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ESTADO DE SANTA CATARINA

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO


COORDENADORIA REGIONAL DE FLORIANÓPOLIS
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA CÔNEGO RODOLFO MACHADO

CORREÇÃO DA AVALIAÇÃO DE FILOSOFIA

1: (UEL) “Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental
perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da
tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.”
(OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia.Campinas: Papirus, 2000. p. 24.)
Analisemos primeiramente o enunciado da questão: Aqui faz-se uma descrição bem sucinta da guinada[ou mudança repentina/radical] de atitude dos
primeiros filósofos da história em relação ás óticas [ou pontos de vista, visões e interpretações acerca do mundo] que deixaram de ser endossadas acriticamente
[ou se preferir: deixaram de se acreditar cegamente, sem nenhum tipo de análise crítica] por força das tradições e imposições religiosas. E que essa atitude,
segundo o autor desse texto, é fundamental que levemos em consideração para estudá-los.

Assinale a alternativa que apresenta a “guinada de atitude” [ou seja, que atitude que eles passaram a tomar depois dessa “guinada”] que o texto
afirma ter sido promovida pelos primeiros filósofos.

( ) A: a aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais. Esta alternativa nos pega no erro
de interpretação, pois a “aceitação acrítica” é o que havia ANTES da guinada, portanto não pode estar certa. A guinada representa justamente o oposto do que a
alternativa descreve.

(X) B: a discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas. Está certa, pois não aceitar
acriticamente algo, é justamente discutir e fazer críticas sobre a ideia ou crença que se tenta impor. E por consequência lógica, as ideias que os filósofos
porventura formulem para descrever e explicar a natureza, não poderiam estar imune a críticas.

( ) C: a busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela religião. Esta é o caso
da alternativa que, forçando a barra, até poderia estar certa se tirada do contexto, pois é fato que os primeiros filósofos da história, chamados de pré-socráticos -
por anteceder a Sócrates no foco de investigação – ou mesmo filósofos da natureza, em sua maioria buscavam saber qual era a verdade única e imutável por trás
dos fenômenos. Eis que Pitágoras entendia que as proporções matemáticas seriam a base racional da natureza, Tales de Mileto entendia ser a água a origem de
tudo, Heráclito de Éfeso que seria o fogo, e outros exemplos. Porém, há dois erros básicos aqui: Não houve uma ruptura de tal sorte que esses filósofos
abandonassem totalmente a religião. Ainda se acreditava nos deuses e que estes teriam criado a natureza. Segundo - e é aí que pecamos quando não prestamos
atenção no enunciado – a característica marcante dos filósofos citada não é esta que aparece na alternativa. Portanto, até pode-se considerar que esta é a
segunda mais próxima, mas ainda não está correta.

( ) D: confiança na tradição e na “imposição religiosa” como fundamentos para o conhecimento. Assinalando esta alternativa,
incorre-se no mesmo erro de quem assinala a alternativa “A”: Confundir o que havia ANTES com o que veio DEPOIS da referida guinada.

( ) E: A desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de óticas” conflitantes entre si. O erro aqui seria
também de interpretação. Um tanto diferente mas ainda de interpretação. A “proliferação de óticas” no enunciado se refere às várias visões de mundo e crenças
impostas por força de religião e tradição que foram desconstruídas ao longo das análises críticas feitas pelos filósofos. Houve uma corrente filosófica do período
Helenístico, portanto posterior ao pré-socrático, chamada de Ceticismo, que de fato punha em xeque a capacidade da razão frente a tantas ideias contraditórias e
sem saber distinguir qual delas está certa. Porém, claramente o enunciado da questão não se refere a isso.

2. Atente para a seguinte passagem, que trata do alvorecer da filosofia: “A derrocada [a queda, falência ou colapso] do sistema
micênico [sistema político que, grosso modo, seria uma mistura de monarquia com feudalismo. Há também o caráter místico que associa sempre as famílias
que detinham o poder com uma herança divina] ultrapassa, largamente, em suas consequências, o domínio da história política e social. Ela
repercute no próprio homem grego; modifica seu universo espiritual, transforma algumas de suas atitudes psicológicas. A Grécia
se reconhece numa certa forma de vida social, num tipo de reflexão que definem a seus próprios olhos sua originalidade, sua
superioridade sobre o mundo bárbaro: no lugar do Rei cuja onipotência se exerce sem controle, sem limite, no recesso de seu
palácio, a vida política grega pretende ser o objeto de um debate público, em plena luz do Sol, na Ágora [semelhante a uma praça
pública onde há um auditório, onde por sua vez acontecem as assembleias e debates políticos. Uma marca bem característica de um sistema democrático] , da
parte de cidadãos definidos como iguais e de quem o Estado é a questão comum; no lugar das antigas cosmogonias associadas a
rituais reais e a mitos de soberania, um pensamento novo procura estabelecer a ordem do mundo em relações de simetria, de
equilíbrio, de igualdade entre os diversos elementos que compõem o cosmos”. [Em suma, o enunciado está dizendo que a queda do sistema
micênico não transformou somente a política, mas também o homem, e de uma maneira muito profunda, inclinando-o à democracia, ao debate, ao pensamento
crítico, destacando-se frente à outros povos, denominados “bárbaros”].

VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996, p.6/adaptado.

Com base na passagem acima, é correto afirmar que

( ) A: a filosofia decorre fundamentalmente de um longo processo de evolução dos mitos antigos, não havendo relação direta
entre seu desenvolvimento e o processo social e político dos povos que deram origem à civilização grega. Totalmente
contrária ao que diz o enunciado, pois é justamente o processo social e político que proporcionou o terreno fértil para o florescimento da filosofia.
Alternativa errada, portanto
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( ) B: o poder despótico, característico dos povos da antiguidade, consolidou de forma gradual e constante o surgimento de
movimentos sociais de contestação na Grécia antiga, o que foi fundamental para o surgimento da razão filosófica, no
período clássico. Esta alternativa, isoladamente pode até ter um fundo de verdade, se levarmos em consideração que, de modo geral,
toda transformação política passa em alguma medida por movimentos sociais de contestação. Porém, de acordo com o enunciado,
não é o caso aqui, pois na verdade foram as transformações no sistema político já consolidadas que moldaram o cidadão grego a
deixá-lo propenso ao filosofar. Ou seja, foi depois e não durante o processo de mudança no sistema político que surgiu a
filosofia.Alternativa errada, portanto.

(X) C: a mudança de pensamento do povo grego e a originalidade de sua reflexão sobre o cosmo se relacionam às
transformações da vida política grega, na qual o debate público por parte de cidadãos iguais substituiu a onipotência do
poder real ancorada em mitos de soberania. Correta. É exatamente o que diz o enunciado em relação ao surgimento da filosofia.
Ou seja, mudou-se o sistema político, depois a rotina dos cidadãos, onde houve maior abertura para o debate público, em que a
habilidade da argumentação e da oratória, qualidades essas fundamentais para a filosofia tornam-se necessárias para a cidadania.

( ) D: não há diferenças significativas entre os sistema de organização social dos povos que viveram na Grécia micênica e os
processos sociais que vigoraram nos períodos subsequentes, seja no período homérico, seja nos períodos arcaico e
período clássico. Esta está claramente errada, pois nem faria muito sentido categorizar por nomes diferentes esses períodos se eles
não tivessem diferenças entre si. Esta questão se eliminaria somente pela lógica.

3: “É no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência
social só pôde tornar-se entre os gregos objetos de uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de
argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem humana, procuraram
defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida.” A lógica
deste enunciado é praticamente a mesma da questão anterior. Defende a ideia de que na vida pública, a rotina da cidade, dos debates e do
embate de ideias e visões de mundo, trilhou o caminho para a chegada da filosofia.
VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1989, p. 94.

Com base nessa citação, é correto afirmar que a filosofia nasce.

( ) A: após o declínio das ideias mitológicas, não havendo nenhuma linha de continuidade entre estas últimas e as novas
ciências gregas. Já é possível desconfiar logo de cara quando aparece a palavra “descontinuidade”, mesmo por princípio, pois na história da
humanidade, os eventos não acontecem isoladamente. Há sempre uma linha de continuidade. Segundo e ainda mais importante, como já é
sabido, não houve, nem de longe, uma ruptura absoluta entre os filósofos e a crença religiosa, mesmo porque, a filosofia em sua origem é uma
tentativa de aproximação do conhecimento divino.Houve sim um abandono da crença cega nos mitos e superstições, onde a religião

( ) B: das representações religiosas míticas que se transpõem nas novas representações cosmológicas jônicas. Esta
alternativa, intuitivamente, já é possível suspeitar a quando menciona as “representações cosmológicas jônicas”. Primeiro porque o enunciado
não as menciona em nenhum momento, e isso por si só já seria um sinal de alerta. Segundo, que se entendermos que representações
cosmológicas são interpretações e narrativas sobre a origem do cosmos – que é em suma, o universo ordenado e harmônico – vindas do povo
Jônico - que por sua vez é um dos povos que formou a antiga Grécia como a conhecemos – já é outro motivo para descartar a alternativa, pois
não é de nenhuma representação cosmológica que nasce a filosofia, e sim do que já foi mencionado na explicação da alternativa anterior.

