Você está na página 1de 68

FÍ MAT

S

Q
O
BI
O
LP
IS
H

281 Capítulo 2 ...............242


O

Módulo 4 .............259
GE

Módulo 5 .............265
Módulo 6 ............ 271
fi a
so
lo
Fi

L
C
SO

FI
S
RE
1. Physis e anthropos 244
2. A proposta socrática 246
3. De Sócrates a Platão 248
4. A filosofia de Aristóteles 253
5. Organizador Gráfico 258
Módulo 4 – Filosofia clássica:
Sócrates 259
Módulo 5 – “Mundo das Ideias”
e “Mundo dos Sentidos”: Platão 265
Módulo 6 – Aristóteles e a ética 271

• Perceber de que forma ocorre a


articulação da argumentação de
propostas filosóficas específicas.
• Reconhecer relações entre orientações
filosóficas específicas e distintas.
• Identificar motivações de ordem
pessoal para o desenvolvimento de
reflexões filosóficas.
• Identificar as produções filosóficas da
filosofia clássica.
• Exercitar a capacidade de
problematização de temas filosóficos.
• Elaborar a defesa de determinada
ideia filosófica acerca do “ser”, do
conhecimento e da ação por meio de
exercício argumentativo.
• Articular diferentes referências
filosóficas e discursos, percebendo
semelhanças e diferenças entre as
estruturas textuais.
• Analisar a filosofia socrática comparada
à filosofia dos pré-socráticos.
• Desenvolver textos a partir de
discussões de temas filosóficos em
sala de aula.
• Analisar a importância dos valores
éticos na construção das sociedades.
ANASTASIOS71/SHUTTERSTOCK
Vista atual de Atenas, capital da Grécia. Na Antiguidade
Clássica, na condição de cidade-Estado – cujos vestígios
arquitetônicos podem observados na Acrópole, no
centro da imagem –, Atenas viu nascer as preocupações
filosóficas de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Filosofia clássica grega


2
243

Neste capítulo, abordaremos o nascimento e o desenvolvimento da filosofia


clássica grega.
1. Physis e anthropos
2

Vale recordar: a filosofia rompeu com a mitologia quan-

AKG-IMAGES/NEWSCOM/GLOW IMAGES
do renunciou às explicações das coisas e das situações que
281

apelavam para os deuses, buscando na matéria a origem do


Universo, o princípio. Ocorria, assim, a passagem da cosmo-
gonia para a cosmologia, segundo os estudiosos.
Em nossos estudos, conhecemos as propostas dos pen-
sadores, chamados de físicos, para a compreensão da origem
do cosmos. Observamos que as proposições eram variadas
Filosofia

e algumas até mesmo opostas, como as afirmações de He-


ráclito e de Parmênides. Isso criava um mal-estar entre os
seguidores de proposições tão diversas. O discurso lógico
apresentava tais afirmações como verossímeis, mas uma não
anulava a outra. Mais: seria possível atestar que uma afirma-
ção era verdadeira em detrimento de outra?
Foi nesse clima de debate, em que as cidades ganhavam
dinamismo e muitas discussões eram realizadas na Ágora
(praça pública) por homens considerados cidadãos, que
Ciências Humanas e suas Tecnologias

houve uma primeira mudança no pensamento filosófico. As


cidades se estruturavam por meio de instituições políticas
que deveriam expressar um consenso sobre as normas que
deveriam reger a sociedade. Para muitos, a fixação da lei na
forma escrita era fator de garantia da ordem, um elemento
que impediria a anarquia na pólis.
A situação era propícia às discussões em torno dos prin-
cípios que deveriam nortear a vida comunitária. Em que o Protágoras de Abdera viveu na época de Sócrates. É um dos
debate dos filósofos físicos contribuía para isto? À primeira representantes dos sofistas e, entre suas considerações a
respeito do justo, teria afirmado: Das coisas belas, umas são
vista não parecia haver qualquer contribuição: se os filósofos belas por natureza e outras por lei, mas as coisas justas não são
se desentendiam em relação ao princípio do Universo, como justas por causa da natureza, os homens estão continuamente
poderiam ajudar a estabelecer princípios para a organização disputando pela justiça e a alteram também continuamente.
da pólis? Foi nessa aparente incapacidade dos físicos em res-
ponder de forma definitiva e unívoca a respeito da origem, da Para os sofistas, bem abastecidos de informações e co-
arché do Universo, que muitos pensadores começaram a se nhecedores da arte de persuasão pela palavra, a justiça não
preocupar não com o resultado da afirmação, se verdadeira era natural ou divina, fruto de um princípio, de uma physis,
244

ou falsa, mas com o caminho para o convencimento a respei- porque dependia de leis convencionadas pelos homens por
to de algo. Vejamos da seguinte forma: meio da argumentação, da palavra. Isso era muito claro para
Havia lógica no discurso veiculado por este e aquele pen- esses pensadores: se existem leis diferentes em cada cida-
sador? Se a resposta fosse positiva, o resultado é que o dis- de e a justiça é feita com base nelas, a justiça não é natural,
curso seria acreditável, mas não necessariamente verdadei- não é physis, é convenção. Os próprios deuses existem pela
ro, no sentido de uma verdade estática, fixa, pois, se um outro physis ou pela convenção? Respondiam: pela convenção, in-
discurso chegasse a outra conclusão acreditável usando o tegram o nomos, pois povos diferentes possuem deuses dife-
mesmo expediente lógico e convencesse, também poderia rentes por convencioná-los de forma distinta. Concluía-se daí
ser considerado verdadeiro. que a justiça era relativa e as divindades também. O que era
Afinal, o que era a verdade? Para alguns pensadores dessa a verdade, então? A verdade era relativa. Relativa ao discurso
época grega, era o que ficasse estabelecido por consenso, por pronunciado e à sua capacidade de convencimento.
meio de um discurso concatenado, lógico. Percebemos, então, Se tudo era por convenção, tudo podia ser ensinado. Os
que houve, um deslocamento, no interior da filosofia, do obje- sofistas eram os professores requisitados em várias cidades
to em si afirmado para o discurso que o afirmava, que o elegia no mundo grego, para o ensino da arte da persuasão. Ganha-
como uma verdade. Isso trazia uma questão nova, se o foco está vam para ensinar os cidadãos a usar a palavra para convencer
no discurso, quem o emite? O ser humano? E, se assim o faz, sobre esta ou aquela questão a ser decidida pela pólis.
a questão do conhecimento se encontra nos enunciados e ar-
gumentos – no discurso e em sua retórica –, e não na matéria. A. A Ágora e a Acrópole de Atenas
Esses pensadores que iniciaram um novo percurso na filo- A cidade em que os pensadores eram mais requisitados
sofia foram os sofistas. Consideravam que a verdade era relativa, era Atenas, pois ali se desenvolveu um modelo político que
pois dependia de convencimento lógico, de argumentação fun- franqueou aos homens, independentemente do grau de ri-
dada na defesa de uma ideia. Nesse sentido, há um deslocamen- queza, a participação na vida política. Esse modelo político fi-
to claro, preciso, da natureza, da physis (matéria), para o nomos cou conhecido na história como democracia. Havia restrições
(nomeação, convenção), algo fundamentalmente humano. Se a a estrangeiros, a homens atenienses cujos pais não eram
questão do conhecimento passa, de forma necessária, pelo dis- nascidos na pólis, às mulheres e aos escravos, mas a demo-
EMI-15-20

curso que o enuncia e o homem é o verbalizador, então, a filosofia cracia, para a época, representava uma ampla participação
deverá tratar do homem, do anthropos. dos cidadãos nos assuntos comuns relativos à sua cidade.
Nas palavras de Péricles, legislador ateniense que con-

HARRY GOUVAS

2
duziu Atenas em seu esplendor democrático:
Nossa constituição nada tem a invejar dos

281
outros: é modelo e não imita. Chama-se demo-
cracia porque age para o maior número e não
para uma minoria. Todos participam igualmen-
te das leis concernentes aos assuntos públicos
[…]. Nem a pobreza nem a obscuridade impe-
dem um cidadão capaz de servir à cidade […].

Filosofia
Permanecemos submetidos aos magistrados e
às leis, sobretudo àquelas que protegem con-
tra a injustiça. […] Os mesmos homens podem
dedicar-se aos seus negócios particulares e aos
do Estado; os simples artesãos podem entender
suficientemente de questões políticas. Somente A era de Péricles, idealizada por Phillipp von Foltz, em 1853.
nós consideramos quem delas não participa um
inútil, e não um ocioso. É por nós mesmos que Para Péricles, era fundamental que todos participassem
decidimos os negócios da cidade e deles temos dos assuntos públicos e o debate era essencial para a ação.

Ciências Humanas e suas Tecnologias


uma ideia exata: para nós, a palavra não é nociva Assim, a palavra era eleita como o caminho do entendimento
à ação; o que é nocivo é não informar-se pela e da justiça. E quem conhecia bem os mecanismos do discur-
palavra antes de se lançar à ação […] so, da lógica, da retórica e que podia contribuir para o governo
Discurso de Péricles. In: MOSSÉ, Claude. As instituições democrático? Muitos em Atenas respondiam: os sofistas.
gregas. Lisboa: 70, 1985. p. 157.

Representação da Ágora e da Acrópole de Atenas no século V a.C.

ACRÓPOLE
Parthenon

Assembleia

RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL

245
Casa da
Casa da Fonte
moeda
Cadeia

Pórtico Sul Tribunal Strategeion


Via da
Panateneia ÁGORA Pritaneu
Templo de
Buleutérion Hefesto
Altar dos Pórtico
12 deuses de Zeus

Pórtico
Real

A Ágora era um espaço central da vida na pólis, lugar onde os cidadãos se reuniam para debater e deliberar os assuntos
comuns, as questões públicas. Atenas conheceu o esplendor de sua democracia no século V a.C. e a Ágora recebeu
milhares de cidadãos interessados em contribuir para a organização da cidade e da vida coletiva.
EMI-15-20

Percebemos, dessa forma, que as questões dos físicos sobre a origem material do Universo ficavam em segundo plano. O
importante eram as visões que podiam ser construídas pelo discurso e que legitimavam, por sua lógica interior, algo passível de
ser considerado verdadeiro. Se havia convencimento, havia mental o diálogo, a conversa. Por meio do diálogo crítico e não
2

uma verdade. do monólogo, prática comum dos sofistas que monopolizavam


Existia um mal-estar, pois alguns pensadores imagina- a palavra, seria possível o questionamento para se atingir o
281

vam que talvez a busca por uma resposta física à existência conceito, dando, dessa forma, vazão à verdade.
do Universo estivesse equivocada, mas que a proposta so- A prática do diálogo envolveria o recurso à ironia (eiróneia),
fista também era prejudicial à busca da verdade, pois era um uma espécie de refutação da resposta do interlocutor, mostran-
jogo retórico de construção de imagens que mais iludia, que do que aquilo afirmado por este era apenas uma aparência de
mais enganava o homem, do que contribuía para o conheci- conhecimento. De acordo com a professora Marilena Chaui:
mento. Um homem que se destacou neste campo foi o cida- Diferentemente dos sofistas, Sócrates não se
Filosofia

dão ateniense Sócrates. apresenta como professor. Pergunta, não respon-


Górgias de Leontina, outro pensador sofista do século de. Indaga, não ensina. Não faz preleções, mas
V a.C., também afirmou não existirem verdades morais ab- introduz o diálogo como forma da busca da ver-
solutas, pois tudo dependia do que fosse convencionado dade. Essa foi a razão de não haver escrito coisa
entre os homens como sendo o certo – e isso poderia va- alguma. [...] Na primeira parte, feita a pergunta,
riar de acordo com o tempo, com as situações de cada mo- Sócrates comenta as várias respostas que a ela
mento: “Nada existe que possa ser conhecido; se pudesse são dadas, mostrando que são sempre precon-
ser conhecido não poderia ser comunicado; se pudesse ceitos recebidos, imagens sensoriais percebidas
ser comunicado não poderia ser compreendido”. Esse foi ou opiniões subjetivas e não a definição buscada.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

o relativismo sofista combatido por Sócrates. Esta primeira parte chama-se ironia (eiróneia), isto
é, refutação com a finalidade de quebrar a solidez
aparente dos preconceitos. Na segunda parte, Só-
2. A proposta socrática crates, ao perguntar, vai sugerindo caminhos ao
Sócrates não escreveu seus ensinamentos: nada escrito interlocutor até que este chegue à definição pro-
por ele foi encontrado. As informações mais significativas a curada. Esta segunda parte chama-se maiêutica
seu respeito foram deixadas por seu discípulo, Platão. Alguns (maieutiké), isto é, a arte de realizar um parto; no
estudiosos questionam a existência de Sócrates, afirmando caso, parto de uma ideia verdadeira.
que Platão teria criado um personagem para dar vazão às CHAUI, Marilena. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São
suas ideias. Independentemente de sua existência física ou Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 189, 190.
de sua personificação por Platão, devemos considerar atenta- Sócrates teria, dessa forma, estabelecido uma proposta
mente suas colocações. diferente para o conhecimento. Escapava da filosofia física
por buscar a verdade num conceito, em algo além do Mundo
Material, utilizando-se das palavras. Por meio delas, procu-
rava trazer a verdade à luz, diferentemente dos sofistas que
Assista ao vídeo sobre a vida do pensador
grego Sócrates, disponível em: usavam a palavra sem se preocuparem em buscar a essência
246

<https://www.youtube.com/ das coisas. Sócrates, nesse sentido, teria iniciado a metafí-


watch?v=mQiQqPsQ4Bs>. Acesso em: 3 ago. 2014. sica, ou seja, o conhecimento além (meta) da física, sendo
este conhecimento antropológico, por dizer respeito ao ho-
mem. Abria-se, por meio de Sócrates, um espaço novo para a
Sócrates teria se inconformado com a ação dos sofistas filosofia: esta passava a fazer questionamentos a respeito do
para os quais a verdade dependia de como se falava e se con- “bem”, do “belo”, ou seja, do ético e do estético.
vencia. Achava que a prática sofista criava apenas uma apa- A filosofia era uma contribuição genuinamente grega que,
rência de conhecimento (doxa) não revelando a verdade (alé- no confronto de proposições, alargava o campo do conheci-
theia). Para Sócrates, o homem que amava o conhecimento não mento, transferindo o debate da physis para o anthropos. Só-
o criava pela palavra, como os sofistas faziam, mas fazia com crates, entretanto, por mais que exercesse o diálogo crítico,
que ele viesse à luz. O filósofo não cria a verdade, mas ajuda-a a por mais que encaminhasse a discussão sem a preocupação
aparecer. É como se fosse o parteiro do conhecimento. Esta me- de ensinar, como os sofistas faziam, cada vez que questiona-
táfora expressava com clareza sua visão a respeito do assunto: va concluía que, quanto mais sabia, mais sabia que menos
a parteira não havia criado a criança, mas contribuía, ajudava, sabia. E este parecia ser o beco sem saída do conhecimento.
para que ela viesse à luz. Era assim que o filósofo devia agir. Daí Havia como escapar disso?
sua proposta ser conhecida por maiêutica (maieutiké), palavra Foi seu discípulo, Platão, que forneceu uma teoria do
grega referente à parteira, à arte da parturejar, de trazer à luz. conhecimento propriamente dita, na tentativa de resolver o
Na visão de Sócrates, os sofistas atuavam no universo desafio socrático do conhecimento. Trataremos dessa impor-
da opinião e não no da verdade. Para se chegar à verdade, em tante contribuição de Platão em seguida.
primeiro lugar, deveríamos partir do pressuposto de que não a
temos, de que somos ignorantes. O ponto de partida deveria ser
o saber-se ignorante, pois, se o homem achasse que sabia a
verdade, continuaria no mundo das aparências e dos precon- Assista ao vídeo que aborda a maiêutica e uma
ceitos, não atingindo o conhecimento de fato. O homem deveria reconstrução do julgamento de Sócrates.
também perguntar qual era o fundamento racional daquilo que Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=m8uEPvl-
EMI-15-20

falava e pensava, ou melhor, quais as razões rigorosas para di-


l5M>. Acesso em: 4 ago. 2014.
zer o que dizia e pensar o que pensava. Para tanto, era funda-
Sócrates criticou os sofistas, abrindo o caminho para o debate em torno da verdade como
algo não convencionado, mas sempre existente e que deveria vir à luz a partir do diálogo

2
DIMITRIOS/SHUTTERSTOCK e não do monólogo comum aos sofistas. A ruptura com os sofistas aconteceu quando
Querofonte, amigo de infância de Sócrates, consultou o Templo de Delfos e perguntou quem

281
era o homem mais sábio de todos os gregos e a sacerdotisa respondeu-lhe: Sócrates. Ao
receber a notícia de Querofonte, Sócrates teria entrado em crise, pois sua consciência
lhe dizia que, apesar de seu conhecimento, era um ignorante. Contudo, o Oráculo de
Delfos informava que ele era o mais sábio e isso lhe causava um problema: como ele
poderia ser sábio se desconfiava ser ignorante? Concluiu que sua sabedoria estava em
saber-se ignorante. Este seria o ponto de partida para o conhecimento verdadeiro.

Filosofia
MUSEU METROPOLITANO DE ARTE, NOVA IORQUE, EUA

Ciências Humanas e suas Tecnologias


A pintura A morte de Sócrates, idealizada por Jacques-Louis
David, em 1787, representa um homem preocupado com a verdade
que, em sua busca, foi condenado ao exílio – ostracismo – ou
à morte, sua opção, pelo envenenamento com cicuta.

O julgamento e a condenação de Sócrates, assim como a defesa feita por ele próprio, foram narrados por Platão no livro
Apologia de Sócrates. Vejamos as palavras de Sócrates:
De fato, senhores, temer a morte é o mesmo que julgar-se sábio quem não o é, porque é julgar que
sabe o que não sabe. Ninguém sabe o que é a morte, nem se, por ventura, será para o homem o maior
dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior dos males. A ignorância mais condenável
não é essa de julgar saber o que não sabe? É talvez nesse ponto, senhores, que eu me diferencio do
comum dos homens; se em alguma coisa me posso considerar mais sábio que alguém é nisto de, não
sabendo o bastante sobre o Hades [1], não pensar que o saiba. Sei, contudo, que é mau e vergonhoso
praticar o mal, desobedecer a um melhor do que eu, seja deus, seja homem; por isso, na alternativa com

247
males que conheço como tais, jamais fugirei de medo do que não sei se será um bem.
Por conseguinte, mesmo que agora me dispensásseis, desatendendo ao parecer de Ânito, segundo o qual,
antes do mais, ou eu não devia ter vindo aqui, ou, já que vim, é impossível deixar de condenar-me à morte,
asseverando ele que, se eu obtiver absolvição, logo todos os vossos filhos, pondo em prática os ensinamen-
tos de Sócrates, estarão completamente corrompidos; mesmo que, apesar disso, me dissésseis: “Sócrates,
por ora não atenderemos a Ânito e te deixamos ir, mas com a condição de abandonares essa investigação
e a filosofia; se fores apanhado de novo nessa prática, morrerás”; mesmo, repito, que me dispensásseis com
essa condição, eu vos responderia: “atenienses, eu vos sou reconhecido e vos quero bem, mas obedecerei
antes ao deus que a vós; enquanto tiver alento e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de vos dirigir
exortações, de ministrar ensinamentos em toda ocasião àquele de vós que eu deparar, dizendo-lhe o que
costumo: ‘meu caro, tu, um ateniense, da cidade mais importante e mais renomada por sua cultura e pode-
rio, não te envergonhas de tentares adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te importares
nem cogitares da razão, da verdade e de melhorar quanto mais a tua alma?’” E se algum de vós retrucar que
se importa, não irei embora deixando-o, mas o hei de interrogar, examinar e confundir e, sem me parecer
que afirma ter adquirido a virtude e não a adquiriu, hei de repreendê-lo por estimar menos o que vale mais
e mais o que vale menos. É o que hei de fazer a quem eu encontrar, jovem ou velho, estrangeiro ou cidadão,
principalmente aos cidadãos, porque me estais mais próximos no sangue. Tais são as ordens que o deus me
deu, ficai certos. E eu acredito que jamais aconteceu à cidade maior bem que minha obediência ao deus.
Nada mais faço a não ser andar por aí convencendo-vos, jovens e velhos, a não cuidar com tanto afin-
co do corpo e das riquezas, como de melhorar o mais possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não
provém a virtude para os homens, mas da virtude provêm os haveres e todos os outros bens particulares e
públicos. Se com esses discursos corrompo os jovens, seriam maléficos esses preconceitos; se alguém afir-
mar que digo outras coisas e não essas, mente. Por tudo isso, atenienses, diria eu, quer atendais o Ânito, quer
não, quer me dispenseis, quer não, não hei de fazer outra coisa, ainda que tenha de morrer muitas vezes.
[1] Na mitologia grega, o deus das profundezas subterrâneas; o mesmo nome se dava aos domínios do deus,
os Infernos, banhados pelos rios Aqueronte, Cócito, Flegetonte, Lete e Estige. (N. do T.)
EMI-15-20

PLATÃO. Apologia de Sócrates. In: Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 55-57. Os Pensadores.
2
APRENDER SEMPRE 20
281

01. UEM-PR
Sócrates representa um marco importante da história da filosofia; enquanto a filosofia pré-socrática se preocupava com o
conhecimento da natureza (physis), Sócrates procura o conhecimento indagando o homem. Assinale o que for correto.
01. Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante dos seus juízes, os princípios éticos da sua filosofia.
02. Discípulo de Sócrates, Platão utilizou, como protagonista da maior parte de seus Diálogos, o seu mestre.
04. O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutica e a ironia.
Filosofia

08. Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro pelos seus ensinamentos.
16. Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria, com isso, sinalizar a necessidade de adotar uma nova atitu-
de diante do conhecimento e apontar um novo caminho para a sabedoria.

Resolução
01. Incorreta: em nome de sua ética, Sócrates sujeitou-se à pena imposta pela cidade de Atenas, ingerindo cicuta e colo-
cando fim à sua vida.
08. Incorreta: Sócrates abominava a cobrança em troca de conhecimento, oferecendo seus ensinamentos gratuitamente
a qualquer um que se dispusesse a acompanhá-lo.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

Resposta: 22 (02 + 04 + 16)

3. De Sócrates a Platão A teoria do conhecimento construída por Platão tem


Já nos deparamos várias vezes com expressões do tipo: por tarefa sair do “beco sem saída” de Sócrates: afinal qual
“amor platônico”, “visão idealizada” ou “mundo ideal”. Tais ex- seria a verdade subjacente do mundo? Se Sócrates, quan-
pressões estão umbilicalmente ligadas ao desenvolvimento to mais sabia, mais percebia que menos sabia, como dar
da filosofia grega pós-socrática, pois os questionamentos de uma resposta mais sábia que esta afirmando algo no mun-
Sócrates a respeito da verdade estimularam reflexões entre do além da ignorância? Como atingir algo que pudesse ser
seus seguidores. A campanha socrática contra o sofismo, afirmado constante, eterno, não mutável que garantisse
mais particularmente a oposição de Sócrates ao caráter mo- uma confiança ao conhecimento?
vediço das afirmações dos sofistas e à ideia de que a verdade Platão refletiu sobre isso e imaginou a existência de um
248

nada mais era do que uma convenção, fez discípulos. O termo mundo à parte, em que houvesse estabilidade, por oposição
“platônico” diz respeito a um dos seus seguidores, com certe- ao nosso, marcado pela transitoriedade das coisas. De suas
za o maior deles, Platão. reflexões, aos poucos, foi se constituindo uma teoria bem
arquitetada, uma composição bem convincente.
Ora, se o problema da instabilidade está nas coisas, no
MUSEU METROPOLITANO DE ARTE, NOVA IORQUE, EUA

Mundo Material, e se, para nos referirmos a este mundo,


utilizamos a palavra, por que não considerar que a palavra
é o índice da ideia? E, se a ideia existe, ela sempre será
igual a si, sempre se encontrará imóvel na sua condição de
ideia. Por exemplo, se falamos cadeira, temos a sua ideia
de forma estática, mas a cadeira, em termos materiais,
pode mudar e até deixar de ser uma cadeira, mas a ideia
continuará, imperiosa. Não estaria aí a verdade? Na ideia?
Aqui encontramos o pensamento de Platão, a sua teoria
das ideias, e poderemos compreender o que é o mundo
idealizado que muitos afirmam ainda hoje e qual o conteúdo
intrínseco a ele.

A. “Mundo das Ideias”: o mundo verdadeiro


Platão (427 a.C.-347 a.C.) era cidadão de Atenas, filho de uma das O filósofo considerou que deveria existir um mundo além
mais tradicionais famílias dessa cidade-Estado. É em razão de seus deste, um mundo metafísico, em que a verdade se expressava
escritos, como A apologia de Sócrates, O banquete e A república, entre
outros, que sabemos do pensamento de Sócrates. Após a morte de
plenamente. Esse mundo seria incorruptível, um Mundo Inteli-
seu mestre e por estar desencantado com a política de Atenas, Platão gível por oposição ao Mundo Material.
empreendeu uma série de viagens. Retornando posteriormente a A questão colocada por Platão era: como estabelecer a
Atenas, fundou nos arredores da pólis uma escola chamada Academia, diferença entre a percepção do Mundo Material e a do Mundo
EMI-15-20

onde escreveu e ensinou até a sua morte. Foi na Academia que Platão das Ideias?
recebeu o mais importante dos seus discípulos, Aristóteles de Estagira.
Sua resposta foi dada da seguinte forma: os sentidos Conforme Platão coloca no livro 7 de A República:

2
nos informavam a respeito do Mundo Material, enquanto o E agora, deixa-me mostrar, por meio de uma
pensamento nos informava o Mundo Ideal. Assim, o caráter comparação, até que ponto nossa natureza hu-

281
cambiante estava vinculado às sensações que captamos na mana vive banhada em luz ou mergulhada em
matéria, na physis, enquanto a verdade estava inserida na sombras. Vê! Seres humanos vivendo em um
capacidade de raciocínio, no pensamento que acessava as abrigo subterrâneo, uma caverna, cuja boca se
ideias das coisas. abre para a luz, que a atinge em toda a exten-
Platão criou um mundo à parte, em que a perfeição sig- são. Aí sempre viveram, desde crianças, tendo
nificava a verdade, expressa em ideia, mas como atingir este as pernas e o pescoço acorrentados, de modo

Filosofia
mundo? Na Alegoria da Caverna percebemos com nitidez o que não podem mover-se, e apenas veem o que
percurso do filósofo rumo ao conhecimento. está à sua frente, uma vez que as correntes os
impedem de virar a cabeça.
B. A Alegoria da Caverna Acima e por trás deles, um fogo arde a certa
A alegoria nos informa que homens estavam acorrenta- distância e, entre o fogo e os prisioneiros, a uma
dos em uma caverna, voltados para uma parede ao fundo, de altura mais elevada, passa um caminho. Se olha-
onde conseguiam enxergar algumas sombras projetadas. Tais res bem, verás uma parede baixa que se ergue ao
projeções eram o resultado de movimentos de seres e obje- longo desse caminho, como se fosse um antepa-
tos nunca vistos pelos prisioneiros de tal forma que estes ro que os animadores de marionetes usam para

Ciências Humanas e suas Tecnologias


homens acorrentados acreditavam ter a verdade à sua frente, esconder-se enquanto exibem os bonecos.
naquela parede. Cada vez que o movimento alterava a proje- [...] Pois esses seres são como nós. Veem ape-
ção era alterada a visão e, por conseguinte, o que se afirmava nas suas próprias sombras, ou as sombras uns
da imagem. Assim, o homem vivia sem nunca poder afirmar dos outros, que o fogo projeta na parede que lhes
algo que, de fato, fosse verdadeiro, vivendo em um mundo de fica à frente.
engano, de erro.

RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL

249

O mito da caverna de Platão. Era a partir dessa analogia que o filósofo colocava a questão do conhecimento
material ou sensível. Platão mostrava, por meio da Alegoria da Caverna, que aprisionar-se ao Mundo Material,
ou sensível, era decididamente o caminho do desconhecimento, da fuga da verdade.
EMI-15-20
Para Platão, o ser humano acreditava que o mundo onde Como Platão solucionou esta divergência?
2

vivia era real – mas via apenas uma aparência cambiante das O filósofo já indicava na divisão que criou o “Mundo das
coisas e dos seres. Para o filósofo, tudo o que poderíamos Ideias” e o “Mundo das Sensações”, os espaços abrangidos
281

chamar de conhecimento no Mundo Sensível não passava de por Parmênides e Heráclito.


projeções mutantes que não informavam a verdade: era um Parmênides teria sido o pensador que conseguiu vis-
falso conhecimento. lumbrar o Mundo das Ideias, por tratar da não contradição
Assim, os sofistas eram apresentados como aqueles que do Ser, de sua plenitude que não comportava qualquer mu-
viviam a tratar dessas projeções, imaginando que aquilo que dança. Contudo, Platão fez uma correção no pensamento par-
falavam, se tivesse o consentimento alheio, seria uma verdade. menidiano ao afirmar que era possível pensar no não-ser no
Filosofia

Era fundamental, para o filósofo, quebrar os grilhões que Mundo das Ideias. Por exemplo, a ideia de cadeira é idêntica a
confinavam o ser humano na caverna, sair, obter mais luz esse objeto, não cabendo qualquer contradição em sua con-
para enxergar de fato o mundo verdadeiro. Sair da caverna dição “cadeira”, contudo a ideia de cadeira seria o não-ser da
era atingir o Mundo das Ideias, o Mundo Inteligível, aquele ideia de mesa. Havendo uma pluralidade de ideias que ense-
que não se alterava, permanecia em identidade, em não con- jaram o Mundo Material, era possível pensar no não-ser, algo
tradição. A luz servia para distinguir as coisas, para facilitar a inconcebível no pensamento de Parmênides.
apreensão das ideias. Heráclito teria sido o pensador que percebeu o funda-
É claro que o filósofo, rompendo os grilhões e atingindo o mento do Mundo Sensível, ou seja, o mundo material que vive
mundo exterior à caverna, estaria por alguns momentos sem em constante mudança. Parecia que toda a filosofia encontra-
Ciências Humanas e suas Tecnologias

condições de enxergar, dada a intensa luminosidade externa. va sua síntese, seu aprimoramento maior na teoria do conhe-
Contudo, aos poucos se adaptaria à nova condição, podendo cimento de Platão. Não foi por acaso que pensadores do vasto
diferenciar o que estaria vendo e, com isso, dar conta da ver- mundo grego se dirigiram a Atenas curiosos e ansiosos para
dade do Universo. dialogar com Platão. Não foi à toa que homens que conduziam
A seguir, imaginemos que, após compreender a verdade, cidades queriam a presença de Platão para compreender de
esse filósofo regressasse à caverna e explicasse tudo o que que forma teriam a melhor organização política. Afinal, o filó-
vira para aqueles que continuaram agrilhoados: eles acredita- sofo deveria saber a verdade a respeito do melhor governo,
riam no filósofo? Ou o acusariam de corruptor, de dominador e das melhores decisões.
de atentar contra tudo que existia em sua diversidade?
Ora, Platão apontava Sócrates como esse pensador,
amante do conhecimento que não foi compreendido, acusa-
do de atentar contra as instituições de Atenas e de corromper
Assista a um vídeo que problematiza os temas
a juventude. Platão se alinhava com o mestre, mas procurava
presentes na obra de Platão. Disponível em:
persuadir os homens de que havia um caminho promissor
para se chegar à verdade, o qual permitiria compartilhá-la <https://www.youtube.com/
com todos. Isso seria possível desde que acreditassem no watch?v=YlREcUSztSE>. Acesso em: 5 ago. 2014.
250

logos que presidia sua teoria do conhecimento. Um logos


que estabelecia uma duplicidade de mundos, sendo o Mun-
do Sensível uma cópia corrompida do Mundo Inteligível, este
acessível apenas pelo pensamento, pela palavra que expres- D. A política na teoria do
sava a ideia das coisas e não as coisas em si. conhecimento de Platão
C. Platão e um novo arranjo no Platão não se eximiu dessa tarefa em sua teoria do co-
encontro da física com a metafísica nhecimento, pois a ação política deveria atender à ideia de
Enquanto Platão indicava que a prática sofista era um justiça e só sabe o que é justo quem sabe a verdade. Dessa
mal, pois impedia o homem de atingir a verdade, também re- forma, a política entrava em sua teoria como forma elevada
cuperava as noções dos físicos para solucionar as suas diver- de realização humana. Contudo, uma coisa eram os governos
gências em outro plano. que existiam e outra, o governo ideal. Isso aparece na obra A
Neste último caso, devemos considerar a oposição entre República de forma nítida. Platão levou em conta a existência
Parmênides e Heráclito como uma divergência basilar do pen- de um governo ideal em uma cidade ideal. Tal consideração
samento pré-socrático (físico). Façamos uma breve digres- dizia respeito à importância, em sua visão, da condução da
são sobre o pensamento dos dois filósofos mencionados. vida política pelo filósofo, ou pelo rei-filósofo.
Parmênides afirmava ser a verdade imutável, constante, Se quisermos, podemos considerar o pensamento de Pla-
perene, atrelando-a à ideia de um Ser que não permitia con- tão, na política, como a metafísica ensinando como o homem
tradição, ou seja, o não ser. Assim, a verdade estaria em algo deveria governar melhor o Mundo Material, pois, se era possí-
além do tempo e do espaço, em algo eterno e infinito, o Ser, vel chegar à ideia de justiça e à verdade no Mundo Inteligível,
base do universo, uma matéria invisível aos nossos olhos, isso serviria pedagogicamente, pois daria um sentido à ação
que viam apenas matérias cambiantes. política, o sentido da verdade, do Bem, o que nada mais seria
Já Heráclito afirmava ser a verdade a própria contradição, que a afirmação do Belo. O que temos aqui é a união entre
a inconstância, o fogo que transmutava tudo, um fluxo de ética (Bem) e estética (Belo) animando a vida ideal da políti-
mudanças por conflitos, choques, tensões. A verdade era o ca na cidade pensada por Platão. Para tanto, a cidade deveria
EMI-15-20

conflito entre afirmação e negação, gerando movimento, pro- ser governada por filósofos, homens comprometidos com a
duzindo o devir na não identidade. busca da verdade.
Nesse sentido, as formas de governo na época de Platão tidades é a maior, este diferendo faria de nós ini-

2
foram criticadas por existirem de forma corrompida. A monar- migos? Zangar-nos-íamos um com o outro? Ou,
quia, o governo de um (mónos), estaria corrompida pela falta então, não bastaria recorrer ao cálculo para con-

281
de honra do governante; a aristocracia, governo dos melho- cordarmos bem depressa sobre um tal assunto?
res, (áristoi) estaria corrompida pela carência de excelência, Euthyphro – Certamente.
de virtude (areté), qualidade guerreira de seus membros; e Sócrates –- E do mesmo modo, a propósito
o governo democrático, do povo (démos), seria corrompido de comprimentos mais ou menos longos, se dife-
pela anarquia (do grego anarkhos – “sem governantes”) e pe- ríssemos de opinião, bastaria recorrer à medida
los desmandos da maioria. para pormos fim ao nosso diferendo?

