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Intensivo Revisão

Filosofia Geral
01. b Os textos I e II analisam os efeitos nocivos de uma prática política marcada pela ausência de
pensamento. Referindo-se a tendências totalitárias, os textos destacam a natureza irracio-
nalista e as causas psicológicas de uma mentalidade política que impulsiona determinadas
práticas, mas que é incapaz de refletir sobre suas próprias atividades.
02. a Os textos apresentam a importância da linguagem na construção social da consciência individual
e/ou coletiva.
03. d No texto, André Comte-Sponville apresenta um clássico argumento a favor da existência de
Deus, que infere a existência de uma inteligência criadora com base na suposta ordem e
harmonia do Universo, apreendida através de leis naturais. Num segundo momento, contu-
do, o autor questiona o argumento apresentado, uma vez que a mesma ordem e harmonia
pressuposta pode ser questionada pela existência dos males naturais (terremotos, furacões,
secas, doenças, etc.) e dos males humanos (como no caso do Holocausto), inconcebíveis
como criações de um Deus perfeito, inteligente e sumamente bom. Vale destacar que o
problema da existência do mal concomitante à de um Deus bom é também um tema clás-
sico da filosofia cristã.
04. c O entrevistado trata da prática da corrupção e sua motivação, defendendo que ela pode
ser uma escolha racional, baseada em uma ponderação dos custos e benefícios dos
comportamentos corruptos e desonestos – o que indica o teor pragmático das escolhas
do agente. Ele também aborda o equívoco jurídico de se punir apenas os indivíduos,
como se a corrupção se tratasse exclusivamente de desvios de conduta particulares e
não de um modelo de negócio empresarial em que se busca a majoração do lucro (critério
novamente pragmático).
05. b O argumento apresentado no texto (defesa da liberdade de expressão) está intimamente ligado
aos ideais pleiteados pela burguesia revolucionária e pelos pensadores liberais. O surgi-
mento do Estado burguês (mediante processos revolucionários) transformou o súdito em
cidadão e garantiu certos direitos, como a liberdade de expressão.
06. e O texto discute um dos impactos bioéticos que uma possível (e não improvável) realidade fu-
tura, marcada pela presença das biotecnologias, pode provocar, a saber, a necessária discussão
e redefinição do conceito de humanidade, já que tais tecnologias permitirão uma imbricação
íntima de formas artificiais e instrumentais na vida humana.
07. Pode-se notar que, enquanto o texto I vê o pensamento politicamente correto como um pro-
blema de segregação de grupos ou minorias, o texto II o vê como uma solução. Para Pereira
Coutinho, o problema do pensamento politicamente correto, materializado no guia interno da
Universidade Livre de Berlim com o objetivo de integração de alunos de famílias proletárias, con-
siste no fato de esse pensamento manter estigmas sociais, além de servir como obstáculo
à obtenção de conhecimento e ascensão social.
Por outro lado, o texto II, de Marta Scherre, ao denunciar o preconceito linguístico como as-
sociado a um “comportamento de superioridade dos grupos [...] mais privilegiados”, coloca
implicitamente o pensamento politicamente correto como uma forma de combate a esse tipo
de “apartheid social”.
08. Segundo o texto II, a aptidão musical de certos indivíduos estaria associada ao tamanho do lobo
temporal, região do córtex cerebral onde são processados os sinais sonoros. A aptidão musical
pode ser inata, isto é, pode estar presente em alguns indivíduos desde o nascimento por sua
constituição física.

1 FILOSOFIA
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No texto I, defende-se que as capacidades morais e intelectuais dos indivíduos são certas
predisposições que o espírito encarnado traria consigo antes mesmo do nascimento e, sendo
próprias do espírito, essas capacidades não estariam sujeitas a qualquer determinismo bio-
lógico. Desse modo, as predisposições intelectuais e morais seriam inatas aos homens, mas
não no sentido de serem concomitantes ao nascimento (como no texto II), e sim como algo
metafísico, que é próprio do espírito antes mesmo de ele encarnar.
09. O objetivo de Montaigne, claramente expresso no final do excerto, é mostrar que o critério para
os julgamentos morais não pode consistir nos padrões de comportamento de uma dada cultura
ou sociedade. Apesar disso, Montaigne considera que tais julgamentos podem ter uma base
objetiva, sob a condição de se basearem na razão.

