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Vamos tomar a palavra “Justiça” como exemplo, pelo método histórico, nós podemos
fazer uma investigação de quando essa noção aparece, em qual contexto, quais foram seus
antecedentes, qual o sentido essa palavra teve em determinada época. Se dois sócios
querem dividir os lucros da empresa de forma justa, ou seja, dividindo igualmente o lucro e
os custos, a Matemática pode nos ajudar a partir de cálculos. No entanto, se tentarmos
responder “O que é a justiça?” ou: “Faz parte da condição humana a noção de justiça?”, o
único recurso que teremos será a nossa razão, a nossa capacidade de pensar.
A compreensão que temos por vezes da Filosofia como uma atividade reservada a gênios e
que, portanto, não precisa se preocupar em se fazer entendida aos demais humanos é
baseada em uma compreensão da atividade do pensamento sendo superior à atividade da
linguagem, como se elas estivessem dissociadas. Ora, não podemos ainda, por mais
desenvolvidas que estejam as nossas tecnologias, expressar o pensamento sem linguagem
e nem exercitar a linguagem sem que ela seja, antes, elaborada pelo pensamento.
Surgimento da Filosofia
A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfazem mais com
uma explicação mítica da realidade. O pensamento mítico explica a realidade a partir de
uma realidade exterior, de ordem sobrenatural, que governa a natureza. O mito não
necessita de explicação racional e, por isso, está associado à aceitação dos indivíduos e
não há espaço para questionamentos ou críticas.
É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), no século VI a.C. que nasce Tales que,
para a Aristóteles é o iniciador do pensamento filosófico que se distingue do mito. No
entanto, o pensamento mítico, embora sem a função de explicar a realidade, ainda ecoa em
obras filosóficas, como as de Platão, dos neoplatônicos e dos pitagóricos.
“O doutíssimo discípulo de Platão, Heráclides Pontico, narra que levaram a Fliunte alguém
que discorreu douta e extensamente com Leonte, príncipe dos fliúncios.
Como seu engenho e eloquência tivessem sido apreciados por Leonte, este lhe
perguntou que arte professasse, ao que ele respondeu que não conhecia nenhuma arte
especial, mas que era filósofo.
Admirado Leonte diante da novidade daquele termo, perguntou que tipo de pessoas
eram os filósofos e o que os distinguia dos outros homens.
(...)
[Pitágoras respondeu] Outrossim, os homens (…) comparam-se com os que vão da cidade
a uma festa popular: alguns vão em busca de glória enquanto outros de ganho, restando,
todavia, alguns poucos que desconsiderando completamente as outras atividades,
investigam com afinco a natureza das coisas: estes se dizem investigadores da sabedoria -
quer dizer filósofos - e como é bem mais nobre ser espectador desinteressado, também na
vida a investigação e o conhecimento da natureza das coisas estão acima de qualquer outra
atividade”.
1) A fonte na qual ele se baseia para escrever sobre Pitágoras é Heráclides Pontico,
discípulo de Platão, mas que era também influenciado pelos pitagóricos. No entanto, não se
sabe da veracidade a respeito dessa informação, como nota Ferrater Mora que também
observa que não é possível saber se “filósofo” para Pitágoras significa o mesmo que
significaria para Platão ou Aristóteles.
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): “A admiração sempre foi, antes como agora, a causa
pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as
dificuldades mais comuns; depois, avançando passo a passo, tentavam explicar fenômenos
maiores, como, por exemplo, as fases da lua, o curso do sol e dos astros e, finalmente, a
formação do universo. Procurar uma explicação e admirar-se é reconhecer-se ignorante."
Epicuro (341 a . C. - 270 a . C.): "Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem o
canse fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado
maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não
chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora
de ser feliz."
Edmund Husserl (1859-1938): "O que pretendo sob o título de filosofia, como fim e
campo de minhas elaborações, sei-o naturalmente. E contudo não o sei... Qual o pensador
para quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?"
Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Um filósofo: é um homem que experimenta, vê, ouve,
suspeita, espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é atingido pelos
próprios pensamentos como se eles viessem de fora, de cima e de baixo, como por uma
espécie de acontecimentos e de faíscas de que só ele pode ser alvo; que é talvez, ele
próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem fatal, em torno do qual
sempre tomba e rola e rebenta e se passam coisas inquietantes”. (Para além do bem e do
mal, p. 207)
(Com exceção das citações de Nietzsche, García Morente e Karl Jaspers, as demais foram
transcritas conforme citadas por Sílvio Gallo em “Ética e Cidadania – Caminhos da Filosofia,
p. 22)
SANTOS, Wigvan Junior Pereira dos. "Filosofia"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia. Acesso em 31 de março de 2023."