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NOSSA HISTÓRIA
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SUMÁRIO
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6.2.5 - Morte Imprevista ................................................................................................. 26
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9.1 - Revolução Industrial .............................................................................................. 52
NOTAS ........................................................................................................................... 62
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 62
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História da Filosofia
Caro aluno nessa disciplina você vai conhecer as origens da Filosofia, busque
fazer as leituras e as reflexões propostas pelo material didático. Bons Estudos.
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2 - Mitologia grega
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Seu patrimônio também influi na ciência, como no caso dos nomes dados
aos planetas do Sistema Solar em estudos teóricos, acadêmicos, psicanalíticos,
antropológicos e muitos
outros,[10][11][12][13] além de nos dias de hoje tradições neo-pagãs como
a Wicca serem influenciadas por ela e outras como o dianismo, a Stregheria e
principalmente o dodecateísmo (ou neopaganismo helênico) tenham tentado resgatar
suas crenças.
Num contexto acadêmico, a palavra "mito" significa basicamente
qualquer narrativa sacra e tradicional, seja verdadeira ou falsa.[14][15] O sufixo "-logia",
derivado do radical grego "logo",[16][17] representa campo de estudo sobre um assunto
em particular.[17] Com a junção de ambos os termos, "mitologia grega" seria,
basicamente, o estudo dos mitos gregos, ou seja, os que fazem parte da cultura da
Grécia.[1] Sendo assim, o termo não só alude ao estudo dos mitos como também aos
próprios mitos. Como escreve o professor e escritor português Carlos Ceia, "termo de
dupla significação, indica, por um lado, o conjunto dos mitos ou narrativas míticas
relativas a seres sobrenaturais, fantásticos ou de valor super humano e, por outro lado, o
estudo ou interpretação dos mitos."[18]
Hércules e Atena
Cerâmica grega antiga, 480–470 a.C.
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É um termo crítico moderno e, portanto, os próprios gregos e romanos antigos não
se referiam a suas crenças como "mitos" ou "mitologia", mas como religião (ver
capítulo Interpretação), o que ainda hoje em dia ocorre com os neopaganistas helênicos,
embora estes vivam um acontecimento moderno diferente de resgate e preservação e
mesmo certos grupos de adeptos entendam o papel dos mitos
como arquétipos ou símbolos (ver seção Neopaganismo e resgate).[1]
Para mais informações sobre o histórico de interpretação dos mitos gregos, dirija-
se até as sub-seções: Concepções greco-romanas einterpretações modernas. É importante
ressaltar que, nesse artigo, as palavras "mitologia" e "mito" são usadas para as narrativas
tradicionais e sagradas das culturas clássicas, sem qualquer implicação de que esta ou
aquela seja verdadeira ou falsa.[1]
A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia
Antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros
acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos homens.[20] Os gregos antigos
atribuíam a cada fenômeno natural uma criatura ou deus diferente.[21] Certos estudiosos
modernos dizem que, quando passaram a inventar meios de calcular o tempo e quando
criaram mecanismos de datação como o calendário, seus mitos declinaram (ver seção
Declínio logo abaixo).[21] Os poetas atribuíam esses estados térmicos, como também as
relações e as características humanas, aos deuses e a outras histórias lendárias, e elas
serviram durante um bom tempo como cultos ritualísticos na sociedade da Grécia
antiga.[20]
Além das crianças serem educadas através dos mitos, as famílias aristocráticas da
Grécia, assim como os reis, e também profissionais, como os médicos, possuíam a
tradição de se ligarem genealogicamente a antepassados míticos, geralmente divinos, ou
até mesmo heroicos.[20] Os comerciantes também cultuavam deuses, como Hermes,
sempre em tentativa de deixá-lo satisfeito e assim conseguir bons resultados em suas
vendas.[22] Além de serem habituados aos sacrifícios de animais e às orações, os gregos
antigos adotavam um deus particular ou um grupo deles para sua cidade, e os cidadãos
construíam templos e o(s) venerava(m). Essas cidades não possuíam qualquer
organização religiosa oficial, mas honravam os deuses em lugares determinados,
como Apolo exclusivamente em Delfos.[23]
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Mulher ajoelhada diante de um altar. Cerâmica de figuras vermelhas, ca. 510-500
a.C. Antigo Museu Ágora de Atenas
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2.2 - Mito e religião
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respectivas tumbas.[24] Dedicados a um deus ou a um herói, os templos, decorados
com esculturas (de deuses ou heróis) em relevo entre o teto e o topo das colunas, eram
constituídos de pedras nobres como o mármore, usadas no alto da
acrópole.[27] Os antigos teatros gregos, também, eram construídos para determinada
figura mitológica, deuses ou heróis, como o teatro de Dioniso no Santuário de Apolo
em Delfos.[28]
Além da religião ter sido praticada através de festivais, nela se acreditava que os
deuses interferiam diretamente nos assuntos humanos e que era necessário acalmá-los por
meio de sacrifícios.[24] Estes rituais de sacrifício desempenharam um papel importante
na formação da relação entre o homem e o divino.[29] Um dos conceitos mais importantes
quanto a moral para os gregos era o medo de cometer húbris (arrogância), o que constitui
muitas coisas, do estupro à profanação de um cadáver.[30][31]
A mitologia grega é conhecida nos dias de hoje através da literatura grega e de
expressões artísticas visuais como a cerâmica grega que datam do Período
Geométrico[nota 1]em diante. O objetivo deste capítulo é entender como nós,
contemporâneos, tivemos a oportunidade de arrecadar hoje em dia informações tão
antigas quanto são os mitos gregos.[32]
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Ilíada
Livro VIII, linhas 245-53, manuscrito grego, final do século V e começo do VI
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e a Guerra de Troia. Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, Agamenão e seus
filhos, Édipo, Jasão e Medeia, etc.) Trouxeram em sua forma clássica estas peças
trágicas.[37]
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de Filóstrato e Calístrato (respectivamente), também se mostram úteis para o estudo dos
mitos gregos.
Finalmente, vários autores bizantinos, como Arnóbio, João Tzetzes, Hesíquio de
Alexandria, Eustácio de Tessalônica e o autor dasuda, providenciaram importantes
detalhes dos mitos, derivados em grande parte de fontes gregas completamente perdidas.
Importante notar, no entanto, que a atitude bizantina é a de frequentemente abordar os
mitos sob uma perspectiva moral cristã.
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Schliemann começou seu trabalho em 1870, com o intuito de averiguar se as
histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram
verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar
dois diademas de ouro, 4 066 plaquetas, 16 estatuetas, 24 colares de
ouro, anéis, agulhas, pérolas (total de 8 700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram
certezas de que a mítica cidade de Troia existiu no local há milênios.
Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C. Que
retratam o Ciclo de Troia, como também as aventuras de Hércules.[7] Por dois motivos,
essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar,
muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de vaso antes do que na literatura
escrita – das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura
de Cérbero é apresentada pela primeira vez em um texto literário[46] – e, em segundo
lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em
quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira representação
conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos,
a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica.[32] Nos períodos arcaico (750–
c. 500 a.C.), clássico (480–323 a.C.), e helenístico, Homero e várias outras personalidades
surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.[32]
3 - Filosofia pré-socrática
Tales de Mileto: Para este solteirão a água era o elemento principal de todas as
coisas, e assim sua origem. Ele também, entre outras concepções, percebia em “Deus” a
inteligência que regia todo o universo, para ele Deus é o “começo e o fim”.
Anaxímandro de Mileto: Escreveu três livros sobre a natureza. Criou a ideias de
um elemento indeterminado, que daria forma a tudo. Ele também produziu uma certa
ideias de evolução entre as espécies.
Anaxímenes de Mileto: Para ele o ar era o elemento principal. Tudo vinha do ar e
no ar tudo se resolvia.
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3.2 - Escola Jônica Nova
Xenófones: Para ele a natureza é ordenada pelo “Ser”, que para ele é Uno, Eterno,
Imutável, Infinito, é Deus. Este Ser, porém não se parecia com os homens, ao contrário
das ideias mitológicas, ele era na verdade “tudo”.
Parmênides de Eléia: para ele o ser é objeto da inteligência, tal qual o sentir é
objeto do sentido. O “ser” se opõe ao “nada”. Tudo teria origem no quente e no frio, que
seriam fogo e terra.
Zenão de Eléia: Era um sofista, para ele o “ser” era imutável. Assim como
Parmênides, ele defendia o ser como objeto específico da inteligência.
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3.5 - Escola Atomista
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4 - Período Socrático
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Ele era Intelectualista, racionalista radical, politicamente absolutista. Acreditava
na dualidade alma-espírito e nas ideias inatas, que teriam origem em vidas passadas.
Defendia o universalismo arquétipo e via a ciência como a redescoberta das ideias inatas
por meio dos sentidos. Acreditava também na existência de um Deus infinito.
Desenvolveu também uma trilogia a acerca da realidade. Acreditava que existia o
campo das Ideias Arquétipas, o Demiurgo (Deus, o artista) e a matéria eterna. O artista
divino projeta as coisas no campo das ideias arquétipas e as materializa na matéria eterna.
Deus é quem põe para funcionar o motor do universo, gerando as primeiras ações que
geraram todas as outras em cadeia.
Politicamente Platão aceitava a desigualdade conforme a capacidade a não
conforme o nascimento.
Aristóteles de Pela - É o responsável pela formalização do pensamento lógico.
Dividiu as operações mentais em três: Ideia, Juízo e Raciocínio. Desenvolveu também a
teoria da potência: “das coisas não existentes, algumas existem em potência, por não
existirem em atos.” Politicamente tolerava a escravidão, argumentando que alguns
indivíduos seriam destinados naturalmente para isto, devido a sua incapacidade para
atividades intelectuais.
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Também ensinava a “viver em reclusão”, ou seja, em meio a correria da sociedade dizia
que as pessoas deveriam afastar-se de tudo e aproveitar a vida.
