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Fitoterapia e fitoterápicos

Apresentação
Você utiliza ou já utilizou plantas medicinais? Provavelmente, a sua resposta seja sim. O dia a dia
das pessoas está repleto de espécies vegetais com propriedades medicinais, e, em alguns lugares,
elas são os únicos recursos terapêuticos disponíveis para a população. Muitas vezes, porém, as
plantas medicinais não são utilizadas da maneira correta. Ao mesmo tempo, vários profissionais de
saúde desconhecem o seu potencial no tratamento de inúmeras de doenças e não estão aptos a
orientar seus pacientes em relações ao uso desses produtos.

Por esses motivos, políticas públicas de incentivo à fitoterapia, ou seja, à utilização terapêutica de
plantas medicinais e fitoterápicos, têm sido implementadas em todo o mundo, inclusive no Brasil.
No País, algumas ações já foram conduzidas pelo Ministério da Saúde para a promoção do uso
racional e seguro desses produtos, mas ainda há muito o que fazer. Assim, é fundamental que os
profissionais de saúde construam um conhecimento sólido sobre a aplicação da fitoterapia.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá sobre o papel dessa prática terapêutica na promoção
da saúde e do bem-estar da população, incluindo conceitos e políticas públicas aplicáveis, além de
identificar todo o potencial das plantas medicinais e dos fitoterápicos no tratamento de várias
doenças e condições de saúde.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Explicar a utilização de fitoterápicos como recurso terapêutico de interesse à saúde pública.


• Conceituar fitoterápicos, fitofármacos, marcadores fitoquímicos e marcadores farmacológicos
obtidos de plantas.
• Descrever o emprego da fitoterapia no tratamento de doenças.
Desafio
Plantas medicinais podem ser utilizadas simplesmente como alimentos ou como recurso
terapêutico. Em ambos os casos, é necessário que os profissionais de saúde, destacando-se o
farmacêutico, avaliem o impacto que o consumo dessas plantas tem na farmacoterapia e na saúde
dos pacientes.

Considerando esse contexto, imagine que você seja responsável pela avaliação da farmacoterapia
da paciente com o quadro descrito a seguir:

Diante das informações apresentadas, elabore um plano de cuidado para a paciente e justifique as
decisões tomadas, abordando possíveis problemas na utilização de plantas medicinais e
fitoterápicos relatados, incluindo ausência de indicação ou efetividade, efeitos adversos e
interações medicamentosas. Além disso, sugira outras plantas medicinais e fitoterápicos que
poderiam ser indicados para o caso.
Infográfico
Uma das ações mais importantes resultante da implementação da Política e do Programa Nacional
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi a inclusão de fitoterápicos na Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais (RENAME). Essa medida promove o aumento do acesso dos pacientes
aos fitoterápicos, já que os medicamentos incluídos na lista podem ser distribuídos gratuitamente
pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Veja, no Infográfico, os fitoterápicos que estão presentes na RENAME.


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Conteúdo do livro
A fitoterapia é a prática terapêutica que utiliza plantas medicinais e fitoterápicos. Esses produtos
apresentam composição química complexa, sendo constituídos de várias substâncias que podem
agir de forma sinérgica e que, em geral, são bem toleradas pelo organismo humano, apresentando
poucos efeitos adversos. Profissionais que atuam nessa área devem, portanto, considerar todos
esses aspectos no cuidado aos seus pacientes e construir um conhecimento sólido sobre as
aplicações da fitoterapia.

No capítulo Fitoterapia e fitoterápicos, da obra Farmacognosia aplicada, você compreenderá a


importância da fitoterapia na saúde pública e os principais conceitos que permeiam essa prática.
Ainda, conhecerá exemplos de aplicações de plantas medicinais e fitoterápicos no tratamento de
algumas doenças.

Boa leitura.
FARMACOGNOSIA
APLICADA

Annaline Stiegert Cid


Fitoterapia e fitoterápicos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar a utilização de fitoterápicos como recurso terapêutico de


interesse à saúde pública.
„„ Conceituar fitoterápicos, fitofármacos, marcadores fitoquímicos e
marcadores farmacológicos obtidos de plantas.
„„ Descrever o emprego de fitoterapia no tratamento de doenças.

Introdução
A utilização de plantas medicinais no tratamento de enfermidades é tão
antiga quanto a humanidade. Existem evidências de que o ser humano
utiliza plantas para o tratamento de doenças desde a era paleolítica, na
pré-história. Relatos mais contundentes contendo descrições do uso
medicinal de espécies vegetais foram encontrados na Índia, na China e no
Egito, e estima-se que tenham sido elaborados a partir do ano 2500 a.C.
(SAAD et al., 2016).
Com o passar dos anos, o desenvolvimento da ciência, especialmente
da química orgânica, levou ao isolamento e, posteriormente, à síntese
de vários fármacos oriundos de plantas. Aos poucos o uso medicinal de
plantas medicinais foi assumindo um papel secundário. Elas passaram a
ser vistas, principalmente, como fonte de substâncias isoladas para serem
utilizadas na terapêutica. No entanto, nos últimos anos, pesquisadores
e especialistas têm indicado um retorno da fitoterapia como uma tera-
pêutica de importância fundamental para a promoção da saúde e do
bem-estar da população (SAAD et al., 2016; SIMÕES et al., 2017).
Neste capítulo, você vai entender porque a promoção do uso racional
e seguro de plantas medicinais tem ganhado destaque em todo o mundo,
inclusive no Brasil. Discutiremos a importância na fitoterapia para a saúde
pública, os conceitos mais importantes para entender o contexto dessa
terapêutica na atualidade e traremos exemplos de aplicações terapêuticas
de plantas medicinais e seus fitoterápicos.
2 Fitoterapia e fitoterápicos

