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Marceli souza
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2022
Brasília
2ª edição
ISBN 978-65-5701-021-1
ORGANIZADO POR CP IURIS
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
SUMÁRIO
1. SEGURADOS ...........................................................................................................................................................94
1.1. Segurados obrigatórios ..................................................................................................................................94
Marceli souza
QUESTÕES ...............................................................................................................................................................341
GABARITO COMENTADO .........................................................................................................................................353
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................379
APRESENTAÇÃO
Querido aluno(a), seja bem-vindo ao nosso programa de estudos de Direito Previdenciário!
É uma grande honra poder contar com sua participação aqui e poder lhe ajudar nessa linda jornada
de transformação para a sua aprovação no concurso dos seus sonhos.
Para que nos conheçamos melhor, permita-me contar um pouco de minha história.
Fui aprovado no XV concurso de ingresso na magistratura federal do TRF-1ª Região, em 2014. Sou
formado na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Minha colação de grau ocorreu em 2015 e, após
curto período atuando na advocacia privada, foquei nos estudos para concurso público especificamente para
o cargo de analista judiciário. Depois de muita dedicação, após 1 ano e meio, havia sido aprovado para os
cargos de analista judiciário do TJRJ, TRT-1ª Região, TRF-3ª Região e MPU. Acabei optando por assumir o
cargo em São Paulo, na 3ª Região. Lá fiquei por quase 07 anos. Foi um período de muito aprendizado pessoal
e profissional. Atuei sempre na assessoria de juízes federais e, então, em função dessa proximidade com o
ofício da magistratura federal, decidi me tornar um juiz federal. Sentia-me vocacionado e assim permaneço
até hoje, com quase 05 anos de carreira, hoje já como juiz federal titular.
Bom, depois que tomei posse no cargo de juiz federal substituto, em 29 de janeiro de 2015, um dia
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histórico e inesquecível para mim e para minha família, passei por 4 meses de curso de formação. Foram 3
meses em Brasília/DF e 1 mês em Goiânia/GO, atuando como juiz auxiliar em cada vara especializada (JEF,
cível, criminal e execução fiscal), a fim de que tivesse uma visão geral da atuação de um juiz federal na 1ª
Região.
Minha lotação inicial, após o curso de formação, foi em Cuiabá/MT, onde atuei por 1 ano e meio da
09ª Vara JEF da Seção Judiciária do Mato Grosso. Em seguida, topei o desafio de me tornar juiz federal titular
e embarquei rumo ao Oiapoque/AP, na fronteira com a Guiana Francesa, no extremo norte do Estado do
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Amapá. Lá fiquei por 1 ano, morando em um pequeno destacamento militar às margens do Rio Oiapoque.
Após esse período, removi-me para Juína/MT, uma pequena cidade de 48 mil habitantes no noroeste do
Estado do Mato Grosso, onde permaneço até os dias atuais. O aprendizado continua sendo enorme, em uma
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cidade distante mais de 750 Km da Capital do Estado, Cuiabá/MT. A minha jurisdição alcança 13 Municípios
e, embora o acervo de ações não seja dos maiores da 1ª Região, o trabalho é intenso, em especial na área
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ambiental e previdenciária.
Espero que esse sintético testemunho possa te inspirar. Tenha a certeza de que tudo valeu à pena.
Marceli
Todos os esforços. Todas as quedas e vitórias ao longo da travessia dos estudos. A recompensa é certa porque
o ofício da magistratura federal é belíssimo e, certamente, vai te propiciar muitas alegrias!
Sobre nosso curso, ele será voltado para qualquer concurso que exija conhecimentos em Direito
Previdenciário, mas para lhe dar o mais alto grau de satisfação, pegamos como referencial o concurso da
magistratura federal. Pois bem, nossa metodologia de estudo será baseada no tripé da aprovação: destaque
da lei seca, seleção de doutrina e repasse da jurisprudência sobre os temas abordados.
Conte comigo!
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Marceli
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FREDERICO MARTINS
ORIGEM E HISTÓRIA
PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL: CONCEITO,
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PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
A proteção social é a mesma coisa que seguridade social? A resposta é negativa. Proteção social não
é exatamente a mesma coisa que seguridade social. O conceito de proteção social, em verdade, engloba o
conceito de seguridade social. Ora, não há como negar que instituir um sistema normativo de seguridade
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social — tal como, aliás, temos na Constituição Federal de 1988 — é exercer proteção social. Claro! Ou seja,
a proteção social, como um conceito amplo e precedente, encampa a noção de seguridade social. A proteção
social, então, é um conceito antecedente de seguridade social.
É antecedente tanto do ponto de vista histórico, quanto do ponto de vista lógico. Histórico porque
jamais poderíamos falar que há mais de dois mil anos, por exemplo, tínhamos um sistema de seguridade
social como o que temos hoje. De outro lado, é também um antecedente do ponto de vista lógico porque a
seguridade social é um sistema que se insere em uma noção maior, que é justamente a de proteger
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socialmente as pessoas. A seguridade social, em síntese, pode ser definida como sendo o sistema mediante
o qual se instrumentaliza o direito público subjetivo do cidadão, que é escorado no tripé que traduz as
possibilidades de:
• ser assistido em caso de necessidade,
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A proteção social dada pelo Estado ocorre por meio de um sistema de seguridade social, cujas bases,
tal como estudaremos, são a assistência, a saúde e a previdência. Seguridade social é o instrumento
constitucional do Estado, isto é, a máquina estatal criada pelo Constituinte para canalizar as políticas públicas
de proteção social, afuniladas e concentradas naquele tripé protetivo. Note, portanto, que a seguridade
social é atribuída precipuamente ao Estado, que cria e mantém a rede de instrumentos, instituições públicas
e mecanismos legais que ensejam aquele tripé da assistência, saúde e previdência.
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Foi a busca pelo amparo e proteção que fez nascer, ao longo dos séculos, o que chamamos de
proteção social e, mais para frente, de seguridade social. A proteção social é da natureza humana e surge de
modo consciente com a própria percepção de família. É a família o primeiro núcleo histórico de proteção
social, pela caridade e fraternidade mútua. A família é como o átomo da proteção social. Mas esse “átomo”
da proteção social, com o tempo, saiu da esfera unicamente familiar. Pois bem, analisemos a evolução da
proteção social por fases da história.
Ao longo dos séculos, na formação dos grupos sociais, os povos sempre visaram à proteção mútua
de sua existência e perpetuação, fazendo evoluir, com isso, a proteção social no seio das relações travadas
por pessoas em comum. No início, basicamente, era a caridade, então, que movia a proteção social. O início
da cobertura de certos riscos inerentes à vida do homem proveio mesmo da caridade e da assistência
voluntária e humanista, sendo obra de mãos direcionadas ao bem, impulsionada por poucos samaritanos.
Não era o mesmo assistencialismo que temos hoje. Era tudo mais primitivo do que o atual sistema
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de assistência social. Nessa senda inicial assistencialista, os movimentos religiosos calcados especialmente
no Cristianismo certamente foram os que mais contribuíram com essa ação, muito embora tenha havido,
sem dúvida, um período no qual se percebeu certa nebulosidade da Igreja, adotando ela uma postura
institucional não tão próxima da assistência, tendo isso ocorrido especialmente na baixa idade média,
quando ainda se avultavam as ligações entre a nobreza dos Estados Absolutistas e o alto clero eclesiástico.
Aliás, é interessante apontar a passagem de São Francisco de Assis na história da Igreja Católica, no
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século XII, notadamente pela criação da Ordem Franciscana que pregava a vida simples, a ajuda e a
aproximação com os pobres, com nítido caráter da mais pura proteção social assistencialista. Os Franciscanos
tiveram, inclusive, no século XVI, fundamental importância na criação dos chamados “montepios”. A palavra
“montepio” tem sua etimologia derivada da junção da palavra “montes” — que à época designavam uma
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determinada caixa pública de dinheiro — e da palavra “pios” que significa “misericórdia”. Eram, portanto,
“caixas de misericórdia”.
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Essas associações mantiveram sua existência, portanto, durante toda a idade média, por meio das
chamadas “guildas”. As guildas medievais eram o prenúncio das chamadas corporações de ofício, que
sobrevieram mais na proximidade da idade moderna, ao fim da idade média. De todo modo, a essência das
guildas era a mesma, sendo reunião de pessoas que trabalhavam no mesmo ofício, tais como sapateiros,
carpinteiros e artesãos de toda ordem. Tais grupos se reuniam sob a liderança de um mestre de ofício e,
diante dessa liderança, se organizavam e prestavam serviços de maneira mais sistematizada, com mútuas
obrigações de participação de trabalho e de capital.
Nessa sistematização havia pagamentos para a manutenção da organização definida, de sorte que
isso os mantinha relativamente protegidos de riscos contingenciais tais como baixa demanda de seus serviços
ou de ausência, por exemplo, de matérias-primas para a execução de seus ofícios, o que naturalmente
repercutiria em seus ganhos.
A proteção social desempenhada pelo Estado somente começou a surgir, de modo incipiente, no fim
da idade média, após a formação dos mencionados Estados Absolutistas. A partir disso, a proteção social
passou a englobar tanto ações estatais quanto ações meramente privadas. Aliás, há um importante marco
temporal que retrata essa preocupação dos Estados Absolutistas. Esse marco é a Lei dos Pobres.
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Salvo no Império Romano, como salientado, até o século XVII não há quaisquer registros de
obrigações estatais assistencialistas. Já em 1601, podemos indicar um novo paradigma de proteção estatal,
que foi dado pela Poor Law (Lei dos Pobres) na Inglaterra.
A Lei dos Pobres pode ser um exemplo de previdência dos pobres? Não, pois ainda estamos falando
de proteção social realizada apenas por assistencialismo gratuito e, no caso da Poor Law, assistencialismo
estatal. A previdência, como veremos, é contributiva, e emergiu após um bom tempo. Em 1601 somente
existia assistencialismo. A proteção social estatal ainda era incipiente e objetivava tão somente a concessão
de certos benefícios assistenciais.
Quase 200 anos após a Lei dos Pobres pode-se identificar outro importante marco temporal e
normativo no avanço da proteção social. Em 1793, ingressa ao plano normativo francês um documento que
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sedimentava a seguridade social como um verdadeiro princípio de direito fundamental para qualquer pessoa.
Trata-se da segunda Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que em seu artigo XXI constou a
confirmação do direito fundamental à seguridade social. Assim, o seguro social, nas palavras da carta de
direitos fundamentais francesa de 1793, tornava-se um direito sagrado, com a seguinte redação traduzida:
“Os auxílios públicos são uma dívida sagrada. A sociedade deve a subsistência aos cidadãos infelizes, quer
seja procurando-lhes trabalho, quer seja assegurando os meios de existência àqueles que são
impossibilitados de trabalhar”.
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Em Londres, no ano de 1762, foi instituído o primeiro seguro de vida. Não se tratava, no entanto, de
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um seguro social. O primeiro seguro social, de fato, somente surgiu com Otto Von Bismarck, em 1883.
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Previa a cobertura dos riscos de doença e, posteriormente, previu também a cobertura de riscos de acidente
de trabalho, invalidez e velhice.
Marceli
Para reforçar a previsão de um seguro social, no final do século XIX, a própria Igreja Católica também
se manifestou oficialmente pela busca e manutenção da Justiça Social, quando propalou o RERUM
NOVARUM. A famosa Encíclica Papal assinada pelo Papa Leão XIII em 15 de maio de 1891 (ou seja, poucos
anos após a criação do seguro social por Otto Von Bismarck) foi determinante para a consolidação dos
influxos de mudança de paradigma estatal no que toca à institucionalização de políticas de justiça social.
A Revolução Industrial é apontada como ocorrida entre 1760 e algo em torno de 1820 a 1840.
Portanto foi claramente um grande pano de fundo dessas mudanças e do avanço da proteção social. A
Revolução Industrial funcionou, assim, como um salto para a ideia da proteção social e a necessidade de
consolidação da solidariedade com os incapacitados para o trabalho. Até então as políticas públicas de
seguridade social não existiam. Era o homem pelo homem, quem fazia sua proteção social em canais
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
exclusivos, em grupos selecionados ou pelas poucas mãos de pessoas que prestavam unilateralmente a
beneficência e a caridade (assistencialismo puro).
Assim, em meio a todos esses movimentos, a virada do século XIX para o século XX determinou uma
definitiva passagem do assistencialismo para a instituição de sistemas de previdência. A grande diferença
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entre o modelo meramente assistencial e um sistema previdenciário pragmático é que a assistência atua
quando o infortúnio já ocorreu, resgatando o indivíduo de uma situação periclitante do ponto de vista
existencial, ajudando-o a sobreviver. Já a previdência atua de modo previdente, acautelando o indivíduo para
que ele não passe apuros quando o infortúnio ocorrer. É, em verdade, como vimos, um sistema de seguro
social.
Houve grande avanço histórico da proteção social no século XX, especialmente em função de eventos
mundiais muito importantes. Com isso, consagrou-se o chamado “Welfare State”, ou “Estado de Bem-Estar
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Social”.
Houve, em verdade, uma crise no que toca aos Estados que adotaram o sistema de bem-estar social.
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Hoje, ao que podemos concluir com as reformas de enxugamento da máquina estatal, tem havido um
crescente redimensionamento da função social estatal, com a revitalização de pilares do liberalismo mais
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puro. Tem-se entendido, contudo, que os direitos sociais fundamentais de 2ª dimensão são inolvidáveis no
processo de desenvolvimento socioeconômico dos povos, de modo que há vedação ao retrocesso social.
No entanto a vedação ao retrocesso social é um conceito bastante fluido e que pode ser sopesado
em algumas contingências econômicas, tal como se pode perceber na última reforma previdenciária ocorrida
no Brasil, por meio da Emenda Constitucional n.º 103, com sensível diminuição da renda mensal dos
benefícios previdenciários e demais restrições incidentes ao regime geral de previdência social. Sendo assim,
os sistemas de proteção social nos Estados têm passado, em geral, por uma redefinição, a fim de se equalizar
a possibilidade econômica estatal juntamente com a preservação da justiça social e a manutenção da
dignidade da pessoa humana.
2.5. Síntese das quatro fases históricas dos sistemas de proteção social
Sintetizamos, portanto, todo esse processo histórico dos sistemas de proteção social em 4 etapas,
quais sejam: a) fase embrionária; b) fase do crescimento; c) fase da institucionalização; d) fase da
ressignificação.
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3.1. O assistencialismo
Um quadro normativo para a instituição da Previdência Social no Brasil surgiu, então, em 1821,
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com base em um texto do Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara, o que se deu por meio da publicação
do Decreto de 01 de outubro de 1821. Esse Decreto fixou uma regra especial de aposentadoria para os
mestres e professores, que podiam, então, se aposentar com 30 anos de serviços prestados.
A partir desse Decreto, outras normas vieram para instituir planos de previdência no Brasil. A
evolução dessas normas se deu da seguinte forma:
• Decreto de 01 de outubro de 1821: conforme dito acima, instituiu regra especial de
aposentadoria para os mestres e professores;
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estatais e não apenas àqueles integrantes dos quadros das Estradas de Ferro Central do Brasil;
• Constituição Federal de 1891, em seu art. 75: instituiu aposentadoria por invalidez aos servidores
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públicos;
• Lei n.º 217, de 29 de novembro de 1892: instituiu a aposentadoria por invalidez e pensão por
morte aos operários do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro.
O marco incontroverso para se dizer que, a partir disso, efetivamente começou no Brasil um
sistema de Previdência Social foi, segundo a doutrina, a famosa Lei Eloy Chaves, que veio ao mundo jurídico
por meio do Decreto Legislativo n.º 4.682, de 24 de janeiro de 1923. A citada Lei criou as Caixas de
Aposentadoria e Pensões nas empresas de estradas de ferro existentes, dando a garantia desses benefícios
aos respectivos dependentes daqueles trabalhadores que contribuíssem com o sistema instituído. É
importante frisar que essa norma criou as referidas caixas de aposentadoria e pensão tanto para as empresas
estatais, quanto para as empresas privadas que atuavam no Brasil no ramo de transporte ferroviário. Assim,
aponta-se que esse marco legal também foi o embrião para a chegada ao Brasil da previdência privada
complementar ou dos fundos de pensão.
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Os benefícios instituídos nas referidas Caixas de Aposentadoria e Pensão eram, unicamente, como o
próprio nome já diz, de aposentadoria e pensão por morte. Em suma, a Lei Eloy Chaves tratava primariamente
de previdência, mas instituía também alguns benefícios assistenciais e de saúde aos seus filiados. Em função
disso, é muito importante observar que esse marco temporal é relativo ao que se poderia conceber como
sendo a primeira normatização da Previdência Social no Brasil
Cabe lembrar que, antes mesmo dessa Lei, já havia sido criada, pelo Decreto n.º 9.284, de 30 de
dezembro de 1911, a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Operários da Casa da Moeda. Nada obstante, a
Lei Eloy Chaves continua sendo um marco temporal de relevância, porque sua norma instituiu mais um
regime de previdência social para funcionários públicos. Antes de sua existência, havia apenas e
isoladamente um único regime de Previdência Social no Brasil para determinada classe do funcionalismo
público, os servidores da Casa da Moeda.
A partir da Lei Eloy Chaves, nesse momento da história, iniciava-se a era das CAPs – Caixas de
Aposentadorias e Pensões, as quais se davam dentro do âmbito particularizado de cada empresa. Isso
mudou, alguns anos mais tarde, com o início de uma era normativa voltada para a criação de institutos
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próprios de previdência que abarcavam as categorias como um todo e não apenas as empresas,
individualmente, como era no tempo das CAPs.
A grande diferença da era anterior (das CAPs) para essa (dos IAPs) foi que a filiação passou a ser feita
dentro de cada categoria profissional, logo mais abrangente, enquanto anteriormente tudo era feito apenas
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por meio das empresas, o que, na prática, abalava a manutenção das Caixas em virtude da dificuldade de,
por vezes, manter o número de filiados. Algumas décadas depois todos esses institutos foram fundidos em
apenas um, o Instituto Nacional da Previdência Social.
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Até a promulgação da CF/1988, havia as seguintes entidades da Administração Pública Federal que
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atuavam na seguridade social do Brasil: a) INPS – Instituto Nacional de Previdência Social, tratando-se de
uma autarquia federal criada em 1966 (Decreto-lei n.º 72/1966), resultante da unificação de todos os
Institutos de Aposentadoria e Pensão que existiam na época; b) INAMPS – Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social, tratando-se de uma autarquia federal criada em 1977 (Lei n.º 6.439/1977) e
que cuidava apenas da assistência médica dos segurados; c) IAPAS – Instituto de Administração Financeira
da Previdência e Assistência Social, tratando-se de uma autarquia federal criada também em 1977 (pela
mesma Lei n.º 6.439/1977) e que cuidava, essencialmente, da arrecadação, fiscalização e cobrança das
contribuições e demais recursos destinados à previdência e assistência social; d) DATAPREV – Empresa de
Processamento de Dados da Previdência Social, tratando-se de uma empresa pública federal, cuja criação
foi autorizada em 1974 (Lei n.º 6.125/1974) e que cuidava da “análise de sistemas, a programação e execução
de serviços de tratamento da informação e o processamento de dados através de computação eletrônica,
bem como a prestação de outros serviços correlatos”.
No período pós Constituição de 1988, a autarquia federal previdenciária passou a ser o INSS –
Instituto Nacional do Seguro Social, pelo Decreto-lei n.º 99.350, de 27 de junho de 1990, mediante a fusão
do IAPAS com o INPS.
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
5. AS REFORMAS PREVIDENCIÁRIAS
O objetivo da referida Emenda era o de alterar as normas previdenciárias tanto do regime geral de
previdência social, quanto do regime próprio dos servidores públicos. O principal enfoque da EC n.º 20, no
entanto, foi o de mudar as regras de aposentadoria dos servidores públicos, especialmente no que toca à
exigência de idade mínima para o gozo de tal benefício.
Afora essas mudanças, o grande intento deste dispositivo foi inserir o requisito etário (idade mínima
para se aposentar) nas aposentadorias, tanto do regime próprio quanto do regime geral. Tratou-se, também,
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de extinguir o instituto do “tempo de serviço”, bem como proibiu a contagem de tempo ficto, especialmente
nos regimes próprios. Isso, porque aposentadoria dos funcionários públicos, historicamente, era tratada
como sendo uma benesse, um prêmio àquele que prestou serviços de interesse público. O vértice desse
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antigo sistema era o tempo de serviço e não o tempo de contribuição. Isso foi determinante, claro, para
desequilibrar as contas públicas destinadas ao pagamento desses benefícios nos correspondentes regimes
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próprios.
Sintetizaremos alguns pontos importantes para o seu estudo:
Marceli
Sobre esse ponto, frisa-se a importância de observar que a cobrança de contribuição previdenciária
aos inativos e pensionistas dos regimes próprios somente foi realmente alcançada em nosso ordenamento
jurídico por meio da Emenda Constitucional n.º 41/2003, ante a omissão da EC n.º 20/1998 quanto a isso. Ao
que consta do intento governista da época, havia a vontade de se instituir a contribuição dos inativos por
meio da EC n.º 20, mas isso não ocorreu, e somente por meio da Lei n.º 9.783/1999 se conseguiu, ao menos
tentou-se, tal exigência tributária.
A Lei n.º 9.783/1999, que dispunha “sobre a contribuição para o custeio da previdência social dos
servidores públicos, ativos e inativos, e dos pensionistas dos três Poderes da União” (grifo nosso), foi editada
logo após a EC n.º 20, mas foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da
ADI 2010/DF (precedente que, depois, serviu de paradigma para o STF declarar a inconstitucionalidade de
“contribuições” semelhantes instituídas pelos Estados-membros sobre seus servidores aposentados, e sobre
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
(...) A Lei n.º 9.783/99, ao dispor sobre a contribuição de seguridade social relativamente a
pensionistas e a servidores inativos da União, regulou, indevidamente, matéria não
autorizada pelo texto da Carta Política, eis que, não obstante as substanciais modificações
introduzidas pela EC n.º 20/98 no regime de previdência dos servidores públicos, o
Congresso Nacional absteve-se, conscientemente, no contexto da reforma do modelo
previdenciário, de fixar a necessária matriz constitucional, cuja instituição se revelava
indispensável para legitimar, em bases válidas, a criação e a incidência dessa exação
tributária sobre o valor das aposentadorias e das pensões.
20/ 1998 e a EC 41/ 2003, sob pena de enriquecimento ilícito do ente estatal. (Leading Case:
RE 580.871, Tribunal Pleno, Rel. Min.º Gilmar Mendes, DJe 10.12.2010).
Portanto, o Supremo Tribunal Federal assentou, sem deixar dúvidas, que entre as Emendas
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Constitucionais n.º 20 e n.º 41 é inviável a cobrança das contribuições previdenciárias em face dos inativos
e pensionistas dos regimes próprios, devendo ser devolvidas aos contribuintes originários. Vejamos2:
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inativos e pensionistas deve ser analisada em três momentos distintos: o primeiro, antes da
edição da Emenda Constitucional n.º 20/1998; o segundo, durante a vigência da Emenda
Constitucional n.º 20/1998 e o terceiro momento, após o advento da Emenda
Constitucional n.º 41/2003.
1 MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito, in “A contribuição dos inativos”, artigo publicado no site Migalhas de Peso, extraído de:
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI4912,81042-A+contribuicao+dos+inativos, em 11/11/19, às 14:23.
2 Extraído de: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoTexto.asp?id=2345994&tipoApp=RTF, em 11/11/2019, às 13:53.
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
limite etário previsto no caput, do art. 9º, ou seja, 53 anos de idade para homens e 48 anos para mulheres
(já que o § 2º, condiciona-se à leitura sistemática de todo o art. 9º, da EC 20, inclusive seu caput, que prevê
a idade mínima).
A aposentadoria por tempo de contribuição proporcional foi extinta, mas a EC n.º 20 possibilitou uma
regra de transição para aqueles que não queiram esperar os 35 anos de contribuição previstos, para homens,
ou 30 anos, para mulheres.
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A EC n.º 20/1998 inclui o § 3º ao art. 201, da CF/88, prevendo que todos “os salários de contribuição
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considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei” (grifo nosso). A Lei
referida foi editada posteriormente, qual seja a Lei n.º 9.876/1999, a qual trouxe mudanças na sistemática
do cálculo do salário de benefício. A mudança foi no sentido de que, antes, o período básico de cálculo era
delineado pelos últimos 36 salários de contribuição, porém a partir da Lei n.º 9.876/1999 o PBC (Período
Básico de Cálculo) passou a ser todo o período contributivo, ou melhor, a média de todo o período
contributivo do segurado.
Cabe lembrar, contudo, que em respeito ao direito adquirido e a expectativa de direito dos então
segurados, criou-se regra de transição no sentido de que essa mudança somente é aplicável para aqueles
filiados após a edição da Lei n.º 9.876/1999. Desse modo, aos anteriormente filiados continuou valendo o
regime de se apurar a média com base apenas nos últimos 36 meses de salário de contribuição. Perceba que,
de fato, o regime anterior pode ser, em geral, mais favorável porque se houve, eventualmente, antes
daqueles 36 meses, alguns salários de contribuição não tão altos, a média tende a ser mais baixa. De outro
lado, pode ser, também, desfavorável, caso o segurado tenha tido altos salários no período anterior. Essa é,
aliás, a questão central da chamada tese da “revisão da vida toda”, a qual, atualmente, pende de julgamento
do Supremo Tribunal Federal (Tema 1102 de sua repercussão geral).
na pensão por morte paga pelos regimes próprios. Essas pensões, com a EC n.º 41, passaram a ter como
limite o teto dos benefícios concedidos no âmbito do RGPS. Estabeleceu-se um primeiro limite, que é a
totalidade dos proventos do servidor falecido, ou da remuneração deste. Obviamente, não faria mesmo
sentido lógico, tampouco atuarial, que os proventos da pensão ultrapassassem os proventos da
aposentadoria ou a remuneração ganhada em vida pelo instituidor. Além disso, estabeleceu-se um segundo
limite, que é o teto dos benefícios do RGPS, somado à rubrica máxima de 70% do valor total dos proventos
ou da remuneração ganhada em vida pelo instituidor. Por esse limitador, a pensão seria no máximo o TETO
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19 de fevereiro de 2004, a qual foi convertida, posteriormente, na Lei n.º 10.887, de 18 de junho de 2004.
Marceli souza
Logo, a limitação das pensões concedidas aos dependentes dos servidores públicos falecidos somente
começou a valer, realmente, a partir da publicação da referida medida provisória, eis que incide no caso o
Marceli
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Muita atenção para não confundir integralidade com o conceito de “proventos integrais”, pois são
coisas distintas.
Vejamos a didática lição doutrinária a respeito do tema, para sua fixação3:
Não confundir proventos integrais com integralidade da base de cálculo dos proventos.
Pela média, assim como já era feito no RGPS. Nesse ponto, os regimes se aproximaram ainda mais, o
que é uma tendência. Essa média deve encontrar sempre, contudo, o limite da remuneração do próprio
agente público aposentado. Outro limite estabelecido foi o de que fosse obedecido o teto do regime geral
da previdência social se o respectivo ente federado instituir um regime de previdência complementar. Hoje,
a Emenda 103 não deu mais essa opção, determinando que os entes estabeleçam regime de previdência
complementar e limitando os proventos do respectivo regime próprio ao teto do RGPS. De todo modo, vale
lembrar da evolução história dessa questão: a possibilidade de instituição desse regime de previdência
CPF: 073.496.444-77
complementar foi incluída na redação do art. 40, § 1º, CF/88, conforme as alterações feitas anteriormente,
pela EC n.º 20/1998.
Ou seja, tomando em consideração a instituição de um regime público de previdência complementar,
a aposentadoria do servidor terá duas rubricas básicas:
souza -- CPF:
• uma paga pelo ente respectivo correspondente à média de suas remunerações (média que hoje
Marceli souza
é calculada com base no art. 26, caput, da EC n.º 103), mas até o máximo previsto como teto do
RGPS;
Marceli
• outra paga por meio do respectivo regime de previdência complementar, calculados com base
em suas contribuições.
Veja: qualquer servidor público que tenha ingressado após a EC n.º 41 e que não faça jus à incidência
das regras de direito adquirido e de transição previstas naquela emenda constitucional e na Emenda n.º
20/98, quando vier a se aposentar:
• não terá direito à integralidade;
• não terá direito à paridade;
• seus proventos serão calculados com base na lei (Lei n.º 10.887/2004)4, a qual determina que
será com base na “média aritmética simples das maiores remunerações, utilizadas como base
para as contribuições do servidor aos regimes de previdência a que esteve vinculado,
3 Eduardo; MACÊDO, José L. M. Nova Previdência Social do Servidor Público. 2ª Edição. São Paulo: Método, 2007. p. 119. nota 11.
4 Cabe lembrar que a forma de cálculo deixou de ser feita com base na Lei n.º 10.887/2004 a partir da publicação da Emenda 103, de
modo que a forma de cálculo atualmente é regulada pelo art. 26, caput, da referida emenda constitucional: “Art. 26. Até que lei
discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será
utilizada a média aritmética simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para contribuições a
regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência Social, ou como base para contribuições decorrentes das
atividades militares de que tratam os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a 100%
(cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde o início da contribuição, se posterior àquela
competência”.
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FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo desde a competência
julho de 1994 ou desde a do início da contribuição, se posterior àquela competência”5;
• continuará a recolher para o regime próprio, eis que os inativos também contribuem a partir da
EC n.º 41;
• poderá, contudo, fazer jus ao abono de permanência, com o pagamento compensatório de
rubrica correspondente ao desconto previdenciário em favor do PSS – Plano de Seguridade Social,
até se aposentar6.
A Emenda Constitucional n.º 47, de 05 de julho de 2005 foi, digamos, a “rebarba” da EC 41/2003, eis
que, na época da aprovação desta, alguns pontos ficaram de fora do consenso parlamentar. Assim, na época
da EC 41, o governo não conseguiu aprovar tudo que almejava, mas 1 ano e meio mais tarde lograram êxito
em recuperar esse lapso ao promulgar a EC n.º 47. Tratou-se, em verdade, de uma “PEC paralela” à PEC que
resultou na EC n.º 41, mas que somente foi ultimada um pouco depois, em 2005.
Essa Emenda Constitucional criou uma 3ª regra de transição para a aposentadoria de quem já era
servidor público antes da EC 20/1998, ou seja, antes da publicação dela, em 16/12/98. Essa regra de transição
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veio com a finalidade de abrandar, em verdade, outra regra de transição. Além disso, teve como objetivo
garantir a aposentadoria com proventos integrais, com paridade, àqueles servidores que haviam ingressado
no serviço público antes da EC 20/1998.
Além disso, a EC 47 inovou o ordenamento jurídico com hipóteses de aposentadorias especiais antes
não previstas:
• aposentadoria especial para os servidores PORTADORES DE DEFICIÊNCIA;
• aposentadoria especial para os servidores que exercem ATIVIDADES DE RISCO;
CPF: 073.496.444-77
regulamentação desses benefícios especiais, suas formas de concessão, comprovação das condições
especiais etc. Na mesma toada de proteção dos servidores públicos em situação de vulnerabilidade, a EC 47
Marceli souza
A Emenda Constitucional n.º 88, de 07 de maio de 2015, tratou exclusivamente da elevação da idade
para a aposentadoria compulsória no serviço público. A partir dessa Emenda, a aposentadoria compulsória
passou a ser de 75 anos para os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do
Tribunal de Contas da União, conforme a nova redação dada ao art. 100, do ADCT – Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias. Afora a especificidade das aposentadorias compulsórias nos referidos Tribunais,
a Emenda manteve, em regra, a aposentadoria obrigatória para os servidores em geral, no mesmo patamar
etário, ou seja, 70 anos de idade. Todavia, deu expressa autorização para que essa idade fosse aumentada
para até 75 anos por meio da edição de lei complementar que trate da questão, para os cargos que nela
forem indicados.
No entanto a celeuma maior da EC n.º 88/2015 esteve na expressão contida no trecho final do
referido art. 100, do ADCT, que condicionava, na prática, a manutenção dos Ministros daquelas Cortes a
nova sabatina pelo Senado Federal, tal como previsto no art. 52, III, da CF/88. Do jeito que foi aprovada,
portanto, a EC 88, os Ministros passariam novamente por essa arguição pública na Câmara Alta de nosso
Parlamento, ao atingirem a idade de 70 anos, caso quisessem permanecer até os 75 anos. O STF, entretanto,
por meio da apreciação da ADI 5316, cautelarmente, decidiu suspender os efeitos da expressão “nas
condições do art. 52 da Constituição Federal”.
Vejamos:
20
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
Com relação à Emenda 103, dedicaremos oportunamente dois capítulos específicos para a
abordarmos com profundidade.
6. MODELOS DE PREVIDÊNCIA
Quando falamos de modelos de previdência, temos que nos reportar aos modelos essenciais, quais
sejam os modelos de Bismarck e Beveridge, que se constituíram e foram se formando na fase experimental
da seguridade social. Nessa fase experimental, podemos citar, assim, Otto Von Bismarck (o maior estadista
alemão do século XIX, que viveu entre 1815 e 1898) e William Beveridge (economista britânico, que viveu
entre 1879 e 1963).
O sistema Bismarckiano era de capitalização, por meio do qual tanto os empregadores quanto os
empregados contribuíam. Apenas os contribuintes, assalariados, portanto, é que estavam cobertos pelo
sistema de Bismarck. Veja-se que o sistema de capitalização nasce com a característica de prescindir da
solidariedade para existir. Em verdade ele é contrário, de certa forma, a esse princípio, na medida em que
se trata de um modelo de previdência que se finca na contribuição particularizada de cada segurado. O
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um modelo assistencialista, derivado do chamado Plano Beveridge criado no pós 2ª Guerra Mundial.
A partir desses modelos essenciais de previdência, alguns sistemas de proteção securitária social
foram sendo desenvolvidos ao longo do mundo. Os sistemas podem variar conforme a linha política
proeminente em um determinado Estado, podendo se desenvolver como: a) modelo baseado em um regime
souza -- CPF:
de governo social-democrata, que se constitui na máxima universalidade dos benefícios oferecidos, com
cobertura para toda a população e com benefícios, muitas vezes, sem qualquer contribuição (em geral é
Marceli souza
se constitui pelo regramento de sistemas de previdência em geral baseados no modelo de Bismarck, ou seja,
com compulsoriedade de contribuição para os assalariados, estabelecendo, com isso, um seguro social no
sentido técnico dessa acepção, de modo que os benefícios são proporcionais às contribuições de cada um
(capitalização das contribuições), sendo que esse modelo se desenvolveu com mais ênfase na Europa
Ocidental; c) modelo baseado em um regime de governo liberal, que se constitui pelo regramento de
sistemas de previdência mínimos, ou seja, nos quais o Estado concede tão somente uma proteção residual,
quando não for possível que o próprio cidadão consiga prover-se contra riscos sociais, direta ou
indiretamente por meio de instrumentos privados, na medida em que o Estado repassa para entidades
privadas a gestão dessa proteção social.
Afora isso, de modo sintético, os sistemas previdenciários podem ser: (i) sistemas contributivos de
capitalização, que são os regimes previdenciários nos quais há a cotização da participação de cada segurado,
com contribuições próprias que refletirão proporcionalmente em cada benefício assegurado pelo sistema;
(ii) sistemas contributivos de repartição que são sistemas contributivos lastreados no sistema de Beveridge,
nos quais há uma participação desvinculada de uma reciprocidade a ser observada entre o custeio e o
pagamento de benefícios. Isso significa que o segurado contribui, mas não necessariamente receberá
proporcionalmente aquilo que verteu aos cofres previdenciários, eis que se trata de um sistema que reparte
21
FREDERICO MARTINS PROTEÇÃO E SEGURIDADE SOCIAL • 1
os ônus e bônus atuariais de sua manutenção; (iii) sistemas privados de previdência, que podem ser
exemplificados no sistema previdenciário do Chile, o qual foi implementado na época da ditatura de Augusto
Pinochet, governo que transferiu para as chamadas AFPs (Administradoras de Fundos de Pensão) a
existência, a manutenção e o desenvolvimento da previdência chilena. As AFPs se transformaram nas
gestoras dos fundos arrecadados diante das contribuições dos segurados, com destinação desses recursos
para investimentos no mercado nacional e exterior, capitalizando-se as cotas de cada segurado. Esse modelo
hoje é o preconizado pelo Banco Mundial em matéria de sistema previdenciário, com um padrão a ser
seguido pelos países em desenvolvimento. O seu funcionamento prevê uma cotização a ser feita pelo
trabalhador, circunstância que transformou o regime antigo, de repartição, em regime de capitalização. Para
abaixo dessas cotas, o Estado chileno garante o pagamento de um benefício assistencial àqueles que não
conseguirem a cota mínima.
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FREDERICO MARTINS
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PRINCÍPIOS GERAIS DA SEGURIDADE SOCIAL • 2
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS GERAIS DA SEGURIDADE SOCIAL • 2
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 194, parágrafo único, lista o que descreve como sendo
os objetivos da seguridade social no Brasil:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - equidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento;
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e
do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 20, de
1998)
benefícios dos segurados rurais e urbanos deve ser lido com ponderação, pois há prestações executadas no
campo urbano da seguridade social brasileira que não se expandem para o campo, tal como o seguro-
Marceli
desemprego. Já a respeito da equivalência entre os benefícios rurais e urbanos segue a mesma necessidade
de ponderação, sendo certo que o termo equivalência não significa identidade de valores. Logo, o
trabalhador rural, como veremos, ao se aposentar por idade, vai para sua inatividade com apenas um salário-
mínimo, enquanto o trabalhador urbano pode ganhar mais do que um salário-mínimo se a média de suas
contribuições assim permitir.
para cada parte envolvida no financiamento, há uma forma de participação que se amolda às suas
circunstâncias, de modo que, por exemplo, o trabalhador e o empregador contribuem sobre o seu salário de
contribuição pago ou creditado a qualquer título, enquanto as empresas contribuirão com base na
receita/faturamento e lucro. É de se perceber, assim, que a equidade na forma de participação do custeio
deve ser vista sob o aspecto da eleição daqueles que funcionarão como bases financiadoras do sistema, bem
como sob a ótica de que cada um desses que compõe essa base deverá ter a incidência das contribuições
conforme suas capacidades contributivas.
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trabalhadores e das empresas para que a seguridade social permaneça de pé em termos financeiros. A
diversidade da base de financiamento da seguridade social brasileira é mantida da seguinte forma:
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FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS GERAIS DA SEGURIDADE SOCIAL • 2
própria das entidades que compõem a seguridade social, sem que se confunda sua existência com a
existência do Estado.
H) PRINCÍPIO DA PRÉVIA FONTE DE CUSTEIO: a prévia fonte de custeio é princípio que evita a criação,
extensão ou majoração de qualquer benefício previdenciário, assistencial ou de saúde que não encontre uma
prévia fonte de custeio, tanto no tópico do financiamento quanto orçamentário. Assim, deve haver
contribuição social para que haja uma daquelas hipóteses de expansão da seguridade social, assim como
deve haver prévia indicação de dotação orçamentária para tanto.
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FREDERICO MARTINS
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FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
Nosso conceito de Fonte de Direito Previdenciário é o mesmo conceito de Fonte do Direito em geral.
Usa-se a palavra Fonte (com letra maiúscula no início, pois a referência é ao direito objetivo e não ao direito
subjetivo). Quando se fala, portanto, em Fontes do Direito previdenciário, verifica-se onde nascem as normas
relativas à proteção social delineada em nosso sistema constitucional de seguridade social.
Podemos afirmar que as Fontes do Direito são modos de expressão da norma jurídica. Conforme
ensina LAZZARI7, Fonte do Direito “na concepção majoritária dos estudiosos, é todo fato social. Contudo,
devem-se estudar quais os fatos sociais geradores de normas jurídicas no campo do Direito Previdenciário,
vale dizer, de onde se originam os princípios e regras aplicáveis a este ramo do Direito”.
