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Alegoria da Caverna

Esta célebre passagem da República de Platão descreve a ascensão do Filósofo ao


conhecimento do bem. Na sua leitura devem ser destacadas as suas implicações morais,
políticas e educativas.
Pois Platão usou esta alegoria da caverna para mostrar as dificuldades que todo o homem tem
de abandonar os hábitos adquiridos (conformismo); todo homem tem a tendência de persistir
na ignorância do falso saber e as dificuldades de rasgar o véu dos dogmas da sua tradição.

1.1. A emergência de Filosofar

Depois duma longa interrupção do ensino de filosofia em Moçambique (1975-1997)


substituído por educação Política, o Estado Moçambicano vê-se esforçado a reintroduzir em
1998 devido a profundas crises políticas que vivíamos (guerra dos 16 anos). A urgência foi de
responder a demanda de valores de reconciliação, tolerância e bem comum.

Embora ainda existir esta preocupação, hoje impõe-se outras interrogações resultantes da
conjuntura actual: a difusão e uso em massa das tecnologias de informação e comunicação
apontando-nos para aqueles e outros valores por cultivar (o discernimento, responsabilidade e
engajamento sócio-político).

1.2. Do mito à Reflexão Racional


A palavra Mito provém do grego mythos que quer dizer a verdade apresentada de modo
simbólico ou falso.Os mitos são estórias sagradas que durante séculos dominaram a vida das
comunidades humanas. Eles narram os feitos dos deuses, estórias da origem do universo, dos
objectos e seres particulares, de acidentes e factos geográficos.

Os homens dos primórdios ficavam satisfeitos com a explicação dada através dos mitos que
clarificavam os mistérios da natureza, razão pela qual desempenham as funções explicativas e
normativas. Ora, os primeiros pensadores gregos conheciam os mitos gregos escritos por
Hésiodo e Homero, fizeram a questão de os analisar criticamente e, não se contentaram com
as explicações pois estes pensadores queriam explicar a origem das coisas fazendo uso da
razão, exercitando o pensamento. É o que veremos no estudo das etapas da filosofia grega
clássica.Racionalidade é a faculdade de relacionar as ideias com coerência, consciente e
deliberadamente num processo que iniciamos com dados recebidos ou premissas e que nos
encaminham para conclusões legítimas.

T.P.C
1. O que é a caverna?
2. O que são as sombras das estátuas?
3. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna?
4. O que é o mundo exterior?
5. Qual é o instrumento que liberta o filosofo e com o qual ele deseja libertar os outros
prisioneiros.
6. O que é a visão do mundo real iluminado?

1.3. Etapas da Filosofia Grega-Clássica

Refere-se aos períodos ou fases em que a reflexão filosófica trilhou e evoluiu dentro da
Grécia. No entanto, dos quatro grandes períodos da filosofia grega-clássica (pré-socrático ou
cosmológico, socrático ou Antropológico, sistemático e helenístico ou greco-romana), merece
especial atenção os dois primeiros, por serem fundamentais.
I- Período pré-socrático ou cosmológico (final do século VII à final do século V a.C)
A filosofia ocupa-se fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das
transformações da natureza; o cosmo/universo é o centro das atenções, procura-se saber do
“Arché” (princípio ou origem de todas as coisas existentes). Nesta época destacaram-se 4
principais escolas: Jónica, Eleata, Itálica e a dos pluralistas; destas trataremos apenas da
primeira.