1 Relevância da fitoterapia na saúde pública


As plantas medicinais representam, ainda hoje, os únicos recursos terapêu-
ticos de diversas comunidades, especialmente aquelas consideradas mais
pobres. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 85% da
população dos países em desenvolvimento depende da utilização de plantas
medicinais para suprir cuidados básicos de saúde. Além disso, mesmo em
países desenvolvidos, uma grande parcela da população utiliza a fitoterapia
para o tratamento de doenças. Considerando esses aspectos, discutidos na
Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde que aconteceu
em Alma-Ata, no Paquistão, em 1978, a OMS passou a recomendar que os
países membros incentivassem o uso racional de plantas medicinais e fitote-
rápicos, orientação acatada por muitos países, inclusive o Brasil (OMS, 1979;
SAAD et al., 2016; SIMÕES et al., 2017).
O nosso país é considerado megadiverso, o que significa que o território
brasileiro abriga uma infinidade de organismos vivos, que representam uma
parcela significativa de toda a biodiversidade mundial. Isso já seria motivo
suficiente para incentivar pesquisadores e especialistas a aproveitarem toda essa
riqueza natural para a promoção da saúde e do bem-estar da nossa população,
mas, além disso, o Brasil apresenta uma enorme diversidade cultural que, asso-
ciada a nossa biodiversidade, resultou em um rico conhecimento sobre o uso e
manejo das plantas medicinais, que tem enorme potencial para ser explorado.
Reconhecendo isso e seguindo as orientações da OMS, o Ministério da Saúde
lançou em 2006 a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos,
que tem como objetivo principal: “garantir à população brasileira o acesso
seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o
uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da
indústria nacional” (BRASIL, 2016a, documento on-line). A fim de cumprir
esse objetivo, dois anos depois da implementação da política nacional, foi
formulado o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que
reúne diversas ações visando à regulação e à disseminação do uso medicinal
de espécies vegetais e seus derivados (BRASIL, 2016a).
Fitoterapia e fitoterápicos 3

Tanto a política quanto o programa nacional reconhecem a necessidade de haver


ações de incentivo à pesquisa de plantas medicinais e fitoterápicos; capacitação
de profissionais de saúde; ampliação do acesso da população a esses produtos, de
forma segura e efetiva; e regulação de todas as etapas da cadeia produtiva de plantas
medicinais e fitoterápicos. Isso deve ser feito levando-se em conta o conhecimento
tradicional associado à fitoterapia no Brasil e ao uso sustentável na nossa biodiversi-
dade, promovendo, inclusive, a inclusão da agricultura familiar para cultivo de plantas
medicinais. Para tanto, o governo acredita que é necessário uma interação entre os
setores público e privado, universidades, institutos de pesquisa e organizações não
governamentais (KLEIN et al., 2009; BRASIL, 2016a).

Desde 2006, quando a política nacional foi implementada, várias ações já


foram conduzidas e têm contribuído para a ampliação da fitoterapia no país.
A partir de 2007 houve a inclusão de fitoterápicos no elenco de referência de
medicamentos e insumos complementares para a assistência farmacêutica na
atenção básica em saúde; atualmente, a Relação Nacional de Medicamentos
Essenciais (Rename) conta com 12 fitoterápicos, além das isoflavonas de
soja obtidas da espécie Glycine max. Os medicamentos da Rename podem
ser solicitados pelas prefeituras municipais para serem incluídos em suas
Relações Municipais de Medicamentos Essenciais (Renume). Nesse caso,
esses medicamentos podem ser distribuídos gratuitamente à população pelo
Sistema Único de Saúde (Sus).
Os fitoterápicos, em geral, têm um custo de produção menor do que medica-
mentos convencionais, porque sua obtenção não envolve etapas de isolamento
ou síntese. Sendo assim, é muito importante a inclusão desses produtos no
SUS, os quais podem atender um grande número de pessoas forma efetiva e
segura a um custo relativamente baixo (KLEIN et al., 2009; SIMÕES et al.,
2017; BRASIL, 2020).
O menor custo da produção de fitoterápicos também é um incentivo à
inovação e ao desenvolvimento das indústrias farmacêuticas nacionais, que,
em geral, limitam-se à produção de medicamentos genéricos e similares.
Dessa forma, o valor dos produtos repassados ao consumidor também deve
ser menor em comparação com medicamentos convencionais. Mesmo que o
tratamento não seja realizado pelo Sus, a fitoterapia, em geral, custa menos
para o paciente, até porque existe a opção de que ele cultive as plantas medi-
4 Fitoterapia e fitoterápicos

cinais em casa, o que, é claro, deve ser realizado com o acompanhamento de


um profissional habilitado (KLEIN et al., 2009).
A importância das plantas medicinais para a saúde pública não se limita a
uma redução de custos. Investigações dos efeitos terapêuticos e da segurança de
plantas medicinais e fitoterápicos mostram que eles podem ser muito úteis para
o tratamento de várias doenças. Destacam-se condições de saúde complexas
que envolvem diversas vias, uma vez que esses produtos apresentam diversas
substâncias em sua composição que podem agir sinergicamente de diferentes
formas e tratar o paciente de uma forma mais integral. Estudos mostram ainda
que algumas substâncias são inativas quando estão isoladas, mas, no extrato,
apresentam atividade porque os demais compostos presentes aumentam a
sua biodisponibilidade, estabilidade ou solubilidade. É muito comum em
pesquisas na área de produtos naturais que os extratos de plantas apresentem
efeitos mais interessantes do que as substâncias isoladas (SAAD et al., 2016).

Um exemplo de sinergismo é o caso da planta medicinal uva-ursina, ou uva-de-urso.


Seu principal componente ativo é a arbutina. Estudos científicos mostraram que o
extrato da planta mostrou maior eficácia do que a substância isolada, porque, segundo
alguns autores, o ácido gálico presente no extrato aumenta a biodisponibilidade da
arbutina (SAAD et al., 2016; EUROPEAN MEDICINES ANGENCY, 2018a).