Em síntese, as Fontes do Direito Previdenciário podem ser materiais ou formais.
As fontes materiais do Direito Previdenciário são os fatos sociais, políticos e econômicos que ensejam
o surgimento da norma jurídica previdenciária. Ou seja, é tudo aquilo que propicia, motiva e estimula o
surgimento da lei e, dessa maneira, da norma relativa à seguridade social. Uma Fonte material do Direito
Previdenciário, pois, pode ser facilmente exemplificada pelo déficit nas contas públicas relacionado à
Previdência Social no país. A necessidade de equilíbrio das contas públicas é Fonte material clara do Direito
Previdenciário, fazendo com que o Congresso Nacional vote atos normativos (emendas constitucionais, leis
ordinárias etc.) que possam atender às contingências socioeconômicas advindas daquelas circunstâncias
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Por obvio que não podemos esquecer as normas advindas da Constituição, Fonte formal de suprema posição
neste rol. As principais fontes constitucionais previdenciárias estão dispostas nos artigos 40 e 201, os quais
souza -- CPF:
tratam, respectivamente, das regras relativas aos regimes próprios e ao regime geral de previdência social.
Em verdade, todo o Capítulo II, do Título VIII, da Constituição Federal de 1988, é de suma importância para o
Marceli souza
estudo das fontes do Direito da Seguridade Social, englobando as regras e princípios atinentes não apenas à
Marceli
2. EMENDAS CONSTITUCIONAIS
Além das normas do poder constituinte originário, também se devem incluir no rol de Fontes formais de
suprema categoria as Emendas Constitucionais que advieram após a promulgação da Constituição de 1988.
Cada Emenda Constitucional que promoveu reformas previdenciárias em nosso ordenamento alterou
significativamente nosso sistema de previdência social, introduzindo normas permanentes na Constituição
Federal de 1988, mas também apresentando normas de transição, normas asseguradoras de direito
adquirido e, por fim, normas transitórias. Justamente por isso, as próprias Emendas Constitucionais ditas
anteriormente, por vezes, continuam a funcionar como Fontes formais do Direito Previdenciário, pois em seu
próprio texto podemos encontrar dispositivos em plena vigência, que não se esvaíram unicamente com a
finalidade de alterar o corpo da Constituição em si.
7Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2516-2518). Forense.
Edição do Kindle.
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FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
3. CONSTITUIÇÕES ANTERIORES
Não podemos nos esquecer que até mesmo, por vezes, constituições anteriores também funcionam
como Fontes formais de suprema posição no Direito Previdenciário. Isso ocorre em função da aplicação do
princípio do tempus regit actum, já que, muitas vezes, é necessário verificar quais eram os requisitos
normativos da época da contingência social para saber se há direito a um benefício específico ou não.
4. LEIS COMPLEMENTARES
As leis complementares são importantes Fontes formais do Direito Previdenciário, sendo espécie
normativa bastante usada para a regulamentação dos direitos constitucionalmente assegurados em nossa
Carta de 1988. Como se sabe, não há diferença hierárquica entre uma lei ordinária e uma lei complementar,
derivando o uso de uma ou de outra apenas pela escolha do Constituinte. No Direito Previdenciário temos
vários assuntos que são tratados por lei complementar, em função de exigência expressa de nossa
Constituição de 1988.
5. LEIS ORDINÁRIAS
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As leis ordinárias são a principal e mais frequente Fonte formal do Direito Previdenciário, uma vez
que as leis complementares são, como visto acima, usadas apenas para alguns temas previamente definidos
pelo Constituinte. As leis ordinárias mais importantes do Direito Previdenciário, relativamente ao regime
geral de previdência social, são as Leis n.º 8.213 e 8.212, ambas de 1991. Aquela “dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e dá outras providências”, enquanto essa “dispõe sobre a organização da
Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências”.
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6. MEDIDAS PROVISÓRIAS
especial no campo do Direito Previdenciário, sobretudo no relativo ao RGPS. Um exemplo pode ser
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representado pela edição da Medida Provisória 871/2019, que foi convertida na Lei n.º 13.846/2019, a qual
veiculou em nosso ordenamento jurídico a chamada minirreforma previdenciária.
Marceli
7. DECRETOS LEGISLATIVOS
8Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2572-2574). Forense.
Edição do Kindle.
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FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
merece destaque o Decreto Legislativo n.º 269, de 18.9.2008, que ratificou a Convenção
n.º 102 da Organização Internacional do Trabalho, com o que o Brasil se tornou o 44º país
do mundo a aderir a seus termos, assumindo o compromisso, perante a comunidade
internacional, de seguir os princípios e padrões consagrados pela OIT para a organização
dos sistemas de seguridade social (grifo nosso).
Essa convenção indica as contingências sociais indispensáveis do ponto de vista jurídico para que seja
considerado válido um sistema de seguridade social adotado por um Estado signatário, devendo prever
proteção aos riscos relacionados a doença, assistência médica, desemprego, acidentes de trabalho, velhice,
invalidez, doenças ocupacionais, maternidade etc.
Outro exemplo pertinente ao Direito Previdenciário é o Decreto Legislativo n.º 132, de 23 de maio
de 2018, que aprovou o acordo internacional de “Previdência Social entre a República Federativa do Brasil e
os Estados Unidos da América, firmado em Washington, em 30 de junho de 2015”. O referido acordo
internacional foi internalizado efetivamente por meio do Decreto n.º 9.422/2018, que promulga o “Acordo
de Previdência Social entre a República Federativa do Brasil e os Estados Unidos da América, firmado em
Washington, em 30 de junho de 2015”. Lembrando que um tratado internacional passa por algumas fases a
fim de que seja internalizado em nosso ordenamento jurídico, a saber: negociação, assinatura do tratado,
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aprovação parlamentar, ratificação, promulgação e publicação. A aprovação parlamentar é feita por meio de
Decreto Legislativo, enquanto a promulgação é feita por Decreto autônomo do Presidente da República, no
uso da atribuição prevista no art. 84, IV, CF/889.
Também existem no campo do Direito Previdenciário, conforme previsão dada pelo art. 85-A, da Lei
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n.º 8.212/1991:
9. DECRETOS REGULAMENTARES
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9“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução”.
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FREDERICO MARTINS FONTES DA SEGURIDADE SOCIAL • 3
Uma das Instruções Normativas mais importantes é justamente a Instrução Normativa INSS 77/2015,
que regulamenta, ainda mais, as normas previstas na Lei n.º 8.212/1991 e na Lei n.º 8.213/1991, as quais,
por sua vez, já são detalhadas no Decreto n.º 3.048/1999. Como exemplo de Portaria editada no âmbito do
Direito Previdenciário, pode-se citar a Portaria 450, de 3 de abril de 2020, editada pelo Ministério da
Economia/Instituto Nacional do Seguro Social/Presidência, a qual dispõe “sobre as alterações constantes na
Emenda Constitucional n.º 103, de 12 de novembro de 2019, e na Medida Provisória n.º 905, de 11 de
novembro de 2019”.
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
A interpretação das normas jurídicas de direito previdenciário não é diferente das normas jurídicas
em geral. Existem, claro, algumas peculiaridades, especialmente quando levamos em consideração a
vulnerabilidade do destinatário da norma jurídica. Deve ser sempre lembrado que estamos tratando de um
complexo de direitos e obrigações que visam, em última análise, a entrega de políticas públicas de proteção
social.
Dessa maneira, como veremos ao longo deste capítulo, existe sempre a preocupação de entregar a
melhor e mais favorável interpretação possível ao segurado da previdência social. Em verdade, há uma
constante ponderação entre as duas faces de um mesmo direito fundamental: o direito fundamental à
seguridade social. Sobre uma face desse direito fundamental, vemos a hipossuficiência e a vulnerabilidade,
que reclamam a interpretação da norma previdenciária conforme seus fins sociais; sobre a outra face,
percebemos o próprio sistema de previdência social, como um todo uno e incindível.
De todo modo, não há como fugir da regra e dos métodos tradicionais de interpretação da norma,
sendo necessário que recorramos aos métodos de interpretação oferecidos pela hermenêutica. Como em
qualquer disciplina jurídica, na interpretação do Direito Previdenciário deve-se buscar antes e sempre a
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vontade do Constituinte. E não é suficiente, evidentemente, a interpretação calcada apenas com base na
leitura das leis em sentido estrito. Em virtude disso, a interpretação das normas de Direito Previdenciário
deve se compreender, em um primeiro, momento na leitura das normas constitucionais respectivas e, em
um segundo momento, na busca das normas jurídicas presentes na legislação em geral. Naquele primeiro
passo, fazemos uso da hermenêutica constitucional; neste último, da hermenêutica clássica.
Cabe lembrar que estamos transitando em regramentos cujas bases constitucionais veiculam direitos
fundamentais de 2ª dimensão (direitos sociais). Sendo assim, é mais do que impositivo que o intérprete da
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norma previdenciária a leia com horizonte largo quanto a sua capacidade de efetivar o direito fundamental
que ela carrega, isto é, deve-se buscar a máxima efetividade dos direitos previdenciários.
No percorrer desse caminho hermenêutico complexo podem surgir dúvidas em relação a
interpretação mais adequada ao caso concreto. Nesses casos é que deve surgir para o aplicador do Direito
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Previdenciário, com particular consideração, o princípio da norma mais favorável ao segurado. A doutrina
também denomina o princípio da interpretação mais favorável ao segurado como sendo princípio da
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proteção ao hipossuficiente, bem como princípio pro misero e, por fim, como princípio pro homine.
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É importante registrar que a possibilidade de interpretação mais favorável se volta sempre para a
norma e não para os fatos. A dúvida fática sobre a existência ou não de uma condição jurídica que permita
a concessão de um benefício não poderá resultar na procedência de um pedido unicamente em função do
princípio pro homine. A aplicação desse princípio não resolve a existência de dúvida sobre algum elemento
de prova relativa aos fatos alegados pela parte requerente, mas sim a dúvida na interpretação da lei, ou
melhor, a ambivalência hermenêutica da leitura da norma de Direito Previdenciário. Se houver mais de uma
interpretação possível, dentro dos elementos e métodos hermenêuticos, a escolha do intérprete deverá
recair naquela que seja mais favorável à pessoa.
Quando na aplicação da norma previdenciária nos referirmos ao princípio pro homine, o vértice da
Pirâmide de Kelsen deixa de ser a Constituição e passa a ser sempre a norma mais favorável, ainda que ela
esteja na base da estrutura piramidal de nosso ordenamento, por meio, por exemplo, de uma instrução
normativa. Esse é o entendimento que ressoa de maneira uníssona na doutrina e citamos, nesse sentido, a
obra de Lazzari 10. In verbis:
10Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2684-2692). Forense.
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Para falarmos em aplicação das normas de Direito Previdenciário, pressupõe-se que já existe a
compreensão de suas fontes e, bem assim, de como interpretá-las. A aplicação é o passo seguinte. Nesse
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das espécies normativas previdenciárias, é possível fundamentar na doutrina de LAZZARI11, que muito bem
sintetiza essa classificação da seguinte forma: a) normas de filiação ou de vinculação; b) normas de proteção
ou de amparo e c) normas de custeio.
As normas de filiação ou de vinculação com o regime geral da previdência social traduzem regras e
princípios jurídicos de direito previdenciário que permitem a formação do vínculo jurídico com o INSS. É a
partir da leitura destas normas que uma determinada pessoa se insere efetivamente dentro do complexo de
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ainda está filiado ao sistema após um longo período sem recolhimentos previdenciários ou sem atividade
remunerada, por meio de normas que permitem o chamado “período de graça”.
Marceli souza
As normas de custeio são aquelas presentes no Direito Previdenciário que possuem natureza
Marceli
tributária. São regras e princípios de Direito Previdenciário que promovem o custeio e financiamento da
seguridade social e, bem assim, da Previdência, da Assistência e da Saúde. As normas, por exemplo, que
tratam do salário de contribuição são normas de custeio, pois elas definem qual é a base de cálculo na qual
incidirá a contribuição previdenciária paga pelos segurados.
Trata-se dos efeitos que se pode cogitar da edição de uma nova lei em relação ao quadro normativo
anterior. Assim, fala-se em direito intertemporal. Em regra, a lei previdenciária possui vigência imediata, mas
no campo do Direito Previdenciário há certas peculiaridades que devem ser observadas quando tratamos de
direito intertemporal.
A primeira delas se refere às normas de seguridade social relacionadas ao custeio do sistema de
proteção social estatal, eis que, tratando-se de tema ligado à seara tributária, devem ser observados os
princípios próprios dessa área. Com efeito, não é de se olvidar o princípio da anterioridade nonagesimal,
11Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2667-2671). Forense.
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
que se reveste em verdadeira garantia constitucional, embora não explícita no art. 5º, da Constituição
Federal de 1988. Por essa garantia, em havendo criação de contribuição social, ou modificação que majore
alguma contribuição social já existente, somente poderá haver sua incidência aos correspondentes fatos
geradores após 90 dias da publicação do veículo normativo que a introduziu em nosso ordenamento.
Isso ocorreu, por exemplo, na promulgação da Emenda Constitucional n.º 103, de 12 de novembro
de 2019, relativamente ao aumento de alíquotas. Após a promulgação da EC 103/2019, todas as novéis regras
atinentes aos benefícios, seus cálculos e demais matérias relativas à filiação e tempo de aposentadoria
entraram imediatamente em vigor, notadamente porque, como já dito, basta a promulgação da Emenda
Constitucional, sendo desnecessária a sanção presidencial para a entrada da nova norma no mundo jurídico.
Entretanto, as alterações relacionadas ao aumento das alíquotas de contribuição previdenciária imposta aos
segurados do RGPS somente puderam entrar em vigor efetivamente no dia 01/03/2020, considerando os
noventa dias exigidos pelo art. 195, § 6º, da Constituição Federal de 1988, in verbis:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
(...)
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§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após
decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".
A lei nova não retroagirá para prejudicar qualquer situação jurídica já consolidada com base nas
normas anteriormente vigentes, notadamente à vista do princípio tempus regit actum. A pedra angular de
CPF: 073.496.444-77
todo esse sistema de consideração intertemporal da norma jurídica previdenciária deve se fixar no art. 5º,
inciso XXXVI, da CF/88, que afirma que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada”.
souza -- CPF:
01/11/2019, de aposentadoria por idade a uma trabalhadora urbana de 60 anos de idade, no regime da lei
previdenciária anterior às reformas advindas com a Emenda Constitucional 103/2019, que começou a viger,
em geral, no dia 13/11/2019.
Sabe-se que a idade mínima agora é exigida para as aposentadorias programáveis do RGPS. Além
disso, não cabe mais falar em espécies distintas de aposentadoria. Antes da reforma, havia a aposentadoria
por idade e a aposentadoria por tempo de contribuição. Agora, há apenas a aposentadoria programável, com
idade mínima de 62 anos para mulheres, e 65 anos para homens. No regime anterior, a aposentadoria por
idade urbana era concedida aos homens de 65 anos e mulheres de 60 anos de idade.
Nesse caso, as novas normas constitucionais que impõem idade mínima de 62 anos de idade para as
mulheres não poderão ser invocadas pelo INSS, de maneira que o direito adquirido protege a concessão
anterior. Não haveria como a lei retroagir para quebrar o direito que já se encontra incorporado ao
patrimônio do segurado, eis que na norma anterior ele já havia cumprido todos os requisitos para a
aposentadoria por idade, ou seja, idade e carência.
Veja que nesse exemplo não apenas os requisitos da segurada foram preenchidos antes da Emenda
103, mas a própria concessão do benefício. No entanto, em havendo o preenchimento dos requisitos antes
da publicação da Emenda, não será necessário que o respectivo requerimento administrativo do segurado
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
seja feito junto ao INSS antes, também, da publicação da EC n.º 103. O que vai ser determinante para se falar
em direito adquirido à aposentadoria nos moldes da norma anterior é a verificação, no caso, de que todos
os elementos constitutivos do direito esperado já tenham sido cumpridos e satisfeitos pelo seu sujeito ativo
antes da mudança normativa. Se sim, falaremos de direito incorporado ao patrimônio jurídico da pessoa e a
legislação nova não poderá retirar tal incorporação, sob pena de lesão direta ao art. 5º, inciso XXXVI, da
CF/88, logo, lesão direta a direito fundamental.
O próprio art. 3º, caput, da Emenda 103, já assinala essa sistemática, de proteção do direito adquirido
pelo simples preenchimento dos requisitos, não sendo necessário o requerimento anterior à publicação da
emenda:
Cabe lembrar que não há se falar no Direito Previdenciário de ultratividade da lei mais benéfica,
diferentemente do que ocorre no Direito Penal. Não importa se a lei nova é mais benéfica ou prejudicial ao
segurado, ela não se aplicará aos fatos que não foram verificados na sua vigência. Se um benefício de pensão
por morte foi concedido na vigência da lei anterior que previa um coeficiente menor do salário de benefício,
as prestações previdenciárias não poderão ser revistas unicamente pelo fato de haver, agora, nova lei com
coeficiente de cálculo do salário de benefício melhor. Mais uma vez, nos reportamos ao princípio do tempus
regit actum, que demarcará, para o bem ou para o mal, o direito aplicável à espécie.
CPF: 073.496.444-77
que em um determinado tempo de vida, com determinada soma de contribuições, ela poderá se aposentar,
não significa direito adquirido. Como exposto, trata-se de “expectativa de direito” e não de “direito
Marceli souza
adquirido”.
Por óbvio que poderíamos argumentar que a Constituição Federal de 1988 protege, ainda que
Marceli
implicitamente pela cláusula pétrea do due process of law, a boa-fé objetiva, a confiança legítima depositada
nos atos administrativos e, bem assim, veda atos que violem o postulado jurídico do nemo potest venire
contra factum proprium.
Contudo, quando se trata da proteção de um sistema normativo baseado na solidariedade, as
expectativas de direito estabelecidas para relações jurídicas individuais devem ser ponderadas com a
preservação de pilares axiológicos relacionados ao regime coletivo, como um todo (diante dos princípios da
solidariedade, da contrapartida e, sobretudo, da manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema
de seguridade social). Vejamos o que diz a doutrina de Lazzari12 sobre o assunto, para bem fixarmos:
12Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 2792-2795). Forense.
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Veja-se que a lição acima pontua bem o fato de que as normas de transição são uma escolha do
Constituinte Derivado, algo que se viu, inclusive, em todas as Emendas Constitucionais relacionadas às
reformas previdenciárias no Brasil.
Vale reforçar a percepção de que o art. 23 da LINDB não impõe que haja sempre uma norma de
transição para as inovações legislativas, porque esse dispositivo legal se dirige apenas às decisões
“administrativa, controladora ou judiciais” que estabelecerem interpretação ou orientação nova sobre
norma de conteúdo indeterminado. Veja-se, aliás, que além de se dirigir apenas àqueles tipos de decisão,
também se exige que o conteúdo da decisão se refira à “norma de conteúdo indeterminado”, ou seja, nem
toda decisão que interprete ou estabeleça nova orientação sobre algum dispositivo legal ou dispositivos
legais exigirá uma “norma de transição”. Isso ocorrerá apenas para alterações interpretativas relacionadas a
eventual “norma de conteúdo indeterminado”.
Como desfecho dessa temática — da inexistência de direito adquirido a regime jurídico — colaciono,
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II - Verifica-se que, com a edição da Lei n.º 9.032/95, houve a revogação da alínea a do inciso
III do art. 18 da Lei n.º 8.213/91, que previa o pagamento de benefício de "pecúlio".
III - Ademais, a Lei n.º 9.717/98 trouxe a limitação de que os regimes próprios de previdência
social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
dos militares dos Estados e do Distrito Federal não poderão conceder benefícios distintos
souza -- CPF:
dos previstos no Regime Geral de Previdência Social, de que trata a Lei n.º 8.213/91.
IV - Desse modo, à época do falecimento do servidor, ocorrida em setembro de 2005 (fl.
Marceli souza
11), já não mais havia previsão, no Regime Geral de Previdência Social, de pagamento do
referido benefício.
Marceli
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
apresenta reflexos incorporáveis ao patrimônio de seu titular sob o manto da lei velha, mas nem sempre a
incorporação desses reflexos resultará em direito adquirido.
Uma boa lembrança da proteção do ato jurídico perfeito na esfera do Direito Previdenciário é o
relativo à comprovação de atividades consideradas nocivas para efeito de reconhecimento de tempo
especial. Essa questão também se relaciona, obviamente, com a proteção do direito adquirido, à medida em
que o período de atividade especial pode ser integrado ao patrimônio jurídico do segurado de modo
autônomo do direito à aposentadoria em si. Isso também se aplica ao reconhecimento de tempo de segurado
especial.
Ou seja, havendo mudança das normas relacionadas à caracterização e, consequentemente,
comprovação de períodos relacionados às atividades especiais de trabalho ou, ainda, a categorias peculiares
de filiados do RGPS, é de se ter em mira o citado princípio tempus regit actum e, por conseguinte, a proteção
do direito adquirido na legislação outrora vigente. Mas, especificamente no que se relaciona à comprovação
documental, por exemplo, de certos vínculos exercidos em condições nas quais havia a presença de agentes
nocivos (físicos, químicos ou biológicos), a proteção ao ato jurídico perfeito permite que os documentos
então exigíveis na época desses vínculos sejam suficientes à demonstração formal de que havia atividade
especial, mesmo que posteriormente tenha havido alteração da lei para exigir outro tipo de documentação.
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No campo do Direito Previdenciário, há dois aspectos que necessitam ser abordados em relação à
coisa julgada formada nas ações previdenciárias. A primeira é referente à natureza das sentenças
relacionadas a benefícios por incapacidade; a segunda se refere à possibilidade ou não de revisão desses
mesmos benefícios diretamente pelo INSS, ainda quando tenha havido processo judicial transitado em
CPF: 073.496.444-77
julgado.
A princípio, no que se relaciona a primeira situação, é importante entender que o conceito de
incapacidade é dinâmico e variável no tempo, exigindo análise particularizada para cada segurado e, bem
assim, para cada patologia incapacitante detectada em perícia médica. Em sendo variável e dinâmico,
souza -- CPF:
portanto, nada impede que em um processo já extinto com resolução de mérito e acobertado pelo manto
da coisa julgada tenha sido reconhecida a capacidade para o trabalho, mas, meses depois, em outro processo
Marceli souza
judicial perceba-se que houve agravamento da doença e, com isso, surgimento da incapacidade
Marceli
anteriormente postulada.
Nessa base de progressão, havendo reconhecimento judicial da incapacidade e consequente
concessão do benefício previdenciário de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, não significará isso
qualquer mácula à coisa julgada formada no processo anterior. É que a coisa julgada em processos
previdenciários relacionados à incapacidade laboral possui natureza rebus sic stantibus, ou seja, entram e se
petrificam no mundo jurídico conforme o estado das coisas conhecidas pelo Juízo na oportunidade do
julgamento.
Isso quer dizer, nos termos do Supremo Tribunal Federal13, que, quanto à coisa julgada formada
nessas condições, “sua eficácia permanece enquanto se mantiverem inalterados os pressupostos fáticos e
jurídicos adotados para o juízo de certeza estabelecido pelo provimento sentencial”. De fato, havendo
progressão da doença e atingido, então, o estado de incapacidade, parece evidente que se trata de uma nova
relação jurídica a ser certificada pelo Juízo, desde que, claro, tenha havido novo requerimento administrativo,
sob pena de não se ter desenhado o interesse jurídico no caso.
13MS 32435 AgR, Relator(a): Min.º CELSO DE MELLO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.º TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em
04/08/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-206 DIVULG 14-10-2015 PUBLIC 15-10-2015)
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Mas a jurisprudência, em verdade, oscila sobre isso e, anteriormente, o Superior Tribunal de Justiça
já havia julgado no sentido de que não é exigível o paralelismo de formas para a revisão administrativa, sendo
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dispensável que o INSS intente ação revisional para cessar benefício concedido judicialmente, desde que seja
respeitado o devido processo legal e seus consectários (contraditório e ampla defesa do segurado). Vejamos
a informação veiculada no Informativo 536, do STJ (de 26/03/2014):
suspender ou cancelar o benefício, nos termos do art. 471, I, do CPC (REsp 1.201.503-RS,
DJe 26/11/2012).
Marceli souza
O art. 43, § 4º, da Lei n.º 8.213/1991, assinala que “o segurado aposentado por invalidez poderá ser
convocado a qualquer momento para avaliação das condições que ensejaram o afastamento ou a
aposentadoria, concedida judicial ou administrativamente”. Já o art. 60, § 10, também da Lei n.º 8.213/91
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
vai na mesma linha, asseverando que o “segurado em gozo de auxílio-doença, concedido judicial ou
administrativamente, poderá ser convocado a qualquer momento para avaliação das condições que
ensejaram sua concessão ou manutenção”.
Há, nessa base, um ato normativo, a Portaria Conjunta INSS n.º 7, de 19 de agosto de 2016, que
estabelece procedimentos relacionados à revisão administrativa de benefícios previdenciários por
incapacidade prevista na Medida Provisória 739/2016. Frisa-se, contudo: qualquer corte de benefício que
não respeite a coisa julgada é, em verdade, descumprimento de ordem judicial. De outro lado, vedar
completamente a revisão de um benefício apenas porque ele foi implantado por ato judicial, após sentença
ou liminar, não é condizente com a própria natureza desses benefícios, os quais, como dito, são concedidos
sempre rebus sic stantibus.
Já no que toca à cessação programada de benefícios concedidos judicialmente, pode o INSS
promover a chamada alta programada, em caso de não demarcação do tempo de cessação na sentença
transitada em julgado. Essa possibilidade decorreu das inovações legais advindas por meio das Medidas
Provisórias n.º 739/2016 e 767/2017, as quais, posteriormente, restaram convertidas na Lei n.º 13.457/2017.
Essa Lei promoveu mecanismos de implementação dos chamados “pentes finos” do INSS, permitindo a
cessação do benefício em 120 dias se não houver data de cessação apontada administrativa ou judicialmente.
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Vejamos o que o art. 60, § 9º, da Lei n.º 8.213/1991 diz a respeito:
Saber quais são os reflexos das novas regras constantes na MP n.º 739/2016 (§§ 8º e 9º do
art. 60 da Lei 8.213/1991) na fixação da data de cessação do benefício auxílio-doença e da
exigência, quando for o caso, do pedido de prorrogação, bem como se são aplicáveis aos
benefícios concedidos e às demandas ajuizadas em momento anterior à sua vigência.
Por não vislumbrar ilegalidade na fixação de data estimada para a cessação do auxílio-
doença, ou mesmo na convocação do segurado para nova avaliação da persistência das
condições que levaram à concessão do benefício na via judicial, a Turma Nacional de
Uniformização, por unanimidade, firmou as seguintes teses:
a) os benefícios de auxílio-doença concedidos judicial ou administrativamente, sem Data de
Cessação de Benefício (DCB), ainda que anteriormente à edição da MP n.º 739/2016, podem
ser objeto de revisão administrativa, na forma e prazos previstos em lei e demais normas
que regulamentam a matéria, por meio de prévia convocação dos segurados pelo INSS, para
avaliar se persistem os motivos de concessão do benefício;
b) os benefícios concedidos, reativados ou prorrogados posteriormente à publicação da MP
n.º 767/2017, convertida na Lei n.º 13.457/17, devem, nos termos da lei, ter a sua DCB
fixada, sendo desnecessária, nesses casos, a realização de nova perícia para a cessação do
benefício;
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Em verdade, a discussão acerca da chamada “alta programada” é antiga, mas desde o ano de 2010,
em decorrência da ACP n.º 2005.33.00.020219-8 (na qual se decidiu com abrangência nacional) o INSS editou
a Resolução INSS/PRES n.º 97/2010, possibilitando a cessação automática, mas desde que não haja pedido
de prorrogação do segurado. E isso restou chancelado pelo julgamento da TNU, como visto, e reverberado
o art. 60, § 9º, da Lei n.º 8.213/1991, incluído pela Lei n.º 13.457/2017, de modo que é legitima a imposição
de um prazo máximo pelo INSS, de 120 dias, conforme diz a lei, nos casos omissos, ou seja, quando a decisão
judicial (ou administrativa) não fixar um prazo de cessação.
Ocorre que o Superior Tribunal de Justiça não comunga do mesmo entendimento, tendo proferido
reiteradas decisões no sentido de que a alta programada é contrária ao ordenamento jurídico vigente e que
não pode haver cessação do benefício sem perícia médica prévia, acompanhada de processo administrativo
que garanta ao segurado o contraditório.
Nesse sentido, vejamos:
autos. Precedentes: REsp 1.291.075/CE, Relatora Ministra Regina Helena Costa, DJe
18/2/2014; REsp 1.544.417/MT, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, DJe
19/8/2015; REsp 1.563.601-MG, Relator Ministro Humberto Martins, DJe 30/6/2016.
3. Recurso Especial não provido. (REsp 1737688/MT, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
souza -- CPF:
Embora na ementa acima transcrita não tenha constado nada a respeito da possibilidade de pedido
de prorrogação por parte do segurado, como medida apta a evitar a cessação automática, no inteiro teor do
Marceli
acórdão proferido há menção ao entendimento de que é do INSS o ônus de acompanhar o estado clínico
daquele que está em gozo do benefício por incapacidade.
Vejamos:
Sobre a necessidade de reavaliação do segurado, vale dizer que todos têm acesso ao
sistema de saúde gratuito, em que um médico do sistema público poderá acompanhar a
recuperação do segurado e indicar se ele deve pedir a prorrogação do auxílio-doença por
remanescer a incapacidade temporária.
Todavia, entendo não ser possível que um sistema previdenciário, cujo pressuposto é a
proteção social, se abstenha de acompanhar a recuperação da capacidade laborativa dos
segurados incapazes, atribuindo-lhes o ônus de auto-exame clínico, a pretexto da
diminuição das filas de atendimento na autarquia.
Resta saber como o entendimento vai se firmar, se pela legalidade da alta programada ou não, sendo
que é possível que o Superior Tribunal de Justiça defina a questão com base no art. 14, § 4º, da Lei n.º
10.259/01, que assim diz:
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
membros de repartições consulares, bem como dos membros de suas famílias que com eles vivam. Os
referidos dispositivos possuem o mesmo sentido e finalidade, apesar de regularem figuras distintas e de
estarem em Convenções diferentes.
Lembre-se que o chefe de uma Missão Diplomática representa politicamente o Estado acreditante
souza -- CPF:
no Estado acreditado, enquanto o chefe da Repartição Consular não possui função representativa do ponto
Marceli souza
de vista político, atuando no estreitamento das relações privadas entre os países, especialmente do ponto
de vista comercial.
Marceli
Nada obstante essa diferença, para ambos existe, por força das Convenções Internacionais citadas,
a previsão da ISENÇÃO da relação jurídico-previdenciária com o país em que estejam investidos de suas
funções. Em outros termos: para eles, não há nenhuma relação jurídico-tributária ou jurídico-previdenciária
com o país em que atuam, não sendo considerados segurados obrigatórios, no caso do Brasil, do RGPS.
Vejamos melhor o que dizem as normas internacionais citadas.
O art. 33, da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas estabelece que “o agente diplomático
estará no tocante aos serviços prestados ao Estado acreditante, isento das disposições sobre seguro social
que possam vigorar no Estado acreditado” (grifo nosso). Já o art. 48 da Convenção de Viena sobre Relações
Consulares estatui que “os membros da repartição consular, com relação aos serviços prestados ao Estado
que envia, e os membros de sua família que com eles vivam, estarão isentos das disposições de previdência
social em vigor no Estado receptor” (grifos nossos).
Então, em suma, estão isentos e não possuem relação jurídica com a previdência social do país em
que estejam investidos:
• os agentes diplomáticos e membros de suas famílias que com eles vivam;
• os membros da repartição consular e membros de suas famílias que com eles vivam.
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FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Cabe lembrar que o chefe da missão diplomática é, em regra, um agente diplomático (mas pode ser
um membro do corpo diplomático do país acreditante), sendo, assim, o representante máximo da missão. É
o “diplomata” como popularmente conhecemos. A correspondente Convenção de Viena, no art. 33, atem-se
em sua redação à isenção do agente diplomático, mas essa imunidade se estende, também, aos membros de
sua família.
Assim, para aqueles representantes máximos da Missão Diplomática e da Repartição Consular,
bem como para os membros de suas famílias que com eles vivam, não há condições impostas para a
isenção relativa à previdência social do país acreditado. Para eles não haverá, em nenhuma hipótese, a
formação de qualquer relação jurídica com a previdência social do país em que estão investidos. Isso significa
que, relativamente ao nosso RGPS, não serão segurados obrigatórios (salvo na absurda e hipotética situação
na qual eles não estejam cobertos pela previdência social de seus países de origem, o que é bem improvável).
E, para além dos representantes máximos e suas famílias, há outras pessoas que trabalham nas
missões diplomáticas e nas repartições consulares as quais também ficam isentas com a previdência social
do país acreditado (país receptor)?
SIM. Na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas previu-se isenção também para os
“criados particulares que se acham a serviço exclusivo do agente diplomático”. Além disso, o art. 37 da
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referida convenção complementa o artigo 33, para incluir na isenção relativa à previdência social do país
acreditado os “membros do pessoal de serviço da Missão”, bem como os “membros de suas famílias”.
Em síntese, entre aqueles que prestam serviço para as missões diplomáticas, também ficam isentos
com a previdência social (a princípio) os:
• criados particulares que se acham a serviço exclusivo do agente diplomático;
• membros do pessoal de serviço da missão, bem como os membros de suas famílias (os membros
do pessoal de serviço da missão são “os membros do pessoal diplomático, do pessoal
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(ou seja, não podem ser brasileiras). Se forem brasileiras, serão filiadas ao RGPS, salvo se já tiverem cobertura
previdenciária com o país acreditante (país de origem da missão). O brasileiro que trabalha na missão
Marceli souza
somente não será considerado segurado obrigatório se já for coberto pela previdência do país de origem ou
Marceli
de terceiro país.
Já o não-brasileiro (apátridas e estrangeiros) somente será segurado obrigatório se aqui tiver
residência permanente e, ainda, não estiver coberto pela previdência de seu país ou de terceiro país. Vejamos
a norma internacional respectiva:
43
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
Em suma, para ser segurado obrigatório no Brasil (tomando a hipótese de o país acreditado ser o
Brasil), aquele que presta serviço a uma missão diplomática em Brasília:
• precisa ser brasileiro (ainda que não tenha residência permanente aqui, pois o art. 11, I, “d”, da
Lei n.º 8.213/91, somente exclui o brasileiro que já estiver amparado pela legislação
previdenciária do país acreditante, impondo a necessidade de residência permanente no Brasil
apenas aos “não-brasileiros”);
• precisa residir permanentemente no Brasil, se for não-brasileiro;
• em ambas as situações acima, não pode haver cobertura pela legislação previdenciária do país
acreditante.
Sempre deve ser questionado se já possuem ou não cobertura previdenciária no país acreditante
(país de origem). Caso possuam, não serão segurados obrigatórios aqui no RGPS.
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exemplo, em um primeiro momento teríamos isenção, pois não se trata de um nacional do Estado acreditado,
mas sim de um estrangeiro. Todavia, esse estrangeiro possui residência permanente no Brasil e, por fim, não
está coberto pela previdência de seu país de origem. Logo, deve ser segurado obrigatório no RGPS, aqui no
Brasil.
souza -- CPF:
Perceba que, se houver situação na qual o trabalhador da missão for isento com a previdência (ou
seja, não for considerado segurado obrigatório), poderá ele se filiar, a nosso ver, como segurado facultativo.
Marceli souza
Isso se extrai do item 4 do art. 48, da Convenção, quando dispõe que a “isenção prevista nos parágrafos 1 e
Marceli
2 do presente artigo não exclui a participação voluntária no regime de previdência social do Estado receptor,
desde que seja permitida por este Estado”.
Na Convenção de Viena sobre Relações Consulares temos a mesma sistemática.
O chefe da repartição consular é o representante máximo dessa repartição. É o “cônsul”, como
costumamos ouvir. O chefe da repartição consular, bem como os membros de sua família, não possui relação
jurídico-previdenciária com o Estado acreditado (país receptor). Nesses casos, assim como nos casos dos
agentes diplomáticos e os membros de suas famílias, não há condições impostas para a isenção relativa à
previdência social no país acreditado. Ou seja, para eles também não haverá nenhuma hipótese em que se
constituirá uma relação jurídico-previdenciária com o nosso RGPS, de modo que eles não serão segurados
obrigatórios (salvo, igualmente, na absurda e hipotética situação na qual eles não estejam cobertos pela
previdência social de seus países de origem, o que é bem improvável).
Mas, assim como vimos na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, há outros membros da
repartição consular que não seja o chefe da repartição.
A expressão “membros da repartição consular”, aliás, é ampla. Para compreender melhor seu
significado, é preciso perceber que se trata, assim, de conceito que envolve não apenas o chefe da repartição
consular, mas também os demais funcionários contratados para os serviços consulares, bem como os demais
44
FREDERICO MARTINS INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 4
empregados contratados para serviços administrativos. Há, ainda, os membros do pessoal de serviço,
integrantes do conceito, também, de “membros da repartição consular” (são as pessoas empregadas no
serviço doméstico de uma repartição consular).
Para esses, as condições são as mesmas para que sejam isentos da previdência social no país
acreditado:
• se forem nacionais do país acreditado, não poderão ficar isentos com a previdência social local,
salvo se já detiverem cobertura previdenciária no país de origem;
• se forem estrangeiros e tiverem residência permanente no país acreditado, não poderão ficar
isentos com a previdência social local, salvo se já detiverem cobertura previdenciária no país de
origem.
Portanto, mais uma vez, é igualmente importante verificar sempre se já há ou não cobertura
previdenciária no país acreditante (país de origem). Caso haja essa cobertura, não importa se é brasileiro
ou estrangeiro, não serão segurados obrigatórios aqui no RGPS. O artigo 33 da Convenção de Viena sobre
Relações Diplomática dispõe, in verbis:
1. Salvo o disposto no parágrafo 3 deste artigo o agente diplomático estará no tocante aos
serviços prestados ao Estado acreditante, isento das disposições sobre seguro social que
possam vigorar no Estado acreditado.
2. A isenção prevista no parágrafo 1 deste artigo aplicar-se-á também aos criados
particulares que se acham ao serviço exclusivo do agente diplomático, desde que.
a) Não sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente; e
b) Estejam protegidos pelas disposições sobre seguro social vigentes no Estado acreditado
ou em terceiro estado.
3. O agente diplomático que empregue pessoas a quem não se aplique a isenção prevista
CPF: 073.496.444-77
no parágrafo 2 deste artigo deverá respeitar as obrigações impostas aos patrões pelas
disposições sobre seguro social vigentes no Estado acreditado.
4. A isenção prevista nos parágrafos 1 e 2 deste artigo não exclui a participação voluntária
no sistema de seguro social do Estado acreditado, desde que tal participação seja admitida
pelo referido Estado.
souza -- CPF:
5. As disposições deste artigo não afetam os acordos bilaterais ou multilaterais sobre seguro
social já concluídos e não impedem a celebração ulterior de acordos de tal natureza.
Marceli souza
É importante perceber que o art. 11, I, “d”, da Lei n.º 8.213/1991, por sua vez, deriva daqueles
Marceli
dispositivos internacionais:
Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(Redação dada pela Lei n.º 8.647, de 1993)
I - como empregado: (Redação dada pela Lei n.º 8.647, de 1993)
(...)
d) aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição consular de
carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e
repartições, excluídos o não-brasileiro sem residência permanente no Brasil e o brasileiro
amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou
repartição consular;
Em síntese:
Nos casos em que não há relação previdenciária com o RGPS, conforme quadro acima, falaremos,
portanto, em hipóteses nas quais a territorialidade da lei previdenciária é mitigada.
CPF: 073.496.444-77
Nada obsta, contudo, a incidência de outros direitos afetos à proteção social estatal previstos na
seguridade social brasileira, permanecendo hígida a possibilidade de que àqueles não-brasileiros seja
garantido o direito à saúde e, bem assim, à assistência social. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal já
entendeu pela constitucionalidade da pretensão ao recebimento de benefício assistencial previsto na Lei n.º
souza -- CPF:
8.472/1993 (LOAS) por parte de estrangeiro, mas fixando a condição de que ele seja residente no país.
