapêuticos são de fundamental importância tavam relacionadas a circunstâncias intencionais em

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 2
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019
DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

que o usuário buscava propriedades farmacológicas ficação de efeitos adversos oriundos de contaminação
de plantas15. A farmacovigilância de plantas medici- por agrotóxicos, metais pesados e microrganismos18.
nais e fitoterápicos têm se tornado uma preocupação Muitas vezes, a planta é popularmente considerada
emergente. Poderia avaliar os benefícios e riscos dos terapêuticas, porém, frequentemente, possui proprie-
produtos, assegurando a qualidade, segurança e efi- dades tóxicas desconhecidas pela população.
cácia compatíveis com seu uso racional16. O fato é No caso do Brasil, as maiores classes de medica-
que os erros de identificação de espécies de plantas mentos fitoterápicos utilizados são psicolépticos (se-
e uso off-label da forma tradicional, podem ser peri- dativos, ansiolíticos e antidepressivos), antivaricosos
gosos, levando a superdose, inefetividade terapêutica e anti-hemorroidários, auxiliares digestivos e hepáti-
e reações adversas17. Além disso, estudar a classe de cos, antiespasmódicos, tônicos, laxantes, desconges-
medicamentos auxilia na contenção de adulterações tionantes, anti gripais e para circulação cerebral19.
propositais e não declaradas. Pode auxiliar na identi-

Tabela 1: Exemplos de fitoterápicos das classes mais utilizadas.

Classes de medicamentos Fitoterápicos


Lantana alba (Erva-cidreira), Citrus aurantifolia (Laranja-amarga), Matrica-
Psicolépticos
ria recutita (Camomila), Passiflora incarnata (Maracujá).
Antigripais Salix alba (Salgueiro) e Allium sativum (Alho).
Achillea millefolium (Mil folhas), Achyrocline candicans (Macela, ,Marcela e
Antiespasmódicos
marcela-do-campo) e Cinnamomum verum (Canela e canela-do-ceilão).
Hamamelis virginiana (Hamamélis) e Polygonum punctatum (Erva-de-bicho e
Anti- hemorroidários
pimenteira-d’água).
Antidispépticos (auxiliares Cynara scolymus (Alcachofra), Baccharis trimera (Carqueja e carqueja-amar-
digestivos) ga) e Casearia sylvestris (Guaçatonga, erva-de-bugre e erva-de-lagarto).

Fonte: os autores.
Estima-se que o mercado econômico dos fitoterá- mento fitoterápico em si, distribuídos nas farmácias.
picos movimenta cerca de 22 bilhões de dólares por Somente com trabalho e pesquisas é que este mercado
ano. O mercado nacional é composto por 119 empre- se ampliará de forma correta, segura e confiável.
sas que possuem registro junto à ANVISA. Este mer- Recomenda-se que medicações extraídas de plan-
cado registrado movimenta, aproximadamente, 1,8 tas medicinais devam ser prescritas por profissionais
milhões de reais ao ano20. de saúde. No entanto, o desconhecimento destes
profissionais sobre plantas medicinais, suas intera-
Prescrição de fitoterápicos e profissionais ções com medicamentos alopáticos e sua toxicidade
atuantes tornam-se fatores preocupantes quando se fala de au-
tomedicação dos pacientes21. De acordo com o Rela-
Trabalhar com plantas medicinais é um trabalho tório do Seminário Internacional das Práticas Integra-
multiprofissional. Abrange as mais variadas áreas do tivas e Complementares em Saúde, além de médicos
conhecimento, desde os aspectos botânicos aos fito- e farmacêuticos, outros profissionais da área de saúde
químicos. Para que todo esse trabalho seja bem exe- podem prescrever Fitoterápicos22. Os resultados mos-
cutado, são necessários especialistas para cada uma tram o crescimento do uso de métodos alternativos
das etapas. Desde o plantio a qualidade do solo, se- pelos enfermeiros23. Em contrapartida, o profissional
mente, mudas e água para irrigação, até o medica- que menos prescreve fitoterápicos é o odontólogo24.

