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Origens da filosofia

“Não há FILOSOFIA QUE


SE POSSA APRENDER,
APRENDE-SE A
FILOSOFAR”
Immanuel kant
“Teeteto – E, pelos deuses, Sócrates, meu
espanto é inimaginável ao indagar-me o que
isso significa; e, às vezes, ao contemplar essas
coisas, verdadeiramente sinto vertigem.
Sócrates – Teodoro, meu caro, parece que não
julgou mal tua natureza. É absolutamente de
um filósofo esse sentimento: espantar-se. A
filosofia não tem outra origem.”
(Platão, Teeteto, 155 c 8)
Atitude filosófica

• A atitude inicial da filosofia consiste no


questionamento das nossas crenças cotidianas.
Quando passamos a questionar aquilo que antes
era verdade, era opinião, iniciamos um movimento
filosófico. Ex. Se ao invés de perguntarmos “que
horas são?”, perguntarmos: “O que é o tempo?”
estamos iniciando um movimento reflexivo e
filosófico.
Filosofia e racionalidade
A filosofia se estrutura quando os seres humanos
começam a exigir provas e justificações racionais que
validem ou invalidem as crenças cotidianas. Mas por
que racionais?
1- Porque racional significa argumentado, debatido e
compreendido.
2- Porque racional significa que, ao argumentar e
debater, queremos conhecer as condições e
pressupostos de nossos pensamentos e dos outros.
3- Porque Racional significa respeitar
certas regras de coerência do pensamento
para que um argumento ou um debate
tenha sentido. Deste modo é possível
chegar a conclusões que podem ser
compreendidas, discutidas e aceitas por
outros.
Atitude crítica

• 1- A primeira característica da atitude filosófica é


negativa, isto é, dizer não aos pré-conceitos, pré-
juízo, aos fatos e às ideias da experiência
cotidiano, ao que todo mundo diz e pensa.

• 2- A segunda característica da atitude filosófica é


positiva, isto é, a interrogação sobre o que são as
coisas, as ideias, os fatos, as situações, os
comportamentos os valores, sobre o que somos. É
também uma interrogação sobre o porquê e o como
• A expressão crítica provém do grego e tem três sentidos
principais:

• 1- Capacidade de julgar, discernir e decidir corretamente.

• 2- Exame racional, sem preconceito e sem pré-julgamento


de todas as coisas.

• 3- Atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma


ideia, um valor, um costume, um comportamento, uma
obra artística ou científica.
O nascimento da filosofia

• Os historiadores da filosofia dizem que ela tem data e local


de nascimento: fim do séc. VII a. C. e início do século VI
a.C., na cidade de Mileto, uma colônia grega no território
da atual Turquia. E o primeiro filósofo foi Tales de Mileto
(624 a.C – 546 a.C.), porque foi o primeiro a afirmar que a
razão pode conhecer a causa da origem, permanência e
transformação de todas as coisas. Além de ter data e local
de nascimento e seu primeiro autor, a filosofia apresenta
um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia.
• Impasse inicial:

• -Ruptura do mito pela razão, o chamado


“milagre grego”.

• -Ideia de continuidade do mito em favor da


filosofia, a qual utilizou suas formas
narrativas para assentar o pensamento
filosófico.
• Não é possível traçar uma
fronteira temporal sendo mais
provável uma conexão orgânica
entre mito e lógos. O
enraizamento do pensamento
mítico na cultura grega não
poderia ser suplantado de modo
radical.
Definição de mito e sua função na
sociedade grega

• O mito corresponde à primeira forma de


representação do real, uma realidade de
forma totalizante (cosmos) ou mais
fragmentada.
• O mito cumpre duas funções fundamentais:
atender às necessidades religiosas e
aspirações morais.
Diferenças fundamentais entre mito e filosofia:

