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Cultura um conceito antropológico

Laraia, R. d. (2000). Cultura um conceito antropológico: Primeira parte,


59p. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor

Cristina Montibeller da Silva¹

Um trabalho elabora da primeira parte do livro “Cultura um


conceito antropológico” escrito por Roque de Barros Laraia em sua 14º
edição. Um texto elaborado com clareza e simplicidade de palavras e
didática com o intuito de simplificar o entendimento antropológico para
aqueles que se inicia no tema, ou apenas busca um entendimento do
mesmo, fazendo análises entre a nossa sociedade e as sociedades
tribais na busca de um desenvolvimento de conceito de cultura, para
que assim tenhamos uma compreensão da diversidade cultural em um
mundo tomado de estranheza e rejeição do diferente. Um livro muito
utilizado em faculdades como forma de introduzir os estudantes
iniciantes no mundo antropológico, e nas disciplinas de ciências sociais.

Na primeira parte o livro “Da natureza da cultura ou Da


natureza á cultura”, é tratado o dilema que é ”a conciliação da unidade
biológica e a grande diversidade cultural da espécie humana”, tema que
até nos dias atuais ainda gera polêmicas. Citando renomados
historiadores como: Heródoto (484-424 a. c.) descrevendo o
comportamento dos lícios; Tácito (55-120) em relação às tribos
germânicas; Marco Polo viajante italiano em suas viagens pela China e
outras partes da Ásia; Padre José de Anchieta (1534-1597) com seus
estudos patrilineares dos tupinambás; Montaigne (1533-1572) que
procurou não se espantar com os costumes tupinambás livre de
etnocentrismo, dizendo não ter nada de bárbaro ou selvagem no que diz
respeito deles, porque “na verdade cada um considera bárbaro o que
não se pratica na sua terra”; e Confúcio que quatro séculos antes de
Cristo dizia “A natureza dos homens é a mesma, são seus hábitos que
os mantem separados”; o arquiteto romano Marcus V. Pollio que afirma
que os povos do sul tem inteligência aguda, e o povo do norte tem uma
inteligência preguiçosa; Ibn Khaldum filósofo árabe do século XVI que
acreditava que habitantes de clima quente tinha uma natureza
passional, e os do norte faltava sua vivacidade; entre outros.

Essas diferenças culturais são encontradas até hoje no mundo


contemporâneo, como o transito de Inglaterra, a carne de vaca proibida
para os hindus e o nudismo em praias europeias. Todos esses exemplos
servem para mostrar que os comportamentos não podem ser explicados
através da biologia ou ambientes geográficos.

Para esclarecer isso temos o determinismo biológico, onde os


antropólogos estão convencidos de que as diferenças genéticas não são
determinantes para as diferenças culturais, onde “qualquer criança
humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada
desde o inicio em situação conveniente de aprendizado”. A espécie
humana se diferencia anatômica e fisiologicamente, mas isso não é
determinante em diferenças de comportamento, e sim as atividades
atribuídas a estes, chamado de endoculturação.

E o determinismo geográfico considerando as diferenças


ambientais como diversidade de cultura, também foi refutada por Boas,
Wissler, Kroeber e outros. Alegando que existem diferenças culturais
entre povos das mesmas regiões e clima, como os lapões e os
esquimós. Outro exemplo são os Xinguanos e os Kayabi que vivem
dentro dos limites do Parque Nacional do Xingu, mais se diferenciam em
cultura como a caça e etc.

Edward Taylor (1832-1917) formalizou o primeiro conceito de


cultura, que já vinha se ganhado consciência desde Locke (1632-1704),
ele sintetizou a palavra cultura em “tomado em seu amplo sentido
etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte,
moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. As definições
posteriores a Taylor serviu mais para estabelecer uma confusão do que
ampliar os limites do conceito, esclarece nesse livro que cultura não é o
resultado de erudição, e sim um “comportamento aprendido, tudo aquilo
que independe de uma transmissão genética, como diríamos hoje”. A
definição de cultura uma tarefa primordial para os antropológia moderna.

Krober afirma que “o homem é o resultado do meio cultural em


que foi socializado, ele é herdeiro de um longo processo acumulativo,
que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas
gerações que o antecederam”.

A ideia da cultura foi desenvolvida junto com o equipamento


biológico e é uma característica única da nossa espécie, junto com a
capacidade de andar e um adequado volume cerebral. Terminando a
primeira parte desse livro temos a conclusão de que a compreensão da
palavra cultura, e o mesmo que a compreensão da natureza humana,
restando a afirmação de que “Os antropólogos sabem de fato o que é
cultura, mas divergem na maneira de exteriorizar este conhecimento”.

Nesse livro Laraia elaborou com uma surpreendente clareza de


palavras e concretos exemplos antropológicos, que nos surpreende ao
perceber como cada sociedade tem suas particularidades, totalmente
distintas uma das outras, e com renomados historiadores e antropólogos
especialistas cada um em suas áreas, através de um relativismo cultural
nos induz a conceitos de extrema importância para o entendimento do
mesmo, nos fazendo pensar sobre o diferente, como todos os grupos
sociais tem suas particularidades e devemos observa-los com um olhar
etnocêntrico, ou seja, sem preconceito, sem achar que o meu modo de
vida é o certo, e sim tentar entender e aceitar o modo de vida do outro.
E comprovou antropologicamente que o determinismo biológico e
determinismo geográfico não definem a cultura, e sim os conhecimentos
transferidos de geração para geração num longo processo de evolução.
E que a diferenciação entre sexo não é biológica e sim através
endoculturação, onde são determinados papeis sociais específicos para
homens e mulheres, sendo ambos capazes de realizar as mesmas
tarefas. Nos levando através de um estudo histórico do conceito de
cultura, quebrando estereótipos de que cultura é um processo de
erudição, e esclarecendo que cultura um é processo de aprendizado
daquilo que se vive em certa sociedade.

¹ Cristina Montibeller da Silva, acadêmica do 2º periodo de direito na


Faculdade Metropolitana de Parauapebas.

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