Outro enfoque de seus ensinamentos era a ideia de não preocupar-se com os
deuses, ou com os possíveis castigos dos mesmo, pois para ele a vida terminava por aqui
mesmo, não estendendo-se ao pós-morte. Isso, ele justificava pela teoria do átomo,
desenvolvida por Demócrito, pela qual o menor elemento fundamental de todas as coisas
é o átomo, que constituiria tudo. Segundo Epícuro, quando morremos o que ocorre na
verdade é o desmonte de nossos átomos que espalham-se para dar origem a outras coisas.
Inclusive, para ele, os átomos da alma também se espalham.
Já os estóicos, acreditavam que cada pessoas era um mundo em miniatura, um
mini-cosmos. Todos fazem parte de um todo harmônico (Kosmos), que se completa. Para
eles o universo é um deus, que se ordena sozinho, e o homem, também divino, faz parte
desse todo.
Não há espírito, alma, matéria, tudo é uma coisa só, na concepção estóica. Para
eles é preciso viver liberto do luxo, em harmonia com o universo, para poder se suportar
em paz os sofrimentos, que seriam inevitáveis à vivência. Os estóicos buscavam da
relação com o outro e com o todo, através de suas ações e sua ética, alcançar uma vida
boa.
Estas duas linha filosóficas já eram bastante conhecidas em todo território de
domínio romano quando do surgimento do cristianismo. Talvez um dos primeiros
encontros entre filósofos destas duas linhas e pregadores cristãos seja o que está relatado
no Livro de Atos, na Bíblia, quando o apóstolo Paulo vai a Atenas e começa a ensinar em
uma praça, sendo contrariado dos defensores destas duas linhas que ali debatiam entre si
há tempos.
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Quando criança era cristão, mas depois passou por outras religiões, como a dos
maniqueus, que formavam uma seita e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e
luz, espírito e matéria. Acreditavam que com o seu espírito, o homem pode transcender a
matéria. O maniqueísmo contém uma visão dualista radical, bem e mal são tomados como
princípios absolutos. Posteriormente, Agostinho combateu essa doutrina, que foi criada
por Manes. De início ele recusava a ler a Bíblia, por considerá-la vulgar. Teve um caso
de amor, envolto em paixões mundanas, e nasceu um filho, que falecido ainda
adolescente. Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento de
duas famílias. Foi professor de retórica em Cartago, mas depois mudou-se para Roma.
Sua mãe foi contra a mudança e Agostinho teve de enganá-la na hora da viagem. De Roma
foi para Milão, lecionar retórica. Muito influenciado pelos estóicos, por Platão e o
neoplatonismo, também estava entre os adeptos do ceticismo. Abandonou o
maniqueísmo, que critica.
Converteu-se então à fé cristã, depois de conhecer a palavra do apóstolo Paulo, e
batizou-se aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do cargo de professor e voltou a
Tagaste, onde fundou uma comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente
a fé, como foi comum na Idade Média. Mostrou que, sem a fé, a razão não é capaz de
levar à felicidade. A razão, para Agostinho serve de auxiliar a fé, esclarecendo e tornando
inteligível aquilo que intuímos. Ele tinha tomado contato com o pensamento neoplatônico
onde a natureza humana contém parte da essência divina. Demonstrou que há limites para
a racionalidade. Receberemos um saber que está além do natural. Com o cristianismo,
uma luz inundou seu coração, sua alma encontrou a paz. Virou vigário aos trinta e seis
anos, praticando a vida ascética.
Santo Agostinho escreveu Contra os Acadêmicos, direcionado à filosofia cética e
expôs a teoria de que os sentidos dizem algo verdadeiro. O erro provém do juízo que
fazemos das sensações, e não delas próprias. A sensação não é falsa, o que é falso é querer
ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de Hipona. Agostinho
ficou conhecido por “cristianizar” Platão, fazendo vários paralelos entre a parte
espiritualista dele (que diz existir um mundo transcendente) e as Sagradas Escrituras. Faz
a distinção entre o corpo, sujeito à sorte do mundo, e a alma, que é atemporal, e com a
qual se pode conhecer Deus. Antes de Deus ter criado o mundo a partir do nada as Ideias
eternas já existiam na sua mente. Deus é a bondade pura.
Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela viver. Assim, apesar da
humanidade ter sido amaldiçoada depois do pecado original, alguns alcançarão a verdade
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divina, a salvação. Isso depende do uso que fazemos do livre arbítrio, a faculdade que o
indivíduo tem de determinar de acordo com a sua própria consciência a sua conduta, livre
da Divina Providência, enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão, de opção. Durante
um diálogo, Agostinho chega a conclusão que o mal não provém de Deus, mas sim do
mau uso do livre arbítrio. De fato, para ele não existe mal, apenas a ausência de Deus.
(com isso ele refuta de vez a doutrina dos maniqueus). Essa teoria encontra-se no livro O
livre arbítrio.
Com uma vida errada, a alma fica presa ao corpo, porém a relação correta é a
inversa. Os órgãos sensoriais sentem a ação dos elementos exteriores, a alma não. Deus
é a fonte dos conhecimentos perfeitos e não o homem. A experiência mística leva à
iluminação divina. Assim se chega às verdades eternas, e o intelecto então é capaz de
pensar corretamente a ordem natural divina. A unidade divina é plena e viva, e guarda a
multiplicidade. O amor de Deus é infinito. A graça e a liberdade complementam-se.
Na obra a Cidade de Deus, Agostinho faz oposição entre sensível e inteligível,
alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à
filosofia, interpretando a história da humanidade como o conflito entre a Cidade de Deus,
inspirada no amor à Deus e nos valores que Cristo pregou, presentes na Igreja, e a Cidade
humana, baseada nos valores imediatos e mundanos. Essas cidades estariam presentes na
alma humana, e no final a Cidade de Deus triunfaria.
Outra obra importante são as Confissões, que é autobiográfica. Essa obra faz dele
um precursor de Descartes, Rousseau e o existencialismo. Acredita na verdade contida
nos números, que fazem parte da natureza.
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6.1.2 - Frases e Pensamentos de Santo Agostinho
"Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, pois você irá
perder um amigo. Porém, se dois estranhos pedirem a mesma coisa, aceite, pois você irá
ganhar um amigo."
"Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que entendemos
sobre a natureza."
"Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz
respeito a buscar o prazer e evitar a dor."
"Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não
é nos evangelhos que você crê, mas em você."
"Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver
aquilo em que você acredita."
"A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar."
"A confissão das más ações é o passo inicial para a prática de boas ações."
"A verdadeira medida do amor é não ter medida."
"Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas
não é sadio."
Tomás de Aquino que foi chamado o mais sábio dos santos e o mais santo dos
sábios. Nasceu em março de 1225 no castelo de Roca-Sica, perto da cidade de Aquino,
no reino de Nápoles, na Itália. Com apenas cinco anos seu pai, conde de Landulfo
d’Aquino, o internou no mosteiro de Monte Cassino. Aí iria ser educado pelos sábios
monges beneditinos, ordem religiosa fundada por Bento de Núrsia exatamente naquele
local.
Tomás fez com raro brilhantismo os primeiros estudos. Mais tarde frequentou a
Universidade de Nápoles. Conheceu então os frades dominicanos, seguidores de
Domingos de Gusmão, fundador da ordem dita dos pregadores. Tinha dezoito anos e
resolveu fazer-se dominicano. Seus pais e irmãos ficaram decepcionados, pois Tomás era
genial e tinha uma carreira fulgurante pela frente. Não queriam que ele fosse um frade de
uma ordem mendicante.
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Como a família o importunasse no Convento de Nápoles, Tomás foi transferido
para Paris.
À força foi de lá retirado e trazido de volta ao castelo paterno. Tudo fizeram para
lhe tirar da cabeça a ideia de ser padre. Nada o convencia: nem rogos, nem promessas de
uma existência com tudo que uma família rica pode oferecer.
Seus irmãos imaginaram armar-lhe uma cilada. Foi um plano realmente diabólico.
Introduziram no seu quarto uma mulher bonita, charmosa, jovem, mas sem moral.
Pensaram eles que Tomás não resistiria. Entregar-se-ia a ela. Desistiria de sua
vocação eclesiástica. A provocação era de baixo nível. Grande a tentação. Ao entrar a
moça no quarto, Tomás compreendeu que deveria agir sem demora. O perigo era
iminente. Então ele que estava entregue a uma piedosa leitura, imediatamente se levantou.
Arrancou um tição da lareira. Com ele na mão, como uma espada de fogo, pôs a mulher
em fuga.
A moça gritou e sumiu. Deve ter pensado que estava a lidar com um louco furioso
agitando chamas, ameaçando, na aparência, deitar fogo à casa. Tomás, logo que ela saiu
foi correndo até à porta, a fechou e a trancou. Num impulso natural esmurrou o tição
incandescente na porta e traçou nela com o carvão um grande sinal da cruz. Jogou o que
sobrou do carvão no fogo. Sentou-se de novo na sua cadeira e voltou a estudar.
Após dois anos, sua mãe Teodora concordou em libertá-lo. Deixou-se seguir para
o convento de Nápoles em 1245. Acompanhado pelo Superior Geral, João o Teotônico,
Tomás partiu para Paris. Dali foi para Colônia na Alemanha. Foi discípulo de Santo
Alberto Magno com o qual logo se afinou culturalmente. Os estudantes de Colônia eram
ávidos de discussões filosóficas. Nelas Tomás tomava parte ativamente.
Grande o proveito que tirou das sábias preleções de filosofia e teologia de Alberto
Magno, cujos conhecimentos eram enciclopédicos. Com ele Tomás aprendeu que a
verdadeira vida de um ser racional é fazer de sua inteligência uma ascensão contínua até
chegar aos mais altos conhecimentos inteligíveis, atingindo a ciência da alma e a ciência
de Deus. Ótimo discípulo, Tomás se distinguiu entre os colegas, obtendo fama pelo seu
talento indiscutível.
