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- Aparência:
- Durante toda a história da humanidade, a cor ou aparência nunca foi o principal fator
de exclusão social, levando muito em consideração as diferenças culturais, como
língua, costumes, residência, etc.;
- Somente após o século XVIII, a relevância da cor foi determinante para excluir
pessoas “este sujeito era totalmente negro da cabeça aos pés, prova clara de que o
que ele dizia era estúpido”. Frase de Kant, 1764.
- Linhagem ou sangue:
- Espanha séc. XV e Inglaterra séc. IX
- Também não é definido apenas pela descendência familiar;
- Exclusão de pessoas, por fazerem parte de uma cultura diferente do local em que
residiam, como os mulçumanos na Espanha;
- Porém existiam exceções em casos de aceitação da religião, capacidade de ajudar,
competência em alguma área necessária.
- Meio ambiente:
- Chave para explicações contemporâneas sobre raça;
- Pouca distinção entre biologia e cultura;
- Traços característicos passando de geração a geração;
- Vínculo entre o meio ambiente e o ser humano;
- Os espanhóis acreditavam que se os índios comessem alimentos europeus, se
tornaram como eles;
- Adaptação do corpo conforme a relação com a natureza.
- Isso tudo é raça?
- Antes do século XVIII, raça era vista de maneira parecida com a cultura
- Comportamentos, religião, moralidade;
- A partir do séc XV começa a existência de diferença mentais-corporais ou
físico-morais entre categorias de pessoas, devido a colonização e escravidão;
- Buscando uma lógica por trás das etnias e etnilogias, da ordem simbólica e não entender a
tradução.
- Levi considera que as etnografias são necessárias e precisamos sim conhecer a diversidade
e acessar a variedade de possibilidades de estar no mundo.
- Mas em termos de reflexão, não basta pensar somente na diversidade, mas sim como é a
sua estrutura, como a diversidade é produzida?
- Levi é muito mais etnólogo do que etnógrafo. O trabalho é muito mais baseado na etnografia
de vários outros autores.
- A diversidade das culturas é muito maior do que a que chegamos a conhecer.
- Pensar que a cultura está ligada a território, é reduzir a complexidade da cultura e a limitar
somente a geográfico.
- Culturas que nunca tivemos contatos podem ser mais parecidas do que a de um mesmo
tronco.
- Quando a gente não consegue identificar a identidade cultural do outro, a gente lança ele na
natureza, dizemos que é bárbaro, que é selvagem.
- Ninguém vive fora da natureza, nós também estamos na natureza (não precisamos comer?
Carne, salada, grãos)
- Relativismo cultural, aí sim é um esforço consciente de tentar entender o outro nos termos do
outro.
- Falso evolucionismo é uma tentativa de suprimir a diversidade dizendo que todos somos
humanos e a diferença é que alguns estão em uns estágios e outros estão em outros
estágios. Supõe que todos somos iguais, nas impõe uma diferença hierárquica. Nos faz
pensar em mais evoluídos e menos evoluídos.
- Há um tipo de raciocínio que pensa que algumas instituições ou sociedades são menos
desenvolvidas, como se ela estivesse na mesma temporalidade mas manos evolutivas.
Temos que tomar cuidado com esse raciocínio, Isso significa que as pessoas tem interesses
intelectuais diferentes.
- As pessoas e as culturas não têm medo da novidade, elas estão interessadas nesse acesso
à ocidentalização e negociações, mas isso não quer dizer que contribui para o apagamento
das sociedades.
- O problema não é o encontro de interesses diversos, mas sim a desigualdade de "forças" que
está em questão.
TEXTO 3 - WADE, Peter. Raça: natureza e cultura na ciência e na sociedade In: HITA, Maria
Gabriela. Raça, racismo e genética em debate científicos e controvérsias sociais. Salvador:
EDUFBA, 2017 (p.47-79).