Escola Jónica (dos jónios)

Nesta escola destacaram-se 4 filósofos: Tales, Anaximandro, Anaxímenes (todos de Mileto) e


Heraclito de Éfeso.
1. Tales de Mileto (624-545 a.C)
Ao interrogar-se da origem de todas as coisas existentes, determinou que a água é o arché,
porque: primeiro que a terra flutua na água; segundo a água é indispensável a germinação das
sementes e de uma maneira geral à existência da vida; terceiro pela facilidade da passagem da
água pelos três estados físicos habituais: sólido, líquido e gasoso; quarto que mesmo os seres
aparentemente inanimados podem estar vivos e que o mundo está repleto de deuses e
daimones.
2. Anaximandro de Mileto (610-547 a.C)
Para este filósofo (discípulo de Tales de Mileto), o arché de todas as coisas existentes, não
deve ser um elemento material, sensível, mas sim, algo mais que isso; é o Ápeiron, uma
substância transcendente, metafísica (o que está além do físico), indeterminado, infinita,
ilimitada (que não tem início nem fim).
3. Anaxímenes de Mileto (588- 524 a.C)
Discípulo e amigo de Anaximandro considera que a substância primária é o Aer (Ar), como
origem de todas as coisas; e que todas as coisas geram-se por rarefação (diminuição da
densidade) e condensação do ar; o ar é espécie da alma do cosmo. Tal como nossa alma é o ar
nos mantem unidos e nos governa, assim também o vento (ou alento, ar) cerca o mundo
inteiro, sem o ar ninguém respira, vive, cresce.

4. Heráclito de Éfeso (540-475 a.C)


Para este o fogo é o arché de todas as coisas e garante a ordem do mundo; é o logos
inteligente, a razão, unidade, a essência de todo movimento e do devir. O logos habita todas
as coisas materiais e vivas; sendo a força motriz de tudo que existe (movimento, “devir”)
constitui essência de toda a realidade.
Tudo está em constante movimento como as águas do rio por isso ninguém banha duas vezes
nas mesmas águas.

II- Período Socrático ou Antropológico (do final do séc. V ao séc. IV a.C)


Neste período o homem é o centro das atenções, é o momento em que a filosofia se ocupa
fundamentalmente pelo homem e seus problemas.
Os primeiros filósofos deste período foram os sofistas (Protágoras de Abdera-490-421 a.C;
Górgias de Leontinos-487-380 a.C; Hípias de Elias; Licofron; Pródicos e Trasímaco). Eles
deslocaram o debate filosófico do terreno cosmológico para o campo antropológico, visto
que, segundo eles os ensinamentos dos filósofos cosmologistas estavam repletos de erros e
contradições e que não tinham utilidade para a vida da Pólis. Descobriram o homem mas não
aprofundaram o seu estudo, quem abordou sobre o homem com toda profundidade foi o
grande génio grego Sócrates, privilegiava o diálogo como via de indagação para despertar o
conhecimento nos discípulos. Educava a juventude a se declarar «só sei que nada sei, mas
nisso supero todos os outros que nem isso sabem» e o lema «Homem, conhece-te a ti
mesmo». Morre envenenado por ser acusado de ser perturbador da ordem e corruptor da
juventude.

T.C.P
1. Explica o papel dos sofistas na passagem da reflexãoacerca da natureza para o estudo das
questões humanas.
2. Sócrates é uma figura incontornável da Filosofia e um exemplo para todos os homens.
Investiga sobre os acontecimentos da sua morte e explique porquê?
3. O que era a Ironia e a Maiêutica?

1.4. Tentativas de definição da Filosofia

É difícil em filosofia começar as aulas por sua definição, pois a especificidade o exige assim,
é preciso estar maduro para se questionar o que é a filosofia.
Platão e Aristóteles eram da opinião que a filosofia só fosse ensinada depois de muitas outras
disciplinas mais difíceis, como a matemática, deve-se filosofar quando tem problemas ou quer
levantar problemas para aqueles que julgam viver sem problemas.