Filosofia Antiga
10. c O texto apresenta a crítica de Sócrates ao ensinamento sofístico, que se baseava no desen-
volvimento de técnicas e habilidades retóricas de convencimento. Ocorre que a presença
marcante desse saber persuasivo impactava, segundo Sócrates, de maneira negativa nas
decisões políticas da pólis (cidade-estado), na medida em que prevalecia não o conhecimento
verdadeiro sobre o assunto debatido, mas a opinião, muitas vezes parcial e precária, mais
convincente.
11. c Os textos apontam para uma mudança significativa nos rumos do pensamento filosófico
grego quando este deixou de se ocupar, privilegiadamente, dos princípios, das características
e da ordem que constituem a formação do real (da physis) e do universo (kosmos) para se
debruçar sobre as preocupações de ordem humana, como os valores morais, a política e
o conhecimento.
Essa transição teve como um dos principais expoentes o filósofo Sócrates, que introduziu as
preocupações sobre o pensamento, o discurso e a ação humana a partir de uma perspectiva
analítica, crítica e questionadora.
12. c O pensamento pré-socrático é marcado pela discussão em torno do fundamento do ser
(ontologia). Desse modo, a realidade é, para Heráclito (texto I), caracterizada pela cons-
tante mudança, representada pela metáfora do rio. Contrariamente, Parmênides (texto II)
sustenta que o ser (ou a realidade) não se modifica, pois vê na unidade do ser um índice
de sua verdade.
13. a O método socrático, também conhecido como maiêutica socrática, consistia em inquirir o
interlocutor de modo a mostrar a inconsistência do seu pensamento, levando-o, por meio
do diálogo, à contradição de sua tese inicial, momento em que o interlocutor entraria em
aporia, isto é, ele se veria num impasse insolúvel entre duas teses contraditórias, sem saber
qual delas escolher. A maiêutica visaria, portanto, mostrar ao interlocutor sua ignorância, até
então desconhecida por ele. A ideia é que, com a destruição da falsa certeza, do falso saber,
seria aberto o caminho para a busca de um conhecimento verdadeiro.
14. d No primeiro excerto, afirma-se que Anaxímenes de Mileto dava ao ar a condição de elemen-
to do qual todas as coisas teriam surgido. No segundo excerto, contrapondo-se aos filósofos
da Antiguidade, o autor afirma que Basílio Magno atribuía a causa de todas as coisas a Deus.
Assim, em ambos os textos, o ponto em comum é a busca por uma origem (ou princípio
originário) do universo.
15. c Segundo o texto de Nietzsche, a filosofia pré-socrática tinha por característica buscar com-
preender a origem (ou causa primeira) das coisas existentes sem recorrer a fabulações,
isto é, de modo racional (ao contrário das explicações mitológicas presentes na época)
e conceber a Natureza como um todo ordenado que, por esse mesmo motivo, podia ser
compreendido pela razão.

2 FILOSOFIA
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16. Sócrates (o réu), ao ser julgado, utiliza-se da ironia (característica de seu método filosófico) para
responder às acusações, aceitando-as no intuito de manter a coerência com o que ensinava
como filósofo. Assim, segundo o texto, Sócrates foi condenado por se recusar a apresentar uma
defesa que realmente garantisse sua absolvição, mantendo-se fiel à sua filosofia.
17. Os tipos de conhecimento diferenciados no texto são o científico e o mitológico. O conhecimen-
to científico, ancorado na racionalidade, supõe métodos, formulação de hipóteses, verificação,
teorias aceitas publicamente e, por extensão, a previsão de eventos e fenômenos; na mitologia,
por sua vez, o conhecimento está relacionado com a crença absoluta, a revelação, a autoridade
de sacerdotes e pitonisas, etc., não se cogitando qualquer verificação ou validade para previsões
mais seguras.
18. Segundo Platão, as projeções das imagens no interior da caverna representariam o mundo
sensível, aparente. Para os homens que não conhecem a luz (que simboliza o conhecimento
ou o bem), porque nunca a viram, as sombras dos objetos reais seriam algo em si mesmo, a
“verdade”. No entanto, aqueles que já viram a luz, isto é, que conseguiram se libertar dos gri-
lhões que aprisionam os homens na escuridão (no reino da doxa ou da opinião), saberiam que
as sombras dos objetos são uma verdade aparente, cópias imperfeitas do mundo das ideias,
ou mundo real, e que é preciso transcendê-las para caminhar em direção à essência das coi-
sas e da aparência. Em suma, Platão vale-se da alegoria da caverna para tentar explicar o que
é o bem verdadeiro, que, para ele, é o conhecimento verdadeiro, já que a ignorância seria a
causa de todo mal.