Filosofia
Platão, vivendo em um momento de crise do modelo Euthyphro – É incontestável.
democrático ateniense, era um crítico dos sistemas gover- Sócrates – E suponho que recorreríamos à
namentais existentes por achar que nenhum deles era jus- pesagem para desempatarmos a propósito do
to e, nesse sentido, nenhum agia de acordo com a verdade. mais pesado e do mais leve?
Daí sua preocupação em estabelecer, no mundo das ideias, Euthyphro – Como duvidar?
a estruturação de uma cidade ideal, em que o governo era Sócrates – Qual é, então, o gênero de assun-
conduzido por sábios ou por um rei filósofo, em que havia o tos que, na falta de um critério de decisão, susci-
compromisso em decidir tendo como base a beleza e a ordem taria entre nós inimizades e cólera? Talvez não o
inerentes ao mundo das verdades. percebas imediatamente. Mas pensa um pouco:

Ciências Humanas e suas Tecnologias


Em certo sentido, podemos compreender a decepção de se digo que é o justo e o injusto, o belo e o feio, o
Platão em relação às formas de governo possíveis no Mundo bem e o mal, não tenho razão? Não será a propó-
Material e seu desejo de “sublimar” um mundo justo no pla- sito dos nossos dissentimentos sobre isto e por
no das ideias. Afinal, o mundo grego começava a dar sinais de causa da nossa incapacidade, nestes casos, para
decadência, principalmente no quadro de conflitos entre cida- conseguirmos desempatar, que nos tornamos
des-Estados no final do século V a.C. (Guerras do Peloponeso). inimigos uns dos outros, quando nos tornamos,
As ideias de Bem, de Belo, de Justo e de Verdadeiro são tu e eu e todos os outros homens? [...]
a base da sublimação platônica, dificilmente aplicáveis no Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
mundo terreno (material), mas necessárias como parâmetro gu001642.pdf>. Traduzido pelo autor. Acesso em: 5 ago. 2014.
para medir os desvios inerentes à vida neste Mundo Sensí-
vel. Assim, sua proposta sinalizava também um caminho pe- A pretensão de Platão era atingir, em uma preocupação an-
dagógico, educativo, pois insistia para os indivíduos não se tropológica, o consenso entre os homens, a concórdia por meio
afastarem tanto do mundo ideal. Para tanto, era importante do entendimento do justo, do verdadeiro, do belo e do bem.
reconhecer os valores verdadeiros. Afinal, Platão entendia Nesse sentido, seu interesse maior se dirigia para algo fora do
que o homem era uma alma que habitava um corpo. A alma do Mundo Material, abrindo o caminho para a filosofia discutir a
homem era sua verdade e, por assim ser, tinha acesso a todas ética e a estética, espaços novos de reflexão, pois eram trans-

251
as outras ideias, verdades, do Mundo Inteligível. cendentes em seus fundamentos, mas com implicações con-
O caminho para o conhecimento não era adquirir algo cretas no Mundo Material, principalmente no que dizia respeito
novo, mas recuperar em si a verdade impressa na alma. A isso às relações entre os homens. Vamos lembrar que o dissenti-
denominamos teoria da reminiscência de Platão. Conhecer mento entre homens significa sentir diferente, opinar diferente,
não é propriamente conhecer, mas re-conhecer, recuperar a ou seja, estar no interior da caverna contemplando sombras. O
verdade. Daí o termo verdade, aletheia, ser uma justaposição Mundo das Sensações, então, tinha um caráter falacioso, pois
da partícula “a” (“não”) e a palavra “letheia” (“esquecida”), era marcado apenas pela opinião oriunda do sentimento, en-
significando “a não esquecida”. quanto o Mundo das Ideias, espaço metafísico por excelência,
estaria contemplado justamente pela medida dos valores, os
E. Uma hierarquia entre “Mundo quais, atingidos, constituiriam a harmonia entre os homens.
Sensível” e “Mundo Inteligível”? Não chegamos a uma conclusão sobre a verdade, por
Temos em Platão, de forma nítida, uma desvalorização do isso afirmamos existirem “filosofias”. Platão sinalizou um ca-
Mundo Sensível, colocado como secundário, em relação ao minho diferente para a filosofia, mas deixou perguntas sem
Mundo Inteligível, apresentado como a causa de tudo o que é respostas e estas moveram o pensar filosófico para outros
no material. Para o filósofo, as ideias sempre irão existir, mas caminhos. Veremos nos próximos módulos outras possibili-
matérias produzidas a partir delas não, pois as mudanças que dades para o filosofar.
afetam as coisas no Mundo Sensível, ou seja, no mundo ma-
terial não afetam as ideias, entendidas como matrizes, como
concepções puras e incorruptíveis.
Esta perspectiva metafísica do filósofo está presente nos Assista ao vídeo que sintetiza a vida e a obra
diálogos, escritos por Platão, entre Sócrates e Euthyphro, con- do pensador ateniense Platão, disponível em:
forme é possível perceber no fragmento a seguir:
<https://www.youtube.com/watch?v=
Sócrates – Os ódios e as cóleras, meu caro ami-
bK09eEvzpCY&list=PL476ECD1677
go, não é o dissentimento sobre alguns assuntos BEEC30&index=2>.
que os provoca? Reflitamos um pouco: será que, Acesso em: 5 ago. 2014.
EMI-15-20

se tu e eu diferíssemos com opinião diferente so-


bre uma questão de número, saber qual das quan-
2

O Mundo das Ideias


281

Empédocles e Demócrito já tinham nos chamado a atenção para o fato de que, apesar de todos os fenôme-
nos da natureza “fluírem”, havia “algo” que nunca se modificava (as “quatro raízes” ou os “átomos”). Platão
também se dedicou a este problema, mas de forma completamente diferente.
Platão achava que tudo o que podemos tocar e sentir na natureza “flui”. Não existe, portanto, um elemento
básico que não se desintegre. Absolutamente tudo o que pertence ao “mundo dos sentidos” é feito de um ma-
Filosofia

terial sujeito à corrosão do tempo. Ao mesmo tempo, tudo é formado a partir de uma forma eterna e imutável.
Entendeu? Tudo bem, não entendeu...
Por que todos os cavalos são iguais, Sofia? Talvez você ache que eles não são iguais. Mas existe algo que é
comum a todos os cavalos; algo que garante que nós jamais teremos problemas para reconhecer um cavalo.
Naturalmente, o “exemplar” isolado do cavalo, este sim “flui”, “passa”. Ele envelhece e fica manco, depois
adoece e morre. Mas a verdadeira “forma do cavalo” é eterna e imutável.
Para Platão, este aspecto eterno e imutável não é, portanto, um “elemento básico” físico. Eternos e imutá-
veis são os modelos espirituais ou abstratos, a partir dos quais todos os fenômenos são formados.
Eu explico melhor: os pré-socráticos tinham oferecido uma explicação muito plausível para as transforma-
Ciências Humanas e suas Tecnologias

ções da natureza, sem ter de pressupor que algo efetivamente “se transformava”. Eles achavam que no ciclo
da natureza havia partículas mínimas, eternas e constantes, que não se desintegravam. Muito bem, Sofia! Eu
disse muito bem! Só que eles não tinham uma explicação aceitável de como estas partículas mínimas, que um
dia tinham se juntado para formar um cavalo, se juntavam novamente quatrocentos ou quinhentos anos mais
tarde para formar outro cavalo, novinho em folha! Ou um puro elefante, ou um crocodilo. O que Platão quer
dizer é que os átomos de Demócrito nunca podem se juntar para formar um “crocofante” ou um “eledilo”. E
foi isto, precisamente, que colocou em marcha suas reflexões filosóficas.
Se você já entendeu o que estou dizendo, pode pular este parágrafo. Caso não tenha entendido, vou tentar
ser mais claro: digamos que você pegue uma caixa cheia de peças de Lego e construa um cavalo. Depois
você desmancha o que fez e recoloca as peças de volta na caixa. Você não pode esperar obter outro cavalo
apenas chacoalhando a caixa de peças. Afinal, como é que as peças de Lego podem produzir um cavalo por
si mesmas? Não... você é que tem que montar o cavalo novamente, Sofia. E, se você conseguir, isto significa
que na sua cabeça você tem uma imagem do que seja um cavalo. O cavalo de Lego foi formado, portanto, a
partir de uma imagem-padrão que permanece inalterada de cavalo para cavalo.
Você não chegou a uma conclusão semelhante sobre os cinquenta bolos iguais? Vamos imaginar agora
que você caia do espaço na Terra e nunca tenha visto uma padaria. Então você passa pela vitrine muito
252

convidativa de uma padaria e vê sobre um tabuleiro cinquenta broas exatamente iguais, todas em forma de
anõezinhos. Suponho que, nessas condições, você vá coçar a cabeça e se perguntar como todas aquelas broas
podem ser iguais. E é bem possível que você perceba que um anãozinho está sem um braço, outro perdeu um
pedaço da cabeça e um terceiro tem uma barriga maior que a dos outros. Contudo, depois de pensar bem,
você chega à conclusão de que todas as broas em forma de anãozinho têm um denominador comum. Embora
nenhum deles seja absolutamente perfeito, você suspeita de que eles devem ter uma origem comum. E chega
à conclusão de que todos foram assados na mesma fôrma.
E mais ainda, Sofia: isto desperta em você o desejo de ver esta fôrma, pois fica claro que ela deve ser in-
descritivelmente mais perfeita e, de certa forma, mais bonita do que uma de suas frágeis e imperfeitas cópias.
Se você resolveu esta questão sozinha, então você conseguiu resolver um problema filosófico exatamente
da mesma maneira que Platão. Como a maioria dos filósofos, ele também “caiu do espaço na Terra”, por as-
sim dizer. (Ele foi lá para a pontinha dos finos pelos do coelho.) Platão ficou admirado com a semelhança entre
todos os fenômenos da natureza e chegou, portanto, à conclusão de que “por cima” ou “por trás” de tudo o
que vemos à nossa volta há um número limitado de formas. A estas formas Platão deu o nome de ideias. Por
trás de todos os cavalos, porcos e homens existe a “ideia cavalo”, a “ideia porco” e a “ideia homem”. (E é por
causa disto que a citada padaria pode fazer broas em forma de porquinhos ou de cavalos, além de anõezinhos.
Pois uma padaria que se preze geralmente tem mais do que uma fôrma. Só que uma única fôrma é suficiente
para todo um tipo de broa).
Conclusão: Platão acreditava numa realidade autônoma por trás do “mundo dos sentidos”. A esta realida-
de ele deu o nome de mundo das ideias. Nele estão as “imagens-padrão”, as imagens primordiais, eternas e
imutáveis, que encontramos na natureza. Esta notável concepção é chamada por nós de a teoria das ideias
de Platão.
GAARDER, J. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 98-100.
EMI-15-20
APRENDER SEMPRE 21 contrada em todo lugar, dissipando-se a divisão entre ideia e

2
matéria afirmada por Platão?
01. UFU-MG

281
Todo aquele que ama o saber conhece por ex-

MIDOSEMSEM/SHUTTERSTOCK
periência que, quando a filosofia toma conta de
uma alma, vai encontrá-la prisioneira do seu corpo,
totalmente grudada a ele. Vê que, impelida a ob-
servar os seres, não em si e por si, mas por meio
desse seu caráter, paira por isso na mais completa

Filosofia
ignorância. Mas mais se dá ainda conta do absurdo
de tal prisão: é que ela não tem outra razão de ser
senão o desejo do próprio prisioneiro, que é assim
levado a colaborar da maneira mais segura, no seu
próprio encarceramento.
PLATÃO. Fédon. Brasília: UnB, 2000. p. 66.

Após analisar o texto acima, assinale a alternativa correta.


a. A ignorância é fruto da observação do que é em si

Ciências Humanas e suas Tecnologias


e por si.
b. A filosofia para Platão é inata, não sendo necessá-
rio nenhum esforço de quem a ela se dedica para
obtê-la.
c. A alma encontra-se prisioneira do corpo por desejo
do próprio homem.
d. A alma do filósofo encontra-se desde o início liberta
dos entraves do corpo como demonstram, clara-
mente, a Alegoria da Caverna e o texto acima. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) nasceu em Estagira, atual Macedônia,
e foi o mais ilustre discípulo de Platão. Seu pai, Nicômaco, foi médico
do rei Felipe da Macedônia que, por sua vez, era o pai de Alexandre,
Resolução o Grande, ou Magno (realizador de um dos maiores impérios da
Segundo Platão, o desejo de alcançar a luz do conhe- história da humanidade), de quem Aristóteles foi professor. Em
cimento (filosofia) deve ser do próprio homem; é ele quem 340 a.C., alguns anos após a morte de seu mestre, Aristóteles
deve romper a barreira das sombras, da ignorância, a fim de fundou em Atenas a sua própria escola, chamada Liceu. Em 323
buscar a verdade no Mundo das Ideias. a.C., ano da morte de Alexandre Magno, Aristóteles foi levado ao
tribunal por motivos religiosos. Foi condenado, mas, ao contrário
Alternativa correta: C de Sócrates, aceitou o banimento e morreu no ano seguinte.

253
Aristóteles encontrou uma resposta diferente, que concilia-
va o conhecimento verdadeiro com o Mundo Material, sem apelar
4. A filosofia de Aristóteles para a divisão estabelecida por Platão. Que resposta foi esta?
Se Platão, com seus questionamentos a respeito do que
seria justo ou injusto, abriu caminho para discussões em tor-
no da ética (Bem) e sua correspondência no âmbito da esté- Assista ao vídeo que sintetiza a vida e obra do
tica (Belo), foi Aristóteles quem aprofundou o debate e insti- grande pensador Aristóteles, disponível em:
tuiu a ética como um campo do conhecimento, a respeito do
homem, que deveria ser estudado. Isso o fez não sem colocar <https://www.youtube.com/
em questão o pensamento platônico, não sem fazer uma críti- watch?v=8uru60xR54w>. Acesso em: 6 ago. 2014.
ca à teoria do conhecimento de Platão.
O início desta crítica residiu no mal-estar de Aristóteles em
relação a certas afirmações platônicas. A princípio, como não ti-
nha como refutar as afirmações de seu mestre, pois estudava e A. Ato e potência
ensinava na Academia, fundada por Platão, o filósofo aceitava a Se as coisas mudam, deve haver uma razão e esta se en-
divisão platônica entre “mundo sensível” e “mundo inteligível”. contra no sentido de cada coisa ou ser. O sentido de cada coisa
Porém, algo o incomodava em demasia e remetia às se- ou ser estaria definido por uma potência inerente, interioriza-
guintes questões: existiam dois mundos? Por que haveria a da, que forçava sua aparição na Terra. Para que esta potência
necessidade de um Mundo Material se este era apenas uma surgisse em aparência, ou seja, visualmente, era necessária
cópia imperfeita do Mundo das Ideias? Será que Platão não a alteração de sua forma exterior até que esta fosse igual à
havia criado um problema ainda maior ao estabelecer a exis- potência interior. A cada momento de mudança da coisa ou do
tência do Mundo Inteligível descolado do Mundo Sensível? ser rumo ao seu sentido, à sua realização, caberia uma forma,
Seu erro não estaria em considerar que tudo que muda é en- a qual Aristóteles denominava Ato. Assim, todas as coisas e
ganoso? Será que a mudança não deveria integrar o universo seres existiam em Ato e Potência e o destino dos mesmos era
EMI-15-20

da verdade? E, se assim o fosse, a verdade poderia ser en- um percurso em que Ato e Potência fossem idênticos.
O que isso tudo tem a ver com a ética? De que forma a éti-
2

IVONNE WIERINK/SHUTTERSTOCK
ca emerge nos estudos aristotélicos como algo fundamental
na vida humana?
281

B. Ato, potência e ética


Para Aristóteles, o ser humano, por ser dotado de razão,
busca a realização da felicidade (em grego, eudaimonia), ou
seja, do Bem, e, para tanto, sua racionalidade tem função fun-
damental, pois é a partir do entendimento racional, da busca
Filosofia

do equilíbrio por meio da medida, da proporção, ou seja, da


Seguindo o pensamento de Aristóteles, dentro do ovo está uma razão, que o homem pode atingir o Bem.
galinha, em estado de latência-potência que quer aparecer, tornar-
-se ato, algo visível. Para tanto, o ovo, eclodindo, traz à luz um
pintinho que irá se transformar, mudar, em uma sequência de atos

MIDOSEMSEM/SHUTTERSTOCK
ao longo do tempo, até se tornar uma galinha. Assim, é afirmada a
verdade-galinha, quando a potência se transformou em ato, em algo
aparente. Platão não teria entendido o sentido da mudança, por isso
afirmou que tudo que mudava não era verdadeiro. Dessa forma, a Sê senhor da tua vontade
crítica aristotélica ao pensamento platônico se fazia com toda força,
e escravo da tua consciência.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

reafirmando o Mundo Material como espaço de afirmação da verdade.

Para Aristóteles, Platão não soube entender a razão da (Aristóteles)


mudança, por isso considerava que toda alteração era en-
gano, erro, uma falácia, fruto da opinião. Dessa forma, Aris-
tóteles reconciliou o conhecimento com o Mundo Material,
estabelecendo uma filosofia que afirmava a physis como
provida de sentido, assinalando a verdade na própria natu- O pensamento aristotélico afirma prudência, justiça e temperança
reza. Um exemplo em que fica nítida esta proposta filosófi- como virtudes humanas, constituídas a partir da razão, que conduzem
o homem para a felicidade, fim último da existência. A inteligência,
ca pode ser encontrado ao estudarmos a semente de uma associada à vontade, na busca do prazer deveria conferir ao homem
planta. Para Aristóteles, a semente seria o Ato de algo im- o conhecimento ético necessário ao convívio coletivo, pois a
presso no interior “daquela coisa”. Dentro de uma semente felicidade não é o interesse individual, mas comum dos homens.
havia, em Potência, uma árvore. Assim, para que o “sentido
árvore” fosse realizado, a coisa, inicialmente vista como se- Há, então, pela própria natureza humana um espaço de
mente, deveria mudar em vários Atos sucessivos até que, ação que pretende atingir a vontade de ser feliz (sentido).
num dia, tornar-se-ia uma árvore. Contudo, tal ação deve ser movida pelas virtudes intelectual
Para chegar a esse desenvolvimento filosófico, Aristó- e moral. A virtude intelectual é proveniente do ensino, da
254

teles desenvolveu estudos da linguagem, preocupado em educação e se consegue com a experiência; já a virtude mo-
precisar as coisas e os seres no universo das substâncias e ral provém do hábito, em grego éthos, daí surgindo a palavra
das qualidades. Nesse sentido, fez trabalhos com a gramá- êthiké (ética). Assim, a ética aparece na vida do homem como
tica com a finalidade de visualizar o que seria substantivo e a possibilidade de atuar por meio de atitudes, hábitos, que le-
adjetivo. Afinal, falar que uma cadeira tem quatro “pernas”, vem o homem para um estado de felicidade.
um assento e um encosto referia-se ao inerente, ao próprio Podemos, então, perceber que o pensamento aristotélico
do objeto cadeira, mas falar que uma cadeira era branca ou que trata do Ato e da Potência comparece no debate em tor-
amarela não alterava a substância da coisa cadeira, sendo no da condição humana e do seu destino. Como o homem é
apenas um acidente. Assim, em sua teoria do conhecimen- livre para agir se estabelece um problema fundamental, qual
to, definiu na variabilidade dos seres e das coisas elemen- a melhor ação, qual a atitude que pode instaurar a felicidade?
tos substanciais e acidentais, garantindo maior precisão, Como o homem pode ser feliz se, por natureza, é um ser gre-
maior rigor ao debate em torno da possibilidade de conhecer gário? É possível a felicidade individual sem que haja a felici-
olhando para o Mundo Material. dade coletiva? Dessa forma, a ética entra nos estudos aristo-
As observações de Aristóteles produziram conheci- télicos como elemento-chave para a realização do sentido da
mentos importantes a respeito da natureza, o que nos leva humanidade. A reflexão ética diz respeito à melhor ação entre
a considerá-lo, por exemplo, o primeiro biólogo, o primeiro os homens para que a felicidade exista.
pensador a estabelecer uma classificação dos seres vivos
de acordo com suas proximidades e distanciamentos. Tudo C. Ética e política
isso com o intuito de precisar a verdade de cada ser. Nesse Quando trata da cidade e do homem, Aristóteles escreve:
sentido, acabou por colocar o homem no vértice da escala
dos seres, pois, em seus estudos, afirmou a diferença entre É evidente, pois, que a cidade faz parte das coi-
plantas e animais. As primeiras não seriam dotadas de sensa- sas da natureza, que o homem é naturalmente um
ção, enquanto os segundos sim. No caso dos animais, todos animal político, destinado a viver em sociedade, e
tinham sensação, mas o único que possuía sensação, vonta- que aquele que, por instinto, e não porque qualquer
de e razão era o homem. Dessa forma, o homem ocupava um circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma
EMI-15-20

lugar especial no mundo, cabendo-lhe fazer o uso da razão, cidade, é um ser vil ou superior ao homem [...].
sua característica fundamental. ARISTÓTELES. Política. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 13.
É na obra Ética a Nicômaco que Aristóteles coloca a ques- O pensamento aristotélico está marcado pelo esforço de

2
tão da ética em primeiro plano, relacionando-a à política. A integração entre o intelecto e a vida material, algo que se en-
filosofia aristotélica pode ser considerada prática, pois as contra dissociado no pensamento platônico. Dessa postura

281
conclusões extraídas de seu pensamento servem para a vida aristotélica, o resultado é uma filosofia da práxis humana que
cotidiana, pois devem pautar as ações humanas em socieda- contempla os valores ditos morais que deveriam permear as
de. Afinal, a ética pode ser entendida como um conhecimento relações entre os homens: as virtudes que ensejariam a felici-
a respeito da práxis humana. Se há um sentido potencial hu- dade coletiva. Devemos observar que o Bem encontra-se vin-
mano, que é o da felicidade, a busca de realização do sentido culado à ideia de justiça como em Platão, mas a questão do
envolve necessariamente um conjunto de ações, de atos, que seria justo é colocada de outra maneira. O justo deve ser

Filosofia
atrelados à reflexão sobre o Bem. Assim, a metafísica aristo- algo no meio do caminho entre carência e excesso, um justo
télica se enlaça a uma physis, à natureza do próprio homem. meio, ou o equilibrado, como uma balança de pratos com os
Dessa forma, emerge a questão relativa ao comporta- pesos iguais.
mento em sociedade que possa levar à realização do Bem e Aristóteles busca nisso, pensando a questão dos senti-
este não deve ser considerado apenas em termos individuais, mentos humanos, uma forma fundamental que não seja im-
mas no conjunto de homens que integram a pólis, a cidade. posição externa, por exemplo, uma lei do Estado, mas a acei-
De acordo com Aristóteles: tação de um lugar (topos) em que o indivíduo entende o que
significa a felicidade geral e atua por este parâmetro. Utilizan-
Mesmo que haja identidade entre o bem do do as elaborações do filósofo, temos os sentimentos de medo

Ciências Humanas e suas Tecnologias


indivíduo e o da cidade, é manifestamente uma e confiança. O medo em excesso impede que o homem aja, o
tarefa mais importante e perfeita apreender e que representa a falta de audácia, ou seja, covardia, mas a
preservar o bem da cidade, pois o bem é, certa- falta completa do sentimento de medo, ou seja, o excesso de
mente, amável mesmo para o indivíduo isolado, audácia é temerário, por não se medirem as consequências
mas é mais belo e divino aplicado a uma estirpe dos atos. O que seria, então, neste exemplo, o justo termo? A
e a uma cidade. coragem que entende os riscos e promove soluções.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Observe a seguir o esquema relativo às virtudes huma-
Cultural, 1984. p. 50. Os pensadores. nas e suas implicações no que diz respeito ao comportamen-
to adequado para o convívio social harmonioso e feliz.

Prudência
Fortaleza Temperança

RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL


(apetite irascível) (apetite concupiscível)

255
Justiça
Inteligência

Paixões Sentimentos

Razão Razão + Vontade >


teórica prática PRAZER

Gosto

Sabedoria Prudência VIRTUDES MORAIS


Ciência Técnica (know-how)

VIRTUDES INTELECTUAIS

Aristóteles fez um levantamento das virtudes e de que forma a qualidade de nossos atos, associados à concepção do justo
meio, poderia levar os homens à felicidade, definindo, com isso, o espaço da ética. Observe, a seguir, um resumo das virtudes
morais explicitadas por Aristóteles na Ética a Nicômaco.
EMI-15-20
Situação em que o Vício (excesso) Vício (falta) (por Virtude (justo meio)
Sentimento ou paixão
2

sentimento ou paixão (por deliberação deliberação e (por deliberação


(por natureza)
são suscitados e por escolha) por escolha) e por escolha)
281

Prazeres Tocar, ter, ingerir Libertinagem Insensibilidade Temperança


Medo Perigo, dor Covardia Temeridade Coragem
Riqueza Dinheiro, bens Prodigalidade Avareza Liberalidade
Fama Opinião alheia Vaidade Humildade Magnificência
Honra Opinião alheia Vulgaridade Vileza Respeito próprio
Filosofia

Cólera Relação com os outros Irascibilidade Indiferença Gentileza


Convívio Relação com os outros Zombaria Grosseria Agudeza de espírito
Conceder prazer Relação com os outros Condescendência Tédio Amizade
Vergonha Relação de si com os outros Sem-vergonhice Timidez Modéstia
Sobre a boa sorte Relação dos outros consigo Inveja Malevolência Justa apreciação
de alguém
Sobre a má sorte Relação dos outros consigo Malevolência Inveja Justa indignação
Ciências Humanas e suas Tecnologias

de alguém

D. A ética aristotélica e o
mundo contemporâneo Assista ao vídeo que problematiza as questões
No nosso mundo contemporâneo, pensar as questões re- da moderação e das paixões humanas na
lativas à ética é levar em consideração a filosofia aristotélica. perspectiva aristotélica. Disponível em:
Talvez possamos lançar luzes sobre as questões associadas
<https://www.youtube.com/
à vida comunitária e ao universo da política, refletindo sobre watch?v=7K85Hjigfaw>. Acesso em: 4 ago. 2014.
a filosofia prática, comportamental, de Aristóteles, pois foi ela
que gerou todo um debate em torno das ações humanas no
conjunto, ou seja, das relações entre os homens, que pode- F. A filosofia pós-Aristóteles
riam criar uma sociedade mais justa e, por conseguinte, feliz. A proposta ética de Aristóteles desmoronou diante da
E isso na Terra, não num “mundo ideal” proposto por Platão. situação histórica vivida pelos gregos após a conquista ma-
Nesse sentido, Aristóteles confere um espaço impor- cedônica e a expansão do Império de Alexandre Magno para
tantíssimo para a política, pois a pólis, a cidade-Estado, é o o Oriente, pois não havia mais a vida autônoma da cidade-
256

lugar por excelência das relações entre os homens, espaço -Estado, da pólis. O que existia era um centro de poder e uma
de deliberações, de ações integradas no conjunto social. Daí vontade, a de Alexandre. Aos poucos, as grandes questões
a ética ter a função de presidir a política para que se atinja a relativas à vida coletiva, que contemplavam a cidade e a polí-
felicidade comum. Pensar a felicidade comum, para Aristóte- tica foram perdendo força, surgindo disso filosofias voltadas
les, é dar um valor especial à amizade que envolve estimar a a outras questões, consideradas menores por alguns. São as
si e ao outro. filosofias helenísticas que estudaremos no próximo módulo.
PATRICIA HOFMEESTER/ISTOCK/GETTY IMAGES

E. As limitações históricas da ética aristotélica


No pensamento aristotélico, a ética e a política devem
andar juntas para o bem coletivo. Contudo, devemos salien-
tar que os outros desta coletividade são homens em con-
dição de igualdade civil: são cidadãos, o que não abrange
toda a população da cidade. Para o filósofo, existem homens
que não são iguais por natureza e se destinam à escravidão.
Conforme escreveu:

Há na espécie humana indivíduos tão inferio-


res a outros como o corpo é em relação à alma
ou a fera ao homem; são os homens nos quais o
emprego da força física é o melhor que dela se Alexandre Magno (356 a.C.-323 a.C.) herdou os domínios de seu pai,
obtém. Partindo dos nossos princípios, tais indi- o rei da Macedônia, Filipe II, e conduziu macedônios e gregos rumo ao
Oriente, tornando-se o imperador incontestável de um vasto território,
víduos são destinados por natureza à escravidão, unindo terras ocidentais e orientais. O colapso do modelo autônomo das
porque, para eles, nada é mais fácil de obedecer. cidades-Estado tornava-se evidente e muitos pensadores abandonaram
ARISTÓTELES. Política. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 26. os debates em torno da política para discutir questões relativas ao
indivíduo, ao bem individual. Aristóteles manteve aceso o debate maior
sobre a política, contribuindo para discussões importantes, desde
EMI-15-20

então, para a organização política associada à ética. Contudo, as


filosofias helenísticas indicavam outro caminho para o pensamento.
2
[...] No esforço para definir as formas de conhecer e as diferenças entre o conhecimento verdadeiro e a

281
ilusão, Platão e Aristóteles introduziram na Filosofia a ideia de que existem diferentes maneiras de conhecer
ou graus de conhecimento e que esses graus se distinguem pela ausência ou presença do verdadeiro, pela
ausência ou presença do falso.
Platão distingue quatro formas ou graus de conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença,
opinião, raciocínio e intuição intelectual. Para ele, os dois primeiros graus devem ser afastados da Filosofia
– são conhecimentos ilusórios ou das aparências, como os dos prisioneiros da caverna – e somente os dois
últimos devem ser considerados válidos. O raciocínio treina e exercita nosso pensamento, preparando-o para

Filosofia
uma purificação intelectual que lhe permitirá alcançar uma intuição das ideias ou das essências que formam
a realidade ou que constituem o Ser.
Para Platão, o primeiro exemplo do conhecimento puramente intelectual e perfeito encontra-se na mate-
mática, cujas ideias nada devem aos órgãos dos sentidos e não se reduzem a meras opiniões subjetivas. O
conhecimento matemático seria a melhor preparação do pensamento para chegar à intuição intelectual das
ideias verdadeiras, que constituem a verdadeira realidade.
Platão diferencia e separa radicalmente duas formas de conhecimento: o conhecimento sensível (crença
e opinião) e o conhecimento intelectual (raciocínio e intuição) afirmando que somente o segundo alcança o

Ciências Humanas e suas Tecnologias


Ser e a verdade. O conhecimento sensível alcança a mera aparência das coisas, o conhecimento intelectual
alcança a essência das coisas, as ideias.
Aristóteles distingue sete formas ou graus de conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória,
raciocínio e intuição. Para ele, ao contrário de Platão, nosso conhecimento vai sendo formado e enriquecido
por acumulação das informações trazidas por todos os graus, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o
conhecimento sensível e o intelectual, Aristóteles estabelece uma continuidade entre eles.
A separação se dá entre os seis primeiros graus e o último, ou a intuição, que é puramente intelectual ou
um ato do pensamento puro. Essa separação, porém, não significa que os outros graus ofereçam conheci-
mentos ilusórios ou falsos, e sim que oferecem tipos de conhecimentos diferentes, que vão de um grau menor
a um grau maior de verdade.
Em cada um deles temos acesso a um aspecto do Ser ou da realidade e, na intuição intelectual, temos o
conhecimento pleno e total da realidade ou dos princípios da realidade plena e total, aquilo que Aristóteles
chamava de “o Ser enquanto Ser”.
A diferença entre os seis primeiros graus e o último decorre da diferença do objeto do conhecimento, isto
é, os seis primeiros graus conhecem objetos que se oferecem a nós na sensação, na imaginação, no raciocínio,
enquanto o sétimo lida com um objeto que só pode ser alcançado pelo pensamento puro. [...]
Com os filósofos gregos, estabeleceram-se alguns princípios gerais do conhecimento verdadeiro:

257
• as fontes e as formas do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, racio-
cínio e intuição intelectual;
• a distinção entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual;
• o papel da linguagem no conhecimento,
• a diferença entre opinião e saber,
• a diferença entre aparência e essência,
• a definição dos princípios do pensamento verdadeiro (identidade, não contradição, terceiro excluído,
causalidade), da forma do conhecimento verdadeiro (ideias, conceitos e juízos) e dos procedimentos
para alcançar o conhecimento verdadeiro (indução, dedução, intuição);
• a distinção dos campos do conhecimento verdadeiro, sistematizados por Aristóteles em três ramos:
teorético (referente aos seres que apenas podemos contemplar ou observar, sem agir sobre eles ou
neles interferir), prático (referente às ações humanas: ética, política e economia) e técnico (referente
à fabricação e ao trabalho humano, que pode interferir no curso da natureza, criar instrumentos ou
artefatos: medicina, artesanato, arquitetura, poesia, retórica etc.).
Para os gregos, a realidade é a natureza e dela fazem parte os humanos e as instituições humanas. Por sua
participação na natureza, os humanos podem conhecê-la, pois são feitos dos mesmos elementos que ela e
participam da mesma inteligência que a habita e dirige.
O poeta alemão Goethe criou estes versos, que exprimem como os antigos concebiam o conhecimento:
Se os olhos não fossem solares
Jamais o Sol nós veríamos;
Se em nós não estivesse a própria força divina,
Como o divino sentiríamos?
O intelecto humano conhece a inteligibilidade do mundo, alcança a racionalidade do real e pode pensar
a realidade porque nós e ela somos feitos da mesma maneira, com os mesmos elementos e com a mesma
inteligência.
EMI-15-20

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 8. ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 112-113.
APRENDER SEMPRE 22
2

01. UFU-MG
281

Considere o trecho a seguir e, de acordo com a filosofia de Aristóteles, marque para as alternativas abaixo (V) verdadeira,
(F) falsa ou (SO) sem opção.

