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Universidade Mussa Bin Bique

Faculdade de gestão e contabilidade

Abel Ernesto

Bibiana Gessique Fahamo

Célia Adriano

Júlia Mocubela Comando

Martinho Rosário

Trabalho de Antropologia Cultural

Cultura: Um Conceito Antropológico

Nampula, Março de 2022

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Universidade Mussa Bin Bique
Faculdade de gestão e contabilidade

Abel Ernesto

Bibiana Gessique Fahamo

Célia Adriano

Júlia Mocubela Comando

Martinho Rosário

Trabalho de Antropologia Cultural

Cultura: Um Conceito Antropológico

Trabalho de carácter avaliativo no âmbito da


cadeira de Antropologia Cultural, 2º ano de
frequência, curso de Licenciatura em ensino
de História com habilitações em ensino de
Geografia, leccionada pela,

MA.

Nampula, Março de 2022


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Cultura: Um Conceito Antropológico

“Cultura: um conceito antropológico”, de Roque de Barros Laraia, professor emérito da UnB, é


uma obra clássica, publicada pela primeira vez em 1986. O autor a inicia com uma breve
apresentação, na qual situa o leitor quanto aos seus propósitos: discutir o conceito antropológico
de cultura por meio de um texto didático e, portanto, bastante claro e simples. Para isso, utiliza
exemplos ricos e variados, tomados emprestados de autores nacionais e estrangeiros. O livro está
dividido em duas partes:

A primeira parte do livro, (da natureza da cultura ou da natureza à cultura), traz um breve
histórico do desenvolvimento do conceito de cultura, desde os iluministas até os autores
modernos e está dividida em seis abordagens referentes à visão sobre cultura, conforme
detalhamento adiante: Capítulo 1: O determinismo biológico; Capítulo 2: O determinismo
geográfico; Capítulo 3: Antecedentes históricos do conceito de cultura; Capítulo 4: O
desenvolvimento do conceito de cultura; Capítulo 5: Ideia sobre a origem da cultura; Capítulo 6:
Teorias modernas sobre cultura

Na segunda parte do livro (como opera a cultura) há uma divisão em cinco aspectos relacionados
à operação da cultura, conforme detalhamento a seguir: Capítulo 1: “A cultura condiciona a
visão de mundo do homem”; Capítulo 2: “A cultura interfere no plano biológico”; Capítulo 3:
“Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura”; Capítulo 4: “A cultura tem uma lógica
própria”; Capítulo 5: “A cultura é dinâmica”.

Traz ainda, em anexos, dois textos independentes que enriquecem o conteúdo da obra, além de
uma vasta bibliografia, caso o leitor queira aprofundar mais seus conhecimentos sobre o tema.

PRIMEIRA PARTE: Da natureza da cultura ou da natureza à cultura

No princípio da primeira parte, o autor mostra a preocupação de estudiosos em relação a outros


povos e compara as várias visões desses pesquisadores de diferentes épocas. Para iniciar as
discussões, Laraia faz um breve histórico sobre o desenvolvimento do conceito de cultura. Para
isso, cita Heródoto, que considerava os costumes dos lícios diferentes de todas as outras nações
do mundo, onde este estava tomando como referência a sua própria sociedade patrilinear, agindo
de uma maneira etnocêntrica, embora ele tenha teoricamente renegado esta postura.

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Capítulo 1: O Determinismo Biológico

Para Laraia, são velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a
"raças" ou a outros grupos humanos. Contudo, os antropólogos estão totalmente convencidos de
que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais.

Segundo Felix Keesing, “não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres
genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana normal pode
ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de
aprendizado”. Nesse sentido, enfatiza Laraia que compartilha do pensamento de que as diferenças
genéticas/somáticas não determinam diferenças culturais, isto é, que o determinismo biológico
não influencia o aprendizado e o engendramento de determinada cultura, processo denominado
pelo autor como endoculturação.