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 3
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019
DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

Gráfico 1: Profissionais que utilizam fitoterapia. 2011. Este documento oficializa e padroniza informa-
ções. Possui 47 monografias de vegetais para infusos
e decoctos, 17 tinturas, um xarope, cinco géis, cinco
pomadas, um sabonete, dois cremes, quatro bases far-
macêuticas e uma solução conservante. Estão regis-
tradas informações sobre a forma correta de preparo
e suas indicações, além de restrições de uso de cada
espécie, tendo como requisito a qualidade definida
nas normas específicas para farmácia de manipulação
e farmácias vivas. Conjuntamente foram feitos estu-
dos científicos de todas as formulações incluídas no
Formulário e a utilização das mesmas nos serviços de
Fonte: Ministério da Saúde, 2015.25 fitoterapia no país. Este Formulário contribui de for-
ma significativa para ampliar a atuação farmacêutica
Os profissionais sentem-se inseguros no uso da na prescrição de fitoterápicos, pois o documento dá
fitoterapia mesmo com o reconhecimento pelos Con- certeza e confiabilidade nas informações prestadas29.
selhos de Medicina, Enfermagem e Farmácia26. Com Para regulamentar as atribuições farmacêuticas
exceção dos profissionais farmacêuticos, os outros foram criadas as RDC’S n° 585, de 29 de agosto de
profissionais citados não tiveram formação durante a 2013 e nº 586, de 29 de agosto de 2013 pelo Conse-
graduação sobre o tema fitoterapia, esclarecendo as- lho Federal de Farmácia (CFF)30,31, sendo que a RDC
sim, a falta de conhecimentos científicos e práticos24. nº 586/13 fala sobre as especificações para a prescri-
Desta forma, os Conselhos Regionais de Medicina, ção. Os medicamentos fitoterápicos prescritos por
Enfermagem e Farmácia, aceitam como prescritores farmacêutico são limitados, uma vez que alguns
somente profissionais com pós-graduação na área. Os somente podem ser prescritos por médicos. Essas
farmacêuticos, mesmo com a disciplina em sua grade medidas foram tomadas para que, além da valorização
curricular, devem fazer a pós-graduação e, somente do profissional, a população obtenha a prescrição
depois, iniciar as atividades na prescrição. farmacêutica de medicamentos fitoterápicos como
Importância do farmacêutico na fitoterapia primeira opção, com prescritor habilitado e que
O farmacêutico é o elo entre o conhecimento po- saberá ajudá-la nas questões de performance da planta
pular e a ciência, prestando assistência e passando as medicinal e da melhor forma de utilizá-la. Embora os
informações sobre o uso racional de medicamentos, medicamentos fitoterápicos abaixo (Tabela 2) sejam
sobre as interações entre medicamentos, fitoterápi- isentos de prescrição médica, não significa que seja
cos e alimentos. É papel deste profissional apresentar livres de orientação, o que comprova a importância
seu conhecimento sobre as plantas, drogas vegetais e do conhecimento do profissional farmacêutico.
drogas27. A utilização desta prática é parte essencial Para que os cursos de Farmácia seguissem
no trabalho do farmacêutico, já que a Organização um padrão brasileiro quanto ao ensino, foram cria-
Mundial da Saúde ressalta que 80% da população das as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de
mundial necessita das práticas tradicionais no que se Farmácia. A Resolução em vigor é a de nº 06 de 2017
refere à atenção primária à saúde e que 67% das es- que revogou a nº 02 de 2002. Ambas contemplam as
pécies vegetais medicinais do mundo são procedentes competências e habilidades que cabem ao profissio-
de países em desenvolvimento28. Com isso, as plantas nal farmacêutico terem durante a graduação e depois
medicinais se tornaram importantes características dela, mas as afirmações feita na resolução anterior ve-
da Assistência Farmacêutica e, como suporte para tal tam qualquer adjetivação que possa dar a conotação
atividade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária de habilitações específicas para o curso, o que muda
(ANVISA) publicou a primeira edição de um Formu- o cenário do profissional33,34. Desta forma, a legislação
lário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira em torna o farmacêutico um profissional sem habilita-

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 4
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019
DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

ção específica para que possa para atuar em todas as difica a condição do curso de Farmácia para que este
frentes farmacêuticas. O ensino se divide em porcen- forme profissionais da saúde que possam interagir
tagens de carga para cada área de conhecimento e não com outros profissionais da saúde em prol da saúde
aprimora o profissional em nenhuma. A Resolução pública.
em vigor é a de nº 06 de 2017 que, no entanto, mo-

Tabela 2: Medicamentos e produtos fitoterápicos isentos de prescrição médica com indicações e respectivas
restrições de uso.