Diferentemente de seus predecessores, Aristóteles considera que a essência verdadeira das coisas
naturais e dos seres humanos e das suas ações não está em um Mundo Inteligível, separado do Mundo
Sensível, onde as coisas naturais existem e onde vivemos. As essências, diz Aristóteles, estão nas pró-
Filosofia

prias coisas, nos próprios homens e nas suas ações e é a tarefa da filosofia conhecê-las ali mesmo onde
existem e acontecem. Como conhecê-las? Partindo das sensações para alcançar a intelecção.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia.
São Paulo: Ática, 2002. p. 217.

( ) Segundo Aristóteles, as essências das coisas são meras ficções do pensamento, expressas em palavras, uma vez
que no mundo real só existem seres singulares.
( ) Um dos predecessores de Aristóteles de que fala o texto é Platão.
( ) O conhecimento de ideias gerais se faz por abstração: a partir das realidades singulares, o pensamento identifica o
Ciências Humanas e suas Tecnologias

que há de universal nelas.


( ) Somente os seres humanos possuem essência, que é a sua alma.

Resolução
A primeira proposição é falsa, pois, para Aristóteles, como o próprio texto afirma, a essência das coisas e do homem está
contida nas próprias coisas e no próprio homem, daí a necessidade de se reconhecer a importância dos sentidos. A quarta
proposição também está errada por dois motivos: segundo Aristóteles, tudo no mundo possui sua essência, sua finalidade;
além disso, a essência humana não é necessariamente a sua alma, como queria Platão.
Resposta: F – V – V – F

5. Organizador Gráfico
RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL
258

Filosofia clássica
grega

Sócrates Aristóteles
Platão

A filosofia transforma a base de suas reflexões: A filosofia platônica e a Díscipulo de Platão, elaborou
deixa de se centrar na natureza (physis) e passa busca da verdade as bases filosóficas para a reflexão
a se preocupar com o homem (anthropos). sobre a ética na vida humana

De Sócrates a Platão A crítica aristotélica ao platonismo


A busca pela verdade – oposição aos sofistas Mundo das Ideias: o mundo verdadeiro Categorias aristotélicas
Proposta socrática: a maiêutica Alegoria da Caverna: a metafísica platônica Ato e Potência – Ética
A teoria política de Platão Ética e política
EMI-15-20

Apenas
Tema Tópico Subtópico Subtópico destaque texto Características
Módulo 4

2
Filosofia clássica: Sócrates

281
Exercícios de Aplicação
01. Unicamp-SP 02.

Filosofia
A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no Assinale a alternativa cuja afirmação define de maneira
século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação correta a perspectiva socrática a respeito do papel do filósofo.
“sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A a. O papel do filósofo é auxiliar o indivíduo a chegar à ver-
frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais dade oferecendo-lhe conceitos prontos.
sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poe- b. O filósofo deve se ater a explicitar o conteúdo do sen-
tas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava so comum, uma vez que já se supõe o entendimento
dos demais por reconhecer a sua própria ignorância. profundo dos interlocutores acerca das coisas.
O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filoso- c. O papel do filósofo é fazer com que outro indivíduo, atra-
fia, pois: vés do diálogo, chegue às suas próprias conclusões.

Ciências Humanas e suas Tecnologias


a. aquele que se reconhece como ignorante torna-se d. O filósofo deve levar o interlocutor, por meio da per-
mais sábio por querer adquirir conhecimentos. suasão, à verdade consensual.
b. é um exercício de humildade diante da cultura dos sá- e. O papel do filósofo é fazer com que o interlocutor che-
bios do passado, uma vez que a função da Filosofia gue ao verdadeiro conhecimento sozinho, pois só as-
era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos. sim ele chegará à conclusão de que tudo sabe.
c. a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filo-
Resolução
sofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a
partir de métodos rigorosos. Para Sócrates, o papel do filósofo é fazer com que o in-
d. é uma forma de declarar ignorância e permanecer dis- terlocutor, por meio da discussão, do diálogo, dê à luz suas
tante dos problemas concretos, preocupando-se ape- próprias ideias. Em princípio, ele o interroga, provoca-o a dar
nas com causas abstratas. respostas, até que caia em contradição, perceba a insuficiên-
cia delas, fique perplexo e reconheça sua ignorância.
Resolução Alternativa correta: C
Sócrates, filósofo ateniense do Período Clássico da Gré-
cia Antiga, defendeu a tese de que a sabedoria era limitada à
sua própria ignorância. Segundo ele, a verdade, escondida em
cada um de nós, só é visível aos olhos da razão (daí a célebre

259
frase “Só sei que nada sei”!).
“Sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia,
pois aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais
sábio por querer adquirir conhecimento.
Alternativa correta: A
EMI-15-20
03. d. Sócrates pregava que o indivíduo deveria transgredir
2

Leia o trecho a seguir e assinale a alternativa correta. as leis da cidade e da moralidade para não ser chama-
do de ignorante.
281

Note-se um pressuposto muito peculiar do e. Segundo o texto, o indivíduo corajoso não deveria con-
método socrático. O corajoso, que é efetivamen- fessar que teria agido em estado de ignorância, pois
te corajoso, termina confessando que não sabe senão não seria corajoso.
dizer o que vem a ser coragem, é incapaz de en-
Resolução
contrar sozinho a definição conveniente e, assim,
confessa que agiu em estado de ignorância, em- Sócrates revolucionou o modo de ensinamento. Com a pre-
tensão de trazer a verdade à luz, ele, ao dialogar com o indivíduo,
Filosofia

bora sua ação tenha sido boa. Ora, se soubesse


a definição, nunca agiria mal, pois pautaria sua fazia com que este chegasse ao fim do questionamento perce-
ação por um padrão universal. É por ignorância, bendo que nada sabia a respeito desse questionamento, pois
portanto, que as pessoas transgridem as leis da dessa forma ele iria se descobrir ignorante, mas teria a chance
cidade e da moralidade. de refletir, de atingir tal conceito, dando vazão à verdade.
GIANNOTTI, J. A. Lições de filosofia primeira. São Paulo: a. Incorreta: Sócrates instaurou sim uma proposta nova,
Companhia das Letras, 2011. p. 44, 45. mas ela não dizia que o importante era o indivíduo ser
conhecedor de determinado assunto para provar sua
a. Sócrates instaurou uma proposta diferente para se sabedoria.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

chegar ao conhecimento. O importante era o indivíduo c. Incorreta: o método socrático não pretendia fazer com
chegar à conclusão de que era conhecedor de deter- que o indivíduo chegasse à conclusão de que não era
minado assunto para provar sua sabedoria. corajoso e, por isso, necessitava de ajuda.
b. Sócrates subverteu a maneira de ensinar, pretenden- d. Incorreta: o trecho diz o contrário: é exatamente pelo
do trazer a verdade à luz, quer dizer, ele interpelava o motivo de o indivíduo ser ignorante em relação às leis
indivíduo até fazê-lo chegar à conclusão de sua pró- da cidade e da moralidade que ele as transgride.
pria ignorância, caminho este que faria esse indivíduo e. Incorreta: o trecho diz que o indivíduo que realmente é
se questionar a respeito de determinados assuntos. corajoso é aquele que não sabe o que vem a ser cora-
c. O método socrático pretendia fazer o indivíduo chegar gem e que se reconhece ignorante.
à conclusão de que não era corajoso e de que necessi- Alternativa correta: B
tava de ajuda para chegar ao conhecimento. Habilidade
Perceber de que forma ocorre a articulação de argumen-
tos em propostas filosóficas específicas.

Exercícios Extras
260

04. d. O trecho faz referência a Sócrates e mostra seu inte-


Leia o trecho a seguir e assinale a alternativa correta. resse em se aprofundar na origem do universo para
entender o homem.
Ele, por sua vez, discorria sempre sobre os e. O trecho faz referência a Sócrates e mostra clara-
valores humanos, procurando o que fosse pio, o mente o deslocamento de seu interesse da natureza
que fosse ímpio; o que fosse belo, o que fosse ao homem.
feio; o que fosse justo, o que fosse injusto; o que
fosse a prudência, o que fosse a loucura, o que 05. UFU-MG
a coragem, o que a vileza; o que fosse Estado, O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um su-
o que fosse estadista; o que fosse o governo, o cesso histórico: no fato de Sócrates ministrar os seus ensi-
que fosse o governador e as outras coisas cujo namentos sob a forma de perguntas e respostas. Sócrates
conhecimento, segundo ele, tornava os homens considerava o diálogo como a forma por excelência do exer-
excelentes e cuja ignorância, ao contrário, fazia cício filosófico e o único caminho para chegarmos a alguma
merecer, justamente, o nome de escravos. verdade legítima.
Xenofonte. Memoráveis. In: REALE, Giovanni. História da De acordo com a doutrina socrática:
filosofia antiga. São Paulo: Loyola, 1993.v. 1. p. 257. a. a busca pela essência do bem está vinculada a uma
visão antropocêntrica da filosofia.
a. O trecho faz referência aos sofistas, que tinham claro b. é a natureza, o cosmos, a base firme da especula-
interesse em revelar a verdade dos valores humanos. ção filosófica.
b. O trecho faz referência aos sofistas, que tinham o inte- c. o exame antropológico deriva da impossibilidade do
resse em ensinar aos homens. autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística.
c. O trecho se refere aos físicos, que, diante da impossi- d. a impossibilidade de responder (aporia) aos dile-
bilidade de responderem de forma definitiva a respei- mas humanos é sanada pelo homem, medida de
EMI-15-20

to da origem do universo, passaram a focar a atenção todas as coisas.


no homem, no anthropos.
Seu espaço

2
Sobre o módulo filme, originalmente produzido para a televisão e lançado em

281
• Abordar o início da filosofia clássica a partir da vida e 1970, mostra o final da vida do filósofo grego, incluindo seu
obra do pensador grego Sócrates. julgamento e sua condenação à morte. É composto quase
• Enfatizar a transformação ocorrida na filosofia clássica que totalmente por diálogos, baseados nos diálogos escritos
no que diz respeito à sua perspectiva antropocêntrica por Platão, além de uma breve encenação da comédia As nu-
(anthropos) em relação à filosofia pré-socrática, cuja vens, de Aristófanes, que ridiculariza Sócrates. É sempre bom
abordagem priorizava as questões da physis (natureza). lembrar que Sócrates nada escreveu, pois acreditava que a

Filosofia
• Discorrer sobre a importância dos filósofos conheci- filosofia devia ser praticada oralmente.
dos como sofistas no contexto político e pedagógico
da época (Período Clássico) e quais foram os motivos Na web
que levaram Sócrates a romper com tal grupo de filó- Dicionário de Filosofia.
sofos, elucidando as questões referentes aos limites Disponível em: <http://www.filosofia.
do conhecimento e o uso da filosofia para meros fins com.br/dicionario.php>.
políticos.
• Priorizar os objetivos da filosofia na visão socrática, Assuntos da Filosofia por períodos históricos.

Ciências Humanas e suas Tecnologias


isto é, a busca da verdade e como o pensador atenien- Disponível em: <http://www.
se desenvolvia tal perspectiva no método conhecido mundodosfilosofos.com.br/>.
como maiêutica. Biografia de Sócrates.
• Abordar quais foram as verdadeiras razões que leva- Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/
ram Sócrates a ser julgado como um criminoso em disciplinas/filosofia/socrates-o-metodo-socratico-e-
Atenas e os motivos que o levaram a aceitar a conde- o-parto-das-ideias.htm>. Acesso em: 9 ago. 2014.
nação à morte. Estante
Cinemateca CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
Sócrates Platão. A apologia de Sócrates. E-book gratuito. Disponí-
Dirigido pelo cineasta italiano Roberto Rossellini, este vel em: <http://portugues.free-ebooks.net/autor/platao>.
longa-metragem é a cinebiografia de Sócrates(469-399 a.C.), REALE, Giovanni. O saber dos antigos: terapia para os
um dos maiores filósofos que a humanidade já conheceu. O tempos atuais. São Paulo: Loyola, 1999.

261
Exercícios Propostos

Da teoria, leia os tópicos 1 e 2.


vez, descer à habitação comum dos outros e ha-
Exercícios de tarefa reforço aprofundamento bituar-se a observar as trevas. Com efeito, uma
vez habituados, sereis mil vezes melhores do
O texto a seguir é referência para as questões 6 e 7. que os que lá estão e reconhecereis cada ima-
gem, o que ela é e o que representa, devido a
No livro VII de A República, Platão apresenta a passagem terdes contemplado a verdade relativa ao belo,
conhecida por “Alegoria da Caverna”. Platão usa essa alegoria ao justo e ao bom. E assim teremos uma cidade
para representar o processo correto de educação do ser huma- para nós e para vós, que é uma realidade, e não
no. Leia o seguinte trecho de A República no qual o persona- um sonho, como atualmente sucede na maioria
gem Sócrates fala àqueles que foram educados corretamente: delas, onde combatem por sombras uns com os
outros e disputam o poder, como se ele fosse um
Mas a vós, nós formamos-vos, para vosso grande bem. Mas a verdade é esta: na cidade
bem e do resto da cidade, para serdes como os em que os que têm de governar são os menos
chefes e os reis nos enxames de abelhas, de- empenhados em ter o comando, essa mesma é
pois de vos termos dado uma educação melhor forçoso que seja a melhor e mais pacificamente
e mais completa do que a deles, e de vos tor- administrada, e naquela em que os que detêm o
EMI-15-20

narmos mais capazes de tomar parte em ambas poder fazem o inverso, sucederá o contrário.
as atividades. Deve, portanto, cada um por sua PLATÃO. A República, Livro VII, 520 b-d.
06. UFPR dade passe excepcionalmente bem, mas procura
2

Por que, de acordo com o personagem Sócrates, aque- que isso aconteça à totalidade dos cidadãos, har-
les que receberam a educação proposta em A República de- monizando-os pela persuasão ou pela coação, e
281

vem governar? fazendo com que partilhem uns com os outros


do auxílio que cada um deles possa prestar à co-
07. UFPR munidade; ao criar homens destes na cidade, a
De acordo com o personagem Sócrates, como se davam lei não o faz para deixar que cada um se volte
efetivamente as disputas políticas nas cidades? para a atividade que lhe aprouver, mas para tirar
partido dele para a união da cidade.
08. UEG-GO
Filosofia

PLATÃO, A república, Livro VII, 519 e 520a.


Um dos pontos altos da filosofia grega é a teoria do co-
nhecimento. Entre seus pensadores encontra-se Sócrates. Ao Em outras palavras, qual foi a resposta de Sócrates?
dialogar com seus interlocutores, Sócrates assumia humilde-
mente a atitude de quem aprende e, multiplicando as pergun- 11. UEM-PR modificado
tas, levava seu adversário à contradição, obrigando-o a reco- Sócrates foi um dos mais importantes filósofos da Anti-
nhecer sua ignorância. Esse método socrático denomina-se: guidade. Para ele, a filosofia não era um simples conjunto de
a. alegoria, metodologia de conhecimento segundo a teorias, mas uma maneira de viver. Sobre o pensamento e a
qual se desenvolve o conhecimento a partir do sen- vida de Sócrates, assinale o que for correto.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

so comum. 01. Sócrates acreditava que passar a vida filosofando,


b. maiêutica, metodologia segundo a qual a idéia é gera- isto é, a examinar a si mesmo e a conduta moral das
da ou acordada. pessoas, era uma missão divina na qual um deus
c. ironia, método dialético segundo o qual é demonstrada pessoal o auxiliava.
a necessidade de conhecer profundamente as idéias. 02. Nas conversações que mantinha nos lugares públicos
d. criticismo, metodologia de conhecimento que parte da Atenas do século V a.C., Sócrates repetia que tinha
da crítica da razão. conhecimento de tudo para, assim, não ter o porquê
de responder às questões que formulava e motivar
09. seus interlocutores a darem conta de suas opiniões.
Protágoras disse: “O homem é a medida de todas as coi- 04. O exercício da filosofia, para Sócrates, consistia em
sas”.Assinale a alternativa que melhor define a ideia contida questionar e em investigar a natureza dos princípios
na frase. e dos valores que devem governar a vida. Assim se
a. Esta frase sintetiza a ideia central de que o conheci- comportando, Sócrates contraiu inimizades de pode-
mento é universal para os sofistas. rosos que o executaram sob a acusação de impieda-
b. A ideia contida nesta frase condiz com o pensamento dos de e de corromper a juventude.
sofistas em articular argumentos com base científica. 08. A maiêutica socrática é a arte de trazer à luz, por meio
262

c. Esta frase é condizente com a ideia sofista sobre o re- de perguntas e de respostas, a verdade ou os conhe-
lativismo do conhecimento. cimentos mais importantes à vida que cada pessoa
d. A ideia contida nesta frase dá continuidade à ideia dos retém em sua alma.
primeiros filósofos de que, assim como para alguns
pré-socráticos a água ou o fogo eram a origem do uni- 12.
verso, o homem era peça-chave que teria dado origem De acordo com a frase abaixo, assinale a alternativa que
às coisas do universo. contém o ponto crucial da ética socrática.
e. Esta frase indica que o homem é o centro do pensa-
mento sofista e serve como base para a explicação da A principal preocupação de Sócrates é o ho-
cosmologia. mem [...]. Sócrates considera o homem de um
outro ponto de vista: o da interioridade. [...] O
10. UFPR centro da ética socrática é o conceito de areté. É
Segundo Platão no Livro VII de A República, quem con- esse o sentido do imperativo socrático.
templa o bem prefere não retornar aos afazeres humanos MARÍAS, Julián. História da filosofia.
quotidianos. Mesmo assim, Platão afirma que na cidade por São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 44.
ele concebida, aqueles que realizaram a ascensão para fora
da caverna e contemplaram o bem devem ser obrigados a a. “Aquilo que é não pode não ser”.
retornar ao convívio daqueles que não o contemplaram e a b. “Tudo flui”.
dedicar-se à administração da cidade. Após o personagem c. “O homem é a medida de todas as coisas”.
Sócrates apresentar essa tese, o personagem Glaucon adota d. “Conhece-te a ti mesmo”.
uma posição que lhe é contrária. Glaucon afirma que a obriga- e. “Tudo é cheio de deuses”.
ção de fazer com que os que contemplaram o bem dediquem-
-se ao governo da cidade é uma injustiça contra eles. Contra a 13.
opinião de Glaucon, Sócrates responde: Leia os trechos a seguir.
EMI-15-20

Esqueceste-te, novamente, meu amigo, que à Essa concepção, que separa a ordem das coi-
lei não importa que uma classe qualquer da ci- sas naturais e a dos homens, abre a possibilidade
da formação de ideias não só sobre o conheci- TEETETO: — Sim, já ouvi.

2
mento, como também sobre a política e a moral. SÓCRATES: — Então, já te contaram tam-
Uma vez que a medida de todas as coisas é o bém que exerço essa mesma arte?

281
homem, seu conhecimento está limitado pelos TEETETO: — Isso nunca.
sentidos, que mudam de um para outro (o que é SÓCRATES: — Pois fica sabendo que é ver-
doce para alguns, por exemplo, pode ser amargo dade (...). A minha arte obstétrica tem atribui-
para os demais). Assim, se existe algum acordo ções iguais às das parteiras, com a diferença
entre os homens, não resulta do conhecimento de eu não partejar mulher, porém homens, e de
de uma suposta verdade absoluta, mas de sim- acompanhar as almas, não os corpos, em seu

Filosofia
ples convenção. trabalho de parto.
[...] PLATÃO. Teeteto Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: UFPA, 1988.
Conhecê-la (a virtude) torna-se, assim, o prin-
cipal objetivo do verdadeiro conhecimento — só Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supraci-
pratica o mal quem ignora o que seja a virtude. tado, marque, para as afirmativas abaixo, (V) verdadeira, (F)
E quem tem o verdadeiro conhecimento só pode falsa e (SO) sem opção.
agir bem. Desse modo, conhecimento e virtude ( ) Sócrates exercia a arte das parteiras, isto é, a arte da
tornam-se sinônimos. Com Sócrates, as questões maiêutica. Essa arte consistia em interrogar os seus
morais deixam de ser tratadas como convenção interlocutores em busca da verdade, conduzindo a

Ciências Humanas e suas Tecnologias


baseadas nos costumes, as quais se modificam investigação para além de toda aparência de saber
conforme as circunstâncias e os interesses, para que os homens, em geral, trazem consigo.
se tornar problemas que exigem do pensamento ( ) Sócrates se dizia um parteiro de almas. No entanto, o
uma elucidação racional. Nesse sentido, ele é o próprio Sócrates se dizia incapaz de dizer a verdade
fundador da ética. que tentava encontrar nos interlocutores.
ABRÃO, Bernadette Siqueira (Org.). História da filosofia. São ( ) Sócrates interrogava as pessoas em praça pública
Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 38, 45. Os Pensadores. para humilhá-las, colocando-as diante da própria
ignorância. Segundo ele, “o homem é a medida de
O primeiro trecho é o desenvolvimento da afirmação do todas as coisas”, por isso a verdade depende do que
sofista Protágoras “O homem é a medida de todas as coisas”. se pode extrair de cada homem.
Já o segundo se refere a Sócrates. De acordo com eles, pode- ( ) Sócrates se dizia o mais sábio entre todos os ho-
mos concluir que: mens, porque só ele conhecia as verdades que os
a. a visão dos dois se difere totalmente, uma vez que o outros não eram capazes de encontrar. Com a arte
sofista diz que o mundo é aquilo que o homem faz e maiêutica, Sócrates demonstrava a superioridade do
desfaz por meio dos sentidos, que convenções são seu saber diante das falsas opiniões cultivadas pe-
criadas pelos homens de acordo com as conveniên- los cidadãos de Atenas.

263
cias e que não existe uma única verdade; já Sócrates
acredita que o que importa são as ações do homem, 15. UEM-PR
aquelas tidas como virtuosas, que trazem o verdadei- SÓCRATES: Imaginemos que existam pes-
ro conhecimento, a verdade em si. soas morando numa caverna. Pela entrada dessa
b. embora a visão dos dois seja diferente, eles se preo- caverna entra a luz vinda de uma fogueira situa-
cupam com o homem, o qual deve agir conforme da sobre uma pequena elevação que existe na
suas conveniências. frente dela. Os seus habitantes estão lá dentro
c. para Protágoras, a partir do momento em que o conhe- desde a infância, algemados por correntes nas
cimento está limitado pelos sentidos, para cada um há pernas e no pescoço, de modo que não conse-
uma suposta verdade, enquanto, para Sócrates, a es- guem mover-se nem olhar para trás, e só podem
sência de cada um passa a ser uma verdade absoluta. ver o que ocorre à sua frente. (...) Naquela situa-
d. ambos apresentam pensamentos semelhantes, como ção, você acha que os habitantes da caverna, a
se fossem uma continuidade, quer dizer, o pensamen- respeito de si mesmos e dos outros, consigam
to de Sócrates complementa o de Protágoras. ver outra coisa além das sombras que o fogo
e. a virtude para o sofista na maioria das vezes é alcan- projeta na parede ao fundo da caverna?
çada pelos sentidos, enquanto para Sócrates a virtude PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo Perine].
é o principal objetivo do verdadeiro conhecimento. São Paulo: Scipione, 2002. p. 83.

14. UFU-MG Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que


Muito do que se sabe sobre a vida e sobre a filosofia de ele representa, assinale o que for correto.
Sócrates foi transmitido pelos diálogos escritos por seu discí- Dê a soma dos itens corretos.
pulo mais importante, Platão. Em um desses diálogos, lemos 01. No mito da caverna, Platão pretende descrever os
a seguinte passagem: primórdios da existência humana, relatando como
eram a vida e a organização social dos homens no
SÓCRATES: — E nunca ouviste falar, meu princípio de seu processo evolutivo, quando habita-
EMI-15-20

gracejador, que eu sou filho de uma parteira fa- vam em cavernas.


mosa e imponente, Fenarete?
02. O mito da caverna faz referência ao contraste ser e SÓCRATES: — Um momento. Ridículo seria
2

parecer, isto é, realidade e aparência, que marca o se eu tratasse seriamente de persuadir-te a que
pensamento filosófico desde sua origem e que é as- escrevesses um panegírico do burro, chamando-
281

sumido por Platão em sua famosa Teoria das Ideias. -o de cavalo e dizendo que é muitíssimo prático
04. O mito da caverna simboliza o processo de emanci- comprar esse animal para o uso doméstico, bem
pação espiritual que o exercício da filosofia é capaz como para expedições militares; que ele serve
de promover, libertando o indivíduo das sombras da para montaria de batalha, para transportar baga-
ignorância e dos preconceitos. gens e para vários outros misteres.
08. É uma característica essencial da filosofia de Platão FEDRO: — Isso seria ainda ridículo.
Filosofia

a distinção entre Mundo Inteligível e Mundo Sensível; SÓCRATES: — Um amigo que se mostra ri-
o primeiro ocupado pelas ideias perfeitas, o segundo dículo não é preferível ao que se revela como
pelos objetos físicos, que participam daquelas ideias perigoso e nocivo?
ou são suas cópias imperfeitas. FEDRO: — Não há dúvida.
16. No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e SÓCRATES: — Quando um orador, ignoran-
contempla a realidade fora da caverna, devendo do a natureza do bem e do mal, encontra os seus
voltar à caverna para libertar seus companheiros, concidadãos na mesma ignorância e os persua-
representa o filósofo que, na concepção platônica, de, não a tomar a sombra de um burro por um
conhecedor do “bem” e da “verdade”, é o mais apto cavalo, mas o mal pelo bem; quando, conhece-
Ciências Humanas e suas Tecnologias

a governar a cidade. dor dos preconceitos da multidão, ele a impele


para o mau caminho, — nesses casos, a teu ver,
16. Unesp que frutos a retórica poderá recolher daquilo que
Fragmento do diálogo Fedro, de Platão (427-347 a.C.): ela semeou?
FEDRO: — Não pode ser muito bom fruto.
SÓCRATES: — Vamos então refletir sobre o SÓCRATES: — Mas vejamos, meu caro: não
que há pouco estávamos discutindo; examinare- nos teremos excedido em nossas censuras con-
mos o que seja recitar ou escrever bem um dis- tra a arte retórica? Pode suceder que ela respon-
curso, e o que seja recitar ou escrever mal. da: “que estais a tagarelar, homens ridículos? Eu
FEDRO: — Isso mesmo. não obrigo ninguém — dirá ela — que ignore
SÓCRATES: — Pois bem: não é necessário a verdade a aprender a falar. Mas quem ouve o
que o orador esteja bem instruído e realmente meu conselho tratará de adquirir primeiro esses
informado sobre a verdade do assunto de que conhecimentos acerca da verdade para, depois,
vai tratar? se dedicar a mim. Mas uma coisa posso afirmar
FEDRO: — A esse respeito, Sócrates, ouvi o com orgulho: sem as minhas lições a posse da
seguinte: para quem quer tornar-se orador con- verdade de nada servirá para engendrar a per-
264

sumado não é indispensável conhecer o que de suasão”.


fato é justo, mas sim o que parece justo para FEDRO: — E não teria ela razão dizendo isso?
a maioria dos ouvintes, que são os que deci- SÓCRATES: — Reconheço que sim, se os
dem; nem precisa saber tampouco o que é bom argumentos usuais provarem que de fato a re-
ou belo, mas apenas o que parece tal — pois tórica é uma arte; mas, se não me engano, te-
é pela aparência que se consegue persuadir, e nho ouvido algumas pessoas atacá-la e provar
não pela verdade. que ela não é isso, mas sim um negócio que
SÓCRATES: — Não se deve desdenhar, caro nada tem que ver com a arte. O lacônio decla-
Fedro, da palavra hábil, mas antes refletir no que ra: “não existe arte retórica propriamente dita
ela significa. O que acabas de dizer merece toda sem o conhecimento da verdade, nem haverá
a nossa atenção. jamais tal coisa”.
FEDRO: — Tens razão. Platão. Diálogos. Porto Alegre: Globo, 1962.
SÓCRATES: — Examinemos, pois, essa afir-
mação. Após uma leitura atenta do fragmento do diálogo Fedro,
FEDRO: — Sim. pode-se perceber que Sócrates combate, fundamentalmente,
SÓCRATES: — Imagina que eu procuro per- o argumento dos mestres sofistas, segundo o qual, para fazer
suadir-te a comprar um cavalo para defender-te bons discursos, é preciso:
dos inimigos, mas nenhum de nós sabe o que a. evitar a arte retórica.
seja um cavalo; eu, porém, descobri por acaso b. conhecer bem o assunto.
uma coisa: “Para Fedro, o cavalo é o animal do- c. discernir a verdade do assunto.
méstico que tem as orelhas mais compridas”... d. ser capaz de criar aparência de verdade.
FEDRO: — Isso seria ridículo, querido Sócrates. e. unir a arte retórica à expressão da verdade.
EMI-15-20
Módulo 5

2
“Mundo das Ideias” e “Mundo dos Sentidos”: Platão

281
Exercícios de Aplicação
01. UEL-PR 02. Cespe-UnB-DF

Filosofia
Você está acompanhando, Sofia? E agora Para Platão, há dois mundos: o Mundo Sensível,
vem Platão. Ele se interessava tanto pelo que é dos fenômenos, e o Mundo Inteligível, das ideias.
eterno e imutável na natureza quanto pelo que O primeiro, acessível aos sentidos, é o mundo da
é eterno e imutável na moral e na sociedade. multiplicidade, do movimento, e é ilusório, pura
Sim... para Platão tratava-se, em ambos os casos, sombra do verdadeiro mundo. Acima do ilusório
de uma mesma coisa. Ele tentava entender uma mundo sensível, há um mundo das ideias gerais,
“realidade” que fosse eterna e imutável. E, para das essências imutáveis que o homem atinge pela
ser franco, é para isto que os filósofos existem. contemplação e pela depuração dos enganos dos
Eles não estão preocupados em eleger a mulher sentidos. Essas ideias estão hierarquizadas e, no

Ciências Humanas e suas Tecnologias


mais bonita do ano, ou os tomates mais baratos topo delas, está a ideia do bem. O bem supremo é
da feira. também a suprema beleza.
(E exatamente por isso nem sempre são Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins. Filosofando:
vistos com bons olhos). Os filósofos não se introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1986, p.222.
interessam muito por essas coisas efêmeras e
cotidianas. Eles tentam mostrar o que é “eter- Com base no texto acima, julgue os itens subsequentes:
namente verdadeiro”, “eternamente belo” e 1. A suprema beleza, reconhecida pelos sentidos, como
“eternamente bom”. o da visão, pertence ao mundo sensível, àquilo que
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. pode ser observado.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 98. 2. A “pura sombra do verdadeiro” corresponde, no texto,
a “mundo sensível”.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
Resolução
das ideias de Platão, assinale a alternativa correta.
a. Para Platão, o Mundo das Ideias é o mundo do “eterna- O item 1 está incorreto, pois o "belo" pertence ao mundo
mente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente perfeito, ao Mundo das Ideias.
bom” e é distinto do Mundo Sensível no qual vivemos. Resposta: item 1 – incorreto; item 2 – correto

265
b. Platão considerava que tudo aquilo que pode ser per-
cebido diretamente pelos sentidos constitui a própria
realidade das coisas.
c. Platão considerava impossível que o homem pudesse
ter ideias verdadeiras sobre qualquer coisa, seja so-
bre a natureza, a moral ou a sociedade, porque tudo é
sonho e ilusão.
d. Para Platão, as ideias sobre a natureza, a moral e a socieda-
de podem ser explicadas a partir das diferentes opiniões
das pessoas.
e. De acordo com Platão, o filósofo deve preocupar-se com
as coisas efêmeras e cotidianas do mundo, tidas por ele
como as mais importantes.
Resolução
O Mundo das Ideias é o mundo da verdade eterna, una e
imutável. As ideias são modelos que conferem ordem, estabi-
lidade e unidade diante das mudanças de todas as coisas. Já
o Mundo Sensível é o mundo material, de mudanças corren-
tes, cópia imperfeita do Mundo das Ideias.
Alternativa correta: A
EMI-15-20
03. Resolução
2

Leia o texto a seguir. O trecho faz referência ao mito da caverna, alegoria se-
gundo a qual era fundamental para o filósofo quebrar os gri-
lhões que o aprisionavam na caverna para sair e enxergar o
281

Assim sendo, aquele que se aproxima do di-


vino tem a responsabilidade de voltar ao mundo mundo verdadeiro. Essa saída significa atingir o mundo das
das aparências e auxiliar seus concidadãos a se ideias, o mundo da não contradição. Os outros mitos indica-
liberarem de seus ferros. Se a ascese salvadora dos nas alternativas não têm relação com Platão.
se faz pelo diálogo, a salvação também se faz Alternativa correta: D
pela via da amizade, da philia, no seio da pólis. Habilidade
Filosofia

GIANNOTTI, J. A. Lições de filosofia primeira. São Identificar motivações de ordem pessoal para o desen-
Paulo: Cia. das Letras, 2011. p. 59. volvimento de reflexões filosóficas.

