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A Riqueza Da Diversidade Humana

Introduçã o
Na História das Ciências encontramos muitos exemplos de desrespeito pela diversidade.
As próprias ciências humanas, como a Psicologia ou a Sociologia, participam na
construção social das categorias de diferença, muitas vezes racionalizando e
legitimando conceções dominantes e dominadoras de determinados grupos com mais
poder e visibilidade. Contudo, como é referido por alguns autores, existem vantagens na
diversidade humana, nomeadamente no âmbito da psicologia do desenvolvimento, que
reflete uma consciência crescente da necessidade de reconhecer o valor das diferenças
entre pessoas. Isto remete-nos para um tema muito interessante que é a riqueza da
diversidade humana.
Define-se ser humano como sendo um ser complexo dotado de bastantes capacidades,
contudo e apesar de sermos idênticos em muitos aspetos, em muitos mais somos
distintos, pois existe no ser humano uma diversidade a nível biológico, cultural e
individual.
Se aliarmos as diferenças estruturais e individuais da biologia, a heterogeneidade dos
elementos culturais, a diversidade dos contextos sociais e as experiências significativas
aí ocorridas, o leque de diversidade amplia-se, mostrando como é possível as pessoas
manifestarem características que as individualizam, tendo cada uma a sua forma de ser,
estar, sentir e se comportar.
Com este trabalho pretendemos ficar a conhecer mais sobre a riqueza da diversidade
humana, as diferentes variantes que esta engloba, as várias abordagens da mesma ao
longo da história, a sua importância e vantagens.