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6.2.3 - O boi mudo
Muito provavelmente foi porque deram a ele o apelido de “o boi mudo” que um dia os
frades resolveram brincar com Tomás. Este estava, como sempre, andando no claustro,
ou seja, no pátio interior do convento, meditando sobre profundos assuntos referentes a
Deus.
Alguém o chamou, dizendo: “Vem ver um boi voando”! Tomás, imediatamente,
o acompanhou e se pôs a olhar para o alto ao som das gostosas gargalhadas de seus
confrades. Estes então lhe perguntaram como, sendo tão inteligente, ele podia pensar
que um boi estivesse voando. A resposta de Tomás foi uma lição maravilhosa: “Olhei
porque deve ser mais fácil um boi voar do que um frade mentir”. Nunca mais brincaram
com ele, respeitando seus instantes de funda reflexão.
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companheiro e amigo fiel de Tomás, Reginaldo de Piperno. Esta parte se chama
Suplemento.
Além destes trabalhos citados, Tomás escreveu inúmeras Questões como sobre a
Verdade, a Alma, o Mal, a Beatitude e vários Opúsculos Filosóficos sobre assuntos
diversos como O Ente a Essência, Sobre as Falácias. Deixou ainda comentários a respeito
das obras de Aristóteles e outros escritos filosófico-sociais.
Quando Tomás de Aquino tinha cinquenta e três anos, a 7 de março de 1274, foi
surpreendido pela morte no mosteiro cisterciense de Fossanova. Estava a caminho de
Lião onde, por ordem do Papa Gregório X, iria participar do Concílio de Lião. Ainda no
leito de morte encontrou forças para falar aos monges sobre o livro da Bíblia
denominado Cântico dos Cânticos.
Após seu falecimento ele entrou para a História com o título de Doutor Angélico,
dada a culminância espiritual que atingiu e a perfeição de sua existência.
Conta-se que certa ocasião, diante de um Crucifixo, Tomás ouviu de Jesus estas
palavras: “Bem escrevestes sobre mim, Tomás, que prêmio quereis”? Respondeu ele:
“Nada senão a Ti mesmo, Senhor”. Prestes a morrer pronunciou estas palavras, após
receber a Eucaristia: “De ti, Senhor, me veio o preço da redenção da minha alma! Todos
os meus estudos, vigílias e trabalhos foram por teu amor”.
Conta-se que naquele dia 7 de março de 1274 Alberto Magno que se achava em
Colônia, na Alemanha, com lágrimas nos olhos comunicou aos frades: “O irmão Tomás
de Aquino, meu filho em Cristo, luz da Igreja, morreu. Deus acaba de me revelar isto”.
Teve, portanto, a longa distância a percepção do falecimento de seu discípulo exemplar.
O corpo de Tomás de Aquino repousa na Catedral de Tolosa, na França. Foi
declarado Santo pelo Papa João XXII que o canonizou em 1323. Paulo V em 1567 o
declarou Doutor da Igreja e Leão XIII o proclamou em 1879 padroeiro de todas as escolas
católicas. Venera-se sua memória a 28 de janeiro, dia em que seu corpo foi transladado
para Tolosa, em 1369.
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6.2.6 - Ensinamentos de Tomás de Aquino
Por cinco vias Tomás prova magistralmente a existência de Deus. Com notável
clareza expôs ele a prova tirada do movimento, partindo do pressuposto de que “tudo o
que se move é movido por outro”. Raciocina então: “se aquilo pelo qual é movido por sua
vez se move, é preciso que também ele seja movido por outra coisa e esta por outra. Mas
não é possível continuar ao infinito; do contrário, não haveria primeiro motor e nem
mesmo os outros motores moveriam como, por exemplo, o bastão não move se não é
movido pela mão.
Portanto, é preciso chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum
outro, e por este todos entendem Deus”1.
A segunda via é a da causa primeira universal. Eis o texto de Tomás de Aquino
na Suma Teológica: “Constatamos no mundo sensível a existência de causas eficientes.
É, entretanto, impossível que uma coisa seja sua própria causa eficiente, porque, se assim
fosse, esta coisa existiria antes de existir, o que não tem nenhum sentido.
Ora, não é possível proceder até o infinito na série de causas eficientes, porque,
em qualquer série de causas ordenadas, a primeira é causa intermediária e esta é causa da
última, quer haja uma ou várias causas intermediárias.
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Com efeito, se suprimirdes a causa, fareis desaparecer o efeito: portanto, se não
há causa primeira, não haverá nem última, nem intermediária. Ora, se fosse regredir até
o infinito dentro da série de causas eficientes, não haveria causa primeira, e, assim, não
haveria também nem efeito, nem causas intermediárias, o que é evidentemente falso.
Portanto, é preciso, por necessidade, colocar uma causa primeira que todo o mundo chama
Deus”2.
Por este texto se percebe a clareza com que Tomás de Aquino expõe o seu
raciocínio. Com rara habilidade intelectual ele procura o motivo da existência da
causalidade no mundo. Assim se chega infalivelmente a uma causa que produz e não é
produzida, ou seja, a causa eficiente primeira que é Deus.
Em terceiro lugar vem a prova da contingência. Em sentido amplo, contingência
significa a possibilidade de um objeto qualquer de não ser, de não existir.
É tudo aquilo que pode ser como não ser. É contingente o fato de cada um de nós
existirmos. Poderíamos não ter existido. A contingência metafísica significa que
contingente é todo ente ao qual a existência não é essencialmente necessária.
Eis como Josef de Vries resume esta prova da existência de Deus proposta por
Tomás de Aquino: “a prova cosmológica, baseando-se no nascimento e desaparecimento
das coisas, conclui a contingência das mesmas, e partindo da mutabilidade própria
também dos elementos constitutivos fundamentais cuja origem não pode ser mostrada
experimentalmente, infere sua natureza também contingente, provando dessa maneira que
o mundo todo é causado por um Ser Supramundano”3.
ste é o Ser Necessário que existe por sua própria natureza e não pode nunca deixar
de existir. As criaturas nascem, crescem e morrem, são possíveis, não necessárias, ou seja,
existem, mas não necessariamente. Se em algum tempo não tivesse havido nada de
existente, teria sido impossível para qualquer coisa começar a existir, e, deste modo,
também neste caso nada existiria o que seria um absurdo. Existe, portanto, um Ser
Necessário que é Deus.
A quarta via para provar a existência do Ser Supremo é tirada dos graus dos seres.
Na Suma Teológica assim se expressa Tomás de Aquino:
“Verificamos que alguns seres são mais ou menos verdadeiros, mais ou menos
bons, etc. ora, diz-se o mais e o menos de coisas diversas segundo a sua aproximação
diferente de um máximo. Existe, pois, alguma coisa que é o mais verdadeiro, o melhor,
por conseguinte, o mais ser. Ora, o que é o máximo num gênero é a causa de tudo que
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pertence a este gênero. Existe, portanto, um ser que é para todos os outros causa de ser,
de bondade, de perfeição total, e este ser é Deus:”4.
Deus possui o ser de modo absoluto, ao passo que as criaturas têm um grau diverso
de ser. Isso significa que tal fato não lhes deriva em virtude de suas respectivas essências,
caso em que seriam sumamente perfeitos e não em determinados graus. Ora, se não deriva
de suas respectivas essências, isso, é lógico, significa que o receberam de um ser que
concede tudo sem receber, que permite a participação sem ser ao mesmo tempo partícipe.
Este ser é a fonte de tudo aquilo que existe de algum modo. Ele é a perfeição
infinita, absoluta. É um ser perfeito sob todos os aspectos que se possam imaginar. Nele
se realizam com perfeição suprema todas as possibilidades do ser.
O quinto caminho apontado por Tomás de Aquino como prova da existência de
Deus é o do finalismo, ou seja, do governo do mundo.
Jolivet resume esta quinta via deste modo: “No conjunto das coisas naturais
verificamos uma ordem regular e estável. Ora, toda ordem exige uma causa inteligente,
que adapta os meios aos fins e os elementos ao bem do todo. Portanto, a ordem do mundo
é obra de uma Inteligência ordenadora, transcendente a todo o universo”5. Esse Ordenador
é Deus.
De fato, quando se analisa o que ocorre no mundo se verifica que tudo age e opera
como se tendesse a um fim. Não se trata de uma ideia mecanicista do universo, como se
Deus interviesse juntando partes como acontece com o relojoeiro para constituir um
relógio. Trata-se de se perceber a finalidade inata em algumas coisas, coisas que mostram
em si mesmas um princípio de finalidade e total unidade. As exceções que se podem
atribuir ao acaso não invalidam este raciocínio. O que se busca é a causa da regularidade,
da ordem e da finalidade visíveis em alguns seres. Esta causa não pode ser identificada
com os próprios seres em si. É preciso, pois, remontar a um Ordenador que esteja em
condições de dar ser aos seres e, na verdade, daquele modo específico no qual de fato eles
operam.
Segundo Tomás de Aquino, por ser racional, o homem conhece a lei natural, ou
seja, está plenamente capacitado para saber que “se deve fazer o bem e evitar o mal”.
Trata-se da participação da lei eterna pelo homem dotado de inteligência. A lei eterna
outra coisa não é senão o plano racional de Deus, isto é, a ordem existente no universo
todo. Por esta lei dirige tudo para o seu fim específico.
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Além desta lei eterna e da lei natural, Tomás fala da lei humana, ou seja, jurídica.
São normas feitas pelos homens para impedir que se pratique o mal. É a ordem
promulgada por quem tem a responsabilidade pela comunidade.
Seguindo Aristóteles, Tomás de Aquino considera o Estado como uma
necessidade natural. É que o homem é um ser social e precisa de orientações para viver
em sociedade. Entretanto, Tomás de Aquino deixa claro que as leis humanas não podem
contradizer a lei natural.
Aliás, no pensamento dele as normas do direito positivo existem para que os que
são propensos aos vícios e neles se obstinam sejam persuadidos, a bem da ordem pública,
a evitar tais desvios. Insiste Tomás na função pedagógica das leis humanas e nas sanções
que podem e devem incluir. O objetivo é a convivência pacífica entre os homens.