A que mito o trecho faz referência?


a. Ao mito dos deuses
b. Ao mito da salvação
c. Ao mito platônico
d. Ao mito da caverna
e. Ao mito ideal
Ciências Humanas e suas Tecnologias
266

Exercícios Extras
04. 05. Sistema COC
A frase a seguir relata o que é o conhecer para Platão. A teoria do conhecimento defendida por Platão especial-
Leia-a e assinale a alternativa correta. mente na Alegoria da Caverna fundamenta-se na concepção
de dois mundos: um mundo sensível e um mundo das ideias.
Conhecer, portanto, não é ver o que está fora, A partir dessa afirmação, pode-se concluir que:
mas, ao contrário: recordar o que está dentro de I. a concepção filosófica de Platão tem como núcleo a
nós. As coisas são apenas um estímulo para nos busca do Mundo das Ideias;
afastarmos delas e nos elevarmos às ideias. II. Platão supôs a existência de um conhecimento prévio,
podendo assim ser chamado de filósofo inatista;
a. O método do conhecimento para Platão significa que III. na filosofia platônica, o mundo das ideias correspon-
o homem parte das coisas, não para ficar nelas, mas de à noção de “realidade” e o Mundo Sensível à noção
para que elas lhe provoquem uma lembrança das de “ilusão”;
ideias outrora contempladas. IV. no Mundo Sensível, o homem tem a visão obscurecida
b. O conhecer para Platão significa procurar pelo ser ver- das formas, cabendo ao filósofo a tarefa de despertar
dadeiro, que está nas ideias, as quais são plenamente esse conhecimento “adormecido”;
acessíveis ao nosso conhecimento direto. V. não há qualquer tipo de dualismo na teoria do conhe-
c. A alma do homem é sua verdade, por isso é ela a respon- cimento platônica.
sável pelo conhecimento do homem no mundo sensível. Estão corretas as afirmações:
d. O verdadeiro conhecimento para Platão se encontra tan- a. I e II, apenas.
to no mundo sensível quanto no mundo das ideias, bas- b. I, II e III, apenas.
tando compreender as coisas que acontecem ao redor. c. I, II, III e IV, apenas.
e. O homem adquire conhecimento durante sua vivên- d. III, IV e V, apenas.
EMI-15-20

cia, não sendo possível, portanto, recordar o que está e. I, II, III, IV e V.
dentro de nós.
Seu espaço

2
Sobre o módulo Com Jim Carey, Ed Harris, Laura Linney. Truman tem sua

281
• Problematizar as questões relacionadas à idealização vida transmitida ao vivo a milhões de telespectadores, com
das coisas na perspectiva platônica. sua imagem vinculada à propaganda de produtos diversos.
• Abordar a teoria platônica do conhecimento enfa- Ele não sabe que é um personagem, acredita que tudo que
tizando a dualidade na percepção da realidade por passa na televisão é seu mundo real – não distingue o mundo
meio dos mundos "sensível” (sentidos) e “inteligível” das aparências e o mundo da realidade. Uma variação do mito
(ideias), ilustrando a problemática por meio do mito da caverna de Platão.

Filosofia
da caverna e da teoria da reminiscência. Na web
• Abordar a visão política de Platão em sua obra A Re- Obras de Platão. 29 livros em PDF para download
pública, indagando dos alunos as possibilidades de gratuito como O Banquete, Fedon e A República.
essa visão ser aplicada nos dias atuais e ressaltando Disponível em: <https://pensamentosnomadas.
as possíveis virtudes de tal modelo e suas inerentes wordpress.com/2012/04/03/26-obras-de-
platao-em-portugues-e-espanhol-pdf/>.
limitações.
Informações sobre diversas obras de Platão.
Cinemateca Disponível em: <http://mitologia.

Ciências Humanas e suas Tecnologias


blogs.sapo.pt/82689.html>.
Matrix. Estados Unidos, 1999. Dirigido pelos irmãos Andy
e Lana Wachowski. 138 min. O mito da caverna. Revista Filosofia.
Com Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Disponível em: <http://filosofia.uol.com.br/
filosofia/ideologia-sabedoria/23/mito-da-
Mos. A história de ficção científica narra uma realidade futu-
caverna-uma-reflexao-atual-178922-1.asp>.
rista na qual os homens são dominados por máquinas que
criaram uma realidade ilusória e perfeita na qual eles imagi-
nam viver. A realidade imposta pela Matrix (Mundo Sensível) Estante
acoberta a verdadeira realidade (Mundo Inteligível), que se LOPES, Daniel R. N. (Org.). Górgias de Platão: Obras II. São
encontra fora do mundo controlado pelas máquinas. Dessa Paulo: Perspectiva, 2011.
forma, a história dialoga com conceitos filosóficos da obra PLATÃO. Timeu. Tradução de Maria José de Figueiredo. São
de Platão, tais como o mundo dos sentidos (aparências) e o Paulo, Instituto Piaget, 2010.
mundo das ideias (verdades) e a busca da verdade. Escrito por volta de 360 a.C. integra os Diálogos. O traba-
O show de Truman. Estados Unidos, 1998. Dirigido por Pe- lho apresenta uma especulação sobre a natureza do mundo
ter Weir. 102 min. físico e os seres humanos.

267
EMI-15-20
Exercícios Propostos
2

Da teoria, leia os tópicos 3, 3.A, 3.A.1, 3.A.2, 3.B e 3.C 08. UEL-PR
281

Exercícios de tarefa reforço aprofundamento – Quando é, pois, que a alma atinge a verda-
de? Temos de um lado que, quando ela deseja in-
vestigar com a ajuda do corpo qualquer questão
06. UEM-PR que seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente.
Uma das obras de Platão (428-347 a.C.) mais conhecidas – Dizes uma verdade.
é A República, na qual se encontra o mito da caverna. – Não é, por conseguinte, no ato de racioci-
Filosofia

nar, e não de outro modo, que a alma apreende,


Platão imagina uma caverna onde pessoas em parte, a realidade de um ser?
estão acorrentadas desde a infância, de tal for- – Sim.
ma que, não podendo ver a entrada dela, apenas [...] – E é este então o pensamento que nos
enxergam o seu fundo, no qual são projetadas as guia: durante todo o tempo em que tivermos o
sombras das coisas que passam às suas costas, corpo, e nossa alma estiver misturada com essa
onde há uma fogueira. Se um desses indivíduos coisa má, jamais possuiremos completamente
conseguisse se soltar das correntes para con- o objeto de nossos desejos! Ora, esse objeto é,
templar, à luz do dia, os verdadeiros objetos, ao como dizíamos, a verdade.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

regressar, relatando o que viu aos seus antigos PLATÃO. Fédon. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 66-67.
companheiros, esses o tomariam por louco e não
acreditariam em suas palavras. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concep-
ARANHA, M.L.A.; MARTINS, M.H. Filosofando: introdução à ção de verdade em Platão, é correto afirmar:
filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. p. 121. a. A verdade reside na contemplação das sombras, refle-
tidas pela luz exterior e projetadas no Mundo Sensível.
Sobre a citação acima e o alcance epistemológico do b. A verdade consiste na fidelidade, e como Deus é o único
mito da caverna, assinale o que for correto. Dê a soma dos verdadeiramente fiel, então a verdade reside em Deus.
itens corretos. c. A principal tarefa da filosofia está em aproximar o má-
01. As imagens produzidas na caverna são sombras que ximo possível a alma do corpo para, dessa forma, ob-
ter a verdade.
podem ser confundidas com a realidade.
d. A verdade encontra-se na correspondência entre um
02. A todo aquele que sai da caverna é vetada a possibili-
enunciado e os fatos que ele aponta no mundo sensível.
dade de retorno.
e. O conhecimento inteligível, compreendido como ver-
04. A imagem da fogueira se contrapõe, fora da caverna,
dade, está contido nas ideias que a alma possui.
à presença do sol, responsável pela verdadeira luz.
08. Tal qual o mito da Esfinge, decifrado por Édipo, Platão
268

09.
descreve três estados da humanidade: infância, ju-
Leia o excerto a seguir e assinale a alternativa que corres-
ventude e maturidade. ponde corretamente à ideia central.
16. Tal qual o mundo sensível, ilusório e efêmero, as ima- E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exa-
gens da caverna possuem um grau ontológico defici- tamente essa alegoria ao que dissemos anterior-
tário ou duvidoso mente. Devemos assimilar o mundo que apreende-
mos pela vista à estada na prisão, a luz do fogo que
07. UEL-PR
ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida
Para Platão, havia outra forma de conhecer além daquela e à contemplação do que há no alto, considera que
proveniente da experiência. Em sua Teoria da Reminiscência, se trata da ascensão da alma até o lugar inteligí-
a razão é valorizada como meio de acesso ao inteligível. De vel. [...] nos últimos limites do mundo inteligível,
acordo com a Teoria da Reminiscência de Platão, é correto aparece-me a ideia do Bem, que se percebe com
afirmar que o conhecimento é: dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir
a. proveniente da percepção sensível, na qual os sentidos que ela é a causa de tudo o que há de belo e reto.
retêm informações evidentes sobre o Mundo Material. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz,
b. originado da ação que os objetos exercem sobre os no mundo inteligível ela própria é a soberana que
órgãos dos sentidos, produzindo um conhecimento dispensa a verdade e a inteligência.
inquestionável do ponto de vista da razão. A Alegoria da Caverna. In: MARCONDES, Danilo. Iniciação
c. reconhecido mediante intuição intelectual, ao se refe- à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.
rir às ideias adquiridas anteriormente e relembradas Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 64-65. Fragmento.
na vida presente. a. Pelo trecho, é possível perceber que o Bem é gerado
d. fruto da ação divina que, por meio da iluminação inte- no Mundo Sensível.
rior, revela ao ser humano verdades eternas. b. Se a luz pode ser gerada no Mundo Sensível, então
e. estruturado empiricamente como condição para a rea- não é necessária a ascensão da alma ao Inteligível
lização das atividades da razão. para se obter o verdadeiro conhecimento.
EMI-15-20
c. A luz simboliza o grau máximo de realidade, a própria III. As Ideias confirmam inteligibilidade do real.

2
ideia do Bem, do conhecimento e da verdade. IV. Se uma coisa é o que é, a todos parecerá Belo.
d. Tudo o que há de belo não tem relação direta com a a. Somente III e IV são corretos.

281
ideia de Bem. b. Somente IV é correto.
e. A sabedoria é gerada no mundo sensível pela luz ad- c. Somente I e II são corretos.
vinda do mundo inteligível. d. Somente II é correto.
e. Somente II e III são corretos.
10. UEL-PR
Leia o texto de Platão a seguir. 12.

Filosofia
Leia o trecho a seguir e assinale a alternativa que corres-
Logo, desde o nascimento, tanto os homens ponde à conclusão que podemos chegar quanto à ideia de
como os animais têm o poder de captar as im- política para Platão.
pressões que atingem a alma por intermédio do
corpo. Porém, relacioná-las com a essência e (Platão) reconhece que o importante não era
considerar a sua utilidade, é o que só com tem- fazer política, qualquer política, mas política.
po, trabalho e estudo conseguem os raros a quem [...] Para Platão, a política não se limita à prá-
é dada semelhante faculdade. Naquelas impres- tica, insegura e circunstancial. Deve pressupor
sões, por conseguinte, não é que reside o conheci- a investigação sistemática dos fundamentos da

Ciências Humanas e suas Tecnologias


mento, mas no raciocínio a seu respeito; é o único conduta humana — como Sócrates ensinara. [...]
caminho, ao que parece, para atingir a essência e a política poderia deixar de ser o jogo fortuito de
a verdade; de outra forma é impossível. ações motivadas por interesses [...]
PLATÃO. Teeteto. Belém: Platão. Os pensadores. São Paulo:
Universidade Federal do Pará, 1973. p. 80. Nova Cultural, 1999. p. 10, 11 e 13.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria a. A política, para Platão, está ligada à teoria, sendo, por-
do conhecimento de Platão, considere as afirmativas a seguir: tanto, um conceito abstrato que não possibilita ações
I. Homens e animais podem confiar nas impressões verdadeiras.
que recebem do Mundo Sensível e, assim, atingir a b. A ação política deveria se transformar numa ação ilumina-
verdade. da pela verdade, propiciando harmonia, justiça e beleza.
II. As impressões são comuns a homens e animais, mas c. Política nada tem a ver com justiça, pois esta está li-
apenas os homens têm a capacidade de formar, a par- gada à verdade.
tir delas, o conhecimento. d. A política não deve ser motivada por interesses parti-
III. As impressões não constituem o conhecimento sen- culares, mas sim ligada a ações circunstanciais.
sível, mas são consideradas como núcleo do conheci- e. Se política está ligada à investigação sistemática, sig-

269
mento inteligível. nifica que ela sempre esteve ligada à ética.
IV. O raciocínio a respeito das impressões constitui a
base para se chegar ao conhecimento verdadeiro. 13. ENEM
Assinale a alternativa correta. Para Platão, o que havia de verdadeiro em
a. Somente as afirmativas I e II são corretas. Parmênides era que o objeto de conhecimento
b. Somente as afirmativas II e IV são corretas. é um objeto de razão e não de sensação, e era
c. Somente as afirmativas III e IV são corretas. preciso estabelecer uma relação entre objeto
d. Somente as afirmativas I, II e III são corretas. racional e objeto sensível ou material que pri-
e. Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. vilegiasse o primeiro em detrimento do segun-
do. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das
11. Ideias formava-se em sua mente.
Leia o fragmento a seguir. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia.
São Paulo: Odysseus, 2012. Adaptado.
Uma ideia é a causa de algo ser o que é.
Como diz Platão, no Fédon: “se algo é belo, não O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um
o é por outra razão a não ser porque participa do aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-
Belo em si”. 346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante
PECORARO, Rossano (Org.). Os filósofos clássicos da filosofia – de dessa relação?
Sócrates a Rousseau. Rio de Janeiro: Vozes, 2009. v. 1. p. 51. a. Estabelece um abismo intransponível entre as duas.
b. Privilegia os sentidos e subordina o conhecimento a eles.
Dos itens a seguir, quais apresentam sua ideia central? c. Atém-se à posição de Parmênides de que razão e sen-
I. As coisas sensíveis são ontologicamente primárias, sação são inseparáveis.
quer dizer, existem por si só, independentemente de d. Afirma que a razão é capaz de gerar conhecimento,
coisas externas. mas a sensação não.
II. As Ideias são independentes dos seres sensíveis, e. Rejeita a posição de Parmênides de que a sensação é
EMI-15-20

pois existem por si e em si. superior à razão.


14. UEL-PR percebemos o som como proveniente das figu-
2

Leia o texto, que se refere à ideia de cidade justa de Platão. ras na tela.
Como a temperança, também a justiça é uma Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001.
281

virtude comum a toda a cidade. Quando cada


uma das classes exerce a sua função própria, Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de
“aquela para a qual a sua natureza é a mais ade- Platão, comentando sua importância para a distinção entre
quada”, a cidade é justa. Esta distribuição de ta- aparência e essência.
refas e competências resulta do fato de que cada
um de nós não nasceu igual ao outro e, assim, 16. UEL-PR
Filosofia

cada um contribui com a sua parte para a sa- Observe a charge a seguir.
tisfação das necessidades da vida individual e
coletiva. (...) Justiça é, portanto, no indivíduo,
a harmonia das partes da alma sob o domínio

REPRODUÇÃO
superior da razão; no estado, é a harmonia e a
concórdia das classes da cidade.
PIRES, Celestino. Convivência política e noção tradicional
de justiça. In: BRITO, Adriano N. de; HECK, José N. (Orgs.).
Ética e política. Goiânia: Editora da UFG, 1997. p. 23.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

Sobre a cidade justa na concepção de Platão, é correto


afirmar:
a. Nela todos satisfazem suas necessidades mínimas e Disponível em: <http://jarbas.wordpress.com/2010/10/04/platao-
inexistem funções como as de governantes, legisla- mito-da-caverna-e-ti/>. Acesso em: 30 ago. 2012. Adaptado.
dores e juízes.
b. É governada pelos filósofos, protegida pelos guerreiros Após descrever a alegoria da caverna, na obra A Repúbli-
e mantida pelos produtores econômicos, todos cum- ca, Platão faz a seguinte afirmação:
prindo sua função própria.
c. Seus habitantes desejam a posse ilimitada de rique- Com efeito, uma vez habituados, sereis mil
zas, como terras e metais preciosos. vezes melhores do que os que lá estão e reco-
d. Ela tem como principal objetivo fazer a guerra com seus nhecereis cada imagem, o que ela é e o que re-
vizinhos para ampliar suas posses através da conquista. presenta, devido a terdes contemplado a verda-
e. Ela ambiciona o luxo desmedido e está cheia de objetos de relativa ao belo, ao justo e ao bom. E assim
supérfluos, tais como perfumes, incensos, iguarias, gulo- teremos uma cidade para nós e para vós, que é
seimas, ouro, marfim etc. uma realidade, e não um sonho, como atualmen-
te sucede na maioria delas, onde combatem por
270

15. Unesp sombras uns com os outros e disputam o poder,


Do lado oposto da caverna, Platão situa uma como se ele fosse um grande bem.
fogueira – fonte da luz de onde se projetam as PLATÃO. A República. Lisboa:
sombras – e alguns homens que carregam ob- Calouste Gulbenkian, 1994. p. 326.
jetos por cima de um muro, como num teatro
de fantoches, e são desses objetos as sombras a. Segundo a Alegoria da Caverna de Platão e com base
que se projetam no fundo da caverna e as vozes nessa afirmação, explique o modelo político que con-
desses homens que os prisioneiros atribuem às figura a organização da cidade ideal.
sombras. Temos um efeito como num cinema b. Compare a Alegoria da Caverna e a charge e explicite o
em que olhamos para a tela e não prestamos que representa, do ponto de vista político, a saída do
atenção ao projetor nem às caixas de som, mas homem da caverna e a contemplação do bem.
EMI-15-20
Módulo 6

2
Aristóteles e a ética

281
Exercícios de Aplicação
01. UFU-MG 02. UFF-RJ

Filosofia
Considere as seguintes afirmações de Aristóteles e assi-

REPRODUÇÃO
nale a alternativa correta.
I. “... é a ciência dos primeiros princípios e das primeiras
causas.”
II. “... é a ciência do ser enquanto ser.”
Que ciência é essa ou quais ciências são essas?
a. A ética ou a política
b. A física e a metafísica
c. A história e a metafísica

Ciências Humanas e suas Tecnologias


d. A filosofia primeira ou a metafísica
Resolução
Um dos pontos da filosofia aristotélica versa sobre a aná-
lise do ser enquanto ser, na sua essência, ou seja do ponto
de vista metafísico. Sendo assim, a metafísica é a ciência dos Imagem do detalhe de Platão e
primeiros princípios e das causas primeiras. Aristóteles na pintura Escola de Atenas
Alternativa correta: D
Na célebre pintura A Escola de Atenas, o artista renascen-
tista italiano Rafael reuniu os principais nomes da filosofia
grega, tendo ao centro do quadro as figuras de Platão e de
Aristóteles. Na pintura, Platão aponta sua mão para o alto e
Aristóteles aponta para baixo. Deste modo, com estes gestos,
Rafael estava ilustrando a distinção entre a filosofia de Platão
e a filosofia de Aristóteles.
Indique e discorra sobre a principal diferença entre a filo-

271
sofia de Platão e a de Aristóteles.
Resolução
Na pintura de Rafael, o gesto de Platão aponta o Mun-
do Ideal e o de Aristóteles o Mundo Real. A interpretação de
Rafael é evidentemente esquemática. O aluno poderá expor
suas próprias concepções sobre as diferenças entre Platão e
Aristóteles.
EMI-15-20
03. Sistema COC Resolução
2

Leia o texto a seguir. Para Aristóteles, as relações entre ética e política são fun-
A cada novo escândalo que envolve figuras da damentais, uma vez que ambas buscam a felicidade, objetivo
maior da existência humana. Segundo esse filósofo, a política
281

política nacional e regional, não faltam vozes a cla-


mar, com evidente razão, por mais ética na políti- seria um desdobramento natural da ética. Enquanto a ética
ca. Gostaríamos, no entanto, de provocativamente, postula meios para atingir a felicidade para o ser humano no
colocar em xeque esta evidência, para, com isso, plano individual, a política, por sua vez, teria o mesmo papel
aprofundarmos um pouco mais o debate acerca da no âmbito coletivo. Assim, a ética funciona como um funda-
complexa relação que entre si guardam a moral, a mento da política na busca e na construção do bem comum,
isto é, da felicidade dos homens em sociedade.
Filosofia

ética, a política e o direito modernos. O bordão da


“ética na política” aparece como uma palavra de a. Incorreta: para Aristóteles, a ética é a base da política,
ordem diretamente significativa e comovente por pois ambas buscam a felicidade, a primeira no âmbito
si só, dita por todos nós que nos cansamos dos re- individual e a segunda no plano coletivo.
correntes escândalos, que, a um só tempo, causam c. Incorreta: segundo Aristóteles, a ética é a base da polí-
a indignação expressa no bordão e elevam os índi- tica e ambas são indissociáveis.
ces de audiência da mídia, bem como inflamam os d. Incorreta: a relação entre ética e política, para Aristóte-
discursos dos adversários políticos dos envolvidos les, não pode ser definida de forma tão rígida e distinta
no escândalo da vez. em suas concepções, uma vez que estão intimamente
Ciências Humanas e suas Tecnologias

Disponível em: <http://www.fd.unb.br/index.php?option=com_ ligadas tanto nos valores quanto nas ações.
content&view=article&id=649%3Aa-etica-na-politica-e-os-recentes-
e. Incorreta: para Aristóteles, a ética está vinculada à po-
casos-de-corrupcao-no-df&catid=180%3Acad-noticias-menor-
impacto&Itemid=2829&lang=br/>. Acesso em: 24 mar. 2014. lítica de forma intrínseca, correspondendo a uma de
suas bases mais importantes.
O texto retrata o cenário atual da política brasileira em que Alternativa correta: B
cada vez mais a ética é clamada para questionar os valores que Habilidade
orientam a ação política, uma vez que tal realidade política apa-
Analisar a importância dos valores éticos na construção
renta uma ruptura entre ambas. O tema em si não é novidade,
das sociedades.
pois, desde a Grécia Antiga, que nos forneceu as bases da cultura
ocidental, com Aristóteles no século IV a.C., a função da ética é
estabelecer os valores para a política. Desse modo, segundo Aris-
tóteles, é correto afirmar que:
a. a ética e a política são campos distintos da ação humana.
b. a ética é o fundamento da política.
c. a política e a ética não se relacionam.
d. a ética se refere aos valores e a política se refere
272

à ação.
e. a política não precisa da ética.

Exercícios Extras
04. a. De acordo com o trecho, todos os animais são dotados
Analise o trecho a seguir para assinalar a alternativa que de memória.
contém sua ideia central. b. Pelo trecho, sabemos que todos os seres são dotados
Todos os homens têm, por natureza, desejo de de sensação e memória, por isso eles têm a faculdade
conhecer: uma prova disso é o prazer das sensa- de aprender.
ções, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agra- c. Por meio do texto, podemos perceber que o processo
dam por si mesmas e, mais que todas as outras, de conhecimento inicia-se com os sentidos, mas são
as visuais. [...] A razão é que ela é, de todos os insuficientes, pois seu contato com o real é instantâ-
sentidos, o que melhor nos faz conhecer as coisas neo, necessitando também da memória, para a reten-
e mais diferenças nos descobre. Por natureza, se- ção desses dados sensoriais.
guramente, os animais são dotados de sensação, d. Pelo trecho, notamos que para todos os animais a ex-
mas, nuns, da sensação não se gera a memória, periência pouco importa para o processo de conheci-
e noutros, gera-se. Por isso, estes são mais inteli- mento, pois as sensações vão sendo acumuladas ao
gentes e mais aptos para aprender do que os que longo do tempo e vão assim formando a memória.
são incapazes de recordar. [...] Os outros [animais] e. De acordo com o trecho, percebemos que as sen-
vivem portanto de imagens e recordações, e de ex- sações fornecem dados sobre o real e a memória é
periência pouco possuem. Mas a espécie humana apenas uma etapa do processo de conhecimento que
[vive] também de arte e de raciocínios. nem sempre necessita estar presente.
Metafísica. In: MARCONDES, Danilo. Iniciação
EMI-15-20

à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.


Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 78-79. Fragmento.
05. UEL-PR De acordo com o texto de Aristóteles, é correto afirmar

2
Toda cidade (polis), portanto, existe natural- que a pólis:
mente, da mesma forma que as primeiras co- a. é instituída por uma convenção entre os homens.

281
munidades; aquela é o estágio final destas, pois b. existe por natureza e é da natureza humana buscar a
a natureza de uma coisa é seu estágio final. (...) vida em sociedade.
Estas considerações deixam claro que a cidade c. passa a existir por um ato de vontade dos deuses,
é uma criação natural, e que o homem é por na- alheia à vontade humana.
tureza um animal social, e um homem que por d. é estabelecida pela vontade arbitrária de um déspota.
natureza, e não por mero acidente, não fizesse e. é fundada na razão, que estabelece as leis que a or-

Filosofia
parte de cidade alguma, seria desprezível ou es- denam.
taria acima da humanidade.
ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Brasília: Ed.
Universidade de Brasília, 1997. p. 15.

Seu espaço

Ciências Humanas e suas Tecnologias


Sobre o módulo felicidade estava na virtude. Para Aristóteles, a felicidade era
• Abordar a distinção que o pensamento aristotélico uma atividade da alma realizada de acordo com a virtude, já
estabeleceu com as bases do pensamento de Platão estabelecendo uma ligação com a ética.
no que tange à teoria do conhecimento, em especial o Na web
papel dos sentidos.
• Desenvolver as abordagens das categorias aristotéli- O animal político para Aristóteles. Revista Filosofia.
cas como ato e potência, enriquecendo a reflexão por Disponível em: <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/
ideologia-sabedoria/23/o-animal-politico-para-
meio de intervenções e problematizações de temas aristoteles-o-homem-e-um-178984-1.asp>.
do cotidiano dos alunos.
• Abordar a formulação aristotélica a respeito da ética:
O que é?; Qual sua função?; Qual sua relação inerente
Aristóteles: O mundo da experiência,
com a política? as quatro causas, ética e política.
• Ressaltar de que maneira as formulações de Aristóte- Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/
les a respeito da intrínseca relação entre ética e po- disciplinas/filosofia/aristoteles-o-mundo-da-

273
lítica podem ser utilizadas para a compreensão dos experiencia-as-quatro-causas-etica-e-politica.htm>.
fenômenos políticos e sociais da atualidade.