Marceli souza
Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a condição de estrangeiro
Marceli
Como visto, entretanto, a única condicionante para o recebimento do benefício assistencial pelo
estrangeiro é que ele possua residência no Brasil. A ementa do julgado restou assim redigida, senão vejamos:
47
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
48
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
O processo de integração da norma jurídica visa preencher vazios na moldura positiva de nosso
ordenamento jurídico. Não se trata de buscar a vontade da lei, a mens legis, ou seja, o espírito da lei como
um produto autônomo da vontade do legislador, eis que isso é tarefa dos métodos de interpretação. Trata-
se de preencher, de colmatar as lacunas, os vazios, as fendas existentes em nosso complexo de Fontes
formais do Direito. É tarefa obrigatória do aplicador da lei, notadamente o juiz, uma vez ele não pode se
escusar de dar o direito, conforme determina, aliás, o art. 140, caput, do Código de Processo Civil:
Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
E, dentro dessa impossibilidade de se eximir de julgar alegando lacuna ou obscuridade da lei, o juiz
deve se valer dos caminhos propostos no art. 4º, da LINDB, que assim diz:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes
e os princípios gerais de direito.
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a) ANALOGIA
do Direito que verse sobre o tema a ser interpretado, julgado e aplicado, não poderá o juiz se valer da
analogia. Além disso, pela analogia pode se realizar uma heterointegração (busca de elementos de
colmatação em outras Fontes normativas) e uma autointegração (busca de elementos de colmatação na
própria Fonte normativa, por meio dos costumes, princípios de Direito e equidade nos casos expressamente
souza -- CPF:
previstos pela lei). Interessante a observação de IBRAHIM14 ao pontuar que a analogia não pode impor
Marceli souza
Exemplo de interpretação analógica foi a percebida pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento
conjunto da ADPF 132 e ADI 4277, entendendo a Corte Suprema pela constitucionalidade da proteção
previdenciária aos casais homoafetivos. Poder-se-ia dizer que um dos fundamentos — não o único — foi a
interpretação analógica da fórmula genérica que implicitamente se extrai das normas constitucionais
previstas no art. 226, da CF/88. É de se notar que o Constituinte Originário apontou a “família” como fórmula
genérica, dando exemplos de união entre homem e mulher, mas não excluindo peremptoriamente outras
formas de união civil ou meramente afetiva.
Outro exemplo que vale a pena destacar para fixação de aplicações práticas da analogia no campo
do Direito Previdenciário é o caso da possibilidade de extensão do período de graça também para o segurado
14 IBRAHIM, Fábio Zambitte. in Curso de Direito Previdenciário, 24ª Edição, Rio de Janeiro. Ed. Impetus, 2019, pg. 149.
49
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
especial, permitindo-se que essa categoria de segurado também faça uso dos prazos previstos no art. 15, da
Lei n.º 8.213/1991. Assim, entende-se na jurisprudência atual que é viável a manutenção da relação jurídico-
previdenciária do segurado especial quando considerada a extensão do período de graça de modo analógico
e isonômico com o previsto no art. 15, § 1º e 2º, da Lei n.º 8.213/1991, sem distinção entre trabalhadores,
sejam eles do meio urbano ou rural. Cabe ressaltar, inclusive, sobre isso, que tal consideração analógica já se
encontra sedimentada no âmbito da TNU, no julgamento do PEDILEF 05009466520144058400. Vejamos:
(...)
De todo o modo, o princípio da uniformidade e equivalência das prestações devidas aos
trabalhadores urbanos e rurais (parágrafo único do art.194 da CF/88) não compactua com
distinções previdenciárias que não estejam amparadas em justificativas razoáveis, seja do
ponto de vista da responsabilidade pelo recolhimento das contribuições ou no princípio da
souza -- CPF:
seletividade.
De efeito, se os trabalhadores verteram o mesmo número de contribuições, ou trabalharam
Marceli souza
pelo mesmo período (nas situações em que a lei exige apenas a prova do trabalho), sendo
todos segurados obrigatórios, não faz sentido que a manutenção da qualidade de
Marceli
Essa orientação já foi também adotada pelo próprio INSS, no Ministério da Previdência Social, por
meio da 21ª Junta de Recursos do Conselho de Recursos da Previdência Social (processo:
44232.065526/2014-91).
b) COSTUMES
É a prática geral, reiterada, constante, notória e, por fim, aceita como socialmente correta, desde
que não seja contrária à lei posta. Essa é a definição de costume. De se notar, portanto, diante da definição
acima, que o costume somente ganha relevância jurídica normativa quando é composto de um elemento
50
FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
TEMA 554, do Superior Tribunal de Justiça, por meio do REsp 1321493/PR, de modo que a questão submetida
a julgamento foi a seguinte:
Aplica-se a Súmula 149/STJ ('A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação
da atividade rurícola, para efeitos da obtenção de benefício previdenciário') aos
trabalhadores rurais denominados 'boias-frias', sendo imprescindível a apresentação de
souza -- CPF:
c) EQUIDADE
Regra geral, a equidade é mero mecanismo de integração da norma jurídica, notadamente quando
se tem em mira a determinação do art. 5º, da LINDB, no sentido de que na “aplicação da lei, o juiz atenderá
aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Contudo, para não haver particularizações
indevidas de aplicação da lei, como justificativa de alcançar sempre a justiça do caso concreto e, por isso,
atender às supostas finalidades sociais das normas, nosso ordenamento jurídico proíbe o uso indiscriminado
do recurso valorativo da equidade (até porque, historicamente, se trata de um conceito impreciso e aberto).
Essa proibição de uso indiscriminado é extraída da cláusula constitucional do devido processo legal e, ainda,
da isonomia, quanto do art. 140, parágrafo único, do Código de Processo Civil, que deixa bem claro que o juiz
“só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. No campo do Direito Previdenciário, o princípio da
equidade surge na forma de participação no custeio, tal como previsto no art. 194, V, da Constituição Federal
15 STOLZE, Pablo e Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral, 14ª edição. Editora Saraiva, 2012, São Paulo, p. 65.
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FREDERICO MARTINS INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DE NORMAS PREVIDENCIÁRIAS • 5
de 1988. Veja-se, assim, que o próprio Constituinte Originário autorizou o uso da equidade especificamente
para o regramento tributário relativo àqueles que vão financiar a Seguridade Social.
Os princípios gerais de Direito, como já enfrentado nos tópicos iniciais de nossa aula, revestem-se
hoje de natureza indiscutível de Fonte formal do Direito. Embora estejam indicados no art. 4º, da LINDB como
instrumento usado para suprir lacunas de nosso ordenamento jurídico, tratam-se, os princípios, de Fontes
diretas da norma jurídica. Nada obstante, tendo em vista que carregam sempre grande carga axiomática,
também podem ser usados como forma de concluir eventuais omissões da lei, integrando-a por meio dos
influxos de seus valores.
Quando se fala em norma, é necessário passar por alguns planos de sua consideração, quais sejam
da existência, da vigência, da validade e da eficácia. O plano da existência decorre de sua simples edição,
sanção (ou promulgação, no caso das Emendas Constitucionais) e assinatura (no caso de normas
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regulamentares). O plano da vigência origina-se da publicação da norma, podendo, contudo, ter vigência
diferida no tempo em razão do prazo de vacatio legis que cada lei pode indicar (ou, na omissão, no prazo de
45 dias, conforme o art. 1º, da LINDB). O plano da validade se relaciona com a verificação de suas exigências
de produção, tanto na ótica formal relacionada ao tramite procedimental de sua edição, quando à ótica
material, relacionada aos controles de constitucionalidade, convencionalidade e legalidade.
Por fim, o plano da eficácia, que se opera dentro da verificação da possibilidade de a norma
efetivamente produzir efeitos no mundo concreto (a publicação gera efeitos no mundo jurídico e a eficácia
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é o plano de análise de efeitos no mundo concreto). Nada obstante, tem-se entendido que as normas
veiculadoras de direitos fundamentais possuem plena aplicabilidade, em caso de omissão do legislador,
quando esse é demandado pelo Constituinte a agir na produção normativo-regulamentar, mas se mantém
souza -- CPF:
na inércia. Um bom exemplo sobre essa constatação, no campo do Direito Previdenciário, foi a edição da
Súmula Vinculante n.º 33. Tal Súmula visou dar fim aos sucessivos e intermináveis mandados de injunção
Marceli souza
impetrados pelos servidores públicos a fim de garantirem a possibilidade de aposentadoria especial, tendo
em vista a inexistência de norma regulamentadora do art. 40, então § 4º, da CF/88. Vejamos:
Marceli
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Marceli
Marceli souza
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1
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FREDERICO MARTINS
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FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Nossa Constituição prevê a ampla proteção das pessoas em face das mais diversas contingências
sociais, não se limitando a instituir apenas um Sistema Previdenciário. Consagrou, também, ferramentas
essenciais do Assistencialismo Estatal àqueles que necessitarem e não contarem com recursos próprios ou
de sua família. E, por fim, de modo amplíssimo, consolidou o acesso universal à saúde, por meio de um
Sistema Único de Saúde, com o apoio indispensável da prestação da saúde pela iniciativa privada. Temos,
então, um tripé da seguridade social, de modo que cada ramo da proteção social prevista em nossa
Constituição conta com conceitos e princípios próprios.
O Direito à previdência social, à assistência social e à saúde são direitos fundamentais. Logo,
possuem as seguintes características:
• historicidade;
• universalidade;
• relatividade;
• essencialidade;
• irrenunciabilidade;
• inalienabilidade;
• imprescritibilidade;
• inviolabilidade;
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• complementariedade;
• efetividade;
• interdependência.
1. SAÚDE
O conceito de saúde não é apenas físico, abrangendo também o aspecto mental, psicológico e
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espiritual. Dessa maneira, o direito à saúde manifesta-se sempre como uma projeção da dignidade da pessoa
humana. Ao falarmos em “saúde”, estamos tratando de um conceito conglobante do bem-estar geral
humano e não apenas a cura de doenças ou prescrição de fármacos, procedimentos cirúrgicos etc. A saúde
do ser humano, deve ser lida em sua perspectiva integral: mente, corpo e espírito. Essa é a interpretação
souza -- CPF:
efetiva que deve prevalecer quanto ao termo “saúde” constante do texto constitucional, notadamente
porque o Constituinte Originário não fez absolutamente nenhuma restrição no art. 196, da CF/88. Em nível
Marceli souza
mundial, o conceito de saúde dado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é o de que saúde “é o
Marceli
completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença". Com relação à conexão da
saúde com o meio ambiente, ela se torna ainda mais nítida por meio da leitura do art. 200, inciso VIII, da
CF/88:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei: (...)
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
Como se pode perceber da leitura do caput do art. 3º da Lei n.º 8.008/1990, a concretização da saúde
passa, de fato, por diversas condicionantes metajurídicas, relativas ao aspecto socioeconômico de nossa
sociedade. Os níveis de saúde da população são, invariavelmente, a pura expressão da realidade de
desenvolvimento humano das regiões de nosso país, dependendo, pois, a saúde, da concretização de
diversos outros direitos sociais (alimentação, moradia, saneamento básico, lazer, transporte, segurança etc.).
54
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. (Redação dada pela Lei n.º
12.864, de 2013)
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no
artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar
físico, mental e social.
Em nosso ordenamento constitucional, quando o serviço público de saúde for prestado por
particulares, o regime jurídico será privado, de modo que nessa situação as pessoas físicas e pessoas
jurídicas de direito privado desempenham atividade econômica em sentido estrito, mas sempre com a
inafastável percepção de que se trata de “serviço de relevância pública”. Em resumo, podemos afirmar que
as ações e serviços de saúde serão, na essência, sempre serviço público, mas quando forem prestados por
particulares, pessoas físicas e jurídicas de direito privado, serão atividade econômica em sentido estrito,
de regime jurídico de direito privado, mas sempre com a natureza peculiar de serem de relevância pública,
o que permitirá maior regulamentação, fiscalização e controle do Estado.
Na Constituição, o direito à saúde está previsto no art. 196, que assim dispõe:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
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universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (grifo
nosso).
constitucional também não deixa dúvidas acerca da natureza impositiva e mandamental de criação de uma
prestação estatal indeclinável quando afirma que é “dever do estado”. Nesse passo, na medida em que
impõe o dever estatal, a Constituição Federal de 1988 aponta os caminhos pelo qual garantirá essa prestação,
afirmando que “políticas sociais e econômicas” visarão à redução dos riscos de doença e de outros agravos.
souza -- CPF:
Cabe registrar, ainda, em nível de previsão constitucional, que a saúde é matéria que afeta à competência
material comum de todos os entes da Federação, estabelecendo o art. 23, da CF/88, nesse sentido, que:
Marceli souza
Marceli
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de
deficiência; (grifo nosso).
A Constituição Federal de 1988 é bem elucidativa ao descrever e dar as bases normativas do direito
à saúde e seu acesso pelas pessoas. O texto é bastante descritivo e não oferece, na letra fria da “lei”, maiores
dificuldades de entendimento de todo o sistema, apesar de alguns pontos serem ligeiramente complexos,
tais como o que descreve a origem dos recursos que serão destinados à saúde, eis que há muitas remissões
a outros dispositivos constitucionais.
Vejamos, a seguir, as características e diretrizes das ações e serviços públicos de saúde previstas na
Constituição Federal de 1988. Observe que quando se fala da atividade estatal referente à condução das
ações e serviços de saúde, inclui-se a palavra “públicos” na redação do art. 198, da CF/88. Já, de outro lado,
no art. 197, quando se fala em ações e serviços de saúde, não se menciona aquela palavra, usando-se a
expressão “de relevância pública”.
55
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
"ações e
serviços
"ações e
públicos de SAÚDE na
serviços de
saúde" Constituição
saúde" são de
integram uma Federal de 1988
relevância
rede (arts. 187 a 198)
pública
regionalizada e
hierarquizada
Isso deixa claro a dicotomia de regimes jurídicos. Os princípios e diretrizes gerais do Sistema Único
de Saúde (SUS), no entanto, devem ser aplicados a todos os componentes do sistema, inclusive às entidades
privadas conveniadas ou que possuem qualquer outra forma de contratação pública 16. Tem prevalecido
que toda e qualquer ação e serviço de saúde é, na essência, serviço público não-privativo do estado, eis que
pode ser executado também por pessoas físicas e jurídicas de direito privado.
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Municípios). Nada obstante, a Constituição Federal e 1988 é muito clara quanto à possibilidade de a iniciativa
privada atuar nos serviços de saúde pública do SUS de forma complementar. Sobre isso, diz o art. 199, §§ 1º
e 2º, da CF/88:
souza -- CPF:
A Constituição, indo além da indicação de como vai se organizar e se estruturar o Sistema Único de
Saúde, definiu também as atribuições desse grande complexo administrativo. Logo, essas atribuições foram
dadas de antemão pelo Constituinte Originário, conforme os incisos do art. 200, da CF/88. Para sua fixação,
transcrevo-os abaixo:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e
participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados
e outros insumos;
16 Essa é,
aliás, a exata dicção legal contida no art. 24, § 2º, da Lei n.º 8.080/1990: “Art. 24. (...) § 2º Os serviços contratados submeter-
se-ão às normas técnicas e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio
econômico e financeiro do contrato”. (grifo nosso).
56
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Interessante anotar que, dentre as atribuições do SUS, estão algumas que se relacionam apenas de
modo indireto com a saúde propriamente dita, o que reforça o conceito complexo, como já abordamos, do
que se deve conceber como sendo saúde. Assim, fique atento ao fato de que:
• vigilância sanitária também faz parte das atribuições do SUS;
• saneamento básico também faz parte das atribuições do SUS;
• fiscalização e inspeção de alimentos, bebidas e águas para consumo humano também fazem
parte das atribuições do SUS;
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• colaborar na proteção do meio ambiente, incluindo o meio ambiente do trabalho, também faz
parte das atribuições do SUS.
No plano infraconstitucional, é a Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990 que define toda essa
engrenagem, dispondo “sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”. Na Lei n.º 8.080/1990, o legislador incluiu os
objetivos institucionais do SUS, juntamente com suas atribuições. Os objetivos se estabelecem em torno da:
• verificação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde;
CPF: 073.496.444-77
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
Marceli
a) de vigilância sanitária;
b) de vigilância epidemiológica;
c) de saúde do trabalhador; e
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico;
III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar;
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;
VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros
insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção;
VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde;
VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano;
IX - a participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização
de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico;
XI - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados.
O financiamento do Sistema Único de Saúde, por sua vez, é tema constitucional que evoluiu
normativamente com o tempo. Atualmente, a divisão da origem dos recursos está feita no art. 198, da
Constituição Federal de 1988, in verbis:
57
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
(...)
§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do
orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único renumerado para § 1º pela Emenda
Constitucional n.º 29, de 2000)
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações
e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais
calculados sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro, não
podendo ser inferior a 15% (quinze por cento); (Redação dada pela Emenda Constitucional
n.º 86, de 2015)
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que
se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso
II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; (Incluído pela
Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a
que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e
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§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos,
estabelecerá: (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º; (Redação dada pela Emenda
Constitucional n.º 86, de 2015)
II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos
Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; (Incluído pela
Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
CPF: 073.496.444-77
III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas
federal, estadual, distrital e municipal; (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de
2000)
IV - (revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 86, de 2015)
souza -- CPF:
Os recursos da União são garantidos previamente com a aplicação obrigatória de no mínimo 15% da
Marceli
receita corrente líquida do exercício financeiro anterior. As receitas correntes líquidas são, conforme art. 2º,
da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n.º 101/2000), “o somatório das receitas tributárias, de
contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas
também correntes”, deduzidos as transferências constitucionais obrigatórias17, as contribuições
previdenciárias patronais e as eventuais compensações financeiras entre regimes previdenciários diversos.
Assim, lembre-se, não entram no orçamento da União, relativamente à saúde, as receitas concernentes às:
• transferências constitucionais obrigatórias;
• contribuições previdenciárias patronais;
• compensações entre regimes previdenciários diversos.
17As transferências constitucionais obrigatórias são as repartições da receita tributária, bem como a repartição dos fundos públicos.
De um modo geral, cabe lembrar que a repartição das receitas pela União aos demais entes federativos pode ser classificada como
direta ou indireta. A repartição direta é aquela que não passa por nenhum fundo de intermediação, sendo feita com base em critérios
objetivos e percentuais previamente definidos na Constituição Federal ou na legislação. Exemplo: IPVA, cujo rateio é feito na base de
50% para os Municípios. Já a repartição indireta é aquela que se baseia em parâmetros variáveis e cuja receita é repassada por meio
de algum fundo público. Exemplo: FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação, cujo rateio é feito, de acordo com a legislação, com base em diversos critérios, tais como índices
populacionais, bem como o IDH do respectivo Estado e Município.
58
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Para os ESTADOS e o Distrito Federal, os recursos da saúde provêm de diversas fontes tributárias (em
relação às quais devem ser deduzidas as parcelas que forem eventualmente devidas aos respectivos
Municípios). Em síntese, os recursos da saúde dos Estados e do DF:
a. vêm de um percentual sobre o produto da arrecadação integral do ITCMD, ICMS e IPVA,
descontados os valores que devem ser também repassados aos seus correspondentes Municípios.
b. vêm de um percentual sobre o produto da arrecadação integral do IRPF recolhido na fonte sobre
os rendimentos pagos pelos Estados e o DF aos seus agentes públicos (rendimentos pagos pelos
próprios entes, por suas autarquias e por suas fundações).
c. vêm de um percentual sobre as verbas que a União repassa ao Fundo de Participação dos Estados
e do DF, conforme o seguinte:
• um percentual sobre os 21,5% do IR e IPI geral arrecadados pela União (esses 21,5% são
vertidos para os Estados via FPE, sendo o rateio feito proporcionalmente na forma da Lei
Complementar n.º 62/198918, com as alterações advindas pela LC 143/13, ficando o produto
de cada Estado/DF vinculado, portanto, à prestação de ações e serviços de saúde no importe
do percentual definido na LC 141/12, o qual, como se verá mais adiante é de 12%, como
veremos mais adiante).
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• um percentual sobre os 10% do IPI geral arrecadado pela União, cujos valores são repassados
diretamente aos Estados/DF proporcionalmente ao valor das exportações de cada um.
imóveis rurais situados na área do respectivo Município (podendo essa base de cálculo chegar a
100% do ITR recolhido se o próprio Município fiscalizar e cobrar esse imposto).
Marceli
18Apenas uma observação quanto a LC 68/92: o seu artigo 2º foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal nas ADIs
n.º 875, n.º 1987, n.º 2727 e n.º 3243, eis que ele não atenderia aos critérios constitucionais previstos no art. 167, II, da CF/88, que
assim diz: “Art. 161. Cabe à lei complementar: I – (...) II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159,
especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o equilíbrio socioeconômico
entre Estados e entre Municípios”. A LC 143/13, portanto, veio para preencher o vazio normativo que a declaração de
inconstitucionalidade do STF ocasionou, muito embora a Corte Suprema tenha modulado os efeitos de sua decisão, fixando um prazo,
até 2012 (posteriormente aumentado na liminar deferida na ADO 23), para que o Legislativo da União editasse a norma
complementar correspondente.
59
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
g. vêm de um percentual sobre as verbas que a União repassa ao Fundo de Participação dos
Municípios. Assim, deve ser aplicado um percentual sobre os 21,5% do IR e IPI geral arrecadados
pela União (esses 21,5% são vertidos para os Municípios via FPM, sendo o rateio feito
proporcionalmente na forma do previsto na Lei Complementar n.º 62/89, ficando o produto
recebido por cada Município vinculado à prestação de ações e serviços de saúde no importe do
percentual definido na LC 141/2012, o qual, como se verá mais adiante é de 15%).
A Constituição exigiu lei complementar para que o percentual dos Estados, DF e Municípios fosse
estipulado (art. 198, § 3º, CF). No entanto, tal como em vários outros casos previstos em nossa Constituição,
o Congresso Nacional também negligenciou na edição da norma prevista no art. 198, § 3º, CF, atrasando sua
veiculação em nosso ordenamento jurídico por mais de uma década. Nesse contexto é que a referida lei
complementar somente foi editada em 2012, sendo que até essa data os percentuais foram os previstos no
art. 77, do ADCT – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. O art. 77, do ADCT fez a função da norma
regulamentadora complementar, por vários anos, para definir quais seriam os limites mínimos
orçamentários a serem aplicado em ações e serviços públicos de saúde em nosso país, pelos Estados, DF e
Municípios. Vejamos o citado dispositivo constitucional transitório:
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Art. 77. Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações e
serviços públicos de saúde serão equivalentes: (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29,
de 2000)
I – no caso da União: (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
a) no ano 2000, o montante empenhado em ações e serviços públicos de saúde no exercício
financeiro de 1999 acrescido de, no mínimo, cinco por cento; (Incluído pela Emenda
Constitucional n.º 29, de 2000)
b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela variação
nominal do Produto Interno Bruto – PIB; (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de
CPF: 073.496.444-77
2000)
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação
dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159,
inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos
Municípios; e (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
souza -- CPF:
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do produto da
arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts.
Marceli souza
158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º. (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que apliquem percentuais inferiores aos
Marceli
fixados nos incisos II e III deverão elevá-los gradualmente, até o exercício financeiro de
2004, reduzida a diferença à razão de, pelo menos, um quinto por ano, sendo que, a partir
de 2000, a aplicação será de pelo menos sete por cento. (Incluído pela Emenda
Constitucional n.º 29, de 2000)
§ 2º Dos recursos da União apurados nos termos deste artigo, quinze por cento, no mínimo,
serão aplicados nos Municípios, segundo o critério populacional, em ações e serviços
básicos de saúde, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
§ 3º Os recursos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinados às ações e
serviços públicos de saúde e os transferidos pela União para a mesma finalidade serão
aplicados por meio de Fundo de Saúde que será acompanhado e fiscalizado por Conselho
de Saúde, sem prejuízo do disposto no art. 74 da Constituição Federal. (Incluído pela
Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
§ 4º Na ausência da lei complementar a que se refere o art. 198, § 3º, a partir do exercício
financeiro de 2005, aplicar-se-á à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios o
disposto neste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional n.º 29, de 2000)
Após longos anos de vigência do art. 77, ADCT, a Lei Complementar n.º 141, de 13 de janeiro de 2012
foi editada para regulamentar o “§ 3º do art. 198 da Constituição Federal”, dispondo sobre “valores mínimos
a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos
60
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
de saúde”. A referida Lei Complementar também estabeleceu “os critérios de rateio dos recursos de
transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas 3
(três) esferas de governo”. De um modo geral, a lei complementar esperada não inovou significativamente
e manteve a regra geral que já era adotada pelo ADCT, inclusive mantendo os mesmos percentuais a serem
aplicados sobre as bases de cálculo constitucionalmente previstas.
Uma questão bastante frequente na prática e, não raro, indagada nos concursos, se refere ao
descumprimento dos limites mínimos orçamentários impostos pelas normas acima e suas consequências
para o respectivo ente federativo. O não atendimento dos limites mínimos em saúde pelos Estados/DF e
Municípios implica consequências negativas relacionadas tanto às transferências obrigatórias, quanto às
transferências voluntárias de receitas.
No que toca às transferências obrigatórias, a previsão das consequências do descumprimento é feita
no art. 160, parágrafo único, inciso II, da Constituição Federal de 1988, cuja redação foi dada também pela
Emenda Constitucional n.º 29/2000 (veja, neste aspecto, novamente, como foi importante a Emenda
Constitucional n.º 29/2000 para o fortalecimento das regras atinentes ao financiamento das ações e serviços
públicos de saúde). O art. 160, parágrafo único, CF, desde a sua redação original já indicava que é vedada a
retenção ou qualquer restrição aos repasses financeiros entre os entes federativos a título de repartição
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constitucional das receitas tributárias. Assim, a princípio, as verbas públicas que compõem os fundos de
participação dos Estados e dos Municípios, bem como as repartições diretas, não podem ser retidas ou
restringidas. Contudo, União e Estados poderão condicionar o repasse de recursos se não houver:
• o pagamento de seus créditos, inclusive autarquias;
• o cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III, ou seja, se os Estados, DF e Municípios
não aplicarem os recursos mínimos previstos para as ações e serviços de saúde.
Interessante observar que a retenção prevista no art. 160, parágrafo único, II, da CF, não significará
CPF: 073.496.444-77
que a União simplesmente reterá os valores correspondentes àqueles que não foram aplicados na saúde por
Estados, DF e/ou Municípios. Significa que a própria União o fará. Se assim não fosse, haveria completo
desvirtuamento do sentido constitucional da norma, eis que o objetivo primordial é fazer com que o dinheiro
público chegue efetivamente ao seu destino constitucionalmente traçado, no caso as ações e serviços
souza -- CPF:
públicos de saúde.
Quanto às transferências voluntárias em geral, há uma observação paradoxal a ser feita: o fato de
Marceli souza
um Município, por exemplo, estiver descumprindo os limites mínimos em saúde, tal como estabelecido na
Marceli
Constituição, ele não vai poder receber transferências voluntárias de qualquer tipo, EXCETO se essa
transferência se destinar a ações de educação, saúde e assistência social. Conforme o art. 25, § 1º, da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LC n.º 101/2000), o ente federativo fica proibido de transacionar com a União
transferências voluntárias de recursos públicos, se não houver o cumprimento dos investimentos mínimos
em saúde e educação. O artigo mencionado assim dispõe:
61
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Qualifica-se o direito à saúde, portanto, como um direito fundamental do ser humano, cabendo ao
Estado, aqui considerado em sentido amplo, ou seja, União, Estados, Distrito Federal e Municípios, a
obrigação de prover as condições indispensáveis ao seu livre exercício, por meio da “formulação e execução
de políticas econômicas e sociais que visem a redução de riscos de doença e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a
sua promoção, proteção e recuperação”, tal como preceitua o artigo 2º da Lei n.º 8.080/1990.
CPF: 073.496.444-77
Além disso, a jurisprudência é farta no sentido de que o direito à saúde é consectário do direito à
vida. Como exemplo, a segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, quando do exame do Agravo
Regimental no Recurso Extraordinário n.º 271286/RS, consignou que, além de qualificar-se como direito
souza -- CPF:
fundamental, representa consequência indissociável do direito à vida, contemplado, por sua vez, no caput
do artigo 5º do Texto Maior de 1988.
Marceli souza
caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política – que tem por
destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização
federativa do Estado brasileiro – não pode converter-se em promessa constitucional
inconsequente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele
depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu
impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que
determina a própria Lei Fundamental do Estado.
O Supremo Tribunal Federal, desde muito, passou a se manifestar a respeito do tema no sentido da
responsabilidade solidária de todos os entes:
Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de
maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - e implementar - políticas
sociais e econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles
portadores do vírus HIV, o acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica e
médico-hospitalar.
- O direito à saúde - além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas
as pessoas - representa consequência constitucional indissociável do direito à vida. O
Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da
organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde
da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave
comportamento inconstitucional.
(BRASIL, STF, RE 273834/ RS, Rel. Min.º CELSO DE MELLO, julgamento 23/08/2000, grifos
nossos).
Posteriormente, a questão foi recebida sob o rito da repercussão geral, de modo que o RE 855.178
souza -- CPF:
foi afetado ao TEMA 793 do STF. Na ocasião do julgamento, em 2015, reafirmou-se a jurisprudência da Corte
nos seguintes termos:
Marceli souza
Assim, em suma:
a. em matéria de saúde, os entes federativos são solidariamente responsáveis para prestarem o
tratamento médico adequado ao paciente do SUS;
b. em virtude da solidariedade reconhecida, a ação judicial para esse fim pode ser proposta em face
de todos os entes ou em face de apenas um, de modo que União, Estado, DF ou Município podem
figurar no polo passivo em conjunto ou separadamente;
c. não havendo a União no polo passivo, a ação poderá ser proposta na Justiça Estadual, a princípio;
d. havendo a presença da União no polo passivo, a ação será necessariamente julgada no âmbito da
Justiça Federal;
63
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais. Em relação a essa hipótese, importante tese foi firmada pelo
STJ, quando do julgamento do TEMA 84 de seus recursos repetitivos (REsp 1.069.810/RS), senão vejamos:
souza -- CPF:
Situação do
Tema 84 Trânsito em Julgado Órgão Julgador Primeira Seção
tema
Marceli souza
Questão
Questão referente ao fornecimento de medicamento necessário ao tratamento de saúde, sob pena de
Marceli
submetida a
bloqueio ou sequestro de verbas do Estado a serem depositadas em conta-corrente.
julgamento
Repercussão
Tema 289/STF – bloqueio de verbas públicas para garantia de fornecimento de medicamentos.
Geral
Ramo do
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO
Direito
Napoleão
REsp
TJRS Não Nunes Maia 15/9/2008 23/10/2013 6/11/2013 13/12/2013
1.069.810/RS
Filho
64
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Assim, de acordo com a tese firmada, em se tratando “de fornecimento de medicamentos, cabe ao
Juiz adotar medidas eficazes à efetivação de suas decisões, podendo, se necessário, determinar até mesmo
o sequestro de valores do devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com adequada
fundamentação.”
Essa mesma questão, relativa ao bloqueio de verbas públicas para a garantia de fornecimento de
medicamentos, está pendente de apreciação pelo Supremo Tribunal Federal no TEMA 289 de sua
repercussão geral. A repercussão geral foi reconhecida em 13/08/2010, mas até o momento ainda não foi
julgado o referido recurso extraordinário.
A ementa do julgado que reconheceu a repercussão geral está assim disposta:
Também como questão afeta cumprimento de decisões judiciais que imponham o fornecimento de
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Órgão Primeira
Tema/Repetitivo 98 Situação do tema Trânsito em Julgado
CPF: 073.496.444-77
Julgador Seção
Questão
Possibilidade de ser imposta a multa a que alude o art. 461 do CPC, nos casos de descumprimento
submetida a
da obrigação de fornecer medicamentos, imposta ao ente estatal.
julgamento
souza -- CPF:
Possibilidade de imposição de multa diária (astreintes) a ente público, para compeli-lo a fornecer
Marceli souza
Tese firmada
medicamento à pessoa desprovida de recursos financeiros.
Marceli
Tribunal Acórdão
Data de Julgado Embargos de Trânsito em
Processo de RRC Relator publicado
Afetação em Declaração Julgado
Origem em
1)
Benedito
REsp 1.474.665/RS TJRS Não 4/9/2014 26/4/2017 22/6/2017 17/10/2017 26/6/2018
Gonçalves
2)30/4/2018
Benedito
REsp 1.101.725/RS TJRS Sim 19/12/2008 - -
Gonçalves
A segunda hipótese também não é rara, mas havendo protocolo clínico no SUS com similar eficácia
para o tratamento requerido pelo paciente, a lide somente se resolve mediante prova pericial médica. A
perícia, bem como o apoio da consulta ao banco de dados dos chamados Núcleos de Apoio Técnico (NATs) é
65
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
fundamental nesses casos. Isso porque o fato de haver protocolo clínico já incorporado ao SUS para uma
determinada patologia não dispensa imediatamente a análise de eventuais peculiaridades do paciente.
Pode haver a hipótese de que determinado paciente necessite de algum medicamento que não é
incorporado ao SUS, justamente porque o protocolo médico adotado pela rede pública não atende alguma
necessidade médica específica de sua parte. A perícia médica irá dizer, assim, se a patologia do demandante
é real e se realmente há peculiaridades que lhe permitem exigir uma alternativa terapêutica diversa daquela
incorporada ao SUS. Já o apoio do NAT permitirá um maior aprofundamento nas razões da inclusão e da não
inclusão de determinados medicamentos ou procedimentos na rede pública. O cotejo de todos esses
elementos fornecerá ao Juízo a cognição exata para que seja determinado o fornecimento de certo
medicamento ou procedimento já incorporado ou não.
Aliás, cabe lembrar que o Enunciado n.º 18 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre Saúde Pública
prescreve que, sempre que possível, as decisões liminares sobre saúde devem ser precedidas de notas de
evidência científica emitidas por Núcleos de Apoio Técnico em Saúde (NATS). Embora a regra seja a realização
de perícia médica e, assim, consulta ao respectivo NAT do Estado, frisamos que é possível a antecipação da
tutela satisfativa quando imprescindível para evitar o perecimento de direito, requisito esse, obviamente,
sempre satisfeito nas hipóteses em que se pretende tratamento médico indispensável à garantia do direito
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à saúde e à vida.
A jurisprudência do STJ é nesse mesmo sentido:
Súmula 284/STF. Ademais, ainda que pudesse ser afastado este óbice, o acórdão recorrido
solucionou a controvérsia de forma fundamentada e suficiente, dando adequada prestação
jurisdicional.
2. O Tribunal de origem, a quem compete amplo juízo de cognição da lide, com amparo nos
elementos de convicção dos autos, manteve a decisão que concedeu a tutela antecipada. A
souza -- CPF:
jurisprudência desta Corte é no sentido de que, para avaliar os critérios adotados pela
instância ordinária na concessão da antecipação dos efeitos da tutela, é necessário o
Marceli souza
custear cirurgia cardíaca a cidadão que não consegue ter acesso, com dignidade, a
tratamento que lhe assegure o direito à vida, podendo ser fixada multa cominatória para
tal fim, ou até mesmo determinar o bloqueio de verbas públicas. O direito fundamental,
nestes casos, prevalece sobre as restrições financeiras e patrimoniais contra a Fazenda
Pública. Precedentes. Agravo regimental improvido. (STJ, AGARESP 201303532593,
HUMBERTO MARTINS, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:09/12/2013 .DTPB., grifo nosso).
Em conclusão, na 3ª e última hipótese, a União é invariavelmente parte legítima para responder pela
ação, uma vez que o objeto da demanda versará sobre a possibilidade ou não de custeio pelo Estado de
medicamento, tratamento ou procedimento cirúrgico que não são fornecidos oficialmente e, também, não
encontram substitutivos eficazes da rede pública. Nessa última instância hipotética, com frequência,
inclusive, ter-se-ão demandas que busquem a concessão de medicamentos de alto custo ou, ainda, de
medicamentos experimentais (tal como a recente e malfadada fosfoetanolamina). Quanto ao fornecimento
de medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS, a questão foi balizada de maneira
consolidada no Superior Tribunal de Justiça quando do julgamento do TEMA 106 de seus recursos repetitivos,
no julgamento do REsp 1.657.156. Vejamos:
66
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Primeira
Tema/Repetitivo 106 Situação do tema Acórdão Publicado Órgão Julgador
Seção
Questão submetida a Obrigatoriedade do poder público de fornecer medicamentos não incorporados em atos
julgamento normativos do SUS.
Modulação de efeitos:
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DJE do dia 31/5/2017, a Primeira Seção, à unanimidade, deliberou que caberá ao juízo de
origem apreciar as medidas de urgência.
REsp Benedito
TJRJ Não 3/5/2017 25/4/2018 4/5/2018 21/9/2018 *
1.657.156/RJ Gonçalves
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FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
A tese firmada estabeleceu que a concessão dos medicamentos não incorporados em atos
normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos:
1. comprovação, por meio de laudo fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da
ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
2. incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
3. existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência.
Houve, contudo, modulação de efeitos em relação à tese acima firmada, quando do julgamento dos
embargos de declaração publicado no dia 21/09/2018. Definiu-se, na modulação, que os efeitos da tese
firmada somente valeriam para os “processos distribuídos a partir da data da publicação do acórdão
embargado, ou seja, 4/5/2018" (grifos nossos).
No âmbito do Supremo Tribunal Federal, o vértice inicial da sua jurisprudência, em matéria de
controle de políticas públicas e, em especial, daquelas associadas às ações e serviços da saúde, pode ser
indicado como sendo o julgamento da ADPF 45, no ano de 2004. Em verdade, a referida ação de
descumprimento de preceito fundamental veio a ser julgada prejudicada pelo seu relator, Min. Celso de
Mello.
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O objeto da ação foi o veto presidencial ao art. 59, § 2º, da Lei n.º 10.777/2003 (Lei de Diretrizes
Orçamentárias — LDO — daquele ano e que, portanto, nortearia a edição da Lei Orçamentária Anual — LOA
— do exercício de 2004). O referido dispositivo almejava garantir os recursos mínimos previstos para a saúde,
em consonância com a Emenda Constitucional n.º 29/2000, a qual, como vimos, inseriu em nossa
Constituição Federal de 1988 a previsão desses recursos mínimos.
Ocorre que, após o ingresso da ADPF n.º 45, o veto foi contornado no Congresso Nacional e o
dispositivo voltou a valer, fazendo com que aquela ação constitucional fosse reputada prejudicada pelo seu
CPF: 073.496.444-77
relator. Mas a fundamentação dada pelo Min. Celso de Mello em seu voto serviu de paradigma importante
para validar o controle de políticas públicas pelo Judiciário, em especial pelo Supremo Tribunal Federal.
Nesse ponto, o voto assinalou a “dimensão política da jurisdição constitucional atribuída ao Supremo
Tribunal Federal”, o que chancela a intervenção do Supremo dentro da “necessidade de preservação, em
souza -- CPF:
existencial".
Há que se lembrar, ainda, dos fundamentos adotados no TEMA 06 da repercussão geral, os quais
Marceli
68
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
1. Como regra geral, o Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos não
registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por decisão judicial. O
registro na Anvisa constitui proteção à saúde pública, atestando a eficácia, segurança e
qualidade dos fármacos comercializados no país, além de garantir o devido controle de
preços.
2. No caso de medicamentos experimentais, i.e., sem comprovação científica de eficácia e
segurança, e ainda em fase de pesquisas e testes, não há nenhuma hipótese em que o Poder
Judiciário possa obrigar o Estado a fornecê-los. Isso, é claro, não interfere com a
dispensação desses fármacos no âmbito de programas de testes clínicos, acesso expandido
ou de uso compassivo, sempre nos termos da regulamentação aplicável.