Epistemologia (I)
19. a Ambos os textos abordam a relação entre ciência e fé. No primeiro, Copérnico apresenta
a compatibilidade entre o conhecimento científico e a fé revelada. Já no segundo, Darwin
mostra a independência do pensamento científico diante das questões religiosas.
20. c O texto apresenta a lenda de que Isaac Newton teria intuído a existência da força gravita-
cional ao perceber que a queda de uma maça não teria sido provocada por fatores externos.
Por meio dessa versão lendária, é possível perceber uma dimensão fundamental da prática
científica moderna, na qual o cientista realiza um raciocínio baseado na formulação de hipó-
teses, de modo a excluir aquelas menos plausíveis dentro do contexto do fenômeno natural
analisado.
21. a Tanto no texto I quanto no texto II, os autores destacam a separação entre homem e natureza,
cuja consequência, do ponto de vista epistemológico, é a transformação do espaço físico
em objeto do conhecimento humano.
22. a Os textos levantam questionamentos, próprios da modernidade, centrados na ideia de que
mesmo os assuntos exteriores às relações humanas são passíveis de ser compreendidos pela
razão.
23. a Os textos abordam os efeitos prejudiciais provocados pelas fake news. Eles ocorrem na medi-
da em que fatos distorcidos ou inventados são apresentados como se fossem verdadeiros.
Trata-se, portanto, de uma prática contrária ao propósito, preconizado pelo filósofo francês
René Descartes, de se buscar uma fundamentação segura para todo conhecimento por
meio do ato de duvidar, metodicamente conduzido pela razão.
24. d No texto, o filósofo francês René Descartes, na busca de um fundamento seguro do co-
nhecimento – que se expressa na ideia do cogito (“penso, logo sou”) –, apresenta, no seu
processo metódico de investigação, o argumento do Deus enganador ou do gênio maligno,
que consiste em pensar na existência de um ser supremo e criador de todas as coisas que
estaria a todo tempo manipulando nossa mente, de modo a levá-la permanentemente ao
erro e ao engano.

3 FILOSOFIA
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25. a) O cogito é o “primeiro princípio da filosofia” para Descartes, pois é a primeira certeza indubi-
tável que se apresenta como ideia clara e distinta e que atende ao método rigoroso de investi-
gação da verdade. Assim, com o cogito, afastou-se qualquer possibilidade de dúvida e, por isso,
ele se constitui como fundamento do conhecimento.
b) A relação entre o procedimento da dúvida hiperbólica e a descoberta do cogito se dá no sentido
de que o indivíduo deve, no processo de busca pelo conhecimento verdadeiro, iniciar por duvidar
de tudo o que até então acreditava como verdadeiro. E nisso reside o caráter hiperbólico da
dúvida metódica, isto é, na medida em que por meio dela se chega à própria constatação de que
é o ser que pensa, que usa o pensamento. Assim, dado o caráter radical do próprio ato da dúvida,
encontra-se uma certeza indubitável, a de que existe o pensamento, posto que, para duvidar, é
preciso pensar. Eis, então, o cogito, o eu pensante, como a primeira certeza.
26. a) O texto faz referência à tese heliocêntrica de Copérnico, segundo a qual os planetas orbitam
em torno do Sol. Além disso, o texto explicita a diferença entre a “intuição do mago” e a “ciência
experimental” ao apontar uma postura distinta em relação à natureza. De um lado, o mago, que,
a partir de uma inspiração privilegiada de ordem sobrenatural, busca desvendar os mistérios da
realidade; de outro, o cientista, que procura compreender os fenômenos naturais a partir dos
resultados mostrados pelos experimentos.
b) A revolução científica implicou a superação do teocentrismo ao fundamentar seus procedi-
mentos de investigação “com base nas experiências sensatas e nas demonstrações neces-
sárias”, portanto sem lançar mão de explicações de ordem sobrenatural. Com a investigação
experimental, a ciência se colocou como uma forma de conhecimento aberta à crítica, já que
está permanentemente sujeita a reformulações ditadas pelos resultados empíricos.
27. A instituição que condenou Galileu foi o Tribunal do Santo Ofício da Igreja Católica. O motivo dessa
condenação, expresso no texto, é o contraste entre o sistema heliocêntrico, de um lado, e os
dogmas religiosos, de outro. Esse contraste se evidencia nos seguintes casos: em primeiro lugar,
na incompatibilidade entre a tese heliocêntrica, para a qual a Terra orbita ao redor do Sol, e o sentido
literal de algumas passagens bíblicas, que sugeriam a imobilidade da Terra e a mobilidade do Sol.