Cinemateca Sobre o pensamento aristotélico (política, filosofia,


À procura da felicidade. Estados Unidos, 2006. Dirigido teologia e psicologia). Filosofia da PUC-SP.
Disponível em: <http://www.pucsp.br/pos/cesima/
por Gabriele Muccino. 1h57min.
schenberg/alunos/paulosergio/politica.html>.
Sem trabalho, Chris Gardner (Will Smith) enfrenta sérios
problemas financeiros. Sua mulher o abandona e ele fica com
Christopher (Jaden Smith), seu filho de apenas 5 anos. Ch- Estante
ris arruma um estágio, para conseguir um emprego melhor, ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Companhia. das Le-
mas ele não consegue receber salário e é despejado. Com o tras, 2010.
filho, dorme em abrigos, estações de trem, banheiros e onde
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Val-
quer que consiga um refúgio à noite, sempre mantendo a es-
landro e Gerd Bornheim. In: Aristóteles. v. 2. Os pensadores.
perança de que dias melhores virão e que eles serão felizes.
São Paulo: Nova Cultural, 1991.
O filme leva à reflexão: podemos ou não ser felizes? Vários
filósofos meditaram sobre essa questão, uma vez que o con- CHAUI, Marilena. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São
ceito de felicidade tem raízes na Grécia Antiga. Para Platão, a Paulo: Companhia das Letras, 2002
EMI-15-20
Exercícios Propostos
2

Da teoria, leia os tópicos 4. 4.A, 4.B, 4.C, 4.D, 4.E e 4.F De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a ética
281

Exercícios de tarefa reforço aprofundamento de Aristóteles, assinale a alternativa correta:


a. Segundo Aristóteles, para sermos felizes é suficiente
sermos virtuosos.
06. UFPA b. Para Aristóteles, o prazer não é um bem desejado por
Para Aristóteles o homem é um animal político, um agen- si mesmo, tampouco é um bem desejado no interesse
te moral, pois necessita da comunidade para viver feliz. Essa de outra coisa.
Filosofia

“felicidade pública” é privilégio de cidadãos livres, que vivem c. Para Aristóteles, as virtudes não contam entre os bens
sob leis do Estado, e exclui os escravos. De acordo com Aristó- desejados por si mesmos.
teles, sobre o que há de natural e instituído no modo de viver d. A felicidade é, para Aristóteles, sempre desejável em
humano, é correto afirmar que: si mesma e nunca no interesse de outra coisa.
a. os homens, por instinto, já nascem para viver sob o e. De acordo com Aristóteles, para sermos felizes não é
governo de um Estado. necessário sermos virtuosos.
b. a vida política, entendida como vida moral, altera a re-
lação do homem com a natureza animal. 09. Sistema COC
c. onde existe um Estado organizado o homem há de vi- Leia atentamente o texto abaixo:
Ciências Humanas e suas Tecnologias

ver feliz.
d. ao instituir a vida política, o homem está realizando Aristóteles foi o primeiro filósofo a distin-
uma lei de sua natureza. guir a ética da política, centrada a primeira na
e. o homem, como qualquer outro animal, nasceu não ação voluntária e moral do indivíduo enquanto
para buscar a felicidade, mas para ser feliz. tal, e a segunda, nas vinculações deste com a
comunidade. Dotado de logos, “palavra”, isto
07. é, de comunicação, o homem é um animal po-
Leia o trecho a seguir. lítico, inclinado a fazer parte de uma pólis, a
“cidade” enquanto sociedade política. A cida-
Um ente pode ser atualmente ou apenas uma de precede assim a família, e até o indivíduo,
possibilidade. Uma árvore pode ser uma árvore porque responde a um impulso natural. Dos
atual ou uma árvore em potência, em possibilidade, círculos em que o homem se move, a família, a
por exemplo, uma semente. A semente é uma árvo- tribo, a pólis, só esta última constitui uma so-
re, mas em potência, como a criança é um homem, ciedade perfeita. Daí serem políticas, de certo
ou o pequeno, o grande. [...] a semente tem potên- modo, todas as relações humanas. A pólis é o
cia para ser carvalho, mas não para ser cavalo. fim (telos) e a causa final da associação huma-
274

MARÍAS, Julián. História da filosofia. na. Uma forma especial de amizade, a concór-
São Paulo: Marins Fontes, 2004. p. 75. dia, constitui seu alicerce.
Nova Enciclopédia Barsa, v. 2, 1997. Fragmento.
Diante dele, podemos concluir que:
a. o ato é anterior à potência. Da leitura do texto, é possível compreender que:
b. a potência é anterior ao ato. a. na visão aristotélica, a ética diz respeito a questões
c. o sentido de cada coisa ou ser está definido por um comunitárias, enquanto a política aparece associada
ato inerente. ao indivíduo.
d. cada mudança de algo ou de um ser é potência. b. Aristóteles vê na concórdia uma ideia do “bem”, porém
e. a cada mudança de momento de uma coisa ou um ser adverte para o fato de ser algo inatingível, pois a situa
caberia tanto a potência quanto o ato. como ideal.
c. para Aristóteles, o homem é um animal político devido
08. UEL-PR ao fato de fazer parte de um núcleo familiar: a tribo.
Ora, nós chamamos aquilo que deve ser d. Aristóteles estabelece uma relação causal entre a
buscado por si mesmo mais absoluto do que sociedade política e a pólis, sendo a segunda a forma
aquilo que merece ser buscado com vistas em mais bem acabada da primeira.
outra coisa, e aquilo que nunca é desejável no e. a política, na visão aristotélica, deve ser a imposição
interesse de outra coisa mais absoluto do que as natural dos homens com maior capacidade de comu-
coisas desejáveis tanto em si mesmas como no nicação sobre os indivíduos menos comunicativos.
interesse de uma terceira; por isso chamamos
de absoluto e incondicional aquilo que é sempre 10. UEL-PR
desejável em si mesmo e nunca no interesse de “Todos os homens, por natureza, desejam
outra coisa. conhecer. Sinal disso é o prazer que nos propor-
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Vallandro e cionam os nossos sentidos; pois, ainda que não
Gerd Bornheim. São Paulo: Nova Cultural, 1987, 1097b, p. 15. levemos em conta a sua utilidade, são estimados
EMI-15-20
por si mesmos; e, acima de todos os outros, o nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém

2
sentido da visão”. Mais adiante, Aristóteles afir- a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes
ma: “Por outro lado, não identificamos nenhum atributos estão presentes nas mais excelentes

281
dos sentidos com a Sabedoria, se bem que eles atividades, e entre essas a melhor, nós a identifi-
nos proporcionem o conhecimento mais fide- camos como felicidade.
digno do particular. Não nos dizem, contudo, o ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
porquê de coisa alguma.
ARISTÓTELES, Metafísica. Porto Alegre: Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelen-
Globo, 1969, pp. 36 e 38. Adaptado. tes atributos, Aristóteles a identifica como:

Filosofia
a. busca por bens materiais e títulos de nobreza.
Com base no texto acima e nos conhecimentos sobre a b. plenitude espiritual e ascese pessoal.
metafísica de Aristóteles, considere as afirmativas a seguir. c. finalidade das ações e condutas humanas.
I. Para Aristóteles, o desejo de conhecer é inato ao ho- d. conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
mem. e. expressão do sucesso individual e reconhecimento
II. O desejo de adquirir sabedoria em sentido pleno re- público.
presenta a busca do conhecimento em mais alto grau.
III. O grau mais alto de conhecimento manifesta-se no 13. Sistema COC
prazer que sentimos em utilizar nossos sentidos. Observe a imagem.

Ciências Humanas e suas Tecnologias


IV. Para Aristóteles, a sabedoria é a ciência das causas
particulares que produzem os eventos.

PALÁCIO APOSTÓLICO, VATICANO, ITÁLIA.


A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
a. I e II.
b. II e IV.
c. I, II e III.
d. I, III e IV.
e. II, III e IV.

11. UEL-PR
Leia o texto a seguir.

No ethos (ética), está presente a razão pro-


funda da physis (natureza) que se manifesta no
finalismo do bem. Por outro lado, ele rompe a su-
cessão do mesmo que caracteriza a physis como A imagem em questão é parte da obra Escola de Atenas,

275
domínio da necessidade, com o advento do dife- afresco pintado pelo pintor renascentista Rafael Sanzio, en-
rente no espaço da liberdade aberto pela práxis. tre 1509 e 1510, na sala conhecida atualmente como Palácio
Embora, enquanto autodeterminação da práxis, Apostólico, no Vaticano. Os dois personagens são Platão (à
o ethos se eleve sobre a physis, ele reinstaura, de esquerda) e Aristóteles (à direita). Representado por Rafael
alguma maneira, a necessidade de a natureza fi- com a mão voltada para baixo, o segundo foi discípulo do pri-
xar-se na constância do hábito. meiro, o qual, na perspectiva do renascentista, foi represen-
VAZ, Henrique C. Lima. Escritos de filosofia II. Ética e Cultura. 3. ed. São tado com a mão apontando para o alto. A diferença no tocante
Paulo: Loyola, 2000. p.11-12. Coleção “Filosofia” – 8. Adaptado. à posição das mãos dos dois filósofos expressa a distinção
feita por eles entre o Mundo das Ideias (ou Mundo Inteligível)
Com base no texto, é correto afirmar que a noção de e o Mundo Sensível. Com base na imagem e nas informações
physis, tal como empregada por Aristóteles, compreende: dadas, assinale a alternativa correta.
a. a disposição da ação humana, que ordena a natureza. a. A filosofia platônica parte do pressuposto de que o
b. a finalidade ordenadora, que é inerente à própria na- verdadeiro conhecimento reside no Mundo Sensível.
tureza. b. A filosofia aristotélica discorda da platônica quanto ao
c. a ordem da natureza, que determina o hábito das fato de o Mundo Inteligível significar o mundo verda-
ações humanas. deiro em detrimento do Mundo Sensível.
d. a origem da virtude articulada, segundo a necessida- c. Por ter sido discípulo de Platão, Aristóteles se manteve
de da natureza. fiel às ideias do mestre, a exemplo do que nos mostra
e. a razão matemática, que assegura ordem à natureza. a imagem.
d. Na história da filosofia, a distinção entre Mundo Sensí-
12. ENEM vel e Mundo Inteligível tem pouca importância, sendo
A felicidade é, portanto, a melhor, a mais no- retratada por Rafael por mero acaso.
bre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses e. A filosofia aristotélica defende o pressuposto de que
atributos não devem estar separados como na a origem de todo o conhecimento humano reside no
inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais Mundo das Ideias.
EMI-15-20
14. UFU-MG ( ) Segundo Aristóteles, as essências das coisas são meras
2

Leia atentamente o trecho de Aristóteles, citado abaixo, e ficções do pensamento, expressas em palavras, uma
assinale a alternativa que o interpreta corretamenente. vez que no mundo real só existem seres singulares.
281

Como já vimos há duas espécies de excelên- ( ) Um dos predecessores de Aristóteles de que fala o
cia: a intelectual e a moral. Em grande parte a ex- texto é Platão.
celência intelectual deve tanto o seu nascimento ( ) O conhecimento de ideias gerais se faz por abstra-
quanto o seu crescimento à instrução (por isto ção: a partir das realidades singulares, o pensamen-
ela requer experiência e tempo); quanto à exce- to identifica o que há de universal nelas.
lência moral, ela é o produto do hábito [...]. ( ) Somente os seres humanos possuem essência, que
Filosofia

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Coleção Os é a sua alma.


Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
16. UEM-PR
a. A excelência moral é superior à intelectual porque é Pois bem, o que no passado e no presente foi
resultado do nascimento. sempre objeto de investigação e sempre objeto
b. A excelência intelectual é positiva e a moral negativa. de dificuldades, o que é o ser, é isto: o que é a
c. As excelências intelectual e moral anulam-se respecti- substância (quanto a isto, uns dizem que há uma
vamente. única, outros que há mais do que uma e uns di-
d. As excelências moral e intelectual possuem, respecti- zem que é em número limitado, outros que é em
Ciências Humanas e suas Tecnologias

vamente, origem no hábito e na instrução. número ilimitado); por esta razão, nós devemos
investigar, sobretudo, primeira e, por assim dizer,
15. UFU-MG unicamente o que é o ser concebido deste modo.
Considere o trecho a seguir e, de acordo com a filosofia de ARISTÓTELES. Metafísica, VII, 1028b2-7.
Aristóteles, marque para as alternativas abaixo (V) verdadei- In: FIGUEIREDO, V. Filósofos na sala de aula. v. 3. São
ra, (F) falsa ou (SO) sem opção. Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2008. p. 14.
Com base no trecho citado e nos conhecimentos sobre o
Diferente de seus predecessores, Aristóteles assunto, assinale o que for correto.
considera que a essência verdadeira das coisas 01. A investigação da noção de ser é um problema cen-
naturais e dos seres humanos e das suas ações tral para a reflexão filosófica.
não está em um mundo inteligível, separado do 02. A definição de substância de algo é, no limite, a defi-
mundo sensível, onde as coisas naturais existem nição do ser desse algo.
e onde vivemos. As essências, diz Aristóteles, 04. A substância não é alvo de estudos no presente, mas
estão nas próprias coisas, nos próprios homens foi analisada pelos filósofos do passado.
e nas suas ações e é a tarefa da filosofia conhe- 08. O filósofo defende uma investigação da substância ex-
cê-las ali mesmo onde existem e acontecem. clusivamente enquanto o ser de algo, aquilo que algo é.
276

Como conhecê-las? Partindo das sensações para 16. A definição do que é algo, o seu ser, não se altera no
alcançar a intelecção. tempo nem no espaço.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002. p. 217.

EMI-15-20
FÍ MAT
S

Q
O
BI
O
LP
IS
H
GE
O

282
Capítulo 2 ...............278
L

Módulo 4 .............293
FI

Módulo 5 ............ 298


Módulo 6 ............ 303
g ia
lo
io

C
c
So

SO
S
RE
1. A concepção sociológica
de Karl Marx 280
2. A Sociologia de Max Weber 284
3. A importância da Sociologia:
desvios e possibilidades 288
4. Organizador gráfico 292
Módulo 4 – A concepção
sociológica de Karl Marx 293
Módulo 5 – A Sociologia
de Max Weber 298
Módulo 6 – A importância da
Sociologia: desvios e possibilidades 303

• Conhecer o contexto em que o pen-


samento de Marx se desenvolveu, a
sociedade capitalista como relação de
exploração e suas principais ideias na
época.
• Conhecer o contexto em que se
desenvolveu o pensamento de Weber,
suas principais ideias, em específico, a
concepção de vínculo entre a sociedade
capitalista e a racionalização da vida.
• Observar a importância de se estudar
Sociologia e suas contribuições
científicas e sociais.
• Discutir as principais ideias de Marx,
a análise da origem da sociedade
capitalista e suas transformações, além
do enquadramento social.
• Entender as principais ideias de Weber,
a racionalização, a significação da ação
social.
• Explicar o desenvolvimento do
pensamento sociológico de acordo
com os contextos sociais, políticos e
culturais.
• Compreender o processo histórico que
levou a burguesia à classe dominante e
a afirmação de Marx sobre a luta entre
classes sociais.
• Entender a ideia de que o social reside
na interação entre as partes, por meio
da racionalização da vida moderna.
• Compreender a Sociologia como forma
OLEKSIY MARK/SHUTTERSTOCK

de conhecimento científico.
Desde seu surgimento, no
século XIX, a Sociologia busca
apreender as conexões que os
seres humanos estabelecem
para a vida em sociedade.

Fundamentos da ciência sociológica II


2
279

Neste capítulo, abordaremos os pensamentos de Karl Marx e de Max Weber,


dois clássicos da Sociologia, e a importância dessa área do conhecimento
enquanto ciência.
1. A concepção sociológica A. Marx em seu contexto histórico
2

Marx nasceu em 1818, filho de judeus alemães, e viveu


de Karl Marx em uma Europa agitada por inúmeras revoluções. Aos 12
282

O pensador alemão Karl Marx é considerado um dos ex- anos soube das revoluções iniciadas na França que, como
poentes do pensamento sociológico. Sua contribuição se filia um terremoto, atingiram outras regiões e alteraram boa parte
às mudanças processadas no capitalismo ao longo do século das práticas políticas e lógicas sociais. Essas revoluções pas-
XIX. Sua reflexão sobre uma ciência social capaz de dar conta saram à história como liberais ou burguesas. Elas definiram,
das profundas alterações da vida europeia da época se tornou em vários países europeus, sistemas representativos de po-
uma das teorias sociológicas mais estudadas e aplicadas. der assentados em constituições que, em geral, separavam o
Sociologia

A teoria da história marxista não apenas ocupou um espa- poder em Executivo, Legislativo e Judiciário.
ço acadêmico nas chamadas ciências humanas, mas também Nesse sentido, pode-se afirmar que a lógica de poder
foi instrumento de ação política, pensamento que norteou a absoluto que havia marcado o Estado Moderno até então fora
ação de grupos sociais organizados, em especial, os trabalha- enterrada em boa parte do continente europeu. Contudo, a
dores. Refletir sobre as revoluções de cunho social do século região da Alemanha não era unificada politicamente. A histó-
XX é, de alguma forma, retomar o pensamento de Karl Marx. ria de Marx pontua o processo da unificação alemã que só se
realizou em 1871, após a vitória da Prússia sobre a França de
Napoleão III.
GEM/FACULDADE DE LETRAS/UNIVERSIDADE DE LISBOA
Ciências Humanas e suas Tecnologias

HULTON ARCHIVE / STRINGER/GETTY IMAGES


A representação acima, realizada em 1878, mostra o encontro de Napoleão
III, imperador francês, com Otto von Bismarck, primeiro-
-ministro prussiano, após a derrota francesa em Sedan, em 1870. A
derrota da França para as forças alemãs é indicativa não apenas do
nacionalismo europeu do período, mas do imperialismo das potências
280

industriais na disputa pelo acesso a matérias-primas e a mercados


de consumo. Essa conjuntura histórica marcou profundamente as
reflexões de Karl Marx e suas considerações acerca do capitalismo.

Marx estudou na Universidade de Berlim e integrou o gru-


po dos “Jovens Hegelianos”. Até ali, o maior pensador alemão
era Hegel, um intelectual que havia recuperado a dialética he-
raclitiana para pensar a evolução humana.
Hegel afirmava que toda afirmação (tese) gerava o seu
“negativo” (antítese), ou seja, contradições, e a superação
dessas contradições levava a uma conclusão que era mais
evoluída do que aquilo que existia: tal evolução era uma sínte-
se. Assim, toda contradição integrava o processo de evolução
O cartaz informa a realização do II Congresso Internacional Marx, da humanidade. Hegel havia criado uma filosofia capaz de
ocorrido entre os dias 8 e 10 de maio de 2014, na Universidade envolver tudo a partir da lógica do progresso. Foi esta singula-
de Lisboa. Vários trabalhos acadêmicos ainda são produzidos
dentro da perspectiva marxista, o que mostra a importância
ridade do pensamento de Hegel que inspirou o jovem Marx a
de suas reflexões a respeito da história e do capitalismo. refletir sobre a sociedade e a perceber que, mais do que qual-
quer noção ou pensamento, o que evoluía, fundamentalmen-
te antes, era o próprio homem, de acordo com as contradições
que surgiam no interior da sociedade.
Em termos de nomenclatura, alguns estudiosos ado- Deve-se considerar que não apenas existiram revoluções
tam o termo “marxiano” para referir-se a tudo que diz res- burguesas ou liberais, mas que, na sequência, fruto da difusão
peito diretamente ao que Marx escreveu, enquanto o termo do sistema de produção industrial, os trabalhadores também
“marxista” é aplicado às leituras de sua obra e ao que dela viram a oportunidade de, por meio de agitações, conseguir me-
se derivou, isto é, o pensamento de outros autores que se lhorar suas condições de vida. Eram longas as jornadas de tra-
EMI-15-20

desenvolveram a partir das obras de Marx. balho, os acidentes no ambiente da fábrica eram constantes,
havia exploração do trabalho infantil e feminino e os salários
eram baixíssimos. Tudo isso criava um clima de tensão social Para Marx, eram os homens em “carne e osso”, materiais,

2
que explodia em greves, atentados e assassinatos. que evoluíam conforme buscavam a sobrevivência e melho-
ravam as condições materiais de existência. Para tanto, era

282
fundamental que estes homens vivessem reunidos, ou seja,
DEA PICTURE LIBRARY/DE AGOSTINI/GETTY IMAGES

em sociedade. Afinal era exatamente esta vida coletiva que


lhes garantiriam melhores condições. Contudo, no processo
de constituição das sociedades, emergia também a explora-
ção econômica. Esta poderia ser visualizada na sociedade
por meio do entendimento da existência de classes. A classe

Sociologia
trabalhadora era submetida à exploração por meio de expe-
dientes político-institucionais de coerção. Mas o fundamen-
to primeiro dessa exploração encontrava-se na propriedade
privada dos meios de produção. Era nesta materialidade da
vida e das contradições inerentes à organização social que se
dava a evolução da humanidade.
Nesse sentido, pode-se afirmar que, para Marx, o materia-
lismo era o elemento de concretude, de cristalização do pro-
cesso de evolução. Como compreender esta evolução? Qual

Ciências Humanas e suas Tecnologias


era a sua dinâmica?
A resposta marxista se deu no âmbito da valorização da
história e da luta de classes, como veremos adiante.

C. O materialismo histórico dialético


na Sociologia de Marx
Marx procurou entender a história real do ser humano a
O artista Jakob Schlesinger pintou o retrato de um dos maiores partir das condições materiais de sua existência. Para ele, as
pensadores alemães do século XIX, Georg Wilhelm Friedrich considerações de ordem cultural, política e social que aparen-
Hegel. Hegel foi o filósofo idealista alemão que propôs uma
visão evolucionista da história calcada na contradição,
temente regiam a vida coletiva eram o resultado do próprio
no conflito, retomando a dialética heraclitiana antiga em estado de desenvolvimento material de uma determinada
favor da afirmação do Estado e do "Espírito" (razão). sociedade. Nesse sentido, todas as mudanças sociais pos-
suíam fundamento material e estavam circunscritas às con-
Karl Marx teve a sensibilidade de perceber tais agitações e tradições inerentes aos modos de produção e reprodução da
conferir-lhes um sentido dentro de sua filosofia. Esta abrigava a vida coletiva.
ideia de evolução, mas acrescentava ao debate um valor signi- De acordo com o estudioso Wilmar Barbosa:

281
ficativo por meio da noção de continuidade da revolução para
a evolução, algo que intelectuais comprometidos com a ordem O fundamento básico do materialismo histó-
burguesa não aceitavam. Para muitos destes intelectuais con- rico está ancorado na perspectiva antropológica
servacionistas, era importante a ordem para o progresso, en- marxista, que concebe a natureza humana como
tenda-se a ordem capitalista para a evolução da humanidade. sendo intrinsecamente constituída por relações
Em 1848, quando levantes populares eclodiram na Eu- de trabalho e de produção que os homens esta-
ropa continental exigindo melhorias nas condições de vida e belecem entre si com vistas à satisfação de suas
participação política, Marx publicou o Manifesto Comunista, necessidades. Nesse sentido, a tese, segundo a
indicando um caminho orgânico, reflexo da ação política dos qual as formas historicamente assumidas pelas
trabalhadores, para que houvesse um salto qualitativo na sociedades humanas dependem das relações
vida social, a revolução do proletariado. econômicas que prevalecem durante as fases
Vamos conhecer melhor o pensamento marxista e enten- que conformam seu processo de desenvolvi-
der como ele originou uma teoria sociológica que vem, com mento, constitui uma proposição fundamental
certos ajustes, até nossos dias. para o materialismo histórico.
REZENDE, Antonio (Org). Curso de filosofia. Rio
B. O materialismo no de Janeiro: Zahar, 2012. p. 173.
pensamento de Karl Marx
De discípulo de Hegel, Marx se tornou seu mais importan- Como compreender a dinâmica do processo de desenvol-
te crítico. Em especial, o pensamento marxista se colocou con- vimento social dentro da perspectiva materialista e histórica?
tra o idealismo hegeliano: quando Hegel afirmava haver uma De acordo com Marx, a compreensão desta produção e
evolução, apontava para o Espírito. Era o Espírito, por meio das reprodução da vida coletiva se localiza em uma divisão funda-
contradições materiais, que evoluía. A crítica radical de Marx mental que diz respeito ao trabalho e à propriedade particular
ao pensamento hegeliano reside exatamente neste ponto, dos meios de produção. Haveria aí um conflito resultante da
chegando a afirmar que a teoria de Hegel tinha “pés de barro” e diferenciação entre aquele que trabalha e aquele que contro-
que iria dotá-la de pés firmes. A fragilidade da filosofia de Hegel la os meios de produção. O primeiro constituindo uma classe,
EMI-15-20

não se encontrava na dialética, algo muito valorizado por Marx, o segundo, outra. O primeiro sendo o explorado, o segundo, o
mas nesta solução ideal para as contradições: o Espírito. explorador. O primeiro sendo o oprimido, o segundo, o opressor.
Assim, haveria uma tensão no interior da sociedade em D. Teoria e prática em Marx
2

razão de a classe proprietária explorar o trabalho daquele Pelo exposto, é possível afirmar que teoria e prática pa-
desprovido de propriedade. Essa tensão, para Marx, era reco- recem ser conciliadas no pensamento de Marx. Em outras
282

nhecível na história da humanidade – que nada mais seria do palavras, a reflexão encontra a ação. Afinal, a filosofia se
que a “história da luta de classes”. Marx apresentou esta afir- presta à mudança nas condições materiais, nas relações
mação com clareza no Manifesto Comunista, obra panfletária sociais, engendrando uma sociedade mais evoluída e, para
editada em 1848, que defendia a revolução proletária contra Marx, que caminhava para uma igualdade nas condições ma-
a chamada exploração burguesa. teriais de vida. Para tanto, deveria haver uma luta da classe
espoliada contra os exploradores. Só os explorados poderiam
Sociologia

agir contra as desigualdades de forma eficaz, combatendo a


propriedade privada dos meios de produção, elemento este
que conferia poder ao explorador. Para que isso ocorresse,
ROGER VIOLLET/GETTY IMAGES

era fundamental a ação política e revolucionária fundada na


consciência de classe. Se os explorados tivessem consciên-
cia da exploração, poderiam desenvolver um projeto político
para transformar a sociedade. Um partido obreiro deveria en-
campar o projeto de uma sociedade igualitária e conduzir a
luta revolucionária para chegar ao Estado. Uma vez atingida
Ciências Humanas e suas Tecnologias

a instituição estatal, a ditadura proletária acabaria com a pro-


priedade privada, transformando os meios de produção em
propriedade do Estado. Esta seria a transição para a socieda-
de igualitária, para a sociedade comunista.
Na visão de Marx, a história teria um fim. Qual seria o fim
da história?
Se a história da humanidade é a história da luta de clas-
ses, ela só se encerraria quando não houvesse mais divisão
em classes. O fim da história seria o comunismo. Marx acre-
Karl Marx e Friedrich Engels (à esquerda) fundamentaram o ditava que a sociedade caminharia inexoravelmente para
materialismo histórico dialético assumindo uma posição política em
defesa de uma sociedade igualitária no futuro, fruto da luta de classes essa organização social, econômica e política. Mas esse
e da abolição da propriedade privada. A este respeito escreveram caminho seria pontuado por contradições, por embates so-
no Manifesto Comunista: “O que caracteriza o comunismo não é a ciais, por revoluções. Aí residia o mecanismo de condução
abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade da história, a dialética pensada como confrontação, como
burguesa. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa,
luta e mudança.
é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de
apropriação baseado nos antagonismos de classe, na exploração de Nesse sentido, pode-se afirmar que Marx não foi apenas
282

uns pelos outros. Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua um filósofo em termos estritos. Foi economista, historiador,
teoria nesta fórmula única: abolição da propriedade privada [...]”. sociólogo, jornalista, ativista político. Foi um revolucionário
que, em 1864, contribuiu para a organização da I Internacio-
Marx situa na produção a dinâmica do desenvolvimen- nal dos Trabalhadores, conhecida por I Internacional Comu-
to, da evolução humana. Afinal, o homem não apenas atua nista.
sobre a natureza para conseguir o seu sustento, mas sobre-
tudo estabelece vínculos com outros homens, associações
e, a partir disso, relações sociais. É, de início, a forma de re-
UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

lacionamento social que determina a atuação sobre a natu-


reza e, em última instância, a produção. Porém, as relações
sociais que os indivíduos produzem mudam na proporção
das mudanças nos meios materiais de produção, ou seja, as
mudanças no sistema produtivo ensejam também mudan-
ças no universo social.
A leitura marxista da história procurava abarcar as mu-
danças no universo produtivo, a emergência da classe
burguesa por oposição à nobreza e, no conjunto das forças
produtivas, explicar o surgimento da classe proletária. Nesse
sentido, a sociologia de Marx não apenas teria sua compro-
vação histórica com as “revoluções burguesas”, como assi- A revolução proletária seria a realização do pensamento de Karl
nalaria um sentido da história, uma teleologia que sinalizava Marx. Dessa forma, haveria a união entre pensamento e ação, teoria
o próximo passo da história “a revolução proletária” contra a e prática. A Revolução Russa, ocorrida em 1917, foi influenciada
burguesia. Há, dessa forma, não apenas uma sociologia de pelo pensamento de Marx. Mas este pensamento foi adaptado
compreensão das relações sociais, mas uma sociologia en- por Lênin à realidade russa que em nada se aproximava de uma
potência industrial capitalista. Marx havia pensado a revolução
gajada, compromissada com o próximo passo de desenvol- proletária nas áreas mais avançadas do capitalismo e não em
EMI-15-20

vimento da humanidade, qual seja, o do estabelecimento de sua periferia. A Rússia era ainda um país atrasado em termos
uma ordem proletária. capitalistas em relação a centros como a Inglaterra e França.
E. Infraestrutura e superestrutura Veja, é importante ressaltar que há uma comunicação

2
na Sociologia de Marx entre infraestrutura e superestrutura que também é dialética
De acordo com Marx, era também possível compreender e que produz contradições. A dinâmica produtiva também é

282
a dinâmica social por meio de um corte entre infraestrutura dialética. Assim, é possível, pela compreensão da realidade
e superestrutura. A infraestrutura corresponde às condições material num conjunto produtivo, que se desenvolva a cons-
concretas da vida, às condições materiais. Esta é a base eco- ciência de classe, apesar dos esforços dos poderes instituí-
nômica da sociedade e se relaciona com as formas de pro- dos em difundir a ideologia da classe dominante.
dução dos bens materiais necessários à sobrevivência do Conforme o filósofo Danilo Marcondes:
homem. Como o trabalho é intrínseco à condição humana, a

Sociologia
infraestrutura diz respeito a este âmbito produtivo do homem, O sentido negativo do termo “ideologia” de-
e a ele correspondem determinadas relações de produção. riva de fato da obra de Marx e Engels, que o en-
Contudo, essas relações de produção, embora ocorram tendem como uma “falsa consciência”... Não é
na esfera material (infraestrutura), aparecem justificadas porque os homens são crédulos e supersticiosos
em termos culturais, institucionais e políticos. A este univer- que se tornam presas fáceis da dominação, mas
so social não propriamente produtivo, mas constituído para porque existe a necessidade de manter a domi-
preservar um determinado ordenamento social, denomina-se nação que surgem as superstições.
superestrutura. São os discursos criados pela superestrutura De acordo com esse sentido crítico, a ideo-
que justificam um determinado estado de coisas e zelam por logia é uma visão distorcida, é o mascaramento

Ciências Humanas e suas Tecnologias


sua manutenção. Em outras palavras, pretendem preservar da realidade – de uma realidade opressora, que
relações assimétricas, relações de poder fundamentais para faz com que seu caráter negativo seja ocultado
a exploração econômica. Estes discursos entram no universo –, tornando-se assim mais aceitável e vindo a ter
social como visões de uma classe dominante que pretende uma justificativa aparente.
fazer com que os dominados aceitem os valores que justifi- MARCONDES, D. Introdução à história da filosofia: Dos pré-
cam a dominação. O nome dado a isso é ideologia. A supe- socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p. 230.
restrutura, dessa forma, serve para reafirmar a ideologia da
classe exploradora. Nesse sentido, é fundamental a contribuição de Marx
O próprio Estado, as leis, as normas jurídicas de uma de- para outras vertentes filosóficas e sociológicas que tra-
terminada época correspondem ao exercício do poder político tam da questão ideológica. Ele e seu parceiro intelectual,
necessário para a espoliação econômica. Nesse sentido, a Friedrich Engels, foram expoentes de uma linha de pensa-
possibilidade de mudança está, também, na luta contra a alie- mento que colocou em evidência o problema ideológico no
nação, resultado da incorporação da ideologia dominante pelos universo cultural.
explorados. A consciência de classe é o caminho para a ruptura
com a superestrutura que garante e legitima a exploração.

