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Resumo para Prova P1 2012 História do Pensamento Filosófico :

Quando se fixou na terra, o homem passou a viver de forma mais segura e


confortável, o que permitiu que ele passasse a refletir a respeito de sua própria
condição, indagando sobre suas origens e sobre os fenômenos naturais.
Na busca de compreender seu lugar no mundo, ele concebeu primeiro a
Teogonia, que vem do grego theos, deus, + genea, origem, representada por um
conjunto de deuses que constituíram o saber mitológico desses povos.
Os primeiros pensadores gregos foram os pré-socráticos da Escola Jônica,
dividida em Escola Jônica Antiga (Tales, Anaximandro e Anaxímenes) e Escola
Jônica Nova (Heráclito, Empédocles e Anaxágoras). Porém, eles se concentravam
somente no primeiro elemento
formador de tudo aquilo que observavam, sem se preocupar com as causas das
mudanças.

O pensamento filosófico teve início nas colônias gregas, nos séculos VI e V a.C.,
da região periférica (pré-socráticos) para o centro, em Atenas (sofistas e filósofos
socráticos). Há também um questionamento se a filosofia na Grécia não seria
produto de filosofias orientais, pertencentes a outras civilizações.
Como resposta, há basicamente duas correntes que se ocupam em delimitar
essas influências. Uma delas acredita que a filosofia grega seria mesmo
resultado da contaminação cultural com pensamento de outros povos. Já a
segunda, destaca que a filosofia grega revela-se como produto único dos gregos,
livre de qualquer influência estrangeira. Atualmente, o mais correto seria
considerar a combinação das duas possibilidades.
A filosofia antiga pode ser dividida em três períodos:
Primeiro período: do século VII até o ano de 450 a.C., de Tales até Sócrates.
Caracteriza-se pela formação ou juventude, uma vez que é durante ele que se
estuda a natureza, passando a ser conhecido e chamado de Período
Cosmológico.
Segundo período: de 450 a.C. até o século III d.C., de Sócrates até o ecletismo.
Seu foco central está no ser humano; por isso, essa fase recebeu o nome de
Período Antropológico.
Terceiro período: do século I até o século VI d.C. Por três séculos coincide com o
período antropológico; mas deixa evidente a decadência da filosofia grega, e seu
foco passa a ser Deus ou a união teosófica com Ele. Por essa razão, denomina-se
Período Teosófico.

Sócrates
O conhecimento é uma apreensão intuitiva de universais conceituais.
O bem é igual a virtude e é o mesmo que a felicidade que é
proporcionado pelo conhecimento. O bem, portanto, é a essência das
coisas.
Sócrates foi um divisor de águas na história da filosofia na Grécia Antiga, que se
divide entre os filósofos pré-socráticos e pós-socráticos, tal foi sua relevância
para o pensamento filosófico ocidental.
Sócrates revelava na sua postura filosófica o quanto era importante levar o
conhecimento para os gregos por meio do diálogo como forma pedagógica de
transmissão de saber. Ele também acreditava que a alma humana era imortal e
teria de alertar o homem sobre a necessidade de conhecer a si mesmo.
Além disso, duvidava da possibilidade de a virtude ser ensinada, uma vez que a
moral pressupõe uma questão de inspiração e não de parentesco, já que pais
moralmente perfeitos podem não gerar filhos iguais a eles.
Sócrates destacou ainda que suas ideias não eram próprias, mas sim de seus
mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas. Chamou a atenção
para a limitação da sua sabedoria e da própria ignorância, atribuindo os erros
cometidos à ignorância, pois jamais assumiu ser um homem sábio.
A introspecção sempre foi uma característica marcante da filosofia de Sócrates,
que se revela no famoso lema “conhece-te a ti mesmo”, ou seja, que nos leva a
entrar em contato com a nossa prória ignorância. Alcançava em Sócrates uma
importância tão grande que se personificava na voz interior divina, que poderia
ser de um gênio ou de um demônio.
O fundador do pensamento ocidental também acreditava que a maneira mais
apropriada para as pessoas viverem era se concentrando no próprio
desenvolvimento intelectual, ao invés de buscar a riqueza material. Ele
costumava convidar outras pessoas a se concentrar na amizade e em um
sentido de comunidade, uma vez que acreditava ser esse o melhor modo de um
povo evoluir.
No campo da psicologia, Sócrates deixou sua contribuição ao pensar sobre a
espiritualidade e a imortalidade da alma, destacando a diferença entre as duas
ordens de conhecimento, o sensitivo e o intelectual, sem definir a capacidade de
escolha, mas relacionando a vontade com a inteligência. Na teodiceia, ele
admitiu a existência de Deus com o seguinte argumento teológico: tudo aquilo
que possui uma finalidade resulta de uma inteligência e, se o homem é
inteligente, também deve ser inteligente a causa eficiente que o concebeu.
Pela moral socrática, a lei natural pressupõe um ser superior ao homem, um
legislador, que a sancionou. Portanto, Deus não só existe, como também é
Providência, uma vez que governa o mundo com sabedoria, e o homem pode
atingi-lo por meio de sacrifícios e com orações.
Pela moral socrática, a lei natural pressupõe um ser superior ao homem, um
legislador, que a sancionou. Portanto, Deus não só existe, como também é
Providência, uma vez que governa o mundo com sabedoria, e o homem pode
atingi-lo por meio de sacrifícios e com orações.
Para Sócrates, a forma lógica para chegar ao conhecimento científico de fato
consiste na indução, quer dizer, no percurso do que é particular até o universal,
do foco opinativo à ciência, do experimento ao conceito, leva à definição, para
demonstrar o ideal e a reflexão sobre a essência da realidade.
Ele também é considerado o fundador da ciência, em especial da ciência moral,
defendendo a doutrina de que ética é sinônimo de racionalidade. Além disso, a
virtude é considerada como inteligência, razão e ciência, e não um sentimento,
uma tradição, uma lei e o senso comum. Isso tudo precisa ser superado, fazendo
com que a razão prevaleça.