Medicamentos e produtos
Indicações Restrições
fitoterápicos
Aesculus hippocastanum (Casta-
Insuficiência venosa. -
nha da índia)
Hiperlipidemia e hipertensão
Allium sativum (Alho) -
arterial leve a moderada.
Centella asiatica (Centela/ Cen- Insuficiência venosa dos
-
tela-asiática) membros inferiores.
Antidispéptico, antiflatulento,
Cynara scolymus (Alcachofra) -
diurético.
Glycine max (Soja) Sintomas do climatério. -
Não recomendado uso contínuo por
Glycyrrhiza glabra (Alcaçuz) Úlceras gástricas e duodenais. mais de seis semanas, sem acompanha-
mento médico.
Expectorante, carminativo e
Mentha x piperita (Hortelã-pi- Venda livre para ação expectorante,
antiespasmódico e síndrome
menta) carminativo e antiespasmódico.
do cólon irritável.
Estado de fadiga física e men-
Panax ginseng (Ginseng) Utilizar por no máximo três meses.
tal, adaptógeno.
Paullinia cupana (Guaraná) Psicoestimulante e astenia. -
Expectorante, antiespasmódi-
Pimpinella anisum (Erva-doce/
co, carminativo e dispepsias -
Anis)
funcionais.
Obstipação intestinal e sín- Venda livre como coadjuvante nos
Plantago ovata (Plantago)
drome do cólon irritável casos de obstipação intestinal.
Polygala senega (Polígala) Bronquite crônica, faringite. -
Frangula purshiana (Cáscara Não recomendado uso contínuo por
Constipação ocasional.
Sagrada) mais de uma semana.
Antitérmico, anti-inflamató-
Salix alba (Salgueiro Branco) -
rio e analgésico.

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 5
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019
DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

Senna alexandrina (Sene) Laxativo. -


Insuficiência venosa perifé-
Vaccinium myrtillus (Mirtilo) -
rica.
Náuseas causadas por movi-
Zingiber officinale Roscoe (Gen-
mento (cinetose) e pós-cirúr- -
gibre)
gicas.
Equimoses, hematomas e
Arnica montana (Arnica) Não usar em ferimentos abertos.
contusões.
Calendula officinalis (Calêndu- Cicatrizante, anti-inflamató-
-
la) rio.
Antisséptico das vias aéreas
Eucalyptus globulus (Eucalipto) -
superiores e expectorante.
Hamamelis virginiana (Ha- Antihemorroidal e equimo-
-
mamélis) ses.
Harpagophytum procumbens Dores articulares moderadas
-
(Garra do diabo) e dor lombar baixa aguda.
Antiespasmódico intestinal,
Matricaria recutita (Camomila) -
dispepsias funcionais.
Maytenus ilicifolia (Espinheira- Dispepsias, gastrite e úlcera
-
santa) gastroduodenal.
Melissa officinalis (Melissa/ Carminativo, antiespasmódi-
-
Erva Cidreira) co e ansiolítico leve.
Expectorante e broncodilata-
Mikania glomerata (Guaco) -
dor.
Passiflora edulis (Maracujá) Ansiolítico leve.
Dispepsias funcionais e
Peumus boldus Molina (Boldo/
distúrbios gastrointestinais -
Boldo-do-Chile)
espásticos.
Sambucus nigra (Sabugueiro) Mucolítico/expectorante. -
Silybum marianum (Cardo
Hepatoprotetores -
mariano)
Cicatrizante, equimoses, he- Utilização por no máximo 4 a 6 sema-
Symphytum officinale (Confrei)
matomas e contusões. nas/ano. Não utilizar em lesões abertas.
Uncaria tomentosa (Unha de Não recomendado para gestantes, lac-
Anti-inflamatório.
gato) tantes e lactentes.