Epistemologia (II)
28. e Para Descartes, racionalista, os sentidos não podem ser fonte do conhecimento, pois já nos
enganaram muitas vezes, não constituindo um fundamento seguro. Seu projeto filosófico é
o de construir o edifício do conhecimento de modo que ele se torne inabalável e não desmo-
rone, como tinha acontecido com a física aristotélica. Hume, ao contrário, foi um empirista
cético, defendendo que a razão não pode ser uma fonte de conhecimento independente da
experiência, porque, sem esta, a razão cria ideias sem significado, pois não se referem a nada
de real. Assim, cada um atribui um papel particular para os sentidos e para a experiência na
obtenção do conhecimento.
29. a Na obra Ensaio acerca do entendimento humano, referência do empirismo filosófico moderno,
John Locke afirmou que o conhecimento tem origem na experiência sensível e que os dados
por ela obtidos são elaborados pela reflexão. Contrariamente ao racionalismo de Descartes,
Locke rejeita a tese segundo a qual o conhecimento está fundado sobre ideias inatas, que
poderiam ser conhecidas por simples inspeção do espírito, sem recorrer aos cinco sentidos.
30. a David Hume, filósofo empirista cético do século XVIII, defende serem as ideias cópias das
impressões sensíveis (percepções advindas das sensações). O texto da questão ilustra
essa ideia ao afirmar que todo o poder criativo da mente está reduzido a somente combinar
os conteúdos que recebemos da experiência – que pode ser externa (sentidos) ou interna
(emoções e sentimentos).
31. d No texto, o filósofo escocês David Hume aborda a questão da origem do conhecimento se ser-
vindo de um exercício mental, no qual imagina uma pessoa que não carregasse nenhuma expe-
riência prévia do mundo – no caso, Adão – e que não conseguisse chegar a nenhuma conclusão
a respeito das supostas relações de causa e efeito entre os eventos da realidade. Com isso, é
possível concluir que, para Hume, não há conhecimento sem a vivência prévia dos fenômenos.

