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Apresentação
Você utiliza ou já utilizou plantas medicinais? Provavelmente, a sua resposta seja sim. O dia a dia
das pessoas está repleto de espécies vegetais com propriedades medicinais, e, em alguns lugares,
elas são os únicos recursos terapêuticos disponíveis para a população. Muitas vezes, porém, as
plantas medicinais não são utilizadas da maneira correta. Ao mesmo tempo, vários profissionais de
saúde desconhecem o seu potencial no tratamento de inúmeras de doenças e não estão aptos a
orientar seus pacientes em relações ao uso desses produtos.
Por esses motivos, políticas públicas de incentivo à fitoterapia, ou seja, à utilização terapêutica de
plantas medicinais e fitoterápicos, têm sido implementadas em todo o mundo, inclusive no Brasil.
No País, algumas ações já foram conduzidas pelo Ministério da Saúde para a promoção do uso
racional e seguro desses produtos, mas ainda há muito o que fazer. Assim, é fundamental que os
profissionais de saúde construam um conhecimento sólido sobre a aplicação da fitoterapia.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá sobre o papel dessa prática terapêutica na promoção
da saúde e do bem-estar da população, incluindo conceitos e políticas públicas aplicáveis, além de
identificar todo o potencial das plantas medicinais e dos fitoterápicos no tratamento de várias
doenças e condições de saúde.
Bons estudos.
Considerando esse contexto, imagine que você seja responsável pela avaliação da farmacoterapia
da paciente com o quadro descrito a seguir:
Diante das informações apresentadas, elabore um plano de cuidado para a paciente e justifique as
decisões tomadas, abordando possíveis problemas na utilização de plantas medicinais e
fitoterápicos relatados, incluindo ausência de indicação ou efetividade, efeitos adversos e
interações medicamentosas. Além disso, sugira outras plantas medicinais e fitoterápicos que
poderiam ser indicados para o caso.
Infográfico
Uma das ações mais importantes resultante da implementação da Política e do Programa Nacional
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi a inclusão de fitoterápicos na Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais (RENAME). Essa medida promove o aumento do acesso dos pacientes
aos fitoterápicos, já que os medicamentos incluídos na lista podem ser distribuídos gratuitamente
pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Boa leitura.
FARMACOGNOSIA
APLICADA
Introdução
A utilização de plantas medicinais no tratamento de enfermidades é tão
antiga quanto a humanidade. Existem evidências de que o ser humano
utiliza plantas para o tratamento de doenças desde a era paleolítica, na
pré-história. Relatos mais contundentes contendo descrições do uso
medicinal de espécies vegetais foram encontrados na Índia, na China e no
Egito, e estima-se que tenham sido elaborados a partir do ano 2500 a.C.
(SAAD et al., 2016).
Com o passar dos anos, o desenvolvimento da ciência, especialmente
da química orgânica, levou ao isolamento e, posteriormente, à síntese
de vários fármacos oriundos de plantas. Aos poucos o uso medicinal de
plantas medicinais foi assumindo um papel secundário. Elas passaram a
ser vistas, principalmente, como fonte de substâncias isoladas para serem
utilizadas na terapêutica. No entanto, nos últimos anos, pesquisadores
e especialistas têm indicado um retorno da fitoterapia como uma tera-
pêutica de importância fundamental para a promoção da saúde e do
bem-estar da população (SAAD et al., 2016; SIMÕES et al., 2017).
Neste capítulo, você vai entender porque a promoção do uso racional
e seguro de plantas medicinais tem ganhado destaque em todo o mundo,
inclusive no Brasil. Discutiremos a importância na fitoterapia para a saúde
pública, os conceitos mais importantes para entender o contexto dessa
terapêutica na atualidade e traremos exemplos de aplicações terapêuticas
de plantas medicinais e seus fitoterápicos.
2 Fitoterapia e fitoterápicos
Outro fato que deve ser considerado e que, muitas vezes, é esquecido tanto
pelos profissionais de saúde quanto pelos agentes públicos é o conhecimento
popular ou tradicional associado ao uso de plantas medicinais. A fitoterapia
representa uma parte da cultura de algumas comunidades e grupos, às vezes
repassada de geração em geração. Isso altera a percepção dessas pessoas em
relação à utilização de plantas medicinais e fitoterápicos quando comparados
a terapias convencionais. Uma grande parcela da população prefere utilizar
fitoterápicos, e essa preferência é relevante no contexto da saúde pública
(KLEIN et al., 2009; SAAD et al., 2016; BRASIL, 2014a).
É claro que, para que a gente possa oferecer plantas medicinais e fitote-
rápicos à população é necessário demonstrar a sua efetividade e segurança.
Esse é um grande problema no incentivo à fitoterapia, porque, a despeito do
seu enorme potencial, ainda precisamos estudar mais as plantas medicinais,
especialmente aquelas que são encontradas no Brasil.
Por esse motivo, o Ministério da Saúde elaborou em 2009 a Relação Nacio-
nal de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus).