Adicionalmente, estudos mostram que, em geral, fitoterápicos apresentam


menos efeitos adversos do que os medicamentos convencionais. Isso não quer
dizer que a crença popular de que plantas medicinais não fazem mal seja
verdade. Existem plantas muito tóxicas, assim como outras podem ter efeitos
adversos leves a moderados. Mas, quando comparadas a medicamentos con-
vencionais, a grande maioria das plantas medicinais e fitoterápicos apresenta
reações adversas mais leves e menos frequentes. Isso porque a maioria dos
princípios ativos presentes em plantas tem baixa toxicidade, além de estarem
presentes em quantidade relativamente pequenas nos extratos (SAAD et al.,
2016).
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Outro fato que deve ser considerado e que, muitas vezes, é esquecido tanto
pelos profissionais de saúde quanto pelos agentes públicos é o conhecimento
popular ou tradicional associado ao uso de plantas medicinais. A fitoterapia
representa uma parte da cultura de algumas comunidades e grupos, às vezes
repassada de geração em geração. Isso altera a percepção dessas pessoas em
relação à utilização de plantas medicinais e fitoterápicos quando comparados
a terapias convencionais. Uma grande parcela da população prefere utilizar
fitoterápicos, e essa preferência é relevante no contexto da saúde pública
(KLEIN et al., 2009; SAAD et al., 2016; BRASIL, 2014a).
É claro que, para que a gente possa oferecer plantas medicinais e fitote-
rápicos à população é necessário demonstrar a sua efetividade e segurança.
Esse é um grande problema no incentivo à fitoterapia, porque, a despeito do
seu enorme potencial, ainda precisamos estudar mais as plantas medicinais,
especialmente aquelas que são encontradas no Brasil.
Por esse motivo, o Ministério da Saúde elaborou em 2009 a Relação Nacio-
nal de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus).
Trata-se de uma lista de 71 espécies vegetais, nativas ou adaptadas no Brasil,
amplamente utilizadas pela população, que o Ministério da Saúde considerou
que têm potencial para gerar produtos para o Sus, mas que ainda necessitam
de mais estudos em relação a sua segurança, eficácia e/ou efetividade. O ob-
jetivo da elaboração dessa lista é auxiliar na condução de estudos que possam
embasar a elaboração de uma relação de plantas medicinais e fitoterápicos
seguros e eficazes para o uso da população (BRASIL, 2014b).
Essa é uma ação de extrema importância, porque a maioria das plantas
medicinais brasileiras, embora tenha um amplo uso pela população e, aparen-
temente, tenha grande potencial terapêutico, ainda não tem estudos suficientes
que embasem seu uso racional. Assim, o incentivo ao estudo dessas plantas
pode contribuir de forma relevante para a promoção do uso racional e seguro
de espécies vegetais nativas ou adaptadas ao nosso país.
6 Fitoterapia e fitoterápicos

Não basta apenas ter estudos que comprovem a segurança e efetividade das
plantas medicinais e fitoterápicos, é necessário que os profissionais de saúde
sejam capacitados para prescrever esses produtos assim como acompanhar e
manejar pacientes que os utilizam. Atualmente, é evidente o desconhecimento
da maioria dos profissionais a respeito do assunto. Observamos que, em geral,
quando esses profissionais se encontram em situações nas quais o paciente
faz uso ou quer utilizar esses produtos, acabam optando por ignorar essa
informação e/ou não oferecerem tais opções terapêuticas, o que pode gerar
prejuízos para o paciente (BRASIL, 2012; SAAD et al., 2016).
Ações do Ministério da Saúde que têm contribuído para a capacitação de
profissionais incluem as publicações do Formulário Fitoterápico e do Memento
Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira. O Formulário Fitoterápico apresenta
monografias em que são descritos o modo de preparo, a indicação de uso, os
efeitos adversos e as contraindicações de plantas medicinais e fitoterápicos.
Farmácias de manipulação podem dispensar os produtos descritos no for-
mulário considerando as informações apresentadas. O documento auxilia,
portanto, no trabalho dos farmacêuticos que atuam nesses estabelecimentos.
Já o Memento Fitoterápico tem o objetivo de orientar prescritores em relação
às indicações terapêuticas, formas farmacêuticas, posologia, efeitos adversos
e contraindicações desses produtos. As monografias das plantas apresentam
ainda dados de estudos pré-clínicos e clínicos já conduzidos com a planta
medicinal (BRASIL, 2011; BRASIL, 2016b). Em 2012, foi publicado ainda

o Caderno de Atenção Básica que trata da fitoterapia, trazendo informações


valiosas sobre a promoção do uso racional e seguro de plantas medicinais e
fitoterápicos na atenção primária (BRASIL, 2012).
Fitoterapia e fitoterápicos 7

Em 2010, o Ministério da Saúde, por meio da portaria da Portaria n.º 886/


GM/MS, instituiu a Farmácia Viva no âmbito do Sus. Farmácias Vivas são
unidades de saúde onde são realizadas todas as etapas da cadeia produtiva
de fitoterápicos, isto é, cultivo, coleta, processamento, armazenamento e
manipulação. Após a fabricação, os fitoterápicos e plantas medicinais são
dispensados à população. Para que a Farmácia Viva cumpra seu objetivo, que
é justamente aumentar o acesso da população à fitoterapia, os profissionais
prescritores dos munícipios que abrigam a Farmácia Viva devem ser capaci-
tados e sensibilizados em relação ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos
(BRASIL, 2010; BRASIL, 2017).
A implementação das Farmácias Vivas tem sido muito importante para o
crescimento da fitoterapia no Brasil, e seus números são animadores. No ano
de 2016 foram registrados quase 90 mil atendimentos de fitoterapia segundo
dados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab). Além
das consultas, mais de 45.000 atividades coletivas sobre plantas medicinais
foram conduzidas no país (BRASIL, 2017)

Todas as questões discutidas aqui demonstram o papel fundamental que


a fitoterapia pode exercer na saúde pública, embora mais ações ainda sejam
necessárias para o crescimento da fitoterapia no país e a promoção do uso
racional e seguro das plantas medicinais e fitoterápicos.

2 Conceitos importantes em fitoterapia


Muitos conceitos importantes no âmbito da fitoterapia geram confusões tanto
na população em geral quanto em profissionais de saúde, por isso é muito
importante que você compreenda bem cada um deles para orientar adequa-
damente seus futuros pacientes.
Fitoterapia, segundo consta na Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos, é o método de tratamento que, sob orientação de um profissional
habilitado, utiliza plantas medicinais em suas preparações sem usar substâncias
ativas isoladas, ainda que de origem vegetal. Isso significa que a fitoterapia
é a prática terapêutica que utiliza plantas medicinais ou seus derivados, que
são chamados de fitoterápicos (BRASIL, 2016a).
8 Fitoterapia e fitoterápicos

A definição de fitoterapia considerada pelo Ministério da Saúde ressalta que a prática


deve ser acompanhada de um profissional capacitado.