283
Estrutura e superestrutura
SUPERESTRUTURA
RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL

IDEOLOGIA JURÍDICO – ESTADO – POLÍTICO RELIGIÃO

CLASSE DOMINANTE
ICO

CAP
NÔM

ITAL
NO

POL
ECO

ÍTIC
ITAL

O
CAP

CLASSE DOMINADA

ESTRUTURA
BASE: ECONOMIA

FORÇAS PRODUTIVAS E RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO


EMI-15-20
2

Karl Heinrich Marx nasceu na Alemanha, em 1818. Es- [...] Segundo a concepção materialista da
282

tudou Direito, Filosofia e História em Berlim, compondo os história, o fator que, em última instância, de-
chamados “Jovens Hegelianos”. Em 1841 defendeu sua termina a história é a produção e a reprodução
tese de doutoramento em Filosofia, a respeito de Epicuro, da vida real. Nem Marx nem eu afirmamos,
mas nunca exerceu o magistério. Trabalhou como jornalis- uma vez sequer, algo mais do que isso. Se al-
ta e, por suas ideias, precisou exilar-se na França, em Pa- guém o modifica, afirmando que o fato econô-
ris, onde publicou a Crítica à filosofia do Direito de Hegel e mico é o único determinante, converte aquela
Sociologia

Questão judaica. Em 1845 foi expulso da França, seguindo tese numa frase vazia, abstrata e absurda. A si-
para a Bélgica, onde ao lado de Engels redigiu a Ideologia tuação econômica é a base, mas os diferentes
alemã. Em 1848, Marx, antes de ser expulso de Bruxelas, fatores da superestrutura que se levanta sobre
escreveu Miséria da filosofia e o Manifesto Comunista. ela – as formas políticas da luta de classes e
Depois de idas e vindas, fixou-se definitivamente em Lon- seus resultados, as constituições que, uma vez
dres e, em 1850, publicou A luta de classes em França. Em vencida uma batalha, a classe triunfante redige
1863, Marx participou da fundação da Associação Interna- etc., as formas jurídicas, e inclusive os reflexos
cional dos Trabalhadores, dirigindo-a. Em 1867, publicou o de todas essas lutas reais no cérebro dos que
primeiro volume da obra O capital. No ano de 1870 o prole- nelas participam, as teorias políticas, jurídicas,
Ciências Humanas e suas Tecnologias

tariado parisiense estabeleceu a Comuna e Marx apoiou o filosóficas, as ideias religiosas e o desenvolvi-
movimento. Contudo, a experiência de um governo operário mento ulterior que as leva a se converterem
se encerraria no ano seguinte. Em 1883, ainda em Londres, em um sistema de dogmas – também exercem
Marx faleceu. Seu pensamento foi fruto de três grandes teo- sua influência sobre o curso das lutas históri-
rias: a filosofia alemã, mais precisamente a contribuição de cas e, em muitos casos, determinam sua for-
Hegel, o socialismo francês e a economia política inglesa. ma, como fator predominante. [...] Nós mes-
mos fazemos nossa história, mas isso se dá,
em primeiro lugar, de acordo com premissas
e condições muito concretas. Entre elas, as
APRENDER SEMPRE 23
premissas e condições econômicas são as que
decidem, em última instância. No entanto, as
01. Mackenzie-SP condições políticas e mesmo a tradição que
Karl Marx (1818-1883) acreditava que a história hu- perambula como um duende no cérebro dos
mana, assim como as operações da natureza, eram go- homens também desempenham seu papel,
vernadas por uma lei científica, rejeitadas todas as inter- embora não decisivo.
pretações religiosas, tanto da natureza como da História. ENGELS, F. Carta a Bloch. In: REZENDE, Antonio. (Org.). Curso
284

Segundo as suas ideias, a história de todas as sociedades, de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. p. 151.
até nossos dias, tem sido a história da luta de classes.
Assinale a alternativa que não apresenta característi-
cas das ideias marxistas.
a. A emancipação do proletariado, construída pelo
próprio proletariado.
b. A criação de condições, pela própria sociedade ca- Assista ao vídeo que mostra os principais
pitalista, para a eliminação das classes sociais por aspectos da sociologia de Karl Marx.
meio de revolução liderada pelos operários.
c. A base econômica da sociedade, a infraestrutura, Disponível em: <http://www.youtube.com/
determina a superestrutura que corresponde à or- watch?v=I2AZAbg1rLw>. Acesso em: 10 ago. 2014.
ganização jurídico-política e à ideologia.
d. As relações estabelecidas entre os proprietários
dos meios de produção e os trabalhadores são cha-
madas de relações sociais de produção.
e. A luta de classe entre o proletariado e a classe ope- 2. A Sociologia de Max Weber
rária será o motor da história, uma vez que os seus Tratar do pensamento weberiano é, antes de tudo, consi-
interesses são irreconciliáveis. derar as condições históricas em que foi produzido. Deve-se
atentar para o quadro de desenvolvimento capitalista intima-
Resolução mente vinculado às políticas imperialistas dos Estados euro-
Para Marx, “a história da humanidade é a história da peus. No caso da experiência de Weber, deve-se considerar o
luta de classes”. O autor parte do princípio de que as socie- processo de unificação da Alemanha que foi conduzido pela
dades são divididas em classes antagônicas, sendo que, Prússia, tendo à sua frente o político Otto von Bismarck. As
no sistema capitalista, essas classes são a do proletariado questões relativas à racionalidade do processo produtivo
e a da burguesia. capitalista e a dinâmica do lucro permearam as reflexões de
EMI-15-20

Alternativa correta: E Weber e o conduziram na elaboração de uma sociologia crítica


em relação às tentativas de estudos da sociedade com a pre-
tensão de que fossem iguais aos das ciências da natureza, e que sejam atemporais. Nesse sentido, Weber nega que a

2
algo muito em voga na época e pertencente a uma perspec- ciência social possa reduzir a realidade empírica a leis. O que
tiva positivista. dá um caráter objetivo ao estudo da sociedade é a compreen-

282
são, a partir do entendimento dos valores afirmados e de sua
sistematização, um estudo metódico, das singularidades his-
tóricas.
HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

Conforme as estudiosas Tania Quintaneiro e Maria Lígia


de Oliveira Barbosa colocam:

Sociologia
Existe uma grande diferença entre conferir
significado à realidade histórica por meio de
ideias de valor e conhecer suas leis e ordená-la
de acordo com conceitos gerais e princípios ló-
gicos, genéricos. Mas a explicação do fato signi-
ficativo em sua especificidade nunca estará livre
de pressupostos porque ele próprio foi escolhido
em função de valores. Com isso, Weber rejeita
a possibilidade de uma ciência social que redu-

Ciências Humanas e suas Tecnologias


za a realidade empírica a leis. Para explicar um
acontecimento concreto, o cientista agrupa uma
certa constelação de fatores que lhe permitam
Weber relativizou a luta de classes identificada por Marx nas dar sentido a esta realidade particular.
agitações sociais. Dessa forma, mesmo que o contexto histórico Weber procura demonstrar que conceitos
fosse comum, a proposta weberiana de entendimento da sociedade
foi uma leitura vinculada à sua formação na carreira acadêmica.
muito genéricos, extensos, abrangentes ou abs-
tratos, são menos proveitosos para o cientista
O pensamento de Weber se diferencia da filosofia marxia- social por serem pobres em conteúdo, logo, afas-
na em vários sentidos, apesar de, tanto Marx quanto Weber, tados da riqueza da realidade histórica. Portanto,
terem como objeto de estudo a sociedade capitalista. Weber a tentativa de explicar tais fenômenos por meio
desenvolveu uma proposta compreensiva da sociedade que de “leis” que expressem regularidades quantifi-
pressupunha que os valores compartilhados socialmente cáveis que se repetem não passa de um trabalho
fundamentavam os vínculos antes mesmo da existência de preliminar, possivelmente útil. Os fenômenos in-
um modo de produção, sendo este expressão material do uni- dividuais são um conjunto infinito e caótico de
verso das ideias compartilhadas entre os integrantes de uma elementos cuja ordenação é realizada a partir da
dada sociedade. significação que representam e por meio da im-

285
Weber foi um crítico do positivismo na Sociologia, tradição putação causal que lhe é feita.
francesa que imaginava poder explicar a organização social QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx
com o mesmo rigor que os físicos estudavam a natureza. Para e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2003. p. 100-101.
Weber, a ciência da natureza diferia da ciência social, pois
esta correspondia às condições históricas determinadas que Weber postula a importância da construção de tipos
configuravam visões de mundo datadas às quais não poderia ideais como forma de compreensão de uma determinada rea-
haver um caráter generalizante como o estudo da natureza e lidade, mas que se encontra limitado aos pressupostos que
de suas leis. Weber adotava um perspectivismo antipositivis- os formaram. Assim, a perspectiva de Marx é considerada por
ta, em que era possível estabelecer modelos de explicação, Weber como um tipo ideal, ao qual Marx acrescentou estudos
tipos ideais por meio dos quais seria possível pensar uma históricos, elegendo determinados aspectos da vida que cor-
determinada realidade histórico-social. Contudo, o modelo só roboraram o seu modelo.
serviria como parâmetro para a compreensão da organização Afirmar que o pensamento marxista seja constituído de
social, não tendo valor histórico a não ser na medida em que uma verdade absoluta de valor universal seria algo teme-
as situações históricas pudessem se aproximar dele. rário. Para mostrar um caminho interpretativo da realidade
O pensamento weberiano apresenta os eventos culturais social diferente, Weber construiu um tipo ideal de com-
como singularidades que devem ser estudadas enquanto tal, preensão do capitalismo em sua obra A ética protestante
não cabendo a colocação de assertivas abrangentes que ex- e o espírito do capitalismo (1904-1905), mostrando que a
trapolem determinados quadros históricos. Assim, o cientista questão dos valores teve uma função primordial no desen-
social deve ter o cuidado de não colocar como verdade seus volvimento do capitalismo, antes mesmo de sua dinâmica
julgamentos a respeito de um determinado objeto de estudo, econômica apontada por Marx e assentada na ideia de modo
pois os seus julgamentos são marcados por considerações de produção. Para Weber, é a crença na existência da pre-
valorativas de sua época, de uma determinada ideologia. Ao destinação e sua correspondência, em certa medida, com a
cientista social cabe a compreensão dos eventos sociais, e vida de trabalho e de acúmulo que engendraram o capitalis-
não o julgamento deles. Daí a importância de, mesmo no es- mo como conhecemos.
tudo social, deixar claro o ponto de vista assumido em relação Esta não é uma verdade absoluta, mas uma perspectiva
EMI-15-20

a um objeto de estudo, externalizando a orientação dada. Afi- entre perspectivas, dotada de significações pertinentes para
nal, não é possível a afirmação de leis que regem a sociedade a compreensão da sociedade capitalista.
SONDERAUSGABE1934. DIE PROTESTANTISCHE ETHIK UND DER 'GEIST' DES KAPITALISMUS
2

RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL


282
Sociologia

As ações sociais se referem a atos providos de sentido pelo sujeito da


ação e que possuem uma compreensão, uma inteligibilidade para aqueles
a quem a ação é dirigida. Nesse sentido, é possível afirmar relações
Ciências Humanas e suas Tecnologias

sociais que informam o padrão de sociabilidade de uma determinada


sociedade. Podemos afirmar a existência de uma rede complexa de ações
sociais movidas por conteúdos racionais, afetivos ou tradicionais.

Capa da edição de 1934 da obra A ética protestante e o espírito do Daí a importância do sociólogo em averiguar em que me-
capitalismo. O livro é uma obra seminal a respeito da relação entre dida este ou aquele tipo é mais influente em uma determina-
valores, concepções de mundo e atuação concreta que altera as
condições históricas, inaugurando uma lógica capitalista.
da conduta, em uma determinada ação social. O importante é
que o sociólogo capte as conexões de sentido que orientam a
Para Weber, a reforma religiosa não teria sido simples- ação social. Tais conexões podem variar desde a afetividade
mente uma ideologia para justificar o ganho capitalista, mas até a racionalidade mais pura. Para Weber, entretanto, somen-
uma perspectiva diferenciada na história que valorizou o te as ações dotadas de sentido poderiam ser compreendidas
trabalho e a acumulação, por seguir determinados preceitos pela Sociologia, as quais se situariam mais no universo dos
diferenciados daqueles prestigiados no período medieval eu- tipos racionais com relação a fins e a valores.
ropeu. Um exemplo: ações voltadas à subsistência, pensadas
Assim, ao contrastar o valor dado ao ócio na Era Medieval como intervenção na natureza para conseguir recursos ne-
europeia com o valor dado ao trabalho por grupos reformado- cessários à vida, podem ser classificadas como racionais,
res, poder-se-iam compreender a dinâmica capitalista e de- pois possuem um claro sentido e uma nítida finalidade. O
286

terminadas relações sociais daí surgidas. universo econômico pode ser compreendido mais facilmen-
Nesse sentido, influenciado pelos escritos marxistas, te. Contudo, existem questões relativas a valores que podem
Weber procurou discutir a importância das relações entre su- interferir na ação social conectada ao econômico. Se alguém
perestrutura e infraestrutura e, mais precisamente, em que ou um grupo social acredita que trabalhar, investir no trabalho
medida a superestrutura afirmada por Marx teria uma função aquilo que conseguir e acumular sejam ações que integrem
dominante no estabelecimento de níveis ou padrões de so- um processo no qual se evidencia quem irá para o Paraíso,
ciabilidade. uma crença religiosa, teremos aí outro componente de racio-
Seu estudo da sociedade estabeleceu primeiramente a nalização do mundo econômico, mas com motivação nos va-
construção de modelos, tipos ideais de organização social, à lores aceitos pelo indivíduo ou pelo grupo.
qual as pesquisas históricas poderiam conferir valor. Nesse Se existem espaços sociais em que a ação é mais racio-
sentido, procurou na história a justificação de certos ordena- nal, em outros há a possibilidade do império da afetividade.
mentos sociais. Por exemplo, as relações familiares possuem uma qualida-
de afetiva em que o critério da racionalidade por vezes não
A. A Sociologia weberiana: comparece em uma ação. Quanto mais pessoal for a relação,
conceitos elementares maior será o espaço para relações engendradas pelo critério
O pensamento de Weber está ancorado na ideia de que a afetivo. Normalmente, a conduta irracional é ditada por emo-
Sociologia deve compreender a ação social. Em primeiro lugar, ções imediatas tais como desespero, medo, ódio, vingança,
ação pode ser entendida como conduta humana em determi- desejo, entusiasmo etc. Por exemplo, alguém que vai ao es-
nadas circunstâncias. Quando a ação envolve outro ou outros, tádio de futebol todo final de semana para ver seu “time de
podemos afirmá-la como ação social. Nesse sentido, a ação coração” jogar desenvolve uma ação afetiva, assim torcer por
social não é um simples reflexo, e sim uma atuação de um um time de futebol é expressão de uma conduta baseada em
sujeito histórico movido por determinados interesses. Estes ação afetiva.
podem ter uma motivação racional com relação a fins prees- Para além da ação social, temos o que Weber denominou
tabelecidos ou a valores. Podem, também, vir da influência de relação social. Esta existe desde que a ação de alguém seja
tradições ou de questões afetivas. Weber afirma que estes reconhecida por outro participante ou por outros participan-
EMI-15-20

seriam os quatro tipos puros de ação. E quando uma pessoa tes. Para tanto, é fundamental que a ação realizada integre
age, ela não é movida apenas por um tipo. um código assimilado pelos integrantes de uma determina-
da comunidade. Talvez para um grupo indígena no interior Para ele, a capacidade de aceitar ordens e regras como le-

2
da floresta Amazônica receber um cheque com uma deter- gítimas se chocava com desejos individuais, afetividades parti-
minada quantia não tenha significado, mas o canto de uma culares. Daí a possibilidade de, em certas circunstâncias, a orga-

282
ave que informa um perigo iminente certamente apresentará nização burocrática (racional) ser substituída por organizações
sentido. A ação social para constituir relação social deve ser estatais carismáticas ou tradicionais. Estas seriam mais próxi-
reconhecida pelos outros que a recebem. Há nesse caso uma mas da afetividade, mais “naturais”. Weber considerava que a ra-
reciprocidade por reconhecimento de um código partilhado cionalidade do Estado burocrático ainda era frágil, sendo neces-
socialmente. sária uma proteção em relação às pressões externas motivadas
Embora as pessoas reconheçam determinados códigos, por interesses particulares vinculados ao tradicionalismo.

Sociologia
isso não significa dizer que a aceitação seja constante. Se um Marx, Durkheim e Weber estudaram a sociedade dando
assaltante aponta uma arma para alguém, a pessoa que sofre atenção especial às mudanças trazidas pelo desenvolvimento
esta violência entende aquela ação, mas não a aceita, apesar capitalista. Contudo, suas considerações acerca do entendi-
de reconhê-la. Uma moça pode compreender a “cantada” de mento da dinâmica de organização social foram distintas. Se há
um rapaz, pois faz parte de um código reconhecível, mas nem um componente racional no interior do capitalismo, os autores
por isso há um efeito de reciprocidade, de aceitação da ação. em questão deram significação e encaminhamentos diversos
Assim, o espaço da relação social pressupõe a existência de para a questão.
códigos reconhecidos, que podem ou não ter reciprocidade Weber colocou-se contra a tradição positivista pensada em
daquele que participa não como agente da ação social, mas termos de solidariedade mecânica e orgânica de Durkheim como

Ciências Humanas e suas Tecnologias


como o outro a quem a ação é dirigida. também se opôs à visão marxista que circunscrevia a história
à “lei da luta de classes”. Para Weber, as orientações dos tipos
CARACTERÍSTICAS DA AÇÃO SOCIAL ideais garantiriam uma reflexão acerca da sociedade, mas não
Conduta humana dotada de sentido. teriam validade se não houvesse a pesquisa histórica, os estu-
Comportamento planejado, em que há finalidade.
dos de casos – e os tipos ideais seriam apenas parâmetros para
a compreensão das sociedades. Cada sociedade é particular,
Atuação direcionada a outro ou a outros na sociedade. mesmo que existam proximidades. Se pensarmos as socieda-
Para ser fundamentada, a ação social pressupõe o des com economia de mercado (capitalistas), poderemos veri-
reconhecimento daqueles para os quais é dirigida. ficar diferenças significativas associadas aos valores instituídos
TIPOS IDEAIS DE AÇÃO SOCIAL que compõem a teia das relações sociais. Nesse sentido, o es-
RACIONAL COM RELAÇÃO A FINS: procedimentos tudo da cultura tem importância fundamental para a Sociologia.
econômicos e científicos.
RACIONAL COM RELAÇÃO A VALORES: realização de
princípios em que há exigência de reflexão (princípios
éticos, ecológicos, estéticos, políticos). Maximillian Karl Emil Weber nasceu em 21 de abril
de 1864, em Erfurt, na Alemanha. Teve sólida criação pro-
TRADICIONAL: não refletidas, repetidas de forma

287
testante. Seu pai foi jurista e político de um país que pas-
inercial (com grau de irracionalidade).
sava por um processo de unificação política. Em 1869, às
AFETIVA: motivadas por emoções de vésperas da conflagração franco-alemã, sua família foi
momento ou paixões (irracional).
morar em Berlim. Já em 1882, iniciou seus estudos uni-
versitários na Faculdade de Direito de Heidelberg. Tam-
B. A modernidade no pensamento de Weber bém estudou Economia, Administração, Filosofia e Teolo-
Para Weber, o caminho da modernidade era o da racio- gia, sendo alguns dos cursos realizados na Universidade
nalização progressiva, caracterizada pelo destaque do co- de Berlim. Em 1889, apresentou sua tese de doutorado
nhecimento técnico-científico e por estruturas formais de a respeito de empresas comerciais na Idade Média. Em
autoridade associadas à profissionalização, ao mérito e à 1891, publicou a História das Instituições Agrárias. A
impessoalidade do princípio de cidadania. O processo de mo- tese A história agrária romana e seu significado para o
dernização está diretamente relacionado e identificado com a Direito público e privado lhe garantiu a aprovação para le-
racionalização. Haveria, assim, um “desencantamento”, uma cionar Economia Política na Universidade de Freiburg. Em
desmistificação da realidade. Em termos político-institucio- 1904, viajou para os Estados Unidos e publicou a primei-
nais, essa racionalização seria sentida com a burocratização ra parte de A ética protestante e o espírito do capitalismo
do Estado, entendida por atuação racional em relação a fins e e o ensaio A objetividade do conhecimento nas Ciências
a valores refletidos. Sociais. Em 1908, ajudou a criar a Associação Alemã de
A legitimidade do poder do Estado burocrático reside em Sociologia. Antes da eclosão da Grande Guerra Mundial
sua capacidade de realização de princípios racionais. Tal rea- (1914-1918), quando passou a trabalhar administrando
lização se torna possível pela existência de um aparato téc- nove hospitais, Weber redigiu as seguintes obras: Econo-
nico-científico aliado à organização administrativa pautada mia e Sociedade, Ensaio acerca de algumas categorias
pelo critério de eficiência na mobilização de recursos para o da Sociologia compreensiva e A ética econômica das
atendimento de determinados fins. Weber via isso como uma religiões universais. Por fim, participou do grupo que se
tendência da modernidade, mas que convivia com a tensão comprometeu com a rendição alemã, sendo um dos re-
de forças não racionais que poderiam colocar em risco a orga- datores da nova Constituição alemã, a da República de
EMI-15-20

nização burocrática. Weimar. Faleceu em 1920.


2
282

As desigualdades sociais: Weber e a estratificação social


Segundo Weber, a sociedade se assenta sobre três dimensões distintas: a econômica, a social e a
política. [...]
A dimensão econômica estratifica a sociedade através dos critérios pautados na riqueza, na posse e
na renda. [...]
A dimensão social funda uma maneira de estratificação baseada no status. O seu elemento definidor
Sociologia

é a honra e o prestígio que as pessoas e/ou grupos desfrutam, ou não desfrutam, a posição que ocupam
na sua profissão, em seu estilo de vida etc.
A dimensão política funda um modo de estratificação baseado no poder. Quanto mais poder os indi-
víduos e/ou grupos ostentarem, melhor eles se posicionarão na escala de reconhecimento no interior
dessas relações de poder e de dominação.
A abordagem multidimensional de Max Weber parte do pressuposto de que os indivíduos podem se
situar na escala de estratificação de modo diferente nessas três dimensões.
REZENDE, M. J. de. As desigualdades sociais. In: TOMAZI, N. D. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 2000.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

APRENDER SEMPRE 24

01. UESC-BA
[Em] Massachusetts, o espírito do capitalismo estava presente antes do desenvolvimento capitalista
[...]. Neste caso, a relação causal é, certamente, a inversa daquela sugerida pelo ponto de vista mate-
rialista.
WEBER Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.

A afirmação:
a. valoriza a visão do materialismo sobre o desenvolvimento do capitalismo na Nova Inglaterra.
b. sustenta, ao contrário do marxismo, que o espírito capitalista foi o criador do capitalismo moderno.
c. coincide com a crítica marxista ao materialismo sobre a existência do capitalismo na Nova Inglaterra.
d. diverge do marxismo ao defender a existência de uma fase de acumulação primitiva de capital.
e. defende uma concepção consensual entre os historiadores sobre a origem do capitalismo.
288

Resolução
A tese de Max Weber é que o protestantismo, sobretudo as vertentes calvinistas, originou o espírito ético que impulsio-
nou o capitalismo. Dessa forma, usa-se uma explicação cultural para o desenvolvimento de determinada economia.
Alternativa correta: B

Assista ao vídeo sobre o pensamento sociológico de Max Weber.

Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=ea-sXQ5rwZ4>. Acesso em: 10 ago. 2014.

3. A importância da Sociologia: desvios e possibilidades


A Sociologia pode ser entendida como uma ciência humana que trata de questões da vida cotidiana de forma sistemática,
elaborando conceitos e metodologias para o entendimento de determinadas “realidades” sociais. Por ser uma ciência que re-
flete o dia a dia das relações sociais, tem forte apelo ao suscitar questões que envolvem conflitos, convergência de interesses,
estruturas de poder etc.
EMI-15-20
Não se afirma aqui que a sociedade norte-americana é
RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL

2
constituída por castas, mas a elaboração de categorias de aná-
lise pela Sociologia pode elucidar certas tensões vividas so-

282
cialmente. São feitas análises mais profundas, descortinando
determinadas funções e relações sociais que talvez aqueles
estudantes não conseguissem realizar em conversas domés-
ticas ou pela leitura de jornais. Por isso tudo, já se percebe a
importância da Sociologia como uma ciência humana.
A Sociologia procura estudar o homem em sociedade. Nesse sentido, De acordo com o sociólogo Peter Berger:

Sociologia
as análises sociológicas envolvem desde questões relativas às
condições materiais de vida até o conjunto de valores, de elementos
O fascínio da sociologia está no fato de que
culturais, que produzem as teias de relações humanas na vida coletiva.
Assim, surgem estudos sobre sociedades agrárias e sociedades sua perspectiva nos leva a ver sob a nova luz o
industriais, indicando certas especificidades históricas que delineiam próprio mundo em que vivemos. Isto também
as interações entre os homens em um determinado contexto social. constitui uma transformação da consciência.
[...] O sociólogo vive no mundo comum dos ho-
A gama variada de motivações atuantes da vida co- mens, perto daquilo que a maioria das pessoas
letiva se torna objeto do estudo sociológico. Quando um chamaria de real. As categorias que ele utiliza
sociólogo aborda um tema, este logo é reconhecido pelos em suas análises constituem apenas refinamen-

Ciências Humanas e suas Tecnologias


integrantes de uma dada sociedade analisada. Afinal, o tos das categorias em que os outros homens se
sociólogo pode estar tocando em “feridas” que marcam o baseiam – poder, classe, status, raça, etnia. Em
conjunto daquele grupo humano. Pode ser a questão ra- consequência, algumas investigações sociológi-
cial, por exemplo. O sociólogo inicia um debate sobre o pre- cas parecem – ilusoriamente – simples e óbvias.
conceito racial ou o conflito étnico no interior de uma so- BERGER, Peter. Perspectivas sociológicas: uma visão
ciedade, buscando encontrar os elementos que iluminem humanística. Petrópolis: Vozes, 1973. p. 31.
a questão. É óbvio que muitos dos assuntos tratados além

KONSTANTIN CHAGIN/SHUTTESTOCK
de serem reconhecidos pelo conjunto social podem ser
controversos. A importância de tratá-los pela sociologia é,
entre outros aspectos, sair do lugar comum do “achismo”,
da opinião, para algo mais complexo e dotado de capaci-
dade crítica.
Um professor de Sociologia dos Estados Unidos pode
abordar a questão do “racismo” naquela sociedade, mesmo
estando em um estado sulista, por exemplo, a Virgínia. Para
muitos dos estudantes, a princípio aquilo não será novida-

289
de. Eles provavelmente conhecem histórias a respeito, pois
vivem naquela sociedade marcada pelo preconceito.
Talvez o assunto escolhido pelo professor seja até
mesmo entediante para muitos naquela sala de aula. Po- Questões como a discriminação racial e a xenofobia podem ser
rém, o professor, como estratégia de sensibilização, deslo- tratadas pela Sociologia e, a partir desse tratamento, serem
produzidas políticas públicas que visem ao seu combate. Para
ca a discussão para a Índia, tratando daquele tema delica- tanto, é importante que se entendam os mecanismos que produzem
do ao falar da sociedade de castas na terra dos indianos. tais preconceitos. Esta é uma das razões que faz os estudos
O professor poderia discutir o que seria este tipo de sociológicos ganharem relevância na sociedade contemporânea.
organização social, quais os problemas dos relacionamen-
tos sexuais entre grupos de castas diferentes na visão hin- O sociólogo está próximo do mundo que estuda, por isso
du, quais as interdições existentes nas relações entre uma os termos que utiliza são familiares ao conjunto da sociedade
casta e outra, além da exploração econômica decorrente que, muitas vezes, considera sua investigação simples e óbvia.
desse modelo de organização social. Entretanto, a profundidade conferida às categorias de análise
Depois de desenvolver determinados conceitos e tra- abre uma perspectiva nova a determinadas situações sociais,
balhá-los historicamente na Índia, o professor poderá vol- garantindo conhecimentos até ali não compreensíveis a mui-
tar para a questão do racismo nos Estados Unidos. É pos- tos. O trabalho do sociólogo permite a aquisição de novos co-
sível que alunos vejam a sua aula como esclarecedora de nhecimentos e a possibilidade de disseminá-los. Isso contribui
uma sociabilidade desenvolvida nos estados sulistas dos para o pensar do conjunto social sobre as suas práticas.
Estados Unidos. Ali não existiu uma organização social de Pode-se afirmar que a Sociologia é uma forma de conheci-
castas, mas uma experiência de escravidão africana e de mento científico que possibilita a compreensão de certos fenô-
discriminação racial que, em alguns aspectos, pode se as- menos sociais, de certa organicidade do coletivo, de suas inte-
semelhar ao modelo de sociabilidade indiano. rações e dinâmicas, saindo do que se denomina senso comum.
EMI-15-20
2

© HENFIL
282
Sociologia
Ciências Humanas e suas Tecnologias
290

Questões relativas à questão fundiária e seu relacionamento com a política, mais precisamente com as organizações político-
partidárias, exigem um entendimento das relações de poder e da representatividade das instituições políticas. Tratar da legitimidade
das demandas sociais, conhecer as estruturas políticas e seu funcionamento são meios de lançar luzes sobre a organização
da vida social em determinado momento da história. Esta é uma das possibilidades dos estudos sociológicos.

A Sociologia não pode ser vista como uma ciência que é, também, uma forma de atuação social. Daí certas questões
afirma a existência de leis da mesma forma que um físico levantadas pela Sociologia terem conteúdo político, pois elas
pode fazer afirmações a respeito da natureza. E isso se rela- estão sempre associadas a relações de poder.
ciona com a compreensão de que não é possível reduzir rea-
lidades sociais múltiplas e repletas de motivações a alguma
lei universal e atemporal. As sociedades são dinâmicas, mo-
dificam-se não apenas por refletirem linhas de força oriundas
do passado, da tradição, mas por estarem sempre em tensão
RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL

e conjugarem os atritos de formas variadas, cabendo sempre


um espaço à criatividade que modifica condições de vida e
disposições sociais.
Nesse sentido, a construção de categorias de análise e
de sistemas interpretativos é fruto da sociedade em que o es-
tudioso está inserido, portanto marcada por uma historicida-
de. As perspectivas são várias dependendo da adoção deste
ou daquele sistema de interpretação considerado válido para
análises da sociedade. Pode-se falar, então, em sociologias.
A pluralidade de interpretação analítica não reduz o caráter O estudo sociológico envolve necessariamente a adoção de
um sistema conceitual, a construção de categorias de análise,
científico do estudo sociológico, mas o coloca como um pro- teorias que possam conferir inteligibilidade a processos sociais.
EMI-15-20

blema a ser enfrentado pelo sociólogo. A responsabilidade é Nesse sentido, é possível existirem diferenças teóricas que
definam visões diferentes sobre o mesmo fenômeno.
necessária e a aceitação desta ou daquela teoria sociológica
O trabalho do sociólogo opera, em geral, a constituição de consciências sociais, vai além das fachadas das convenções e

2
procura, no edifício social, as estruturas, as funções, as arquiteturas que estabelecem certos padrões de sociabilidade. E isso
envolve a compreensão das linhas de força, dos comandos, das instituições, dos valores formados no interior da sociedade. É

282
essa operação cognitiva que possibilita a construção de determinadas consciências a respeito de elementos que existem, mas
não são imediatamente vistos e compreendidos pelo conjunto social.

APRENDER SEMPRE 25
01. UFU-MG

Sociologia
O surgimento da Sociologia foi propiciado pela necessidade de:
a. manter a interpretação mágica da realidade, como patrimônio de um restrito círculo sacerdotal.
b. manter uma estrutura de pensamento mítica para a explicação do mundo.
c. condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e pensar conforme os ensinamentos transmitidos pelos deuses.
d. considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de forças transcendentais.
e. observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, através da razão, prever e controlar os fenômenos
sociais.

Resolução

Ciências Humanas e suas Tecnologias


No século XIX, em meio ao desenvolvimento das sociedades industriais, a Sociologia surgiu com o propósito de analisar
e interpretar cientificamente os fenômenos sociais, por meio de métodos e conceitos específicos.
Alternativa correta: E

Alguns aspectos importantes da Sociologia


1. Pode definir-se a Sociologia como sendo o estudo sistemático das sociedades humanas, dando ênfase
especial aos sistemas modernos, industrializados.
2. A prática da Sociologia implica a capacidade para pensar de forma imaginativa e nos distanciarmos de
ideias preconcebidas acerca da vida social.
3. A Sociologia é uma disciplina com grandes implicações práticas. Pode contribuir de várias formas para
a crÍtica social e para a aplicação de reformas sociais. Para começar, uma melhor compreensão de um de-

291
terminado conjunto de circunstâncias sociais oferece-nos muitas vezes a possibilidade de o controlar. Ao
mesmo tempo, a Sociologia fornece os meios para melhorarmos a nossa sensibilidade cultural, criando con-
dições para que as políticas se baseiem numa consciência de valores culturais diferentes. Em termos práticos,
podemos investigar as consequências da adoção de determinadas linhas de orientação política. Por último,
e talvez o mais importante, a Sociologia permite autoconhecimento, oferecendo aos grupos e aos indivíduos
mais oportunidades para alterar as condições em que decorrem as suas próprias vidas.
4. A Sociologia surgiu como uma tentativa para compreender as mudanças radicais que ocorreram nas
sociedades humanas durante os últimos dois ou três séculos. As mudanças em causa não foram apenas mu-
danças em grande escala, mas também transformações nas características mais pessoais e íntimas da vida
das pessoas.
5. Entre os fundadores clássicos da Sociologia, quatro figuras são particularmente importantes: Auguste
Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Comte e Marx, que trabalharam em meados do século
XIX, estabeleceram algumas das questões essenciais da Sociologia, mais tarde desenvolvidas por Durkheim
e Weber. Estas questões dizem respeito à natureza da Sociologia e ao impacto das mudanças resultantes da
modernização no mundo social.
6. Há diversas abordagens teóricas em Sociologia. Se as discussões teóricas são difíceis de solucionar mes-
mo no caso das ciências naturais, em Sociologia estamos perante dificuldades acrescidas, dados os problemas
complexos que estão envolvidos quando se trata de estudar o nosso próprio comportamento.
7. O funcionalismo, a perspectiva do conflito e o interaccionismo simbólico constituem as principais abor-
dagens teóricas na Sociologia. Existem algumas diferenças básicas entre elas, diferenças que muito influen-
ciaram o desenvolvimento da disciplina durante o período que se seguiu ao pós-guerra.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. p. 18-19.
EMI-15-20
4. Organizador gráfico
2
RENATO CALDERARO / PEARSON BRASIL
282

Outras contribuições
Sociologia

à Sociologia
Ciências Humanas e suas Tecnologias

Possibilidades variadas
de conhecimento sobre as
sociedades humanas

Pluralidade de interpretação analítica


não desfigura o caráter científico Max Weber
Karl Marx

Sociologia compreensiva

Materialismo histórico dialético


"Tipos ideais"

"Luta de classes"
Ação social
292

Sociologia assentada na ideia de conflito Estudo de caso, exemplo:


Ética protestante e o
Infraestrutura (modo de produção) espírito do capitalismo

Superestrutura (cultura/instituições)
Racionalização/desencantamento

Apenas
Tema Tópico Subtópico Subtópico destaque texto Características
EMI-15-20
Módulo 4

2
A concepção sociológica de Karl Marx

282
Exercícios de Aplicação
01. Unicamp-SP 02.

Sociologia
A história de todas as sociedades tem sido Apesar de Marx e Engels não terem se preocupado em
a história das lutas de classe. Classe oprimida fundar a Sociologia como uma disciplina específica, nem es-
pelo despotismo feudal, a burguesia conquistou tabelecerem fronteiras rígidas entre áreas do conhecimento,
a soberania política no Estado moderno, no qual forneceram uma importante contribuição às Ciências Sociais.
uma exploração aberta e direta substituiu a ex- Considere as afirmativas a seguir, assinalando V para a(s) ver-
ploração velada por ilusões religiosas. dadeira(s) e F para a(s) falsa(s).
A estrutura econômica da sociedade condi- ( ) O estudo da sociedade deve partir de sua base mate-
ciona as suas formas jurídicas, políticas, religio- rial.
sas, artísticas ou filosóficas. Não é a consciên- ( ) A divisão do trabalho acarreta o aumento da solida-

Ciências Humanas e suas Tecnologias


cia do homem que determina o seu ser, mas, ao riedade e cooperação entre os trabalhadores.
contrário, são as relações de produção que ele ( ) A falta de regras ocasiona os conflitos nas relações
contrai que determinam a sua consciência. de trabalho.
MARX, K. e ENGELS, F. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa- ( ) Os fatos econômicos são a base sobre a qual se
Ômega, s./d., v. 1, p. 21-23, 301-302. Adaptado. apoiam outros níveis da realidade, como a política e
a religião, por exemplo.
A proposição do enunciado acima pode ser associada ao ( ) O capitalismo representava a expressão da moderni-
pensamento conhecido como: zação e racionalização do homem ocidental.
a. materialismo histórico, que concebe a história a partir
Resolução
da luta de classes e da determinação das formas ideo-
lógicas pelas relações de produção. A propriedade privada sobre os meios de produção é um
b. materialismo histórico, que compreende as socieda- fundamento dos conflitos entre as classes sociais, pois esta-
des humanas a partir de ideias universais indepen- belece uma clivagem entre exploradores e explorados, opres-
dentes da realidade histórica e social. sores e oprimidos.
c. socialismo utópico, que propõe a destruição do capi- O capitalismo, em função de seus efeitos para a classe
talismo por meio de uma revolução e a implantação de trabalhadora, não era considerado racional por Marx.