Platão
O conhecimento é a intuição ou a evocação dos universais, o que
significa que o conhecimento é a idéia que temos sobre as coisas na
perspectiva de classificá-las. Isto significa que a realidade está sob a
luz, no reino das formas e das idéias universais e perfeitas, e temos de
conviver com suas cópias imperfeitas que nos aparecem através dos
sentidos, enquanto fenômenos. Nas idéias encontramos o bem, na
forma do ideal de cada coisa. A alma e a mente (psique) se equivalem,
e a alma é imortal. O bem é a realidade última (a mais importante) e
alcançamos o bem através do conhecimento e da realização harmoniosa
das funções naturais ( os sentidos).
No pensamento filosófico de Platão, essa busca racional possui uma natureza
mais contemplativa, o que implica a busca da verdade no interior do próprio
homem como um agente participante da essência do ser.
Da mesma forma que Sócrates, ocupou-se em desvendar as verdades essenciais
das coisas por meio do conhecimento, desconsiderando o homem na condição
de corpo, mas ressaltando a sua alma pela perfeição e com direito a um lugar no
mundo perfeito das ideias. No entanto, esse formalismo pode ser encontrado na
experiência sensitiva.
Para Platão, também o conhecimento deve ser concebido para uma finalidade
moral, com o objetivo de elevar o homem à instância da bondade e da
felicidade. Assim sendo, a maneira de conhecer era, de fato, uma forma de
reconhecimento, possibilitando o reencontro do ser humano com as verdades já
conhecidas e capacitando-o a discernir sobre o que existe entre a aparência de
verdade (o simulacro) e as verdades propriamente ditas.

A alegoria da caverna é de autoria de Platão e aborda um diálogo entre


Sócrates e Glauco sobre uma espécie de morada subterrânea, com homens
acorrentados, que contemplam sombras projetadas. Platão foi quem escreveu a
alegoria da caverna, e seu objetivo era nos fazer pensar que somos prisioneiros
nela e as coisas que vemos ao nosso redor são sombras projetadas na parede.
Confundimos as sombras com a realidade, supondo que o que vemos é o mundo
real, mas é necessário se afastar do senso comum e da opinião e buscar o
verdadeiro conhecimento. A caverna significa o mundo das aparências, as
sombras representam as coisas que percebemos e a luz do sol representa a luz
da verdade, que se pode atingir através do exercício filosófico. Os homens
presos no interior da caverna são as pessoas presas às crenças e hábitos do
senso comum. A saída da caverna é um processo lento e gradativo que poderá
ser atingido por aqueles que passem a questionar e refletir filosoficamente
sobre as crenças e os hábitos. Aquele que sai da caverna é o filósofo ou sábio.
Ao contemplar a verdade fora dela, ele se lembrará de seus antigos
companheiros e retornará à caverna para tentar convencê-los sobre a verdadeira
realidade. Segundo Platão, há dois mundos: “o mundo sensível da mudança, da
aparência, do devir dos contrários, e o mundo inteligível da identidade, da
permanência, da verdade, conhecido pelo intelecto puro”. Um é o mundo
sensível das coisas, outro é o mundo inteligível das idéias.
Razão significa pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, com
clareza e de modo compreensível para outros. Assim, na origem, razão é a
capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, para
pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira de organizar a
realidade pela qual esta se torna compreensível.

