Você está na página 1de 5

ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO

1. Introdução
A ansiedade de separação pode ser vista como um medo intenso da separação de uma figura
vinculadora (normalmente, a mãe), que causa prejuízos sociais e escolares visíveis. Conforme
Silveira e outros (2007), diferente das outras ansiedades, no TAS encontramos apenas a
preocupação excessiva da separação da figura de referência afetiva da criança, com prejuízos no
desenvolvimento infantil, no desempenho escolar e nas relações sociais.
É comumente associada a um efeito negativo ocorrente com alguém próximo, podendo ser desde
uma viagem longa, doença ou até mesmo a morte de um ente querido. Causa sinais sintomáticos,
tais como: dor de cabeça, dor de barriga, tonturas, náuseas e até vômitos. A Terapia Cognitivo
Comportamental pode auxiliar no tratamento com crianças, adolescentes e adultos na recuperação
emocional, na identificação dos pensamentos disfuncionais e com técnicas aplicadas para a redução
do medo apresentado.

2. O Medo e a Ansiedade
Conforme Oguma (2010), o medo é uma emoção humana universal e, tanto as crianças e
adolescentes, quanto os adultos podem e devem experimentá-lo fisiologicamente. O medo é
benéfico na conservação da espécie, na medida em que serve de resposta adaptativa em muitas
situações adversas.
Silveira e outros (2007) explica que o medo é considerado uma emoção humana universal em todas
as faixas etárias e é um traço adaptativo fundamental para a conservação de todas as espécies,
entretanto, quando em excesso ou ativado no contexto errado pode estar relacionado a patologias de
ansiedade.
De acordo com Ribeiro (1989) o medo e ansiedade são sentimentos comuns, normais, que servem
para nos proteger. O medo geralmente se refere a um objeto ou a uma situação muito definida.
Temos medo do perigo imediato. Já a ansiedade se caracteriza por uma sensação desagradável de
tensão e apreensão. Fazendo antecipar um perigo futuro, que pode ou não acontecer. No entanto,
ambos são sentimentos úteis. O medo protege do perigo e salvaguarda nossa integridade física. Já a
ansiedade, enquanto resposta emocional a uma situação, também pode nos estimular na realização
de uma tarefa, tornando-nos atentos.