Fonte: ANVISA, 2014 (32)

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 6
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019
DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

Trabalho de Atenção Farmacêutica e participaram do projeto com alunos da graduação a


Prescrição de Fitoterápicos no Centro partir março de 2017 até junho de 2018. Foram rea-
Integrado de Saúde da Universidade lizados 77 atendimentos, dentre eles haviam 51 mu-
Anhembi Morumbi lheres e 26 homens, com idades variando de 20 a 76
anos, em sua maioria, idosos encaminhados de fisio-
A instituição de ensino Universidade Anhembi terapia. Os dados da pós-graduação contemplam os
Morumbi (UAM) faz parte da Rede Laureate de Uni- atendimentos feitos entre as datas de março de 2017
versidades, tem experiência de 15 anos no ensino far- até junho de 2017. Foram atendidos 30 pacientes que
macêutico com reconhecimento no MEC35. Em 2017 buscaram diretamente o serviço de Atenção Farma-
foi desenvolvido um projeto de atenção farmacêutica cêutica, em sua maioria, mulheres em média 60 anos,
para os alunos de graduação do curso de Farmácia no com queixas de estresse e já vinham com o diagnósti-
Centro Integrado de Saúde (CIS). Este centro, inaugu- co de hipertensão.
rado em 2010, localiza-se no Campus Mooca-Centro, As taxas de retorno para o acompanhamento do
dispõe de 47 consultórios de atendimento, dois giná- tratamento foram de 13% na graduação e 40% na
sios de fisioterapia e uma piscina36. De acordo com o pós-graduação. Na somatória dos atendimentos, ob-
portal da UAM o CIS foi considerado um dos mais tivemos o total de 20%. Esse número mostra a desin-
amplos e completos centros de atendimento clínico da formação da possibilidade do atendimento e é um
cidade de São Paulo, por oferecer atendimento, com reflexo da desinformação da população em relação
valores diferenciados ou até mesmo gratuitos, tanto ao papel do farmacêutico como um auxiliar no trata-
para alunos e colaboradores quanto para a comunida- mento farmacológico.
de da região, além de oferecer consultas em dez áreas Com o intuito da mudança deste conceito, em
diferentes, sendo elas Educação Física, Enfermagem, 2014 foi estabelecido a Lei nº 13.021 onde farmácia se
Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Naturologia, Nutri- torna estabelecimento de saúde e o farmacêutico co-
ção, Podologia, Psicologia e Quiropraxia37. meça a ser reconhecido como um profissional de saú-
O projeto aplicou-se também aos alunos de pós- de39. O ministério da Educação estabeleceu nas DCNs
graduação em Farmácia Clínica, Prescrição Farma- de Farmácia de 2017 que o eixo de cuidados em saúde
cêutica em Fitoterapia e Produtos Naturais. Realiza-se devem ser 50% da carga horária total durante todo o
uma anamnese que, segundo Santos, Veiga e Andra- curso, este eixo engloba a realização de atividades de
de38 é a primeira fase de um processo, na qual a coleta promoção, proteção e recuperação da saúde, além da
de dados permite ao profissional de saúde identificar prevenção de doenças, e que possibilite às pessoas vi-
problemas, determinar diagnósticos, planejar e im- verem melhor34.
plementar a sua assistência. Neste documento, são co-
letados dados básicos como idade, peso e altura além Conclusão
de informações para o tratamento farmacoterapêuti-
co. Registrado os dados no prontuário do paciente, os A fitoterapia é uma área muito vasta, rica,
alunos são orientados a pesquisar qual o tratamento onde as pesquisas são escassas, apesar do grande nú-
recomendado, de acordo com a necessidade individu- mero de adeptos, consumidores que fazem uso da
al para cada tratamento. Foram analisados Problemas tradicionalidade medicamentosa, sem os questiona-
Relacionados a Medicamentos (PRM’s), dificuldades mentos científicos necessários sobre toxicidade, inte-
com o tratamento, meios de otimizar o tratamento rações medicamentosas e alimentares. Para isto se faz
com indicações não medicamentosas e o uso de me- necessário o apoio complementar das pesquisas, uma
dicinas alternativas e fitoterapia. Todo esse estudo é vez que nossas riquezas ambientais na Amazônia são
acompanhado pelo professor orientador do projeto, pouco conhecidas pelos pesquisadores nacionais. A
dando assim um prazo de retorno ao paciente para Farmacognosia, ciência que estuda parte da farmaco-
que ele receba as recomendações necessárias. logia que trata das drogas ou substâncias medicinais
Tivemos acesso aos prontuários dos pacientes que em seu estado natural, antes de serem manipuladas é