3. No caso de medicamentos com eficácia e segurança comprovadas e testes concluídos,
mas ainda sem registro na ANVISA, o seu fornecimento por decisão judicial assume caráter
absolutamente excepcional e somente poderá ocorrer em uma hipótese: a de mora
irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei n.º
13.411/2016). Ainda nesse caso, porém, será preciso que haja prova do preenchimento
cumulativo de três requisitos. São eles: (i) a existência de pedido de registro do
medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e
ultrarraras); (ii) a existência de registro do medicamento pleiteado em renomadas agências
de regulação no exterior (e.g., EUA, União Europeia e Japão); e (iii) a inexistência de
substituto terapêutico registrado na ANVISA. Ademais, tendo em vista que o pressuposto
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(prazo superior ao previsto na Lei n.º 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: (i)
a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); (ii) a existência de registro do
medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e (iii) a inexistência de
substituto terapêutico com registro no Brasil. 4. As ações que demandem fornecimento de
souza -- CPF:
Outro precedente muito importante, embora sem repercussão geral, é o constatado no julgamento
do AI 553.712, pelo Supremo Tribunal Federal, em 2009. O referido julgado assentou a possibilidade da
realização de bloqueio de valores para assegurar o fornecimento gratuito de medicamentos, em favor de
pessoas hipossuficientes. Vejamos:
O precedente acima, contudo, não é vinculante. Sobre a questão do bloqueio de verbas para
fornecimento de medicamentos, é o TEMA 289 da repercussão geral do Supremo Tribunal Federal que
decidirá a validade ou não desse procedimento (sem previsão de julgamento na data de fechamento desta
aula).
2. ASSISTÊNCIA SOCIAL
A assistência é ramo da seguridade social que não possui a imposição de uma prévia contraprestação
do assistido, tal como também ocorre no ramo da saúde. Distingue-se da previdência social, pois, como se
sabe, tal braço da proteção social estatal exige a contribuição do segurado, já que adotamos o modelo
previdenciário de Bismarck. A assistência, pois, é forma de atuação estatal que está fora do conceito de
previdência social, sendo ramo autônomo da seguridade social. Seu principal benefício é o que se encontra
previsto diretamente no texto da Constituição Federal de 1988, no art. 203, inciso V. Vejamos o dispositivo
em sua literalidade:
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SEÇÃO IV
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
(...)
V - a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência
e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
CPF: 073.496.444-77
Como se vê, nossa CF/88 garantiu a concessão de um salário-mínimo para o deficiente e o idoso que
comprovarem a impossibilidade de se sustentarem ou de serem sustentados por sua própria família,
souza -- CPF:
conforme critérios definidos em lei. A regulamentação da assistência social no Brasil foi feita pela Lei n.º
8.742, de 07 de dezembro de 1993. Posteriormente, a referida lei foi alterada pela Lei n.º 12.435, de 07 de
Marceli souza
julho de 2011, que promoveu mudanças no texto no que toca aos objetivos da assistência social, bem como,
e especialmente, no que toca aos conceitos de grupo familiar e de deficiência, para fins de recebimento do
Marceli
a referida Convenção foi internalizada por meio do rito previsto para as Emendas Constitucionais e, dessa
maneira, adquiriu status de norma constitucional, tal como prevê o art. 5º, § 3º, da CF/88.
Posteriormente à promulgação da Convenção de Nova Iorque sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, sobreveio a Lei n.º 12.435, de 06 de julho de 2011, que visou, em verdade, adequar as normas
da Lei Orgânica da Assistência Social ao que dispunha a “lei” internacional. O conceito de pessoa com
deficiência então previsto no art. 20, § 2º, da Lei n.º 8.742/1993, conforme a redação dada pela Lei n.º
12.435/2011, passou a ser definido da seguinte forma:
§ 2º Para efeito de concessão deste benefício, considera-se: (Redação dada pela Lei n.º
12.435, de 2011)
I - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas; (Redação dada pela Lei
n.º 12.435, de 2011)
II - impedimentos de longo prazo: aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a
vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. (Redação dada
pela Lei n.º 12.435, de 2011) (grifos nossos).
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Posteriormente, a Lei n.º 12.470/2011 deu nova redação a este dispositivo, que passou a prever:
§ 2º Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com deficiência aquela
que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (Redação dada
pela Lei n.º 12.470, de 2011)
CPF: 073.496.444-77
Após, o art. 20, § 2º, da Lei n.º 8.742/1993, recebeu nova redação (este é o entendimento legislativo
que vige atualmente) a partir da Lei n.º 13.146/2015, e passou, então, a expressar que:
com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
Marceli souza
pessoas. (Redação dada pela Lei n.º 13.146, de 2015) (Vigência) (grifos nossos).
Marceli
Dessa feita, o conceito de pessoa com deficiência dado pela Lei n.º 8.742/1993 contempla três
elementos: a) os impedimentos físicos e/ou mentais e/ou intelectuais e/ou sensoriais da pessoa; b) o fato de
que esses impedimentos sejam considerados de longo prazo; c) a existência de barreiras na dinâmica social
da pessoa com deficiência. A norma não define o que é “barreira”, cabendo ao intérprete extrair os limites
da expressão. Acerca dessa ampla gama de espécies de impedimentos, os quais em conjunto com diversas
barreiras podem ensejar a noção de pessoa com deficiência, a TNU expressou o entendimento de que é
necessária a realização de avaliação social para o dimensionamento da restrição. Vejamos:
SÚMULA 80: Nos pedidos de benefício de prestação continuada (LOAS), tendo em vista o
advento da Lei 12.470/11, para adequada valoração dos fatores ambientais, sociais,
econômicos e pessoais que impactam na participação da pessoa com deficiência na
sociedade, é necessária a realização de avaliação social por assistente social ou outras
providências aptas a revelar a efetiva condição vivida no meio social pelo requerente
(grifos nossos).
É possível a concessão de benefício assistencial àquele que apresenta incapacidade parcial, conforme
o caso. Esse entendimento restou cristalizado na Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos
71
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Juizados Especiais Federais, por meio da Súmula 48, alterada na sessão de 25.04.2019, publicada no DJE n.º
40, de 29/04/2019:
E para que não haja dúvidas a respeito desse entendimento firmado na TNU, a questão foi pacificada
no julgamento do TEMA 34 de seus representativos de controvérsia, senão vejamos:
Ramo do
Tema 34 Situação do tema Julgado Direito Previdenciário
Direito
Decisão
Acórdão
Processo de Relator Julgado em Trânsito em Julgado
publicado em
afetação
CPF: 073.496.444-77
Juiz
Federal
Antonio
PEDILEF 0013826-
souza -- CPF:
do Amaral
e Silva
Marceli
da Rcl 4374, que objetivava preservar a decisão emanada do Supremo Tribunal Federal quando do
julgamento da ADI 1232, mas não houve êxito nesse sentido. O julgamento daqueles REs foi feito na data de
17/04/2013, enquanto a reclamação foi julgada no dia 18/04/2013. O RE 567.985 era da relatoria do Min.
Marco Aurelio, enquanto o RE 580.963 tinha como relator o Min. Gilmar Mendes, que também era o relator
na Rcl 4374. O resultado do julgamento desses temas pode ser observado na tabela abaixo:
QUAIS FORAM AS TESES FIXADAS NO JULGAMENTO DOS TEMAS 27 E 132 DA REPERCUSSÃO GERAL
TEMA 27 (RE 567.985) TEMA 132 (RE 580.963)
TESE FIXADA TESE FIXADA
É inconstitucional o § 3º do artigo 20 da Lei n.º É inconstitucional, por omissão parcial, o parágrafo
8.742/1993, que estabelece a renda familiar mensal único do art. 34 da Lei n.º 10.741/2003 (Estatuto do
per capita inferior a um quarto do salário mínimo Idoso).
como requisito obrigatório para concessão do
benefício assistencial de prestação continuada
previsto no artigo 203, V, da Constituição.
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Quanto ao TEMA 27, considerou-se que o critério puramente econômico já estaria defasado para
caracterizar a situação de miserabilidade das pessoas no contexto social brasileiro, sobretudo quando
comparado a outras referências financeiras estipuladas em programas sociais oficiais, tal como o “Bolsa
Família” e os programas habitacionais do “Minha Casa, Minha Vida”. Outro exemplo que serviu de referência
foi o do Programa Nacional de Acesso à Alimentação (PNAA), criado pela Lei n.º 10.689/2003, o qual
normatizou o critério social de renda per capta no patamar de meio salário-mínimo. A mutação
constitucional foi verificada, portanto, ocasionando um processo de inconstitucionalização crescente e
CPF: 073.496.444-77
vencidos, parcialmente, o Ministro Marco Aurélio (relator), que apenas negava provimento ao recurso, sem
declarar a inconstitucionalidade da norma referida, e os Ministros Teori Zavascki e Ricardo Lewandowski, que
Marceli souza
davam provimento ao recurso. Cabe destacar que não foi alcançado o quórum de 2/3, previsto no art. 27, da
Marceli
Lei n.º 9.868/1999, para modulação dos efeitos da decisão para que a norma tivesse validade até 31/12/2015.
Acerca do TEMA 312, restou igualmente declarada como inconstitucional a disposição do art. 34,
parágrafo único, da Lei n.º 10.471/2003 (Estatuto do Idoso), no julgamento dos Recursos Extraordinários n.º
567.985 e n.º 580.963, ambos com repercussão geral, bem como a Reclamação 4374. Vejamos:
73
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Na toada desses reconhecimentos jurisprudenciais feitos pelo Supremo Tribunal Federal, pouco
tempo depois, foi aprovada a Lei n.º 13.146/2015, que alterou a redação do art. 20, § 11, da Lei n.º
8.742/1993, que deixou clara, em sua nova redação, a possibilidade de se considerarem “outros elementos
souza -- CPF:
A referida lei proveio do Projeto de Lei do Senado (PLS) 55/1996 e, ao ser enviada para a sanção
presidencial, sofreu o veto do Presidente Jair Bolsonaro quanto ao aumento daquele limite da renda per
capita, mantendo-se, com isso, o critério legal anterior de ¼ do salário-mínimo. Posteriormente, o veto foi
derrubado por uma sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, conforme a
competência constitucional prevista no art. 57, § 3º, IV, CF/88, tendo sido publicada a Lei n.º 13.981/2020
em 24/03/2020, com o novo critério de meio salário-mínimo como limite da renda per capita para fins de
recebimento do benefício assistencial ao idoso e ao deficiente. Ocorre que, logo após a derrubada do veto e
da publicação da Lei n.º 13.981/2020, outro Projeto de Lei foi enviado para sanção ou veto, relacionado a
medidas excepcionais de proteção social a serem adotadas durante o período de enfrentamento da
emergência de saúde pública decorrente do coronavírus (COVID-19). No referido projeto, constou um
escalonamento do aumento do limite de renda per capita estabelecido na Lei n.º 13.981/20 para o benefício
assistencial.
Esse escalonamento implicaria pagamento do referido benefício aos que apresentassem renda per
capita familiar de até ¼ do salário-mínimo até 31/12/2020 e, a partir de 01/01/2021 o limite seria aumentado
para meio salário-mínimo. Ocorre que, novamente, houve veto do Presidente da República, de modo que foi
publicada a Lei n.º 13.982/2020 em 02/04/2020. Não houve, nesse caso, deliberação da Câmara dos
74
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
Deputados e do Senado Federal em sessão conjunta para derrubada do veto. O veto se referiu ao segundo
momento daquele escalonamento, ou seja, proibiu-se que a partir de 01/01/2021 houvesse aumento do
limite de renda per capita familiar para ½ salário-mínimo. Isso gerou um vazio normativo, pois o critério de
¼ findaria em 31/12/2020 e o critério de meio salário-mínimo a partir de 01/01/2021 havia sido vetado.
Em função disso, sobreveio a Medida Provisória 1.023/2020, que deu nova redação ao inciso I, do §
3º, do art. 20, estabelecendo de maneira incondicional, isto é, sem termo final, o critério de ¼ do salário-
mínimo. A referida MP 1.023 foi posteriormente convertida na Lei n.º 14.176/2021, a qual assinalou que
“terão direito ao benefício financeiro de que trata o caput deste artigo a pessoa com deficiência ou a pessoa
idosa com renda familiar mensal per capita igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo”.
Cabe registrar, contudo, que a Lei n.º 14.176/2021 aprovou o dispositivo (inclusão do § 11-A, do art.
20, da Lei n.º 8.742/1993) que entrará em vigor a partir de 01/01/2022, determinando que o “regulamento
de que trata o § 11 deste artigo poderá ampliar o limite de renda mensal familiar per capita previsto no § 3º
deste artigo para até 1/2 (meio) salário-mínimo, observado o disposto no art. 20-B desta Lei”. O art. 20-B,
por sua vez, elenca critérios possíveis para a consideração da elevação da renda per capita:
• o grau da deficiência;
• a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária; e
• o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o § 3º do art. 20 desta Lei,
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Há, ainda, outras leis que também tratam da assistência social no Brasil, regulando benefícios
Marceli souza
assistenciais específicos, tais como: a Lei n.º 12.815/2013 e a Lei n.º 13.146/2015. Aquela dispõe sobre o
regime jurídico do trabalhador portuário, tendo incluído o art. 10-A na Lei n.º 9.719/1998, que “ dispõe sobre
Marceli
normas e condições gerais de proteção ao trabalho portuário, institui multas pela inobservância de seus
preceitos, e dá outras providências”. Vejamos a lei citada:
Art. 73. A Lei n.º 9.719, de 27 de novembro de 1998, passa a vigorar acrescida do seguinte
art. 10-A:
Art. 10-A. É assegurado, na forma do regulamento, benefício assistencial mensal, de até 1
(um) salário-mínimo, aos trabalhadores portuários avulsos, com mais de 60 (sessenta) anos,
que não cumprirem os requisitos para a aquisição das modalidades de aposentadoria
previstas nos arts. 42, 48, 52 e 57 da Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991, e que não
possuam meios para prover a sua subsistência.
Parágrafo único. O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo
beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo
os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória.
Outro benefício de cunho assistencial é o seguro-defeso do pescador artesanal, previsto na Lei n.º
10.779/2003 e regulado pelo Decreto n.º 8.967/2017, que alterou o Decreto n.º 8.424/2015. É concedido um
seguro-desemprego no período de defeso, sendo esse, conforme § 3º, do art. 1º, do Decreto n.º 8.424/15,
75
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
6.307/2007.
No que concerne ao seguro-desemprego, majoritariamente se entende que não se trata de benefício
previdenciário, mormente por não ser pago no âmbito do RGPS. Aliás, reverbera, a nosso ver, a inexistência
de caráter previdenciário a literalidade do art. 9º, § 1º, da Lei n.º 8.213/1991, que assim diz:
Deveras, o seguro-desemprego deveria ser, mas não benefício previdenciário, pois não
previsto no Plano de Benefícios da Previdência Social, sendo pago pelo extinto Ministério
do Trabalho (com a extinção do Ministério do Trabalho, desde 2019, o Ministério da
Economia assumiu a área trabalhista, tendo sido criada uma Secretaria de Previdência e
Trabalho), com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT.
19 AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 11ª edição, Editora JusPodvim, 2019, Salvador, p. 136
76
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
conforme as disposições da Medida Provisória n.º 2.158-35/2001, que tributa especificamente algumas
instituições, tais como templos de qualquer culto e partidos políticos).
Cabe registrar, por fim, que a criação do auxílio emergencial no âmbito da pandemia no Brasil
também representa uma espécie de benefício assistencial. A criação do Auxílio Emergencial foi feita por meio
da Lei n.º 13.982/2020, tendo sido o benefício regulamentado pelo Decreto n.º 10.316/2020. A Lei n.º
13.982/2020, além de alterar normas da Lei n.º 8.742/1993 — conforme já abordamos em linhas anteriores
— estabeleceu “medidas excepcionais de proteção social a serem adotadas durante o período de
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus
(COVID-19) responsável pelo surto de 2019, a que se refere a Lei n.º 13.979, de 6 de fevereiro de 2020”. Os
requisitos do auxílio-emergencial vieram na redação do art. 2º, da referida lei e foram assim dispostos:
Art. 2º Durante o período de 3 (três) meses, a contar da publicação desta Lei, será concedido
auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao trabalhador que
cumpra cumulativamente os seguintes requisitos:
I - seja maior de 18 (dezoito) anos de idade, salvo no caso de mães adolescentes; (Redação
dada pela Lei n.º 13.998, de 2020)
II - não tenha emprego formal ativo;
III - não seja titular de benefício previdenciário ou assistencial ou beneficiário do seguro-
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REQUISITOS DO AUXÍLIO-EMERGENCIAL
(conforme art. 2º, da Lei no 13.982/20)
REQUISITOS POSITIVOS REQUISITOS NEGATIVOS
ou seja, o beneficiário DEVE apresentar essas ou seja, o beneficiário NÃO pode apresentar
características essas características
Requisito ETÁRIO 1. NÃO tenha empregado formal ativo;
• ser maior de 18 anos 2. NÃO seja titular de benefício previdenciário,
OBS.: as mães adolescentes também possuem direito ao assistencial ou seguro-desemprego ou, ainda, algum
benefício programa de transferência de renda do governo
Requisito da RENDA PER CAPITA ou RENDA FAMILIAR federal (RESSALVADO O BOLSA-FAMÍLIA);
1. Renda per capita até ½ salário-mínimo; OU 3. NÃO tenha recebido no ano de 2018 rendimentos
renda familiar até 3 (três) salários-mínimos. tributáveis acima de R$ 28.559,70.
Requisito da ATIVIDADE FORMAL
A atividade deve ser desempenhada sob a forma de:
1. contribuinte individual comum; OU
2. contribuinte individual no plano simplificado de
previdência social; OU
3. por fim, sob a forma de MEI.
77
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
3. PREVIDÊNCIA SOCIAL
Sobre a previdência social, neste capítulo faremos apenas uma abordagem relacionada aos princípios
específicos desse ramo da seguridade social.
a) Princípio da contributividade: Está previsto no art. 201, da CF/88, que assim diz, já nos termos da
Emenda Constitucional n.º 103/19:
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Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional n.º 103, de 2019, grifo nosso)
Assim, a Constituição Federal de 1988 deixa claro o caráter contributivo do Regime Geral da
Previdência Social, sendo regra também aplicável ao regime próprio da União, conforme art. 40, caput, do
mesmo dispositivo constitucional, senão vejamos:
CPF: 073.496.444-77
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos
terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo,
de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem
souza -- CPF:
o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 103, de
2019, grifo nosso)
Marceli souza
Esse é o grande traço distintivo do ramo da previdência em relação à saúde e à assistência. Sem
Marceli
contribuição, não há como participar do sistema, eis que se adota o modelo de Bismarck, como vimos no
capítulo I de nosso curso. Interessante observar que a contributividade, conforme doutrina de Amado, pode
ser presumida ou real. Exemplo de contributividade presumida está no art. 34, inciso I, da Lei n.º 8.213/1991,
sendo certo que não cabe ao empregado o ônus de provar que o empregador recolheu as contribuições
devidas aos cofres do INSS, mantendo aquele seu direito à proteção previdenciária correspondente
independentemente de contribuições reais (caso o empregador não tenha feito os recolhimentos)20.
b) Princípio da Obrigatoriedade da Filiação: também encontra previsão nos caputs dos artigos 201
e 40, ambos da CF/88, sendo decorrência lógica da contributividade e da solidariedade do sistema
bismarckiano de previdência. A regra, pois, é a filiação obrigatória. Há, contudo, uma exceção, que é a dos
segurados facultativos, tal como previsto no art. 14, da Lei n.º 8.212/1991. Essa exceção é consectária do
princípio da universalidade da cobertura e do atendimento.
20 Frederico Amado dá nome a essa hipótese legal, titulando-a de “princípio da automaticidade das prestações”, no sentido de que
são “devidas as prestações previdenciárias mesmo na hipótese de não pagamento das contribuições previdenciárias, quando a
responsabilidade tributária pelo recolhimento for das empresas tomadoras dos serviços, o que ocorre no Brasil com o segurados
empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais prestadores de sérvios à pessoa jurídica” (AMADO, Frederico, in op.
cit., p 284).
78
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
c) Princípio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial: está previsto, igualmente, nos artigos 40 e 201, caput,
da CF/88, no sentido de que os regimes geral e próprio deverão observar critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial. Em verdade, a previdência é direito fundamental de essência intergeracional, eis que
as futuras gerações herdarão as contas públicas relativas ao estado financeiro dos regimes hoje existentes.
Logo, é imperioso que, como pilar de ambos os sistemas, haja a inafastável observância do equilíbrio
financeiro e atuarial.
d) Princípio da Universalidade de Participação nos Planos Previdenciários: previsto no art. 2º, inciso
I, da Lei n.º 8.213/1991, nos seguintes termos:
É decorrente do princípio geral da seguridade social previsto no art. 194, parágrafo único, inciso I,
CF/88. Todavia deve ser lida sempre sob a ótica da contributividade, da filiação obrigatória e, sobretudo, da
prévia fonte de custeio.
e) Princípio da Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e
Rurais: previsto no art. 2º, inciso II, da Lei n.º 8.213/1991, nos seguintes termos:
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É decorrente do princípio geral da seguridade social previsto no art. 194, parágrafo único, inciso II,
CF/88, possuindo o mesmo objetivo: vedar distinções não razoáveis entre as populações urbanas e rurais,
CPF: 073.496.444-77
em relação aos benefícios e serviços oferecidos no RGPS. Anteriormente, conforme previsão antiga da LC
11/1971, o trabalhador rural podia se aposentar com renda mensal inicial abaixo do mínimo, o que não mais
é permitido em função deste princípio.
f) Princípio da Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios: previsto no art. 2º, inciso
souza -- CPF:
É originário lógico do princípio geral da seguridade social previsto no art. 194, parágrafo único, inciso
III, da CF/88, com a ressalva de que não menciona o princípio legal, a seletividade e distributividade dos
serviços, mas apenas dos benefícios. Conforme a doutrina, “desconhece-se a motivação que levou o
legislador ordinário a suprimir a expressão ‘serviços’ prevista no texto constitucional, mas certamente foi um
descuido do Poder Legislativo, pois não se vislumbra fundamento técnico-jurídico para a referida omissão”.
g) Princípio dos Salários de Contribuição Corrigidos Monetariamente: previsto no art. 201, § 3º, da
CF/88, bem como no art. 2º, IV, da Lei n.º 8.213/91, in verbis:
Impõe que no cálculo do salário de benefício, todos os salários de contribuição desde julho de 1994
sejam corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
h) Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Benefícios: a irredutibilidade nominal de benefícios
outros da seguridade social, concedidos no âmbito da assistência social, está prevista no art. 194, parágrafo
único, inciso IV, da CF/88. Já a específica irredutibilidade do valor real dos benefícios previdenciários é
princípio que se encontra previsto de modo específico no art. 201, § 4º, da CF/88, com redação dada pela
Emenda Constitucional 20/1998, segundo o qual “É assegurado o reajustamento dos benefícios para
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei.”
Ocorre que essa previsão específica condiciona a manutenção daquele “valor real” à edição de lei
ordinária. Dessa forma, o princípio constitucional da irredutibilidade do valor real dos benefícios
previdenciários, por si só, não garante a manutenção esperada do poder real de compra, já que é a lei que o
completa, conforme o arbítrio político do Congresso Nacional e, bem assim, por óbvio, das eventuais
contingências econômicas de nosso país.
i) Princípio da Garantia do Benefício Não Inferior ao Salário-Mínimo: está previsto no art. 201, § 12,
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da CF/88, que diz que “Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do
trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário-mínimo.”
O art. 2º, inciso VI, da Lei n.º 8.213/1991, também tem previsão desse princípio:
A grande percepção é a de que esse princípio somente vale para os benefícios previdenciários que
possuam o objetivo de substituir o salário de contribuição. Se não houver esse intento substitutivo da renda
souza -- CPF:
que representa o salário de contribuição do segurado, então o benefício poderá ter sua renda mensal inicial
abaixo do salário-mínimo. Isso ocorre somente em dois benefícios:
Marceli souza
• auxílio-acidente;
• salário-família.
Marceli
j) Princípio da Gestão Quadripartite da Previdência Social: esse princípio está previsto no art. 2º,
inciso VIII, da Lei n.º 8.213/1991:
Decorre do princípio geral previsto no art. 194, parágrafo único, VII, da CF/88:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
(...)
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e
80
FREDERICO MARTINS OS TRÊS RAMOS DA SEGURIDADE SOCIAL • 6
do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 20, de
1998)
Essa gestão administrativa, democrática e descentralizada da previdência social é feita pelo Conselho
Nacional da Previdência Social (CNPS), previsto no art. 3º, da Lei n.º 8.213/1991. O CNPS é composto da
seguinte forma:
que lhe pertence, jamais haverá prescrição do fundo de direito. Ou seja, o direito à concessão do benefício
em si é imprescritível, somente prescrevendo as parcelas atrasadas no prazo quinquenal previsto pelo
Decreto n.º 20.910/1932. Outro aspecto da indisponibilidade dos benefícios previdenciários decorre da
previsão legal do art. 114, da Lei n.º 8.213/1991:
souza -- CPF:
Art. 114. Salvo quanto a valor devido à Previdência Social e a desconto autorizado por esta
Marceli souza
a sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer ônus sobre ele, bem como a outorga
de poderes irrevogáveis ou em causa própria para o seu recebimento.
81
Marceli
Marceli souza
souza -- CPF:
CPF: 073.496.444-77
073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
marceliangel@hotmail·com
7
FREDERICO MARTINS
SOCIAL
CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE
82
CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL • 7
FREDERICO MARTINS CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL • 7
É a sociedade quem banca a seguridade social e a previsão da origem dos recursos e o modo de seu
recolhimento estão previstos no Capítulo II (“Da Seguridade Social”), do Título VIII (“Da Ordem Social”), de
nossa Carta de 1988. E, especificamente, a norma que trata dessa estrutura de custeio e financiamento pela
sociedade restou inserida na Constituição Federal de 1988 por meio do art. 195, caput, que assim diz:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes
sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição
sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que
trata o art. 201; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
Como se vê, os recursos financeiros são originados da União, Estados, DF, Municípios, eis que
derivam das receitas primárias de natureza tributária obtidas por esses entes federativos. Mas, importante
ficar atendo ao fato de que, em eventual insuficiência financeira, a garantidora desses recursos financeiros,
conforme previsto na Lei n.º 8.212/91, é a União.
Essa é a dicção legal do art. 16, da citada Lei de Custeio, senão vejamos:
CPF: 073.496.444-77
nossos).
Marceli
Veja, no entanto, que o mais relevante desse tópico é saber que a Constituição Federal de 1988 é
clara e expressa ao dizer que é a sociedade a financiadora total da seguridade social.
Desse modo, não se esqueça: é pela sociedade, na base de tudo, que se constroem os alicerces do
financiamento da seguridade social, seja de modo direto por meio do recolhimento das contribuições sociais
para a seguridade social, seja de modo indireto pelas demais verbas e recursos públicos vertidos por aqueles
entes da Federação à manutenção da seguridade social. Em outras palavras, tem-se que os entes federativos,
por meio de seus mandatários eleitos - que representam as escolhas democráticas da sociedade – e, bem
assim, por meio das leis promulgadas de natureza orçamentária, destinam os recursos públicos angariados
pela arrecadação de outros tributos e por outras receitas, com vistas a manter a rede de proteção social
pública instituída pela Constituição.
83
FREDERICO MARTINS CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL • 7
Contribuições para a
Seguridade Social
União, Estados, DF e
Municípios
seguridade social conta com a previsão de um orçamento separado do orçamento geral da União, à vista de
sua importância para a ordem social e devido à necessidade de blindagem financeira dos recursos públicos
destinados às áreas da saúde, previdência e assistência.
Isso está previsto no art. 165, §5º, da CF/88, senão vejamos:
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da
administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público;
II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente,
detenha a maioria do capital social com direito a voto;
souza -- CPF:
Por esse comando constitucional, as contribuições sociais para a seguridade social ingressam
diretamente em um orçamento construído em separado para esse setor, não adentrando no volume de
receitas gerais do Tesouro Nacional (isso, ao menos, em tese, uma vez que há controvérsias fáticas sobre a
real destinação feitos em nome da seguridade social, conforme é apontado no tópico deste capítulo
relacionado ao princípio da destinação vinculada das contribuições sociais). Isso vale não apenas para as
contribuições sociais para a seguridade social já previstas no texto do art. 195, incisos I a IV, CF/88, mas
também para qualquer nova exação criada com base no art. 195, §4º, da CF/88 – as chamadas contribuições
sociais residuais. Assim diz o referido dispositivo constitucional:
Embora não explícito no referido artigo constitucional, toda nova contribuição social para a
seguridade social deve ter sua finalidade e destinação voltadas para o financiamento da previdência,
assistência e saúde.
84
FREDERICO MARTINS CUSTEIO E FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL • 7
É feita de modo integrado por cada ramo da seguridade social. Assim, cada órgão responsável pela
saúde, previdência e assistência formula e indica suas demandas orçamentarias, com base nas metas e
prioridades estabelecidas pela lei de diretrizes orçamentarias do corrente ano.
Isso está previsto no art. 195, §2º, da CF, senão vejamos:
saúde, 1 (um) da área da previdência social e 1 (um) da área de assistência social (grifos
nossos).
Como se vê, a redação do dispositivo legal determina que haverá uma comissão orçamentária
própria, formada por 1 representante de cada ramo da seguridade social. Além disso, o Conselho Nacional
da Previdência Social, o Conselho Nacional de Assistência Social e o Conselho Nacional de Saúde participam
ativamente desse processo de formação da proposta orçamentária de cada ramo da seguridade social.
Marceli souza
Marceli CPF: 073.496.444-77
souza -- CPF:
85
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
86
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos
terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo,
de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
103, de 2019)
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Há que se entender que o equilíbrio da seguridade social, em relação às suas contas públicas, se
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
escora na manutenção de sua higidez financeira e, bem assim, na conformidade de seus cálculos atuariais. O
primeiro aspecto (equilíbrio financeiro) refere-se à relação coerente que se deve buscar entre a arrecadação
e as despesas da seguridade social. Já o segundo aspecto (equilíbrio atuarial) refere-se especificamente à
previdência social e busca a positividade dos cálculos atuariais de seu sistema público de seguro. Lembre-se
que a previdência social é, na verdade, um sistema de seguro social, no qual se pode manter a relação
jurídico-previdenciária com seus filiados por meio, em tese, de um regime de capitalização ou um regime de
CPF: 073.496.444-77
repartição. Em tema de finanças públicas, registro que o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial é setorial,
destinado à seguridade social, mas decorre de uma base axiológica mais ampla, que visa ao equilíbrio
orçamentário de um modo geral.
souza -- CPF:
essência). Há, portanto, diversos princípios que conjuntamente formam o sobreprincípio do equilíbrio
financeiro e orçamentário. Perceba, ainda, que esse pilar principiológico geral das contas públicas sempre
esteve previsto em nossa Constituição Federal de 1988. Mas, na verdade, assim como o princípio do
equilíbrio financeiro e atuarial da seguridade social, o princípio geral do equilíbrio orçamentário também tem
previsão implícita, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Em nossa Carta Magna, pois, sua
origem pode ser retirada da redação do art. 167, I, II e III.
Cabe lembrar que déficit público não significa sempre que o Estado esteja com suas contas públicas
comprometidas. Haverá comprometimento a partir de um determinado ponto, ou melhor, a partir do
momento e que o PIB nacional esteja exageradamente vinculado ao pagamento da dívida pública. Em relação
87
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
a esse último caso, como você deve ter acompanhado na mídia, no caso do Brasil, essa relação entre o
endividamento e o PIB atingiu níveis alarmantes nos últimos anos, nascendo desse contexto a necessidade
de aprovação da chamada Emenda do teto dos gastos públicos.
3. PRINCÍPIO CONTRIBUTIVO
4. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
situação na qual alguém contribuirá, mas não terá retorno algum, contraprestação alguma, ou quase
nenhuma, por parte do sistema previdenciário público. Como exemplo, é possível citar que o Supremo
Tribunal Federal, em setembro de 2019, reafirmou sua jurisprudência no sentido de que o aposentado que
souza -- CPF:
retorna ao trabalho deve contribuir para o RGPS, em razão do princípio da solidariedade do sistema
previdenciário adotado. Transcrevo a emenda do respectivo julgado:
Marceli souza
Outro exemplo está no julgamento da ADI 3105, que reconheceu a constitucionalidade das regras
constitucionais advindas com a Emenda Constitucional n.º 41/2003, a qual autorizou expressamente, e
diretamente no texto da Constituição, a cobrança de contribuições previdenciárias de inativos e pensionistas
nos regimes próprios de previdência.
Cabe lembrar que não existe a contribuição do aposentado ou pensionista do RGPS, tal como constou
do art. 40, caput, da CF/88, em relação aos servidores inativos e pensionistas dos regimes próprios. No regime
geral, o único caso no qual se autoriza a cobrança de contribuições previdenciárias ao aposentado é se ele
retornar ao trabalho, ou nele permanecer, conforme já explicitado nos tópicos anteriores.
88
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
A prévia fonte de custeio é princípio que evita a criação, extensão ou majoração de qualquer
benefício previdenciário, assistencial ou de saúde que não encontre uma previa fonte de custeio, tanto no
tópico do financiamento quanto orçamentário. Assim, deve haver contribuição social bastante para que haja
uma daquelas hipóteses de expansão da seguridade social, assim como deve haver prévia indicação de
dotação orçamentária para tanto.
exceção constitucional que permite que parte deles não chegue ao financiamento da seguridade social (ou,
pelo menos, não chegava até a EC 103/2019, como veremos adiante). Essa exceção constitucional resulta na
desafetação das contribuições sociais de sua destinação constitucional primária. Refiro-me a DRU –
Desvinculação das Receitas da União – e a DREM – Desvinculação das Receitas dos Estados e Municípios –,
mecanismos esses que estão previstos, respectivamente, nos arts. 76 e 76-A, do ADCT – Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias. Atualmente, após a EC n.º 103/2019, a redação do art. 76, do ADCT prevê a
CPF: 073.496.444-77
Conforme disposto acima, a DRU, portanto, não incide sobre as contribuições sociais para a
seguridade social. Mas essa não incidência, sobre as contribuições sociais para a seguridade social, nem
Marceli
sempre foi assim. É que a referida Emenda 103 incluiu o §4, do art. 76, do ADCT, afirmando expressamente
que a “desvinculação de que trata o caput não se aplica às receitas das contribuições sociais destinadas ao
custeio da seguridade social”.
A partir da EC 103/2019, não apenas as contribuições destinadas ao pagamento dos benefícios do
RGPS é que estarão fora da incidência da DRU, mas também todas as contribuições sociais destinadas para a
seguridade social (contribuições sociais estrito senso, previstas no art. 195, incisos I a IV, CF, bem como as
contribuições sociais para a seguridade social eventualmente criadas pela União por meio de sua
competência residual prevista no art. 195, §4º, CF21).
Há mais uma ressalva expressa: desde a Emenda Constitucional n.º 68/2011, a arrecadação da
contribuição social destinada ao salário-educação não entra mais no campo de desfalques da DRU22. Veja
que a DRU existe desde a Emenda Constitucional n.º 27/2000, ou seja, por muitos anos houve verdadeira
sucção de valiosos recursos orçamentários destinados à educação, por meio da DRU, até o ano de 2011, que
veiculou a EC 68 e acabou com esse desfalque.
21 Art. 195. (...) §4º. A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social,
obedecido o disposto no art. 154, I.
22 § 2º Excetua-se da desvinculação de que trata o caput a arrecadação da contribuição social do salário-educação a que se refere o
§ 5º do art. 212 da Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 68, de 2011).
89
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após
decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b". (grifos nossos)
respetiva lei.
A diversidade da base de financiamento é prevista no art. 195, da CF, exclamando a atuação conjunta
do poder público, dos trabalhadores e das empresas para que a seguridade social permaneça de pé em
termos financeiros. A diversidade da base de financiamento da seguridade social brasileira é mantida da
CPF: 073.496.444-77
seguinte forma:
1. Recursos orçamentários da União, Estados, DF e Municípios;
2. Contribuições previdenciárias pagas pelo empregador;
3. Contribuições previdenciárias pagas pelo trabalhador;
souza -- CPF:
6. Contribuições sociais pagas importador de bens e serviços do exterior ou de quem a lei a ele
equiparar.
Marceli
Essa base de financiamento pode ser aumentada por meio de lei complementar e desde que não
haja a criação de contribuição com a mesma base de cálculo e fatos geradores presentes nos tributos já
existentes (art. 195, § 4º, c/c art. 54, I, CF/88).
Esse princípio já foi estudado. Vale repisar, contudo, o seu conceito, lendo-o, agora, dentro do
contexto do presente capítulo, para tomar a percepção de que se trata de base principiológica que completa
e equaliza a estrutura normativa da diversidade da base de financiamento da seguridade social. Perceba que
para cada parte envolvida no financiamento, então, há uma forma de participação que se amolda às suas
circunstâncias econômicas e sociais. O trabalhador e o empregador contribuem sobre o salário de
contribuição pago ou creditado a qualquer título, enquanto as empresas contribuirão com base na
receita/faturamento e lucro.
Não observar a equidade na forma de participação do custeio da seguridade social é chancelar
atividade estatal tributária confiscatória e desproporcional. Justamente por isso é que a lei fixa a
progressividade das alíquotas incidentes na base de cálculo das contribuições sociais pagas pelo empregador,
90
FREDERICO MARTINS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL RELACIONADOS AO CUSTEIO • 8
empresa ou equiparado. Desde a Emenda Constitucional n.º 20/1998 foi introduzido no texto constitucional
a possibilidade de que a contribuição previdenciária cota patronal, COFINS e CSLL tenham “alíquotas ou bases
de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica ou da utilização intensiva de mão-de-obra”.
A recente Emenda Constitucional n.º 103/2019 expandiu a possibilidade de concretização do
princípio da equidade na forma de participação de custeio da seguridade social, autorizando que não apenas
as alíquotas possam ser diferenciadas em razão daqueles critérios, mas também as bases de cálculos das
contribuições previstas no art. 195, inciso I, “a” e “b”, CF/88 (contribuições previdenciárias e Cofins). Note-
se que a CSLL, prevista no art. 195, I, “c”, CF/88, não pode ter cobrança diferenciada no que toca à base de
cálculo, mas apenas no que toca às alíquotas incidentes nessa base.
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Marceli
Marceli souza
souza -- CPF:
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9
FREDERICO MARTINS
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REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
É possível chamar o estudo das regras gerais do RGPS, em analogia ao Direito Civil e ao Direito Penal,
de parte geral do Direito Previdenciário.
As contingências sociais que são cobertas pelo Regime Geral de previdência social podem ser
observadas na Constituição Federal de 1988 e, também, na Lei n.º 8213/1991. São as seguintes contingências
sociais cobertas pelo nosso regime geral de previdência social:
a) doença;
b) invalidez;
c) morte;
d) idade avançada;
e) proteção à maternidade, especialmente a gestante;
f) proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
g) proteção à família de baixa renda, por meio do salário-família;
h) proteção à família de baixa renda em razão da reclusão do segurado instituidor.
Essas previsões estão assinaladas no art. 201, da Constituição Federal de 1988, que transcrevo
abaixo:
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Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
CPF: 073.496.444-77
Cabe destacar, contudo, como já assinalamos anteriormente nessa obra, que o seguro-desemprego
é um benefício que não é pago do âmbito do INSS. Embora a Constituição Federal indique que a contingência
souza -- CPF:
social do desemprego involuntário seja objeto do Regime Geral de Previdência Social, o seguro-desemprego
não é tratado desta forma pela legislação ordinária. A Lei n.º 7.998/1990 determina que o seguro-
Marceli souza
desemprego seja pago pelo Ministério do Trabalho, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Marceli
Cabe lembrar, mais uma vez, que há discussão acerca da natureza jurídica do seguro-desemprego,
ou seja, se se trata de benefício previdenciário ou de benefício assistencial, ou ainda um benefício sui generis.