3. Ansiedade de Separação
Para Echeverria (2003), é característica inata do ser humano ser apegado aos pais. Segundo a teoria
da evolução do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), o bebê já nasce com uma série de
comportamentos que conquistam os adultos, como o riso, o olhar e até o choro. O problema pode
surgir quando os pais confundem apego natural com dependência e esquecem que tão importante
quanto apegar-se aos pais é aprender a se separar deles.
Quando a criança está por volta dos 2 anos de idade, já é capaz de compreender que o fato de os
pais estarem longe não significa ter sido abandonada, mas essa confiança, entretanto, vai depender
de como esses vínculos foram criados na família.
Segundo Suveg e cols. (2005), citado por Vianna e outro (2009), o transtorno de ansiedade de
separação caracteriza-se pela ansiedade excessiva em função do afastamento de casa ou de figuras
de vinculação. A reação emocional exagerada diante do afastamento dos pais também pode fazer
parte do funcionamento normal de crianças muito pequenas.
 Este comportamento pode ser frequentemente observado em crianças até a idade pré-escolar,
devido à insegurança gerada pela ausência dos cuidadores. A ansiedade de separação se configura
como um transtorno quando se torna inadequada para o grau de desenvolvimento ou quando
interfere no funcionamento da vida diária do indivíduo.
Conforme o DSM-IV-TR (APA, 2000), para que a criança seja diagnosticada com Transtorno de
Ansiedade de Separação, deve preencher cinco critérios. Sendo que para o Critério A, deve
apresentar pelo menos 3 dos sintomas, sendo esses: (1) sofrimento excessivo ou recorrente frente à
ocorrência ou previsão de afastamento de casa ou de figuras importantes de vinculação; (2)
preocupação persistente ou excessiva acerca da possível perda ou perigos envolvendo figuras
importantes da vinculação; (3) preocupação persistente e excessiva de que um evento indesejado
leve à separação de uma figura importante de vinculação; (4) relutância persistente ou recusa a ir
para a escola ou qualquer outro lugar, em virtude do meda da separação; (5) temor excessivo e
persistente ou relutância de ficar sozinho ou sem as figuras importantes da vinculação em casa ou
sem adultos significativos em outros contextos; (6) relutância ou recusa persistente a se recolher
sem estar próximo a uma figura importante de vinculação ou a pernoitar longe de casa; (7)
pesadelos repetidos envolvendo o tema de separação; (8) repetidas queixas de sintomas somáticos
quando a separação de figuras importantes de vinculação ocorre ou é prevista. Assim, nos demais
critérios, temos: A perturbação deve ter duração mínima de 4 semanas, iniciar antes dos 18 anos,
causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social e não ocorrer
exclusivamente durante outro transtorno.
Podem ser muitos os motivos e/ou causas a desencadear o Transtorno de Ansiedade de Separação,
devendo haver uma busca dedicada do terapeuta a fim de localizar o real motivo, assim melhorando
o foco das técnicas e tratamento a serem aplicados.
De acordo com Lima (2012), cabe destacar que várias situações podem influenciar o surgimento de
sintomas de ansiedade. Cada caso deve ser avaliado individualmente, mas alguns fatores são
relatados na literatura, como mudanças de escola ou domicílio, doença de algum membro familiar
ou separação conjugal. Não raro, com acesso a reportagens que destacam a vulnerabilidade humana
a eventos sociais aversivos, como sequestros relâmpagos, assassinatos e assaltos a mão armada, eles
sentem o perigo mais próximo e, assim, temem que algo ruim aconteça a si mesmo ou com seus
familiares.
Conforme Silveira e outros (2007), o diagnóstico precoce é fundamental para um tratamento
adequado e respectiva remissão dos sintomas, evitando-se, assim, um prejuízo maior decorrente da
especificidade sintomatológica.
4. Tratamento e Técnicas Utilizando a Teoria Cognitivo
Comportamental
Lima (2012) explica que a terapia cognitivo-comportamental utilizada com crianças que possuem
ansiedade de separação e se recusam a ir ou permanecer na escola por medo de separar-se de seus
pais ou figura de vínculo preconiza o retorno à escola (exposição-alvo). No entanto, essa exposição
deve ser gradual para permitir que ocorra a habituação à ansiedade, respeitando as limitações da
criança e seu grau de sofrimento e comprometimento. Deve haver, também, sintonia entre a escola,
os pais e o terapeuta quanto aos objetivos, conduta e manejo. As intervenções familiares objetivam
psicoeducar a família sobre o transtorno, auxiliá-la no manejo para aumentar a autonomia e
competência da criança e reforçar positivamente suas conquistas.
A psicodeducação é uma técnica e estratégia educativa para promover a compreensão do problema.
Utiliza-se, para isso, recursos audiovisuais e materiais gráfico/instrucional (manuais). Aborda-se a
etiologia da doença, a epidemiologia, o prognóstico e os diferentes tratamentos existentes (KNAPP,
2008). De acordo com Lima (2012), algumas recomendações são válidas para prevenir este
transtorno:
 Desde cedo, diante dos afastamentos dos pais, estes devem sinalizar para onde irão e quando
devem retornar, porém, com certa “margem de erro”. Por exemplo, “volto quando o sol se
pôr”, “venho para te colocar para dormir”. Se for dar uma saída e for demorar, não adianta
dizer que volta logo, ou estipular os minutos (“volto em dez minutos”). Recomenda-se
estabelecer as horas para mais, para evitar os atrasos em virtude dos imprevistos. Não é
recomendada a “saída à francesa”.
 Recomenda-se que a despedida seja algo natural. Coloca-se em evidência as questões
satisfatórias que os filhos terão contato na escola (o melhor amigo, a aula da disciplina que
tem afinidade, os paqueras) e não o afastamento ou as exigências (por exemplo, “não me
ligue!”).
 Alguns pais, em momentos de irritação, podem ameaçar o abandono do lar diante do
comportamento inadequado da criança visando a diminuição da frequência deste. Por
exemplo, “se você fizer isso de novo, eu vou embora e não volto mais!”. Em brigas