1.4.1. Definição Etimológica


Numa primeira tentativa comecemos pela sua etimologia: palavra de origem grega Philos
(amor, amizade, gostar de) e Sophia (saber, sabedoria), significando portanto “amor à
sabedoria”, gosto pelo saber. Ela não é posse do saber, mas a sua busca, a sua demanda.
Assim sendo o filósofo não é um sophos (sábio, perito) mas tão-somente aquele que ama o
saber, que procura o saber.
Foi Pitágoras no século VI a.C o mentor do termo “filosofia”, entendendo ele que nenhum
homem se poderia considerar sábio pois isso só cabia apenas a Deus, sendo a palavra formada
em oposição ao sophos.
1.4.2. Definição da Filosofia na Perspectiva de Vários pensadores
Hegel- é o saber absoluto.
Aristóteles – A filosofia é o estudo dos primeiros princípios e causas últimas.
Cícero – é o estudo das causas humanas e divinas.
Descartes – ensina a raciocinar bem.
Karl Marx – é uma prática de transformação social e política.
Hountondji (Benin/actual) – é uma disciplina científica, teorética e individual.
Anyanw (Nigeria/actual) – tem a missão de explicar o implícito, tomar consciência do
inconsciente.
Ngoenha (Moçambique/actual) – ajuda a resolver os problemas da humanidade, é um
instrumento de emancipação.
Whitehead – é o de fornecer uma explicação orgânica do universo.
Jaspers – é um processo contínuo e filosofar é estar a caminho.
A filosofia, menos do que um conjunto de princípio, de conhecimento acumulado a serem
reproduzidos, é uma actitude que cada um de nós toma perante a realidade, uma forma
específica de viver o mundo, é uma atitude de reflexão sobre o real.

1.5. Objecto e métodos da filosofia


1.5.1. Objecto
José Ortega y Gasset, filosofo espanhol do séc. XX admite que a filosofia tem um objecto
próprio “que não é nenhum destes restantes objectos, mas sim que é o objecto integral, o
autêntico todo, o que não deixa nada de fora”, pois o seu objecto é universal e as suas
questões são gerais (englobam a humanidade e a totalidade), não se relaciona com aspectos
individuais e particulares da realidade. Os problemas filosóficos interessam todos os homens
e em todas as épocas.
De modo que não só o problema filosófico é ilimitado em extensão, dado que abarca tudo e
não tem limites mas também em intensidade problemática e as outras ciências tratam das
partes.

1.5.2. Métodos da Filosofia


O método de estudo da filosofia marca a primeira grande diferença entre a filosofia e as
ciências particulares, pois não é o de simples verificação nem o de descrição pacífica dos
factos e muito menos o da experimentação. A filosofia tem como métodos: a justificação
lógico-racional, usada para o estudo da realidade meta-empírica; análise crítica e reflexão
crítica usada para o estudo de realidades sociais que se apoia nos factos.
T.P.C
1. Porque a filosofia tem várias definições?
2. No Livro Filosofia 11ª classe de Geque e Biriate na pag. 15, 17, 21 e 25 resolva as
actividades.

1.6. ACTITUDES E NATUREZA DAS QUESTÕES FILOSÓFICAS


1.6.1. ACTITUDES DA FILOSOFIA
- O espanto – é o espanto que leva o filósofo a formular perguntas e a procura das respectivas
soluções, é o espanto que rompe no individuo a tendência natural de achar que a ordem das
coisas no mundo é simplesmente obvia.
- A dúvida- exige-se do filósofo que duvide de tudo aquilo que é assumido como uma verdade
adquirida e assim distancia-se das coisas, fazendo com que o que era natural torna-se
problemático.
- O rigor – o conhecimento em si funda-se na crítica e rigor, deve questionar-se e avaliar
constantemente o seu próprio conhecimento, sempre o rigor em frente da crítica.
- A insatisfação- em filosofia você deve-se contentar com as perguntas, problemas e
incitamentos para que não confie em nenhuma autoridade exterior a sua razão, ficar
insatisfeito com todas respostas para ir em busca de mais que lhe venham a ser mais claras.
l
1.6.2. A NATUREZA DAS QUESTÕES FILOSÓFICAS
- Universalidade- o alcance da questão não se pode circunscrever a realidade particular.
- Radicalidade – procurar a raiz do problema, apresentar a profundidade da questão.
- Autonomia- o filósofo tem de ter a liberdade de raciocinar na busca da verdade e de
fundamentos, distanciando-se muitas vezes do que a história terá definido.
- Historicidade- enquadrar a questão na história.