30
6.2.9 - Leão XIII e Tomás de Aquino
Leão XIII que foi considerado o papa dos operários escreveu uma encíclica7, isto
é, uma carta circular, solene, sobre a filosofia, em 1879. Neste documento a figura de
Tomás de Aquino é objeto de especiais considerações.
Diz o texto que Tomás de Aquino foi quem com maior perfeição uniu a
inteligência, a razão, à fé. Fala na excelência e perfeição da doutrina tomista. A
confirmação desta importância é atestada pelo valor em si do que ele ensinou, pelos
aplausos das Academias e Escolas e até pelos que não são católicos.
Odilon Moura deste modo resumiu o plano da referida encíclica: “Há necessidade
de se instaurar uma Filosofia que harmonize a razão com a fé, para implantação da ordem
na sociedade (números 1-20); ora, a Filosofia de Tomás é a que melhor atende aos
requisitos para a harmonia entre a razão e a fé (números 21-27); logo, deve ser instaurada
a Filosofia de Santo Tomás (números 28-37)”8.
Um dos trechos mais expressivos da referida encíclica é este: “Entre todos os
doutores escolásticos, brilha como astro fulgurante, e como príncipe e mestre de todos
Tomás de Aquino, o qual, como observa o Cardeal Caetano, “por ter venerado
profundamente os santos doutores que o precederam, herdou, de certo modo, a
inteligência de todos”. O termo escolástica empregado acima significa filosofia ensinada
nas escolas medievais do Ocidente Europeu.
Diz ainda Leão XIII: “Tomás reuniu suas doutrinas, como membros dispersos de
um mesmo corpo; reuniu-as, classificou-as com admirável ordem, e de tal modo as
enriqueceu, que tem sido considerado, com razão, como o próprio defensor e a honra da
Igreja”.
Este trecho a seguir retrata admiravelmente quem foi Tomás de Aquino: “De
espírito dócil e penetrante, de fácil e segura memória, de perfeita pureza de costumes,
levado unicamente pelo amor da verdade, cheio de ciência divina e humana, justamente
comparado com o sol, aqueceu a terra com a irradiação de suas virtudes e encheu-a com
o resplendor de sua doutrina”.
Sobre seu espírito filosófico Leão XIII atesta: “Não há ponto da filosofia que não
tratasse com tanta penetração como solidez. As leis do raciocínio, Deus e as substâncias
incorpóreas, o homem e as outras criaturas sensíveis, os atos humanos e seus princípios,
são objeto das teses que defende, nas quais nada falta, nem a abundante colheita de
investigações nem a harmoniosa coordenação das partes, nem o excelente método de
31
proceder, nem a solidez dos princípios”. Quem se interessa por obter outras análises de
Leão XIII sobre Tomás de Aquino encontra nesta encíclica inúmeras outras considerações
que mostram o valor deste filósofo extraordinário.
No Brasil Fernando Arruda Câmara, notável filósofo brasileiro, lançou o livro “Tomismo
Hoje”, no qual mostra o grande número de tomistas em nossa pátria, entre os quais, se
destaquem Maurílio Teixeira Leite Penido, Leonardo Van Acker, Henrique Cláudio de
Lima Vaz, Alexandre Correia.
A reelaboração do tomismo efetuada pelos filósofos de nossos dias tem como
característica um estudo direto dos textos de Tomás de Aquino. Além disto se nota uma
fidelidade absoluta às teses fundamentais estabelecidas por ele. Percebe-se diálogo aberto
com as outras correntes filosóficas atuais. Há ainda uma preocupação dos tomistas de
hoje de investigar em profundidade a cultura moderna, contemporânea. Tais discípulos
de Tomás de Aquino são chamados neotomistas que tentam responder às profundas
perguntas que se colocam ao homem de hoje, cristãos ou não-cristãos. Há sobretudo um
apelo à Verdade e ao Amor Criador que precisam penetrar no íntimo da realidade humana.
À cultura moderna e contemporânea influenciada pela técnica e pela ciência,
endeusadas erroneamente, o tomismo traz uma contribuição admirável. Leva o ser
racional ao encontro de Deus e dos valores perenes, sem os quais é impossível a
verdadeira felicidade. Trata-se de libertar o homem da escravidão do materialismo com
todas as suas terríveis consequências.
Chesterton, pensador inglês afirmou: “Neste momento atual, tão pouco
esperançoso, não há homens tão esperançosos como aqueles que consideram agora Santo
Tomás como guia em uma centena de perguntas angustiosas respeitante às artes, à
propriedade e à ética econômica. Há inegavelmente um tomismo esperançoso e criador
em nossa época”9.
32
É também deste autor esta frase luminosa: “Que o tomismo seja a filosofia do bom
senso, o mesmo bom senso o proclama”10. O erro seria considerar o tomista como quem
entende Tomás de Aquino de modo estático, medieval. Nada disto. Através de um estudo
maduro, de uma reflexão atenta, o tomista procura pinçar o que está latente nos escritos
de Tomás de Aquino.
Como observou Dino Staffa: “Nenhuma das maravilhosas conquistas da ciência
física são inconciliáveis com a doutrina tomista, senão que a integram e iluminam”11.
Há, de fato, uma perfeita harmonia entre os ensinamentos de Tomás de Aquino e as
descobertas científicas de hoje.
Jean Ladrière recentemente declarou: “A atualidade do pensamento de Santo
Tomás de Aquino é a presença contínua de uma força inspiradora capaz de assumir, em
suas figuras cambiantes, o destino da razão, a consciência que ela tomou de suas
conquistas como de seus limites, o pressentimento que ela traz consigo daquilo que lhe
pode dar absolutamente seu sentido”12.
Wolfgang Kluxen situou, com rara felicidade, a posição do tomismo ao escrever
que este “não é a última palavra da razão e isto segundo seus próprios princípios. Basta,
porém, que seja uma palavra real, séria, verdadeira; e, como tal, ele permanecerá sempre
atual, contemporâneo a todas as épocas”13.
O reencontro da juventude de hoje com Tomás de Aquino significa libertação e
renovação cultural forte. Tomás de Aquino é um convite ao afastamento de tudo que
degrada o ser humano. Ele inspira segurança para que se ande nos caminhos do bem e
dos verdadeiros valores. Enche de esperança o coração juvenil.
33
Depois de outras profundas considerações João Paulo II assim se expressou:
“Deve-se, portanto, desejar e favorecer de todos os modos o estudo constante e
aprofundado da doutrina filosófica, ética e política que Santo Tomás deixou em herança
às escolas católicas e que a Igreja não hesitou em fazer própria, de modo especial no que
diz respeito à capacidade, à perfectibilidade, à vocação, à responsabilidade do homem
quer na esfera pessoal quer na social…”
Quanto à atualidade da doutrina tomista assim se expressou o papa: “Santo Tomás
não podia certamente prever um mundo cultural e religioso tão vasto e complexo e
articulado como nós hoje conhecemos. Nem podia, portanto, ditar soluções concretas para
a grande quantidade de problemas específicos que nós hoje devemos enfrentar”.
Prossegue, porém, o papa: “Mas dado que seu maior cuidado foi colocar-se e
manter-se da parte da verdade universal, objetiva e transcendente [...] traçou um método
de trabalho missionário que é hoje substancialmente válido também no plano das relações
ecumênicas e inter-religiosas, assim como no confronto com todas as culturas antigas e
novas”. Portanto, a doutrina de Tomás de Aquino é apta para a aproximação dos cristãos
entre si e para o entendimento das culturas passadas e recentes.
De fato, o amor à verdade que fulgiu, brilhou, em Tomás de Aquino conduz à
sociabilidade é à solidariedade, à liberdade que, segundo João Paulo II, firmado no
Aquinate, não pode ser real se não está fundamentada nesta verdade. A crise moral do
mundo de hoje lembra no seu discurso o papa “depende do enfraquecimento do sentido
da verdade nas inteligências e nas consciências, que perderam a referência à fundação
última da verdade mesma”. É aí, precisamente, que se deve ver a importância capital do
contato com a doutrina de Tomás de Aquino.
34
Francisco de Assis desprezou os estudos e nem queria que seus seguidores frequentassem
as universidades. Tomás de Aquino era o intelectual debruçado sobre os livros e sempre
a escrever. Francisco de Assis era um poeta ambulante, imerso na beleza das flores, do
murmúrio dos rios, do cântico dos pássaros. Tomás de Aquino era um poeta-teólogo,
acadêmico, compondo hinos litúrgicos profundos. Francisco de Assis queria persuadir
pela simplicidade das ações vistas pelos homens para arrastá-los a Deus. Tomás de
Aquino desejava persuadir pelas palavras para levar milhares até o Criador.
Francisco de Assis pode ser comparado com um manso cordeirinho imerso na
natureza. Tomás de Aquino, como foi relatado, foi comparado a um boi, cujos mugidos
ecoaram pelos séculos afora. Francisco de Assis era filho de um comerciante da classe
média e não estava de acordo com a vida mercantil do pai, pois não amava a agitação do
comércio. Seu desapego total às coisas do mundo não se adequava à busca de um lucro
material. Tomás de Aquino era de família nobre e poderia ter todo o conforto que o mundo
oferece, mas desprezou as glórias mundanas para se entregar inteiramente a seu mundo
interior sem o apego a tudo que o luxo pode oferecer.
Ambos por caminhos diferentes e numa ótica diversa optaram pela pobreza
evangélica. Francisco de Assis o homem menos mundano que andou pelo mundo viveu
neste mundo como um pobre caminhante. Tomás de Aquino procurava a solidão como
alguém que não fosse deste mundo para andar pelos caminhos do espírito nas regiões de
profundas questões intelectuais. Francisco de Assis pode ser chamado o trovador de Deus,
mas, por certo, não admitiria o Deus dos trovadores. Tomás de Aquino não reconciliou
Cristo com Aristóteles, mas sim reconciliou Aristóteles com Cristo.