Capítulo 2: O determinismo geográfico:

O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a


diversidade cultural. Estas teorias, que foram desenvolvidas principalmente por geógrafos no
final do século XIX e no início do século XX, ganharam uma grande popularidade. Como
Huntington, em seu livro Civilization and Climate (1915), no qual formula uma relação entre a
latitude e os centros de civilização, considerando o clima como um factor importante na dinâmica
do progresso. A mesma linha de refutação é encontrada no segundo capítulo em relação ao
determinismo geográfico, que hipoteticamente influenciaria a cultura dos povos, por se
encontrarem em espaços físicos diferentes. O autor defende que a cultura age selectivamente e
não casualmente e que através de centenas de estudos sobre vários povos, foi possível constatar
que mesmo nos mesmos ambientes, haviam culturas diferentes e que existiam culturas bastante
semelhantes em espaços físicos diferentes.

Capítulo 3: Antecedentes históricos do conceito de cultura;

Já neste capítulo, o autor começa a discorrer da historicidade do conceito de cultura, dando


continuidade após ter se referido a mesma no final do segundo capítulo como factor de
diferenciação da espécie humana em relação às demais. O autor recorre, como ponto crucial, à
definição de cultura proposta por Edward Tylor como sendo o “complexo que inclui
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer outros hábitos adquiridos pelo

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homem como membro da sociedade”, (Laraia, 2001, P. 25), aludindo que tal conceito é uma
síntese de vários pensamentos com a mesma linha ideológica, os quais se desenvolveram em
vários estudos como os de John Locke, Turgot, Rousseau, autores que tentavam quebrar o
raciocínio da relação entre natural e cultural, como domínios que se interagem directamente.

Capítulo 4: O desenvolvimento do conceito de cultura

No quarto capítulo, o autor expõe a visão de Tylor sobre o campo da Antropologia Cultural
equiparado às ciências naturais, isto é, segundo ele, de acordo com o estudo das culturas, pode-se
verificar que esta também possui leis e características de ordem natural, organizadas e embasadas
em alicerces elementares, como por exemplo, a “unidade psíquica da humanidade”. Nesse
contexto, Tylor defende que a Antropologia Cultural tem um objecto de estudo científico, assim
como as demais ciências. A grande diversidade de culturas então seria explicada pelo grau
desigual do processo de evolução, mas que mesmo assim apresentariam semelhantes
características essenciais. Tais conclusões seriam descobertas através de uma análise comparativa
histórica, levando-se em consideração os efeitos das condições psicológicas e meios ambientes,
método mais tarde chamado de “particularismo histórico” por Boas. Ainda no mesmo capítulo, o
autor expõe as ideias de Kroeber e sua visão do ser humano como único ser capaz de criar seu
próprio processo evolutivo, ao “superar o orgânico”. Segundo Krober, ao invés de mudar o
aparato biológico, a cultura é que seria adaptada aos diferentes ambientes ecológicos.

Capítulo 5: Ideia sobre a origem da cultura

Neste capítulo, o autor começa a problematizar a origem da cultura como parte unicamente do ser
humano. Nesse ponto, expõe algumas teorias, como a de Leackey e Lewin e o desenvolvimento
da visão eteroscópia, bem como a capacidade de pegar os objectos com as mãos (factores
resultantes de uma vida arborícola); a de Pilebam e o bipedismo; Oakley e o desenvolvimento de
um cérebro mais volumoso e complexo; Lévi-Strauss e a teoria da invenção da primeira norma;
White e a elaboração dos símbolos; Ao final, o autor critica que tais teorias induzem a um
aparecimento espontâneo do início da cultura, sendo partidário de que o aparecimento da cultura
se deu contínua e lentamente, juntamente com o próprio equipamento biológico.

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Capítulo 6: Teorias modernas sobre cultura

As teorias modernas com a missão de restabelecer o conceito de cultura são explanadas no sexto
capítulo da obra. O autor se vale do esquema proposto por Keesing, que divide as teorias em dois
grandes grupos: as que tratam da cultura como sistema adaptativo (cultura como sistemas de
padrões de comportamento socialmente transmitidos, analogia entre mudança cultural e selecção
natural, tecnologia e economia de subsistência como bases e reguladores da cultura); e as teorias
idealistas de cultura (cultura como sistema cognitivo, como sistemas estruturais, como sistemas
simbólicos). O autor finaliza com a idéia de que delimitar o conceito de cultura é conhecer a
própria natureza humana, revelando, pois, uma tarefa de perene reflexão humana.