Sobre isso, a Administração Pública Federal, por meio da Advocacia Geral da União, editou a Parecer
CONJUR/TEM 256/2010, que aponta que se trata de benefício previdenciário. O órgão de advocacia pública
da União argumenta isso com base na leitura do artigo 201, inciso III, da Constituição Federal, o qual
prescreve literalmente o desemprego involuntário como objeto de cobertura da previdência social. De todo
modo, tem prevalecido entendimento de que se trata de um benefício de cunho mais assistencial do que
previdenciário.
As características gerais do regime geral de previdência social são: público, contributivo, escorado
no equilíbrio financeiro e atuarial, de filiação obrigatória para os trabalhadores em geral, de repartição e de
fundo único, solidário, de gestão quadripartite e custeio tripartite. A doutrina aponta que se trata de um
pacto político e social intra e intergeracional23.
23 Idem, p. 237.
93
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
1. SEGURADOS
No Regime Geral de previdência social há dois grandes grupos de segurados. Temos os segurados
obrigatórios e os segurados facultativos. Em geral, os segurados obrigatórios são os trabalhadores da
iniciativa privada, com algumas exceções dispostas na Lei n.º 8.213/1991, de trabalhadores que, embora
vinculados à Administração Pública, ficam acobertados pelo Regime Geral da Previdência Social.
Regra geral é que ao se falar em trabalhadores da administração pública falaremos de servidores
públicos e, logo, falaremos em Regimes Próprios de Previdência Social. Com os militares não é diferente: eles
estão vinculados a um Regime Próprio de Previdência Social e não ao Regime Geral da Previdência Social. É
possível, ainda, que um segurado seja filiado em mais de uma categoria do Regime Geral da Previdência
Social. É possível, então, que alguém tenha algum trabalho formalmente instituído em carteira assinada, ou
seja, seja um empregado, e ao mesmo tempo seja um autônomo, contribuinte individual.
especificamente no seu artigo 9º, trata desta espécie de segurado. Indo mais a fundo, cabe lembrar que,
explicitando ainda mais os contornos dos segurados obrigatórios, o artigo 2º, até o art. 57, da Instrução
Normativa INSS n.º 77/2015 trata em minúcias do assunto.
Os segurados obrigatórios são:
a) segurado empregado;
b) segurado empregado doméstico;
CPF: 073.496.444-77
as outras espécies de segurados obrigatórios podem ser segurados urbanos ou rurais. É possível, assim, que
tenhamos:
Marceli souza
Com relação a distinção entre a categorização de um segurado obrigatório como sendo rural ou
urbano, há que se verificar a forma pela qual a norma faz esse enquadramento. A distinção reside na natureza
da atividade ou do serviço efetivamente prestado pelo empregado ou pelo contribuinte individual. Nada
impede, portanto, que um trabalhador rural exerça a sua atividade rural dentro da cidade. Também não será
impeditivo o enquadramento de um trabalhador urbano que trabalha no campo. Tudo dependerá do tipo de
atividade realmente prestada por esse tipo de trabalho trabalhador.
Há entendimento jurisprudencial a esse respeito:
94
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
estiver de acordo com o disposto no ART-58, INC-21, LET-A e LET-B, do DEC-611/92, ou DEC-
2172/97. 2. A caracterização do trabalho como urbano ou rural depende da natureza das
atividades efetivamente prestadas e não do meio em que se inserem. 3. Caracterizam-se
como atividades urbanas as de Administrador de Fazenda, relativas ao pagamento e
orientação de pessoal, aquisição de mercadorias, etc. 4. Improcede o pedido de
aposentadoria por tempo de serviço quando reconhecido o tempo de serviço de apenas 27
anos e nove meses. 5. Apelação do autor improvida. (AC - APELAÇÃO CIVEL 96.04.33087-0,
NYLSON PAIM DE ABREU, TRF4 - SEXTA TURMA, DJ 10/12/1997 PÁGINA: 108428.)
Toda essa distinção é sobremaneira relevante no aspecto prático e não meramente conceitual.
Influencia diretamente, por exemplo, na eleição do requisito temporal da aposentadoria por idade destes
trabalhadores, bem como o aspecto contribuitivo, no caso do segurado especial.
No Brasil, existe uma lei que define o que é trabalhador rural. É a Lei n.º 5.889/1973. É importante,
contudo, observar que o rol lá presente não é exaustivo, mas sim exemplificativo. Essa, pelo menos, e a
interpretação que tem sido extraída da leitura das normas daquela lei. Um administrador de fazenda, por
exemplo, pode ser trabalhador rural ou não. Tudo vai depender da natureza efetiva de seu labor, se
realmente rural ou meramente administrativo, sem nenhuma associação com as lides campesinas. Daí se
permite concluir que casos como o do administrador da fazenda sejam resolvidos mediante a conclusão de
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que a preponderância de sua atividade se vincula à finalidade de manutenção das lides rurais no interior do
imóvel da fazenda.
Vamos entender cada uma das espécies de segurados obrigatórios.
Essa espécie de segurado obrigatório está prevista no art. 12, I, da Lei n.º 8.212/1991, no art. 11, I,
CPF: 073.496.444-77
sociais previstas no art. 201, da Constituição Federal. Entretanto, existem regras legais que definem a quem
cabe a obrigação de proceder aos recolhimentos previdenciários e, no caso do segurado empregado, essa
Marceli
Afora essas três espécies, os demais possuem a proteção de que, em caso de não recolhimento pelo
empregador ou pelo contratante dos serviços (contribuinte individual que presta serviços a uma ou mais
empresas) ou pelo tomador de serviços (trabalhador avulso), mesmo assim, o segurado não será prejudicado.
Isso está previsto no art. 30, I, “a”, da Lei 8.212/1991, no art. 3º, § 4º, da Lei 10.666/2003, bem como no art.
29, § 4º, do Decreto 3.048/1999:
95
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
SEGURADOS EMPREGADOS
No BRASIL, é aquele que: No EXTERIOR, é o:
presta serviço urbano à empresa, não eventual, com brasileiro que trabalha como empregado em sucursal ou
subordinação e remuneração; agencia de empresa nacional no exterior;
estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil, mas que
presta serviço rural à empresa, não eventual, com
trabalha como empregado em sucursal ou agencia de
subordinação e remuneração;
empresa nacional no exterior;
brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior
presta serviço à empresa de trabalho temporário (p/
CPF: 073.496.444-77
atender ao acréscimo extraordinário de serviços de organismos internacionais dos quais o Brasil seja
outras empresas); membro efetivo (salvo se segurado na forma da
Marceli souza
presta serviço à missão diplomática (e a órgãos a ela trabalhar como empregado em empresa domiciliado no
subordinados) exterior, cuja maioria do capital votante pertença a
empresa brasileira de capital nacional;
estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para
presta serviço à repartição consular de carreira trabalhar como empregado em empresa domiciliado no
estrangeira (e a órgãos a ela subordinados) exterior, cuja maioria do capital votante pertença a
empresa brasileira de capital nacional;
presta serviço a membros dessas missões diplomáticas e
repartições consulares. ATENÇÃO: excluídos o não-
brasileiro sem residência permanente no Brasil e o
brasileiro amparado pela legislação previdenciária do *
país da respectiva missão diplomática ou repartição
consular (exceção ao princípio da territorialidade da lei
previdenciária nacional);
é servidor público ocupante de cargo em comissão na
União, autarquias federais (inclusive em regime especial) *
e fundações públicas federais.
o empregado de organismo oficial internacional ou
estrangeiro em funcionamento no Brasil (se for no
*
exterior é contribuinte individual), salvo quando coberto
por regime próprio de previdência social;
96
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Na condição de segurado empregado, também, devemos lembrar, figura ainda o empregado rural.
O trabalho do empregado rural é regulado pela Lei n.º 5.889/1973. O empregado rural é toda pessoa física
que, em propriedade rural ou em prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual, sobre a
dependência deste e mediante salário. Cabe lembrar que, para o empregado rural, também vige a presunção
de recolhimentos previdenciários por parte de seu empregador.
Assim, mesmo que não haja o efetivo recolhimento das contribuições previdenciárias ao INSS, o
empregado rural não deixa de ser segurado obrigatório do Regime Geral da previdência social e,
consequentemente, não deixa de estar coberto e assim poder gozar dos benefícios previdenciários previstos.
Existem algumas espécies sobre as quais cabe fazer um registro: menor-aprendiz e aluno-aprendiz.
Quanto ao menor aprendiz, ele também é considerado segurado empregado. Isso porque a o art.
428, da CLT define o contrato de aprendizagem como sendo um contrato de trabalho especial, escrito e com
prazo determinado. Nesse contrato o empregador fica comprometido assegurar ao maior de 14 anos e menor
de 24 anos uma formação técnico profissional metódica. Portanto, o menor aprendiz é segurado obrigatório
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Para que seja considerado segurado empregado, o aluno aprendiz deve perceber remuneração,
ainda que tal remuneração tenha se dado de maneira indireta, como por meio de alimentação, material
escolar, fardamento, parcela de renda auferida com a execução de encomendas para terceiros etc. Se isso
for comprovado, a jurisprudência entende que o tempo do aluno aprendiz pode ser contado como tempo de
souza -- CPF:
contribuição, independentemente do recolhimento de contribuições. De acordo com o inciso IX, do art. 188-
Marceli souza
G, do Decreto n.º 3.048/1999, incluído pelo Decreto n.º 10.410/2020, será considerado como tempo de
contribuição “o tempo exercido na condição de aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado
Marceli
profissional realizado em escola técnica, desde que comprovados a remuneração pelo erário, mesmo que
indireta, e o vínculo empregatício”.
Cabe lembrar que o empregado público, conforme a previsão dada pelo art. 40, parágrafo 13, da
Constituição Federal, está abrangido pelo Regime Geral da previdência social, eis que é regulado pela
consolidação das Leis do Trabalho:
É importante anotar algumas considerações sobre o detentor de mandato eletivo federal, estadual
ou municipal. Alguns anos após a EC 20/1998, foi editada a Lei n.º 10.887/2004, a qual passou a incluí-los
como segurados obrigatórios na condição de empregados (art. 12, I, “j”, da Lei n.º 8.212/1991):
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
I - como empregado:
97
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
(...)
j) o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado
a regime próprio de previdência social; (Incluído pela Lei nº 10.887, de 2004).
Acerca dessa inovação legislativa, o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do Tema 691
de sua repercussão geral, afirmou que a
Registre-se, por fim, que a Emenda 103 alterou a redação do art. 38, inciso V, da Constituição Federal,
CPF: 073.496.444-77
devendo a regra ali inserta ser lida em conjunto com o art. 40, §13º, CF, cuja nova redação também foi dada
pela EC 103 e diz que se aplica “ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou
de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social”.
souza -- CPF:
Conjugando a regra do art. 40, §13, com a do art. 38, V, teremos as seguintes situações:
a) se o ocupante de mandato eletivo NÃO FOR TAMBÉM SERVIDOR PÚBLICO EFETIVO, ou seja, se
Marceli souza
já não estiver vinculado a regime próprio da previdência social, ficará automaticamente filiado
Marceli
ao RGPS quando ocupar o cargo para o qual foi eleito. EXEMPLO: se o eleito ocupa o cargo de
deputado federal, sua remuneração será paga pelo Poder Legislativo da União e sua contribuição
será vertida para o RGPS.
b) de outro lado, se o ocupante de mandato eletivo JÁ FOR, ANTES DA ELEIÇÃO, SERVIDOR PÚBLICO
EFETIVO e vinculado a regime próprio da previdência social, permanecerá filiado a esse regime
mesmo quando estiver ocupando o cargo para o qual foi eleito.
Em suma, a regra prevista no art. 12, I, “j”, da Lei n.º 8.22/1991, continua valendo, mas deverá ser
lida com a possibilidade de que o eleito seja, na origem, um servidor público. Se for servidor público,
continuará vinculado ao regime próprio de previdência social do cargo público (se houver esse regime
próprio, pois sabemos que em muitos Municípios não houve sequer a implantação de regimes próprios e,
agora, com a Emenda 103, não poderão mais implementar tais regimes, a teor do art. 40, §22, CF); se não for
servidor de origem, ficará vinculado ao RGPS.
Além das disposições da Lei n.º 8212/1991, há algumas especificações normativas de outras
hipóteses de segurados empregados dispostas no art. 9º, I, do Decreto n.º 3.048/1999 e art. 8º, da IN INSS
77/2015.
a) o bolsista e o estagiário: serão segurados obrigatórios como empregados, quando o exercício de
suas atividades estiver em desacordo com as regras previstas na Lei n.º 11.788/08. De outro lado,
98
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
quando houver o válido cumprimento das normas desta lei, o estagiário poderá se filiar como
segurado facultativo (Art. 12. (...) § 2º Poderá o educando inscrever-se e contribuir como segurado
facultativo do Regime Geral de Previdência Social).
b) o servidor contratado pelos entes federativos para trabalhar por tempo determinado, atendendo
a necessidade temporária de excepcional interesse público, conforme o art. 37, IX, CF
c) o escrevente e o auxiliar contratados para trabalhar nos serviços cartorário extrajudiciais, de
acordo com a Lei n.º 8.935/1994;
d) o trabalhador rural que é contratado por um produtor rural pessoa física, conforme o art. 14, da
Lei n.º 5.889/1973;
e) os safristas (boias-frias) que atuam no campo, de acordo com a Lei n.º 5.889/1973, senão vejamos
o disposto no art. 8º, V, da Instrução Normativa INSS 77/15:
Do empregado
Art. 8º É segurado na categoria de empregado, conforme o inciso I do art. 9º do
Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999:
(...)
V - o assalariado rural safrista, de acordo com os arts. 14, 19e 20 da Lei nº 5.889, de 8 de
junho de 1973, observado que para aqueles segurados que prestam serviço a empresas
agroindustriais e agropecuárias, a caracterização, se urbana ou rural, dar-se-á pela natureza
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O segurado empregado doméstico tem a sua previsão normativa baseada nos elementos de
caracterização deste tipo de contrato de trabalho expostos na Lei Complementar n.º 150/2015. Essa lei
CPF: 073.496.444-77
Art. 1o Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de forma
contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família,
souza -- CPF:
no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, aplica-se o disposto
nesta Lei.
Marceli souza
de serviços se dê de forma contínua a uma pessoa física ou a uma família no interior da correspondente
residência e em atividades sem fins lucrativos. Deve haver, ainda, conforme a Lei Complementar n.º
150/2015, uma relação de trabalho com subordinação, pessoalidade e, obviamente, deve ser onerosa, ou
seja, deve haver remuneração para isso.
O segurado empregado doméstico tem sua previsão de cobertura previdenciária pelo RGPS prevista
no art. 12, II, da Lei n.º 8.212/1991. Vejamos:
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
II - como empregado doméstico: aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa
ou família, no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos;
Perceba que se não houver a caracterização de um contrato de emprego doméstico, ou seja, se não
houver a prestação de serviços por mais de dois dias ao longo da semana, haverá, como dito, apenas diárias,
sendo que nesse caso a relação jurídica de filiação não será mais de segurado empregado doméstico, mas
sim contribuinte individual.
99
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O grande traço caracterizador do trabalhador avulso é o fato de ele prestar suas atividades por
intermédio de um órgão gestor de mão-de-obra ou do sindicato da categoria. O órgão gestor de mão-de-
obra é uma entidade civil de utilidade pública, sem fins lucrativos, constituída pelos operadores portuários,
em conformidade com a lei. Tem por finalidade administrar o fornecimento de mão-de-obra do trabalhador
avulso24. A cobertura previdenciária do segurado trabalhador avulso está prevista no art. 12, VI, da Lei n.º
8.212/1991, senão vejamos:
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
VI - como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício,
serviços de natureza urbana ou rural definidos no regulamento;
É aquele que presta serviços, portanto, por meio do órgão gestor, a diversas empresas, não
apresentando nenhum vínculo empregatício com essas empresas, sendo elas de natureza urbana ou rural.
Como exemplos de trabalhadores avulsos podemos citar os seguintes: os trabalhadores que atuam na
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atividade portuária (capatazia, estiva, conferência etc.), trabalhadores de estiva em geral (carvão, minério
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etc.); o ensacador de café, cacau, sal e similares; o trabalhador da indústria de extração de sal; o guindasteiro,
etc.25
O trabalhador avulso portuário possui uma previsão normativa que lhe dá direito a um exclusivo
benefício assistencial de até um salário mínimo. É o que diz o art. 10-A, da Lei n.º 9.719/1998, conforme
abaixo transcrevo:
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Parágrafo único. O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo
beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo
Marceli souza
Trata-se de espécie de segurado obrigatório que foi criada por meio da Lei n.º 9.876/1999, sendo
decorrente da reunião das categorias até então existentes relacionadas ao empresário, ao autônomo e, por
fim, ao equiparado a autônomo. A previsão dos segurados contribuintes individuais se encontra no art. 12,
V, da Lei n.º 8.212/1991:
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
V - como contribuinte individual: (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título,
em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou,
quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com
auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 10 e
11 deste artigo; (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008).
b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral - garimpo,
em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com
24 AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 11ª edição, Editora JusPodvim, 2019, Salvador, p. 306.
25 Idem, p. 307.
100
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não
contínua; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de
congregação ou de ordem religiosa; (Redação dada pela Lei nº 10.403, de 2002).
d) revogada; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o
Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por
regime próprio de previdência social; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de
conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o
sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em
empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa,
associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou
administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam
remuneração; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).
g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais
empresas, sem relação de emprego; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).
h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana,
com fins lucrativos ou não; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).
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Hipótese que confunde bastante e vale lembrar é a do “brasileiro civil que trabalha no exterior para
organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado,
salvo quando coberto por regime próprio de previdência social”. Essa hipótese é muito semelhante a uma
das espécies de segurado empregado no exterior, relativa ao “brasileiro civil que trabalha para a União, no
exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda
que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio”.
Em síntese, se o brasileiro civil trabalhar diretamente para o organismo oficial internacional, será ele
CPF: 073.496.444-77
contribuinte individual; já se ele trabalhar para a União, embora no organismo oficial internacional, aí será
ele segurado empregado. Ambas as hipóteses, contudo, indicam que o brasileiro não será segurado do RGPS,
caso ele já esteja coberto por algum tipo de previdência na forma da legislação do país estrangeiro no qual
possui domicílio.
souza -- CPF:
especiais. Isso porque existe regra constitucional que inclui o garimpeiro no direito à aposentadoria com
Marceli
redução de idade, desde que exerçam sua respectiva atividade em regime de economia familiar, senão
vejamos:
Cabe pontuar, também, a previsão de que é contribuinte individual a pessoa física, proprietária ou
não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área
superior a 4 (quatro) módulos fiscais. Essa previsão deve ser lida em conjunto com outra, que dispõe que é
segurado especial a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele
que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros a
título de mútua colaboração, na condição de “produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor,
101
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade”
agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais.
Assim, havendo produção agropecuária em área maior do que 4 módulos fiscais, a norma
previdenciária deixa de enquadrar o trabalhador como segurado especial, mas sim como contribuinte
individual, exigindo contribuições.
O segurado contribuinte individual possui uma peculiaridade em relação aos demais segurados
obrigatórios. Para ele, a exigência de recolhimentos é direta, ou seja, ele mesmo quem deve recolher suas
contribuições previdenciárias, tal como, aliás, o segurado facultativo, até o dia 15 do mês subsequente ao
da competência. Essa é a dicção clara do art. 30, II, da Lei n.º 8.212/1991:
Há uma única exceção quanto a essa obrigação de recolhimento direto pelo contribuinte individual.
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Ela está prevista no art. 4º, da Lei n.º 10.666/2003, que retrata a hipótese na qual o contribuinte individual é
contratado para prestar serviços a uma determinada empresa ou pessoa equiparada a empresa. Em tal
hipótese, o contribuinte individual não possui o ônus de promover o recolhimento de suas contribuições
previdenciárias, eis que é a empresa ou equiparada a empresa que arca com essa obrigação legal. Vejamos:
arrecadado juntamente com a contribuição a seu cargo até o dia 20 (vinte) do mês seguinte
ao da competência, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente
bancário naquele dia (grifos nossos).
souza -- CPF:
Assim, a regra geral é que o contribuinte individual deve recolher diretamente suas contribuições
previdenciárias ao INSS e, mais do que isso, que assim proceda até o dia “até o dia quinze do mês seguinte
Marceli souza
ao da competência”.
Portanto, se não houver o recolhimento em dia das contribuições previdenciárias, o contribuinte
Marceli
individual não estará devidamente filiado ao RGPS. A qualidade de segurado, bem como a carência, do
contribuinte individual se completa por meio do primeiro recolhimento em dia da contribuição previdenciária
devida. Aliás, nos termos do art. 27, II, da Lei n.º 8.213/1991, para o cômputo do período de carência,
somente serão
102
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado
urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar,
ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de: (Redação dada pela Lei nº
11.718, de 2008)
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro
outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade: (Incluído pela Lei
nº 11.718, de 2008)
1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; (Incluído pela Lei nº 11.718, de
2008)
2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII
do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o
principal meio de vida; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou
principal meio de vida; e (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este
equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que,
comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo. (Incluído pela Lei nº 11.718,
de 2008)
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Vejamos, agora, o que diz o art. 12, VII, da Lei n.º 8.212/1991:
Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:
(...)
souza -- CPF:
VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado
urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar,
Marceli souza
ainda que com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua colaboração, na condição
de: (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008).
Marceli
103
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
deve ter no mínimo 16 anos de idade, dicção legal essa dada pela Lei n.º 11.718/2008, que alterou a outrora
idade mínima de 14 anos. Essa alteração objetivou a conformação da norma infraconstitucional à norma
constitucional advinda pela EC n.º 20/1998 no art. 7º, XXXIII, que passou a indicar a idade mínima de 16 anos
para qualquer trabalho, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 anos. Nada obstante, a jurisprudência
tem interpretado de modo restritivo essa norma, para não excluir da proteção previdenciária o direito de
cônjuges menores de 16 anos, especialmente mulheres, que geralmente se casam cedo no campo, ou que
se tornam mães antes daquela idade. Dessa forma, a idade mínima de 16 anos somente seria exigível ao filho
CPF: 073.496.444-77
menor, para que somente a partir dessa faixa etária passasse a compor o grupo familiar, não se aplicando
essa limitação ao cônjuge. Sobre isso, cabe lembrar do Tema 54 dos representativos de controvérsia da TNU,
que ilustra a pacificação da questão em âmbito judicial, senão vejamos:
souza -- CPF:
Saber se a exigência etária de no mínimo 16 anos prevista no art. 11, VII, alínea “c”, da Lei
Marceli
Questão submetida a
n.º 8.213/91 se aplica ao cônjuge ou companheiro, ou apenas ao filho de produtor rural ou
julgamento
pescador artesanal.
Acórdão publicado
Processo Relator (a) Julgado em Trânsito em julgado
em
PEDILEF
Juiz Federal Rogério
2009.70.61.000792-5/ 27/06/2012 27/06/2012 24/07/2012
Moreira Alves
PR
PREMISSA 5: para ser segurado especial deve haver trabalho em regime de subsistência em um
imóvel rural que corresponda a no máximo 4 módulos fiscais. Vale anotar que o módulo fiscal é uma medida
cuja agrimensura é variável em cada Município da Federação, de acordo com o INCRA. A lei escrita no art.
12, V, “a”, é taxativa e inflexível ao afirmar que o trabalho rural em área superior a 4 módulos fiscais, ou
ainda, trabalho em área menor de 4 módulos fiscais com o auxílio de empregados ou prepostos,
104
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
descaracteriza a condição de segurado especial, ensejando a filiação à previdência social apenas na condição
de contribuinte individual. Nada obstante, a jurisprudência tem flexibilizado essa regra, senão vejamos a
Súmula 30, da TNU:
No aspecto probatório destes enquadramentos como segurado especial, entendia-se, até a Lei n.º
13.846/2019, que os meios provas só produziriam efeitos quando baseados em início de prova material, não
se admitindo prova exclusivamente testemunhal, nos termos do art. 55, § 3º da Lei nº 8.213/1991. Nada
obstante, a jurisprudência também flexibilizou tal entendimento, minorando a exigência de provas materiais
para todos os anos de trabalho rural. Nesse sentido, a Súmula 14, da TNU, destaca que o início de prova não
precisa preencher minuciosamente todos os anos e períodos do intervalo de tempo em que houve trabalho
rural:
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SÚMULA 14: Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o início
de prova material corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício.
O mesmo restou pontuado no TEMA 3, da TNU, que assinalou a possibilidade de se estender a eficácia
probatória do início de prova material por meio de complementação de prova testemunhal robusta:
Direito
Tema 3 Situação do tema Julgado Ramo do direito
CPF: 073.496.444-77
Previdenciário
Questão submetida a Saber se a prova material extemporânea, devidamente corroborada por prova oral idônea,
julgamento é hábil à concessão do benefício de aposentadoria por idade rural.
souza -- CPF:
testemunhal.
Marceli
Acórdão publicado
Processo Relator (a) Julgado em Trânsito em julgado
em
PEDILEF
Juíza Federal Simone dos
2005.81.10.001065-3/ 06/09/2011 04/10/2011 20/10/2011
Santos Lemos Fernandes
CE
105
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Além disso, restou assentado no TEMA 18 dos representativos de controvérsia da TNU a possibilidade
de uso de documentos de terceiros, como prova válida para satisfazer a exigência do início de prova material.
Vejamos:
Questão submetida a Saber se documentos em nome de terceiros integrantes do grupo familiar, relativos à
julgamento propriedade da terra trabalhada, servem como início de prova material da atividade rural.
Acórdão
Processo Relator (a) Julgado em Trânsito em julgado
publicado em
PEDILEF
Juíza Federal Simone dos
2009.71.95.000509- 11/10/2011 28/10/2011 18/11/2011
Santos Lemos Fernandes
1/ RS
CPF: 073.496.444-77
Assim, sobre os documentos em nome de terceiros, mister ressaltar que o fato de o segurado não
dispor de documentos da atividade agrícola em seu nome não afasta o seu direito, eis que se admite como
início de prova material documentos em nome de terceiros, integrantes do grupo familiar, desde que a parte
souza -- CPF:
promovidas pela MP 871/19, convertida na Lei n.º 13.846/2019. Trata-se de dispositivo que se aplica a
Marceli
qualquer pretensão de comprovação de “tempo de serviço” (rectius: tempo de contribuição). Por isso a
necessária permanência em nosso ordenamento jurídico, mesmo considerando, como tenho exposto até
aqui, as alterações na sistemática de prova do trabalho rural do segurado especial.
Ainda funciona o art. 55, §3º, da Lei n.º 8.213/1991, como instrumento normativo subsidiário
relativamente ao objetivo de se atingir aquela comprovação. Trata-se de norma subsidiária porque somente
terá aplicabilidade quando for constatada à “falta de documento”.
Isto é: a norma do art. 55, §3º, da Lei n.º 8.213/1991, pode ser usada para a comprovação do trabalho
rural, mas sua aplicação na seara do segurado especial deriva, como visto, de remessa normativa feita pelo
art. 108, da Lei de Benefícios, sendo que esse dispositivo trata da solução jurídica que pode ser dada à “falta
de documento”. Não havendo documentos para a comprovação do trabalho rural, o segurado pode se valer
da justificação administrativa ou, trazendo isso para a prática judicial previdenciária, pode se valer de
produção probatória testemunhal, sendo, entretanto, vedada a “prova exclusivamente testemunhal” (art.
55, §3º, da Lei n.º 8.213/1991).
Em síntese, dentro das novas normas que tratam da comprovação da qualidade de segurado especial,
o art. 108 c/c art. 55, §3º, da Lei n.º 8.213/1991, ainda terá serventia para a demonstração do trabalho rural
em regime de economia familiar (desde que não haja documentos aptos a tal).
106
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Desde a vigência da MP 871/2019, convertida na Lei n.º 13.846/2019, houve significativa alteração
normativa. Assim, o uso da prova testemunhal, para fins de atingimento de eficácia prospectiva ou
retrospectiva dos documentos juntados, perdeu um pouco o seu sentido prático. As teses e súmulas acima
pronunciadas continuam tendo vigência e aplicabilidade, mas penso que elas serão de menor invocação
prática a partir das novas normas referidas.
De certo que ainda se poderá encontrar situação na qual os documentos rurais juntados possam
estar em contradição ou, ainda, pouco esclarecedores, de modo que a prova testemunhal poderá servir a
esse fim. No entanto, a histórica função EFICACIAL TEMPORAL de cunho PROSPECTIVO e/ou RETROSPECTIVO
dos documentos perdeu importância, pois, desde aquelas noveis normas são os próprios documentos que
possuem tal eficácia. Agora, são os próprios documentos, ou dados governamentais que contenham
informações do trabalhador rural, que possuem no seu bojo aquela eficácia prospectiva e retrospectiva. E
mais: para atingir essa finalidade, a nova norma previdenciária exige agora apenas 1 instrumento
ratificador (dado governamental ou documento) para cada metade do período de carência.
Isso decorre de previsão expressa prevista no Ofício-Circular nº 46 /DIRBEN/INSS, de 13 de setembro
de 2019, tratando-se, pois, de interpretação autêntica da própria autarquia previdenciária. A referida norma
foi editada para interpretar a nova conformação normativa dada pelas alterações promovidas pela MP
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871/2019, convertida na Lei n.º 13.846/2019, no que toca à comprovação da qualidade de segurado especial.
Assim, no panorama normativo atual, tudo gira em torno de uma autodeclaração do segurado
especial a ser RATIFICADA por meio de dados extraídos de bases governamentais ou, se for o caso, por meio
de documentos complementares. A norma usa a expressão “instrumentos ratificadores” para se referir a
alguma consulta a base de dados governamentais ou, subsidiariamente, a algum documento complementar
que seja idôneo o suficiente para ratificar a autodeclaração apresentada.
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que aduz a Constituição, primeiramente, quanto à redução do critério etário para a aposentadoria:
Marceli souza
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
§ 8º, da CF/88 transcrito acima, somente haverá contribuição do produtor rural em regime de economia
familiar se houver resultado da comercialização de sua produção.
Para a aplicação dessa regra constitucional diferenciada para o trabalhador rural é que, além do
trabalho rural, é necessária a comprovação de que esse trabalho se desenvolveu em regime de economia
familiar, ou seja, em regime de subsistência pessoal ou de seu grupo familiar. Além disso, para os
trabalhadores rurais somente haverá necessidade de contribuição se houver apuração de resultado da
comercialização de suas produções agropecuárias. Bem por isso, há uma correlação indissociável entre
regime de economia familiar rural e inexistência de contribuição previdenciária.
E como ficam aqueles que não exercem nenhuma atividade na iniciativa privada ou no serviço público
ou ainda no âmbito militar? Para esses que não estão filiados em um regime de previdência social por conta
da sua atividade, existe a possibilidade de se filiarem como segurados facultativos, medida essa que
claramente se permite por conta do princípio da universalidade da cobertura e do atendimento, bem como
do princípio da solidariedade ínsito ao RGPS.
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Na Lei n.º 8.212/1991 a previsão de enquadramento do segurado facultativo é dada por exclusão,
por um critério residual. Assim, todos aqueles que não se enquadrarem no art. 12 daquela lei, que trata das
hipóteses de segurados obrigatórios, poderá, se quiser, se filiar ao RGPS como segurado facultativo, desde
que seja maior de 14 anos. Vejamos:
Art. 14. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos de idade que se filiar ao
Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 21, desde que
não incluído nas disposições do art. 12.
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O art. 13, da Lei n.º 8.213/1991, repete esse mesmo critério de enquadramento:
Art. 13. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral
souza -- CPF:
de Previdência Social, mediante contribuição, desde que não incluído nas disposições do
art. 11.
Marceli souza
Nenhuma dessas leis, assim, esmiuça situações concretas de segurados facultativos, sendo esse
Marceli
Art. 11. É segurado facultativo o maior de dezesseis anos de idade que se filiar ao Regime
Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 199, desde que não
esteja exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório da
previdência social.
§ 1º Podem filiar-se facultativamente, entre outros:
I - a dona-de-casa;
II - síndico de condomínio, quando não remunerado;
III - o estudante;
IV - o brasileiro que acompanha cônjuge que presta serviço no exterior;
V - aquele que deixou de ser segurado obrigatório da previdência social;
VI - o membro de conselho tutelar de que trata o art. 132 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990, quando não esteja vinculado a qualquer regime de previdência social;
VII - o bolsista e o estagiário que prestam serviços a empresa de acordo com a Lei nº 6.494,
de 1977;
VIII - o bolsista que se dedique em tempo integral a pesquisa, curso de especialização, pós-
graduação, mestrado ou doutorado, no Brasil ou no exterior, desde que não esteja
vinculado a qualquer regime de previdência social;
IX - o presidiário que não exerce atividade remunerada nem esteja vinculado a qualquer
regime de previdência social;
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Cabe pontuar, por fim, a existência de regra constitucional que veda expressamente o
enquadramento do servidor público como segurado facultativo, conforme o art. 201, §5º, da Constituição
Federal:
2. FILIAÇÃO E INSCRIÇÃO
Podemos definir a filiação como a relação jurídica que se estabelece entre uma pessoa física e o
regime geral de previdência social. A filiação jurídica a um determinado sistema previdenciário consolida no
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Art. 20. Filiação é o vínculo que se estabelece entre pessoas que contribuem para a
previdência social e esta, do qual decorrem direitos e obrigações.
CPF: 073.496.444-77
tributária, dando, ao final, o contorno derradeiro da jurídica previdenciária. Veja que a consideração da
Marceli souza
relação jurídico-tributária é mencionada pela própria norma ao tratar dos contornos jurídicos que se exigem
na completude do conceito de filiação. É o que podemos extrair dos §§1º e 2º, do art. 3º, da IN INSS n.º
Marceli
77/2015:
Veja que, embora o § 1º, do art. 3º, da Instrução expresse que a filiação para os segurados
obrigatórios decorrerá automaticamente do simples fato de existir atividade remunerada. O § 2º, indo além,
deixa claro que a condição de “filiado” somente se delineia “mediante contribuição”.
Não há dúvidas, entretanto, de que o art. 34, I, da Lei n.º 8.213/1991 garante que não haverá prejuízo
ao segurado empregado, inclusive o doméstico, bem como ao trabalhador avulso, se o empregador ou o
tomador de serviço não promover os recolhimentos previdenciários. Isso não afasta, contudo, a conclusão
de que a contribuição é elemento essencial, também, da filiação. A regra do art. 34, I, da Lei n.º 8.213/1991,
é apenas um mecanismo de proteção do trabalhador, a fim de que ele, como parte mais fraca, não sofra
prejuízo em sua cobertura previdenciária, se aquele a quem a lei incumbe o dever de arrecadar e recolher as
109
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
contribuições não o fizer. O mesmo se diga em relação ao contribuinte individual que presta serviços a uma
ou mais empresas, já que essas possuem a obrigação de recolhimento previdenciário do prestador de
serviços em tais casos, conforme art. 4º, da Lei n.º 10.666/2003.
Veja, aliás, que a TNU já decidiu no Tema 29 de seus representativos de controvérsia que a presunção
de recolhimentos previdenciários por parte do empregador também deve incidir para os empregados
domésticos. Vejamos:
Situação do Direito
Tema 29 Julgado Ramo do direito
tema Previdenciário
Quanto ao contribuinte individual que presta serviços à empresa a partir da competência abril/2003,
CPF: 073.496.444-77
a TNU orienta até mesmo no sentido de recolhimentos previdenciários em atraso post mortem:
Direito
Tema 26 Situação do tema Julgado Ramo do direito
Previdenciário
souza -- CPF:
Questão submetida a Saber se é possível regularizar contribuições previdenciárias em atraso, após a morte de
Marceli souza
Acórdão publicado
Processo Relator (a) Julgado em Trânsito em julgado
em
PEDILEF
Juíza Federal Simone dos
2005.63.02.013290-9/ 24/11/2011 09/12/2011 16/1/2012
Santos Lemos Fernandes
SP
Já o conceito de inscrição traduz-se no ato formal de filiação. Assim, a filiação é o movimento material
de ligação jurídica com a previdência social. Já a inscrição é simplesmente o cadastro, a anotação nos
registros do INSS dos elementos individuais do segurado, os quais se caracterizam por meio de sua atividade
laboral ativa remunerada ou por meio de sua atividade campesina ou, por fim, por meio da sua filiação
formal, no caso dos segurados facultativos. O Decreto n.º 3.048/1999, no art. 18, define a inscrição:
110
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Art. 18. Considera-se inscrição de segurado para os efeitos da previdência social o ato pelo
qual o segurado é cadastrado no Regime Geral de Previdência Social, mediante
comprovação dos dados pessoais e de outros elementos necessários e úteis a sua
caracterização, observado o disposto no art. 330 e seu parágrafo único, na seguinte forma:
(Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 1999)
A inscrição de todos os segurados e o seu tipo de filiação é feita no chamado Cadastro Nacional de
Informações Sociais – CNIS. A inscrição da pessoa física nesse cadastro gera um número correspondente de
identificação que consiste no número de identificação do trabalhador – NIT. Esse número de identificação do
trabalhador pode ser um número originariamente dado pelo INSS, ou derivar de outro número de
identificação já existente da pessoa, tal como o número NIT PIS/PASEP/SUS, ou, ainda, qualquer outro NIS -
número de identificação social, gerado pela Caixa Econômica Federal26.
Para os segurados obrigatórios a filiação nascerá, inicialmente, de modo coincidente com a própria
atividade laboral ativa do trabalhador, desde que seja remunerada.
A filiação dos segurados especiais decorre do simples fato de estarem exercendo suas atividades
campesinas em regime de economia familiar, isto é, por meio de produção agropecuária de subsistência, ou,
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ainda, por meio da pesca artesanal. Quanto ao garimpeiro, lembro, somente se exige regime de economia
familiar para que ele tenha direito à aposentadoria com exigência reduzida de idade. Ele, no entanto, é
considerado contribuinte individual, não sendo segurado especial.
souza -- CPF:
A filiação dos contribuintes individuais difere dos segurados obrigatórios, pois no caso daqueles não
Marceli
basta que haja simplesmente o início das atividades laborais, devendo haver obrigatoriamente a contribuição
previdenciária respectiva para que se estabeleça a completa relação jurídico-previdenciária com o INSS. Isso
se deve ao fato de que o contribuinte individual é quem pessoalmente recolhe, geralmente, aos cofres do
INSS, conforme o art. 3º, II, da Lei n.º 8.212/1991:
Lembro, contudo, mais uma vez, do fato de que o contribuinte individual que presta serviços para
uma pessoa jurídica, a partir da competência de abril/03, conforme o art. 4º, da Lei n.º 10.666/2003, não
recolhe diretamente a suas contribuições previdenciárias, eis que a responsabilidade é da empresa tomadora
do serviço.
26 Idem, p. 355.
111
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
A filiação do segurado facultativo é ainda mais dependente de algum ato de sua própria
responsabilidade. Deverá ele promover por ato próprio e de maneira formal essa filiação, bem como
proceder ao pagamento da primeira contribuição previdenciária. Em verdade, o segurado facultativo realiza
o ato de inscrição com a finalidade de se filiar, assim é comum a afirmação de que o segurado facultativo faz
a inscrição antes da filiação, diferentemente dos segurados obrigatórios. O Decreto n.º 3.048, no art. 11,
prevê a idade mínima de 16 anos de idade para filiação do segurado facultativo, mas deve prevalecer a
melhor interpretação de que seria possível a filiação a partir dos 14 anos de idade, notadamente porque
conquanto não seja possível o trabalho do menor de 16 anos, isso é indiferente para o segurado facultativo,
já que salvo o estagiário, não trabalha.