• MITO
• Narrativa a partir de um passado imemorial, longínquo
e fabuloso.
• Narrativa da origem por meio de genealogias,
rivalidades ou alianças entre forças divinas
sobrenaturais e personificadas.
• Presença de contradições, do fabulosos e
incompreensível. Confiança e crença na autoridade
religiosa do narrador.
• FILOSOFIA
• Preocupação em explicar como e porque, no
passado, presente e futuro as coisas são
como são.
• Explicação da produção natural das coisas
por elementos naturais, causas naturais e
impessoais.
• Não admite contradições, mas exige que a
explicação seja coerente, lógica e racional.
Defesa da ruptura:

• Seguindo a esteira de Hegel, Jonh


Burnet defende o distanciamento do
mito e lógos por ser o primeiro
orientado pela religião. O segundo
(lógos) rompe radicalmente com o
padrão religioso.
• “Em suas concepções de gênese e da
constituição do cosmo, tanto as
teogonias poéticas quanto as
cosmogonias filosóficas gregas partem
de concepções e representações
referentes às relações entre homens e
suas gerações” (MONDOLFO, Rodolfo.
1936).
• A grande viragem grega aconteceu
pela mirada para os problemas dos
homens (especificamente a política,
na pólis). Havia, portanto, por trás do
milagre grego a contestação ao que
era divino e a pujança do espírito
especulativo.
Período pré – socrático ou
cosmológico
• Fim do século VII a.C – fim do
século V a.C.: a filosofia se
ocupa fundamentalmente com
a origem do mundo e as
causas das transformações da
natureza.
Filósofos pré-socráticos ou
originários
• Filósofos pré-socráticos foram os filósofos da Grécia
 que, como sugere o nome, antecederam a Sócrates Essa
divisão propriamente se dá mais devido ao objeto de sua 
filosofia, em relação à novidade introduzida por Platão, do
que à cronologia – visto que, temporalmente, alguns dos
ditos pré-socráticos são contemporâneos a Sócrates, ou
mesmo posteriores a este (como no caso de alguns 
sofistas).
• Primeiramente, os pré-socráticos, também
chamados naturalistas ou filósofos da natureza –
entendendo-se este termo não em seu sentido
corriqueiro, mas como realidade primeira, originária
e fundamental, ou o que é primário, fundamental e
persistente, em oposição ao que é secundário,
derivado e transitório — , tinham como escopo
especulativo o problema cosmológico, ou cosmo-
ontológico, e buscavam o princípio (ou arché) das
coisas. Eles introduziram ao Ocidente a noção de o
mundo como um kosmos, um arranjo ordenado que
poderia ser entendido via inquirição racional.
• A originalidade desses filósofos emerge com o uso
da especulação racional na tentativa de
compreender a realidade que se manifesta aos
homens.
• Durante todo o século VI, foi sobre a physis, o
mundo natural, que se exerceu sobretudo a
especulação racional dos gregos. Physis vem de
phyein (emergir, nascer, crescer, fazer crescer) e
designa tudo que brota, cresce, surge, vem a ser.
Os milésios
• Os primeiros filósofos são da cidade de
Mileto, e floresceram no séc. VI a. C.: Tales,
Anaximandro e Anaxímenes. O ponto de
partida de sua especulação parece ter sido a
verificação da permanente transformação das
coisas umas nas outras, e sua intuição básica
é de que todas as coisas são uma coisa só
fundamental, ou um princípio (arché).
• Aristóteles sugere que esse princípio ou
arché deve ser entendido não só no
sentido cronológico: não só aquilo a
partir do que o mundo se formou, mas
aquilo que a todo instante é a coisa
fundamental e irredutível que constitui
todas as coisas. Para Tales, a arché é a
água; para Anaximandro; o apeiron
(infinito, indeterminado); para
Anaxímenes, o ar.
os pitagóricos
• Para os pitagóricos, membros da escola
fundada por Pitágoras de Samos, o limite e o
ilimitado são princípios, ao mesmo tempo,
das coisas e dos números, uma vez que
foram levados a afirmar que “as coisas são
números”. A afirmação parece estranha, mas
há que lembrar que a noção de um inteligível
puro só é nitidamente reconhecível em
Platão.
• HERÁCLITO: Defendeu a impermanência
das coisas. O mundo todo é visto como um
fluxo incessante, onde só permanece estável
e inalterável o logos que rege a inevitável
transformação de todas as coisas. Tudo flui.
“Heráclito diz algures que tudo está em
mudança e nada permanece parado, e,
comparando o que existe à corrente de um rio,
diz que não se poderia entrar duas vezes no
mesmo rio.” (Platão, Crátilo 402 a).
• PARMÊNIDES: Ao contrário de Heráclito, verdadeiro
fundador do eleatismo, vai afirmar a unidade e a imobilidade
do ser. O filósofo dedica-se a noção do SER e a descobrir as
exigências lógicas dessa noção. A busca racional do ser vai
revelar um ser uno, imutável, eterno (caso contrário, tem-se
que apelar para a noção do “não-ser”, o que é impossível.
“Os únicos caminhos da investigação em que se pode pensar:
um, o caminho que é não pode não ser, é a via da Persuasão,
pois acompanha a Verdade; o outro que não é e é forçoso que
não seja, esse digo-te é um caminho totalmente impensável.
Pois não poderás conhecer o que não é (isso é impossível),
nem declará-lo” (Proclo, in Tim, 1, 345, 18 Diehl).
Período socrático ou antropológico