SEGUNDA PARTE: Como opera a cultura

Nesta segunda, Laraia se dispõe a mostrar, de início, como a cultura condiciona a visão do mundo
do homem. Para o autor, “o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa,
os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma
herança cultural, ou seja, o resultado de uma acção de uma determinada cultura”.

Capítulo 1: “A cultura condiciona a visão de mundo do homem

Este capítulo como inicial da segunda parte traz diversos exemplos de como o ser humano, em
decorrência da cultura, pode ter comportamentos diferentes, possuindo o mesmo aparato
biológico. A princípio, alguns comportamentos fisiológicos básicos deveriam ser iguais por
questões somáticas, como acontecem com os outros seres vivos, mas apresentam grandes
diferenças em determinadas culturas, em decorrência do próprio processo de endoculturação,
como por exemplo o riso, a sexualidade, o parto, o modo de comer, a própria comida e a visão do
espaço.

Capítulo 2: “A cultura interfere no plano biológico”

O segundo capítulo abrange a influência da cultura em questões biológicas mais complexas,


determinantes de saúde e de sobrevivência. Exemplos como perda de referências culturais
(apatia), crenças, saudades e outros factores podem interferir no plano biológico dos seres
humanos e comprometer seu funcionamento somático equilibrado, levando-os muitas vezes à
morte. Já em outros casos, as crenças e hábitos podem ser capazes de curar, restabelecendo o bom
funcionamento biológico dos seres humanos. Este capítulo revela como determinada cultura é
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capaz de transpassar barreiras somáticas através do processamento psicológico e solucionar
problemas biológicos que em outras culturas pode não ser eficaz.

Capítulo 3: Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura

No capítulo seguinte, o autor demonstra que a participação de um indivíduo em sua cultura é


limitada e diversa. Tanto as limitações como as participações do indivíduo em sua própria cultura
podem ser determinadas por diferentes factores como por exemplo o sexo, a idade e costumes.
Mais do que isso, esses factores também podem diversificar e limitar papéis de maneira diferente
em outras culturas, isto é, papéis desempenhados por determinados indivíduos de uma cultura
podem ser desempenhados por outros em outra cultura.

Capítulo 4: A cultura tem uma lógica própria

O quarto capítulo dedica-se a explicar os princípios de juízos e raciocínios de cada cultura como
sendo lógicos, por mais que pareçam ilógicos para as outras culturas. Acaba por tratar de que
todas as culturas possuem a sua lógica Isto porque, nas palavras do autor, Muito do que supomos
ser uma ordem inerente da natureza não passa, na verdade, de uma ordenação que é fruto de um
procedimento cultural, mas que nada tem a ver com uma ordem objectiva. (Laraia, 2001, P. 89).
Assim, a compreensão do mundo em cada cultura é lógica.

Capítulo 5: “A cultura é dinâmica”.

A característica do dinamismo da cultura é tratada no capítulo quinto, tendo como causa principal
a capacidade que tem o ser humano de questionar os seus próprios hábitos e modificá-los. Em
outras palavras, a cultura é sempre alterada de forma mais rápida ou mais lenta, dependendo de
cada cultura, isto porque o ser humano é capaz de rever SUS princípios e sempre busca uma
forma de aperfeiçoá-los ou transformá-los. O autor ainda alude a dois tipos de mudança cultural:
a interna (resultante de uma catástrofe, inovação tecnológica ou uma dramática situação de
contacto); e a resultante do contacto de um sistema cultural com um outro. Ao afirmar que todas
as culturas estão sempre em constante mudança, o autor demonstra a importância de se entender
tal processo, já que se poderá ser mais tolerável aos novos comportamentos e, além disso, com os
comportamentos de outras culturas.

Bibliografia

Laraia, R. B. (2007). Cultura: um conceito antropológico. (21ª ed.). Zahar: Rio de Janeiro.
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