O artigo questiona a cronologia convencional do conceito de raça que acredita que a raça deixou de
ser uma ideia cultural e passou a ser biológica, e depois voltou a ser cultural. O autor explora como a
ideia de raça se transformou ao longo do tempo, com ênfase no papel da ciência, e enfoca diferentes
discursos natural-culturais sobre os corpos, o meio ambiente e o comportamento. O autor argumenta
que é importante entender que "a natureza" não se limita apenas à biologia e que a natureza e a
biologia não implicam necessariamente determinismo, rigidez e imutabilidade. O autor conclui que o
conceito de raça está vinculado a muitos critérios e não há uma definição simples para ele. Em vez
disso, o autor esboça a trajetória do conceito e como os cientistas da natureza e da sociedade o têm
compreendido ao longo do tempo.
A CIÊNCIA RACIAL
O texto discute o conceito de raça durante o período em que se desenvolveram novas teorias raciais,
mostrando que não havia consenso entre os cientistas sobre como entender e explicar a diversidade
humana. A ciência revelava realidades ocultas e medições meticulosas eram feitas para provar que
europeus possuíam crânios maiores. As teorias geralmente dividiam a humanidade em quatro ou
cinco raças permanentes e distintas, organizadas em hierarquia, com europeus sempre no topo.
Alguns cientistas aderiram à teoria do poligenismo, propondo que as raças fossem espécies
biológicas com origens antigas distintas. A história da espécie humana era vista como um processo
evolutivo que ia das formas primitivas sociais da caça e da coleta, passando pela agricultura para
chegar à civilização europeia. No entanto, algumas raças eram vistas como estando paralisadas no
progresso e destinadas a permanecer em posição inferior.
POPULAÇÕES RACIAIS
O texto aborda a questão do conceito de raça na biologia e na sociedade. A declaração da UNESCO
de 1950 afirmou que a raça era apenas uma realidade biológica e não influía na inteligência nem
justificava hierarquias raciais. Em 1951, outra declaração permitiu a investigação da relação entre
raça e inteligência. Alguns psicólogos ainda defendem a relação entre raça e inteligência. Embora o
conceito de raça tenha sido questionado, em 1985, a maioria dos biólogos especializados em
comportamento animal e antropólogos biológicos acreditavam na existência de raças biológicas na
espécie humana. Com a sequenciação do genoma humano, os geneticistas afirmam que os grupos
raciais e étnicos diferem geneticamente e que essas diferenças têm implicações biológicas, como a
suscetibilidade a doenças. As "populações" ainda são tratadas como raças biológicas, embora às
vezes se evite o uso do termo "raça".
POPULAÇÕES RACIALIZADAS
O texto aborda a forma como a pesquisa genética, mesmo com objetivos antirracistas, acaba dando
base para pensar que as categorias sociais, incluindo as “raças”, atingem uma dimensão genética. Os
geneticistas utilizam critérios sociais e biológicos para identificar grupos para a amostra e produzir um
perfil genético desses grupos. No entanto, a amostra específica pode se converter no representante
de uma categoria muito mais ampla, criando vínculos entre categoria social e perfil genético. Além
disso, os estudos genéticos muitas vezes coletam amostras separadas de populações indígenas,
afrodescendentes e mestiças, apresentando-as como populações distintas em suas publicações,
mantendo essas classificações, apesar de que os dados demonstram que a imensa maioria das
populações latino-americanas são “mestiças”.
RAÇA E CORPORALIZAÇÃO
O texto discute a relação entre biologia e cultura no conceito de raça, e defende uma
abordagem que capture a flexibilidade da biologia sem ser determinista. Exemplos são
dados, como a influência da experiência na prática de esportes em diferentes contextos
culturais, e os efeitos do racismo na saúde física e mental de diferentes grupos raciais.
A ideia central é que a biologia é durável, mas não fixa, e é influenciada pela prática e
experiência. A proposta é ir além da divisão simplista entre biologia e cultura e
reconhecer como elas se entrelaçam.
TEXTO 4 - LÉVI STRAUSS, C. "Raça e História". In. Antropologia Estrutural Dois. São
Paulo: Ubu Editora, 2017 (p.337-376).
RAÇA E CULTURA
No trecho citado, o autor aborda a questão da contribuição das raças humanas para a civilização
mundial. Ele reconhece que destacar as contribuições específicas de cada grupo étnico para o
patrimônio comum pode parecer surpreendente em uma coleção de brochuras antirracistas, uma vez
que não há base científica para afirmar a superioridade ou inferioridade intelectual de uma raça em
relação a outra.