Em síntese, os segurados obrigatórios passam, primeiramente, pelo ato jurídico de filiação e,
posteriormente, pelo ato jurídico de inscrição. Já os segurados facultativos, ao revés, devem primeiramente
formalizar a inscrição e, com o recolhimento da primeira contribuição, são considerados filiados ao RGPS.
No caso dos segurados obrigatórios, os segurados empregados, empregados domésticos e
trabalhadores avulsos possuem filiação e inscrição síncronas, digamos. Isso porque a lei atribui ao
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não sendo consideradas para este fim as contribuições recolhidas com atraso referentes a
competências anteriores, no caso dos segurados contribuinte individual, especial e
Marceli
3. TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
Até 13/11/2019 (publicação da EC n.º 103) o tempo de contribuição era contado conforme o art. 59,
do RPS (Regulamento da Previdência Social, Decreto n.º 3.048/1999), que assim diz:
Art. 59. Considera-se tempo de contribuição o tempo, contado de data a data, desde o
início até a data do requerimento ou do desligamento de atividade abrangida pela
previdência social, descontados os períodos legalmente estabelecidos como de suspensão
de contrato de trabalho, de interrupção de exercício e de desligamento da atividade (grifos
nossos).
O art. 59, do RPS, encontra-se atualmente revogado pelo Decreto n.º 10.410/2020, que tratou da
definição de tempo de contribuição no art. 19-C, de modo que, por via de seu §2º, tem-se entendido que a
contagem das competências com recolhimento (igual ou superior ao mínimo) será feita por mês. Na vigência
do art. 59, do RPS, fala-se que a contagem ocorre “data a data” significava dizer que quando o segurado fizer
a contagem de seu tempo de contribuição, a totalidade desse tempo será expressará em anos, meses e dias.
112
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Isso porque era considerada a data exata da admissão e da demissão do trabalhador, ou, ainda, do dia exato
do início e fim das atividades de trabalho.
De outro modo, falar que a contagem ocorrerá “por mês” significa dizer que será irrelevante no
cômputo total do tempo de contribuição do segurado que, em alguma competência, a atividade de trabalho
tenha sido feita em apenas quinze dias, por exemplo. Se um empregado for demitido aos 16 dias do mês de
março de 2020, por exemplo, já tendo ele 10 anos de contribuição, seu cômputo total do tempo de
contribuição não será 10 anos e 16 dias, mas, sim, 10 anos e 1 mês, desde que ele tenha recolhido sobre o
limite mínimo do RGPS.
Veremos, agora, o que pode ser considerado tempo de contribuição. Pela leitura do atual art. 19-C,
do Decreto n.º 3.048/1999, com a redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020, considera-se “tempo de
contribuição o tempo correspondente aos períodos para os quais tenha havido contribuição obrigatória
ou facultativa ao RGPS”. Essa é a definição de “tempo de contribuição”. E não poderia ser diferente, porque
sem contribuições e, consequentemente, sem a consideração do tempo de contribuição para que o segurado
possa gozar dos benefícios e serviços previdenciários, não há previdência, mas sim assistencialismo.
Cabe fazer um retrospecto de alterações constitucionais para melhor entender o conceito de tempo
de contribuição e sua crescente importância no RGPS.
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A partir da Emenda 20/1998, o tempo de serviço como elemento apto a gerar aposentadoria foi
retirado de nosso ordenamento jurídico, permanecendo apenas na redação do art. 4o, da referida emenda
constitucional. Esse art. 4º, da EC 20 assinalou que “o tempo de serviço considerado pela legislação vigente
para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado como tempo de
contribuição”. Como não houve lei disciplinando a matéria, o tempo de serviço continuou a ser considerado
em algumas hipóteses. Sobre isso, a doutrina de Marisa Santos27 aduz:
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exercício da atividade que pretende computar (tempus regit actum); se, naquele período,
era possível computá-la como tempo de serviço, então, agora, poderá considerá-la como
Marceli souza
O que findou de modo absoluto, pela EC n.º 20 no RGPS, foi a contagem de tempo fictício ou tempo
contado em dobro no serviço público. Contudo, a partir da EC n.º 103/2019 acabou de vez a possibilidade de
se computar “tempo de serviço”, salvo para os períodos até 13/11/2019. É que a EC n.º 109 incluiu no § 14,
do art. 201 o seguinte:
§ 14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de concessão dos
benefícios previdenciários e de contagem recíproca.
Na medida em que o art. 201, § 14, da Constituição, passa a vedar qualquer tempo em relação ao
qual não haja contribuição previdenciária recolhida, passa a impedir, também, a consideração do “tempo de
serviço”. Inclusive, neste ponto, importa salientar que o art. 25, § 3º, da EC n.º 103, asseverou que serão
nulas as aposentadorias concedidas nos regimes próprios, ou que venham a ser concedidas, com a
consideração de contagem recíproca com o RGPS, em tendo sido considerados períodos de tempo de serviço
proveniente desse regime geral.
Vejamos:
27 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário esquematizado. 6ª edição – São Paulo, 2016, p. 289.
113
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
§ 3º Considera-se nula a aposentadoria que tenha sido concedida ou que venha a ser
concedida por regime próprio de previdência social com contagem recíproca do Regime
Geral de Previdência Social mediante o cômputo de tempo de serviço sem o recolhimento
da respectiva contribuição ou da correspondente indenização pelo segurado obrigatório
responsável, à época do exercício da atividade, pelo recolhimento de suas próprias
contribuições previdenciárias.
Nada obstante, o referido § 3º deve ser lido em consonância com seu caput, de maneira que deve
ser preservado o tempo de serviço considerado como tempo de contribuição até a data de entrada em vigor
da Emenda Constitucional 103 (13/11/2019), sob pena de ofensa ao direito adquirido. Além de violar o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito, o princípio tempus regit actum e, bem assim, o próprio art. 4º, da Emenda
20/98, o qual não foi revogado pela Emenda 103.
A própria EC 103, aliás, fez a proteção do ato jurídico perfeito e do direito adquirido ao tempo de
serviço (que também é tempo fictício) tal como considerado na legislação vigente até a data de publicação
da referida emenda constitucional (EC 103). Vejamos o art. 25, da Emenda 103:
Art. 25. Será assegurada a contagem de tempo de contribuição fictício no Regime Geral de
Previdência Social decorrente de hipóteses descritas na legislação vigente até a data de
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Poderíamos considerar, assim, que o art. 4º, da EC 20 foi parcial e tacitamente revogado pelo art. 25,
da EC 103. Nada obstante, pelo art. 25, da Emenda 103 acima transcrito, deve-se entender que o tempo de
serviço que até então era possível de ser considerado como tempo de contribuição continuará assim sendo
considerado, desde que o respectivo período de tempo de serviço esteja temporalmente situado até
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13/11/2019, data de vigência de nossa última reforma previdenciária. O Supremo Tribunal Federal também
já se pronunciou nesse sentido, garantindo que a lei nova não pode desconstituir o tempo de serviço então
adquirido na vigência da norma anterior:
souza -- CPF:
Tempo de serviço/ contribuição é disciplinado pela lei vigente à época em que efetivamente
Marceli souza
A vedação dada pelo art. 201, §14, CF c/c art. 25, EC 103, aplica-se, portanto, da Emenda 103 para
frente. Assim, as normas até então vigentes, que tratavam de hipóteses de consideração de tempo de serviço
como tempo de contribuição para efeito de aposentadoria, devem ser ainda aplicadas. Elas têm
ultratividade, pois, mesmo após a Emenda 103, poderão ser consideradas para períodos anteriores a essa
emenda constitucional.
Por isso é importante ter conhecimento de tais normas. As hipóteses até então descritas na legislação
estavam previstas no art. 55, da Lei de Benefícios e art. 60, do Decreto 3.048/1999. O art. 55, da Lei de
Benefícios também trata de hipóteses de tempo de serviço, mas os seis incisos listados tratam, em geral, de
períodos nos quais haveria contribuição, com exceção dos incisos I, II e IV, senão vejamos:
28Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 22741-22744). Forense.
Edição do Kindle.
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
segurados de que trata o art. 11 desta Lei, mesmo que anterior à perda da qualidade de
segurado:
I - o tempo de serviço militar, inclusive o voluntário, e o previsto no § 1º do art. 143 da
Constituição Federal, ainda que anterior à filiação ao Regime Geral de Previdência Social,
desde que não tenha sido contado para inatividade remunerada nas Forças Armadas ou
aposentadoria no serviço público;
II - o tempo intercalado em que esteve em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por
invalidez;
(...)
IV - o tempo de serviço referente ao exercício de mandato eletivo federal, estadual ou
municipal, desde que não tenha sido contado para efeito de aposentadoria por outro
regime de previdência social. (grifos nossos)
O inciso I trata, em verdade, de hipótese de contagem recíproca. Embora não estivesse muito claro
nos referidos incisos, com a Emenda 103 não restam dúvidas de que em havendo consideração de tempo de
serviço militar no RGPS, deverá haver a compensação financeira entre os respectivos regimes, conforme
disposto no art. 201, § 9º-A:
§ 9º-A. O tempo de serviço militar exercido nas atividades de que tratam os arts. 42, 142 e
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O inciso IV também se refere, na realidade, à contatem recíproca, mas deve ser lembrado que a
Emenda 103 vedou a adesão e a criação aos regimes próprios que foram criados anteriormente para titulares
CPF: 073.496.444-77
de mandato eletivo, conforme art. 14, da Emenda29. Ao detentor de mandato eletivo, a partir da Emenda
103, portanto, deve haver a filiação obrigatória ao RGPS, caso ele não seja servidor público filiado a regime
próprio30.
Quanto ao inciso II, ele permanece sendo computado como tempo de contribuição, conforme
souza -- CPF:
previsão mantida pelo art. 19-C, § 1º, do RPS, na redação dada pelo Decreto n.º 10.410/202020:
Marceli souza
Quanto ao art. 60, do Decreto n.º 3.048/1999, o Decreto n.º 10.410/2020 o revogou completamente,
mas, friso: ele terá vida normativa pela ultratividade que lhe foi dada pelo art. 25, caput, da EC 103. O art.
60, do Decreto n.º 3.048/1999, existia no contexto do art. 4º, da EC 20/1998 31, que previa uma lei a ser
editada para regular a extinção do regime normativo de tempo de serviço para o regime do tempo de
contribuição. Cabe observar que, embora aquela lei referida no art. 4º, da EC 20/1998 nunca tenha vindo,
29 Art. 14. Vedadas a adesão de novos segurados e a instituição de novos regimes dessa natureza, os atuais segurados de regime de
previdência aplicável a titulares de mandato eletivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderão, por meio
de opção expressa formalizada no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data de entrada em vigor desta Emenda
Constitucional, retirar-se dos regimes previdenciários aos quais se encontrem vinculados.
30 Deve ser feita a leitura conjunta dos artigos 38, V, e art. 40, § 13, ambos da CF/88:
Art. 40. (...) § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação
e exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social.
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as
seguintes disposições: (...) V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social, permanecerá filiado a esse regime,
no ente federativo de origem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
31 Art. 4º - Observado o disposto no art. 40, § 10, da Constituição Federal, o tempo de serviço considerado pela legislação vigente
para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado como tempo de contribuição.
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
um Decreto cuidou de abordar as situações de “tempo de serviço” que poderiam ser consideradas como
“tempo de contribuição”. O Constituinte Derivado disse lei, mas o que tínhamos era um decreto.
Nada obstante, ao tratar do tema, o Decreto n.º 3.048 praticamente não mudou a redação que se
usava antes existente no seu decreto antecessor (Decreto 2.172). Perceba o comparativo entre o que
dispunha o Decreto n.º 2.172 e o que dispunha o Decreto n.º 3.048, quando tratavam da aposentadoria por
tempo de serviço (no regime anterior) e por tempo de contribuição (no regime pós EC 20/1998):
Não havia nenhuma diferença, salvo a troca da expressão “tempo de serviço” por “tempo de
contribuição”, mantendo-se todos os elementos definidores do conceito. Ora, o que chama atenção é: como
o conceito de “tempo de contribuição”, então definido pelo art. 59, do Decreto n.º 3.048/1999 (hoje
revogado pelo Decreto n.º 10.410/2020) podia estar dissociado de qualquer termo ou expressão que vincule
o ato de contribuir? A meu ver, parecia ilógico considerar apenas e tão somente o “tempo, contado de data
a data” para definir um conceito que precisaria estar ligado ao algum elemento linguístico relacionado à
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contribuição.
Eram anomalias normativas, incoerentes com o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial que
vigiam e, por existir essa ultratividade dada pela parte final do art. 25, caput, da Emenda 103, ainda vigoram
de algum modo, para períodos anteriores a publicação dessa Emenda Constitucional. Porque, a bem da
souza -- CPF:
verdade, ainda se vive uma fase de transição no trato da gestão atuarial do sistema previdenciário do RGPS.
Marceli souza
Nesse sentido, o Decreto n.º 3.048 até se propôs a amenizar o problema, com a indicação, como referido
acima, de hipóteses de “tempo de serviço” que podem até hoje serem consideradas “tempo de
Marceli
contribuição”. Eram as hipóteses de tempo de serviço elencadas no art. 60, do Decreto n.º 3.048, o qual dizia
que até “que lei específica discipline a matéria, são contados como tempo de contribuição, entre outros (...)”.
Sugiro uma leitura atenta ao artigo. Deixo de transcrevê-lo aqui pela sua extensão, mas faço as observações
pertinentes e importantes para o seu estudo dentro da ótica de sua possível ultratividade. Várias das
hipóteses listadas no art. 60, do Decreto n.º 3.048 mencionavam – um pouco sem sentido, mas mencionavam
– a necessidade de ter havido contribuição para que o tempo de serviço seja então considerado tempo de
contribuição. Todavia, há algumas nas quais não se exigia essa prova, o que implicava considerar realmente
como tempo de contribuição a simplória constatação de tempo de serviço, independentemente de ter havido
ou não contribuição no período correspondente.
Para os períodos posteriores a Emenda 103, é o art. 19-C, do RPS, com a redação dada pelo Decreto
n.º 10.410/2020, que dá o tom normativo inflexível em relação a exigência sempre constante da contribuição,
senão vejamos (veja como agora a palavra “contribuição” aparece, e muito bem, na definição do conceito
de “tempo de contribuição”):
Art. 19-C. Considera-se tempo de contribuição o tempo correspondente aos períodos para
os quais tenha havido contribuição obrigatória ou facultativa ao RGPS, dentre outros, o
período: (Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
116
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
comprovação da quitação dos valores devidos. (Incluído pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
Marceli
Importante assinalar, ainda, que para os períodos nos quais ainda se pode considerar o tempo de
serviço contado como tempo de contribuição, não há exigência de indenização de contribuições
previdenciárias. De outro lado, na esteira da lei, o Decreto n.º 3.048/1999, já na redação dada pelo Decreto
n.º 10.410/2020, clarifica a necessidade de indenização para os casos nos quais a atividade remunerada
desempenhada, quando foi prestada, não exigia filiação obrigatória à previdência social. Vejamos o art. 122,
do Decreto n.º 3.048/1999, a respeito disso:
A contagem recíproca de tempo de serviço está prevista no art. 201, §§ 9º e 9º-A, ambos da
Constituição Federal. Essa compensação é feita nos termos das normas dispostas na Lei n.º 9.796/1999, na
Lei n.º 8.213/1991 e no Decreto n.º 3.048/1999. Trata-se de um “acerto de contas” entre os regimes, quando
117
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
houver migração de um segurado do RGPS para o serviço público e vice-versa, ou entre algum regime
previdenciário militar e aqueles regimes.
Existem três grandes regimes previdenciários principais que protegem o trabalhador, em geral, da
proteção social relativa às contingências sociais: o RGPS, os regimes próprios e os regimes previdenciários
militares. Em relação aos militares, cabe registrar as alterações promovidas pela Emenda 103. Foi incluído
por essa Emenda Constitucional o § 9-A ao art. 201, CF, que permite agora a mesma compensação entre
aqueles regimes e o regime previdenciário militar, desde que, na mesma medida, haja compensação
financeira entre os regimes. Assim, entre todos esses regimes, se houver migração, não pode o trabalhador
ter desconsiderado seu histórico contributivo anterior e, com isso, vir a ser prejudicado. Há nisso uma
simbiose entre os princípios da solidariedade, da contributividade e da proteção social da pessoa humana.
Justamente em função desses valores principiológicos que o direito à contagem recíproca de tempo
de contribuição se constitui como um direito constitucional de índole fundamental, assegurado ao
trabalhador de qualquer esfera, seja ele vinculado a Administração Pública, militar ou simplesmente
trabalhador da iniciativa privada.
A lei que assegura esse direito no plano infraconstitucional é a Lei n.º 9.796/1999. Essa lei assegura
a contagem recíproca de tempo de contribuição, determinando que haja a compensação entre os regimes
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previdenciários envolvidos. Na verdade, a própria Constituição Federal já determina que haja essa
compensação, mas a lei referida desce a detalhes a sistemática pela qual a compensação financeira deverá
ser feita.
Vejamos as definições dadas pelo art. 2º, da Lei n.º 9.796/1999, a respeito do sistema de
compensação entre os regimes envolvidos:
Federal e dos Municípios só serão considerados regimes de origem quando o Regime Geral
de Previdência Social for o regime instituidor.
Marceli
Como se vê, o lado atuarial da contagem recíproca ocorre mediante a transferência financeira do
regime de origem para o regime instituidor. O regime instituidor será aquele que se responsabilizará pelo
pagamento do benefício previdenciário. A compensação financeira, contudo, somente é feita quando houver
o pagamento do benefício. Veja, por exemplo, que um servidor público que tenha vindo do Regime Geral de
Previdência Social, quando se aposentar, receberá regularmente a sua aposentadoria no regime próprio
respectivo. Este regime próprio, contudo, receberá, por compensação financeira, a proporção das
contribuições vertidas ao regime geral referente aposentadoria então recebida no regime próprio. Suponha-
se que ele tenha contribuído para o Regime Geral de Previdência Social por 15 anos e, então, foi aprovado
para o cargo de analista judiciário do Superior Tribunal de Justiça. Após atendidos todos os requisitos da
aposentadoria do servidor Público, ele poderá se aposentar. Contudo, aqueles 15 anos que foram averbados
no regime próprio e oriundos do RGPS deverão ser compensados financeiramente por esse regime.
Cabe lembrar, ainda, que há também a previsão da contagem recíproca de tempo de contribuição
no art. 94, da Lei n.º 8.213/1991. Esse artigo exclui da possibilidade de contagem recíproca aqueles segurados
que contribuíram dentro do sistema especial de cobertura previdenciária, que permite o recolhimento com
alíquotas reduzidas, mas, em contrapartida, impede o direito à aposentadoria por tempo de contribuição
(que, desde a Emenda 103, passou a se chamar aposentadoria programada). Nesse sentido, aquele
118
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
dispositivo enuncia que não “será computado como tempo de contribuição, para efeito dos benefícios
previstos em regimes próprios de previdência social, o período em que o segurado contribuinte individual ou
facultativo tiver contribuído na forma do § 2º do art. 21 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, salvo se
complementadas as contribuições na forma do § 3º do mesmo artigo”.
O art. 96, da Lei n.º 8.213/1991, ademais, estabelece algumas regras relacionadas à contagem
recíproca do tempo de contribuição, as quais, em suma, são:
a) não será admitida a contagem em dobro do tempo de contribuição;
b) não será permitida a contagem de tempo de serviço público com o de atividade privada, quando
concomitantes;
c) não será contado por um sistema o tempo de serviço utilizado para concessão de aposentadoria
pelo outro
Nos casos em que houver atividade concomitante no serviço público e na iniciativa privada existe,
em regra, uma vedação à contagem recíproca. Nessa hipótese, a CTC expedida pelo regime de origem sai
“zerada”, ou seja, sem tempo a ser contado também no regime de destino. A norma previdenciária entende
essa concomitância como uma forma de contagem fictícia de tempo. Seria como se o trabalhador estivesse
contando sempre em dobro o seu tempo de contribuição. Cabe ressaltar que, embora o período
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concomitante não possa ser considerado para fins de contagem recíproca (ou seja, em um mesmo regime de
destino), poderá ser usado em regimes distintos. Portanto, perceba: a vedação à violação ao princípio da
unicidade não proíbe que o tempo de atividade concomitante seja aproveitado em regimes distintos.
Assim, somente o período não concomitante ou que não foi usado para a concessão de
aposentadoria em um regime é que poderá ser usado em outro regime, mediante a compensação financeira,
o que se dá por meio da contagem recíproca de tempo de contribuição. Cabe notar a ressalva constante do
art. 130, § 12, do Decreto n.º 3.048/1999, no sentido de que ficam ressalvados os casos de acumulação de
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cargos ou empregos públicos admitidos pela Constituição. Nesse caso – de acumulação lícita de cargos -
temos a concessão de duas aposentadorias no mesmo regime próprio, a ser concedida em cada cargo.
A efetivação da contagem recíproca de tempo de contribuição ocorre por meio da emissão da
Certidão de Tempo de Contribuição - CTC, a qual pode ser solicitada junto ao INSS, com base no art. 125 e
souza -- CPF:
seguintes do Decreto n.º 3.048/1999. Desde a EC 20/1998, e sobretudo, após e Emenda 103, somente os
Marceli souza
períodos nos quais há efetiva contribuição é que podem ser considerados na emissão da CTC. Pode haver
expedição de certidão de tempo de contribuição em períodos fracionados, ou seja, apenas algum intervalo
Marceli
de tempo no qual houve prestação de trabalho na iniciativa privada. Isso está previsto no § 10, do art. 130,
do RPS.
5. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO
119
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
I - dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro;
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes
sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas
alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo
contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência
Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (grifos nossos).
Até a EC n.º 20/1998, a contribuição previdenciária patronal e demais contribuições sociais somente
poderiam incidir sobre a “folha de salários”. Somente com a EC n.º 20/1998 é que se incluiu a expressão
“demais rendimentos do trabalho”. Somente, também, com a EC n.º 20/1998 e, posteriormente, com a Lei
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n.º 9.876/1999, que promoveu alterações na Lei n.º 8.212/1991, é que os “autônomos” e
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há quatro tipos de conceituação legal do salário de contribuição, conforme o art. 28, da Lei n.º 8.212/1991,
a saber:
qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua
forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os
Marceli
120
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
RMI
SALÁRIO DE SALÁRIO DE
CONTRIBUIÇÃO BENEFÍCIO (renda mensal
inicial)
O salário de contribuição servirá para, ao longo do tempo, formar o PBC – Período Básico de Cálculo
do segurado, ou seja, servirá para propiciar a checagem do quantitativo de remuneração e ganhos habituais
CPF: 073.496.444-77
auferidos a qualquer título dentro do período de vida no qual houve trabalho. Nesse intervalo de tempo –
PBC – haverá a contabilização dos valores auferidos pelo trabalho – remuneração e ganhos habituais - para
efeito de apuração de médica aritmética dos correspondentes números encontrados e, com isso, a fixação
do salário de benefício do segurado.
souza -- CPF:
O salário de contribuição, desse ponto de vista, portanto, é tudo que se paga ao trabalhador pelo
fruto de seu trabalho, excluindo-se, com isso, as verbas de natureza indenizatória. Note que, nesse segundo
Marceli souza
aspecto, nessa visão secundária do salário de contribuição, – afeta, pois, ao regime normativo da concessão
Marceli
de benefícios da previdência social – o salário de contribuição também funciona como base de cálculo, mas
não para nos referirmos mais à incidência de contribuições previdenciárias e, sim, para a formação do
período básico de cálculo e, consequentemente, do salário de benefício. É a base de cálculo para se extrair
o salário de benefício.
O art. 22, I, da Lei n.º 8.212/1991, tanto na redação dada pela Lei n.º 9.528/1997 - anterior, portanto,
a EC n.º 20/1998 – quanto pela Lei n.º 13.189/1915, indica como base de cálculo da contribuição
previdenciária a cargo da empresa o “total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer
título”, conforme disposto abaixo:
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto
no art. 23, é de:
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer
título, durante o mês, aos segurados empregados que lhe prestem serviços, destinados a
retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial,
quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador
121
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo
coletivo de trabalho ou sentença normativa. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97)
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer
título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem
serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as
gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição
do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de
convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa.
De outro lado, o art. 28, I, II e III, da Lei n.º 8.212/1991, indica invariavelmente o total das
remunerações recebidas pelo trabalhador segurado da previdência, seja ele empregado, trabalhador avulso,
empregado doméstico ou contribuinte individual.
máximo a que se refere o § 5o; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999).
O segurado facultativo não é mencionado por conta de seu salário de contribuição ser simplesmente
o que ele declarar, conforme art. 28, IV, da Lei de Custeio. Da mesma forma, não é mencionado o segurado
souza -- CPF:
especial, uma vez que seu salário de contribuição será o resultado da comercialização de sua produção.
Quanto ao supratranscrito art. 195, I, “a”, da CF/88, indicava, antes da EC 20/1998, como base de
Marceli souza
cálculo das contribuições previdenciárias a “folha de salários”. Após a referida Emenda, o Constituinte
Marceli
Derivado ampliou a expressão da base de cálculo para abarcar a “folha de salários e demais rendimentos
pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício”.
Dessa forma, o primeiro ponto a ser tratado quanto à definição de quais parcelas entram no conceito
de salário de contribuição, para que consideramos a incidência válida das respectivas contribuições
previdenciárias, é que a norma constitucional e, bem assim, a norma legal, vão além do simples conceito de
“salário”. O conceito de “folha de salários e demais rendimentos do trabalho” se identifica com a definição
do gênero “remuneração”, não se limitando unicamente à espécie “salário”. Além disso, a expressão “folha
de salários”, mesmo antes de ser emendada por sua segunda parte (“demais rendimentos do trabalho”),
prevista no art. 195, I, “a”, CF/88, é fixada normativamente ao disposto no art. 201, §11, também da CF/88,
que assim diz:
122
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Com efeito, qualquer verba remuneratória, bem como qualquer verba, ademais, paga com caráter
de habitualidade, integrará o salário de contribuição para fins de incidência de contribuição previdenciária.
Assim, é de suma importância perceber que o conceito de “folha de salários” previsto na norma
constitucional é mais amplo do que o disposto na conceituação de salário pela legislação trabalhista (espécie
do gênero remuneração).
O que seria parcela “remuneratória” e a parcela “indenizatória”? Na literalidade da lei, A norma
previdenciária, de antemão, indica quais são as espécies que integram o salário de contribuição e quais são
as verbas que estariam fora, buscando-se, com isso, a indicação expressa sobre o que é remuneratório e o
que é indenizatório. O detalhamento é feito pela Lei n.º 8.212/1991 e pelo Decreto n.º 3.048/1999. Em
síntese, são consideradas como não integrantes do salário de contribuição as seguintes:
1. benefícios previdenciários (salvo o salário-maternidade);
2. ajuda de custo e o adicional mensal recebidos pelo aeronauta;
3. parcela in natura recebida de acordo com programa de alimentação aprovado pelo Ministério do
Trabalho e Emprego;
4. férias indenizadas;
5. terço de férias indenizadas;
6. férias em dobro, conforme o art. 137 da CLT;
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
28. valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio da empresa ou
com ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos
ortopédicos, despesas médico-hospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a
totalidade dos empregados e dirigentes da empresa;
29. valor correspondente a vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos ao empregado
e utilizados no local do trabalho para prestação dos respectivos serviços;
30. ressarcimento de despesas pelo uso de veículo do empregado, quando devidamente
comprovadas;
31. valor relativo a plano educacional que vise à educação básica, nos termos do art. 21 da Lei n.º
9.394, de 1996, e a cursos de capacitação e qualificação profissionais vinculados às atividades
desenvolvidas pela empresa, desde que não seja utilizado em substituição de parcela salarial e
que todos os empregados e dirigentes tenham acesso ao mesmo;
32. valores recebidos em decorrência da cessão de direitos autorais;
33. valor da multa paga ao empregado em decorrência da mora no pagamento das parcelas
constantes do instrumento de rescisão do contrato de trabalho, conforme previsto no § 8º do art.
477 da Consolidação das Leis do Trabalho.
34. reembolso creche pago em conformidade com a legislação trabalhista, observado o limite máximo
de seis anos de idade da criança, quando devidamente comprovadas as despesas; reembolso
babá, limitado ao menor salário-de-contribuição mensal e condicionado à comprovação do
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Além da lista acima, acrescenta-se, ainda, outras verbas que foram apreciadas diretamente pelos
Tribunais, ora por não estarem presentes no rol de verbas acima, ora por estarem, mas que sofreram
questionamento sobre à validade ou não da respectiva incidência da contribuição previdenciária. Vejamos:
souza -- CPF:
regular. Para o adicional de férias gozadas, foi a jurisprudência que entendeu pela não inclusão da parcela
respectiva no salário de contribuição, conforme decido pelo STF em repercussão geral, no julgamento do RE
Marceli
593.068 (Tema 163). Já havia abordado esse julgado quando tratei da análise sobre a questão da
retributividade como critério de inclusão no salário de contribuição.
b) Serviços Extraordinários (Horas Extras);
c) Adicional Noturno;
d) Adicional De Insalubridade.
Com relação às verbas acima, elas também não integram o salário de contribuição, conforme o
julgado. Cabe chamar à atenção para o fato de que o reconhecimento da não incidência da contribuição
previdenciária nos casos acima se refere ao regime próprio de previdência. Relativamente ao RGPS, o
Supremo, no Tema 908, já afirmou a inexistência de repercussão geral no exame de questão envolvendo
indagação sobre a incidência ou não de contribuição previdenciária (tal como vimos nas linhas anteriores, no
sentido de que não há ofensa direta à Constituição nesses casos) no pagamento de: adicional de férias, aviso
prévio indenizado; 13º salário proporcional; auxílio-doença; horas extras.
Acerca do salário-maternidade, o Supremo Tribunal Federal afastou a incidência da contribuição
previdenciária no julgamento do Tema 72 (RE n.º 576.967). Assim, atualmente, não incide contribuição
previdenciária sobre verbas pagas a título de salário-maternidade.
Há ainda alguns casos peculiares julgados pelo STJ, sintetizados abaixo:
124
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
4. comissão paga pelo corretor de seguros: incide contribuição previdenciária, conforme a Súmula
458, do STJ: “A contribuição previdenciária incide sobre a comissão paga ao corretor de seguros”
(Súmula 458, Primeira Seção, julgado em 25/08/2010, DJe 08/09/2010).
Vejamos uma tabela que resume todas as regras (legais e jurisprudenciais) sobre a incidência ou não
de contribuição previdenciária sobre cada rubrica paga aos trabalhadores.
ÓRGÃO
CPF: 073.496.444-77
CONTRIB JULGADOR /
VERBA
PREVIDENCIÁRIA PREVISÃO
LEGAL
FÉRIAS GOZADAS DO TRABALHADOR EMPREGADO Incide STJ
souza -- CPF:
125
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
OUTUBRO DE 1988, DO EMPREGADO NÃO OPTANTE PELO Não incide (art. 28, § 9º, “e”,
FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO-FGTS item “2”)
INDENIZAÇÃO PREVISTA NO ART. 479, CLT (nos contratos a
Lei n.º 8.212/91
termo, havendo despedida sem justa causa, paga-se
Não incide (art. 28, § 9º, “e”,
indenização da metade da remuneração a que teria direito até
item “3”)
o termo do contrato)
INDENIZAÇÃO PAGA AO SAFRISTA, nos termos do art. 14, da
Lei n.º 8.212/91
Lei n.º 5.889/73. (ao fim do contrato de safra, a empresa paga
Não incide (art. 28, § 9º, “e”,
1/12 do salário mensal - ou fração superior a 14 dias -
CPF: 073.496.444-77
item “4”)
multiplicado pelos meses de serviço prestado)
VERBAS PAGAS A TÍTULO DE INCENTIVO À DEMISSÃO Lei n.º 8.212/91
Não incide (art. 28, § 9º, “e”,
item “5”)
ABONO ASSIDUIDADE CONVERTIDO EM PECÚNIA Não incide STJ
souza -- CPF:
126
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Não incide
DIREITOS AUTORAIS (art. 28, § 9º, “v”)
O VALOR DA MULTA PREVISTA NO § 8º DO ART. 477 DA CLT
Marceli souza
Não incide
dispensa, bem como a comunique aos órgãos competentes, (art. 28, § 9º, “x”)
bem como deixe de pagar as verbas rescisórias em até 10 dias
a partir do término do contrato)
VALOR CORRESPONDENTE AO VALE-CULTURA Lei n.º 8.212/91
Não incide
(art. 28, § 9º, “y”)
PRÊMIOS E OS ABONOS Lei n.º 8.212/91
Não incide
(art. 28, § 9º, “z”)
BOLSA-ATLETA (desde que paga de acordo com a Lei n.º Lei n.º 8.212/91
Não incide
10.891/04) (art. 28, § 9º, “aa”)
TERÇO DE FÉRIAS GOZADAS Não incide STF
SERVIÇOS EXTRAORDINÁRIOS (HORAS EXTRAS); Incide STF
ADICIONAL NOTURNO; Não incide STF
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE Não incide STF
O salário de contribuição previsto para o Regime Geral da previdência social indica um limite mínimo
e um limite máximo sobre o qual deve se formar a base de cálculo para a contribuição previdenciária e, de
outro lado, para o cálculo das prestações previdenciárias.
127
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O limite mínimo confunde-se, inicialmente, com o salário mínimo fixado nacionalmente, nos termos
do art. 7º, da Constituição Federal de 1988. Cabe frisar, entretanto, que é possível que haja, para além do
salário mínimo fixado nacionalmente, alguma convenção normativa de determinada categoria profissional,
ou até mesmo norma legal relacionada a determinada classe de trabalhadores, que fixe um piso salarial.
Assim, havendo o piso salarial, seja ele derivado da lei ou derivado de um acordo coletivo de uma
determinada categoria, será ele o limite mínimo do salário de contribuição da previdência social.
Os limites atualmente vigentes estão previstos na Portaria SEPRT/Me Nº 477, de 12 de janeiro de
2021, expedida pelo Ministério da Economia, Secretaria Especial da Previdência e Trabalho. Por esse ato
normativo, o teto dos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social é de R$ 6.433,57. Já o piso é
de R$ 1.100,00, que é o mesmo valor do salário-mínimo vigente para o ano de 2021.
Dentro desses limites, a partir da EC n.º 103/2019, passou a se considerar a incidência progressiva
das alíquotas aplicáveis no cálculo das contribuições previdenciárias devidas. Assim, o salário de contribuição
do segurado foi divido em FAIXAS. Até a EC 103/2019 a alteração da alíquota se dava apenas em razão do
valor total da remuneração, sendo que, daquela Emenda em diante, a incidência passou a ser progressiva,
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ou seja, por faixas salariais, assim como ocorre no imposto sobre a renda e demais rendimentos da pessoa
física. Cada faixa do salário de contribuição, previamente definida pela norma, será objeto de uma
determinada alíquota referente à incidência da contribuição previdenciária.
Com isso, teremos o conceito de alíquota por faixa e alíquota efetiva, sendo essa a média das
alíquotas incidentes em todas as faixas. É como se em cada faixa houvesse um “subteto” e um “subpiso”, de
modo que entre esses marcos incide a respectiva alíquota, conforme previsão dada pelo art. 28, da EC
CPF: 073.496.444-77
103/2019:
Art. 28. Até que lei altere as alíquotas da contribuição de que trata a Lei nº 8.212, de 24 de
julho de 1991, devidas pelo segurado empregado, inclusive o doméstico, e pelo trabalhador
avulso, estas serão de:
souza -- CPF:
I - até 1 (um) salário-mínimo, 7,5% (sete inteiros e cinco décimos por cento);
II - acima de 1 (um) salário-mínimo até R$ 2.000,00 (dois mil reais), 9% (nove por cento);
Marceli souza
III - de R$ 2.000,01 (dois mil reais e um centavo) até R$ 3.000,00 (três mil reais), 12% (doze
por cento); e
Marceli
IV - de R$ 3.000,01 (três mil reais e um centavo) até o limite do salário de contribuição, 14%
(quatorze por cento).
§ 1º As alíquotas previstas no caput serão aplicadas de forma progressiva sobre o salário de
contribuição do segurado, incidindo cada alíquota sobre a faixa de valores compreendida
nos respectivos limites.
§ 2º Os valores previstos no caput serão reajustados, a partir da data de entrada em vigor
desta Emenda Constitucional, na mesma data e com o mesmo índice em que se der o
reajuste dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, ressalvados aqueles
vinculados ao salário-mínimo, aos quais se aplica a legislação específica (grifos nossos).
128
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
DO TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
Art. 27. Somente será computada como tempo de contribuição a competência cujo
recolhimento seja igual ou superior à contribuição mínima mensal exigida para sua
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categoria.
(...)
Art. 28. A competência cujo recolhimento seja inferior à contribuição mínima mensal não
será computada para nenhum fim, ou seja, para o cálculo do valor do benefício, para a
carência, para a manutenção da qualidade de segurado, além do tempo de contribuição.
(...)
Art. 30. Para os períodos posteriores à EC nº 103, de 2019, as competências em que o
salário de contribuição mensal tenha sido igual ou superior ao limite mínimo serão
computadas integralmente como tempo de contribuição, independentemente do número
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Os fundamentos contra a novel norma do art. 195, § 14, CF/88, em síntese, circunscrevem-se a
souza -- CPF:
fundamentos ligados ao princípio da repercussão das contribuições nos proventos, conforme o que a
própria Constituição diz em outro dispositivo, qual seja o art. 201, § 11. O Constituinte afirma que se houver
Marceli souza
consideração dos ganhos habituais do empregado para efeito de contribuição previdenciária, também o será
Marceli
Art. 29. Até que entre em vigor lei que disponha sobre o § 14 do art. 195 da Constituição
Federal, o segurado que, no somatório de remunerações auferidas no período de 1 (um)
mês, receber remuneração inferior ao limite mínimo mensal do salário de contribuição
poderá:
I - complementar a sua contribuição, de forma a alcançar o limite mínimo exigido;
II - utilizar o valor da contribuição que exceder o limite mínimo de contribuição de uma
competência em outra; ou
III - agrupar contribuições inferiores ao limite mínimo de diferentes competências, para
aproveitamento em contribuições mínimas mensais.
Parágrafo único. Os ajustes de complementação ou agrupamento de contribuições
previstos nos incisos I, II e III do caput somente poderão ser feitos ao longo do mesmo ano
civil.
129
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Assim, o segurado terá as seguintes opções, quando perceber que recolheu contribuição inferior ao
mínimo em uma competência, a fim de evitar que isso não valha nada para efeitos previdenciários no RGPS:
1) Complementar o valor recolhido, utilizando, agora, uma base de cálculo correspondente ao
salário-mínimo, que é o piso do RGPS;
2) Agrupar o valor recolhido com outros valores recolhidos em outras competências, a fim de que a
soma das correspondentes competências resulte no patamar mínimo de contribuição exigida para fins de
efeitos previdenciários;
3) Utilizar um valor recolhido acima do piso em uma outra competência, cujo diferença a maior seja
suficiente para cobrir o déficit em uma competência recolhida abaixo do mínimo.
Contudo, de acordo com o parágrafo único, do art. 29, retrotranscrito, somente poderá haver ajustes
de complementação, agrupamento ou utilização de contribuições previstos nos incisos I, II e III, se feitos ao
longo do mesmo ano civil.
Calha lembrar, também, que antes mesmo da edição da Medida Provisória 808/2017 já existia em
nosso ordenamento jurídico o artigo 5º, da Lei n.º 10.666/2003, o qual, desde 2003, já dava o mesmo
tratamento ao contribuinte individual que presta serviços a pessoa jurídica, sendo que, nesses casos, esta
pessoa jurídica, tomadora do serviço, é a responsável por promover as retenções da contribuição e recolhê-
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6. SALÁRIO DE BENEFÍCIO
O salário de benefício é obtido pela média dos salários de contribuição acima do mínimo, ou melhor,
a média de remunerações/pagamentos sobre as quais incide a contribuição previdenciária. Conforme o § 2º,
souza -- CPF:
do art. 29, da Lei n.º 8.213/1991, o “valor do salário-de-benefício não será inferior ao de um salário-mínimo,
nem superior ao do limite máximo do salário-de-contribuição na data de início do benefício”.