A definição de fitoterapia traz outros dois conceitos fundamentais: plantas


medicinais e fitoterápicos. Segundo a OMS, planta medicinal é uma espécie
vegetal utilizada com propósitos terapêuticos. Essa é a definição aceita pelo
Ministério da Saúde. Fitoterápicos, segundo a legislação brasileira, são medi-
camentos obtidos exclusivamente a partir de matérias-primas ativas vegetais,
que incluem drogas vegetais ou derivados vegetais.
Uma droga vegetal é obtida quando submetemos a planta ou a parte dela
que tem o efeito terapêutico a processos de estabilização e secagem. De maneira
simples, a droga vegetal é a planta medicinal seca, podendo estar íntegra ou
triturada. Derivados vegetais são produtos obtidos por meio de processos
extrativos da planta medicinal ou da droga vegetal, podendo ser extratos,
óleos essenciais, tinturas, entre outros. Isso significa que fitoterápicos não
podem apresentar em sua composição substâncias ativas isoladas, mesmo
que elas sejam obtidas de fontes naturais, porque elas não são consideradas
matérias-primas ativas vegetais; do contrário são denominados fitofármacos
(BRASIL, 2014a BRASIL, 2016a).
Fitoterapia e fitoterápicos 9

Segundo a legislação brasileira, a definição completa de fitofármaco é a


de que se trata de uma substância altamente purificada, com estrutura química
e atividade farmacológica definida, isolada a partir de matéria-prima vege-
tal. Fitofármacos devem ser registrados na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), de acordo com as normas preconizadas na Resolução da
Diretoria Colegiada (RDC) n.º 24, de 14 de junho de 2011, que dispõe sobre
o registro de medicamentos específicos (BRASIL, 2011).
Já em relação aos fitoterápicos, a Anvisa exige, por meio da RDC n.º 26,
de 13 de maio de 2014, que, para fins de registro, esses produtos apresentem
qualidade e segurança, além de eficácia ou efetividade demonstradas, assim
como qualquer outro medicamento. A avaliação de sua eficácia ou a efetividade
e a segurança desses produtos podem ser comprovadas por estudos pré-clínicos
e clínicos ou por dados de uso tradicional seguro e efetivo publicados na
literatura técnico-científica. Já o controle da qualidade deve ser realizado
por meio da identificação e quantificação de marcadores (BRASIL, 2014a).
Os marcadores são substâncias ou classes de substâncias presentes no
fitoterápico utilizadas como referência para seu controle de qualidade. Es-
ses compostos podem ou não ter relação com a atividade terapêutica, mas é
desejável que tenham — caso em que são denominados marcadores ativos.
Quando o marcador selecionado não é responsável pelo efeito medicinal do
medicamento, ou a sua relação com esse efeito ainda não foi demonstrada,
ele é considerado um marcador analítico (BRASIL, 2014b)
Para que você possa compreender melhor o conceito de marcador é im-
portante entender como ocorre o desenvolvimento de um novo fitoterápico.
Durante esse processo, pesquisadores investigam os efeitos farmacológicos,
assim como a composição química do fitoterápico em desenvolvimento. Vários
estudos pré-clínicos são conduzidos com o fitoterápico e seus constituintes
isolados, para definir quais compostos são responsáveis por essa atividade, os
quais são chamados de marcadores farmacológicos. Após determinação da
composição química do medicamento, verificam-se quais são as substâncias
presentes em maior quantidade ou que são muito características daquela
espécie vegetal ou fitoterápico, que são consideradas marcadores químicos.
Com todas essas informações, serão definidas as substâncias que serão
utilizadas para o controle de qualidade do fitoterápico. Essa decisão envolve,
principalmente, o fato de alterações na quantidade dessas substâncias indicarem
possíveis problemas na fabricação do medicamento. Um bom marcador é aquele
cuja variação indica possíveis falhas no processo de obtenção do fitoterápico
e, idealmente, deve ser fácil de ser identificado e quantificado, além de ter
relação com o efeito terapêutico (BRASIL, 2014a; SIMÕES et al., 2017).
10 Fitoterapia e fitoterápicos

Eficácia e efetividade são conceitos diferentes relacionados à demonstração do efeito


terapêutico de um medicamento. O termo eficácia se refere à confirmação da atividade
de um medicamento em estudos clínicos controlados. Já quando afirmamos que um
produto é efetivo, significa que o efeito terapêutico foi verificado em condições reais,
ou seja, ele foi distribuído para a população e os resultados observados foram positivos
em relação ao efeito terapêutico.

Por meio de RDC n.º 26/2014 foram criados dois tipos de fitoterápicos:
os medicamentos fitoterápicos (MF) e os produtos tradicionais fitoterá-
picos (PTF). A diferença entre eles é a forma como sua segurança e efeitos
terapêuticos são comprovados. Fitoterápicos que foram submetidos a estudos
clínicos e demonstraram eficácia e segurança podem ser registrados como
MF, enquanto PTF são registrados ou notificados com base em dados de uso
seguro e efetivo por mais de 30 anos. Esses dados devem estar descritos na
literatura técnico-cientifica, ou seja, livros, artigos, documentos oficiais, entre
outros (BRASIL, 2014a).
Um fitoterápico, independentemente de ser um MF ou PTF, pode ser
constituído da droga vegetal ou de um derivado vegetal acompanhados ou
não de excipientes. Quando a droga vegetal é comercializada sem adição de
excipientes, ela é denominada de chá medicinal. Na Figura 1 você encontra um
esquema que ilustra os principais conceitos para fitoterápicos industrializados.
A RDC n.º 26/2014 trata dos fitoterápicos industrializados, que devem
ser registrados ou notificados na Anvisa. É possível também a comercialização
de fitoterápicos magistrais ou manipulados. Farmácias de manipulação podem
produzir e comercializar fitoterápicos medicante prescrição médica, aqueles
que estão descritos no Formulário Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira.
Nesse caso, o preparo deve atender o que o documento oficial descreve, in-
cluindo indicações de uso e demais orientações (BRASIL, 2018a).
Fitoterapia e fitoterápicos 11

Figura 1. Possibilidades de registro de fitoterápicos no Brasil.


Fonte: Adaptada de Brasil (2014c).

Todas essas informações estão explicadas de forma didática e acessível na Instrução


Normativa n.º 4, de 11 de setembro de 2014, um guia orientativo sobre o registro de
MF e PTF. Consulte para saber mais (BRASIL, 2014c).