Trata-se de uma lista de 71 espécies vegetais, nativas ou adaptadas no Brasil,
amplamente utilizadas pela população, que o Ministério da Saúde considerou
que têm potencial para gerar produtos para o Sus, mas que ainda necessitam
de mais estudos em relação a sua segurança, eficácia e/ou efetividade. O ob-
jetivo da elaboração dessa lista é auxiliar na condução de estudos que possam
embasar a elaboração de uma relação de plantas medicinais e fitoterápicos
seguros e eficazes para o uso da população (BRASIL, 2014b).
Essa é uma ação de extrema importância, porque a maioria das plantas
medicinais brasileiras, embora tenha um amplo uso pela população e, aparen-
temente, tenha grande potencial terapêutico, ainda não tem estudos suficientes
que embasem seu uso racional. Assim, o incentivo ao estudo dessas plantas
pode contribuir de forma relevante para a promoção do uso racional e seguro
de espécies vegetais nativas ou adaptadas ao nosso país.
6 Fitoterapia e fitoterápicos
Não basta apenas ter estudos que comprovem a segurança e efetividade das
plantas medicinais e fitoterápicos, é necessário que os profissionais de saúde
sejam capacitados para prescrever esses produtos assim como acompanhar e
manejar pacientes que os utilizam. Atualmente, é evidente o desconhecimento
da maioria dos profissionais a respeito do assunto. Observamos que, em geral,
quando esses profissionais se encontram em situações nas quais o paciente
faz uso ou quer utilizar esses produtos, acabam optando por ignorar essa
informação e/ou não oferecerem tais opções terapêuticas, o que pode gerar
prejuízos para o paciente (BRASIL, 2012; SAAD et al., 2016).
Ações do Ministério da Saúde que têm contribuído para a capacitação de
profissionais incluem as publicações do Formulário Fitoterápico e do Memento
Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira. O Formulário Fitoterápico apresenta
monografias em que são descritos o modo de preparo, a indicação de uso, os
efeitos adversos e as contraindicações de plantas medicinais e fitoterápicos.
Farmácias de manipulação podem dispensar os produtos descritos no for-
mulário considerando as informações apresentadas. O documento auxilia,
portanto, no trabalho dos farmacêuticos que atuam nesses estabelecimentos.
Já o Memento Fitoterápico tem o objetivo de orientar prescritores em relação
às indicações terapêuticas, formas farmacêuticas, posologia, efeitos adversos
e contraindicações desses produtos. As monografias das plantas apresentam
ainda dados de estudos pré-clínicos e clínicos já conduzidos com a planta
medicinal (BRASIL, 2011; BRASIL, 2016b). Em 2012, foi publicado ainda
Por meio de RDC n.º 26/2014 foram criados dois tipos de fitoterápicos:
os medicamentos fitoterápicos (MF) e os produtos tradicionais fitoterá-
picos (PTF). A diferença entre eles é a forma como sua segurança e efeitos
terapêuticos são comprovados. Fitoterápicos que foram submetidos a estudos
clínicos e demonstraram eficácia e segurança podem ser registrados como
MF, enquanto PTF são registrados ou notificados com base em dados de uso
seguro e efetivo por mais de 30 anos. Esses dados devem estar descritos na
literatura técnico-cientifica, ou seja, livros, artigos, documentos oficiais, entre
outros (BRASIL, 2014a).
Um fitoterápico, independentemente de ser um MF ou PTF, pode ser
constituído da droga vegetal ou de um derivado vegetal acompanhados ou
não de excipientes. Quando a droga vegetal é comercializada sem adição de
excipientes, ela é denominada de chá medicinal. Na Figura 1 você encontra um
esquema que ilustra os principais conceitos para fitoterápicos industrializados.
A RDC n.º 26/2014 trata dos fitoterápicos industrializados, que devem
ser registrados ou notificados na Anvisa. É possível também a comercialização
de fitoterápicos magistrais ou manipulados. Farmácias de manipulação podem
produzir e comercializar fitoterápicos medicante prescrição médica, aqueles
que estão descritos no Formulário Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira.
Nesse caso, o preparo deve atender o que o documento oficial descreve, in-
cluindo indicações de uso e demais orientações (BRASIL, 2018a).
Fitoterapia e fitoterápicos 11
Exemplo 1
João, 50 anos, diagnosticado há 6 meses com hiperplasia
benigna da próstata (HBP). Como sintomas apresenta
diminuição do jato urinário e dor durante a micção. Para o
tratamento, inicialmente o médico prescreveu finasterida
5mg, diariamente. Porém, o paciente relata diminuição
do libido e dificuldade de manter relações sexuais, além
de crescimento das mamas. Devido aos efeitos adversos,
o paciente decidiu parar de tomar o medicamento.
Para o caso descrito existe uma opção terapêutica que poderia ser pre-
ferível em relação à finasterida e demais aos medicamentos convencionais?
Sim. Fitoterápicos à base de Serenoa repens, popularmente conhecido como
saw palmetto, são considerados uma alternativa efetiva e segura nesses quadros.