Índice
A Diversidade Humana

As vá rias abordagens à diversidade humana ao longo da


Histó ria ( dos conceitos gerais a partir das ciências sociais)
A humanidade sempre teve reações variadas pelas diferenças que percebiam entre si e
os vários povos com os quais tinham contato. Guerreiros, viajantes, comerciantes, e
lendas relatavam a seus pares, desde a mais remota antiguidade, as exoticidades dos
demais. As reações eram e são variadas: desde o medo e a repulsa, até a curiosidade e o
apreço.
Aspetos culturais e físicos imediatamente percetíveis da singularidade dos “outros”,
como vestimentas, ornamentos corporais, estatura, cor da pele, cabelos, olhos e língua,
ressaltavam a singularidade mais aparente. Os “costumes” mais estranhos e outras
diferenças mais profundas, porém, sobressaiam aos que tinham a oportunidade de passar
mais tempo entre os “estrangeiros”.
A maior parte das explicações sobre a diversidade humana sempre ressaltaram com
mais ênfase os aspetos negativos dos “outros”, tendo como parâmetro as características
positivas, físicas e culturais, dos povos sob cujo ponto de vista se pensava a diferença.
Chega-se até a negar a qualidade de “humano” aos demais povos. Podemos tomar como
exemplo os povos indígenas brasileiros que, nos primeiros séculos da colonização eram
designados por termos, no mínimo, desagradáveis, como “os agressivos selvagens” ou
outra característica repulsiva. Já nos primeiros séculos da colonização luso-espanhola, o
estatuto de “seres com alma” chegou a ser negado aos habitantes tradicionais das
Américas.
A esta atitude a antropologia chama de “etnocentrismo”, ou seja:
1)A tendência que tem uma pessoa ou um grupo social em interpretar a realidade a
partir dos seus próprios padrões culturais. Esta prática prende-se com o facto de
acharmos que a nossa própria etnia e as respectivas práticas culturais são superiores aos
comportamentos de outros grupos.
2) Uma atitude generalizada entre as sociedades humanas de valorizarem ao máximo
como as melhores e as mais corretas, as suas formas de viver; agir; sentir e pensar
coletivamente.
Muitos dos exemplos que pareçam demonstrar atitudes mais positivas em relação à
alteridade, podem encobrir na verdade o etnocentrismo. Rousseau, por exemplo, um
crítico da sociedade europeia, cunhou a ideia do “bom selvagem” e as cortes europeias
deleitavam-se com a exoticidade animal e humana do “Novo Mundo”.
Considera-se que, foi a partir do século XVI, com a expansão colonial europeia, que
características como a cor da pele e outros traços físicos dos povos encontrados por
exploradores passou a ser um aspeto privilegiado no imaginário europeu, como
marcador das diferenças entre os povos. Citando Camões, em Os Lusíadas, que, ao
descrever um encontro com um habitante da África, disse acerca daquela parte do
mundo:
“Onde jazem os povos a quem nega
O filho de Clymenes a cor do dia”
e ainda, mais adiante:
“ hum estranho...de pelle preta”
A partir desta época, igualmente, o pensamento europeu começou a desenvolver uma
forma específica de classificar e pensar “as coisas do mundo”.
A busca pelo conhecimento, que separou a religião e a filosofia e criou o método
científico, passou a desenvolver critérios de observação sistemática e de classificação
em hierarquias racionais que foram aplicados às novas formas de vida (vegetais,
animais e humanas) que passaram a ser estudadas.
Nesse sentido, os critérios de classificação das diversidades vegetais e animais foram
tomados como normas principais de demarcação das diferenças humanas.
Podemos considerar que as diferenças eram a própria matéria do pensamento, desde a
natureza à cultura, e que foi nesse encontro entre povos distantes que se levou a troca
simbólica a níveis tão intensos.
Darwin com a sua obra “A origem das espécies” foi um importante marco da revolução
metodológica que expressava uma “síntese revolucionária” na ciência classificatória
naturalista das espécies. A sua teoria da evolução biológica das espécies introduziu uma
visão dinâmica que desvinculou das ciências classificatórias naturais das explicações da
origem “inata” das diferenças entre as espécies. Não obstante, desde meados do século
XIX até meados do século XX, nos debates científicos sobre Raça, este pensamento
dinâmico não se havia consolidado. A obra de Darwin e de outros, com modelos
evolucionistas, levaram um longo tempo para se consolidarem nas Ciências Sociais que
se baseavam na construção de categorias como “tipos raciais” e “raças”.
Somente pouco antes da metade do século XX. esta se consolidou e o conceito de raça,
nas ciências antropológicas, foi substituído então pela categoria de “população”
construída a partir de critérios estatísticos, genéticos e socioculturais (extra-biológicos).
O clima do pós-guerra europeu, nos fins da década de 40 e na dos 50, trouxe reações
radicalmente contrárias aos fundamentos da eugenia levada ao extremo pela política
nazista. Esta transição foi significativamente marcada na Assembleia da UNESCO
(United Nations Educational and Scientific Organization) de 1949. Nesta Assembleia,
alguns intelectuais como Lévi-Strauss, foram convidados a participar e exerceram
influência no relatório final, contrária à ênfase na diversidade racial como explicativa de
fenômenos socioculturais e ambientais. A negação da diversidade biológica e sua
influência em certas características individuais dos grupos humanos, levou a uma reação
de geneticistas; biólogos e antropólogos físicos.
Às classificações da diversidades humana, baseadas na morfologia física e no conceito
de raça, sobrepunham-se igualmente aspetos do comportamento e formas de pensar e
sentir (aspetos socioculturais). O evolucionismo darwinista inspirara, inicialmente, uma
hierarquização da diversidade humana e das “raças” em que a “raça” branca estaria no
ápice da escala da evolução, devido à sua superioridade tecnologia e, acreditava-se,
moral.
Por influência do darwinismo social, o projeto de dar conta da diversidade cultural
levou os primeiros cientistas sociais a debruçarem-se sobre os relatos de viajantes,
exploradores e administradores coloniais que falavam do exotismo das sociedades ditas
“inferiores”, incivilizadas, simples, em relação a uma visão industrial da técnica , e,
finalmente primitivas por serem remanescentes de formas antigas da evolução das
sociedades humanas. O relativo isolamento geográfico dessas sociedades e povos
contribuiu para esta visão, mas a persistência dessas sociedades em resistir ao longo do
tempo de forma bastante diferente da tradição europeia colocou um problema crucial
para a visão evolucionista e etnocêntrica da diversidade humana, o que motivou
importantes mudanças em alguns conceitos a partir dos resultados das pesquisas com
“culturas diferenciadas” no interior das sociedades “complexas”, ou seja, da sociedade
ocidental.
A diversidade bioló gica
Somos biologicamente diferentes uns dos outros, exceto gémeos verdadeiros ou
homozigóticos, porque temos um genoma que varia de pessoa para pessoa.
A ciência moderna veio provar que o conceito de raça não existe. É possível
encontrarmos maiores diferenças genéticas entre indivíduos de uma mesma população
do que entre populações diferentes.
A passagem de informação genética dá-se de pais para filhos e os agentes responsáveis
são, efetivamente, cromossomas, genes e ADN. Por conseguinte podemos afirmar que a
informação genética transmitida vai ser diferente em todos os seres vivos (exceto em
gémeos homozigóticos) e, por tal somos todos geneticamente diferentes uns dos outros.
Na espécie humana também todos os cérebros apresentam características e
funcionalidades comuns, embora, sofram o processo de individuação, ou seja, de
distinção. Não existe nenhum cérebro igual a outro, nem mesmo no caso de gémeos
homozigóticos.
A hereditariedade individual assegura que somos todos únicos, dotados de um
património genético único.