Aristóteles
Aristóteles evolui a razão através de seus raciocínio silogístico e do
método analítico. A realidade deve ser o propósito final das coisas. A
alma (mente, psique) é o princípio vital do corpo. O bem equivale a
felicidade e pode ser alcançado pela virtude. Todas as coisas pretendem
ser virtuosas.
Conhecido como o pensador que mais influenciou a filosofia ocidental,
Aristóteles nasceu em Estagira, na Calcídica, em 384 a.C. Na condição de
discípulo de Platão, ele discordava de uma parte fundamental da filosofia do seu
mestre, que concebia dois mundos distintos, um dominado pelos sentidos
humanos, em processo de mutação perene, e o outro como sendo
das ideias, acessível apenas pelo pensamento intelectual, que é imutável e
atemporal.
Aristóteles aceitava somente a existência do mundo em que vivemos, alegando
que aquilo que se encontra além da experiência humana não poderia fazer
sentido algum para o homem. Na filosofia aristotélica, a lógica é considerada
como uma introdução para o conhecimento, baseada em uma estrutura de
raciocínio que inclui pressupostos criados para que se possa chegar à etapa
conclusiva.

Quais são os princípios racionais?


a) O Princípio da identidade, afirma que uma coisa, seja ela qual só pode ser
conhecida e pensada se for percebida e conservada com sua identidade
(particulares).
b) O Princípio da não-contradição, afirma que é impossível que o triângulo
tenha e não tenha três lados e três ângulos; que o homem seja e não seja
mortal; que o vermelho seja e não seja vermelho, etc. Sem o princípio da não-
contradição, o princípio da identidade não poderia funcionar. O princípio da não-
contradição afirma que uma coisa ou uma idéia que se negam a si mesmas não
existem.
c) O Princípio do terceiro-excluído, define a decisão de um dilema - “ou isto
ou aquilo” - e exige que apenas uma das alternativas seja verdadeira. Por
exemplo: “Ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates”; “Ou faremos a guerra
ou faremos a paz”. Mesmo quando temos, por exemplo, um teste de múltipla
escolha, escolhemos na verdade apenas entre duas opções - “ou está certo ou
está errado” - e não há terceira possibilidade ou terceira alternativa, pois, entre
várias escolhas possíveis, só há realmente duas, a certa ou a errada.
d) O Princípio da razão suficiente também chamado de princípio da
causalidade, que afirma que tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma
razão (causa ou motivo) para existir ou para acontecer, e que tal razão (causa ou
motivo) pode ser conhecida pela nossa razão.
Quando o raciocínio tem como ponto de partida uma idéia geral e extrai uma
conclusão que já estava implícita nessa idéia geral, chamamos de uma dedução.
Por exemplo:
Todos homens são mortais.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.

Por outro lado, quando se infere uma verdade geral a partir de um caso singular,
estamos pensando de forma indutiva, e isto é chamado de uma indução:
O cobre, a prata, o ferro, o zinco são condutores de eletricidade
Logo, todo metal é condutor de eletricidade.
A diferença entre a indução e a generalização, é que na indução nós verificamos
primeiro as qualidades que se apresentam iguais em cada coisa ou cada
indivíduo, para depois chegarmos a uma conclusão. Na generalização, nós
aceitamos que a qualidade de uma única coisa ou de um único indivíduo serve
para descrever todas as outras coisas ou indivíduos:
Generalização: João é um homem forte, logo todos os Joãos são homens fortes.
Giló é um vegetal verde e amargo, logo todo vegetal verde é amargo.