Francisco de Assis é o santo da ecologia. Tomás de Aquino é o santo da filosofia.
Francisco de Assis mortificava tanto o seu corpo que mereceu ter em si os estigmas, ou
seja, as chagas de Cristo. Tomás de Aquino preferia filosofar sobre o corpo, ensinando
que o homem não é um homem sem o corpo, tal como o não é sem a alma. Francisco de
Assis tornou-se um santo eminentemente popular. Tomás de Aquino um santo mais
venerado pelos intelectuais.
Quer Francisco de Assis, quer Tomás de Aquino deixam ambos uma mensagem
vibrante para este final de milênio: a felicidade não se encontra fora de cada um, mas lá
no íntimo do ser racional. Ambos convidam para esta viagem que muitos não gostam de
fazer: entrar no âmago da própria consciência. Lá se descobre Deus, para, em seguida,
como fizeram os citados personagens, se abrir para o próximo, para a natureza, para as
conquistas da inteligência.
35
Ambos mostram que há caminhos diversos para se atingir o objetivo último do
homem nesta busca, nem sempre bem direcionada, da tranquilidade, da ordem e da paz.
Este reencontro com tão ilustres e sábias figuras por certo move a um repensar frutuoso
no sentido daquele auto-controle tão necessário seja a quem for. Como mostra Francisco
de Assis não é preciso se apartar do mundo e das maravilhas que Deus espalhou por toda
parte. Cumpre curtir a vida.
Como ensina a vida de Tomás de Aquino não se pode afastar das conquistas do
espírito, da inteligência. Tomás, certamente, se vivesse hoje, estaria enfronhado nos
progressos humanos. Nas suas reflexões procuraria o sentido, o significado da ciência e
da técnica tão avançadas de hoje. Deixou, porém, ele princípios valiosos para que os
homens do século atual façam tal análise com pertinência e sabedoria.
A existência de Tomás de Aquino foi, sem dúvida, uma aventura divina. Quando
olhamos para o firmamento à noite, imenso veludo cravado de estrelas, percebemos que
umas brilham mais do que outras. Tomás de Aquino no firmamento dos grandes homens
é estrela de primeira grandeza. Entre os santos que o cristianismo apresenta, nenhum foi
mais sábio.
Ao lado de uma cultura invejável e de uma inteligência admirável Tomás de
Aquino deixou o exemplo de uma grande humildade. Honras e dignidades eclesiásticas
lhe foram oferecidas, mas ele as recusou. Quis sempre viver na solidão de seu convento
onde se refugiava quando não estava a dar aulas ou a pregar.
Tomás de Aquino revela que não basta um saber enciclopédico, mas este deve ser
sólido, profundo, alimentado na reflexão contínua. Na doutrina de Tomás de Aquino
encanta não apenas a universalidade dos temas que abordou, dos quais tratou, mas a
clareza de sua explanação é também digna de nota.
A obra monumental de Tomás de Aquino foi, sem dúvida, a Suma Teológica, a
qual se pode comparar às majestosas catedrais do estilo gótico de seu tempo, elevando-se
acima de todos os escritos deste gênero.
Tomás de Aquino ensina como uma vontade determinada, férrea, pode atingir os
mais nobres objetivos. A concentração da inteligência nos estudos leva a resultados
maravilhosos. Num mundo no qual tudo arrasta o homem para fora de si mesmo,
deixando-o entre as ondas revoltas da angústia e da agitação interior, Tomás de Aquino é
36
um convite vivo a instantes de uma salutar entrega ao silêncio em busca daquela
serenidade que felicita e engrandece.
Tudo que foi relatado dizendo respeito ao tomismo, mostra que se trata de um
tomismo atual, perdurável e não um tomismo medieval. Isto mostra que há, de fato, em
tudo que Tomás de Aquino escreveu uma tendência universalista.
Oferece, realmente, o conjunto de ensinamentos do grande filósofo de Aquino
elementos valiosíssimos para pensar o mundo e o momento atual à luz das verdades
perenes. Surgem, realmente, novos pensadores que sob a conduta do Doutor Angélico se
consagram a estabelecer a ordem segundo a verdade.
É a verdade que sempre salva e liberta o ser racional, hoje, sobretudo necessitando
de um senso crítico apurado. A juventude precisa deste amor à verdade para não se deixar
levar pelas armadilhas do erro e da mentira.
O tomismo não quer em absoluto retornar à Idade Média. Trata-se, contudo, de
salvar e de assimilar todas as riquezas oferecidas por Tomás de Aquino para valorizar
tudo que há de positivo nos tempos modernos. É que o tomismo pretende usar da razão
para separar o verdadeiro do falso. Pode purificar certas tendências modernas e integrar
tudo que a verdadeira conquista do espírito humano conseguiu após Tomás de Aquino.
De fato, o tomismo é uma filosofia essencialmente sintética e assimiladora.
O tomismo é uma sabedoria que nasce de um sistema magnificamente arquitetado
por Tomás de Aquino, apta, portanto, para orientar as mentes, libertando-se do erro. No
momento em que se nota no mundo de hoje um surto religioso inegável, a presença de
Tomás de Aquino é de fundamental importância. Os cristãos, sobretudo, se empenham
em viver o que Jesus ensinou e procuram, sem falso moralismo, uma vida longe de lances
desonestos que maculam e escravizam. O exemplo magnífico de Tomás de Aquino que,
em plena juventude, venceu espetacularmente a tentação sexual, realmente, arrasta e
inspira gestos semelhantes.
Com justiça ele foi denominado o Doutor Angélico. Tal elevação de uma
existência singular se deveu à sua íntima união com Deus. Hoje grupos juvenis se formam
e sem nenhum respeito humano se põem a cantar os louvores divinos e buscam uma
perfeição de vida, motivo de fagueiras esperanças. Tudo que Tomás de Aquino realizou
ele o consegui indo à fonte suprema do Bem. Neste aspecto há uma sintonia muito grande
entre a mentalidade do Aquinate e esta onda religiosa hodierna.
A piedade de Tomás de Aquino era algo viril, pois o conduzia a ações
verdadeiramente heróicas. É este o ideal que toma conta de centenas de jovens que não
37
desejam se deixar levar pelas vagas dos vícios, mormente das drogas que matam e
rematam tantas vezes a crueldade de espíritos perversos que se enriquecem com as
desgraças alheias.
Tomás de Aquino constitui-se deste modo num apelo vibrante a que prossigam
todos nesta caminhada vibrante da afirmação pessoal. Pode-se, portanto, dizer que Tomás
de Aquino se torna assim um notável concidadão dos tempos modernos.
Aos males da inteligência ele propõe o remédio do exercício da razão, capaz de
desmascarar as insídias das manipulações dos donos do poder. Aos desastres éticos e
morais ele aponta a retidão da vontade firmada na proteção de Deus a levar para longe
das servidões dos falsos prazeres.
Ao desânimo que, por vezes, se instaura em tantos corações ele propõe a
experiência de Deus, fonte de toda paz e energia interior. A uma ciência e a uma
tecnologia materialistas ele contrapõe o retorno incondicional a Deus, cuja existência ele
soube tão bem provar. A este herói da ordem intelectual se deve acorrer para se buscar
nas conquistas do espírito a força capaz de erguer um mundo que se deixou levar pelo
endeusamento de falsos ídolos.
Em nossos dias quando a filosofia voltou a ser novamente prestigiada nos currículos até
do segundo grau, o reencontro com Tomás de Aquino só poderá resultar numa maior
pujança intelectual e cultural. Por tudo que aqui foi escrito sobre Tomás de Aquino se
pode concluir que ele é, de fato, o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios.
38
conhecimento de natureza neoplatônica que adequava o pensamento de Platão as
concepções Católicas.
São Tomás de Aquino, segundo Maria da Glória de Rosa, é considerado um dos
mais famosos filósofos da escolástica, viveu no século XIII e precocemente recebeu o
título de Mestre em Teologia devido à sua genialidade.
A escolástica é marcada pelas ideias de Santo Agostinho, além de também
procurar uma conciliação entre a fé e a razão, o catolicismo e a filosofia e ser bastante
influenciada pelo pensamento neoplatônico. Entretanto, aprofunda mais no método
dialético e sob São Tomás de Aquino ela receberá fortes influências aristotélicas a fim de
buscar respostas às novas questões que eram impostas a fé e a razão em meados do século
XIII e que o pensamento agostiniano não conseguia abarcar.
Os dois filósofos convergiram e divergiram em variados aspectos de seus
pensamentos. Ambos se preocuparam em pensar sobre as essências das “coisas” (Deus,
a natureza, o ser humano, a verdade, o conhecimento, etc.) essas ideias metafísicas
procuravam justificar através da razão a conduta e a moral da tradição cristã. Porém
Agostinho acreditava existir, como Platão, um mundo das ideias que era a perfeição, a
verdade e um mundo real que era a representação imprecisa deste mundo ideal apreendida
pelos sentidos sob diferentes formas. Santo Agostinho defendeu a ideia do mestre interior
em que todo o conhecimento é alcançado dentro do próprio ser e somente através da
iluminação divina pode-se chegar à verdade:
A teoria agostiniana estabelece, assim, que todo o conhecimento verdadeiro é o
resultado de um processo de iluminação divina, que possibilita ao homem contemplar as
ideias, arquétipos externos de toda a realidade. (PESSANHA, 1980 p.XVI).
Para Agostinho a filosofia era a busca da felicidade e essa, para ele, era uma
”indagação da condição humana em busca da beatitude” (PESSANHA, 1980
p.XIII).Porém Agostinho não encontrou na filosofia helênica esta beatitude e sim nas
Sagradas Escrituras de Paulo de Tarso, é daí que surge o seu esforço de unir a razão à fé.
A primazia entre fé e razão, uma sobre a outra não fica clara em Agostinho e existem
diversos debates sobre o assunto, porém convém deixar claro que seu objetivo era o de
conciliar os dois:
A razão relaciona-se, portanto, duplamente com a fé: precede-a e é sua
consequência. É necessário compreender para crer e crer para compreender.