A diversidade cultural
A diversidade cultural engloba diferenças como: as vestimenta, tradições, valores, e a
religião.
Sem esta diversidade, sem as possibilidades de desenvolvimento que nos proporciona
crescer num contexto cultural particular, seríamos seres incompletos, inacabados.
Nascemos, crescemos e vivemos em contextos socioculturais muito variados. É nestes
que se desenvolve, da interação com os outros e com os diferentes ambientes e situações
a aprender, a capacidade de criar e transformar subjacente ao processo de adaptação.
É também no contexto das relações com o meio, com uma determinada cultura e
sociedade, que cada ser humano se desenvolve com características próprias.
O processo de integração numa sociedade e cultura particular, indispensável para todos
nós, faz com que a diversidade cultural, dos contextos socioculturais onde estamos
inseridos, se traduza em formas distintas de ser, estar, pensar e de nos comportarmos,
perante os outros e em certas situações.

A diversidade individual
Somos todos diferentes, seres únicos e irrepetíveis. Esta diversidade torna-se muito
importante para a nossa adaptação e para o respeito e compreensão que devemos ter
pela diferença.
Todos nós somos seres autónomos e auto-determinados, porque somos capazes de
escapar a uma determinação biológica ou sociocultural. A influência das práticas e dos
significados socioculturais interage com a singularidade do nosso corpo, do nosso ponto
de vista e da nossa experiência do mundo. Esta dimensão pessoal é construída sempre
com referência a um certo contexto, onde se enquadram os significados e os valores que
atribuímos às pessoas e às experiências.
Ao acumular e ordenar as experiências vividas, ao atribuir e organizar os significados ao
que vai acontecendo, cada ser humano constrói a sua história pessoal.
Podemos também relacionar a esta diversidade individual o cérebro. Os nossos cérebros
são fisicamente diferentes uns dos outros, no entanto, o processo de individuação
ultrapassa as definições genéticas, porque as experiências vividas pelos indivíduos,
desde as intra-uterinas como ao longo da sua vida, marcam as estruturas do cérebro,
fornecendo assim a singularidade.
A importâ ncia e as vantagens da diversidade humana
Sermos diferentes traz vantagens inerentes como a aceitação pela diferença, embora
nem sempre isto aconteça. Há minorias que são alvos de discriminação pela sociedade.
Hoje em dia, as mentalidades são um pouco diferentes, mais abertas, mas o desrespeito
continua a existir.
Torna-se então, cada vez mais comum, os estudos e textos científicos onde se procura
conhecer diversas populações. Mas não basta incluir a diversidade nos estudos. É
preciso que estes sejam sensíveis ás populações que estudam, que evitem formas de
“imperialismo cultural”, onde é imposta uma visão estranha a essa população.
É preciso também valorizar a especificidade de cada grupo ou pessoa, tendo em conta
que as suas características próprias e a força e competência que estas lhe conferem, e
saber fazê-lo numa visão respeitadora e compreensiva.
Para desenvolver a nossa autonomia é necessário crescer e viver num meio que o
permita, onde nos sintamos apoiados e respeitados, para tornar o mundo mais justo e
igual.
A diversidade humana tem inúmeras vantagens, como:
● Pode ser um fator de aprendizagem, na medida em que o convívio com pessoas
diferentes multiplica as hipóteses de efetuar novas aprendizagens;
● Pode ser um fator de abertura e tolerância, na medida em que o convívio com
outras pessoas desbrava horizontes, levando-nos à descoberta de valores que nos
deixarão mais ricos;
● Ajuda a tornar o mundo mais justo e igual, pois ao convivermos com pessoas
diferentes aprendemos a aceitar, respeitar, e compreender os outros, o que leva á
criação de uma sociedade mais integrante;
● A diversidade humana traz também benefícios no emprego visto que as questões
éticas e morais devem ser ultrapassadas e, uma sociedade cultural, com ideias
diferentes, é uma mais-valia às comunidades e empresas;
● Pode ser também uma forma de desenvolvimento intelectual, visto que a
coexistência com outras pessoas oferece um número superior de possibilidades
de exercitar as nossas competências mentais;
● Pode ser um fator de progresso cultural, visto que a diversidade possibilita a
renovação em todas as culturas.

Conclusã o
Com este trabalho ficámos mais elucidadas em relação à tamanha riqueza da
diversidade humana e a sua importância.
Compreendemos que é na diversidade, na diferença de cada um a realizar e organizar as
várias dimensões que reside a riqueza do ser humano. É por isso importante que todos
nos tornemos mais atentos às diferenças, mais dispostos a escutá-las e a percebê-las,
para que seja possível uma compreensão mais abrangente de nós e dos outros, para que
nos possamos desenvolver de forma mais completa, mais humana e mais digna.
Quanto mais forem as diferenças mais são os valores por nós adquiridos através delas,
maior vai ser a nossa capacidade de aprender e interiorizar o conceito de justiça.
Todavia, se não houver confronto de ideias, crenças, valores e comportamentos,
também não há espanto, descoberta e possibilidade de optar.
O problema não está nas diferenças entre cada um de nós, mas sim na incapacidade que,
muitas vezes temos, em torná-las semelhanças.

Webgrafia

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