conjugais, esta fala também é comum. Diante de crianças ansiosas, então, não se recomenda
este tipo de verbalização, pois ela provoca ansiedade e deixa a criança alerta quanto à
possibilidade deste perigo.
 Incentive-o a brincar, o contato com os colegas e o lazer. Quando estão em um contexto com
estímulos satisfatórios, estas situações concorrem com as preocupações, fazendo com que o
medo fique em segundo plano.
 Diante do medo da criança, jamais afirme a sua invulnerabilidade a eventos como doença,
morte ou mazelas sociais, apenas mude o foco, apontando as evidências que não favorecem
o perigo. Por exemplo, se o adolescente revelar o medo de ficar sozinho em casa, lembre-o
da segurança que possui no momento, que reduz a probabilidade de que algo ruim aconteça,
como o porteiro, a trava da porta ou a cerca elétrica.
Na abordagem cognitivo-comportamental são utilizadas outras técnicas para auxiliar na recuperação
das atividades sociais e escolares normais e a diminuição gradativa do medo, sendo estas:
Economia de Fichas - É uma estratégia de intervenção da Análise Aplicada do Comportamento que
introduz contingências de reforçamento para resposta(s) considerada(s) adequada(s) pelo terapeuta.
Estas contingências de reforçamento geralmente são apresentadas em forma de fichas, pontos ou
qualquer outro tipo de estímulo reforçador condicionado que possa sinalizar reforçamento em
momento posterior. Assim, estas fichas podem ser trocadas por atividades, alimentos, objetos ou
outro tipo de estímulo reforçador previamente definido, podendo, também, de acordo com Zambom
(2006) serem retiradas quando acusado comportamento inadequado.
Cartões-Lembretes – Sugere-se que a criança escreva ou desenhe a ideia principal que possibilitará
o enfrentamento das situações temidas em um cartão, o qual permanecerá consigo e será utilizado
sempre que necessário. É importante que o cartão esteja com a criança sempre que estiver
enfrentando uma situação ansiogênica, a fim de que ela possa consultá-lo com facilidade
(SILVEIRA et al, 2007).
Baralho da emoções - O Baralho das Emoções é um “instrumento facilitador do acesso às emoções
infantis na clínica cognitiva”, capaz de promover “mudanças clínicas significativas conforme as
especificidades de sua aplicabilidade”. Trata-se de um instrumento muito útil para trabalhar-se com
crianças, área onde a criatividade do terapeuta joga com um papel decisivo para o sucesso da
abordagem das situações clínicas (CAMINHA, 2010).
Flexa Descendente – Essa técnica tem como objetivo identificar as principais situações que a
criança descreve como ansiogênicas e as respectivas emoções. O terapeuta utiliza perguntas, tais
como:”Se for assim o que pior poderá acontecer? E o que aconteceria depois? O que há de tão ruim
nisso?” Esses questionamentos possibilitarão identificar as crenças da criança em relação às
situações temidas, assim como auxiliará na compreensão da lógica de seu raciocínio (SILVEIRA et
al, 2007).
Questionamento socrático - O processo socrático fornece a estrutura pela qual a criança identifica,
testa e reavalia as importantes generalizações cognitivas que utiliza para interpretar e compreender
seu mundo. O processo é estruturado e envolve algumas etapas distintas, cada uma com um
propósito específico. Além de basear-se no uso cuidadoso do questionamento sistemático para guiar
a criança por um processo em que suas definições universais serão identificadas e avaliadas
criticamente (KNAPP, 2008).
Treinamento em Relaxamento – Respiração Diafragmática - Visa estimular o sistema nervoso
autônomo parassimpático para propiciar uma sensação de relaxamento. Deve explicar ao cliente
como proceder à respiração (KNAPP, 2008). Com a criança, pode-se utilizar situações lúdicas como
“cheirar a flor e assoprar a vela”, para melhor interação.
RPD - O objetivo do registro de pensamentos disfuncionais é de facilitar que a criança lembre-se de
eventos, pensamentos e sentimentos. Serve para registrar cognições e reações, bem como examinar,
avaliar e/ou modificar tais cognições. O RPD é um procedimento utilizado por diversos transtornos
mentais no tratamento cognitivo comportamental. Ele visa proporcionar ao paciente reconhecer a
relação entre as situações ambientais ativadoras, pensamentos automáticos, sentimento e
comportamento, bem como para que o paciente entenda melhor seu humor, criar mudanças de
comportamento desejadas e a mudar os pensamentos que interferem em seus relacionamentos
(BECK, 1997).
5. Considerações Finais
Todos nós somos formados pelo bio-psico-social, sendo assim, a criança é e traduz muito do meio
onde está inserida. Situações vividas, momentos traumáticos, manejo dos pais e emoções sentidas
influenciam no comportamento e pensamento dessas crianças.
A ansiedade de separação é um transtorno comum na infância e na adolescência. A criança sente
medo intenso e transforma-o em sintomas físicos que prejudicam sua vida social, assim como seu
rendimento escolar. Esses prejuízos acarretam angustia tanto para os pais, quanto para as próprias
crianças, que reconhecem o seu comportamento disfuncional, a fim de sanar as queixas de muitos
pais e crianças, a escolha pela psicoterapia é imprescindível. Sendo necessário o envolvimento,
além da criança e do terapeuta, dos pais e da escola.
A TCC – Terapia Cognitivo Comportamental – utiliza-se de muitas técnicas e associações dos pais e
das crianças, com o intuito de gradativamente excluir os comportamentos inadequados do medo,
assim, consequentemente os sintomas físicos apresentados.
Enfim, conforme Lima (2012) o risco é inerente à vida. O ser humano é vulnerável e a vida é finita.
Mas tais preocupações na infância acabam reduzindo o brilho da vida que se vê com mais clareza
apenas nesta fase da vida. Assim, a utilização da terapia focada na abordagem cognitivo
comportamental, com a utilização de diversas técnicas, é necessária para a exclusão gradativa dos
sintomas e reestruturação da vida social.

Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicologia-cognitiva/mae-nao-vai-embora-ta-a-
ansiedade-de-separacao-na-infancia © Psicologado.com

Você também pode gostar