Indução: A maçã tem vitaminas. A laranja tem vitaminas. A banana tem


vitaminas. Toda fruta tem vitaminas.

Aristóteles colaborou em larga escala para o desenvolvimento de muitas


ciências;
mas uma retrospectiva do legado do seu pensamento para a humanidade
permite perceber que o valor dessa contribuição foi bastante desigual. A sua
química e a sua física são bem menos significativas do que as investigações no
domínio das ciências da vida. Isso ocorreu porque ele não possuía relógios
precisos nem qualquer tipo de instrumento de medição.
Aristóteles também não tinha consciência da importância da velocidade e da
temperatura. Na mesma medida em que seus escritos zoológicos continuavam a
ser considerados impressionantes pelo próprio Darwin, a sua física estava já
ultrapassada no século VI d.C. Ao contrário do seu trabalho nas ciências
empíricas, há aspectos da filosofia teórica de Aristóteles que ainda têm muito a
nos ensinar, com destaque para suas afirmações sobre a natureza da linguagem,
da realidade e da relação entre as duas.
Nas duas categorias, Aristóteles apresenta uma lista dos diferentes tipos de
coisas que podem afirmar-se a propósito de um indivíduo. Essa lista contém dez
artigos: substância, quantidade, qualidade, relação, espaço, tempo, postura,
vestuário, atividade e passividade.
Na sua escola em Atenas, chamada Liceu, Aristóteles dava preferência às
ciências naturais, que estudavam exemplares da fauna e da flora das regiões
conquistadas. Os estudos abrangiam as áreas do conhecimento clássico da
época, como a filosofia, procurando estabelecer as bases dessas disciplinas e
também a metodologia científica do estudo.
No campo da psicologia, Aristóteles toma como base os conceitos de alma e de
intelecto, sendo a primeira a essência de um corpo que possui vida em
potencial. Já o intelecto, na visão dele, não fica restrito somente a uma relação
exclusiva com o corpo, uma vez que a sua ação vai mais longe. Nesse contexto,
o organismo desenvolvido assume a forma que vai lhe permitir a perfeição por
intermédio da ação. Essa seria a alma, que faz com que a flora cresça e a fauna
se reproduza. Para o homem, além de a alma apresentar atributos vegetativos e
sensitivos, ela tem também a inteligência, que reúne condições de captar a
essência de tudo, independentemente da condição orgânica. O filósofo também
acreditava que a mulher era um ser incompleto e passivo, enquanto o homem
seria o ser em ação.

Para Aristóteles, a ética pode ser considerada como a ciência das condutas, que
estuda assuntos que podem sofrer alteração. Sendo assim, ela se debate com
aquilo que é essencial e imutável no ser humano, com o que pode ser adquirido
por atitudes repetidas ou por costumes que legitimam as virtudes e os vícios. O
seu objetivo último, portanto, consiste na garantia ou na possibilidade de
conquista da felicidade. Tomando como princípio as disposições naturais do
homem, a função da moral consiste em demonstrar como elas necessitam ser
mudadas para se adaptar à razão. Ainda na visão dele, as virtudes se realizam
sempre na esfera do homem e perdem sentido quando as relações humanas
deixam de existir.
Já a virtude, seja ela especulativa ou intelectual, diferencia-se porque faz parte
de um universo filosófico limitado que, excluindo a vida moral, busca o
conhecimento pelo conhecimento. Dessa maneira, na filosofia aristotélica, a
prática da contemplação volta o homem para Deus. Nesse sentido, se a ética
está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se ocupa em
investigar as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a
felicidade coletiva na constituição do estado.

A FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA


A filosofia da Idade Média pode ser considerada como o pensamento filosófico
ocidental que preencheu o espaço entre o fim do mundo antigo, determinado
pela queda do Império Romano do Ocidente (476), e pelo começo dos tempos
modernos, que têm seu início a partir da conquista de Constantinopla (1453) ou
do princípio da Reforma Religiosa em 1517. A essa filosofia medieval posterior a
1500, costuma-se dar o nome de filosofia escolástica, que começou mesmo no
século IX. Por isso, vamos dividir a filosofia da Idade Média em dois grandes
períodos – a filosofia patrística e a filosofia escolástica. No período medieval,
enquanto Agostinho buscou sua inspiração na filosofia platônica, Tomás de
Aquino preferiu os pensamentos de Aristóteles para elaborar a filosofia
metafísica cristã.