(PESSANHA, 1980 p.XIV).
39
Já Tomás de Aquino, não acreditava em um mundo das idéias e sob influência
do naturalismo aristotélico defenderá a existência de um mundo real, material. Esse
mundo seria a criação divina – esta é uma das questões que surge ao seu tempo, a criação.
Ele aponta a apreensão do divino através da verdade da razão que não pode ser negada
pela verdade revelada da fé, ambas precisam ser idênticas, do contrário a fé ou a razão
não foram adequadamente empreendidas. A teologia e a filosofia não se opõem. Fé e
razão estão unidas em um único sentido: a perfeição, ou seja, o conhecimento de Deus.
Para Tomás de Aquino a verdade e o conhecimento também são alcançados através de
um mestre interior, porém, não há a intervenção de uma luz divina para que se dê o
conhecimento, ele já existe como potencialidade no interior do ser e cabe a este descobri-
lo através do aprendizado, do estudo, da educação religiosa, da pedagogia.
Portanto concluímos que ambos, Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino procuraram conformar razão e fé, filosofia e religião. Também defendiam que
a busca do conhecimento dado através de ambas citadas acima tinha um sentido comum:
a verdade divina, o conhecimento da perfeição, ou seja, o entendimento de Deus. Seus
pensamentos se distanciaram quanto ao processo que se dá esse conhecimento apesar de
concordarem em sua origem no ser interior. Tomas de Aquino sob influência aristotélica
defendia ideias mais “materialistas” enquanto Santo Agostinho sob influência
neoplatônica manteve seus pensamentos mais ligados ao mundo das ideias.
40
7.1 - FILOSOFIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA[1](ADAPTADO)
41
os seus objetos, a Filosofia deveria se preocupar com a reflexão, ou seja com o sujeito do
conhecimento. Há também a noção de que a natureza, a sociedade e a política podem ser
inteiramente conhecidas pelo sujeito do conhecimento. E, por fim, a realidade seria
racional, um sistema ordenado de causalidades físico-matemáticas perfeitas e plenamente
conhecíveis pela razão humana. (CHAUÍ, p. 48-49)
A razão, para os filósofos modernos, pode ser utilizada pelo sujeito do
conhecimento para não só conhecer a realidade, mas também alterá-la. O homem poderia
controlar a natureza, por meio de máquinas, para a satisfação das suas necessidades. Na
Filosofia Moderna, destacam-se duas correntes filosóficas: o racionalismo e o empirismo.
7.1.2 – Racionalismo
42
buscou-se um ideal matemático, uma matemática universal, uma maneira de se tentar
compreender o mundo, as ideias, as coisas totalmente pela inteligência, com ordem e
medida. A matemática, então, para o racionalismo, é o modelo perfeito de conhecimento
verdadeiro.
A resposta dos britânicos ao racionalismo cartesiano, foi o empirismo,
representado principalmente por Francis Bacon, John Locke e David Hume.
7.1.3 – Empirismo
43
do foro – das relações comerciais e sociais, nas quais os homens se deixam levar mais
pela conversa que pelo intelecto; d-) ídolos do teatro – chegam ao homem por meio de
doutrinas filosóficas e regras viciosas.” (ARANHA & MARTINS, p. 132-133)
John Locke, em “Ensaio sobre o Entendimento Humano”, preferiu o caminho
psicológico para investigar a origem das ideias, que tem como fontes a sensação e a
reflexão. “Sensação é o resultado da modificação feita na mente por meio dos sentidos.
A reflexão é a percepção que a alma tem daquilo que nela ocorre. Portanto, a reflexão se
reduz apenas à experiência interna do resultado da experiência externa produzida pela
sensação.” (ARANHA & MARTINS, p. 133).
Para Locke, a produção de uma ideia simples na mente depende da qualidade do
objeto, que provoca algumas percepções sensíveis. Essas qualidades podem ser primárias
– que possuem caráter objetivo por existirem realmente nas coisas (solidez, extensão,
configuração, movimento, repouso, número) - ou secundárias – que variam sujeito para
sujeito (cor, som, odor, sabor). Já as ideias complexas são atadas e desatadas das ideias
simples. As ideias complexas são formadas pelo intelecto, assim não tem validade
objetiva. São mais como nomes para denominar e ordenar as coisas. “Locke critica a
doutrina das ideias inatas de Descartes, afirmando que a alma é como uma tábula rasa
(tábua sem inscrições), como uma cera em que não há qualquer impressão, e o
conhecimento só começa após a experiência sensível.” (ARANHA & MARTINS, p. 133)
Segundo o escocês David Hume, só se pode observar os fenômenos, pois o
mecanismo íntimo do real não é passível de experiência. “O que observamos é a sucessão
dos fatos ou a sequência de eventos e não o nexo causal entre esses mesmos fatos ou
eventos. É o hábito criado pela observação de casos semelhantes que nos faz ultrapassar
o dado e afirmar mais do que a experiência pode alcançar. (ARANHA & MARTINS, p.
134)
7.1.4 – Iluminismo
44
as quais, por sua vez, aperfeiçoam ainda mais a tecnologia. Com o seu poder aumentando,
o ser humano não mais se contenta em contemplar a harmonia da natureza: quer conhecer
para dominá-la. Por fim, a natureza passa a ser vista de forma dessacralizada, isto é,
desvinculada da religião. Tornando-se livre de qualquer tutela, sabendo-se capaz de
procurar soluções com base em princípios racionais, o ser humano estende o uso da razão
a todos os domínios: político, econômico, moral e religioso.” (ARANHA & MARTINS,
p. 134)
Para Kant, essa segurança do poder humano decorre da afirmação da burguesia
como classe social dominante. Nesse momento, consolidou-se o sistema capitalista,
expresso principalmente pela Revolução Industrial, pelo surgimento da máquina a vapor,
que auxiliou a mecanização das indústrias. O iluminismo se alastrou e influenciou toda a
Europa, principalmente Inglaterra, França e Alemanha.
Apesar de haver inúmeros filósofos que marcam esse período da história, para fins
deste estudo, escrever-se-á brevemente sobre Kant. Em sua obra “Crítica da Razão Pura”,
Kant questiona se é possível existir uma razão pura, independente da experiência. Seu
método ficou conhecido como criticismo. Para ele, o conhecimento é formado por matéria
e forma. “A matéria dos nossos conhecimentos são as próprias coisas, e a forma somos
nós mesmos. (...) Para conhecer as coisas, temos de organizá-las a partir da forma a priori
do tempo e do espaço. Segundo Kant, o tempo e o espaço não existem como realidade
externa, são antes formas que o sujeito põe nas coisas. (...)” (ARANHA & MARTINS, p.
136) De acordo com Kant, não há como se conhecer a coisa-em-si (noumenon), mas
somente as suas manifestações, os fenômenos.
7.1.5 – Positivismo
45
portanto, ser estendido a todos os campos da indagação e atividade humanas.” (ARANHA
& MARTINS, p. 140)
Diante do cenário cientificista, surgiu o positivismo, cujo principal expoente foi
Auguste Comte. Para o francês o espírito humano passou por três estados diferentes e
consecutivos (lei dos três estados): a) estado teológico – as explicações para tudo são
sobrenaturais, derivam, por exemplo, dos deuses; b) estado metafísico – forças abstratas,
noções absolutas explicam a origem e o destino do universo; c) estado positivo – devido
às ciências, as “ilusões são superadas pelo conhecimento das relações invariáveis dos
fatos, por meio de observações do raciocínio que visam alcançar as leis efetivas.”
(ARANHA & MARTINS, p. 140).
O estado positivo, portanto, representaria a maturidade do espírito humano. O
positivo – aquilo que é posto – mostra aquilo que é real, dá uma certeza, não encontrada
jamais, principalmente nas explicações teológicas e metafísicas de mundo. O positivismo
tem como modelo a física e suas leis invariáveis, que são transpostas dos fenômenos
físicos para as relações humanas. Na física, não há liberdade. Por exemplo, todos os
corpos são atraídos para o centro da Terra por causa da lei da gravidade. E ninguém está
livre disso. Essas leis invariáveis junto aos fenômenos humanos introduz no positivismo
o determinismo, quer dizer, o reino da necessidade, no qual se perde a liberdade, sendo o
homem determinado pelo meio, pela raça e pela época, como desenvolveria
posteriormente Taine, um seguidor de Comte.[3]
Comte classifica as ciências pela ordem de importância e também cronológica:
astronomia, física, química, biologia e física social (sociologia). Ele é tido como o pai da
sociologia. No seu entendimento, a sociologia é dominante com relação aos outros
saberes científicos. A sociologia de Comte aproveita os modelos da biologia para explicar
a sociedade como um imenso corpo. Porém, só algumas pessoas – uma elite como a parte
frontal do cérebro mais desenvolvida, capaz de ter maior inteligência e sentimentos
morais – dirigiria o restante da sociedade – que deveria ser dominada por não saber
controlar sua afetividade, o que causaria desordem. Essa ordem, para Comte, de uma elite
dominar os demais era essencial para a efetivação do progresso da humanidade.
O positivismo exerceu grande influência no Brasil, principalmente por meio de
Luís Pereira Barreto e do militar Benjamin Constant (um dos articuladores da
proclamação da república). Não é à toa que o lema da bandeira brasileira é “ordem e
progresso”.
46
7.1.6 – Hegelianismo
O alemão Georg Wilhelm Hegel (1770-1831) diz que a razão é histórica. Há todo
um devir, um vir a ser, um movimento, pois nada seria estático. Usa o princípio da
contradição para desenvolver a sua dialética. “Hegel desenvolve novo conceito de
história, também dialético: o presente é engendrado por longo e dramático processo; a
história não é simples acumulação e justaposição de fatos acontecidos no tempo, mas
resulta de um processo cujo motor interno é a contradição dialética.” (ARANHA &
MARTINS, p. 143) Cada época, segundo Hegel, era regida por um “Espírito do Tempo”
(Zeitgeist). Quer dizer, cada época tinha uma característica peculiar, que a diferenciava
das demais.