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 7
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019
DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

uma disciplina exclusiva do curso de Farmácia e po- to Plantarum de Estudos da Flora, 2002.
deria gerar um campo amplo de cuidados farmacêu- 5. Lorenzi H, Matos FJ. Plantas medicinais do
ticos e prescrições farmacêuticas, que incluiriam os Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa: Insti-
cuidados dermatológicos, dentre vários outros. Cabe- tuto Plantarum de Estudos da Flora, 2008.
ria aos conselhos de classe e ao governo a divulgação 6. Santos EM. Florística etnobotânica e tipagem
desta atividade profissional. fitoquímica de espécies medicinais de uso popular
A população desconhece o papel do farma- nos cerrados dos municípios de Caxias e Timon,
cêutico enquanto prescritor e seus serviços como um Maranhão. Seminário de Iniciação Científica da
profissional apto a atenção ao paciente, para situações UEMA 2002. 7. Simões, CMO. Farmacognosia: da
onde não haja necessidade de cuidados médicos. Os planta ao medicamento. 3 eds. Porto Alegre: Ed. da
conselhos Federal e Regionais de Farmácia têm um UFSC, 2001.
papel importante em mudar esse cenário, dissemi- 8. Di stasi LC. Plantas medicinais: arte e ciência
nando informações quanto ao trabalho farmacêutico - Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo:
e o quanto ele é benéfico, além da criação de resolu- UNESP, 1996.
ções para regulamentação e ampliação das atividades 9. Yunes RA, Calixto JB. Plantas medicinais sob
profissionais. Cabe, também, ao Ministério da Saúde a ótica da moderna química medicinal. Chapecó:
a divulgação através de campanhas para que o pro- Argos, 2001.
fissional Farmacêutico possa desenvolver seu aten- 10. Vanaclocha BV, Folcará SC. Fitoterapia: vade-
dimento à população, muitas vezes desafogando os mécum de prescripción. 4. ed. Barcelona: Masson,
pronto-socorros com cuidados básicos. As universi- 2003.
dades devem preparar seus alunos para este tipo de 11. Rossato MB, Budó MLD, Alvim NAT, Zanet-
atendimento, qualificando-os para realizar na prática ti GD, Heisler EV. Saberes e práticas populares de
o que é visto em sala de aula, através dos atendimen- cuidado em saúde com o uso de plantas medicinais.
tos monitorados por professores especialistas. Desta Texto Contexto Enferm, 2012 Abr-Jun; 21(2): 363-
forma, com mais consciência e aptidão, o profissional 370.
farmacêutico poderá se tornar, efetivamente, o pres- 12. Cunha AP. Plantas e produtos vegetais em
tador de serviços que procura promover, recuperar e cosmética e dermatologia. Lisboa: Fundação Calous-
proteger a saúde de um indivíduo ou de uma comuni- te Gulbenkian, 2004. 310 p.
dade. 13. Alonso, JR. Fitomedicina: curso para profis-
sionais da área da saúde. São Paulo: Pharmabooks,
Referências 2008.
14. Ministério da Saúde (Brasil). Política nacional
1. Organização Mundial de Saúde (OMS). Cuida- de plantas medicinais e fitoterápicos. Brasília: Mi-
dos primários de saúde. Brasília, 1978. nistério da Saúde, 2006.
2. Organização das nações unidas para a educação, 15. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Far-
a ciência e a cultura (UNESCO). Culture and Health: macológicas. Instituto de comunicação e informação
Orientation Texts: World Decade for Cultural Devel- científica e tecnológica em saúde, Fundação Oswal-
opment 1988-1997, Document CLT/DEC/PRO. Paris, do Cruz. Estatística anual de casos de intoxicação e
1996. envenenamento. Disponível em: <www.sinitox.icict.
3. Ministério da Saúde. Portaria nº. 971, de 03 de fiocruz.br>.
maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas 16. Silveira PF, Bandeira MAM, Arrais P.S.D. Far-
Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema macovigilância e reações adversas às plantas medi-
Único de Saúde. D.O.U. Diário Oficial da União, Po- cinais e fitoterápicos: uma realidade. Rev. Bras. Far-
der Executivo, Brasília, 04 mai. 2006. macogn. João Pessoa, 2008.
4. Lorenzi H, Matos FJ. Plantas medicinais no 17. World Health Organization. The importance
Brasil: nativas e exóticas. 1 ed. Nova Odessa: Institu- of pharmacovigilance safety monitoring of medici-