4 FILOSOFIA
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32. d A concepção epistemológica de Locke é própria do empirismo, segundo o qual todo conhe-
cimento humano se origina da experiência sensível com objetos reais.
33. c O texto apresenta o problema da fundamentação da causalidade e, consequentemente, das
leis científicas. Segundo Hume, observamos, pela experiência, uma série de casos particu-
lares e, pelo hábito, generalizamos esses casos em leis universais. Por exemplo, comemos
algumas vezes pães e observamos que eles nos alimentam. A partir disso, concluímos que
todos os pães, inclusive aqueles que ainda não comemos, deverão nos alimentar. Contudo,
essa conclusão não está baseada na própria experiência, pois ela se refere a casos futuros
que ainda não foram experimentados.
34. a) Hume indica que o conceito de causalidade decorre do conhecimento extraído da experiência.
Assim, pela percepção sensível, apreende-se a relação causal dos fenômenos naturais através
da maneira habitual com que se concebe a constância e a regularidade da sucessão dos eventos
naturais. Com efeito, o conhecimento causal, de natureza empírica, surge a partir de uma dispo-
sição psicológica (hábito) de se acreditar ou conceber uma relação de causa e efeito existente
entre os fenômenos da natureza. Assim, a causalidade é um conceito central para a compreensão
e previsão dos fenômenos naturais.
b) As reflexões empiristas de Hume se desenvolvem a partir de um ceticismo mitigado quanto
à possibilidade de a experiência se constituir em fundamento último do conhecimento. Pela ex-
periência sensível, surge a crença de que a repetição constante de fenômenos que ocorrem em
sucessão se dá a partir de uma relação de causa e efeito. No entanto, ao invés da causalidade
residir nas relações entre os próprios fenômenos, Hume atribui à imaginação e ao hábito a cren-
ça na causalidade das coisas, o que, por sua vez, colocaria uma considerável dose de ceticismo
na base do próprio empirismo.
35. Para Locke, um dos principais representantes do empirismo, todo conhecimento humano decorre
do contato sensível com o mundo. Assim, todos os conhecimentos adquiridos e produzidos pelo
homem encontram seu fundamento na experiência. Com isso, a perspectiva inatista (cujo prin-
cipal expoente é René Descartes), segundo a qual todas as ideias se originam na razão (ou seja,
antes de qualquer experiência), se mostra, para Locke, descabida, uma vez que mesmo ideias
abstratas, como infinito e Deus, não são possíveis sem antes terem passado pela experiência.
Concebendo a experiência como fundamento, Locke coloca o problema metafísico da capacidade
humana em representar a realidade mesma dos objetos em outros termos. Em oposição à tra-
dição aristotélico-tomista, que não considerava a experiência como fonte principal de acesso ao
objeto em si mesmo, o filósofo inglês indica a possibilidade do acesso direto à realidade das
coisas, dividindo-as em qualidades primárias (propriedades absolutas das coisas, como extensão,
movimento, etc.) e qualidades secundárias (propriedades relativas e subjetivas dos objetos, como
cor, sabor, odor, etc.).
36. Os textos apresentados estabelecem a oposição entre pensamento mítico e a corrente filosó-
fica do empirismo a partir da leitura da experiência humana da realidade oferecida por cada um
deles. Para o pensamento mítico, todo fenômeno possui um aspecto simbólico que remete ao
sobrenatural, ao divino, e seus intérpretes mais qualificados são os sacerdotes e os magos, ca-
pazes de traduzir a vontade divina e direcionar a resposta humana adequada em cada caso. Já a
corrente filosófica do empirismo lê o mundo sem fazer apelo ao sobrenatural, colocando ênfase
na observação sensível – e não simbólica – de fatos brutos, imediatamente presentes aos ór-
gãos de verificação e comprovação, o que poderia ser feito sem a intermediação de sacerdotes
e magos, isto é, por qualquer um.

Ética
37. c Para Kant, a moral é fundamentada pela razão a priori, isto é, antes de qualquer experiência.
Conhece-se, pela razão, quais são os deveres que todos devem seguir, sem precisar recorrer
a uma experiência ou consequência que comprove a validade desse dever.