Se traçarmos um perfil da filosofia medieval pelo seu conteúdo, naquilo que


corresponde à sua essência espiritual, podemos conceituá-la como o
pensamento filosófico ocidental que vem desde Santo Agostinho e de Anselmo
de Cantuária, obedecendo ao mote: “saber para crer, crer para poder saber”.
Durante esse período, a filosofia, que tem por objetivo tratar dos grandes
problemas do mundo, do homem e de Deus só com as forças da razão, alia-se
com a fé religiosa no pressuposto de uma unidade ideológica.
Como nunca, todos vivem na certeza da existência de Deus, da sua sabedoria,
do seu poder e da sua bondade. Nesse sentido, o homem podia dizer, com
segurança, que sabia da origem do mundo e da sua própria natureza, cheia de
sentido, bem como a sua essência homem e a sua posição no universo, tendo
em vista a significação da sua vida e a imortalidade.
Enquanto na era moderna indaga-se a respeito da possibilidade da ordem e da
lei, na época medieval a ordem estabelece-se como algo evidente, sendo nossa
a tarefa de reconhecê-la.

No início da patrística, a Idade Média encontrou seu direcionamento, que foi


preservado até o final. O padre Agostinho destacou-se entre o clero. Pela sua
imensa sensibilidade e pela sua postura compreensiva, Agostinho juntou a
patrística grega com o caráter prático da patrística latina, mesmo que os
problemas que o preocupassem fossem de ordem prática e moral, como o mal, a
liberdade e o destino.
Para ele, a filosofia era a solução para os problemas da vida, para os quais
apenas o cristianismo podia dar uma solução definitiva. Portanto, seu maior
interesse estava restrito aos problemas de Deus e da alma, por serem os mais
relevantes. Mesmo minimizando o conhecimento dos sentidos em relação ao
conhecimento intelectual, Agostinho afirmou que os sentidos, assim como o
intelecto, também consistem em fontes de conhecimento.

A escolástica pode ser entendida como a linha filosófica adotada pela Igreja na
alta Idade Média. Esse modo de pensar essencialmente cristão buscava
respostas que justificassem a fé na doutrina ensinada pelo clero, considerado
como o guardião das verdades espirituais. Essa escola filosófica prevaleceu do
princípio do século IX até o final do século XVI, época que representou o declínio
da Era Medieval.
A tarefa dos escolásticos consistia, portanto, em harmonizar ideais platônicos
com fatores de natureza espiritual, inseridos no cristianismo vigente ocidental.
Mesmo quando Aristóteles é contemplado no pensamento cristão por Tomás de
Aquino, o neoplatonismo adotado pela Igreja ainda é preservado, fazendo com
que a escolástica seja permanentemente atravessada por dois universos
distintos – o da fé herdada da mentalidade platônica e a razão aristotélica.
As soluções oferecidas pela escolástica podem ser basicamente divididas em
três: a solução chamada de realismo transcendente, a solução do realismo
moderado e a solução nominalista. Segundo a solução proposta pelo realismo
transcendente, a ideia de uma realidade existe além da esfera mental e do
objeto,
consistindo na solução platônica adotada pela escolástica iniciante. Já a solução
do realismo moderado traz em si uma realidade objetiva e fora do campo
mental. Nesse sentido, a solução conceptualista nominalista
destaca que o universal não possui existência objetiva, mas somente mental ou
nominal.