• Fim do séc. V a.C. – fim do séc. IV a.


C.: a filosofia investiga as questões
humanas – isto é, a ética, a política e
as técnicas. Além disso, busca
compreender qual é o lugar do ser
humano no mundo.
“Conhece-te a ti

mesmo”

“Só sei que nada


sei.”

Sócrates
Sócrates (469 – 399 a.C.)

Crítica aos sofistas: não tinham amor


pela sabedoria nem respeito pela
verdade e defendiam qualquer ideia, se
isso fosse vantajoso. Corrompiam o
espírito da juventude, faziam o erro e a
mentira valerem tanto quanto a verdade.
• Concordância com os sofistas:
• A educação antiga do guerreiro belo e
bom já não atendia às exigências da
sociedade grega.

• Os filósofos cosmologistas defendiam


ideias tão contrárias entre si que também
não eram fonte segura para o
conhecimento verdadeiro.
• Sócrates fazia perguntas sobre as ideias e os
valores nos quais os gregos acreditavam e
julgavam conhecer. Para desconcerto geral,
dizia “Eu também não sei a resposta, por isso
estou perguntando”.
• A consciência da própria ignorância é o
começo da filosofia, dizia ele. O que
procurava Sócrates? A definição daquilo que
uma coisa, ideia um valor são
verdadeiramente – ou seja, sua essência.
Características do período socrático
• A filosofia parte da confiança no ser humano
como um ser racional, capaz de conhecer-se
a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão.
• Método: a filosofia considera que o
pensamento deve oferecer a si mesmo
caminhos, critérios e meios próprios para
saber o que é verdadeiro e como alcançá-lo
em todo que investigamos.
• A filosofia se volta para as questões humanas
no plano da ação, dos comportamentos,
ideias, crenças e valores. Ao buscar a
definição das virtudes morais (do indivíduo) e
das virtudes políticas (do cidadão), a filosofia
toma como objeto central a ética e a política.
• Separação radical: de um lado a opinião e as
imagens das coisas (trazidas pelos sentidos,
hábitos tradições e interesses) e de outro
lado os coneitos e as ideias.
• A reflexão e o trabalho do
pensamento são tomados como uma
purificação intelectual que permite ao
espírito humano conhecer a verdade
invisível, imutável, universal e
necessária.
• Alegoria da Caverna de Platão:
separação entre sensível e inteligível.
Referências

• CHAUI, M. Convite à filosofia. 13 ed. São Paulo, Ática, 2006.

• COTRIM, G. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 15 ed.


São Paulo: Saraiva, 2001.

• REZENDE, Antônio. Curso de filosofia. 13ª ed. Rio de Janeiro, Zahar, 2005.

• POLITO, Antony Marco Mota, FILHO, Olavo Leopoldino da Silva. A filosofia


da natureza dos pré socráticos. Cad. Bras. Ens. Fís., v. 30, n. 2: p. 323-
361, ago. 2013

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