O autor ressalta que tentar caracterizar as raças biológicas por meio de propriedades psicológicas
específicas se afasta da verdade científica. Ele menciona que teorias racistas, como as de Gobineau,
concebiam as raças de forma desigual em valor absoluto e também diferentes em suas habilidades
particulares. No entanto, o autor argumenta que essa abordagem é um erro intelectual que leva à
legitimação involuntária de discriminação e exploração.
O autor enfatiza que, ao falar da contribuição das raças humanas para a civilização, não está
afirmando que os contributos culturais de diferentes continentes se devem às características raciais
dos habitantes. Em vez disso, ele sugere que a diversidade cultural está relacionada a circunstâncias
geográficas, históricas e sociológicas, não a características anatômicas ou fisiológicas dos grupos
raciais.
O autor destaca a importância da diversidade cultural, que é muito mais ampla do que a diversidade
racial. Ele argumenta que existem mais culturas humanas do que raças humanas e que duas culturas
desenvolvidas por indivíduos da mesma raça podem diferir tanto ou mais do que duas culturas de
grupos racialmente distintos.
Por fim, o autor levanta a questão de como explicar a disparidade de desenvolvimento entre a
civilização do homem branco e outras civilizações de cor, sem recorrer a aptidões raciais inatas. Ele
afirma que essa questão precisa ser examinada para evitar que preconceitos racistas sejam formados
em um novo contexto, e que a diversidade cultural está intimamente relacionada à questão da
desigualdade das raças humanas.
ETNOCENTRISMO
Lévi-Strauss começa observando que a diversidade cultural é muitas vezes considerada uma
monstruosidade ou escândalo, em vez de ser vista como um fenômeno natural resultante das
interações entre as sociedades. Ele aponta para a tendência das pessoas de repudiar formas
culturais diferentes das suas próprias, rejeitando-as como "selvagens" ou "estranhas".
Essa atitude de repúdio às culturas diferentes, de acordo com o autor, paradoxalmente reflete
características dos próprios "selvagens" que são rejeitados. Aqueles que negam a humanidade aos
outros, os considerados mais "selvagens" ou "bárbaros", estão imitando suas atitudes típicas. O
bárbaro, nesse contexto, é aquele que acredita na própria barbárie.
Lévi-Strauss argumenta que proclamações de igualdade natural e fraternidade entre todos os seres
humanos, sem distinção de raças ou culturas, podem ser enganosas, pois negligenciam a diversidade
cultural real que pode ser observada. Ele reconhece que a diversidade cultural existe, mas critica as
tentativas de suprimi-la através de especulações filosóficas e sociológicas que buscam estabelecer
compromissos entre emoções afetivas chocantes e a compreensão intelectual.
O autor também destaca a diferença entre o evolucionismo biológico e o evolucionismo cultural.
Enquanto o primeiro é baseado em observações e evidências físicas, o segundo é mais aproximativo
e metafórico, muitas vezes negligenciando a falta de conhecimento sobre instituições, crenças e
gostos passados. Ele argumenta que o evolucionismo cultural é uma apresentação conveniente dos
fatos, mas não possui o mesmo rigor científico que o evolucionismo biológico.
Em resumo, Lévi-Strauss desafia as atitudes de repúdio e a negação da diversidade cultural,
argumentando que tais atitudes refletem características daqueles que são rejeitados. Ele destaca a
complexidade da diversidade cultural e critica abordagens simplistas que buscam suprimi-la.
ACASO E CIVILIZAÇÃO
O autor argumenta contra a ideia de que as invenções surgiram por acaso ou por meio de eventos
fortuitos. Em vez disso, ele destaca que a criação de novas técnicas e invenções requer esforço
intencional, imaginação e experimentação.
O autor também discute a transmissão de conhecimentos técnicos entre gerações e afirma que as
sociedades primitivas não têm menos pessoas com capacidades inventivas do que as sociedades
modernas. No entanto, ele ressalta que a acumulação de conhecimento técnico ao longo do tempo é
um processo cumulativo e que a civilização ocidental tem sido particularmente prolífica nesse
aspecto.