Produtos fitoterápicos são considerados medicamentos alopáticos, embora muitas


pessoas acreditem que não sejam. Tanto as plantas medicinais quanto seus derivados
têm substâncias em sua composição que têm mecanismos de ação semelhantes aos
fármacos convencionais. Elas apresentam atividade anti-inflamatória, antioxidante,
antiviral, ou seja, têm um efeito contra o agente agressor, seja ele qual for. Isso caracteriza
as plantas medicinais e os fitoterápicos dentro da medicina alopática.
12 Fitoterapia e fitoterápicos

É muito importante ter uma boa compreensão de todos esses conceitos,


porque as plantas medicinais e os fitoterápicos têm características próprias, que
fazem com que sua prescrição e o manejo de pacientes que os utilizam sejam
diferentes de medicamentos compostos de fármacos isolados e sintéticos, ou
mesmo de medicamentos homeopáticos.

3 Fitoterapia aplicada à saúde humana


A prescrição de plantas medicinais e fitoterápicos, ou mesmo o manejo de
pacientes que já utilizam esses produtos, o que é uma realidade constantemente
vivida por profissionais da saúde, exige um conhecimento sólido em relação
às potencialidades e também às limitações da fitoterapia.
Em geral, plantas medicinais e fitoterápicos são indicados para quadros
patológicos leves a moderados, e são caracterizados por apresentarem mais
de um mecanismo de ação, devido às várias substâncias que os constituem.
Ao mesmo, embora não estejam isentos de efeitos adversos, esses medicamen-
tos, em geral, são mais bem tolerados em relação aos fármacos sintéticos ou
mesmo substâncias naturais isoladas. Nesse sentido, existe um grande número
de doenças para as quais os fitoterápicos, além de úteis, podem ser até mesmo
preferíveis em detrimento de outros medicamentos.
O Caderno de Atenção Básica n.º 31, publicado pelo Ministério da
Saúde, traz uma classificação de categorias de indicações para fitoterápicos,
incialmente proposta por Fintelmann e Weiss (2010), que é apresentada
no Quadro 1.
A classificação apresentada no Quadro 1 pode auxiliar profissionais de
saúde na tomada de decisão sobre a indicação ou não de fitoterápicos para
diversas condições de saúde dos pacientes. Para exemplificar as possibi-
lidades que a fitoterapia pode ter para a saúde humana, vamos trabalhar
alguns exemplos de aplicação prática, tomando por base a classificação
apresentada.
Fitoterapia e fitoterápicos 13

Quadro 1. Categorias terapêuticas para fitoterápicos

Indicações para as quais os fitoterápicos são a opção terapêu-


tica de primeira escolha e, para as quais, como alternativa,
Categoria 1 não existiriam medicamentos sintéticos, ou, se existirem, não
seriam tão eficientes quanto o fitoterápico. Exemplos: hepati-
tes tóxicas, hiperplasia benigna de próstata, entre outros.

Indicações para as quais os medicamentos sintéticos podem


ser substituídos por fitoterápicos. Exemplos: estados leves
Categoria 2
de ansiedade e/ou depressão reativa, dispepsia não ulcerosa
neoplásica, infecções urinárias inespecíficas, entre outros.

Indicações nas quais os fitoterápicos podem ser usados como


Categoria 3 coadjuvantes para uma terapia básica. Exemplo: outras doen-
ças hepáticas e das vias respiratórias, entre outras.

Indicações nas quais o uso dos fitoterápicos não é adequado,


caracterizando até mesmo erro médico, pela possibilidade de
Categoria 4 retardar ou impedir uma terapia racional com medicamentos
sintéticos, mais adequados. Exemplo: tratamento primário do
câncer.

Fonte: Adaptado de Brasil (2012).

Exemplo 1
João, 50 anos, diagnosticado há 6 meses com hiperplasia
benigna da próstata (HBP). Como sintomas apresenta
diminuição do jato urinário e dor durante a micção. Para o
tratamento, inicialmente o médico prescreveu finasterida
5mg, diariamente. Porém, o paciente relata diminuição
do libido e dificuldade de manter relações sexuais, além
de crescimento das mamas. Devido aos efeitos adversos,
o paciente decidiu parar de tomar o medicamento.

Para o caso descrito existe uma opção terapêutica que poderia ser pre-
ferível em relação à finasterida e demais aos medicamentos convencionais?
Sim. Fitoterápicos à base de Serenoa repens, popularmente conhecido como
saw palmetto, são considerados uma alternativa efetiva e segura nesses quadros.
A espécie é recomendada pela OMS e pela Agência de Medicamentos Europeia
para HBP. No Brasil foi incluída na Instrução Normativa (IN) n.º 2, de 13 de
14 Fitoterapia e fitoterápicos

maio de 2014, para tratamento da HBP e sintomas associados (BRASIL, 2014d).


Esse documento é uma lista de espécies vegetais que a Anvisa considera que
já tem relatos suficientes na literatura de eficácia, segurança ou efetividade,
e, por isso, estão sujeitos a registro simplificado, ou seja, não é necessário que
apresentem comprovações adicionais desses critérios.
Uma metanálise que avaliou a eficácia de extratos de saw palmetto concluiu
que o fitoterápico é capaz de diminuir a noctúria (micção noturna frequente)
e aumentar a velocidade do fluxo da urina. Alguns autores sugerem que
fitoterápicos à base da espécie são tão ou mais efetivos quanto medicamentos
convencionais, mas são mais seguros, o que faria desses medicamentos agentes
de primeira escolha para o tratamento da doença. Assim, a HPB seria uma
indicação de Categoria 1 para a utilização de fitoterápicos.
Essa afirmação pode ser questionada porque alguns estudos demonstraram
que o saw palmetto apresenta efeito semelhante ao da finasterida. Mas o
importante é que, considerando o caso apresentado, a prescrição de 320mg de
extrato padronizado da espécie contendo entre 272 e 304mg de ácidos graxos
por via oral em comprimidos ou cápsulas seria uma excelente alternativa para
o tratamento. O paciente provavelmente seria beneficiado com a redução dos
efeitos adversos observados (BRASIL, 2014d; EUROPEAN MEDICINES
ANGENCY, 2015; SAAD et al., 2016; BRASIL, 2016a).

Você pode consultar mais informações o uso medicinal do saw palmetto no Memento
Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira.