1.7. FUNÇÕES DA FILOSOFIA


A filosofia é uma maneira de estar no mundo, é um modo de existir. Como tal, não deve ser
vista apenas como uma procura de compreensão e interpretação do mundo. Na verdade, o
esforço de se apropriar do real passa pela maneira como o homem interpreta a realidade e
como ele se situa perante ela.
Desta reflexão resultam as várias e diferentes maneiras de estar neste mundo; as várias
dimensões da existência humana. O homem pode-se manifestar em planos como: pensar,
sentir e agir, estes podem ser agrupados em dois (teórico e pratico).
- Plano teórico: refere-se não apenas aos saberes instrumentais ligados as atividades
artesanais, profissionais e técnicas, aos saberes relativos a interação social e ao senso comum,
mas refere-se também aos saberes considerados mais elevados como os ligados a arte, a
ciência, a política, aos direitos, etc.
- Plano prático:abarca a multiplicidade de experiencia que o homem adquire a partir da sua
própria existência, do seu trabalho, da natureza, da sua convivência e da sua atividade
cognitiva e valorativa entre outros.
Neste caso a filosofia satisfaz os dois planos: saber pensar (teórico), saber agir (pártico).
Saber pensar: significa não só ordenar as ideias de forma coerente, questionar de forma
inteligível, ordenar um discurso argumentativo, mais também tomar consciência da
amplitude, complexidade e profundidades do real.
Saber agir: significa saber plicar o saber pensar. Assim sendo cabe a filosofia proporcionar ao
homem um procedimento crítico em relação ao seu próprio pensamento; ao pensamento dos
outros, aos diferentes saberes e opiniões, aos valores, as crenças e aos poderes.
A filosofia é imprescindível, ela propociona-o a capacidade de ser tolerante perante as
opiniões e interesses alheios, a trabalhar para a paz, o bem comum, ajustiça, respeito, ordem
publica salutar e para a liberdade e autonomia do homem, ela torna o homem lúcido, fazendo
com que ele seja corajoso no pensar e agir.
TPC
1. Identificar as funções da filosofia na sua vida quotidiana no seu habitat(
trabalho/bairro).

1.8. A FILOSOFIA NO UNIVERSO DAS OUTRAS CIÊNCIAS


O termo ciência pode ser tomado no sentido lato e no sentido restrito.
No lato, a ciência consiste no conhecimento das causas.
No sentido restrito a ciência consiste no conhecimento dos factos adquiridos através dos
processos de observação e da experimentação com o fim de estabelecer as leis que o regem.
Ora, a filosofia merece o título de ciência no sentido lato, porque se preocupa com a
investigação das causas primeiras e finais de toda a realidade.
As varias ciências nascem a partir de perguntas a resposta da realidade e objectos concretos e
cada uma abraça uma realidade apenas enquanto que a filosofia embora partilhando com
muitas ciências as mesmas perguntas, tem a sua vocação em compreeender a realidade
humana, abarcando toda a existência humana e tenta responder a pergunta universal e
atemporal sobre o sentido da existência.
Ex. A biologia pergunta quais são as características dos organismos vivos. A filosofia fará a
pergunta o que é a realidade? O que é o homem.

Diferenças da filosofia e outras ciências

Dimensão Filosofia Outras ciências


Objecto de Estudo - A natureza humana. - A lei dos fenómenos
- A essência das coisas e o naturais.
fundamento último da - Funcionamento de um
realidade corpo (seja animado ou
inanimado).
- Procura explicar o
comportamento e a
constituição física dos
fenómenos físicos, humanos
e as leis que os rege.
Método de Estudo Especulativo e critico- - Experimentação
analítico (utilizaçãode ensaios e
testes).
_ Observação, analise,
indução, verificação,
generalização, confirmação
das hipóteses (método
experimental).
- Observação participativa.
Tipo de conhecimento Compreensivo- procura - Explicativo- tenta explicar o
compreender os princípios e funcionamento da realidade.
a finalidade da existência
humana e do real.

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