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38. d O texto apresenta o princípio fundamental da ética utilitarista de Jeremy Bentham, segundo
o qual uma ação tem o valor moral se promove a maior quantidade de felicidade para todos
os afetados por ela. Essa concepção ética se conforma com uma racionalidade de caráter
pragmático, na medida em que a racionalidade também prescreve parâmetros de ação
segundo a adequação a fins práticos determinados.
39. c Segundo a ética kantiana, uma ação é verdadeiramente moral quando é boa em si mesma,
isto é, válida universalmente por si mesma independentemente de qualquer interesse, sen-
timento, desejo ou consequência envolvidos. No texto, Kant exemplifica uma ação destituída
de valor moral como aquela cuja obrigação se dá em decorrência dos efeitos positivos ou
negativos que ela possa produzir; no caso, faz-se uma falsa promessa quando se julga “estar
em apuros”. Nesse sentido, tal ação se opõe ao princípio de que toda ação do homem pode
valer como norma universal.
40. c Para Aristóteles, todos os homens agem tendo em vista algum bem, e, por trás de cada
um desses bens desejados, sejam eles a saúde, aquilo que amamos ou quaisquer outros,
há algo em comum, a que o filósofo chama de Sumo Bem ou Felicidade. Por Felicidade,
ele entende uma virtude ativa que consiste no exercício ou hábito de buscar um equilíbrio
entre o excesso e a falta de prazeres. Evitar o excesso é necessário para que os homens,
ao buscarem prazeres para si, não sejam escravizados por seus desejos, perdendo o con-
trole racional sobre si mesmos, caso em que seriam capazes de fazer mal para si mesmos.
Ao mesmo tempo, para se aproximarem daquele equilíbrio, devem evitar também a falta
de prazeres, que, do mesmo modo, faria com que se entristecessem. Assim, a felicidade,
finalidade natural de todas as ações humanas, tem relação direta com a ética, pois, para
Aristóteles, um homem não virtuoso seria incapaz de alcançar tal objetivo.
41. b O texto de Gianotti trata, por um lado, da premência que as questões éticas passam a ter a
partir da segunda metade do século XX e, por outro, da diminuição da importância da política
durante o mesmo período.
Tem-se, de um lado, o “fim das utopias”, caracterizado pelo desencanto com os sistemas
ideológicos e, de outro, as questões éticas que se colocam depois dos horrores das Primeira
e Segunda Guerras Mundiais e no contexto da Guerra Fria, como a reflexão acerca do uso
da ciência e da tecnologia para fins de poder e de destruição e a flexibilização dos ideais de
progresso que haviam inspirado o surgimento dos Estados liberais a partir do século XVIII.
Mais recentemente, novas questões éticas surgem com a criação da engenharia genética
e com as discussões acerca da crueldade na criação de animais para abate, do uso irracio-
nal dos recursos naturais do planeta, dos direitos humanos, para citar alguns exemplos. Há
também, na última década, o surgimento de novos problemas relacionados à espionagem
eletrônica, como o texto denuncia.
42. a A ética pertence ao campo do saber prático, aquele voltado para as ações dos homens,
diferenciando-se do saber teórico e do produtivo. Assim, a ética diz respeito à capacidade
racional do homem de escolher como agir, sabendo o que é bom e mau.
43. No trecho de entrevista apresentado, o filósofo Peter Singer problematiza a base de valores
sustentada pela ciência, na medida em que, apesar de, com seus experimentos, prometer me-
lhoramentos e maior conforto a um maior número de pessoas, desconsidera, por outro lado, os
efeitos prejudiciais que sua prática provoca nos animais. Diante dessa realidade, o argumento
utilitarista costuma surgir como justificativa na defesa dos propósitos da ciência, já que o mal
provocado sobre os animais não teria tanta importância diante do bem surtido pelas conquistas
científicas.
Em contraposição a esse ponto de vista, o filósofo defende que a preocupação com o bem-estar
dos animais não representa prejuízo às pretensões científicas, já que a ciência é capaz de respeitar
a vida animal e promover, ao mesmo tempo, bem-estar aos homens.

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44. Segundo Aristóteles, as virtudes intelectual e moral têm suas origens na experiência e no
hábito, isto é, são adquiridas à medida que são desenvolvidas a partir da prática e do exercício.
Ao contrário, a concepção inatista compreende as virtudes como elementos que se originaram
anteriormente a qualquer experiência, isto é, como dadas de antemão, por exemplo, pela natu-
reza. A ética aristotélica, ao associar a origem das virtudes às práticas e relações efetivas entre
homens, confere importância à educação, aos processos de aprendizagem, pois impede que as
virtudes, morais ou intelectuais, sejam compreendidas como qualidades exclusivas, naturais e
indeléveis de certas pessoas e, portanto, impedidas de serem desenvolvidas por outros.
45. O conceito filosófico do imperativo categórico é baseado na universalidade moral, pois trata-se de
um dever cuja determinação é dada pela razão na sua universalidade e na sua não contradição, de
modo que cada sujeito seja capaz de reconhecer o valor da lei moral por si mesma, independen-
temente dos interesses e consequências que a ela possam se associar. Por isso, a ética kantiana
dispensa justificativas de caráter religioso, uma vez que o imperativo categórico possui legitimida-
de moral própria, isto é, não depende de quaisquer fatores externos que venham a sancioná-lo,
atendo-se ao princípio de fazer a coisa certa simplesmente porque é a coisa certa a se fazer.

Filosofia Política (I)