Outras indicações terapêuticas em que os fitoterápicos podem ser con-


siderados como primeira escolha são casos de hepatites tóxicas, conforme
descrito no Quadro 1. Extratos da espécie Silybum marianum são indicados
oficialmente no Brasil como hepatoprotetores e são considerados efetivos e
seguros para tratamentos dessas doenças, sendo que não existem medicamentos
convencionais que demonstrem a mesma utilidade terapêutica apresentada
para a espécie (BRASIL, 2014a, BRASIL, 2014c; EUROPEAN MEDICINES
ANGENCY,2018b).
Fitoterapia e fitoterápicos 15

Exemplo 2
Antônia, 36 anos, apresentada quadros de infecção urinária
recorrente, por isso tem apresentado dor e desconforto
ao urinar, que não cessa devido à irritação da mucosa do
trato urinário inferior, gerada pelas infecções sucessivas.
A fim de melhorar os sintomas e prevenir novas recidivas,
a ginecologista que acompanha a paciente prescreveu a
utilização diária de um comprimido de 600mg de extrato
padronizado das folhas de uva-ursina, contendo 400mg de
derivados de hidroquinonas calculados como arbutina.

A prescrição apresentada pode ser considerada uma ótima alternativa


para o caso. Entre as plantas indicadas para quadros de infecções urinárias
de repetição, destaca-se a uva-ursina — Arctostaphylos uva-ursi (L.) Spreng
—, espécie recomendada pela European Medicines Agency (EUROPEAN
MEDICINES ANGENCY, 2018a) e pela WHO (2004). No Brasil foi incluída na
IN n.º 2/2014 para o tratamento de infecções do trato urinário (BRASIL, 2012).
Quadros de infecção urinária de repetição, com três ou mais episódios
ao ano, são indicações adequadas para fitoterápicos. Antibióticos devem ser
utilizados para combater as infecções, mas, em casos de recidivas frequentes,
a utilização dos fitoterápicos substitui prescrições adicionais de antibióticos
para profilaxia, o que é altamente recomendado para prevenir o surgimento
de resistência bacteriana.
Este seria um exemplo da Categoria 2, que também inclui o tratamento
de quadros leves de ansiedade e insônia, em que medicamentos convencio-
nais psicoativos podem ser substituídos por fitoterápicos à base de valeriana
(Valeriana officinalis) e espécies de maracujá como Passiflora edulis, Passi-
flora incarnata e Passiflora alata (BRASIL, 2018a; BRASIL, 2016b).

Exemplo 3
Daniel, 18 anos, apresenta episódios de asma desde a
infância. Quando está em crise, apresenta muita tosse
e dificuldade para respirar, com a presença de secreção
amarelo-esverdeada. Há algum tempo o quadro tem evoluído
e o paciente tem apresentado esses menos sintomas de
forma mais leve entre as crises. A fim de evitar a evolução
da doença, o médico que acompanha Daniel decidiu
16 Fitoterapia e fitoterápicos

pela prescrição de tintura de alho, preparada conforme


recomendado no 1º Suplemento do Formulário Fitoterápico
da Farmacopeia Brasileira, que pode ser obtida em farmácias
de manipulação. Segue a descrição da fórmula e orientações.
Tintura de alho (Allium sativum)
20g dos bulbos secos para 100mL de álcool etílico
70%. Diluir 10mL da tintura em 75mL de água.
Administrar duas vezes ao dia (BRASIL, 2018b).

Neste exemplo, verificamos a utilização de uma espécie presente na nossa


rotina de alimentação diária como coadjuvante para o tratamento de um
quadro de asma, um exemplo de indicação da Categoria 3. O alho, segundo
o Memento Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira (2016) é indicado ainda
como coadjuvante no tratamento de hiperlipidemia e hipertensão arterial leve a
moderada e dos sintomas de gripes e resfriados, além de auxiliar na prevenção
da aterosclerose. Assim como o alho, vários medicamentos fitoterápicos são
uteis para auxiliar os tratamentos convencionais de um grande número de
doenças, destacando-se problemas respiratórios, cardiovasculares e sintomas
do climatério (BRASIL, 2016b).

Exemplo 4
Maria Eduarda, 25 anos, foi diagnosticada com leucemia.
O tratamento quimioterápico tem gerado bastante
desconforto, incluindo enjoo, perda de apetite e mucosite
oral, uma inflamação dolorosa da mucosa da boca.

No caso de Maria Eduarda, plantas medicinais ou fitoterápicos podem


ajudá-la? A resposta é sim, mas não em relação ao tratamento primária do
câncer. Atualmente, o câncer é uma das indicações para os quais os fitoterá-
picos não são indicados. Plantas medicinais são fontes de quimioterápicos,
como a vimblastina, isolado da vinca (Catharanthus roseus), e, embora muitos
estudos sejam feitos com espécies vegetais que mostram potenciais efeitos
antitumorais, atualmente, a utilização de fitoterápicos para o tratamento do
câncer em si não é considerada (BRASIL, 2012; SIMÕES et al., 2017).
Fitoterapia e fitoterápicos 17

Entretanto muitas plantas medicinais têm auxiliado na promoção do bem-


-estar de pacientes em tratamento quimioterápico, ajudando na redução dos
efeitos adversos gerados por esses fármacos. As inflamações da mucosa do
trato gastrointestinal, por exemplo, as mucosites, são achados comuns em
pacientes em tratamento do câncer, e muitas plantas têm se mostrado úteis no
combate a esse efeito adverso. Para Maria Eduarda, por exemplo, uma opção
seria a utilização de fitoterápicos à base de camomila (Matricaria chamomilla)
ou babosa/aloe vera (Aloe vera) aplicados topicamente na mucosa oral. Essas
espécies mostraram efeitos positivos em estudos clínicos para quadros como
o da paciente em questão (ALMEIDA et al., 2020).
Este exemplo, assim como os demais, representa uma pequena parte de
toda a potencialidade terapêutica de fitoterápicos na promoção da saúde e do
bem-estar de paciente com diferentes condições de saúde. É importante que,
cada vez mais, os profissionais da saúde aprofundem seus conhecimentos
acerca dessa prática, que pode ajudar tantas pessoas.

Consulte os documentos oficiais, artigos e livros citados ao longo deste capítulo para
conhecer outras plantas medicinais que podem ser úteis no tratamento de diferentes
doenças.