293
uma ditadura do proletariado. Resposta: V – V – F – V – F
d. socialismo utópico, que defende a reforma do capita-
lismo, com o fim da exploração econômica e a aboli-
ção do Estado por meio da ação direta.

Resolução
O pensamento de Karl Marx recebeu influência direta da
filosofia de Hegel, principalmente no que diz respeito à afir-
mação do movimento dialético como a base da progressão
da história. Contudo, negou o idealismo helegiano ao propor o
materialismo das relações de produção no desenvolvimento
da história. Essa dialética materialista era expressa social-
mente na divisão de classes e nas confrontações entre elas a
partir das condições materiais de vida, em que havia explora-
dores e explorados, opressores e oprimidos. Assim, “A história
da humanidade é a história de luta de classes”. Esse paradig-
ma sustenta as análises marxistas da história e, por muito
tempo, serviu como elemento político-ideológico na chamada
bipolarização do mundo no século XX.
Alternativa correta: B
EMI-15-20
03. d. as classes sociais que determinam a liberdade indi-
2

Leia o texto a seguir. vidual, mas a liberdade do indivíduo que produz as


classes sociais.
282

Na obra Contribuição à crítica da economia po- e. os homens os sujeitos da história, pois estão submeti-
lítica, Marx escreve: “O conjunto das relações dos a um ordenamento econômico que determina sua
de produção constitui a estrutura econômica da consciência.
sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva
Resolução
uma superestrutura jurídica e política e à qual cor-
respondem determinadas formas de consciência Marx apresenta uma relação entre superestrutura e
Sociologia

social. O modo de reprodução de vida material infraestrutura. A infraestrutura condiciona determinados


determina o desenvolvimento da vida social, polí- ordenamentos políticos e culturais. Contudo, o movimento
tica e intelectual em geral. Não é a consciência dos dialético entre infraestrutura e superestrutura permite o de-
homens que determina o seu ser; é o seu ser social senvolvimento de ideias, de consciências humanas.
que, inversamente, determina sua consciência”. a. Incorreta: para Marx, são as condições históricas que
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. produzem as ideias.
São Paulo: Ática, 2003. p. 385. c. Incorreta: os meios de produção condicionam aconte-
cimentos políticos.
Neste texto, Marx revela que não são: d. Incorreta: as classes sociais são determinadas pelo
Ciências Humanas e suas Tecnologias

a. as condições históricas que produzem as ideias, mas modo de produção, havendo uma relação estreita do
as ideias humanas que movem a história. indivíduo com sua classe social.
b. as ideias humanas que movem a história, mas são as e. Incorreta: os seres humanos são sujeitos da história.
condições históricas que produzem as ideias. Habilidade
c. os meios de produção que determinam os aconteci- Discutir as principais ideias de Marx, a análise da origem
mentos políticos, mas os acontecimentos políticos da sociedade capitalista e suas transformações, além do en-
que movem as forças produtivas. quadramento social.
Alternativa correta: B

Exercícios Extras
04. ENEM Max Weber, Marx considerava que não se pode pensar a re-
Na produção social que os homens reali- lação “indivíduo-sociedade” separadamente das condições
zam, eles entram em determinadas relações in- materiais em que essas relações se apoiam.
dispensáveis e independentes de sua vontade; Para ele, as condições materiais de toda a sociedade
294

tais relações de produção correspondem a um condicionam as demais relações sociais. Em outras palavras,
estágio definido de desenvolvimento das suas para viver, os homens têm de, inicialmente, transformar a na-
forças materiais de produção. A totalidade des- tureza, ou seja, comer, construir abrigos, fabricar utensílios,
sas relações constitui a estrutura econômica da etc., sem o que não poderiam existir.
sociedade – fundamento real, sobre o qual se Para Marx qual é o ponto de partida para o estudo de qual-
erguem as superestruturas política e jurídica, e quer sociedade?
ao qual correspondem determinadas formas de a. As condições materiais e espirituais de cada comuni-
consciência social. dade ou grupo social.
MARX, K. Prefácio à Critica da economia política. In: MARX. K. ENGELS, F. b. As relações sociais que os homens estabelecem entre
Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977. Adaptado. si para utilizar os meios de produção e transformar a
natureza, ou seja, a produção é a raiz de toda a estru-
Para o autor, a relação entre economia e política estabele- tura social, que condiciona a política, as classes, a cul-
cida no sistema capitalista faz com que: tura e todo o resto da sociedade.
a. o proletariado seja contemplado pelo processo de c. Identificar as várias fases do sistema social capi-
mais-valia. talista e como se estabelecem as relações sociais
b. o trabalho se constitua como o fundamento real da de produção, bem como a apropriação por parte
produção material. da burguesia das riquezas produzidas pela classe
c. a consolidação das forças produtivas seja compatível operária.
com o progresso humano. d. Identificar as classes sociais dentro da produção,
d. a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao passo principal para identificar os vários modos de
desenvolvimento econômico. produção na história, ou seja, do primitivo ao capi-
e. a burguesia revolucione o processo social de forma- talista e as relações de exploração do homem pelo
ção da consciência de classe homem.
e. Identificar dentro da estrutura social o papel na pro-
05. UEL-PR dução da classe dominante e a formação do Estado,
EMI-15-20

O marxismo contribuiu para a discussão da relação entre elemento que cria as classes sociais.
indivíduo e sociedade. Diferentemente de Émile Durkheim e
Seu espaço

2
• Sobre o módulo as condições de trabalho dos mineiros de carvão por causa da

282
Apresentar o contexto em que se desenvolveu o pensa- redução de salários e também o princípio da organização da
mento de Karl Marx, não deixando de assinalar a contribuição classe operária, como as divisões entre marxistas e anarquis-
de Hegel para a formação intelectual do jovem Marx. tas no movimento sindical.
Assinalar alguns eventos revolucionários que deram o tom Tempos modernos. Estados Unidos, 1936. Dirigido por
daquilo que foi o século XIX, com suas contradições no interior Charles Chaplin. 83 min.
da expansão capitalista. Ao satirizar o processo de produção capitalista, Chaplin cri-

Sociologia
Discutir a obra de Karl Marx, que procurava refletir sobre a tica aspectos da teoria de Karl Marx nesta obra que mescla co-
dinâmica da História, base sobre a qual estruturou sua análise média, drama e romance. Para isso, usa como personagem um
filosófica, econômica, política e social. operário que tenta driblar o mecanismo da linha de montagem
Explicitar a ideia do motor da história como sendo a luta de para poder almoçar e termina por enlouquecer.
classes e o entendimento do que vem a ser o materialismo his- • Na web
tórico dialético proposto pelo filósofo. Marx e a sociologia. Artigo de
Salientar a perspectiva de Marx como sendo uma teleolo- Ricardo Musse, revista Cult.
gia, em especial, a noção de que o final da história seria o co- Disponível em: <http://revistacult.uol.com.
munismo. br/home/2011/01/marx-e-a-sociologia/>.

Ciências Humanas e suas Tecnologias


• Estante
• Cinemateca GIANNOTTI, José Arthur. Marx: vida e obra. Porto Alegre:
Germinal. França, 1993. Dirigido por Claude Berri. 158 min. L&PM, 2000.
Drama, com Gerard Depardieu, baseado no romance homô- Uma introdução ao pensamento de Marx apresentado
nimo de Émile Zola. Tem como cenário uma cidade do norte da com os impasses teóricos e práticos enfrentados pelo filóso-
França em plena Revolução Industrial, no século XIX. Descreve fo, com o cuidado de evitar a banalização de seus conceitos.

Exercícios Propostos

Da teoria, leia os tópicos 1, 1.A, 1.B, 1.C, 1.D e 1.E 08.


Exercícios de tarefa reforço aprofundamento O materialismo histórico foi a corrente mais revolucioná-
ria do pensamento social, tanto no campo teórico como no da
ação política. E o materialismo histórico pode ser conceituado

295
06. UEG-GO modificado como:
“A história das sociedades tem sido, até hoje, a história a. um período de transição do socialismo para o comu-
da luta de classes”. Esta frase expressa uma das teses funda- nismo, durante o qual as condições materiais são cria-
mentais de Marx. Explique, a partir dessa frase, o pensamento das para a construção do socialismo.
de Karl Marx a respeito da sociedade. b. a filosofia formulada por Marx e Engels que se de-
senvolve em estreita conexão com os resultados da
07. Unimontes-MG modificado ciência e com a prática do movimento operário revo-
A questão das classes sociais ocupa um papel funda- lucionário.
mental na teoria de Karl Marx. Para ele, existem condicionan- c. a doutrina marxista do desenvolvimento da sociedade
tes e determinantes na complexa relação entre indivíduo e humana, que vê no desenvolvimento dos bens mate-
sociedade e entre consciência e existência social. Conside- riais necessários a existência, a força primeira que de-
rando as reflexões de Karl Marx sobre esse tema, considere termina toda a vida social, que condiciona a transição
as seguintes afirmações, assinalando V para a(s) verdadei- de um regime social para outro.
ra(s) e F para a(s) falsa(s). d. uma corrente hostil ao marxismo, que defende a natu-
( ) A luta de classes desenvolve-se no modo de organi- reza como fonte de sobrevivência.
zar o processo de trabalho e no modo de se apropriar e. uma etapa que se segue ao socialismo, quando as
do resultado do trabalho humano. classes deixam de existir e o Estado se extingue.
( ) A luta de classes está presente em todas as ações
dos trabalhadores quando lutam para diminuir a ex- 09. UEL-PR modificado
ploração e a dominação. Karl Marx exerceu grande influência na teoria sociológica.
( ) Em meio aos antagonismos e lutas sociais, o indiví- Segundo o autor:
duo pode repensar a realidade, reagir e até mesmo [...] na produção social da sua existência, os
transformá-la, unindo-se a outros em movimentos homens estabelecem relações determinadas,
sociais e políticos. necessárias, independentes da sua vontade, re-
( ) As classes sociais sustentam-se em equilíbrios dinâ- lações de produção... O conjunto destas relações
EMI-15-20

micos e solidários, sendo a produção da solidarieda- de produção constitui a estrutura econômica da


de social o resultado necessário à vida em sociedade. sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva
uma superestrutura jurídica e política e à qual 12. UEL-PR modificado
2

correspondem determinadas formas de cons- “Cascavel – Uma pequena cidade no interior


ciência social. do Paraná está provando que machismo é coisa
282

MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução do passado. Com 15 mil habitantes, conforme o
de Florestan Fernandes. São Paulo: Mandacaru, 1989. p. 28. IBGE, Ampére (a 150 quilômetros de Cascavel),
no Sudoeste, tem fartura de emprego para as mu-
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o autor, lheres. Ex-donas de casa partiram para o traba-
é correto afirmar: lho fixo, enquanto os homens, desempregados ou
a. A superestrutura jurídica e política é o resultado do não, passaram a assumir os serviços domésticos.
Sociologia

modo como as pessoas se organizam para produzir a Assim, elas estão garantindo mais uma fonte de
subsistência material em determinada sociedade. renda para a família, além de eliminar antigos pre-
b. A superestrutura jurídica e política é o resultado da conceitos. A situação torna-se ainda mais eviden-
consciência social dos líderes políticos e independe te quando os homens estão desempregados e são
do modo de produção em dada sociedade. as mulheres que pagam as contas básicas da fa-
c. A superestrutura política é o resultado do modo como mília. Conforme levantamento informal, em Am-
as pessoas se organizam para produzir a subsistência pére, o número de homens sem vínculo emprega-
material em determinada sociedade, mas a esfera ju- tício é maior do que o de mulheres. Para driblar
rídica depende da consciência social. as dificuldades, eles fazem bicos temporários e,
Ciências Humanas e suas Tecnologias

d. A superestrutura jurídica é o resultado do modo como quando não há serviço, tornam-se donos de casa.
as pessoas se organizam para produzir a subsistência O motivo para essa mudança de comportamento
material em determinada sociedade, mas a esfera po- é a [...] Industrial Ltda., uma potência no setor de
lítica depende da consciência social. confecções que dá emprego a 1 200 pessoas, das
e. A superestrutura jurídica e política é o resultado da quais 80% são mulheres. Com a fábrica, famílias
consciência social dos homens. migraram do interior para a cidade. As mulheres
abandonaram o posto de donas de casa ou de
10. empregadas domésticas, aprendendo a apostar
A respeito das análises que Karl Marx fez sobre o capita- na capacidade de competição”.
lismo, considere as afirmativas a seguir, assinalando V para Ilza Costa. Papéis trocados. Gazeta do Povo, Curitiba, 01 out. 1999. p. 14.
verdadeira e F para falsa.
( ) Uma classe social deve ser definida a partir do seu O fenômeno da troca de papéis sociais, relatado no texto,
status social e de seu poder de compra na sociedade. ilustra a base da tese usada por Karl Marx (1818-1883) na
( ) A afirmação “a história da humanidade é a história explicação geral que formula sobre a relação entre a infraes-
das lutas de classes” expressa uma ideia de coope- trutura e a supraestrutura na sociedade capitalista.
ração entre as diferentes camadas sociais. Com base no texto e nos conhecimentos sobre essa tese
296

( ) Os conflitos existentes na relação entre os operários de Karl Marx, é correto afirmar:
e os empresários constituem o fato mais importante a. Na explicação das mudanças ocorridas no compor-
das sociedades modernas. tamento coletivo, deve-se privilegiar o papel ativo do
( ) As classes sociais definem-se, sobretudo, pelas re- indivíduo na escolha das ações, ou seja, o que importa
lações de cooperação que se desenvolvem entre os é a motivação que inspira suas opções.
diversos grupos envolvidos socialmente. b. É a imitação que constitui a sociedade, enquanto a inven-
( ) Essas análises diferem da dos positivistas, ao consi- ção abre o caminho das mudanças e de seu progresso.
derar que apenas as sociedades modernas e indus- A invenção, produtora das transformações sociais, é in-
triais eram científicas, em contraposição às militares dividual, dependendo de poucos; enquanto a imitação,
e teológicas. coletiva, necessita sempre de mais de uma pessoa.
c. A família é a verdadeira unidade social; é a célula social
11. Uncisal que, em seu conjunto, compõe a sociedade, portanto a
A Escola Marxista tem na teoria do conflito um dos seus sociedade não pode ser decomposta em indivíduos, mas
fundamentos mais importantes em termos sociológicos. Tal em famílias. É a família a fonte espontânea da educação
teoria, pela óptica marxista, defende que: moral, bem como a base natural da organização política.
a. os conflitos sociais são culturais, sendo expressões d. Há uma relação de determinação entre a maneira
do embate entre a tradição e a inovação. como um grupo concreto estrutura suas condições
b. os conflitos nascem das contradições, sendo estas re- materiais de existência – chamada de modo de pro-
sultantes do acesso desigual aos meios de produção. dução – e o formato e conteúdo das demais organi-
c. as sociedades mais avançadas são aquelas que me- zações, instituições sociais e ideias gerais presentes
lhor se adaptaram ao longo do processo histórico, sen- nas relações sociais.
do as menos aptas extintas. e. A organização social deve fundar-se na separação dos
d. os conflitos sociais são observados apenas nas socie- ofícios, inerente à divisão do trabalho social e na combi-
dades anteriores à Revolução Industrial. nação dos esforços individuais. Sem divisão do trabalho
e. todas as relações sociais estão desvinculadas da es- social, não há cooperação e, portanto, a coesão social
EMI-15-20

fera econômica, sendo os conflitos políticos o alicerce entre as classes torna-se impossível.
da vida em sociedade.
13. Sistema COC posto para com seu próximo, mas a instituição

2
Leia o texto a seguir. da propriedade privada corrompeu-lhe a nature-
za. […] Se a propriedade privada fosse abolida,

282
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, ba- possuída em comum toda a riqueza e permitida
rão e servo, mestre e companheiro, numa palavra, a todos a partilha de sua fruição, a má vontade
opressores e oprimidos, sempre estiveram em e a hostilidade desapareceriam entre os homens.
constante oposição uns aos outros, travaram uma […] Mas sou capaz de reconhecer que as premis-
batalha ininterrupta, ora aberta, ora dissimulada, sas psicológicas em que o sistema se baseia são
uma luta que terminava sempre com uma trans- uma ilusão insustentável. […] A agressividade

Sociologia
formação revolucionária de toda a sociedade ou não foi criada pela propriedade. […] Certamente
com a destruição das duas classes em luta. […] existirá uma objeção muito óbvia a ser feita:
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido a de que a natureza, por dotar os indivíduos com
Comunista. São Paulo: Escala, 2007. p. 47. Fragmento. atributos físicos e capacidades mentais extrema-
Coleção Grandes obras do pensamento universal.
mente desiguais, introduziu injustiças contra as
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, quais não há remédio.
assinale a alternativa correta. Sigmund Freud. Mal-estar na civilização, 1930. Adaptado.
a. A divisão existente no seio das sociedades, expressa
por meio da presença de “opressores” e “oprimidos”, Qual diferença os dois textos estabelecem sobre a rela-

Ciências Humanas e suas Tecnologias


esconde-se sob a máscara da dissimulação, fato que ção entre a propriedade privada e as tendências de hostilida-
impede os processos revolucionários. de e agressividade entre os homens e as nações? Explicite,
b. As palavras de Marx e Engels suscitam uma perspecti- também, a diferença entre os métodos ou pontos de vista em-
va histórica na qual a dinâmica e a transformação são pregados pelos autores dos textos para analisar a realidade.
duas ações pouco realizáveis.
c. Ao longo do tempo, a oposição entre “opressores” e 15. UEM-PR
“oprimidos” não foi capaz de articular movimentos Utilizando seus conhecimentos sobre o conceito de
sociais com vigor suficiente para destruir as classes “modo de produção”, assinale o que for correto sobre suas
em luta. características no capitalismo.
d. A perspectiva de Marx e Engels não condiz com uma 01. Exige que o trabalho humano acompanhe as cons-
visão histórica linear, já que os pares sociais em opo- tantes transformações do mundo do trabalho, sepa-
sição por eles apresentados viveram em momentos rando as unidades de concepção das de produção.
distintos. 02. Estruturou a divisão da sociedade entre proprietários
e. Na história do capitalismo, a mobilização da burgue- dos meios de produção e proprietários da força de
sia visando ao controle da economia garantiu a ela, trabalho. Essa diferenciação marcou não só as re-
enquanto classe social, o papel de classe dominante. lações dentro de ambientes fabris, mas também os

297
locais de moradia e lazer dos trabalhadores.
14. Unesp 04. Organizou a produção sob a forma de conhecimen-
Leia os textos. to científico que propiciou a apropriação intensa da
natureza. Contudo os benefícios gerados por tal apro-
Texto 1 priação não alcançaram a sociedade como um todo.
Ora, a propriedade privada atual, a proprieda- 08. Ao mesmo tempo em que deixou o indivíduo livre
de burguesa, é a última e mais perfeita expressão para trocar sua força de trabalho por salário, gerou
do modo de produção e de apropriação baseado um processo de alienação do trabalhador.
nos antagonismos de classes, na exploração de 16. Procurou o aperfeiçoamento técnico constante, junto
uns pelos outros. Neste sentido, os comunistas à produtividade dos operários e à racionalização dos
podem resumir sua teoria nesta fórmula única: processos produtivos, com o objetivo de expandir os
a abolição da propriedade privada. […] A ação lucros e baixar os custos de produção.
comum do proletariado, pelo menos nos países
civilizados, é uma das primeiras condições para 16. UEMA
sua emancipação. Suprimi a exploração do ho- As sociedades modernas são complexas e multiface-
mem pelo homem e tereis suprimido a explo- tadas. Mas, é com o capitalismo que as divisões sociais se
ração de uma nação por outra. Quando os an- tornam mais desiguais e excludentes. Marx já observara que
tagonismos de classes, no interior das nações, só o conflito entre as classes pode mover a história. Assim
tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilida- sendo, para o referido autor, em qual das opções se evidencia
de entre as próprias nações. uma característica de classe social?
Marx e Engels. Manifesto comunista, 1848. a. O status social e cultural dos indivíduos
b. A função social exercida pelos indivíduos na sociedade
c. A ação política dos indivíduos nas sociedades hierar-
Texto 2 quizadas
Os comunistas acreditam ter descoberto o d. A identidade social, cultural e coletiva
EMI-15-20

caminho para nos livrar de nossos males. Segun- e. A posição que os indivíduos ocupam nas relações de
do eles, o homem é inteiramente bom e bem dis- produção
Módulo 5
2

A Sociologia de Max Weber


282

Exercícios de Aplicação
01. UFU-MG 02.
Sociologia

Analise as situações abaixo referentes a ações típicas do Em todas as situações da vida cotidiana, os indivíduos
mercado de bens econômicos. podem se sentir, literalmente, como uma mesma pessoa,
A. R. é empresário no ramo de calçados femininos. Sua mas são, na verdade, diferentemente posicionados em razão
empresa é bem organizada, possui muitos funcioná- das expectativas e restrições sociais de cada uma dessas si-
rios especializados e gerência competente. Ele sem- tuações, que os levam a representar-se diante dos outros de
pre define os tipos e as quantidades de calçados a forma diferente em cada contexto. O entendimento dos outros
produzir de acordo com pesquisas de mercado. Em da atuação do indivíduo em cada contexto é o resultado de
função das previsões de lucro, esse empresário toma ações estabelecidas para determinados fins. Esse argumento
todas as providências necessárias para que a empre- se relaciona a qual conceito sociológico weberiano?
Ciências Humanas e suas Tecnologias

sa seja bem-sucedida. a. Identidade


B. P. é comerciante de calçados. Ele revende os calçados b. Cidadania
produzidos por R., dando a este preferência por ques- c. Ação social
tões de preço, atendimento aos gostos dos consumi- d. Fatos sociais
dores, cumprimento de prazos de entrega etc. Embora
Resolução
P. seja um pequeno empresário, também dispõe de
recursos para garantir lucros com seu negócio. O pensamento de Weber está ancorado na ideia de que
C. L. é compradora de calçados produzidos por R. e re- a Sociologia deve compreender a ação social. Ação pode ser
vendidos por P. Ela “adora” comprar calçados e o faz, entendida como conduta humana em determinadas circuns-
de acordo com os impulsos “do momento”. A rigor, L. tâncias. Quando a ação envolve outro ou outros podemos afir-
não precisa desses calçados para trabalhar ou pas- má-la como ação social.
sear, pois já dispõe de uma grande coleção de sapatos Alternativa correta: C
de todos os modelos, gostos e de todas as cores.
Na teoria sociológica de Max Weber, tais situações con-
figuram ações sociais, definidas, de modo típico-ideal, pela
orientação predominante dos atores envolvidos, ou seja, uma
298

orientação racional ou não racional.


De acordo com as situações apontadas e a teoria de We-
ber, marque para as alternativas abaixo (V) verdadeira ou (F)
falsa
( ) A situação A é racional; a situação C é não racional.
( ) As situações A e B são racionais.
( ) A situação A é não racional; a situação C é racional.
( ) Todas as situações são não racionais.
Resolução
De acordo com a Sociologia weberiana, a situação C é não
racional e as situações A e B são racionais.
Resposta: V – V – F – F
EMI-15-20
03. Vunesp Resolução

2
À medida que se foi estendendo a influên- Conforme o pensamento de Weber, foram os princípios
cia da concepção de vida puritana – e isto, na- que nortearam a concepção de vida puritana os responsáveis
pelo desenvolvimento do capitalismo.

282
turalmente, é muito mais importante do que o
simples fomento da acumulação de capital – a. Incorreta: a economia e a sociedade se organizam a
ela favoreceu o desenvolvimento de uma vida partir de determinados valores e são estes que corres-
econômica racional e burguesa. Era a sua mais pondem a mudanças significativas na vida humana.
importante, e, antes de mais nada, a sua única c. Incorreta: o texto não apresenta a ideia de liderança
orientação consistente, nisto tendo sido o berço carismática no desenvolvimento do capitalismo.

Sociologia
do moderno “homem econômico”. d. Incorreta: não há menção a uma ética liberal, mas a
Max Weber. A ética protestante e uma ética protestante.
o espírito do capitalismo. 1967.
e. Incorreta: a teoria da ação social não está contemplada
no texto, sendo uma formulação sociológica de Weber
De acordo com o texto, Max Weber está apontando para o para entender o complexo das relações sociais.
“desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa” Alternativa correta: B
e o desenvolvimento do capitalismo a partir da influência da: Habilidade
a. economia e sociedade.
Conhecer o contexto em que se desenvolveu o pensa-
b. ética protestante.

Ciências Humanas e suas Tecnologias


mento de Weber, suas principais ideias, em específico, a con-
c. liderança carismática.
cepção de vínculo entre a sociedade capitalista e racionaliza-
d. ética liberal.
ção da vida.
e. teoria da ação social.

299
Exercícios Extras
04. Unicentro-PR c. Os fatos sociais não são coisas, e sim acontecimentos
Leia o texto a seguir. que precisam ser analisados.
d. O tipo ideal é uma construção teórica abstrata que per-
Do ponto de vista do agente, o motivo é o mite a análise de casos particulares.
fundamento da ação; para o sociólogo, cuja tare- e. O sociólogo deve investigar o sentido das ações que
fa é compreender essa ação, a reconstrução do não são orientadas pelas ações de outros.
motivo é fundamental, porque, da sua perspec-
tiva, ele figura como a causa da ação. Numero- 05.
sas distinções podem ser estabelecidas e Weber Tendo por base o pensamento sociológico de Weber, con-
realmente o faz. No entanto, apenas interessa sidere as afirmativas a seguir, assinalando V para a(s) verda-
assinalar que, quando se fala de sentido na sua deira(s) e F para a(s) falsa(s).
acepção mais importante para a análise, não se ( ) O historicismo é entendido como uma tarefa do cien-
está cogitando da gênese da ação, mas sim da- tista como forma de compreensão das sociedades.
quilo para o que ela aponta, para o objetivo visa- ( ) A tarefa do cientista é descobrir os possíveis senti-
do nela; para o seu fim, em suma. dos das ações humanas presentes na realidade so-
COHN, Gabriel (Org.). Max Weber: cial que lhe interesse estudar.
Sociologia. São Paulo: Ática, 1979. ( ) A ação social gera efeitos sobre a realidade em que
ocorre, e tais efeitos escapam ao controle e à previ-
A categoria weberiana que melhor explica o texto em evi- são do agente.
dência está explicitada em: ( ) Os fatos sociais são coisas que devem ser vistas e
a. A ação social possui um sentido que orienta a conduta analisadas.
dos atores sociais. ( ) O que garante a cientificidade de uma explicação é o
EMI-15-20

b. A luta de classes tem sentido porque é o que move a método de reflexão e não diretamente o fato social.
história dos homens.
Seu espaço
2

• Sobre o módulo
282

Disponível em: <https://www.youtube.


Assinalar o quadro histórico em que se desenvolveu o
com/watch?v=qU_zUBTsILQ>.
pensamento de Weber, suas influências intelectuais e as cir-
cunstâncias em que apresentou sua perspectiva sociológica. Clássicos da sociologia: Émile Durkheim. O fato social se impõe
Evidenciar as diferenças da proposta de Weber daquela aos indivíduos, de acordo com a visão de Durkheim. A concepção de
desenvolvida por Durkheim, mais precisamente a valorização sociedade de Durkheim, baseada na ideia de fato social e solidarie-
Sociologia

do indivíduo por oposição à valorização das imposições so- dade, é apresentada pelo sociólogo Gabriel Cohn e por meio de visita
ciais defendida no pensamento de Durkheim. ao menor município do país, Águas de São Pedro, em São Paulo.
Sinalizar o valor do indivíduo na sociedade, com vistas a
desenvolver a proposta de Weber acerca da ação social e de Disponível em: <https://www.youtube.
seus fundamentos, tendo como base o estudo histórico as- com/watch?v=D6BY6LtK9xQ>.
sentado em contrastes com os tipos ideais.
Modernidade, desencantamento do mundo, mídia e poder. Em
Contemplar a questão do conflito na perspectiva weberia-
seu texto “Ciência como Vocação”, Max Weber afirmou que o homem
na e sua distinção da noção de conflito apresentada por Karl “tem o destino de viver numa época sem Deus e sem profetas”,
Marx. fazendo referência ao momento denominado por alguns teóricos
Ciências Humanas e suas Tecnologias

como “modernidade”. Para Weber, esse tempo seria caracterizado


• Cinemateca por uma intensa perda dos sentidos existenciais e essenciais de
O Grande Gatsby. Austrália, Estados Unidos, 2013. Dirigi- tempos passados.
do por BazMark Luhrmann. 144 min. Artigo disponível em: <http://www.webartigos.
Uma história de amor, baseada no romance homônimo de com/artigos/modernidade-desencantamento-do-
F. Scott Fitzgerald, que foi definida como um romance sobre o mundo-midia-e-poder/44897/#ixzz3AdrNjn7Y>.
capitalismo, a mobilidade social, o que o dinheiro pode ou não
A ética protestante e o espírito do capitalismo. Resenha.
comprar, a ânsia do protagonista em ser aceito pelos muito ri-
Disponível em: <http://terminologiaatemporal.
cos, enquanto, como afirmou Weber, a posse de bens e proprie-
wordpress.com/2013/05/02/resenha-a-
dade de produção não definem a classe, porque a situação que
etica-protestante-e-o-espirito-do-capitalismo-
importa para a definição de classe são as trocas e relações de max-weber/>. Acesso em: 16 ago. 2014.
mercado. Uma análise weberiana do filme está disponível em:
• Estante
<http://www.pitacocultural.com/cinema/the-great-
gatsby-o-filme-e-um-pouco-de-max-weber/>. COHN, Gabriel. Sociologia: para ler os clássicos. Rio de Janeiro:
Azougue, 2005.
300

WEBER, Max. A ciência como vocação. Ciência e política: duas


• Na web vocações. São Paulo: Cultrix, 1993.
Café filosófico: a sociologia de Weber. O sociólogo Gabriel WEBER, MAX. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São
Cohn levanta questões a respeito de Max Weber, seu pensa- Paulo: Companhia das Letras, 2011.
mento a respeito das linhas de força, ações e agentes dessas
ações dentro da teia de relações que é a sociedade.
Exercícios Propostos

Da teoria, leia os tópicos 2, 2.A e 2.B 07.