Marceli souza
A identificação das rubricas remuneratórias permite a delimitação da base de cálculo para a formação
Marceli
do salário de benefício, que se forma a partir da média mensal daquelas rubricas. Na etapa final desta
engrenagem, então, dentro do salário de benefício, conforme as regras de cada benefício previdenciário,
calcula-se a renda mensal inicial da prestação previdenciária. Para cada benefício previdenciário, quando
fizermos o estudo em espécie das prestações do RGPS, será possível perceber que o coeficiente do SB (salário
de benefício), será, geralmente, de 60%, nos termos das novas regras advindas pela EC 103.
Após a EC 20, sobreveio a Lei n.º 9.876/1999, que implementou a sistemática de cálculo do salário
de benefício (que vigia até a EC 103), cujo cálculo passou a ser feito por meio da média aritmética simples
dos maiores salários de contribuição, correspondentes a 80% de todo o período contributivo. A regra, como
se percebe, permitia o descarte dos 20% mais baixos salários de contribuição, tratando-se de regra, em geral,
benéfica, pois esse descarte resulta no aumento da média dentro do PBC do segurado. Com a Emenda 103,
tem-se nova sistemática de cálculo do salário de benefício, que agora seguirá as regras previstas em seu art.
26, que assim dispõe:
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
130
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Agora, para os fatos geradores ocorridos após 13/11/2019, data da publicação da Emenda 103,
deverá o salário de benefício ser calculado com base na média dos salários de contribuição correspondentes
a 100% do período contributivo desde julho de 1994. Deve-se perquirir a existência ou não de direito
adquirido à aplicação da sistemática de cálculo do regime anterior a EC 103/19. Ou seja, para os fatos
geradores ocorridos antes de 13/11/2019, deverá ser aplicável o disposto no art. 29, II, da Lei n.º 8.213/1991.
Quanto à possibilidade de descarte de competências, a EC 103 ainda prevê tal instrumento do segurado, mas
com algumas mudanças. A previsão do descarte está na letra do § 6º, do art. 26, da referida Emenda, que
assim dispõe:
Federal.
Assim, nada impede que o segurado possa descartar da média de suas contribuições aquelas que
resultem em menor valor do benefício, desde que mantido o tempo mínimo de contribuições exigido para a
concessão do benefício. Importante destacar que a regulamentação desse tema pelo INSS foi feita por meio
da Portaria n.º 450/2020 (alterada pela Portaria n.º 528/2020), tendo chamado à atenção o fato de que na
norma infralegal foi definido, a contrario senso, que não se aplica a regra do descarte aos benefícios
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atingir o período adicional exigido para as aposentadorias por tempo de contribuição, bem
como para averbação em outro regime previdenciário ou para a obtenção dos proventos
de inatividade de que tratam os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, por força do § 6º do
art. 26 da EC nº 103, de 2019 (grifos nossos).
7. SEGURADOS E DEPENDENTES
A conceituação e espécies dos segurados já foram estudados. Agora, busquemos entender conceito
de dependentes. Os dependentes do segurado estão previstos no art. 16, da Lei n.º 8.213/1991, in verbis:
131
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Como se vê, pela leitura do dispositivo, existem três categorias ou classes de dependentes, arrolados,
respectivamente, nos incisos I, II e III, do art. 16, da Lei n.º 8.213/1991. Cabe lembrar, contudo, que essas
classes não convivem ativamente, digamos, perante o INSS. Em outras palavras, não é possível que
dependentes da primeira e da segunda classe estejam, ao mesmo tempo, recebendo uma pensão por morte.
É que a existência de dependente de qualquer das classes do art. 16, da Lei n.º 8.213/1991 exclui do direito
às prestações os das classes seguintes.
Além disso, a Emenda 103/19 determinou que não é mais possível a reversão de cotas. Isso significa
dizer que, quando um dependente, por algum motivo previsto na lei, não tiver mais direito a uma pensão
por morte, sua cota será cessada e ela não poderá ser revertida para outro dependente de qualquer classe.
Então, em síntese: a cota do dependente acaba sendo apenas dele, ou seja, se houver um
dependente apenas da 1ª classe – por exemplo, um filho menor de 21 anos não emancipado – somente ele
vai poder se habilitar ao recebimento de uma pensão por morte, mesmo que existam outros possíveis
dependentes de 2ª e 3ª classe. O filho menor de 21 anos, portanto, jamais concorrerá ao recebimento da
pensão com os pais do segurado instituidor ou, ainda, com o irmão deste, uma vez que eles são,
respectivamente, dependentes de 2ª e 3ª classe.
Além disso, imagine o exemplo de dois dependentes de classe 1, por exemplo, dois filhos menores
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de 21 anos ainda não emancipados. Quando um deles atingir a chamada “maioridade previdenciária”, isto é,
21 anos de idade, a sua cota de pensão (metade) será cessada imediatamente e, conforme a novel disposição
dada pela Emenda 103, sua cota não poderá ser revertida para o outro dependente que já estava habilitado
também (o outro filho menor de 21 anos). O art. 21, §3º, da citada emenda constitucional, assinala que as
“cotas por dependente cessarão com a perda dessa qualidade e não serão reversíveis aos demais
dependentes”. Contudo, na medida em que deve ser sempre aplicada a lei vigente na data do óbito do
instituidor – e não a lei vigente no momento da cessação da cota – a proibição de reversão de cota somente
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valerá para as pensões cujo óbito gerador do benefício tenha ocorrido antes de 13/11/2019, data da
publicação da Emenda 103/19.
Se o óbito for até aquela data, de outro lado, incide o disposto no art. 77, § 1º, da Lei n.º 8.213/1991,
de modo que reverterá em favor dos demais a parte daquele cujo direito à pensão cessar. Enquanto não
souza -- CPF:
houver cessação e, no caso acima, reversão de cotas, a pensão por morte, havendo mais de um pensionista,
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I. Cônjuge
II. Companheiro
III. Filho
a. filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos
b. Filho Inválido
c. Filho Com Deficiência
i. Deficiência Intelectual
ii. Deficiência Mental
iii. Deficiência Grave
Essa relação de dependentes da classe foi consolidada normativamente pela Lei n.º 13.146/2015. A
primeira coisa que se deve observar com relação essa primeira classe de dependentes, é que a dependência
econômica nesses casos é de presunção absoluta, embora o art. 16, § 4º, da Lei n.º 8.213/1991 não mencione
expressamente isso. Segundo o referido dispositivo, a “dependência econômica das pessoas indicadas no
inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada”. Somente não haverá presunção absoluta de
dependência econômica em relação ao enteado e ao menor tutelado, os quais são dependentes de classe I
por equiparação, na forma do § 2º, do art. 16, da Lei n.º 8.213/1991. De acordo com esse dispositivo, o
132
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada
a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento.
Quanto à caracterização da relação de companheirismo, os requisitos configuradores do instituto são
os previstos no art. 226, § 3º, da Constituição Federal, ou seja, o companheiro ou companheira que
pretendem se habilitar na pensão por morte devem demonstrar a existência de união estável, com
demonstração de seus elementos, especialmente a noção de convivência pública e notória com o objetivo
de constituir família. Desde a edição da Medida Provisória 871/19, convertida na Lei n.º 13.846/2019, essa
demonstração exige início de prova material, não sendo possível a comprovação por prova unicamente
testemunhal, salvo na ocorrência de força maior ou caso fortuito. Além disso, o início de prova material deve
se referir ao período não superior a 24 meses anteriores à data do óbito.
Note que isso não se trata de carência, mas sim apenas de um requisito temporal da comprovação
da união estável, o que na prática equivale a uma tarifação de prova para a demonstração do cumprimento
dos requisitos configuradores da relação de dependência. Paralelamente a essa exigência probatória, a
duração da união estável também é fator importante para a configuração temporal da relação jurídica de
dependente. É que, se a união estável for menor do que 2 anos, a duração da pensão por morte será de
apenas 4 meses, na forma do art. 16, § 6º, c/c art. 77, §2º, V, alíneas “b” e “c”, ambos da Lei n.º 8.213/1991.
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Vejamos os dispositivos:
Art. 77.
souza -- CPF:
(...)
§ 2º O direito à percepção da cota individual cessará:
Marceli souza
(...)
V - para cônjuge ou companheiro
Marceli
(...)
b) em 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha vertido 18 (dezoito)
contribuições mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em
menos de 2 (dois) anos antes do óbito do segurado;
c) transcorridos os seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade do beneficiário
na data de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois de vertidas 18 (dezoito)
contribuições mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamento ou da união
estável:
1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade;
2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de idade;
3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos de idade;
4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade;
5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e três) anos de idade;
6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade.
VI - pela perda do direito, na forma do § 1º do art. 74 desta Lei.
Em suma:
a) se a união estável for igual ou maior do que 2 anos, a duração das prestações recebidas pelo
cônjuge sobrevivente ou companheiro(a) sobrevivente variará conforme a idade desses, desde
que, além do tempo da união estável, o segurado instituidor já detivesse, também, igual ou mais
do que 18 contribuições vertidas para o INSS (seguidas ou não).
133
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
b) Se a união estável for menor do que 2 anos, ainda que o segurado instituidor detivesse igual ou
mais do que 18 contribuições, a pensão não passará de 4 meses;
c) Se a união estável for maior do que 2 anos, mas o segurado instituidor não detivesse à época do
óbito igual ou mais do que 18 contribuições, a pensão não poderá ultrapassar 4 meses.
Cabe chamar à atenção, ainda, para a Súmula 336, do Superior Tribunal de Justiça, que assinala que
a mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte
do ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente. Isso quer dizer que o cônjuge que,
embora estivesse separado do segurado instituidor ao tempo do óbito, comprovar que dependia
economicamente dele, poderá ter direito à pensão por morte junto ao INSS. E cabe anotar que o
entendimento fixado na Súmula 336, do Superior Tribunal de Justiça, não se aplica apenas às situações de
separação judicial, mas também se estende aos casos de divórcio.
Quanto aos filhos de qualquer condição, menor de 21 anos, sem nenhum grau de invalidez ou
deficiência mental, intelectual ou grave, somente será considerado dependente até os 21 anos de idade ou
até eventual causa de emancipação. Argumentava-se muito, outrora, que, no trilho do entendimento
aplicável ao Direito de Família, a manutenção da qualidade de dependente do filho deveria se estender até
os 25 anos de idade. Mas a jurisprudência se solidificou no sentido de que isso não é possível na seara
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previdenciária, já que a Lei n.º 8.213/1991 deixa claro que o dependente é o filho menor de 21 anos, não
podendo haver alargamento dessa hipótese, notadamente por conta do princípio da prévia fonte de custeio
e, bem assim, do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema.
Acerca da condição de invalidez do filho, o art. 17, do Decreto n.º 3.048/1999, assevera que para se
enquadrar como dependente do segurado era indispensável que a invalidez do filho tenha ocorrido antes
dos 21 anos de idade ou, caso tenham ocorrido as hipóteses da lei civil, antes das causas de emancipação.
Vejamos:
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(...) 2. Consoante a jurisprudência do STJ, é irrelevante o fato de a invalidez ter sido após a
maioridade do postulante, uma vez que, nos termos do artigo 16, III c/c o parágrafo 4º, da
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
A Turma Nacional de Uniformização reverbera esse entendimento, desde que a invalidez tenha
ocorrido antes do óbito:
Assim, não importa se a invalidez ocorreu após a maioridade ou emancipação, de modo que o
surgimento dela antes do óbito é causa suficiente da constituição da relação de dependência, para fins de
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enquadramento do filho maior no rol do art. 16, I, da Lei n.º 8.213/1991, conquanto com a ressalva de que
a dependência econômica nesses casos deverá ser devidamente comprovada.
Quanto ao menor sob guarda, ele já foi expressamente considerado dependente, mas não é mais.
Era considerado dependente até a edição da medida provisória n.º 1.523/1996, a qual foi sucessivamente
reeditada e posteriormente revogada pela MP n.º 1.596/1997 (com a qual guardava muitas semelhanças),
para em seguida ser convertida na Lei n.º 9.528/1997, alterando definitivamente o § 2º, do art. 16, da Lei de
Benefícios e excluindo o menor sob guarda da proteção previdenciária do RGPS.
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Contudo, importante assinalar que o Supremo Tribunal Federal julgou as ADIs 4878 e 5083, dando
interpretação conforme a Constituição Federal ao § 2º do art. 16 da Lei n.º 8.213/1991, para não afastar o
menor sob guarda da cobertura previdenciária. Vale lembrar que se trata de decisão proferida em ação de
controle concentrado de constitucionalidade, logo, com eficácia erga omnes e vinculante em relação aos
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demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
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municipal.
Na segunda classe prevista no inciso II, do art. 16 da Lei n.º 8.213/1991, tem-se como dependentes
Marceli
do segurado apenas os pais. Os pais serão os dependentes chamados à habilitação dos benefícios de pensão
por morte ou auxílio-reclusão, na falta dos dependentes indicados na primeira classe do referido artigo. A
grande questão em relação aos dependentes da segunda classe é que eles precisam demonstrar a
dependência econômica em relação ao segurado instituidor.
Não se trata, muito importante frisar, de colaboração eventual ou ajuda pontual sobre alguma
contingência financeira dos pais, mas sim de uma simbiose orçamentária que define uma indispensável
participação orçamentária, seja em dinheiro, seja em pagamento in natura de determinadas necessidades
básicas da vida dos daqueles. Somente assim haverá dependência econômica. Deve haver substancialidade
e a habitualidade da participação financeira do segurado instituidor em relação os pais. No âmbito da própria
Administração Pública, tem-se o Enunciado 13, do Conselho de Recursos da Previdência Social, cujo teor
aponta que a dependência econômica pode ser até parcial, mas precisa representar um auxílio "substancial,
permanente e necessário, cuja falta acarretaria desequilíbrio dos meios de subsistência do dependente"32.
Assim como apontados em linha supra, a respeito da comprovação da união estável, as recentes
alterações legais passaram a exigir que a comprovação da dependência econômica seja feita também por
32 Ibidem, p. 587.
135
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
início de prova material, não se admitindo prova exclusivamente testemunhal para essa finalidade. Vejamos
o dispositivo legal, incluído pela Lei n.º 13.846/2019, no art. 16, da Lei n.º 8.213/1991:
Art. 16.
(...)
§ 5º As provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova
material contemporânea dos fatos, produzido em período não superior a 24 (vinte e quatro)
meses anterior à data do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a
prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso
fortuito, conforme disposto no regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019, grifos
nossos)
Com efeito, foi abandonado o sistema de livre convencimento motivado ou da persuasão racional do
juízo em relação a essas questões. A partir das alterações acima noticiadas, passou a valer para o sistema da
prova tarifada na comprovação da união estável e da dependência econômica, implicando, a lei, maior valor
para a prova documental contemporânea aos fatos que se pretende provar.
No que se refere às espécies de dependentes da classe 3, essas são: a) o irmão, não emancipado, de
qualquer condição, menor de 21 anos; b) o irmão inválido; c) o irmão com deficiência intelectual; d) o irmão
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Aprendemos, até aqui, que no processo de filiação e inscrição há que se observar inexoravelmente o
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recolhimento das contribuições previdenciárias devidamente vertidas aos cofres do INSS. Sabe-se que não
há como manter um sistema de proteção social previdenciário, lastreado, portanto, no princípio da
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contributividade, sem que os segurados recolham, efetivamente, a suas contribuições aos cofres públicos
Marceli
previdenciários. De outro lado, o RGPS também se escora em outro princípio bastante importante, já
estudado em nosso curso. Refiro-me ao princípio da solidariedade.
O princípio da solidariedade é o que norteia o instituto do período de graça na hipótese de suspensão
abrupta do pagamento das contribuições previdenciárias.
Existem algumas hipóteses indicadas pela lei que permitem o período de graça. O gozo de um
benefício previdenciário, por exemplo, permite que o beneficiário não contribua e mesmo assim mantenha
sua qualidade de segurado. Há uma exceção, apenas, quanto ao auxílio-acidente, desde a Medida Provisória
871/19, convertida na Lei n.º 13.846/2019. Assim, quem está em gozo de auxílio-acidente, por si só, não
mantém a qualidade de segurado independentemente do recolhimento de contribuições, tal como nos
demais benefícios. Cabe perceber, ademais, que quem está no gozo de benefício conserva essa qualidade de
segurado sem limite de prazo.
Também mantém a qualidade de segurado o beneficiário de algum benefício por incapacidade, isto
é, auxílio por incapacidade temporária ou aposentadoria por incapacidade permanente. Todavia, após a
cessação desses benefícios, há, ainda, mais um tempo durante o qual se preserva a qualidade de segurado
mesmo que não haja nenhuma contribuição por parte do segurado. O prazo é de 12 meses após a cessação
daqueles benefícios.
136
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Existe, ainda, a hipótese do segurado que foi acometido por alguma doença de segregação
compulsória. Nessa situação, após cessar a segregação, a norma permite um período de graça de 12 meses
também.
Além das duas hipóteses acima, há mais uma, por fim, que também prevê um período de graça de
12 meses, referente ao segurado que estava recluso ou detido. Após o livramento do segurado detido ou
recluso, ele ganha 12 meses de período de graça, considerando-se segurado mesmo sem recolher uma única
contribuição aos cofres do RGPS.
Para o segurado facultativo, o período de graça é reduzido para apenas 6 meses após a cessação das
suas contribuições.
Também há a previsão de um período de graça de até três meses após o licenciamento referente ao
segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar.
É no art. 15, da Lei n.º 8.213/1991, bem como no art. 13, do Decreto 3.048/1999, que é possível
verificar como o legislador tratou de disciplinar o denominado período de graça. Como o próprio nome diz,
para que o segurado mantenha sua relação jurídico-previdenciária mesmo sem pagar por ela. Em outros
termos, continua sendo segurado do RGPS de graça, sem ter que recolher para isso.
Cabe registrar que, apesar de ser tido como segurado aquele que se encontra em período de graça,
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obviamente, não é possível considerar esse intervalo de tempo como tempo de contribuição ou, ainda,
carência para quaisquer benefícios da previdência social.
Os períodos de graça discriminados nos dispositivos citados acima são dirigidos, a princípio, a todos
os segurados do Regime Geral da Previdência Social. Todavia, há certas hipóteses de período de graça que
não se aplicariam, em tese, a todos os segurados. Por exemplo, há uma hipótese normativa que permite a
extensão do período de graça em mais doze meses ao segurado que se encontra em situação de desemprego
involuntário. A princípio, trata-se de regra que somente teria cabimento para o segurado empregado.
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Entretanto, é necessário destacar que a jurisprudência caminha no sentido contrário à lição doutrinária
citada. A TNU já se posicionou no sentido de que os prazos de prorrogação previstos em relação ao período
de graça do art. 15, da Lei n.º 8.213/1991, seriam extensíveis aos demais segurados obrigatórios.
Vejamos:
souza -- CPF:
Região.
De fato, os enunciados constantes dos §1º e 2º do artigo 15 da Lei n.º 8.213/1991 não
Marceli
137
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Pelo art. 15, § 1º, da Lei n.º 8.213/1991, ademais, é possível a prorrogação do período de graça por
mais 12 meses após o segurado ter contribuído por mais de 120 meses sem interrupções. A jurisprudência
da TNU assinalou que, alcançado esse quantitativo de contribuições, ocorre a incorporação definitiva daquela
vantagem, ou seja, o segurado pode usar novamente a expansão do período de graça no caso de se defrontar
com um novo período longo sem recolhimentos. Pode ele, ainda, usar mesmo após a perda de sua qualidade
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de segurado. Foi, então, firmada “a tese de que se incorpora definitivamente ao patrimônio jurídico do
segurado(a) a extensão do período de graça previsto no §1º do art. 15 da Lei nº 8.213/91 quando houver
contribuído por mais de 120 meses sem interrupções que importem a perda da qualidade de segurado(a)”,
conforme PUIL n.º 0001377-02.2014.4.03.6303/SP (extraído do Boletim n.º 28, da TNU).
Quanto à extensão do período de graça em caso de desemprego involuntário, a comprovação ocorre
por meio da demonstração de que houve o registro da demissão no órgão próprio do Ministério do Trabalho,
ocasionando o pagamento do seguro-desemprego. A jurisprudência tem admitido outras formas de
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comprovação do desemprego involuntário e não apenas por meio do pagamento do seguro desemprego.
Entretanto, já foi decidido que a simples ausência de anotação na carteira de trabalho não implica automática
comprovação de que o segurado estava desempregado. Sobre isso, aliás, a Súmula 27, da TNU sedimentou
o entendimento de que a "ausência de registro em órgão do Ministério do Trabalho não impede a
souza -- CPF:
se, em tese, dizer que sim, parcialmente, pois o art. 15, § 2º, da Lei de Benefícios, refere-se apenas e tão
somente ao segurado desempregado, permitindo-se inferir que seria aplicável apenas ao segurado
empregado e ao segurado empregado doméstico, já que para essas espécies de segurados existe não apenas
uma relação de trabalho, mas também uma relação de emprego.
A jurisprudência, contudo, vem permitindo aumentar a aplicabilidade dessa norma, expandindo-a ao
contribuinte individual. A Turma Nacional de Uniformização já decidiu nesse sentido, no PEDILEF 0506464-
21.2014.4.05.8400, cuja fundamentação reverberou a percepção de que a “legislação não excepciona o
segurado contribuinte individual do benefício de prorrogação do período de graça por mais 12 (doze) meses,
de modo que o art. 15, § 2º, da LBPS é plenamente aplicável ao caso”.
Uma questão a ser lembrada se refere à hipótese de fuga do segurado recolhido à prisão. Se isso
ocorrer, o período de graça do foragido já eventualmente usado antes do recolhimento será descontado do
novo prazo de manutenção que se abrir após a fuga. Essa norma está prevista no art. 139, da Instrução
Normativa INSS n.º 77/15:
Art. 139. No caso de fuga do recolhido à prisão, será descontado do prazo de manutenção
da qualidade de segurado a partir da data da fuga, o período de graça já usufruído
anteriormente ao recolhimento.
138
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Também é importante lembrar da regra específica que está prevista no art. 3º, da Lei n.º
10.666/2003, no sentido de que a perda da qualidade de segurado não será considerada para concessão das
aposentadorias por tempo de contribuição e especial. Na aposentadoria por idade vige a mesma regra.
A perda da qualidade segurado ocorrerá no dia seguinte à data máxima prevista para o recolhimento
da contribuição previdenciária relativa ao mês seguinte ao fim do período de graça. Isso está previsto no art.
14, do Decreto n.º 3.048/1999, que assim diz:
Art. 14. O reconhecimento da perda da qualidade de segurado no termo final dos prazos
fixados no art. 13 ocorrerá no dia seguinte ao do vencimento da contribuição do
contribuinte individual relativa ao mês imediatamente posterior ao término daqueles
prazos. (grifos nossos)
Lembrando que, conforme a Lei n.º 11.933/2009, que alterou a redação do art. 30, I, “b”, da Lei n.º
8.212/1991, é o dia 20 do mês subsequente a data limite para o pagamento de cada competência, no caso
dos segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes individuais que estejam a serviço de uma
ou mais empresas. Logo, se um segurado contribuiu por último na competência 10/2020, e não havendo
nenhuma causa de extensão do período de graça – isto é, ele conta com apenas doze meses de período de
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graça – esse período findará em 20 de dezembro de 2021. Isso porque, considerados doze meses, o prazo do
período de graça terminaria em 10/2021. Contudo, a norma permite um alargamento ao permitir que o
reconhecimento da perda da qualidade de segurado somente ocorra no dia seguinte ao do vencimento da
contribuição referente a do último mês do período de graça. Assim, se o último mês do período de graça,
como vimos, é 10/2021, temos que o mês imediatamente posterior é 11/2021, cujo vencimento é em
20/12/2021. Com isso, no dia 21/12/2021, não haveria mais qualidade de segurado.
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9. CARÊNCIA
social, nada tendo a ver com o benefício assistencial previsto na Lei n.º 8.742/1993. Para benefícios
previdenciários, analisa-se a qualidade de segurado do RGPS, bem como a carência para as prestações cuja
concessão a exige. Mas, por óbvio, isso não se aplica aos benefícios assistenciais ao idoso e ao deficiente,
cujos requisitos são outros e não exigem carência, até porque são prestações que não dependem de
contribuição alguma.
A carência é instituto típico da relação securitária oferecida pelo plano de benefícios da previdência
social. Trata-se, na prática, de um mecanismo de manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema,
pois visa ao atendimento de dois objetivos: a) prevenir que segurados ingressem no sistema já portadores
de doença incapacitante e, com poucos recolhimentos, já possam se valer das prestações; b) exigir alguma
monta de contribuição ao sistema para que haja contributividade distributiva, mantendo a higidez
orçamentária do regime geral.
Mas, há que se chamar à atenção o seguinte: a carência é a regra na concessão dos benefícios
previdenciários, todavia, existem exceções. Assim, embora para a concessão dos benefícios previdenciários
será exigida, de um modo geral, a satisfação da carência, existem situações previstas na lei previdenciária
que dispensam tal instituto. Além disso, a carência, quando exigida, nem sempre será a mesma, variando em
quantidade de meses para as prestações previstas, especialmente no que toca à natureza programada ou
não programada dessas.
139
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
O conceito de carência é intimamente ligado a tempo de contribuição, embora com esse não se
confunda. Tempo de contribuição é um requisito distinto e autônomo na análise do direito aos benefícios
previdenciários. Embora a contribuição seja critério geral para qualquer prestação previdenciária, o tempo
de contribuição tem relevância direta apenas para os benefícios previdenciários programados, isto é, para as
aposentadorias não decorrentes de incapacitação laboral. Assim, a aposentadoria programada, como
veremos, exige não apenas a carência, mas também o tempo de contribuição mínimo previsto na norma,
tempo esse que hoje é de 15 anos, para mulheres, e 20 anos para homens, conforme art. 19, caput, da
Emenda Constitucional 103/19. Já a carência para a aposentadoria programada é de 180 contribuições
mensais, ou seja, 15 anos, salvo se o segurado for filiado anterior a Lei n.º 8.213/1991, de modo que, nesse
caso, a carência será aquela exigida na tabela progressiva prevista no art. 142 dessa lei.
Vale repisar o art. 142, da Lei n.º 8.213/1991:
Art. 142. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991,
bem como para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência Social Rural,
a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial obedecerá à
seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado implementou todas as
condições necessárias à obtenção do benefício:
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Quanto ao art. 142, da Lei n.º 8.213/1991 trata-se de dispositivo aplicável para os segurados
“filiados” à Previdência Social até 24/07/1991, e não apenas aos “inscritos”, sendo essa interpretação a mais
favorável e que se coaduna mais com a proteção das legítimas expectativas de direito dos segurados
anteriores. Isso é muito importante para categorias de segurados obrigatórios que dependiam também da
inscrição e do primeiro pagamento de contribuição sem atraso para que tivessem efetiva relação jurídico-
previdenciária: os contribuintes individuais. Importante lembrar, sobre isso, que a filiação decorre da mera
atividade remunerada, enquanto que a inscrição decorre dos registros cadastrais do trabalhador junto ao
INSS.
Cabe lembrar que a figura “contribuinte individual” foi criada por meio da Lei n.º 9.876/1999, sendo
decorrente da reunião das categorias até então existentes relacionadas ao empresário, ao autônomo e, por
fim, ao equiparado a autônomo. No entanto, antes mesmo da Lei n. 9.876/1999, esses segurados já possuíam
sobre eles a exigência de recolhimentos diretos, isto é, os próprios segurados é que deveriam recolher suas
140
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
contribuições previdenciárias. Nada obstante, se esses tipos de segurado já exerciam suas respectivas
atividades autônomas antes da Lei n.º 8.213/1991, mesmo que não tenham antes dessa lei procedido à
inscrição junto aos cadastros do INSS, poderão se valer das regras de transição do art. 142. O que importa,
então, para qualquer tipo de segurado, é a filiação anterior à Lei n.º 8.213/1991. Além disso, o segurado não
necessariamente precisava estar filiado exatamente na data de 24 de julho de 1991, bastando que ele, em
algum momento, tenha se filiado anteriormente ao novo regramento para fazer jus à tabela progressiva do
art. 142, da Lei n.º 8.213/1991.
Conquanto sejam elementos distintos – tempo de contribuição e carência – o conceito desse
instituto é umbilicalmente ligado àquele. Isso porque carência é o número mínimo de CONTRIBUIÇÕES
MENSAIS aptas a gerar o direito a um determinado benefício previdenciário. Essa é a letra do art. 24, da Lei
n.º 8.213/1991, senão vejamos:
Já o tempo de contribuição é o “tempo correspondente aos períodos para os quais tenha havido
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contribuição obrigatória ou facultativa ao RGPS”, conforme art. 19-C, do Decreto n.º 3.048/1999, na redação
dada pelo Decreto n.º 10.410/2020. Veja, assim, que tanto a carência quanto o tempo de contribuição exigem
contribuições em seus conceitos. Tempo de contribuição é a conjunção dos períodos nos quais houve
contribuição; a carência é o número mínimo de meses nos quais houve contribuição. Ambos os institutos,
portanto, são centrados na contribuição.
Há, no entanto, algumas diferenças pontuais em relação aos institutos.
A primeira diferença está na finalidade de cada um. Enquanto o tempo de contribuição visa
CPF: 073.496.444-77
como tempo de contribuição, isto é, incluiu no conceito de “tempo de contribuição” alguns períodos nos
Marceli souza
quais não houve contribuição. Isso não ocorre com a carência, cujo lapso temporal exigido deverá contar
sempre com o recolhimento correspondente das contribuições (ou a presunção de recolhimentos, no caso
Marceli
de alguns segurados obrigatórios, como já estudamos até aqui). Cabe ressaltar, contudo, que a dispensa de
contribuições em determinado lapso de tempo exigido para fins de carência já foi chancelada pela
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no TEMA 1125 da repercussão geral dessa Corte.
Assim, em síntese, a carência, do ponto de vista da norma escrita, exige sempre contribuições
efetivamente recolhidas, mas a jurisprudência já excepcionou essa exigência em certos casos. No caso do
TEMA 1125, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o período intercalado de atividade remunerada com
benefício por incapacidade contará para fins de carência. A tese fixada foi no sentido de que é “constitucional
o cômputo, para fins de carência, do período no qual o segurado esteve em gozo do benefício de auxílio -
doença, desde que intercalado com atividade laborativa”.
No período de recebimento do auxílio-doença, hoje denominado auxílio por incapacidade
temporária, não há contribuições previdenciárias a serem recolhidas. Os benefícios previdenciários não
entram no conceito de salário de contribuição, pois não traduzem verbas recebidas de natureza salarial, mas
sim, por óbvio, de natureza previdenciária. Aliás, cabe lembrar que essa é dicção expressa do art. 28, §9º,
alínea “a”, da Lei n.º 8.212/1991:
141
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Logo, não se constituindo fato gerador de contribuição previdenciária, não há recolhimentos aos
cofres do RGPS no período de percepção de benefícios por incapacidade. Em sendo assim, pela regra disposta
no art. 24, da Lei n.º 8.213/1991, segundo a qual carência é o número mínimo de “contribuições mensais”
para a concessão de um determinado benefício previdenciário, o período daquele auxílio-doença não seria
contado para tal finalidade. Isto é, pela regra escrita do art. 24 citado, não contaria para efeito de carência.
Entretanto, como visto, a maioria do Supremo Tribunal Federal assentou, no TEMA 1125 que, mesmo
sem contribuições, haverá a contagem desses períodos para efeito de carência e não apenas para efeito de
tempo de contribuição. A regra legal sempre considerou o período intercalado de auxílio-doença e
aposentadoria por invalidez para efeito de tempo de contribuição. Sempre considerou, portanto, uma
exceção ao conceito de tempo de contribuição, que como visto exige contribuições. Não havendo
contribuições durante o recebimento de benefícios previdenciários, dentre eles os benefícios por
incapacidade, não deveria, os respectivos períodos intercalados serem contados nem para efeito de tempo
de contribuição, nem para carência. A própria norma previdenciária, contudo, sempre excepcionou a
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exigência de contribuições nesses casos para efeito de “tempo de contribuição”. A consideração para efeito
de carência, também, ficou a cargo da jurisprudência e, de maneira definitiva, pelo Supremo Tribunal Federal.
O art. 19-C, § 1º, do Decreto n.º 3.048/1999, incluído pelo Decreto n.º 10.410/2020, vigente desde
01/07/2020, deixou claro, entretanto, a ampliação dessa flexibilização para o instituto da “carência” não seria
possível. Mas, ainda assim, afora o TEMA 1125 do STF, que não abordou diretamente ainda essa inovação
normativa expressa dada pelo Decreto n.º 10.410/2020 (esse fundamento foi lançado pelo INSS em
embargos de declaração, ainda não julgados pelo STF naquele tema de repercussão geral), tem-se permitida
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a consideração do tempo intercalado de benefícios por incapacidade também para efeito de carência, em
decorrência de decisão judicial prolatada no âmbito da Ação Civil Pública n.º 0216249-77.2017.4.02.5101,
que tramita no Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Além da hipótese relacionada ao tempo intercalado de benefício por incapacidade, a norma
souza -- CPF:
previdenciária enumera outros casos em relação aos quais poderá haver a consideração de certos períodos
Marceli souza
SEM contribuição para efeito de “tempo de contribuição”. Note-se, contudo, que se tratam de exceções e
que, além de serem casos pontualíssimos, possuem permissão de assim serem contados – como tempo de
Marceli
contribuição – até a publicação da Emenda 103/19, isto é, até 13/11/2019. As hipóteses estão previstas no
art. 188-G, do Decreto n.º 3.048/1999, incluído pelo Decreto n.º 10.410/2020:
Art. 188-G. O tempo de contribuição até 13 de novembro de 2019 será contado de data a
data, desde o início da atividade até a data do desligamento, considerados, além daqueles
referidos no art. 19-C, os seguintes períodos:
I - o tempo de serviço militar, exceto se já contado para inatividade remunerada nas Forças
Armadas ou auxiliares ou para aposentadoria no serviço público federal, estadual, distrital
ou municipal, ainda que anterior à filiação ao RGPS, obrigatório, voluntário ou alternativo,
assim considerado o tempo atribuído pelas Forças Armadas àqueles que, após o
alistamento, alegaram imperativo de consciência, entendido como tal aquele decorrente de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de
caráter militar;
II - o tempo em que o anistiado político esteve compelido ao afastamento de suas atividades
profissionais, em decorrência de punição ou de fundada ameaça de punição, por motivo
33 Acerca do salário-maternidade, deve-se lembrar do TEMA 72 da repercussão geral do Supremo Tribunal Federal, cujos
fundamentos assinalaram a não incidência de contribuição previdenciária sobre valores pagos a tal título, no que toca à cota patronal
a cargo da empresa em relação às suas empregadas.
142
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
exclusivamente político, situação que será comprovada nos termos do disposto na Lei nº
10.559, de 13 de novembro de 2002;
III - o tempo de serviço público federal, estadual, distrital ou municipal, inclusive aquele
prestado a autarquia, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder
Público, regularmente certificado na forma prevista na Lei nº 3.841, de 15 de dezembro de
1960, desde que a certidão tenha sido requerida na entidade para a qual o serviço tenha
sido prestado até 30 de setembro de 1975, data imediatamente anterior ao início da
vigência da Lei nº 6.226, de 14 de junho de 1975;
IV - o tempo de serviço do segurado trabalhador rural anterior à competência novembro de
1991;
V - o tempo de exercício de mandato classista junto a órgão de deliberação coletiva em que,
nessa qualidade, tenha havido contribuição para a previdência social;
VI - o tempo de serviço prestado à Justiça dos Estados, às serventias extrajudiciais e às
escrivanias judiciais, desde que não tenha havido remuneração pelo erário e que a atividade
não estivesse, à época, vinculada a regime próprio de previdência social;
VII - o tempo de atividade dos auxiliares locais de nacionalidade brasileira no exterior
amparados pela Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993, anteriormente a 1º de janeiro de
1994, desde que a sua situação previdenciária esteja regularizada no INSS;
VIII - o tempo de contribuição efetuado pelo servidor público de que tratam as alíneas “i”,
“j” e “l” do inciso I do caput do art. 9º e o § 2º do art. 26, com fundamento do disposto nos
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de julho de 1993; e
IX - o tempo exercido na condição de aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado
profissional realizado em escola técnica, desde que comprovados a remuneração pelo
erário, mesmo que indireta, e o vínculo empregatício.
Parágrafo único. O tempo de contribuição de que trata este artigo será considerado para
fins de cálculo do valor da renda mensal de qualquer benefício. (grifos nossos)
Cabe registrar que a limitação relativa ao “tempo de contribuição até 13 de novembro de 2019”
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decorre da vedação absoluta imposta pelo Emenda 103/19 acerca da consideração de tempo ficto no regime
geral de previdência social. Pela disposição incluída como §14, no art. 201, da CF/88, o Constituinte Derivado
assentou que é terminantemente “vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de
concessão dos benefícios previdenciários e de contagem recíproca”. Nada obstante essa vedação absoluta,
souza -- CPF:
o art. 25, da EC 103, fixou regra protetiva do ato jurídico perfeito e do direito adquirido quanto aos períodos
Marceli souza
de “tempo de serviço” sem contribuição, portanto “fictos” na ampla acepção da questão, cumpridos até a
vigência da emenda constitucional.
Marceli
Sendo assim, por essa regra, disposta de maneira nuclear no art. 25, da EC 103, e reverberada no art.
188-G, do Decreto n.º 3.048/1999, ainda existem alguns períodos de “tempo de serviço”, não contributivos,
que valerão para efeito de “tempo de contribuição”. Cumpre ressaltar, contudo, a diferença prática – do
ponto de vista dessas exceções normativas – entre “tempo de contribuição” e “carência”. Essas flexibilizações
dispostas no art. 188-G, do Decreto n.º 3.048/1999, somente alcançam o instituto “tempo de contribuição”,
nada valendo para a “carência”.
Quanto aos períodos de carência em si, eles estão dispostos no art. 25, da Lei n.º 8.213/1991:
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais;
II - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial:
180 contribuições mensais.
III - salário-maternidade para as seguradas de que tratam os incisos V e VII do caput do art.
11 e o art. 13 desta Lei: 10 (dez) contribuições mensais, respeitado o disposto no parágrafo
único do art. 39 desta Lei; e
IV -auxílio-reclusão: vinte e quatro contribuições mensais.
IV - auxílio-reclusão: 24 (vinte e quatro) contribuições mensais.
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
PRAZOS DE CARÊNCIA
Tempo exigido em número
Benefícios previdenciários
de meses de contribuição
• Aposentadoria por idade urbana (regra anterior a EC 103);
• Aposentadoria por tempo de contribuição (regra anterior a EC 103);
180 meses • Aposentadoria programada;
(podendo ser aplicada a • Aposentadoria especial;
tabela progressiva do art. • Aposentadorias da pessoa com deficiência;
142, da Lei n.º 8.213/1991) • Aposentadoria do professor;
• Aposentadoria por idade rural (sendo que, nesse caso, são 180 meses de
trabalho rural em regime de economia familiar).
24 meses • Auxílio-reclusão (a partir da MP 871/19, convertida na Lei 13.846/19)
• Auxílio por incapacidade temporária;
12 meses
• Aposentadoria por incapacidade permanente.
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• Salário-maternidade
OBS.: somente se exige carência para a segurada contribuinte individual, segurada
especial e segurada facultativa, não havendo carência para segurada empregada,
empregada doméstica e trabalhadora avulsa.
10 meses
OBS2.: Em caso de parto antecipado, o período de carência será reduzido em
número de contribuições equivalente ao número de meses em que o parto foi
antecipado. Exemplo: parto antecipado em 3 meses, a carência será, então, de 7
meses.
