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Ora, dado que buscamos as causas e os princípios supremos, é evidente que estes
devem ser causas e princípios de uma realidade que é por si. Se também os que
buscavam os elementos dos seres, buscavam esses princípios supremos,
necessariamente aqueles elementos não eram do ser acidental, mas do ser enquanto
ser. Portanto, também devemos buscar as causas do ser enquanto ser.
(ARISTÓTELES, 1969, p. 98)
Caro Crisaório, dado que para compreender a doutrina das categorias de Aristóteles
é necessário saber o que sejam o gênero, a diferença, a espécie, o próprio e o
acidente, e dado que esta análise é basilar para a formação das definições, e, em todo
caso, para tudo aquilo que se refere a divisão e a demonstração, farei para ti uma
breve exposição em poucas palavras, na forma por assim dizer, de uma isagoge,
daquilo que nos foi transmitido pelos antigos, deixando as questões mais complexas
e tratando em igual medida as mais simples.
Previno-te logo que não enfrentarei o problema dos gêneros e das espécies, isto
é, se não subsistentes por si ou se são simples conceitos mentais; e, no caso que
sejam subsistentes, se são corpóreos ou incorpóreos; e, finalmente, se são separados
ou se se encontram nas coisas sensíveis, inerentes a elas; este é, com efeito, um tema
muito complexo, que tem necessidade de outro tipo de pesquisa, muito mais
aprofundada. Disponho-me, ao contrário, a explicar-te de um ponto de vista lógico
aquilo que sustentaram sobre estas duas questões e sobre outras, sobretudo os
Peripatéticos. (PORFÍRIO, Isagoge apud Reale, 2017, p. 175-176).
Roscelin, nascido por volta de 1050 em Compiègne, França, foi uma figura
notável na filosofia medieval. Seus estudos iniciais ocorreram na sua província natal.
Posteriormente, tornou-se cônego em Compiègne e dedicou-se ao ensino. No entanto,
sua carreira foi marcada por controvérsias filosóficas que o levaram a enfrentar desafios
significativos.
Outro filósofo importante no debate é Roscelin, que ficou conhecido por suas
ideias que o colocaram em oposição aos realistas da época. Sua posição filosófica
central sustentava que a realidade não é constituída por seres com características
universais, mas sim por entidades individuais e concretas. Ele defendia a visão de que
os universais eram apenas abstrações, meros nomes, ou como ele os chamava, "flatus
vocis" - uma expressão que se traduz como "emissão de voz".
Essa perspectiva filosófica de Roscelin, que negava a realidade substancial dos
universais, é muitas vezes associada ao nominalismo. O nominalismo argumenta que os
universais são apenas conceitos ou rótulos criados pelas mentes humanas para agrupar
objetos similares, em vez de entidades reais e independentes.
No entanto, as opiniões de Roscelin causaram polêmica na época, e ele foi
acusado por um concílio de afirmar a existência de três deuses, um erro teológico grave.
Isso resultou em sua mudança forçada de local e em sua abjuração dessas ideias
controversas. É importante notar que Roscelin também é conhecido por ter tido
Abelardo como discípulo, que mais tarde se tornou uma das figuras filosóficas mais
influentes da Idade Média. Roscelin faleceu em 1120, deixando um legado de debate
intelectual e controvérsia em torno de suas ideias nominalistas. Suas contribuições
desempenharam um papel fundamental na evolução do pensamento filosófico medieval
e na discussão sobre a natureza dos universais. (GILSON, 2007, p. 289). Por exemplo, o
termo homem não designa nenhuma realidade da espécie humana, mas apenas duas
realidades concretas: “a física, isto é, a emissão de voz e a dos indivíduos humanos que
essa palavra tem por função significar”. (CIVITA, 1972, p. 141).
Pedro Abelardo, um dos filósofos mais controversos do período medieval,
tornou-se célebre tanto por seu romance com Heloísa quanto por suas acaloradas
disputas com os principais pensadores de sua época. Abelardo nasceu em 1079 e faleceu
em 1142, deixando uma marca indelével no desenvolvimento do pensamento filosófico
medieval. Ele adotou uma posição filosófica que incorporou elementos de duas
concepções anteriores, criando assim uma abordagem única e perspicaz. (CIVITA,
1972, p. 141).
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1962.
CIVITA, Victor. História das grandes ideias do mundo ocidental. 1. ed. São Paulo:
Abril Cultural, 1972.
FRANCA, Pe. Leonel. Noções de História da Filosofia. 13. ed. Rio de Janeiro:
Livraria Agir Editora, 1952.
GILSON, Étienne. A Filosofia na Idade Média. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. v. I. São Paulo: Paulus,
2017.