ALMEIDA, E. M. de et al. Therapeutic potential of medicinal plants indicated by the bra-


zilian public health system in treating the collateral effects induced by chemotherapy,
radiotherapy, and chemoradiotherapy: a systematic review. Complementary Therapies
In Medicine, v. 49, p.1–38, mar. 2020.
BRASIL. Formulário de fitoterápicos farmacopeia brasileira. Brasília: Anvisa, 2018a. Dispo-
nível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259456/Suplemento+FFFB.
pdf/478d1f83-7a0d-48aa-9815-37dbc6b29f9a. Acesso em: 1 mar. 2020
BRASIL. Formulário fitoterápico da farmacopeia brasileira: primeiro suplemento. Brasília:
Anvisa, 2018b. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259456/
Suplemento+FFFB.pdf/478d1f83-7a0d-48aa-9815-37dbc6b29f9a. Acesso em: 2 mar. 2020.
18 Fitoterapia e fitoterápicos

BRASIL. Memento fitoterápico: farmacopéia brasileira. Brasília: Anvisa, 2016b. Disponível


em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/2909630/Memento+Fitoterapico/
a80ec477-bb36-4ae0-b1d2-e2461217e06b. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instrução normativa nº 02 de 13 de maio de 2014. Publica
a “Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado” e a “Lista de produtos
tradicionais fitoterápicos de registro simplificado”. Diário Oficial da União, Brasília, 14
maio de 2014d.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instrução normativa nº 4, de 18 de junho de 2014. Deter-
mina a publicação do Guia de orientação para registro de Medicamento Fitoterápico
e registro e notificação de Produto Tradicional Fitoterápico. Diário Oficial da União,
Brasília, 20 jun. 2014c.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 886, de 20 de abril de 2010. Institui a Farmácia
Viva no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 20 abr. 2010. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt0886_20_04_2010.html. 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução da diretoria colegiada – RDC n°. 26, de 13 de
maio de 2014. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos e o registro e a
notificação de produtos tradicionais fitoterápicos. Brasília, 13 maio 2014a. Disponível
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2014/rdc0026_13_05_2014.pdf.
Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 24 de 14 de junho de 2011. Dispõe sobre
o registro de medicamentos específicos. Brasília, 14 jun. 2011. Disponível em: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2011/res0024_14_06_2011.html. Acesso
em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Política e programa nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Brasília: Ministério
da Saúde, 2016a. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/poli-
tica_programa_nacional_plantas_medicinais_fitoterapicos.pdf. Acesso em: 2 mar 2020.
BRASIL. Práticas integrativas e complementares: plantas medicinais e fitoterapia na
Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, 31).
BRASIL. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename). Brasília: Ministério da
Saúde, 2020. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_me-
dicamentos_rename_2020.pdf. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Renisus: relação nacional de plantas medicinais de interesse ao SUS. 2014b.
Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/07/renisus.
pdf. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Sobre o programa. 2017. Disponível em: https://www.saude.gov.br/component/
content/article/41222-sobre-o-programa. Acesso em: 2 mar. 2020.
BUFAINO, E. M. et al. Phytotherapy in Brazil: recovering the concepts. Revista Brasileira
de Farmacognosia, v. 23, nº. 1, p. 22–27, jan./fev. 2013.
Fitoterapia e fitoterápicos 19

EUROPEAN MEDICINES ANGENCY. Assessment report on arctostaphylos uva-ursi (L.)


spreng., folium. 2018a. Disponível em: https://www.ema.europa.eu/en/documents/
herbal-report/final-assessment-report-arctostaphylos-uva-ursi-l-spreng-folium-revi-
sion-2_en.pdf. Acesso em: 2 mar. 2020.
EUROPEAN MEDICINES ANGENCY. Assessment report on serenoa repens (W. bartram)
small, fructus. 2015. Disponível em: https://www.ema.europa.eu/en/documents/herbal-
-report/final-assessment-report-serenoa-repens-w-bartram-small-fructus_en.pdf.
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EUROPEAN MEDICINES ANGENCY. Assessment report on silybum marianum (L.) gaertn.,
fructus. 2018b. Disponível em: https://www.ema.europa.eu/en/documents/herbal-
-report/final-assessment-report-silybum-marianum-l-gaertn-fructus_en.pdf. Acesso
em: 2 mar. 2020.
FINTELMANN, V.; WEISS, R. F. Manual de fitoterapia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2010.
KLEIN., T. et al. Fitoterápicos: um mercado promissor. Revista de Ciências Farmacêuticas
Básica e Aplicada, v. 30, nº. 3, p. 241–248, 2009. Disponível em: https://www.far.fiocruz.
br/wp-content/uploads/2016/09/FITOTERAPICOS_UM_MERCADO_PROMISSOR.pdf.
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Primários de Saúde. Brasília: UNICEF, 1979. Disponível em: https://apps.who.int/iris/
bitstream/handle/10665/39228/9241800011_por.pdf;jsessionid=85B48CE1F53ADC04
55B594D4629C95B8?sequence=5. Acesso em: 2 mar. 2020.
SAAD, G. A. et al. Fitoterapia contemporânea: tradição e ciência na prática clínica. 2. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia: do produto natural ao medicamento. Porto
Alegre: Artmed, 2017.
WHO. Fructus silybi mariae. In: . Monographs on Selected Medicinal Plants.
v. 2, p. 300–316, 2004. Disponível em: http://apps.who.int/medicinedocs/pdf/s4927e/
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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
Você tem o costume de tomar chás medicinais? Muitas pessoas no Brasil e em todo o mundo têm,
mas muitas não sabem a forma correta de prepará-los. Uma parcela importante de pacientes que
utilizam plantas medicinais faz isso por meio do uso de chás; por isso, é importante que eles sejam
preparados de forma adequada para que apresentem os efeitos terapêuticos desejados.

Nesta Dica do Professor, veja algumas orientações gerais para o preparo desses importantes
produtos, grandes aliados na promoção da saúde e do bem-estar de inúmeros pacientes.

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Exercícios

1) Em 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicou a RDC n.o 26/2014, que trata
do registro de medicamentos fitoterápicos (MF) e de produtos tradicionais fitoterápicos
(PTF). Considerando essa Resolução e a sua compreensão sobre os conceitos abordados por
ela, assinale a alternativa que explica corretamente a diferença entre os dois tipos de
produtos:

A) Os MF são constituídos de substâncias isoladas de fontes naturais, enquanto os PTF são


compostos por drogas ou derivados vegetais.