Partiu do pressuposto de que todo ser já contém em si a semente da sua própria
destruição. Há três etapas na dialética: 1 – tese (afirmação), 2 – antítese (negação) e 3 –
síntese (negação da negação). O mundo, para Hegel, seria a manifestação da própria Ideia,
sendo a história universal a manifestação da razão. O ponto de partida é a Ideia pura (tese).
Mas para que a Ideia possa se desenvolver, necessita criar algo que lhe é oposto, a
Natureza (antítese) – matéria alienada, ou seja, privada de consciência. Desse conflito,
entre a Ideia (tese) e a Natureza (antítese), nasce o Espírito, que é, ao mesmo tempo,
pensamento e matéria. A Ideia, então, toma consciência de si por meio da Natureza. Esse
movimento dialético se desenrola sucessivamente até atingir o Espírito Absoluto, a
síntese final, cuja maior representação estaria na Filosofia.
7.1.7 - Marxismo
47
sociedade. Assim, quando se mudava a infraestrutura da sociedade, automaticamente o
mesmo ocorria com a superestrutura.
Ao se aplicar o materialismo dialético à história, se tem o materialismo histórico,
uma explicação histórica por meio dos fatores materiais (economia e política). Na
dialética marxista, não se fala da Ideia, mas de fatos matérias. Em vez de heróis, está a
luta de classes. “Na sociedade contemporânea, baseada no modo de produção capitalista,
com emergência da industrialização em grande escala, surge a necessidade do consumo
dar vazão aos produtos fabricados: mais ainda, o consumismo resulta do desejo
artificialmente produzido de ter muitas coisas para se sentir humano e aceito pelos outros.
Portanto, segundo Marx, para estudar a sociedade não se deve partir do que os indivíduos
dizem, imaginam ou pensam, mas da forma como produzem os bens materiais necessários
a sua vida. Analisando o contato que estabelecem com a natureza para transformá-la por
meio do trabalho e as relações criadas entre eles, é que se descobre como produzem sua
vida e suas idéias. (ARANHA & MARTINS, p. 145) Marx começa a criticar os rumos
tomados pelo iluminismo, prenunciando a crise da razão.
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emancipação só poderá ocorrer se o indivíduo autônomo, consciente dos seus fins,
recupere sua consciência, tornando-se cada vez mais crítico com relação ao mundo e as
relações de força que o cercam. O principal representante da Escola de Frankfurt,
atualmente, é Jürgen Habermas, autor da “teoria da ação comunicativa”.
8 - CIÊNCIA E MÉTODO
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objetividade, podem ser verificadas por outros membros da comunidade científica,
porque, na medida do possível, há impessoalidade.
A linguagem científica é rigorosa, seus termos são claramente definidos para
evitar problemas de interpretação. Quanto mais se utiliza da matemática para transformar
qualidades em quantidades, mais precisa é a linguagem.
Galileu Galilei revolucionou a física no século XVII, ao afirmar que a terra girava
em torno do Sol e não o contrário. A ciência, tal como se conhece hoje, é algo recente,
que tem em torno de 400 anos. Moderna e contemporaneamente, a ciência determina seu
método de investigação e cria um método confiável para fazer o controle desse
conhecimento. Com isso, se atinge um conhecimento sistemático, com precisão e
objetividade, que possa permitir a elaboração de enunciados gerais acerca dos fenômenos.
Como se sabe, há várias ciências. “Cada ciência se torna então uma ciência
particular, no sentido de delimitar um campo de pesquisa e procedimentos específicos.
As ciências são particulares na medida em que cada uma privilegia setores distintos da
realidade: a física trata do movimento dos corpos; a biologia, do ser vivo etc.
Recentemente, a partir do século XX, surgem as ciências híbridas, tais como a
bioquímica, a biofísica, a mecatrônica, a fim de melhor resolver problemas que exigem,
ao mesmo tempo, concurso de mais de uma delas.” (ARANHA & MARTINS, p. 158)
A ciência pretende conhecer as causas do mundo, a sua estrutura causal. Tende à
imparcialidade, à autonomia e à neutralidade. Por imparcialidade, entende-se que não se
toma partido, pois os dados concluídos foram obtidos por meio de padrões rigorosos de
avaliação, por meio de um método preciso e objetivo. Com relação à neutralidade, pode-
se dizer que, na ciência, não há valoração moral ou social. Seria neutro por não atender a
algum valor em particular, sem servir a interesse específico algum. A autonomia, por sua
vez, se refere ao fato de que as instituições científicas deveriam estar isentas de qualquer
tipo de influência externa, seja do mercado ou do governo, para produzirem teorias
imparciais e neutras.
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conhecimento científico, estão nas mãos dos empresários capitalistas. Então, as pesquisas
e descobertas científicas servem mais ao individualismo e à propriedade particular que à
solidariedade e aos bens sociais. O mercado parece também, com sua mão invisível,
manipular a ciência, tornando os homens cada vez mais desiguais.
A neutralidade da ciência então se coloca em cheque-mate diante de tal cenário.
O cientista se encontra envolvido numa teia social, política e econômica, na qual
dificilmente não será influenciado. “Essas observações nos levam a refletir sobre a
formação do cientista, que não deveria se restringir apenas aos conteúdos desse
conhecimento, às suas metodologias e práticas de pesquisa. Mais do que isso, é preciso
que o futuro cientista tenha condições de examinar os pressupostos desse conhecimento
e de sua atividade, de se perceber como pertencendo a uma comunidade e identificar os
valores subjacentes à sua prática.” (ARANHA & MARTINS, p. 161)
51
posta a serviço da destruição da natureza, da alienação humana, da dominação ou do
desprezo pelo sofrimento de grande parte da população.” (ARANHA & MARTINS, p.
161)
9 - TRABALHO E ALIENAÇÃO
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ser para transformar a natureza, subjugando-a, no intuito, de favorecer a humanidade, teve
consequências nefastas. Essa situação de domínio também serviu para que as pessoas
passassem a controlar outras pessoas, sofisticando o sistema de servidão anterior.
No século XIX, houve progresso econômico, científico e tecnológico, causando
certa abundância e crença num futuro melhor. Por outro lado, não houve melhorias nas
condições de vida, já que a exploração dos trabalhadores pela burguesia foi levada quase
que ao extremo, já que naquela época, por exemplo, não existiam direitos trabalhistas.
Com resposta a esta situação, surgiram os movimentos socialistas e anarquistas.
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do sistema de servidão. Os gerentes eram encarregados de treinar os trabalhadores e vigiá-
los. Os bons funcionários eram recompensados. Os indolentes, punidos. Ao se ver a
expressão “funcionário do mês”, ou algo do tipo, há de se fazer conexões com o
pensamento de Taylor: usar o sistema de recompensa e punição, respectivamente, para
quem otimiza a produção e para quem a prejudica.
9.3 – Alienação
54
solidariedade. A fragmentação dos grupos e do próprio operário facilita ao dono da
empresa o controle do produto final.” (ARANHA & MARTINS, p. 46)
A alienação na produção se deu tanto no capitalismo quanto no socialismo real.
Na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Vladimir Ilitch Ulianov,
o Lênin, também racionalizou a produção, sob a o pretexto de que os frutos da produção
não iriam para o capitalista, mas para o Estado, já que a propriedade privada foi eliminada
em 1917, com a Revolução Russa. O resultado foi a burocratização do próprio Estado e,
tal como no capitalismo, houve a “coisificação” do trabalhador.
Mesmo sob o manto da objetividade científica, entre aspas, a racionalização do
trabalho tinha em si uma irracionalidade, pois deixou o homem vazio, relegando a
segundo plano seus sentimentos, emoções e desejos. “As pessoas que aparecem nas fichas
do setor pessoal são vistas de modo impessoal, sem amor nem ódio. O burocrata-diretor
torna-se um profissional que as manipula como se fossem cifras ou coisas.” (ARANHA
& MARTINS, p. 47)
Com a ampliação do setor de serviços, aumentou-se a chamada classe média.
Novas profissões surgiram, abrigando mais executivos e burocratas. Acentuou-se o
individualismo e a competição predatória, deixando o ser humano mais fechado em sua
dimensão privada, já que não se importava mais com as questões públicas, pois estas não
estariam afeitas ao seu trabalho. Os indivíduos buscavam cada vez mais a satisfação
imediata, personificada no hedonismo, ou seja uma cultura focada no prazer e no lazer,
já que no trabalho essa alegria seria impossível. Agora, a alienação se dá no nível do
consumo.
Na alienação no consumo, os trabalhadores ao conseguirem algum progresso
material partilham o espírito capitalista. O consumo é uma atividade humana natural para
a satisfação das suas necessidades. Porém, no capitalismo, por diversas vezes, o ser
humano é induzido a comprar coisas ou serviços que nem sempre compraria se estivesse
mais consciente. “A produção em massa tem por corolário o consumo de massa. O
problema da sociedade de consumo é que as necessidades são artificialmente estimuladas,
sobretudo pelos meios de comunicação de massa, levando os indivíduos a consumirem
de maneira alienada. (...) O consumo se torna alienado quando passa a ser um fim em si
e não um meio, criando dessa forma desejos nunca satisfeitos, um sempre querer mais,
um poço sem fundo. A ânsia do consumo perde toda relação com as necessidades reais,
o que faz com que as pessoas gastem sempre mais o que tem.” (ARANHA & MARTINS,
p. 47-48)
55
O que ocorre com a população de menor poder aquisitivo? Como ela não se revolta
porque não consegue comprar aquilo que vê na televisão e outros meios de comunicação?
O capitalismo proporciona ilusões de mobilidade social, pelo trabalho e pelo estudo. Caso
isso não ocorra, foi por falta de sorte, incompetência ou algo do tipo. As telenovelas
participam de modo marcante nesse tipo de alienação. Outra fantasia comum é a de ganhar
na loteria. Outro meio de se tentar suprir a ânsia de consumo por produtos caros é a
manufatura de produtos de menor preço e qualidade, semelhantes ao utilizado pela
“madame” ou artista de telenovela, que possam ser comprados pela camada menos
favorecida. O ser humano fica preso na dimensão do consumo, de que o consumo lhe
trará a felicidade. E se perde a liberdade.