O texto menciona a Revolução Neolítica e a Revolução Industrial como dois exemplos de períodos
em que houve uma multiplicidade de invenções orientadas na mesma direção. Essas revoluções
transformaram as relações humanas com a natureza e possibilitam outras transformações. O autor
também faz uma reflexão sobre a proeminência da Europa ocidental na Revolução Industrial, mas
ressalta que as questões de prioridade e orgulho nacional perdem significado ao longo de milênios.
Em resumo, o texto discute a natureza complexa das invenções e técnicas humanas, argumentando
contra explicações simplistas baseadas no acaso. Ele enfatiza a importância do esforço intencional,
da experimentação e da acumulação de conhecimento ao longo do tempo para o progresso
tecnológico e destaca a necessidade de considerar o contexto histórico, econômico e sociológico para
compreender as mudanças culturais.
COLABORAÇÃO DE CULTURAS
O autor argumenta que uma cultura isolada não seria capaz de desenvolver uma história cumulativa,
pois estaria limitada a pequenas séries de elementos e teria poucas chances de alcançar uma série
longa de progresso. No entanto, quando diferentes culturas se combinam e compartilham seus
resultados favoráveis, é possível construir uma história cumulativa.
O autor também discute a ideia de que não existe uma cultura superior a outra. A história cumulativa
não é uma propriedade intrínseca de determinadas raças ou culturas, mas sim uma forma de
existência das culturas, resultante de sua capacidade de se unir e colaborar. Culturas que se unem e
trocam conhecimentos têm mais chances de alcançar um desenvolvimento cumulativo.
Além disso, o autor menciona que a história cumulativa não está relacionada a uma raça ou cultura
específica, mas sim à conduta e às escolhas das sociedades. Ele argumenta que as contribuições
culturais não podem ser atribuídas a uma cultura em particular, pois muitas vezes são incertas e
podem surgir de diferentes fontes. Da mesma forma, as contribuições culturais podem ser divididas
em aquisições isoladas, de importância limitada, e sistemas mais abrangentes que refletem a maneira
única de cada sociedade expressar e satisfazer as aspirações humanas.
O autor também questiona a ideia de uma "civilização mundial" como beneficiária de todas as
contribuições culturais. Ele argumenta que essa noção é abstrata e pobre em conteúdo intelectual e
afetivo, e que avaliar as contribuições culturais apenas em relação a uma civilização mundial seria
empobrecê-las. Em vez disso, ele enfatiza a importância de reconhecer e valorizar as diferenças
entre as culturas, e a humildade de reconhecer que nem sempre é possível compreender
completamente a natureza de outras culturas.
Em resumo, o trecho discute a importância da colaboração e combinação de diferentes culturas para
o desenvolvimento cumulativo da história, e questiona a ideia de superioridade de uma cultura sobre
outra. Ele destaca a importância de reconhecer e valorizar as diferenças entre as culturas e enfatiza
que a contribuição cultural não pode ser reduzida a uma única entidade abstrata.
O autor argumenta que o progresso cultural depende da colaboração entre culturas diversas. No
entanto, essa colaboração pode levar à homogeneização das culturas, o que enfraquece as
possibilidades de progresso. O autor propõe duas soluções para esse paradoxo: a primeira é a
introdução de diferenças internas dentro de cada cultura, como desigualdades sociais, e a segunda é
a admissão de novos parceiros externos, como o imperialismo ou o colonialismo. Ambas as soluções
aumentam o número de jogadores e preservam a diversidade. No entanto, essas soluções são
apenas temporárias, pois as diferenças tendem a diminuir ao longo do tempo.
O autor sugere que a humanidade deve manter os extremos da colaboração e da diversidade
presentes em sua mente, evitando o particularismo exclusivo de uma raça, cultura ou sociedade, mas
também reconhecendo que uma humanidade unificada em um único estilo de vida é inconcebível e
prejudicial. O autor destaca a responsabilidade das instituições internacionais em lidar com essas
questões e afirma que elas devem trabalhar para preservar a diversidade das culturas, incentivando
novas formas de adaptação e sendo abertas a surpresas e rupturas. A tolerância é vista como uma
atitude dinâmica que promove o que pode ser, em vez de simplesmente aceitar o que foi. O objetivo é
alcançar uma colaboração entre as culturas que contribua para a generosidade mútua.