B) Os PTF não necessitam ter sua qualidade controlada por meio de identificação de
marcadores, ao passo que para os MF esta é uma exigência.

C) Os MF devem mostrar eficácia e segurança por meio de estudos clínicos, já os PTF devem
apresentar dados de uso efetivo e seguro por mais de 30 anos.

D) Os PTF são os fitoterápicos utilizados na medicina tradicional chinesa, já os MF referem-se a


medicamentos à base de plantas utilizadas no Ocidente.

E) Os MF apresentam excipientes em sua composição, enquanto os PTF podem ser constituídos


apenas de matérias-primas ativas vegetais.

2) A fitoterapia é o método de tratamento caracterizado pela utilização de plantas medicinais


em suas diferentes preparações, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de
origem vegetal, sob orientação de um profissional habilitado. Essa prática contém algumas
particularidades em relação à medicina considerada convencional. Considerando seus
conhecimentos sobre o assunto, assinale a alternativa correta:

A) A fitoterapia não é considerada uma prática terapêutica alopática, mas está dentro da
medicina homeopática.

B) As diferentes preparações utilizadas na fitoterapia incluem drogas vegetais e fitofármacos.

C) Os fitoterápicos utilizados por mais de 30 anos não precisam da autorização da Anvisa para
serem comercializados.

D) Os fitoterápicos são muito seletivos, atuando apenas em um alvo molecular específico; por
isso, são muito seguros.
E) Os fitoterápicos podem atuar por diferentes mecanismos, devido à presença de diferentes
substâncias ativas.

3) As plantas medicinais e os fitoterápicos são úteis no tratamento de inúmeras doenças e


condições de saúde. Considerando o que você aprendeu sobre a potencialidade terapêutica
da fitoterapia, assinale a alternativa correta:

A) A vinca (Catharanthus roseus) tem aplicação terapêutica no tratamento de alguns tipos de


câncer.

B) O saw palmetto (Serenoa repens) é o medicamento de primeira escolha para tratamento de


hepatites.

C) Plantas medicinais não podem ser utilizadas em condições de alterações hormonais, como no
climatério.

D) Plantas medicinais e fitoterápicos, em geral, são mais bem tolerados do que medicamentos
convencionais.

E) Doenças graves, como a hiperplasia benigna da próstata, não devem ser tratadas com
medicamentos fitoterápicos.

4) Leia com atenção o caso clínico a seguir:

Marina, 25 anos, apresenta quadro de inflamação da mucosa vaginal secundária a uma


infecção bacteriana. A paciente tem apresentado quadro de infecção urinária recorrente. A
médica, além do antibiótico, sugeriu duas opções de tratamento coadjuvante para a
paciente: comprar cascas secas do caule de aroeira (Schinus terebinthifolius), ferver cerca de
1g em 150ml de água por 10 minutos e fazer um banho de assento com a solução 3 vezes ao
dia; utilizar creme vaginal à base de extrato seco de cascas de Schinus terebinthifolius a 0,4%
(equivalente a 0,3mg de ácido gálico).

Considerando essas informações, assinale a alternativa correta:

A) A paciente, segundo recomendação médica, pode preparar um infuso de cascas de aroeira


para uso tópico.

B) A prescrição do chá de aroeira não é adequada, uma vez que a administração será por via
tópica.

C) O chá das cascas secas da aroeira não é considerado um fitoterápico porque não é um
produto industrializado.
D) O creme vaginal prescrito não é um medicamento fitorápico porque contém ácido gálico
isolado.

E) A médica poderia ter prescrito ainda fitoterápico de uva-ursi, a fim de prevenir recidivas.

5) Fitoterápicos são medicamentos obtidos exclusivamente com matérias-primas ativas


vegetais, ou seja, drogas e derivados vegetais. Diante disso, avalie os dois produtos descritos
a seguir:

- Óleo essencial das folhas secas de hortelã (Mentha x piperita) contendo 200mg de mentol e
100mg de mentona.

- Creme contendo 70% de gel incolor mucilaginoso de folhas frescas de aloe vera (Aloe vera).

Assinale a alternativa correta:

A) O oléo essencial de hortelã não é considerado um fitoterápico.

B) O marcador do creme de aloe vera é o gel mucilaginoso obtido das folhas.

C) A droga vegetal da aloe vera é constituída de suas folhas frescas.

D) As prefeituras podem optar por incluir os dois produtos na RENUME.

E) O gel obtido das folhas frescas é um derivado vegetal.


Na prática
Diagnósticos de ansiedade e insônia são comuns entre idosos, e, em alguns casos, é necessário
tratamento farmacológico a fim de regular o humor e melhorar a quantidade e a qualidade do sono
e a concentração durante o dia. Os benzodiazepínicos são comumente prescritos para tratamento
de ansiedade; porém, o uso por longo período desses medicamentos não é recomendado,
principalmente em idosos, devido ao risco de efeitos adversos particularmente graves para essa
população, como perda da memória, confusão mental e aumento na frequência de quedas.

Nesse contexto, algumas plantas medicinais e fitoterápicos podem constituir opções terapêuticas
para esses quadros, uma vez que têm mostrado eficácia em quadros de ansiedade leve a moderada
e, ao mesmo tempo, apresentam poucos efeitos adversos comparados a medicamentos
convencionais utilizados comumente, como os benzodiazepínicos.

Veja, Na Prática, um exemplo da aplicação terapêutica da camomila para auxílio na desprescrição


de benzodiazepínicos, na regulação do sono e no controle da ansiedade em idosos.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

A indústria de fitoterápicos brasileira: desafios e oportunidades


Quer saber mais sobre a produção de fitoterápicos industrializados? Este artigo traz uma
interessante discussão acerca dos desafios do desenvolvimento da indústria de plantas medicinais e
de fitoterápicos no Brasil. Aproveite a leitura.

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Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos


Quer saber um pouco mais sobre o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do
Ministério da Saúde? Confira o vídeo a seguir.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Medicamentos fitoterápicos
Muitas pessoas pensam que qualquer chá ou substância de origem vegetal é um fitoterápico. Neste
breve vídeo, o médico Drauzio Varella esclarece o que são os medicamentos fitoterápicos.

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