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GERAL E
JURÍDICA
Introdução
Somos herdeiros daquilo que pode ser chamado de “a aposta grega” —
a ideia de que existe o bem, o belo, o justo e a verdade, e de que somos
capazes de conhecê-los. Essa aposta, que ecoa ainda nos dias de hoje,
foi concebida pelo esforço conjunto de grandes filósofos como Sócra-
tes, Platão e Aristóteles. Ela foi a mola propulsora que nos mobilizou em
direção a novos horizontes, preenchendo a lacuna deixada pelos mitos
e determinando as bases para o desenvolvimento cultural, científico e
tecnológico da humanidade.
Neste capítulo, você aprenderá sobre o marco fundamental da filosofia
do Direito na Antiguidade grega, algumas das ideias centrais de Sócrates,
Platão e Aristóteles, e um pouco sobre o objeto e método em filosofia.
Sócrates
Sócrates, que acreditava que a filosofia era uma atividade que deveria ser
realizada nas ruas da pólis e em conversa com os seus concidadãos, não
nos legou qualquer texto de sua autoria. A despeito disso, as suas ideias
6 Filosofia do Direito na Antiguidade
O método socrático foi chamado por ele mesmo de maiêutica. No grego antigo,
tal palavra significa “a arte de dar à luz” e faz referência à atividade da parteira.
Inspirado na atividade da sua mãe, Fenareta, cuja profissão consistia em fazer o parto
de crianças, Sócrates entendia que a atividade do filósofo era parir o conhecimento
nos homens. Em linhas gerais, é possível explicar a maiêutica como uma técnica
fundada em três etapas:
1. perguntar para o interlocutor questões como “o que é o conhecimento?”, “o que
é a justiça?”;
2. após a definição do interlocutor, apresentar uma série de problemas e questio-
namentos que fazem o interlocutor duvidar da própria resposta ou entrar em
contradição;
3. estimular o interlocutor para que encontre novos caminhos de resposta, de modo
que, em função da repetição continuada de tal processo, o interlocutor seja capaz
de chegar a respostas mais elaboradas e complexas do que aquelas que possuía
no início do diálogo.
Platão
Platão foi maior discípulo de Sócrates. Notabilizado pelos seus diálogos, Pla-
tão foi o grande responsável por manter as ideias de Sócrates vivas até hoje.
Credita-se a ele a fundação da primeira instituição de ensino, a Academia,
cujo modelo serviu de inspiração para a criação das universidades. Os diálogos
platônicos são muito ricos e variados, tratando de diversos temas, como o
conhecimento, a ética, a política, a lógica, a linguagem, etc.
Embora não seja fácil separar aquilo que é propriamente platônico
daquilo que é puramente socrático, a tradição distingue os diálogos em
três fases:
Figura 3. A escola de Atenas (Rafael, 1509–1511, afresco, Vaticano). Perceba Sócrates apon-
tando para cima, em clara referência à teoria das ideias, e Aristóteles apontando para baixo,
referindo-se ao conceito de que as ideias das coisas são extraídas das próprias coisas.
Fonte: Serato/Shutterstock.com.
Aristóteles
Se é verdade que Sócrates foi o homem mais sábio do seu tempo, é difícil competir
com Aristóteles (o grande discípulo de Platão) pelo posto de maior gênio da história
da humanidade. Não é de graça que ele é e sempre será mencionado no estudo
de praticamente qualquer campo do conhecimento. Além de ser o idealizador da
estrutura científica em áreas do saber tal qual conhecemos, ele também foi o grande
organizador do conhecimento. Assim como Platão, também fundou um centro
de ensino, o Liceu, cujo foco central era ensinar as ciências (possuindo biblioteca
e uma espécie de museu de ciências naturais). Embora a maioria das obras de
Aristóteles tenha se perdido e tudo que a história nos legou não passe das notas
que utilizava para apresentar as suas aulas, o que restou é suficiente para atestar
o seu brilhantismo. Para o presente momento, basta que você guarde duas coisas:
Aristóteles foi um crítico ferrenho da teoria das ideias de Platão. Ele en-
controu nela um problema que hoje é conhecido como “o problema do terceiro
homem”. Isto é, se precisamos postular um mundo das ideias para conhecer as
coisas do mundo sensível, então também precisaríamos de um terceiro mundo
para fazer a ligação entre o primeiro e o segundo. Porém, se precisássemos de
um terceiro mundo para ligar os dois primeiros, também seria necessário um
quarto mundo para estabelecer a conexão entre o terceiro e os dois primeiros.
Assim, um regresso ao infinito seria inevitável e, a rigor, o conhecimento das
coisas seria impossível. Contra isso, Aristóteles defendeu que as ideias das
coisas são extraídas, por abstração, das experiências que temos das próprias
coisas. Com base nisso, entre outras coisas, ele formulou a famosa ideia de
definição por gênero próprio e diferença específica, que serviu para categorizar
as coisas e que utilizamos até os dias de hoje (por exemplo, que o gênero do
homem é animal e a diferença específica é ser racional).
No que diz respeito à ética, à política e ao Direito, o filósofo as concebia
como complementares. No momento, basta que você saiba que Aristóteles
entendia a ética como a disciplina que estuda a conduta humana com vista à
felicidade. Esta, por sua vez, só seria possível no contexto de uma sociedade
que educasse e propiciasse os homens a cultivar as virtudes. É por isso que,
como mencionado anteriormente, Aristóteles considerava o homem um animal
político. Além disso, a propósito do Direito e da justiça, assim como os seus
antecessores, Aristóteles a entendia como uma virtude. Entre outras coisas, ele
é o responsável por distinguir uma série de acepções do termo justiça (justiça
universal, particular, distributiva, corretiva, doméstica, política, legal e natural).
aquilo que não possui razões indubitáveis para acreditar. É valendo-se desse
método que Descartes, em Meditações, chega na famosa conclusão “Penso.
Logo, existo”. Pois, mesmo que possa duvidar de tudo, enquanto duvido não
posso duvidar que estou duvidando. E como duvidar é um modo de pensar,
também é incontestável que, enquanto duvido, estou pensando. Agora, se não
é possível pensar sem existir, e dado que estou pensando ao colocar tudo em
dúvida, existo indubitavelmente.