A espécie é recomendada pela OMS e pela Agência de Medicamentos Europeia
para HBP. No Brasil foi incluída na Instrução Normativa (IN) n.º 2, de 13 de
14 Fitoterapia e fitoterápicos
Você pode consultar mais informações o uso medicinal do saw palmetto no Memento
Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira.
Exemplo 2
Antônia, 36 anos, apresentada quadros de infecção urinária
recorrente, por isso tem apresentado dor e desconforto
ao urinar, que não cessa devido à irritação da mucosa do
trato urinário inferior, gerada pelas infecções sucessivas.
A fim de melhorar os sintomas e prevenir novas recidivas,
a ginecologista que acompanha a paciente prescreveu a
utilização diária de um comprimido de 600mg de extrato
padronizado das folhas de uva-ursina, contendo 400mg de
derivados de hidroquinonas calculados como arbutina.
Exemplo 3
Daniel, 18 anos, apresenta episódios de asma desde a
infância. Quando está em crise, apresenta muita tosse
e dificuldade para respirar, com a presença de secreção
amarelo-esverdeada. Há algum tempo o quadro tem evoluído
e o paciente tem apresentado esses menos sintomas de
forma mais leve entre as crises. A fim de evitar a evolução
da doença, o médico que acompanha Daniel decidiu
16 Fitoterapia e fitoterápicos
Exemplo 4
Maria Eduarda, 25 anos, foi diagnosticada com leucemia.
O tratamento quimioterápico tem gerado bastante
desconforto, incluindo enjoo, perda de apetite e mucosite
oral, uma inflamação dolorosa da mucosa da boca.
Consulte os documentos oficiais, artigos e livros citados ao longo deste capítulo para
conhecer outras plantas medicinais que podem ser úteis no tratamento de diferentes
doenças.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
Você tem o costume de tomar chás medicinais? Muitas pessoas no Brasil e em todo o mundo têm,
mas muitas não sabem a forma correta de prepará-los. Uma parcela importante de pacientes que
utilizam plantas medicinais faz isso por meio do uso de chás; por isso, é importante que eles sejam
preparados de forma adequada para que apresentem os efeitos terapêuticos desejados.
Nesta Dica do Professor, veja algumas orientações gerais para o preparo desses importantes
produtos, grandes aliados na promoção da saúde e do bem-estar de inúmeros pacientes.
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Exercícios
1) Em 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicou a RDC n.o 26/2014, que trata
do registro de medicamentos fitoterápicos (MF) e de produtos tradicionais fitoterápicos
(PTF). Considerando essa Resolução e a sua compreensão sobre os conceitos abordados por
ela, assinale a alternativa que explica corretamente a diferença entre os dois tipos de
produtos:
B) Os PTF não necessitam ter sua qualidade controlada por meio de identificação de
marcadores, ao passo que para os MF esta é uma exigência.
C) Os MF devem mostrar eficácia e segurança por meio de estudos clínicos, já os PTF devem
apresentar dados de uso efetivo e seguro por mais de 30 anos.
A) A fitoterapia não é considerada uma prática terapêutica alopática, mas está dentro da
medicina homeopática.
C) Os fitoterápicos utilizados por mais de 30 anos não precisam da autorização da Anvisa para
serem comercializados.
D) Os fitoterápicos são muito seletivos, atuando apenas em um alvo molecular específico; por
isso, são muito seguros.
E) Os fitoterápicos podem atuar por diferentes mecanismos, devido à presença de diferentes
substâncias ativas.
C) Plantas medicinais não podem ser utilizadas em condições de alterações hormonais, como no
climatério.
D) Plantas medicinais e fitoterápicos, em geral, são mais bem tolerados do que medicamentos
convencionais.
E) Doenças graves, como a hiperplasia benigna da próstata, não devem ser tratadas com
medicamentos fitoterápicos.
B) A prescrição do chá de aroeira não é adequada, uma vez que a administração será por via
tópica.
C) O chá das cascas secas da aroeira não é considerado um fitoterápico porque não é um
produto industrializado.
D) O creme vaginal prescrito não é um medicamento fitorápico porque contém ácido gálico
isolado.
E) A médica poderia ter prescrito ainda fitoterápico de uva-ursi, a fim de prevenir recidivas.
- Óleo essencial das folhas secas de hortelã (Mentha x piperita) contendo 200mg de mentol e
100mg de mentona.
- Creme contendo 70% de gel incolor mucilaginoso de folhas frescas de aloe vera (Aloe vera).
Nesse contexto, algumas plantas medicinais e fitoterápicos podem constituir opções terapêuticas
para esses quadros, uma vez que têm mostrado eficácia em quadros de ansiedade leve a moderada
e, ao mesmo tempo, apresentam poucos efeitos adversos comparados a medicamentos
convencionais utilizados comumente, como os benzodiazepínicos.
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Medicamentos fitoterápicos
Muitas pessoas pensam que qualquer chá ou substância de origem vegetal é um fitoterápico. Neste
breve vídeo, o médico Drauzio Varella esclarece o que são os medicamentos fitoterápicos.
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