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 8
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019
DOI: https://doi.org/10.31415/bjns.v2i1.47 Brazilian Journal of Natural Sciences

nal products. Geneva. 2002. fito, 2010.2


18. World Health Organization. Guidelines on 8. Alonso, JR. Tratado de fitomedicina: bases clí-
safety monitoring of herbal medicines in pharma- nicas y farmacológicas. Buenos Aires: Isis, 1998.
covigilance systems. Geneva. 2004. 29. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Bra-
19. Valenze FH, Brenzan MA. Perfil de utiliza- sil). Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia
ção de medicamentos fitoterápicos pela população Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitá-
do município de Boa Esperança PR. Rev. SaBios, ria. Brasília: Anvisa, 2011. 126p.
2011;6(1): 17-24. 30. Conselho Federal de Farmácia (Brasil). Reso-
20. Zuanazzi JAS, Mayorga P. Fitoprodutos e de- lução RDC nº 585 de 29 de agosto de 2013. Dispõe
senvolvimento econômico. Quím. Nova 2010;33(6): sobre as atribuições clínicas do farmacêutico, 2013.
1421-1428. 31. Conselho Federal de Farmácia (Brasil). Reso-
21. Silva MAB, Melo LVL, Ribeiro RV, Souza JPM, lução RDC nº 586 de 29 de agosto de 2013. Regula-
Lima JCS, Martins DTO et al. Levantamento etnobo- menta a prescrição farmacêutica, 2013.
tânico de plantas utilizadas como anti-hiperlipidêmi- 32. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Bra-
cas e anorexígenas pela população de Nova Xavantina sil) Instrução Normativa nº 02, de 13 de maio de 2014.
-MT, Brasil. Rev. Bras. Farmacogn, 2010. Publica a “Lista de medicamentos fitoterápicos de
22. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Aten- registro simplificado” e a “Lista de produtos tradi-
ção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Re- cionais fitoterápicos de registro simplificado”, 2014.
latório do 1º seminário internacional de práticas 33. Conselho Nacional de Educação. Resolução
integrativas e complementares em saúde – PNPIC CNE/CES 2/2002. Diário Oficial da União, Brasília,
/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, 04 de março de 2002. Seção 1, p. 9.
Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Minis- 34. Ministério da Educação (Brasil). Resolução
tério da Saúde, 2009. 196 p. CNE/CES 6/2017. Diário Oficial da União, Brasília,
23. Alves AR, Silva MJP. O uso da fitoterapia no 20 de outubro de 2017, Seção 1, p. 30.
cuidado de crianças com até cinco anos em área 35. Portal Anhembi Morumbi. Farmácia: sobre o
central e periférica da cidade de São Paulo. Rev. Esc. curso.
Enferm. USP 2003; 37(4):85-91. 36. Portal Anhembi Morumbi. Centro Integrado
24. Menezes VA, Anjos AGP, Pereira MR, Leite AF, de Saúde (CIS).
Granville-Garcia AF. Terapêutica com plantas medi- 37. Portal Anhembi Morumbi. Centro Integrado
cinais: percepção de profissionais da estratégia de de Saúde (CIS).
saúde da família de um município do agreste per- 38. Santos N, Veiga P, Andrade R. Importância
nambucano. Odonto 2012; 20(39): 111-122. da anamnese e do exame físico para o cuidado do
25. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Aten- enfermeiro.Rev Bras Enferm, 2011 Mar-Abr; 64(2):
ção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Práti- 355-358.
cas integrativas e complementares: plantas medici- 39. Brasil. Lei nº 13.021, de 08 de agosto de 2014.
nais e fitoterapia na Atenção Básica/Ministério da Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das ativi-
Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamen- dades farmacêuticas. Diário Oficial da União 11 de
to de Atenção Básica. Brasília : Ministério da Saúde, agosto de 2014.
2015.
26. Machado DC, Czermainski SBC, Lopes EC.
Percepções de coordenadores de unidades de saú-
de sobre a fitoterapia e outras práticas integrati-
vas e complementares. Saúde em Debate 2012 out-
dez;36(95):615-623.
27. Panizza ST. Como prescrever ou recomendar
plantas medicinais e fitoterápicos. São Luiz: Conbra-

Versão Online ISSN 2595 - 0584


Página 9
Edição nº 2 - vol. 1 - Fevereiro 2019

Você também pode gostar