( ) C: da experiência do espanto, a maravilha com um mundo ordenado e, portanto, belo. Esta é uma alternativa tentadora
de assinalar, pois sim, é uma das indagações dos primeiros filósofos e até dos seus predecessores. Isoladamente, esta frase não está errada, mas
não está de acordo com o enunciado, infelizmente.

(X) D: da experiência política grega de debate, argumentação e contra-argumentação, que põe em crise as representações
míticas. Esta alternativa resume muito bem o enunciado, enfatizando que o pensamento crítico pôs em cheque as representações míticas como
explicação para os fenômenos da natureza.

4: “A solidariedade que constatamos entre o nascimento do filósofo e o aparecimento do cidadão não é para nos
surpreender. Na verdade, a cidade realiza no plano das formas sociais esta separação da natureza e da sociedade que pressupõe, no
plano das formas mentais, o exercício de um pensamento racional. Com a Cidade, a ordem política destacou da organização
cósmica; aparece como uma instituição humana que é o objeto de uma indagação inquieta, de uma discussão apaixonada. Nesse
debate, que não é somente teórico, mas no qual se afronta a violência de grupos inimigos, a filosofia nascente intervém com plena
competência.” O enunciado desta questão segue uma linha semelhante aos das questões anteriores, acrescentando agora que a vida política
provocou uma distinção sobre o que é natureza do que é sociedade.Sendo a sociedade dotada de razão e a natureza desprovida dela.Muito
semelhante à distinção que se faz do ser humano para as outras espécies. Ou seja, além das preocupações em relação às explicações para os
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fenômenos naturais, surge uma preocupação também em se estudar o convívio nas cidades, com discussões de cunho ético, por exemplo.
Perguntas como “qual seria o melhor sistema para organização de uma cidade?” ou “como deve se portar um bom cidadão” passaram a fazer
parte do cotidiano. Por consequência, tendo em vista a multiplicidade de ideias e pontos de vista, além dos conflitos de interesses, surgem os
confrontos acalorados e por vezes até mesmo violentos.

VERNANT, Jean-Pierre. As origens da filosofia. In: Mito e


pensamento entre os gregos. Tradução de Haiganuch
Sarian. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 365.

Segundo essa célebre passagem, Jean-Pierre Vernant considera que o surgimento da Filosofia se deve

(X) A: à emergência de um pensamento racional, próprio à separação entre natureza e sociedade humana e, nesta, aos
debates da Cidade grega. Compreendendo bem o enunciado, conclui-se que esta alternativa resume o resume fielmente. A separação entre
natureza e sociedade é o que mais define a questão.

( ) B: à separação entre os homens e a Cidade grega, devido à violência dos debates políticos, o que levou o filósofo a
retirar-se da Cidade. Esta alternativa nos pega pela má interpretação e pela leitura descuidada. Após uma leitura desatenta do enunciado, ao
ler esta alternativa e identificar o trecho que menciona “violência dos debates políticos”, corre-se o risco de assinalar por uma mera
associação de uma frase fora de contexto.

( ) C: à identidade entre a Cidade e a natureza, que fez os homens saberem-se parte dela e, portanto, a debaterem na
Cidade sobre a organização do cosmo. Só o que resta de verdade aqui é a parte do “a debaterem na cidade”. O resto está totalmente
contrário do enunciado.Ou seja, não se debatia sobre o cosmo (ao menos não era nem de longe o foco principal), e muito menos se afirmava a
identidade entre natureza e cidade.

( ) D: ao abandono da prática dos discursos e dos argumentos, o que levou a filosofia a ser a única atividade discursiva
argumentativa na Cidade grega. Esta alternativa também nos pega pela leitura desatenta do enunciado, que afirma que a filosofia, de certa
maneira, pegou carona com a atividade argumentativa na cidade grega, e não como uma maneira de preencher uma suposta falta desta
atividade.

5: Qual o significado etimológico (originário) da palavra Filosofia? A qual pensador é atribuída a criação deste termo e
qual é a razão de tê-lo criado desta maneira?

A origem da palavra filosofia é grega, que é a união de dois vocábulos, sendo Philo=amor/amizade, e Sophia=sabedoria. Portanto,
Amor à Sabedoria. Quem teria criado este termo seria o filósofo e Matemático Pitágoras. Ele formulou desta maneira partindo do pressuposto
de que somente os deuses são os detentores da sabedoria plena e absoluta, cabendo aos seres humanos, na medida do possível, amar essa
sabedoria e chegar o mais próximo possível, aproximando-se e assemelhando-se às divindades. Amar à sabedoria seria o mesmo que amar aos
deuses.

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