No caso de Agostinho, havia o clamor pelo predomínio da fé em detrimento da


razão, ao passo que, em Tomás de Aquino, se acreditava na independência da
esfera racional na busca de respostas mais apropriadas, embora não houvesse
rejeição à primazia da fé sobre a razão.
Podemos afirmar que o tomismo, ou a doutrina escolástica de Tomás de Aquino,
adotada oficialmente pela Igreja Católica, caracteriza-se, principalmente, pela
tentativa de conciliar a filosofia de Aristóteles com o cristianismo, desfazendo-se
das doutrinas que não estavam enquadradas de acordo com os princípios
aristotélicos.
Contudo, o tomismo não foi totalmente aceito pelos escolásticos medievais,
sendo adotado apenas na segunda metade do século XVI como arma de defesa e
ataque da Contrarreforma da Igreja Católica.
Coube a Tomás de Aquino a tarefa de mostrar a solução definitiva para o conflito
existente nas relações entre a razão e a fé. Estamos falando de duas ciências – a
filosofia e a teologia. A primeira baseia-se no exercício da razão humana,
enquanto a segunda, na revelação divina. Apesar de seremindependentes,
apresentam, por vezes, objetos de estudo comuns, como a existência de Deus, a
essência da alma, entre outros.
Segundo o tomismo, a distinção entre essas ciências tem origem mais do objeto
formal, pois a teologia estuda o dogma pelo método da autoridade ou da
revelação, e a filosofia o analisa pela demonstração científica ou pela razão.
Portanto, teologia e filosofia não são ciências contraditórias, pois ambas
procuram a verdade, e esta é uma só. Na hipótese de uma contradição entre a
razão e a revelação, o erro não será jamais da teologia, mas sim da filosofia; pois
nossas limitações do ponto de vista do conhecimento racional desviaram-se e
não conseguiram atingir a verdade. Em resumo, todo ser material existe por
causa do cruzamento de quatro causas – material, formal, eficiente e final, que
constituem todo ser na realidade e na ordem com os demais seres vivos do
universo.
Para Tomás de Aquino, nada está na inteligência que não tenha estado antes nos
sentidos, motivo pelo qual não podemos ter de Deus, de pronto, uma noção
imediata. Com o objetivo de provar sua existência, Tomás procede a posteriori,
ou seja, não da ideia de Deus, mas sim dos efeitos por Ele proporcionados.
Dessa forma, ele utiliza o mundo sensível, cuja existência é dada pelos sentidos
como ponto de
partida, bem como a metafísica de Aristóteles, para demonstrar a existência de
Deus de cinco modos, mais conhecidos como as famosas cinco vias:
A do “Movimento” – trata-se do argumento aristotélico do primeiro motor, que
afirma “não ser
possível admitir uma série infinita de seres que se movem, movendo por sua vez
outros seres; logo, é preciso chegar a um motor que mova sem ser movido”.
Portanto, o movimento existe e é uma evidência para nossos sentidos. Tudo
aquilo que se move é movido por outro motor; e se esse motor, por sua vez, é
movido, vai necessitar de um motor que o mova, e assim por diante de forma
infinita, o que é impossível, se não houver um primeiro motor imóvel, que move
sem ser movido, que é Deus.
A da “Concatenação das Causas” – tudo está sujeito à lei de causa e efeito.
Portanto, existe
uma série de causas e efeitos ao mesmo tempo. Sendo assim, torna-se
impossível remontar
indefinidamente na série das causas. Logo, há uma causa primeira, não causada,
que é Deus.
A da “Contingência” – todos os seres conhecidos são finitos, pois não possuem
em si próprios
a razão de sua existência. São e deixam de ser. Se são todos mortais, em um
prazo de tempodeixariam de ser e nada mais existiria, o que é absurdo.
Portanto, os seres contingentes implicam o ser necessário, ou seja, Deus.
A dos “Graus de Perfeição” – todas as perfeições possuem graus, que se
aproximam mais ou
menos da perfeição absoluta. Deve, pois, haver um ser supremo perfeito, que é
Deus.
A da “Ordem Universal” – todos os seres tendem para uma ordem, não de forma
aleatória, mas
por uma inteligência que os guia. Isso significa que há um ser inteligente que
ordena a natureza
e a impulsiona para seu fim. Esse ente é Deus.
A partir desses conceitos, Tomás de Aquino concluiu o quanto podemos conhecer
sobre a natureza e as virtudes de Deus. No entanto, observou que esse
conhecimento é imperfeito, pois sabemos que “Deus é”, mas não “O que é”.
Mesmo assim, podemos compreender que Deus é eterno, infinito e onipotente
em suas relações com o mundo, além de ser Criador e Providência.
Nesse sentido, a doutrina tomista acredita que a alma, como princípio espiritual,
une-se ao corpo,
como princípio material, para constituir uma substância. Dessa forma, possuem
alma as plantas, sendo a “alma vegetativa” a responsável pelas funções de
alimentação e reprodução. No caso dos animais, é a “alma sensitiva” que
responde às funções anteriores, mais à sensação e à mobilidade. Para o
homem,juntam-se todas as funções anteriores, acrescentando-se a racional.

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