Exercícios de tarefa reforço aprofundamento Weber estabeleceu uma explicação a respeito das diferenças
sociais que não contemplaram o pensamento de Karl Marx. Identi-
fique o critério usado por Weber para tratar das diferenças sociais.
06. Unicentro-PR modificado
Assinale com V as afirmativas verdadeiras e com F as 08. Unicentro-PR
falsas, sobre a contribuição do sociólogo Max Weber para a Max Weber, um dos fundadores da Sociologia, tinha am-
Sociologia nas organizações. plo conhecimento em muitas áreas afins a essa ciência, tais
( ) A teoria weberiana distingue quatro tipos de ação: a como Economia, Direito e Filosofia. Assim, ao analisar o de-
tradicional, a emocional ou afetiva, a racional com rela- senvolvimento do capitalismo moderno, buscou entender a
ção a um valor e a racional com relação a um objetivo. natureza e as causas da mudança social. Em sua obra, exis-
( ) A consciência coletiva, de acordo com Weber, é um tem dois conceitos fundamentais, ou seja:
conjunto de crenças comuns à média dos membros a. cultura e tipo ideal.
de uma sociedade e que orienta a ação social. b. classe e proletariado.
( ) A Sociologia de Weber busca compreender o sentido c. anomia e solidariedade.
que cada autor confere à própria conduta. d. fato social e burocracia.
EMI-15-20

( ) Os tipos ideais correspondem à verdadeira história e. ação social e racionalidade.


das sociedades.
09. Unioeste-PR modificado condicionam as condutas e os interesses dos indiví-

2
Para Max Weber a economia capitalista não é marcada duos.
pela irracionalidade e pela “anarquia da produção”. Ao contrá- b. as estruturas sociais são constituídas a partir das

282
rio de Karl Marx, que frisava a irracionalidade do capitalismo, ações dos indivíduos, os quais são livres para realizar
para Weber as instituições do capitalismo moderno podem escolhas e orientam suas condutas com referência à
ser consideradas como a própria materialização da racionali- ação de outros indivíduos.
dade. Segundo Weber, uma das características do capitalismo c. os fenômenos sociais são constituídos como siste-
moderno é a estrutura burocrática com instituições adminis- mas orgânicos, de modo que os indivíduos agem em
tradas racionalmente com funções combinadas e especiali- cooperação com o todo, tendo em vista o bom funcio-

Sociologia
zadas. Para o sociólogo alemão, o controle burocrático é mar- namento da sociedade.
cado pela eficiência, precisão e racionalidade. d. a conduta individual tem base exclusivamente racio-
Considerando a importância do tema da burocracia na nal e é orientada para o interesse de transformação
obra de Weber, é correto afirmar: social, com vistas ao progresso da sociedade e à au-
a. Marx Weber identifica a burocracia com a irracionali- tonomia do indivíduo.
dade, com o processo de despersonalização e com a e. a ação social é uma imposição do indivíduo à socie-
rotina opressiva. A irracionalidade, nesse contexto, é dade, mesmo que esta não aceite e não reconheça a
vista como favorável à liberdade pessoal. intenção que moveu a ação.
b. Segundo Weber, a ocupação de um cargo na estrutura

Ciências Humanas e suas Tecnologias


burocrática é considerada uma atividade com finalidade 13.
objetiva pessoal. Trata-se de uma ocupação que não exi- Leia o texto a seguir.
ge senso de dever e nenhum treinamento profissional.
c. Na burocracia moderna os funcionários são altamen- A respeito dos estudos comparativos, a
te qualificados, treinados em suas áreas específicas, resposta de Weber foi a elaboração de “tipos
enfim, pessoas que têm ou devem ter qualificações ideais”, que constituem um dispositivo genera-
consideradas necessárias para serem designadas lizante, um modelo heurístico, sobre o qual era
para tais funções. possível aplicar a comparação. Nas suas explica-
d. Para Weber, o elemento central da estrutura burocráti- ções históricas comparadas, Weber rejeita sem-
ca é a ausência da hierarquia funcional e a obediência pre a hipótese de leis ou de monocausalidade;
à ordem pessoal e subjetiva. ele pensa, portanto, que um evento pode ter di-
e. A burocratização do capitalismo moderno impede, se- versas causas e que conjuntos diversos de cau-
gundo Weber, a possibilidade de se colocar em prática o sas podem ter o mesmo efeito. A validade das
princípio da especialização das funções administrativas. comparações em Weber provém das suas cons-
truções empíricas dos processos de indução e
10. de introspecção mais do que de uma verificação

301
A dominação baseia-se numa probabilidade de obediên- causal de hipóteses.
cia a um certo mandato. Quais são os três tipos de dominação REBUGHINI, Paola. A comparação qualitativa de objetos complexos e o efeito
legítima na perspectiva de Weber? da reflexividade. In: MELLUCI, Alberto (Org.) Por uma sociologia reflexiva:
pesquisa qualitativa e cultura. Petrópolis: Vozes, 2005. p. 242. Adaptado.
a. Legal, tradicional e carismática
b. Capitalista, socialista e comunista Tendo o fragmento de texto acima como referência inicial,
c. Racional com relação a fins, racional com relação a assinale a opção correta a respeito de “tipos ideais”, segundo
valores e afetiva a formulação proposta por Max Weber.
d. Patriarcal, política e ideológica a. Os “tipos ideais” não são construções empíricas.
b. A causalidade única é a base dos “tipos ideais”.
11. c. A comparação não é essencial para a construção dos
Um dos trabalhos mais conhecidos de Weber é A ética pro- “tipos ideais”.
testante e o espírito do capitalismo. De que trata esta obra? d. Os “tipos ideais” não permitem uma explicação histórica.
e. Os “tipos ideais” são construídos essencialmente a
12. partir da verificação causal de hipóteses.
Ao fazer uso da sociologia de Max Weber, podemos afir-
mar que fenômenos sociais, como, por exemplo, a moda, a 14. UEL-PR
formação do Estado ou o desenvolvimento da economia ca- De acordo com Max Weber, a Sociologia signi-
pitalista, podem ser compreendidos por meio do conceito de fica: “uma ciência que pretende compreender in-
ação social. A ação social não é um simples reflexo, mas uma terpretativamente a ação social e assim explicá-la
atuação de um sujeito histórico movido por determinados in- casualmente em seu curso e em seus efeitos”.
teresses. Tais interesses podem ter uma motivação racional Por ação social entende-se as ações que:
com relação a fins preestabelecidos ou com relação a valo- “quanto ao seu sentido visado pelo agente, se
res. Além disso, os interesses podem vir da influência de tra- refere ao comportamento dos outros, orientan-
dições ou de questões afetivas. do-se por este em seu curso.”
Esta afirmação implica considerar que: WEBER, M. Economia e sociedade. v. 1. Brasília:
EMI-15-20

a. esses fenômenos sociais são determinados pela es- Editora UnB, 2000. p. 3. Adaptado.
trutura econômica vigente em uma dada sociedade e
Com base no texto, assinale a alternativa que condiz com 15.
2

o conceito apresentado. Numa perspectiva weberiana, a burocracia é vista como:


I. Mesmo entre gente humilde, porém, fun- a. uma organização com estrutura hierárquica, que au-
282

cionava o sistema de obrigações recíprocas. O menta o atrito entre os trabalhadores.


nonagentário Nhô Samuel lembrava com sauda- b. um elemento de democratização, já que diante da nor-
de o dia em que o pai, sitiante perto de Tatuí, ma burocrática todos são rigorosamente iguais.
lhe disse que era tempo de irem buscar a novilha c. Um plano de ação para que o administrador não ignore
dada pelo padrinho... Diz que era costume, se os aspectos irracionais da conduta social.
o pai morria, o padrinho ajudar a comadre até d. um método institucionalizado de organizar a conduta
Sociologia

"arranjar a vida". Hoje, diz Nhô Roque, a gente social para superar obstáculos na organização.
paga o batismo e, quando o afilhado cresce, nem
vem dar louvado (pedir a benção). 16. UEL-PR
CANDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito. São Paulo: A questão das classes sociais na Sociologia tem diferentes
Livraria Duas Cidades, 1982. p. 247. formas de explicação. Dentre as explicações clássicas, estão
as de Marx e Weber. Atualmente encontramos estudiosos que
II. O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não analisam a estrutura social brasileira de diferentes maneiras:
tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neuras- I. A classe C é a classe central, abaixo da A
tênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao e B e acima da D e E. [...] a faixa C central está
Ciências Humanas e suas Tecnologias

primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta- compreendida entre os R$ 1.064 e os R$ 4.561
-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estru- a preços de hoje na grande São Paulo. A nos-
tura corretíssima das organizações atléticas. sa classe C está compreendida entre os imedia-
CUNHA, E. da. Os sertões. São Paulo: tamente acima dos 50% mais pobres e os 10%
Círculo do Livro, 1989. p. 95. mais ricos na virada do século. [...] A nossa clas-
se C aufere em média a renda média da socieda-
III. Não há assim por que considerar que as de, ou seja, é classe média no sentido estatístico.
formas anacrônicas e remanescentes do escra- A classe C é a imagem mais próxima da média
vismo, ainda presentes nas relações de trabalho da sociedade brasileira. Dada a desigualdade, a
rural brasileiro, [...], dando com isso origem a renda média brasileira é alta em relação aos es-
relações semifeudais que implicariam uma situa- tratos inferiores da distribuição.
ção de "latifúndios de tipo senhorial a explora­ NERI, M. C.; COUTINHO DE MELO, L. C. (Coord.). Miséria
rem camponeses ainda envolvidos em restrições e a nova classe média na década da igualdade. Rio de
Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2008. p. 34-35. Adaptado.
da servidão da gleba". Isso tudo não tem sentido
na estrutura social brasileira. II. A reorganização do processo de acumu-
PRADO Jr., C. A Revolução Brasileira. lação no Brasil [após os anos de 1990] acarreta
302

São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 106. consequências imediatas nas relações sociais,
no trabalho, no emprego e nas classes sociais
IV. O coronel, antes de ser um líder político, dele resultantes. Assim, podemos concordar
é um líder econômico, não necessariamente, que o operariado industrial perdeu o seu peso
como se diz sempre, o fazendeiro que manda relativo na nossa sociedade [...]. É certo que a
nos seus agregados, empregados ou dependen- classe trabalhadora [...] se multiplicou em dife-
tes. O vínculo não obedece a linhas tão simples, rentes grupos sociais, uns talvez mais atomiza-
que se traduziriam no mero prolongamento do dos ou desorganizados [...]. Também percebe-se
poder privado na ordem pública [...] Ocorre que [...] que houve um processo de financeirização
o coronel não manda porque tem riqueza, mas da classe hegemônica brasileira, que acabou re-
manda porque se lhe reconhece esse poder, num duzindo ainda mais os setores dominantes, so-
pacto não escrito. bretudo entre os banqueiros, as multinacionais e
FAORO, R. Os donos do poder. v. 2. os grupos econômicos, mesclados entre si com
Porto Alegre: Editora Globo, 1973. p. 622. o capital financeiro e o capital internacional.
OLIVEIRA, F. et al. Classes sociais em mudança e a luta pelo socialismo.
Correspondem ao conceito de ação social citado anterior- São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002. p. 27-28. Adaptado.
mente somente as afirmativas:
a. I e IV. Considerando as duas teorias e os dois tipos de análise
b. II e III. dos estudiosos, é correto afirmar que as análises de:
c. II e IV. a. I e II concordam com Max Weber simultaneamente.
d. I, II e III. b. I e II concordam com Karl Marx simultaneamente.
e. II, III e IV. c. II concorda com Max Weber e as de I com Karl Marx.
d. I e II discordam igualmente com Karl Marx e com
Max Weber.
e. II concorda com Karl Marx e I concorda com Max Weber.
EMI-15-20
Módulo 6

2
A importância da Sociologia: desvios e possibilidades

282
Exercícios de Aplicação
01. 02.

Sociologia
A Sociologia surgiu no século XIX, num quadro de profun- Os discursos ou as teorias científicas são desenvolvidos
das mudanças da sociedade ocidental, tornando-se um cam- através de um conjunto de técnicas e de experimentos no in-
po privilegiado de estudo do homem em sociedade. tuito de compreender ou resolver um problema anteriormente
Discorra sobre a importância da Sociologia. apresentado. As Ciências Sociais, por exemplo, possuem en-
tre as suas diferentes missões o objetivo de investigar os pro-
Resolução
blemas sociais que vivenciamos durante o nosso cotidiano.
A Sociologia procura estudar o homem em sociedade. Nesse sentido, o senso comum em relação às teorias socioló-
Nesse sentido, as análises sociológicas envolvem desde gicas pode ser considerado:
questões relativas às condições materiais de vida até o con- a. a popularização e a massificação das descobertas

Ciências Humanas e suas Tecnologias


junto de valores, de elementos culturais, que produzem as científicas após uma ampla divulgação.
teias de relações humanas na vida coletiva. Assim, surgem b. um conhecimento produzido individualmente e que
estudos sobre sociedades agrárias e sociedades industriais, ainda não passou por uma validação científica.
indicando certas especificidades históricas que delineiam as c. um sinônimo da ignorância da população e uma justi-
interações entre os homens em um determinado contexto ficativa para o atraso econômico.
social. d. um conhecimento não científico utilizado como solu-
ção para os problemas cotidianos, geralmente pouco
elaborado e sem um conhecimento profundo.
e. um conhecimento científico popularizado e indissociável
das pesquisas empíricas realizadas pelos sociólogos.
Resolução
O senso comum traz questões importantes que afetam
a vida cotidiana, mas nele existem preconceitos e visões su-
perficiais a respeito da organização social e dos conteúdos
das relações sociais.

303
Alternativa correta: D
EMI-15-20
03. Unioeste-PR Resolução
2

Segundo Zygmunt Bauman, a Sociologia é constituída por Dada a proximidade do sociólogo com o mundo que estu-
da, os termos que utiliza são familiares ao conjunto da socie-
um conjunto considerável de conhecimentos acumulados ao
dade que, muitas vezes, considera sua investigação simples
282

longo da história. Pode-se dizer que a sua identidade se forma


e óbvia, mas a profundidade conferida às categorias de aná-
na distinção com o chamado senso comum. Considerando lise confere uma perspectiva nova a determinadas situações
que a Sociologia estabelece diferenças com o senso comum sociais, garantindo conhecimentos até ali não compreen-
e estabelece uma fronteira entre o pensamento formal e o síveis a muitos. O trabalho do sociólogo, então, permite não
senso comum, é correto afirmar que: apenas a aquisição de novos conhecimentos, mas a possibi-
a. a Sociologia se distingue do senso comum por fazer lidade de disseminá-los, algo que contribui para “o pensar” do
Sociologia

afirmações corroboradas por evidências não verificá- conjunto social sobre as suas práticas.
veis, baseadas em ideias não previstas e não testadas. Pode-se afirmar que a Sociologia é uma forma de conhe-
b. o pensar sociologicamente caracteriza-se pela des- cimento científico que permite a compreensão de certos fe-
crença na ciência e pela pouca fidedignidade de seus nômenos sociais, de certa organicidade do conjunto coletivo,
argumentos. O senso comum, ao contrário, evita expli- de suas interações e dinâmicas, saindo do que se denomina
cações imediatas ao conservar o rigor científico dos senso comum.
fenômenos sociais. a. Incorreta: as evidências devem ser verificáveis para
c. pensar sociologicamente é não ultrapassar o nível de que se possa declarar que uma afirmação seja conhe-
nossas preocupações diárias e expressões cotidia- cimento sociológico.
Ciências Humanas e suas Tecnologias

nas, enquanto o senso comum preocupa-se com a b. Incorreta: a Sociologia se constitui como uma ciência
historicidade dos fenômenos sociais. humana, uma ciência social e, para tanto, vale-se de
d. o pensamento sociológico se distingue do senso co- metodologias e teorias aplicáveis e mesuráveis nas
mum na explicação de alguns eventos e circunstâncias, situações sociais.
ou seja, enquanto o senso comum se preocupa em ana- c. Incorreta: a Sociologia se preocupa com a historicida-
lisar e cruzar diversos conhecimentos, a Sociologia se de dos fenômenos sociais.
preocupa apenas com as visões particulares do mundo.
d. Incorreta: é a Sociologia que se preocupa em analisar
e. um dos papéis centrais desempenhados pela Socio-
e cruzar diversos conhecimentos.
logia é a desnaturalização das concepções ou expli-
cações dos fenômenos sociais, conservando o rigor Alternativa correta: E
original exigido no campo cientifico. Habilidade
Observar a importância de estudar Sociologia, suas con-
tribuições científicas e sociais.
304

Exercícios Extras
04. UEL-PR b. A delimitação da área de atuação do saber científico
No início a ciência quis a morte do mito, como implica a constituição de um lugar próprio para o mito.
a razão quis a supressão do irracional, visto como c. A morte e o extermínio do mito no Ocidente decorrem da
obstáculo a uma verdadeira compreensão do supervalorização e consequente predomínio da razão.
mundo, dando início assim a uma guerra intermi- d. Na modernidade, o pensamento mítico é crucial para a
nável contra o pensamento mítico. Valéry glorifi- compreensão científica do mundo.
cou esta luta destruidora contra as ‘coisas vagas’: e. O pensamento mítico se disseminou porque se pauta
‘Aquilo que deixa de ser, por ser pouco preciso, é em conceitos e categorias.
um mito; basta o rigor do olhar e os golpes múlti-
plos e convergentes das questões e interrogações 05.
categóricas, armas do espírito ativo, para se ver Assinale a alternativa correta. O surgimento da Sociologia
os mitos morrerem’. O mito por sua vez traba- foi propiciado pela necessidade de:
lha duro para se manter e, por meio de suas me- a. manter a interpretação mágica da realidade, como pa-
tamorfoses, está presente em todos os espaços. trimônio de um restrito círculo sacerdotal.
Do mesmo modo, a ciência atual busca menos b. manter uma estrutura de pensamento mítica para a
sua erradicação que seu confinamento. Quando aplicação do mundo.
a ciência traça seus próprios limites, ela reserva c. condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e
ao mito – e ao sonho – o lugar que lhe é próprio. pensar conforme os ensinamentos transmitidos pelos
BALANDIER, Georges. A desordem: elogio do movimento. deuses.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p.17. d. considerar os fenômenos sociais como propriedade
exclusiva de forças transcendentais.
Com base no texto, é correto afirmar: e. observar, medir e comprovar as regras que tornassem
EMI-15-20

a. Pelo fato de ser destituído de significado social, o mito possível, através da razão, prever e controlar os fenô-
está ausente dos espaços sociais contemporâneos. menos sociais.
Seu espaço

2
• Sobre o módulo Os 12 trabalhos de Asterix. França, 1976. Dirigido por

282
Situar a Sociologia no campo das ciências humanas, indi- René Goscinny, Albert Uderzo e Pierre Watrin.
cando a sua importância no sentido de desenvolver análises A animação faz um paralelo com os 12 Trabalhos de Hér-
mais profundas sobre o funcionamento, organização e dinâ- cules, durante a ocupação romana na Gália, no governo de
mica das sociedades, algo que escapa ao senso comum, mas Julio César. Traz cenas que satirizam a burocracia.
tem seu ponto de partida em certas questões apresentadas • Na web

Sociologia
por ele. Nesse sentido, é fundamental a diferenciação entre A sociedade capitalista e a mobilidade social. Apresen-
senso comum e análise sociológica. tação em Prezi.
Mostrar que o estudo sociológico é diferente por permitir,
dependendo da perspectiva teórica, a construção de explicações Disponível em: <http://prezi.com/aawbcvc99xlr/
diferenciadas, mas que, nem por isso perdem seu valor científico. hierarquizacao-e-mobilidade/>.
• Cinemateca
O enigma de Kaspar Hauser. Alemanha, 1974. Dirigido Download gratuito de livros de Sociologia.
por Werner Herzog. 110 min. Disponível em: <http://oficinasociologica.
O filme é baseado em fato real ocorrido na Alemanha de blogspot.com.br/2012/03/downloads-

Ciências Humanas e suas Tecnologias


1820. Kaspar Hauser, um adolescente, aparece em uma ci- de-livros-de-sociologia.html>.
dade, após ter vivido desde o nascimento em um porão, sem Sociologia: Marx, Weber e Durkheim.
qualquer contato humano. É acolhido na casa de um profes-
sor, que inicia a sua socialização. Disponível em: <https://www.youtube.com/
Laranja mecânica. Reino Unido, Estados Unidos, 1972. watch?v=WJ1TMI2Apns>. Acesso em: 15 ago. 2014.
Dirigido por Stanley Kubrick. 136 min.
O líder de uma gangue é preso e tem a opção de participar • Estante
de um programa para reduzir sua pena, sendo cobaia de ex- ATHAYDE, Celso; MEIRELLES, Renato. Um país chamado
perimentos que pretendem refrear os impulsos violentos do favela. São Paulo: Gente, 2014.
ser humano. Nesse drama, o diretor Kubrick faz uma crítica QUINTANERO, Tania. Um toque de clássicos: Durkheim,
contundente à burocracia. Junto de 1984, de George Orwell, e Marx e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
Admirável Mundo Novo, de Huxley, Laranja Mecânica é consi- WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: UnB, 2009. V. 2.
derado um dos ícones da alienação pós-industrial.

305
Exercícios Propostos

Da teoria, leia o tópico 3 Relacione as considerações do texto sobre os séculos


Exercícios de tarefa reforço aprofundamento XVIII, XIX e XX com o surgimento e desenvolvimento da so-
ciologia.

06. Unicentro-PR 07. UFU-MG modificado


Considerando-se as grandes mudanças que Sobre o surgimento da Sociologia, considere as afirma-
ocorreram na história da humanidade, aquelas ções abaixo, assinalando V para a(s) verdadeira(s) e F para
que aconteceram no século XVIII — e que se a(s) falsa(s), se houver.
estenderam no século XIX — só foram supera- ( ) A consolidação do sistema capitalista na Europa no
das pelas grandes transformações do final do século XIX forneceu os elementos que serviram de
século XX. As mudanças provocadas pela revo- base para o surgimento da Sociologia enquanto ciên-
lução científico-tecnológica, que denominamos cia particular.
Revolução Industrial, marcaram profundamente ( ) O homem passou a ser visto, do ponto de vista socio-
a organização social, alterando-a por completo, lógico, a partir de sua inserção na sociedade e nos
criando novas formas de organização e causan- grupos sociais que a constituem.
do modificações culturais duradouras, que per- ( ) Aquilo que a Sociologia estuda constitui-se historica-
duram até os dias atuais. mente como o conjunto de relacionamentos que os
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São homens estabelecem entre si na vida em sociedade.
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. ( ) Interessa para a Sociologia não indivíduos isolados,
mas inter-relacionados com os diferentes grupos so-
EMI-15-20

ciais dos quais fazem parte, como a escola, a família,


as classes sociais e etc.
08. emergência da Sociologia, considere as afirmativas a seguir,
2

Leia o texto a seguir. assinalando V para a(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s):
( ) A Sociologia tem como principal referência a explica-
282

A Sociologia é uma disciplina com grandes ção teológica sobre os problemas sociais decorren-
implicações práticas. Pode contribuir de várias tes da industrialização, tais como a pobreza, a desi-
formas para a crítica social e para a aplicação gualdade social e a concentração populacional nos
de reformas sociais. Para começar, uma melhor centros urbanos.
compreensão de um determinado conjunto de ( ) A Sociologia é produto da Revolução Industrial, sen-
circunstâncias sociais oferece-nos muitas vezes do chamada de “ciência da crise”, por refletir sobre a
Sociologia

a possibilidade de o controlar. Ao mesmo tempo, transformação de formas tradicionais de existência


a Sociologia fornece os meios para melhorarmos social e as mudanças decorrentes da urbanização e
a nossa sensibilidade cultural, criando condições da industrialização.
para que as políticas se baseiem numa consciên- ( ) A emergência da Sociologia só pode ser compreendi-
cia de valores culturais diferentes. Em termos da se for observada sua correspondência com o cien-
práticos, podemos investigar as consequências tificismo europeu e com a crença no poder da razão
da adoção de determinadas linhas de orientação e da observação, enquanto recursos de produção do
política. Por último, e talvez o mais importante, a conhecimento.
Sociologia permite autoconhecimento, oferecen- ( ) A Sociologia surge como uma tentativa de romper
Ciências Humanas e suas Tecnologias

do aos grupos e aos indivíduos mais oportunida- com as técnicas e métodos das ciências naturais, na
des para alterar as condições em que decorrem as análise dos problemas sociais decorrentes das remi-
suas próprias vidas. niscências do modo de produção feudal.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2008. p. 18. 11.
A partir do século XIX, o ideal científico no campo da So-
De acordo com o texto, identifique ao menos três implica- ciologia consistiu na formulação de teorias sobre o homem
ções práticas atribuídas à Sociologia. e a sociedade. Acerca do pensamento científico sociológico,
assinale a alternativa correta.
09. Unioeste-PR modificado a. Os principais métodos nas ciências sociais em geral
Os discursos ou as teorias científicas são desenvolvi- e na Sociologia em particular excluem a observação
dos através de um conjunto de técnicas e de experimentos sistemática de ambientes sociais, uma vez que os
no intuito de compreender ou resolver um problema ante- processos de interação entre os homens e os homens
riormente apresentado. As Ciências Sociais, por exemplo, e o meio sociocultural são não observáveis.
possuem entre as suas diferentes missões o objetivo de b. A pesquisa sociológica e a realizada nas demais áreas
investigar os problemas sociais que vivenciamos durante o das Ciências Sociais independem da formulação de
306

nosso cotidiano. generalizações, uma vez que as relações entre os ho-


Levando o exposto em consideração, qual das respostas mens e os homens e o meio sociocultural pautam-se
abaixo é a correta considerando o senso comum? pelas particularidades.
a. O senso comum corresponde à popularização e à mas- c. As ideias científicas diferem do senso comum e de ou-
sificação das descobertas científicas após uma ampla tras formas de conhecimento, pois devem ser avalia-
divulgação. das à luz de evidências sistematicamente coletadas e
b. O senso comum corresponde aos conhecimentos pro- do escrutínio público.
duzidos individualmente e que ainda não passaram d. O pensamento científico na Sociologia deve estar
por uma validação científica. comprometido com a ideia de que as teorias são
c. O senso comum pode ser considerado um sinônimo temporariamente verdadeiras e que as questões
da ignorância da população e uma justificativa para o nunca estão resolvidas por completo; nesse senti-
atraso econômico. do, o pensamento científico sociológico se iguala ao
d. O senso comum corresponde a um conhecimento não senso comum.
científico utilizado como solução para os problemas
cotidianos, geralmente ele é pouco elaborado e sem 12.
um conhecimento profundo. O trabalho do sociólogo opera principalmente na cons-
e. O senso comum e o conhecimento científico corres- tituição de consciências sociais, vai além das fachadas das
pondem a duas formas de entendimento excludentes convenções e procura, no edifício social, as estruturas, as
e possuidoras de fronteiras intransponíveis. funções, as arquiteturas que estabelecem certos padrões de
sociabilidade. E isso envolve a compreensão das linhas de
10. UEL-PR modificado força, dos comandos, das instituições, dos valores constituí-
A Sociologia é uma ciência moderna que surge e se de- dos no interior da sociedade. É essa operação cognitiva que
senvolve juntamente com o avanço do capitalismo. Nesse permite a construção de determinadas consciências a respei-
sentido, reflete suas principais transformações e procura to de elementos que existam, mas que não sejam imediata-
desvendar os dilemas sociais por ele produzidos. Sobre a mente vistos e compreendidos pelo conjunto social.
EMI-15-20
No que diz respeito às relações entre Sociologia e mudan- mentação, da geografia e da reprodução sexual.

2
ças sociais, pode-se dizer que: Quem duvidará disso, se vemos que os africanos
a. a Sociologia é uma ciência que visa apreender cada são negros, os asiáticos são amarelos de olhos

282
sociedade em um dado momento, sem poder expli- puxados, os índios são vermelhos e os euro-
car suas transformações, que são objeto da Histó- peus, brancos? Se formos religiosos, saberemos
ria. que os negros descendem de Caim, marcado
b. a Sociologia só e capaz de explicar as transformações por Deus, e de Cam, o filho desobediente de
derivadas das lutas entre as classes. Noé. Certezas como essas formam nossa vida e
c. os estudos aos quais a Sociologia se dedica funda- o senso comum de nossa sociedade, transmitido

Sociologia
mentam-se no princípio de que mudanças e trans- de geração a geração, e, muitas vezes, transfor-
formações só podem ocorrer quando os vários seg- mando-se em crenças religiosas, em doutrina
mentos ou estratos de uma sociedade se unem para inquestionável.
promover ou viabilizar tais mudanças. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 6. ed. São Paulo: Ática, 1995.
d. a questão das mudanças sociais é um tema que se
tornou objeto de reflexão sociológica a partir do que Sobre as relações entre o senso comum e conhecimento
se convencionou chamar “era pós-industrial” e globa- sociológico, identifique com V as afirmativas verdadeiras e
lização. com F, as falsas.
e. a Sociologia busca captar os fenômenos produzidos ( ) O saber sociológico possui disciplina, regras de ve-

Ciências Humanas e suas Tecnologias


pelas ações de atores sociais que visam defender rificação e um quadro de referências com limites
seus interesses e os fatos associados às reações e rigorosos, que funcionam como uma moldura que o
resistências àquelas ações. diferencia da compreensão que o senso comum tem
do mesmo mundo.
13. UEM-PR modificado ( ) O conhecimento do senso comum é acumulado
Todos nós sabemos da existência de um certo tipo de pelos homens, de forma empírica e teórica por-
“organização social” entre animais não humanos, não ape- que se baseia na experiência cotidiana e na ex-
nas entre mamíferos superiores, tais como os macacos, por periência científica, o que pressupõe uma postu-
exemplo, mas também insetos: formigas, cupins e abelhas, ra crítica.
notadamente. [...] ( ) O pensar sociológico se assemelha ao senso comum,
Quando comparamos as “sociedades” animais não hu- pois são autoevidentes, isto é, não questionam seus
manas, particularmente a sociedade daqueles insetos, o preceitos e não precisam de confirmação prática.
fazemos porque constatamos que o comportamento de tais ( ) O senso comum ou o conhecimento espontâneo é
animais apresenta certas padronizações parecidas com algu- rico, embora desordenado e não sistemático, geral-
mas padronizações verificadas entre os seres humanos. mente desarticulado e inefável.
VILA NOVA, Sebastião. Introdução à Sociologia. A alternativa que contém a sequência correta, de cima

307
São Paulo: Atlas, 1985. p. 29. para baixo, é a:
a. V – V – V – F.
Considerando o que diz o texto mostrado, assinale o que b. F – V – V – V.
for correto. c. F – V – F – V.
a. Segundo o autor, não há diferença entre o estudo das d. V – F – F – V.
sociedades humanas feito pela Sociologia e o das so- e. V – F – F – F.
ciedades de insetos feito pela Entomologia.
b. De acordo com o texto, homens e animais são padro- 15.
nizados unicamente devido ao peso da herança ge- Charles Wright Mills, sociólogo americano, em seu livro A
nética em todos os tipos de sociedades. imaginação sociológica (1959), propõe uma ciência crítica
c. Podemos concluir do texto que são os fatores do meio frente às questões públicas, uma qualidade intelectual her-
ambiente exclusivamente que levam à padronização dada dos fundadores da Sociologia, que consiste em “sentir
dos comportamentos dos animais e dos seres huma- o jogo que se processa entre os homens e a sociedade, a bio-
nos. grafia e a história, o eu e o mundo”.
d. Segundo o autor, se não fosse a descoberta das leis Com base nessas informações, redija um pequeno texto
de padronização das sociedades de animais, os so- apresentando a importância da Sociologia para a compreen-
ciólogos não teriam se interessado pelas leis de pa- são mais profunda da sociedade.
dronização existentes nas sociedades humanas.
e. Podemos deduzir do texto que tanto os pesquisadores 16. Unesp
dos animais quanto os sociólogos se preocupam com Encontrar explicações convincentes para
as ações regulares produzidas pela vida em sociedade. a origem e a evolução da vida sempre foi uma
obsessão para os cientistas. A competição cons-
14. Unicentro-PR tante, embora muitas vezes silenciosa, entre os
A raça é uma realidade natural ou biológi- indivíduos teria preservado as melhores linha-
ca produzida pela diferença dos climas, da ali- gens, afirmava Charles Darwin. Assim, um ser
EMI-15-20
vivo com uma mutação favorável para a sobrevi- Embora divergentes no que se refere aos fatores que ex-
2

vência da espécie teria mais chances de sobrevi- plicam a evolução da espécie humana, ambas as teorias, de
ver e espalhar essa característica para as futuras Darwin e de Wilson, apresentam como ponto comum a con-
282

gerações. Ao fim, sobreviveriam os mais fortes, cepção de que:


como interpretou o filósofo Herbert Spencer. a. influências religiosas e metafísicas são o principal veí-
Um século e meio depois, um biólogo americano culo no processo evolutivo humano ao longo do tempo.
agita a comunidade científica internacional ao b. são os condicionamentos psicológicos que influen-
ousar complementar a teoria da seleção darwi- ciam de maneira decisiva o progresso na história.
nista. Segundo Edward Wilson, da Universidade c. a sobrevivência da espécie humana ao longo da his-
Sociologia

de Harvard, o processo evolutivo é mais bem- tória é explicada pela primazia de fatores de natureza
sucedido em sociedades nas quais os indivíduos evolutiva.
colaboram uns com os outros para um objetivo d. os fatores econômicos e materiais são os principais
comum. Assim, grupos de pessoas, empresas e responsáveis pelas transformações históricas.
até países que agem pensando em benefício dos e. os fatores intelectuais são os principais responsáveis
outros e de forma coletiva alcançam mais suces- pelo sucesso dos homens em dominar a natureza.
so, segundo o americano.
Rachel Costa. O poder da generosidade. IstoÉ, 11 maio 2012. Adaptado.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
308

EMI-15-20

Você também pode gostar