Se a produção e o consumo são alienados, também é o lazer. As pessoas vivem
estressadas, pois seus trabalhos são mecânicos e repetitivos. Suas mentes estão tão
“pesada”, que buscam tipos de diversões estimulantes ou mesmo violentas, para tentarem
“sentir” alguma coisa, já que, em vida, parecem quase mortos, zumbis das linhas de
produção ou das cadeias de prestação de serviço. Na alienação do lazer, a publicidade é
decisiva na direção das escolhas, modismos e programas.
Quem tem mais dinheiro, gasta com boliche, patinação, danceterias, restaurantes,
barzinhos específicos, conforme o modismo da época. Mas e quem não dispõe desses
recursos financeiros? “Resta lembrar, ainda, que as cidades não oferecem infra-estrutura
que garanta aos mais pobres a ocupação do seu escasso tempo livre em atividades
gratuitas: lugares onde ouvir música, praças para passeios, várzeas para o joguinho de
futebol, clubes populares, locais de integração social espontânea. Essa restrição torna
muito reduzida a possibilidade do lazer ativo, não-alienado, ainda mais se lembrarmos
que as pessoas se encontram submetidas a várias formas de massificação pelos meios de
comunicação.” (ARANHA & MARTINS, p. 49)
Se a pessoa não tem possibilidade econômica de escolher o seu lazer, não há como
se participar ativamente na construção do seu lazer. Não há reformulação da experiência,
nada se acrescenta, pois se reforçam comportamentos mecanizados.
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celulares e a internet, por exemplo. Com isso, se permite que algumas pessoas possam
trabalhar em casa (tele-trabalho). Esses trabalhadores dispõem de maior flexiblidade de
horário e maior autonomia, não precisam bater cartão ou ficarem em locais fixos. Podem
fazer seu serviço na própria residência.
Algumas empresas passam a se preocupar com formas mais saudáveis de
relacionamento, visando ética, compromisso e qualidade de vida. Mas essas preocupações
estão alinhadas com o capitalismo, com intuito sempre de lucro. Ampliam-se também a
quantidade de organizações não governamentais (ONGs), que não são nem do governo,
nem empresas privadas, mas uma forma de uma entidade privada atuar com funções
públicas. As ONGs sobrevivem de doações e, geralmente, abraçam causas públicas e
coletivas.
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das belas artes produzidas ou criadas no presente por artistas individuais, que se dirigiam
a um público majoritariamente burguês, isto é, escolarizado, instruído e endinheirado,
consumidor de obras de arte.”
Embora houvesse uma nítida divisão de classes sócio-econômicas para distinguir
cultura popular e cultura erudita, a distinção levou em conta o processo de elaboração de
cada uma delas, assim como a sua qualidade. Dizia-se que a arte popular era mais simples
e menos complexa que a arte erudita, mais sofisticada quanto à forma e conteúdo. A
popular era mais repetitiva e tradicional, já a erudita, de vanguarda e futurista. Quanto ao
público, a autoria geralmente é desconhecida e artista e audiência são praticamente os
mesmos, com relação à erudita, há sempre distinção entre o artista (criador) e a audiência
(consumidores). O artista popular busca inspiração no seu ambiente, na sua vida, que é o
mesmo do seu público, o que facilita a compreensão da sua obra. Na erudita, o artista não
tem sua obra compreendida de imediato porque só entendidos no assunto a entendem,
pois é carregada de novos meios de expressão.
Com o desenvolvimento da sociedade industrial, cada vez mais os trabalhadores
saíram do campo para se fixarem nas cidades. Começaram a morar nas periferias,
deixando para trás sua cultura e arte, originais das suas terras de origem. Mas nos seus
bairros e locais de trabalho, junto aos familiares, novos vizinhos e colegas de serviço,
construíram uma cultura própria, também conhecida como cultura popular. Mas também
viraram consumidores de produtos industriais produzidos em larga escala, réplicas de
qualidade e preço inferior das criações da cultura e da arte de alite, a cultura e a arte de
massa.
Hoje, as artes podem ser classificadas em: “folclore (as tradições coletivas
nacionais populares), popular (as criações dos artistas que pertencem à classe
trabalhadora, erudita ou de elite (as criações complexas e de vanguarda de artistas
individuais que se dirigem a um público restrito) e de massa (financiada por empresas
que fazem tanto as reproduções simplificadas das obras da arte erudita como também
compram para produção em escala industrial as obras de artistas individuais e as destinam
ao mercado de consumo em larga escala).” (CHAUÍ, p. 289)
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democratização cultural e artística, pelo potencial de divulgação, principalmente, dos
livros, artes gráficas, fotografia, rádio e cinema. Um dos exemplos do potencial libertador
da cultura foi a impressão da Bíblia traduzida para o alemão por Martinho Lutero,
impressa por Gutenberg, que inspirou outras impressões do livro sagrado para diversos
idiomas. Democratizou-se a leitura da Bíblia, com isso, os camponeses alemães e
holandeses passaram a questionar seus governantes, pois verificavam, por si mesmos, que
estes não seguiam fielmente o que estava nas escrituras.
No entanto, outro grupo de pensadores da Escola de Frankfurt, especialmente Max
Horkheimer e Walter Benjamin, examinaram uma questão até então ignorada. Com a
inauguração da sociedade pós-industrial, as artes e a cultura se libertaram da religião, mas
eram profundamente influenciadas pelo mercado capitalista e pela ideologia da indústria
cultural. “A expressão indústria cultural significa que as obras de arte são mercadorias,
como tudo o que existe no capitalismo. (...) Sob o poderio das empresas capitalistas, as
obras de arte verdadeiramente criadoras, críticas e radicais foram esvaziadas para se
tornarem entretenimento; e outras obras passaram a ser produzidas para celebrar o
existente, em lugar de compreendê-lo, criticá-lo e propor um outro futuro para a
humanidade. A força de conhecimento, crítica e invenção das artes ficou reduzida a
algumas produções da arte erudita, enquanto o restante da produção artística foi destinado
a um consumo rápido, transformando-se em sinal de status social e prestígio político para
artistas e seus consumidores e em meio de controle cultural por parte dos empresários e
proprietários dos meios de comunicação de massa.” (CHAUÍ, p. 290-291)
A ação da indústria cultural é devastadora e opera silenciosamente nas
consciências. Ela vulgariza as informações, fazendo com que as pessoas percam a
perspectiva crítica. Há uma diferença muito grande entre democratização da cultura e a
massificação cultural. Na democratização cultural, a cultura e a arte são direito de todos
e não privilégios de alguns. Na massificação da indústria cultural, separa-se os bens em
obras caras e obras baratas. Os bens caros são os acessíveis à elite. Os baratos, os dirigidos
à massa dos trabalhadores. Divide-se a população entre a que tem maior poder aquisitivo,
elite culta, e a de menor poder aquisitivo, a massa inculta. Há uma ilusão de que todos os
bens culturais estão disponíveis para todas as classes sociais, tal como num supermercado.
Ora, sabe-se que os bens num supermercado estão à venda para todos, mas nem
todos podem comprá-los. “A indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve seduzir
e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-
lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem, mas deve devolver-lhe, com
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nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez. A ‘média’ é o senso comum cristalizado
que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova.” (CHAUÍ, p. 292)
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consumo, e as ocupações (dona-de-casa, operário, executivos, etc), para que os
anunciantes possam escolher os melhores horários para veicularem suas mensagens
publicitárias, de acordo com públicos-alvo específicos. Essa regra, porém, não é absoluta.
Empresas podem anunciar produtos em programas não relacionados num primeiro
momento com seu público-alvo, na intenção de captar uma clientela de modo indireto.
No entanto, percebe-se que pode haver influência do anunciante no conteúdo dos
programas, como nos jornalísticos. O poder do anunciante pode também ser verificado
nas telenovelas e programas de auditório, em geral.
Os programas jornalísticos oferecem uma avalanche de informações como se
fossem todas reais, verdadeiras e legítimas. As informações são ligeiras e acabam, em vez
de informar, por desinformar o público. A simplificação demasiada proporciona a
dispersão da atenção e a infantilização das pessoas. Atividades que exigem maior atenção
não são mais atrativas, pois o público já se acostumou com a formatação proporcionada
pelas telenovelas e demais programas de televisão. Uma aula, por exemplo, que exige
maior atenção não chama tanto atenção quanto um espetáculo. E os intervalos das aulas
são como se fossem os intervalos comerciais, tornados tão necessários para que as pessoas
voltem a recobrar a capacidade de atenção.
A informática proporcionou maior aproveitamento das capacidades intelectuais
do ser humano, economizando tempo e demais tipos de esforço. Na primeira revolução
industrial, o trabalho do corpo era otimizado por meio das máquinas. Hoje, com a
informática, é o trabalho intelectual que é otimizado. Essa facilidade comunicativa
aumentou a velocidade das transformações e das transações econômicas. O ditado “tempo
é dinheiro” nunca foi tão verdadeiro quanto agora. Quem se imagina sem internet ou e-
mail hoje?
Há, ademais, alguns comentários acerca do potencial difusor de informações
proporcionados pelos computadores e pela internet. Ao mesmo tempo que ela inclui as
pessoas e as torna mais próximas, ela distancia as que não tem conhecimento de
informática, por mínimo que seja, deixando-as mais alienadas e longe do mercado de
trabalho e de outros relacionamentos mais qualificados. Verifica-se, atualmente, o
fenômeno do analfabetismo digital. Ou seja, daqueles que não sabem se comunicar ou
utilizar computadores ou aparelhos mais sofisticados. São esses alguns dos paradoxos da
tecnologia.
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NOTAS
BIBLIOGRAFIA
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2006.
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