46. a O texto aborda um aspecto essencial da reflexão filosófica, que é a relação entre ética
e política. Nele, o filósofo grego Aristóteles discute o tema da felicidade – em grego,
eudaimonia – não apenas do ponto de vista individual (uma das preocupações da ética),
mas também do ponto de vista político, isto é, como sendo o principal bem no qual a boa
comunidade política se constitui.
47. b Segundo Aristóteles, o legislador deve agir para possibilitar a justiça e o bem da sociedade
como um todo.
48. a No texto, o filósofo italiano Nicolau Maquiavel chama a atenção para duas formas possíveis
de relação entre um princípio moral e seus efeitos. Quando o preceito moral concerne ao
indivíduo, suas consequências recaem somente sobre sua pessoa. Com isso, é possível
pensar a obrigação moral no seu caráter ideal, isto é, enquanto regra de ação válida incondi-
cional e universalmente. Mas, quando a regra moral possui uma ressonância social, isto é,
na realidade da vida coletiva, o autor destaca a necessidade de conformá-la às circunstâncias
e a seus resultados.
49. c A partir do excerto da questão, chega-se à conclusão de que as ações humanas são pautadas
em interesses que podem mudar de acordo com a situação. Assim, um príncipe amado
pode vir a ser odiado quando ocorre uma mudança do contexto político. Daí a máxima “é
muito mais seguro ser temido que amado” (como garantia de manter o poder).
50. c Para Aristóteles, o conhecimento é o fim último (sumo bem) a que os seres humanos são capazes
de atingir. Tal fim só é alcançado na pólis, pois esta se constitui como uma sociedade politica-
mente organizada em que os cidadãos deliberam as questões mais importantes e necessárias
para a vida em comum, como a economia, a educação, etc. Como, para Aristóteles, a política
é a ciência que determina o que se deve ou não fazer na cidade, ela deve, por isso, preceder
qualquer outra ciência que trate de aspectos particulares da vida social.
51. c A oposição, abordada no trecho, entre acaso e livre-arbítrio retoma a famosa oposição entre
fortuna e virtù. Nesses termos, o príncipe virtuoso é aquele capaz de fazer frente ao acaso,
à fortuna. Ainda que o acaso imponha sua parcela de irracionalidade às ações humanas,
o pensamento político de Maquiavel deposita ênfase na potência humana – e, portanto,
racional – diante das arbitrariedades da fortuna.
52. O pensamento político de Maquiavel é incompatível com a moralidade cristã. De acordo com
esta, ética e política são inseparáveis; sendo assim, um bom governante será necessariamente
uma pessoa boa e virtuosa do ponto de vista moral. No entanto Maquiavel, preocupado em
entender o funcionamento real das relações de poder, pensa que a atividade política é uma esfera

7 FILOSOFIA
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autônoma com relação à ética e à religião e deve ser pautada por critérios somente políticos –
mas isso não significa que o governante deva ser sempre mau. Maquiavel enfatiza apenas o fato
de que, nas contingências da vida política, nem sempre é possível seguir a moralidade, sendo
eventualmente necessário recorrer à força e à violência.
53. A oposição entre as duas concepções pode ser apresentada a partir da relação que cada autor
estabelece com o pensamento político grego. Tomás de Aquino, sob a influência direta dos
escritos de Aristóteles, endossa a ideia de que a política é encarregada de encaminhar os homens
em sociedade na direção de seu fim supremo – o que, para o pensador cristão, é a salvação da
alma por meio de seu encaminhamento ao reino celeste. A esse respeito, é evidente a distância
em relação ao pensamento de Maquiavel. Para o escritor renascentista, a política não se preocupa
em identificar e alcançar um fim supremo, mas em descrever e compreender o jogo político
efetivo, extraindo da história as lições que devem orientar o governante na luta pela manutenção
e expansão do poder político. Daí a rejeição, mencionada no excerto, da “política normativa dos
gregos”. Outra diferença marcante entre os autores citados reside na maneira como cada um
deles apresenta a figura do governante. Nos dois casos, é exigida do monarca a presença de
virtudes impreteríveis na ação. Mas, enquanto Aquino subscreve as virtudes especificamente
cristãs, juntamente com a sua visão de mundo, a virtù maquiaveliana é de outra ordem: ela é
especificamente política e, enquanto tal, está voltada para as relações de poder.
54. Ao analisar o papel do príncipe na condução do Estado, Maquiavel aponta para dois elementos:
“poder ser mau”, ou seja, que saiba realizar atos nocivos segundo a necessidade; e é “necessário
que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe arrebatariam o governo e
praticar as qualidades próprias para lhe assegurar a posse deste”, ou seja, o príncipe deve se
preocupar com a imagem que a população faz dele, devendo evitar defeitos mal-vistos e enal-
tecer qualidades abonadoras. Pode-se filiar o pensamento de Nicolau Maquiavel ao humanismo
pelo fato do autor separar a esfera religiosa da humana, diferenciando ética religiosa de razão de
Estado (o que permite que o príncipe rompa acordos, por exemplo). Além disso, Maquiavel analisa
a capacidade do governante a partir da sua virtù, e não como uma manifestação da vontade divina
(a manutenção de um príncipe no poder está relacionada às suas virtù, e não à vontade divina).

Filosofia Política (II)


55. a O filósofo iluminista Montesquieu propôs a divisão dos poderes em Executivo, Legislativo e
Judiciário como um sistema de freios e contrapesos para limitar o poder político absolutista.
56. a O texto apresenta o motivo pelo qual, para a teoria política de John Locke, os homens
firmam o pacto (ou contrato) que institui a vida em sociedade, ou melhor, a vida política.
Trata-se, pois, de o governo civil assegurar os direitos de que, segundo o filósofo, todos os
indivíduos gozam no estado de natureza (ou pré-social), a saber, o direito à vida, à liberdade
e aos bens (propriedade privada).
57. e Segundo Hobbes, o estado civil é necessário para encerrar com o estado de guerra de todos
contra todos, permitindo que as pessoas vivam em segurança e paz sob um poder soberano.
58. d No texto, o filósofo Jean-Jacques Rousseau defende que, quando um conjunto de indivíduos
se reúne e se transforma num povo (unidade social sustentada pelo interesse comum), a
consequência é a completa alteração do modo de ser desses indivíduos. Isto é, a instituição
de um povo provoca, para o autor, a superação da natureza humana, na medida em que se
abandona uma existência solitária e física (dependente das próprias forças), mas autossu-
ficiente, típica do estado pré-social de vida, para uma existência cuja sobrevivência e cujas
potencialidades se realizam pela coesão da vontade do povo (vontade geral).
59. b As noções de justiça e de que a obediência ao contrato deve ser respeitada são noções que
a maioria dos homens conhece e que contribuem para a manutenção da ordem, mesmo nos
lugares em que não há um estado civil estabelecido.
60. a Segundo Hobbes, o estado de natureza é um estado de guerra em que os homens, por serem
iguais e poderem desejar as mesmas coisas, entram em conflito quando não há o suficiente
para todos. Por conta disso, não há nada que garanta a vida do homem, e todos vivem em
insegurança.

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61. Segundo o primeiro texto, a propriedade está inscrita na natureza, como fruto do esforço que o
ser humano realiza, por meio do trabalho, para dispor dos recursos da natureza, dando origem,
assim, à propriedade privada e ao seu direito natural.
De acordo com o segundo texto, existia, no estado de natureza, igualdade entre os seres humanos.
Todavia, no momento em que os homens se apropriaram de provisões que excediam suas
necessidades particulares (“um só contar com provisões para dois”), instaurou-se a propriedade
e a consequente desigualdade social.
O liberalismo se aproxima do pensamento político lockiano, na medida em que considera a
propriedade privada um direito natural, inviolável, intransferível, e que, portanto, cabe ao Estado
e às instituições políticas (à sociedade civil) garanti-la e protegê-la.
Por sua vez, o ideário socialista apresenta influências do pensamento de Rousseau ao propor
a extinção da propriedade dos meios de produção, visando à implantação de uma sociedade
igualitária, que teria como função, entre outros aspectos, eliminar a desigualdade entre os seres
humanos.
62. O problema do constante estado de guerra em que os homens se encontram no estado de
natureza é solucionado por Hobbes pelo estabelecimento do contrato social que garante o
direito à vida. No anarquismo de Proudhon, o indivíduo mantém para si e para o próximo a
dignidade do ser humano, a justiça e o equilíbrio da realidade coletiva. Para Hobbes, o indivíduo
não tem essa capacidade, e precisa ter sua liberdade e sua vida cerceadas, embora protegidas,
pelo poder soberano representado pelo Estado.
63. Para Hobbes, dada a igualdade e liberdade absoluta característica do estado de natureza, e o risco
sempre iminente à vida que dela decorre, os homens decidem instituir, por meio de um contrato
voluntário, um poder político absoluto (Estado) responsável pela preservação da vida de todos.
Para Locke, os homens concordam em estabelecer a sociedade política ou civil com o objetivo de
manter e consolidar os direitos que já possuíam no estado de natureza – direito à vida, à liberda-
de e aos bens. Assim, o corpo político instituído por um pacto social resguarda, sob o amparo da
lei e da legítima força, os direitos naturais inalienáveis.

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