CPF: 073.496.444-77
Existem, de outro lado, as hipóteses de dispensa de carência previstas no art. 26, da Lei n.º
8.213/1991:
souza -- CPF:
após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em
lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social, atualizada a cada 3 (três)
anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou outro
fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado;
III - os benefícios concedidos na forma do inciso I do art. 39, aos segurados especiais
referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei;
IV - serviço social;
V - reabilitação profissional.
VI – salário-maternidade para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa e empregada
doméstica.
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Quanto à contagem da carência, será contada de modo distinto a depender da categoria de segurado.
Em sendo segurado empregado, empregado doméstico ou trabalhador avulso, a carência inicia sua contagem
de modo coincidente com a filiação desses trabalhadores, ou seja, a partir do primeiro dia do mês em que se
iniciou a atividade remunerada (art. 27, inciso I, da Lei n.º 8.213/1991).
Lembre-se, aliás, que a contagem da carência é pelo mês cheio. Isso significa que não importa o
momento no qual se iniciou ou findou uma determinada atividade, sendo irrelevante se foram trabalhados
30 dias do mês ou apenas um. Trata-se de interpretação que deriva da leitura do art. 24, caput, da Lei n.º
8.213/1991, que não deixa dúvidas quando assinala que as contribuições mensais, para fins de carência,
serão “consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências”.
Já quanto ao segurado contribuinte individual e segurado facultativo, somente haverá contagem da
carência a partir do primeiro recolhimento sem atraso das contribuições previdenciárias, conforme o art. 27,
inciso II, da Lei n.º 8.213/1991:
(...)
II - realizadas a contar da data de efetivo pagamento da primeira contribuição sem atraso,
não sendo consideradas para este fim as contribuições recolhidas com atraso referentes a
competências anteriores, no caso dos segurados contribuinte individual, especial e
facultativo, referidos, respectivamente, nos incisos V e VII do art. 11 e no art. 13. (grifos
nossos)
Há que se destacar, por fim, que existe regra específica para os casos de recuperação da carência
CPF: 073.496.444-77
quando houver perda e posterior reaquisição da qualidade de segurado. Em relação a isso, contudo,
importante nos atentar-se ao fato de que houve, ao longo dos anos, algumas mudanças nos critérios de
recuperação da carência em tais hipóteses.
A regra de recuperação da carência está disposta no art. 27-A, da Lei n.º 8.213/1991, sendo a redação
souza -- CPF:
atual a seguinte:
Marceli souza
Art. 27-A Na hipótese de perda da qualidade de segurado, para fins da concessão dos
Marceli
Antes da redação atual, contudo, a redação dessa regra estava disposta no art. 24, parágrafo único,
da Lei n.º 8.213/1991:
Note-se que essa regra do pedágio de 1/3, para a recuperação da carência pretérita anterior à perda
da qualidade de segurado, que então vigia no art. 24, parágrafo único, da Lei n.º 8.213/91, foi revogada pela
Medida Provisória n, 767, de 06 de janeiro de 2017, posteriormente convertida na Lei n.º 13. 457/2017. Na
redação da MP 767, passou a constar que, com a perda da qualidade de segurado, deveria haver novo
145
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
computo dos períodos de carência relativos ao benefício pretendido. Na conversão da MP 767 na Lei n.º
13.457/17 o texto do art. 27-A, da Lei n.º 8.213/91, passou a prever, contudo, de modo diverso, no sentido
de que poderia haver recuperação, se houvesse novos recolhimentos na proporção apenas da metade dos
prazos de carência para os benefícios. Ou seja, se tivesse perdido a qualidade de segurado, bastaria recolher
novamente pelo período equivalente à metade da carência exigida para o respectivo benefício, a fim de
recuperar a carência acumulada antes da perda da qualidade de segurado.
Por fim, houve nova revogação e alteração. Adveio a Lei n.º 13.846/2019, cunhada de “minirreforma
previdenciária”, e determinou, por fim, nova redação do art. 27-A, da Lei de Benefícios da Previdência Social,
para que passasse a constar que aquela recuperação de carência anterior à perda da qualidade de segurado
somente seria possível se houver recolhimento INTEGRAL dos respectivos prazos de carência exigido para o
benefício pretendido. Veja, novamente, a redação atual do art. 27-A, da Lei n.º 8.213/1991:
Art. 27-A Na hipótese de perda da qualidade de segurado, para fins da concessão dos
benefícios de auxílio-doença, de aposentadoria por invalidez, de salário-maternidade e de
auxílio-reclusão, o segurado deverá contar, a partir da data da nova filiação à Previdência
Social, com metade dos períodos previstos nos incisos I, III e IV do caput do art. 25 desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) (grifos nossos)
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A lei previdenciária permite que haja um desconto incidente sobre os benefícios previdenciários, em
alguns casos previamente indicados pela norma, tanto em relação aos benefícios pagos aos segurados,
quanto aos dependentes. A indisponibilidade dos benefícios previdenciários decorre de sua natureza de
direito fundamental, portanto, irrenunciável e indisponível. Contudo, a indisponibilidade dos benefícios
CPF: 073.496.444-77
Art. 114. Salvo quanto a valor devido à Previdência Social e a desconto autorizado por
esta Lei, ou derivado da obrigação de prestar alimentos reconhecida em sentença judicial,
o benefício não pode ser objeto de penhora, arresto ou sequestro, sendo nula de pleno
souza -- CPF:
direito a sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer ônus sobre ele, bem como a
outorga de poderes irrevogáveis ou em causa própria para o seu recebimento. (grifos
Marceli souza
nossos)
Marceli
146
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
“consignação”. A consignação é a forma especial ou indireta de pagamento de uma obrigação devida pelo
beneficiário, junto ao INSS e/ou terceiros, tal como instituições financeiras, associações de aposentados e
pensionistas e/ou credores de pensão alimentícia.
souza -- CPF:
retido na fonte, quando cabível. Além disso, para se vedar o enriquecimento sem causa também entra na
categoria de desconto obrigatório o pagamento de benefício indevido, como forma de ressarcir o INSS de
Marceli
valores que não seriam devidos ao segurado ou dependente. Por fim, é possível fazer o desconto como
obrigatório da pensão alimentícia fixada em favor de terceiros. Esses descontos obrigatórios não dependem
da autorização ou da vontade manifestada do segurado o dependente, sendo aplicadas por força de lei.
Diferentemente, os descontos eletivos dependem expressamente da anuência do segurado ou
dependente, respectivo titular do benefício. São, em síntese, hipóteses relacionadas à aquisição de crédito
junto a instituições financeiras ou ao pagamento de mensalidades de associações ou outras entidades de
aposentados legalmente reconhecidas, desde que, sempre, como dito, autorizadas expressamente por seus
filiados.
Na concomitância de consignações, existe uma prioridade entre esses tipos de descontos. Serão
priorizados os descontos obrigatórios em detrimento dos descontos eletivos, sendo que entre os obrigatórios
será observada a ordem cronológica de suas constituições de crédito.
Sobre os descontos de benefícios recebidos indevidamente, há dois Temas julgados no STJ que
tratam da questão: Tema 692 e Tema 979 dos recursos repetitivos. O Tema 692, inicialmente, teve tese
fixada no sentido de que “a reforma da decisão que antecipa a tutela obriga o autor da ação a devolver os
benefícios previdenciários indevidamente recebidos”. Contudo, após algum tempo, o próprio STJ decidiu
promover procedimento de revisão de tese, conforme os seguintes termos:
147
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
processos ainda sem trânsito em julgado, individuais ou coletivos, que versem acerca da questão submetida
à revisão pertinente ao Tema n.º 692/STJ e tramitem no território nacional, com a ressalva de incidentes,
questões e tutelas, que sejam interpostas a título geral de provimentos de urgência nos processos objeto do
sobrestamento.
O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, já se manifestou no sentido de que não há repercussão
geral em relação a essa questão, de maneira que verificar a possibilidade de desconto de benefícios pagos
indevidamente pela Administração Pública é matéria que deve ser aferida junto às normas
CPF: 073.496.444-77
infraconstitucionais (Tema 425 da repercussão geral). Além do Tema 425, o Supremo também afirmou, de
modo mais especifico, que no caso de tutela antecipada posteriormente revogada, a questão de se verificar
se os valores recebidos precariamente pela decisão necessitam ou não serem devolvidos deve ser analisada
sob a ótica da legislação infraconstitucional. Isso foi assentado na análise do Tema 799, por meio do qual a
souza -- CPF:
Corte Suprema afirmou que a “questão acerca da devolução de valores recebidos em virtude de concessão
Marceli souza
Com relação aos pagamentos indevidos aos segurados decorrentes de erro administrativo
(material ou operacional), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei
pela Administração, são repetíveis, sendo legítimo o desconto no percentual de até 30%
(trinta por cento) de valor do benefício pago ao segurado/beneficiário, ressalvada a
hipótese em que o segurado, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva,
sobretudo com demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento indevido.
148
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
devolução, se o pagamento indevido decorreu de interpretação errônea ou equivocada da lei pelo próprio
INSS.
Mas o entendimento da devolução com limitação de 10% do benefício acabou sendo consolidado no
julgamento do REsp n.º 1.384.418/SC, feito pela 1ª Seção do STJ.
Acerca da devolução, ou não, de parcelas pagas no âmbito judicial em decorrência de revogação de
tutela antecipada, a Corte Especial do STJ já enfrentou a questão e decidiu que, se as decisões judiciais de
revogação tiverem sido proferidas em sede de sentença ou em segundo instância, nos Tribunais de 2º grau
ou nas Turmas Recursais, deverá ocorrer a devolução das parcelas pagas a título de antecipação de tutela à
previdência social. Por outro lado, em havendo a revogação ou reforma da decisão que concedeu benefício
judicialmente apenas no âmbito das instâncias extraordinárias, ou seja, no Supremo Tribunal Federal ou no
Superior Tribunal de Justiça, não haverá necessidade de evolução. Isso porque nesses casos, a superação das
instâncias ordinárias já terá criado, em tese, na parte, a confiança legítima e a expectativa de vitória e
confirmação da decisão antecipatória, delineando a sua boa-fé no recebimento das parcelas previdenciárias,
embora posteriormente canceladas. Vejamos o julgado:
O tema da prescrição e decadência no Direito Previdenciário pode ter o enfoque relativo ao custeio
e financiamento da Seguridade Social, bem como o enfoque relacionado à concessão ou indeferimento dos
benefícios previdenciários previstos no RGPS. Aqui será abordado apenas a prescrição e decadência prevista
para os benefícios do RGPS.
A despeito de a essência dos institutos da decadência e prescrição estar regulada na parte geral do
Código Civil, as normas previdenciárias tratam de modo específico da questão em relação aos benefícios
previdenciários. As disposições da norma previdenciária prevalecem, por óbvio, sobre a norma geral, sendo
aplicável a regra do Código Civil naquilo de maneira subsidiária. O tratamento específico, portanto, no campo
previdenciário é dado pelos arts. 103 e 104, da Lei n.º 8.213/1991, bem como pelos arts. 347 e 347-A, do
Decreto n.º 3.048/99, esses já na redação dada pelo Decreto n.º 10.410/20.
Na Lei n.º 8.213/1991, em seu art. 103, trata-se da instituição de um prazo de DECADÊNCIA. Esse
prazo é decenal, isto é, permite que o segurado ou beneficiário possa invocar seu direito a uma determinada
obrigação do INSS no prazo máximo de dez anos. A norma é dirigida tanto ao segurado, quanto aos
dependentes do segurado. Logo, não importa se se trata de um benefício pago diretamente ao trabalhador,
tal como um auxílio por incapacidade temporária, ou uma prestação paga aos seus dependentes, tal como
uma pensão por morte ou auxílio-reclusão. Além disso, o objetivo da norma é instituir um prazo de
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FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
decadência para o DIREITO DE REVISÃO de certos atos administrativos emitidos pelo INSS. Na literalidade da
lei, esses atos são:
1) ato de concessão de benefício;
2) ato de indeferimento de benefício;
3) ato de cancelamento de benefício;
4) ato de cessação de benefício;
5) ato de deferimento de revisão de benefício;
6) ato de indeferimento de revisão de benefício;
7) ato de não concessão de revisão de benefício.
Ocorre que esse dispositivo, na redação dada pela Medida Provisória 871/19, a qual foi convertida
na Lei n.º 13.846/2019 e deu a última redação vigente do art. 103, da Lei n.º 8.213/1991, foi questionado no
STF por meio da ADI 6096. Com o julgamento do Supremo, assentou-se que o direito ao benefício em si não
está sujeito a qualquer prazo decadencial, mas apenas o direito à revisão de um benefício já concedido.
Sendo assim, não há que se falar em prazo de decadência quanto aos atos de indeferimento, de
cancelamento ou de cessação do benefício. Quanto aos demais, é válido o prazo de decadência.
Na prática, após esse julgamento, a lista acima deve ser lida da seguinte forma:
Na literalidade da lei, esses atos são:
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A ação do tempo não incide sobre o direito ao benefício em si, mas apenas sobre as parcelas não
pagas mês a mês, isto é, somente incide a prescrição. Já com relação aos casos de atos de concessão,
deferimento de revisão, de indeferimento de revisão e não concessão de revisão, o dispositivo (art. 103) tem
aplicabilidade, isto é, aplica-se normalmente o prazo decenal de decadência.
No caso do direito à revisão de parcelas do benefício concedido, o prazo de dez anos é contado a
partir do primeiro dia do mês subsequente ao do recebimento da primeira prestação (ou da data em que a
prestação deveria ter sido paga com o valor revisto e não foi). Já no caso de decisão de deferimento ou
indeferimento de revisão de benefício, o prazo de decadência começa a ser contado da data em que o
beneficiário tomou conhecimento da decisão administrativa.
Com relação às parcelas, não restam dúvidas, incide a prescrição prevista no art. 103, parágrafo
único, da Lei n.º 8.213/1991. Antes mesmo da ADI 6096, o Supremo Tribunal Federal já havia enfrentado essa
questão no julgamento do Tema 313 de sua repercussão geral, senão vejamos:
150
FREDERICO MARTINS REGRAS GERAIS DO RGPS • 9
Como se vê, o STF, nessa ocasião, também assinalou o entendimento de que o prazo decadencial
previsto no art. 103, caput, da Lei de Benefícios, somente passa a valer a partir da vigência da MP 1.523/97,
a qual foi convertida na Lei n.º 9.528/1997. Isso, pois antes dessa medida provisória não havia a previsão de
qualquer prazo decadencial em relação ao direito de revisão do benefício previdenciário. Existia apenas a
CPF: 073.496.444-77
que possui o direito de anular seus próprios atos quando eivados de vícios de que o tornem inválido. Esse
direito, contudo, somente pode ser exercido no prazo decadencial de 10 anos, salvo comprovada má-fé.
Marceli souza
Portanto, a regra é que esse prazo decenal tenha início na data em que os atos inválidos foram praticados.
Marceli
Contudo, existem duas exceções a essa regra, que implicam diferimento do termo a quo do prazo
decadencial.
A primeira exceção ocorre, como dito acima, no caso de má-fé do beneficiário. A segunda exceção
ocorre quando o ato praticado gera efeitos patrimoniais ao beneficiário, ou seja, gera algum direito
incorporável ao seu patrimônio jurídico. Bem, não há como se negar que essa exceção é, em verdade, a regra,
uma vez que se torna difícil imaginar algum ato praticado pelo beneficiário que não implique ou não tenda a
lhe implicar efeitos patrimoniais favoráveis. Em sendo assim, isto é, em gerando efeitos patrimoniais
favoráveis, o prazo decenal do INSS somente começa a correr a partir da data de recebimento do primeiro
pagamento gerado pelo ato inválido praticado.
No que toca à prescrição, somente há previsão de prazo prescricional para o beneficiário. De todo
modo, ainda assim, quanto às pretensões ressarcitórias do INSS, tem-se entendido pela aplicação analógica
do quanto disposto no art. 1º, do Decreto 20.910/1932, que estabelece o prazo quinquenal de toda e
qualquer ação contra a Fazenda Pública.
34 Redação da tese aprovada nos termos do item 2 da Ata da 12ª Sessão Administrativa do STF, realizada em 09/12/2015.
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Marceli
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FREDERICO MARTINS
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REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Até aqui foram abordadas todas as regras gerais mais importantes do regime geral de previdência
social. Agora, estudaremos as regras específicas, relacionadas às prestações em si que são previstas em nosso
sistema previdenciário.
Quanto às espécies de prestações previdenciárias, basta que você saiba que existem apenas duas: os
benefícios e os serviços.
Basicamente, você poderá perceber que os benefícios previdenciários são as espécies de prestações
que veiculam as obrigações de pagamento pelo INSS baseadas em um cálculo derivado do salário de
contribuição e, posteriormente, do salário de benefício do segurado, gerando uma renda mensal inicial a ser
paga mês a mês até a respectiva hipótese de cancelamento ou extinção do benefício. Já o serviço é espécie
de prestação previdenciária que disponibiliza ao segurado uma obrigação de fazer a ser prestada pelo INSS.
Em geral, por óbvio, as prestações previdenciárias são direcionadas aos segurados, que são os
principais beneficiários do regime geral de previdência social, mas há dois benefícios que são direcionados
aos dependentes daqueles segurados: pensão por morte e auxílio-reclusão. Existe a previsão de um total de
10 benefícios previdenciários, mas apenas 2, como dito, são direcionados aos dependentes do segurado. Já
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os quanto aos serviços previstos para o RGPS, existem apenas 2 também. São eles: serviço social e
reabilitação profissional.
Sobre isso, veja o que diz o art. 25, I, “b”, do Decreto n.º 3.048/1999, alterado pelo Decreto n.º
10.410/20:
I - quanto ao segurado:
a) aposentadoria por incapacidade permanente;
b) aposentadoria programada;
c) aposentadoria por idade do trabalhador rural;
souza -- CPF:
d) aposentadoria especial;
e) auxílio por incapacidade temporária;
Marceli souza
f) salário-família;
g) salário-maternidade; e
Marceli
h) auxílio-acidente;
II - quanto ao dependente:
a) pensão por morte; e
b) auxílio-reclusão; e
III - quanto ao segurado e dependente: reabilitação profissional.
As prestações previdenciárias podem ser classificadas sob variadas óticas. Adotaremos a classificação
sugerida na obra de Frederico Amado. Vejamos.
• Quanto à natureza da prestação, as prestações, como já vimos, podem ser prestações de pagar -
os benefícios previdenciários – ou de fazer - os serviços previdenciários.
• Quanto ao tipo de beneficiário, as prestações previdenciárias podem ser dos segurados e dos
dependentes.
• Quanto à programação da prestação previdenciária, a prestação previdenciária pode ser
programável ou não programável. As prestações programáveis são aquelas que dependem de um
tempo maior de contribuição e carência, relacionando-se a eventos futuros em certos, portanto
previsíveis do segurado. Com a reforma previdenciária de 2019, as antigas aposentadorias por
tempo de contribuição e por idade do trabalhador urbano se fundiram e passaram a figurar como
sendo apenas um tipo de aposentadoria: a aposentadoria programada. Já os benefícios não
programáveis são as prestações previdenciárias que derivam de um evento futuro, mas incerto,
que ocorre devido a infortúnios ou acidentes não previstos originariamente pelo segurado.
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FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II do art. 26,
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acidente. Esses últimos benefícios podem ser pagos abaixo do salário-mínimo vigente.
• Quanto à submissão ou não ao teto do regime geral da previdência social, o único benefício que
Marceli souza
não se vincula ao teto é o salário maternidade previsto para as seguradas empregadas e seguradas
trabalhadoras avulsas. Além disso, podemos citar também a chamada “grande invalidez”, previsto
Marceli
Com a publicação da Emenda Constitucional n.º 103/2019, não há mais que se falar em dicotomia
classificatória quanto à aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade. A Emenda 103
passou a exigir, finalmente, a idade mínima como requisito de qualquer aposentadoria no regime geral de
154
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
previdência social. Hoje em dia somente não teremos previsão direta de idade mínima em algumas
aposentadorias previstas nas regras de transição da Emenda 103 (artigos 15, 17, 21 e 22), bem como em uma
das espécies de aposentadoria prevista na Lei Complementar n.º 142, que trata da aposentadoria dos
trabalhadores deficientes.
É bem razoável e condizente com a vontade do Constituinte Originário que a aposentadoria seja dada
a quem está mesmo na idade avançada. Dessa forma, impor limite de idade é atender esse reclamo
constitucional. A previdência social, neste tocante, nunca exigiu tão somente o tempo de contribuição
mínimo, mas também o avanço da idade. Assim sendo, com essa mudança de paradigma normativo, não
cabe mais falar na dicotomia aposentadoria por idade e aposentadoria por tempo de contribuição. Agora,
tudo é uma coisa só: aposentadoria programada. A norma regulamentadora apenas ressalva da
denominação “aposentadoria programada” a jubilação do trabalhador rural, mantendo a classificação de
“aposentadoria por idade” desse trabalhador, deixando-a mais clara, contudo, para dizer que ela também se
aplica ao garimpeiro.
Acerca dessas alterações constitucionais e suas repercussões no plano infraconstitucional, foi editada
a Portaria n.º 450, de 3 de abril de 2020, que dispõe sobre as alterações constantes na Emenda Constitucional
nº 103, de 12 de novembro de 2019. Importante observarmos o art. 2º, da referida Portaria:
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Art. 2º Com a vigência da EC nº 103, de 2019, as aposentadorias por idade e por tempo de
contribuição foram substituídas por uma única espécie, a aposentadoria programada, da
qual derivam a aposentadoria especial e a aposentadoria programada do professor. (grifos
nossos)
Além disso, conforme muito bem pontuado no art. 4º, da Portaria 450, ficaram mantidas, mesmo
após a Emenda 103, a aposentadoria por idade rural e as aposentadorias da pessoa com deficiência da Lei
CPF: 073.496.444-77
Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013. A aposentadoria por idade rural, contudo, passou a se
denominar “aposentadoria do trabalhador rural e do garimpeiro”.
Sendo assim, desde a Emenda 103, deve-se trocar o conceito de aposentadoria por tempo de
contribuição e de aposentadoria por idade, pelo conceito amplo de aposentadorias programadas. As
souza -- CPF:
aposentadorias concedidas com base no direito adquirido, com espeque nas normas anteriores, continuam
Marceli souza
sendo denominadas de aposentadorias por tempo de contribuição e aposentadoria por idade. Não existem
mais as antigas aposentadorias por tempo de contribuição e por idade urbana, salvo em caso de direito
Marceli
adquirido. É que essas aposentadorias eram previstas antes da Emenda 103, no entanto o art. 3º dessa
emenda garantiu que, se os filiados do RGPS tivessem satisfeitos todos os requisitos para aquelas
aposentadorias até 13/11/2019, eles teriam direito adquirido a sua concessão, conforme regras então
vigentes.
Quem se filiou no RGPS na data de 14/11/2019 em diante, ou que não conseguiu se aposentar pelas
regras antigas com base em direito adquirido – ou, ainda, quem, embora tenha se filiado anteriormente à
reforma da previdência, não conseguir se aposentar pelas regras de transição criadas – deverá observar as
novas regras relacionadas à aposentadoria programada.
Nas novas regras de aposentadoria programada estatuídas pela Emenda 103, o que é de mais
impactante em relação ao regime anterior é a fixação de idade mínima para se aposentar. A idade mínima já
havia sido fixada para as aposentadorias dos regimes próprios desde a Emenda 20/98, mas para o regime
geral o legislador não havia ainda conseguido prever expressamente esse requisito. Sabe-se, contudo, que
houve pela Lei n.º 9.876/1999 a instituição do chamado “fator previdenciário” que, de algum modo, fazia a
função de considerar a idade do segurado no cálculo da RMI de sua aposentadoria. A idade mínima, no
entanto, ainda não havia sido prevista para o RGPS.
À época da Emenda 20/98, a idade que se pretendia fixar como mínima seria de 60 anos para os
homens e de 55 anos para as mulheres, aliada ao tempo de contribuição de 35 anos para homens e 30 anos
155
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
para mulheres. A idade mínima, como dito, não vingou naquele momento, remanescendo desde então – até
a Emenda 103 – apenas a exigência de tempo de contribuição de 35 anos para homens e 30 anos para
mulheres, bem como a carência de 15 anos (180 contribuições mensais). Quando da votação da Emenda
20/98, um Deputado Federal apertou o botão errado na hora da votação e acabou, pela ausência do voto
dele, impedindo a fixação da idade mínima. Seu nome é Antônio Kandir, filiado à época ao PSDB-SP, tendo
sido, no próprio governo de Fernando Henrique Cardoso, Ministro do Planejamento. Desde então não se
conseguia implementar a idade mínima para a aposentadoria no RGPS.
Isso, finalmente, foi superado na Emenda 103. As idades mínimas fixadas foram de 62 anos para
mulheres e 65 para homens, mantendo-se a exigência de tempo de contribuição e carência. No corpo da
Constituição, as regras da aposentadoria programada estão dispostas no art. 201, §7º, I, da CF:
A Constituição fixa a idade mínima, mas os demais requisitos serão dispostos nos termos da lei,
inclusive o tempo mínimo de contribuição. A diferença, assim, é que, agora, esse tempo de contribuição será
previsto por lei ordinária. Na redação anterior, previa-se o tempo de contribuição de 30 anos, para mulheres,
e 35 anos, para homens. Agora, o dispositivo constitucional remete à lei ordinária a indicação do tempo
mínimo de contribuição. E, enquanto não for editada essa lei ordinária, valerá a norma transitória do art. 19,
da Emenda 103, que diz o seguinte:
CPF: 073.496.444-77
Art. 19. Até que lei disponha sobre o tempo de contribuição a que se refere o inciso I do §
7º do art. 201 da Constituição Federal, o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência
Social após a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional será aposentado aos
souza -- CPF:
Como se vê, a norma transitória da Emenda 103, que funciona como uma espécie de lei ordinária por
enquanto, fixa o tempo de contribuição de 15 anos para as mulheres e 20 anos para os homens, repetindo
as idades mínimas fixadas diretamente no corpo da Constituição (62 anos para mulheres; 65 anos para
homens). O art. 19, caput, da EC 103, repete os requisitos previstos na norma constitucional, apenas
acrescentando o tempo mínimo de contribuição.
Importante frisar que, conquanto não mencionado nos textos normativos acima, a aposentadoria
programada não dispensa a carência, cuja imposição continua a ser dada pelo art. 25, II, da Lei n.º 8.213/1991
ou, conforme o caso, pelo art. 142, também da Lei n.º 8.213/1991. O art. 142, da Lei n.º 8.213/1991 é, em
verdade, uma regra legal de transição aplicáveis para aqueles trabalhadores que já eram filiados ao RGPS
antes da própria Lei n.º 8.213/1991. Essa lei instituiu o prazo de carência de 180 meses para as
aposentadorias programadas, enquanto que na legislação anterior o prazo era de apenas 60 meses. Assim,
foi criada essa regra de transição, que se constituiu em uma tabela progressiva, isto é, a exigência de carência
– em meses – vai aumentando na medida em que o tempo vai passando desde a publicação da Lei n.º
8.213/1991.
Art. 142. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991,
bem como para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência Social Rural,
a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial obedecerá à
156
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Assim, a carência da aposentadoria programada será, em regra de 180 contribuições mensais (15
anos), ou conforme a tabela acima, se o segurado for filiado anterior a Lei n.º 8.213/1991. Nesse sentido,
vejamos o que diz a Portaria 450:
CPF: 073.496.444-77
Art. 5º Fica mantida a carência disciplinada pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
mantendo-se, assim, a exigência de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais para as
aposentadorias programáveis e de 12 (doze) contribuições para a aposentadoria por
souza -- CPF:
tabela progressiva prevista no art. 142 da Lei nº 8.213, de 1991. (grifos nossos)
Marceli
Com isso, sintetizando todos os requisitos da aposentadoria programada, o art. 7º, da referida
Portaria, enuncia o seguinte:
Já o art. 51, do Decreto n.º 3.048/99, na redação incluída pelo Decreto 10.410/20, editado após a
Emenda 103, prescreve, também, os requisitos da aposentadoria programada, senão vejamos:
Art. 51. A aposentadoria programada, uma vez cumprido o período de carência exigido,
será devida ao segurado que cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - sessenta e dois anos de idade, se mulher, e sessenta e cinco anos de idade, se homem;
e
II - quinze anos de tempo de contribuição, se mulher, e vinte anos de tempo de
contribuição, se homem. (grifos nossos)
157
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Quanto à renda mensal inicial da aposentadoria programada, esta será calculada conforme o
disposto no art. 26, da EC 103, isto é, corresponderá a 60% do salário de benefício do segurado, apurado esse
com base na média aritmética de 100% de todo o seu período contributivo desde a competência julho1994,
ou a última que existir caso filiado após aquela data. A regra do art. 26, da Emenda 103, prescreve, ainda,
que serão acrescidos 2% naquele coeficiente inicial de 60% para cada ano que exceder o tempo mínimo de
contribuição exigido. Assim sendo, se o tempo mínimo de contribuição exigido para os homens é de 20 anos,
um segurado, por exemplo, que tenha 25 anos de contribuição, terá direito a acrescer 10% no coeficiente de
partida (2% x 5, já que são cinco anos que excedem o tempo mínimo de vinte anos). Com efeito, esse
segurado terá direito a um coeficiente de 70% sobre o seu salário de benefício.
Por fim, a DIB da aposentadoria programada continuará seguindo as regras antigas já dispostas no
art. 54 c/c art. 49, ambos da Lei n.º 8.213/1991. Note que a Lei n.º 8.213/1991 ainda não foi alterada,
constando totalmente defasada normativamente em relação a Emenda 103. Na verdade, desde a Emenda
20/98. Tanto é assim que o art. 54 ainda enuncia a expressão “tempo de serviço”, o que foi proscrito de nosso
ordenamento jurídico por essa emenda. Em síntese, a regra da DIB da aposentadoria programada implica,
para o segurado empregado, a retroatividade do requerimento administrativo se esse for feito em até 90
dias do desligamento do emprego. De outro lado, se o pedido for feito após 90 dias, os efeitos financeiros de
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Art. 54. A data do início da aposentadoria por tempo de serviço será fixada da mesma forma
que a da aposentadoria por idade, conforme o disposto no art. 49.
Em síntese:
Marceli
APOSENTADORIA PROGRAMADA
IDADE MÍNIMA CARÊNCIA TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO RMI
60% SB + 2% por ano que
65 ANOS – HOMENS 20 ANOS – HOMENS
180 MESES majorar tempo de
62 ANOS - MULHERES 15 ANOS - MULHERES
contribuição
158
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Como se vê, a Constituição assinala que deverá ser comprovado um tempo mínimo de efetivo
exercício nas funções de magistério, sendo que esse deverá ser fixado por meio de lei complementar. Além
disso, embora não esteja expresso no § 8º acima, a aposentadoria do professor não dispensa o tempo de
contribuição mínimo, tampouco a carência para a obtenção do benefício. Em verdade, o tempo de efetivo
exercício nas funções de magistério deverá ser, também, tempo de contribuição, uma vez que não se admite
mais tempo de serviço e tempo ficto, ambos sem contribuição efetiva.
A lei complementar ainda não existe no nosso ordenamento jurídico. Devido a isso existe uma norma
transitória no corpo da Emenda 103 que fixa, por enquanto, esse tempo mínimo. É o art. 19, da Emenda 103,
pelo qual se exige o tempo mínimo de efetivo exercício no magistério de 25 anos. Esse tempo, como dito,
também deve ser de contribuição, isto é, são 25 anos trabalhando e contribuindo exclusivamente como
professor(a) do ensino infantil, fundamental e médio. O tempo de 25 anos vale tanto para homens, quanto
para mulheres, não havendo distinção nesse tipo de aposentadoria.
Vejamos o art. 19 da Emenda:
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Art. 19. Até que lei disponha sobre o tempo de contribuição a que se refere o inciso I do §
7º do art. 201 da Constituição Federal, o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência
Social após a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional será aposentado aos
62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, com 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, se mulher, e 20(vinte) anos de
tempo de contribuição, se homem.
§ 1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de
contribuição prevista nos §§ 1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida
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aposentadoria:
(...)
II - ao professor que comprove 25 (vinte e cinco) anos de contribuição exclusivamente em
efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio e tenha 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade,
souza -- CPF:
se homem.
Marceli souza
Assim, a mudança que importa é a redução do requisito etário, exigindo-se 5 anos a menos do que
na aposentadoria programada comum. Isso quer dizer que as professoras poderão se aposentar com 57 anos
Marceli
de idade, enquanto que os professores com 60 anos de idade. Nada obstante, deverão comprovar um tempo
mínimo de contribuição maior e exclusivo em efetivo exercício das funções de magistério na educação
infantil e no ensino fundamental e médio. Vejamos o que diz a Portaria 450 sobre:
Da Aposentadoria Programada do Professor (art. 201 da Constituição Federal)
Art. 20. A aposentadoria programada do professor é devida aos segurados filiados ao RGPS
a partir de 13 de novembro de 2019, ou, se mais vantajosa, aos demais, exigidos,
cumulativamente:
I - 25 (vinte e cinco) anos, para ambos os sexos, de efetivo e exclusivo exercício nas funções
de magistério na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; e
II - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem.
Quanto à RMI, ela seguirá a regra do art. 26, caput, da EC n.º 103. Perceba, apenas, que o professor
já começa com um coeficiente de 70% para os homens e de 80% para as mulheres. Isso porque, se o tempo
de contribuição mínimo é de 25 anos para ambos os sexos (com efetivo exercício nas funções de magistério
no ensino básico), então, o professor homem terá 5 anos a mais do que os 20 anos previstos na regra do art.
26, §2º, da EC 103, enquanto que a professora mulher terá 10 anos a mais. Com isso:
• 5 x 2% = 10% de acréscimo ao coeficiente de partida (60% + 10% = 70%), para professores;
159
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
a) a partir da data do desligamento do emprego, quando requerida até noventa dias depois
dela; ou
Marceli souza
Quanto à extensão das regras diferenciadas da aposentadoria do professor, deve-se destacar que
elas somente valem, realmente, para os professores do ensino básico, não alcançando professores de
graduação. O Decreto 10.410/2020, nada obstante, deu interpretação expansiva ao conceito de função de
magistério, abarcando “aquela exercida por professor em estabelecimento de ensino de educação básica em
seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as funções de direção de
unidade escolar e de coordenação e assessoramento pedagógicos” (art. 54, § 2º, do Decreto n.º 3.048/99,
com as alterações do Decreto n.º 10.410/20). Logo, não apenas o professor que atua na sala de aula que terá
direito às regras diferenciadas de aposentadoria, como vimos acima, mas também aqueles professores que
eventualmente estejam ocupando as seguintes funções dentro da unidade escolar:
• de direção;
• de coordenação pedagógica;
• de assessoramento pedagógico.
Em síntese:
160
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
APOSENTADORIA
PROGRAMADA DO
PROFESSOR
A reforma previdenciária não mudou a aposentadoria por idade dos trabalhadores rurais. Sobre isso,
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Art. 4º Ficam mantidas as concessões da aposentadoria por idade rural, agora denominada
de aposentadoria do trabalhador rural e do garimpeiro, e as aposentadorias da pessoa
com deficiência da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013, nas mesmas condições
anteriormente previstas, inclusive quanto ao seu valor, observadas, no entanto, com novas
regras quanto à formação do Período Básico de Cálculo - PBC. (grifos nossos)
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Os requisitos para a concessão da aposentadoria por idade rural, considerando a atual regra
estabelecida pela Emenda Constitucional nº 103 de 2019, são:
• Idade mínima: de 60 anos para homens, e 55 anos para mulheres;
• Carência: comprovação de exercício de atividade rurícola, por intervalo equivalente ao da
souza -- CPF:
carência do benefício no período imediatamente anterior, ainda que de forma descontínua, nos
Marceli souza
termos do art. 48, § 2.º, c/c o arts. 142 e 143, ambos os dispositivos legais da Lei de Benefícios.
Marceli
161
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
§ 1º O segurado especial de que trata este artigo, além da contribuição obrigatória referida
no caput, poderá contribuir, facultativamente, na forma do art. 21 desta Lei. (Redação dada
pela Lei nº 8.540, de 22.12.92)
Art. 56. A aposentadoria por idade do trabalhador rural, uma vez cumprido o período de
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carência exigido, será devida aos segurados a que se referem a alínea “a” do inciso I, a
alínea “j” do inciso V e os incisos VI e VII do caput do art. 9º e aos segurados garimpeiros
que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido
no § 5º do art. 9º, quando completarem cinquenta e cinco anos de idade, se mulher, e
sessenta anos de idade, se homem. (grifos nossos)
Nos termos do art. 25, da Portaria 450/20, o “garimpeiro que trabalha em regime de economia
familiar terá acesso ao benefício de aposentadoria por idade com redução do requisito etário”. Assim, todo
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garimpeiro é contribuinte individual, mas comprovando que exerce sua atividade em regime de economia
familiar, fará jus à idade reduzida para se aposentar. Nada obstante, como contribuinte individual que é,
precisa recolher obrigatoriamente para computar o tempo de carência.
Já o segurado especial e o pescador artesanal que laboram em regime de economia familiar não
souza -- CPF:
precisam recolher, mas apenas comprovar o regime de subsistência de suas atividades. Com isso, não
havendo contribuições efetivas do segurado especial, deve-se dar aplicação ao disposto no art. 29, §6º, da
Marceli souza
Nessas condições de não contributividade, aplica-se a regra acima, conjugada com a norma do art.
39, I e II, da Lei n.º 8.213/1991. Isso significa que os segurados especiais que não recolherem farão jus aos
benefícios no valor de 1 salário-mínimo, enquanto que, caso eventualmente recolham, terão o salário de
benefício calculado na forma do art. 26, da Emenda Constitucional n.º 103 (média aritmética de todos os
salários de contribuição desde a competência julho/1994 ou a última recolhida em caso de filiação posterior
àquela). É o art. 39, I, da Lei n.º 8.213/1991, a pedra de toque para a previsão do direito aos benefícios de 1
salário-mínimo para os segurados especiais. Vejamos:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do caput do art. 11 desta Lei,
fica garantida a concessão
I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de
pensão, no valor de 1 (um) salário-mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art.
86 desta Lei, desde que comprovem o exercício de atividade rural, ainda que de forma
162
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
De outro lado, em sendo o caso de trabalhadores rurais que não sejam segurados especiais, bem
como garimpeiros e, ainda, segurados especiais que contribuam facultativamente na forma do art. 21, da Lei
n.º 8.212/1991, a RMI não será de apenas um salário-mínimo. Nesses casos, a RMI será calculada pela
aplicação do coeficiente de 70% sobre o salário de benefício, com o acréscimo de 1% a cada ano de
contribuição. Assim, por exemplo, em havendo 20 anos de contribuição, um garimpeiro poderá se aposentar
com uma RMI de 90% de seu salário de benefício (20 x 1% = 20% + 70% = 90%).
O art. 56, § 2º, do Decreto 3.048/99, ratifica isso:
Veja-se, pois, que a Constituição Federal engloba na redução do requisito etário não apenas o
Marceli souza
trabalhador rural, mas também o garimpeiro e o pescador artesanal. Quanto aos trabalhadores rurais, ao
tratar o requisito de redução da idade mínima o Constituinte não dirigiu a norma apenas aos trabalhadores
Marceli
braçais empregados, mas também aos produtores rurais, empregadores rurais, inclusive contribuintes
individuais rurais. O requisito etário reduzido é para todos os trabalhadores rurais. Assim, para a redução da
idade não importa se o trabalhador rural trabalha ou não em regime de economia familiar, já que a regra
constitucional desse redutor etário prevista no art. 201, § 7º, II, da CF/88, é indistinta a todos os
trabalhadores rurais, bem como para aqueles que laboram em regime de economia familiar.
Em síntese, o requisito etário reduzido para esse tipo de aposentadoria destina-se a todo e qualquer
tipo de trabalhador rural, assim entendidos os empregados rurais, os contribuintes individuais rurais, os
trabalhadores avulsos rurais e os segurados especiais (sendo que esses últimos são o pequeno produtor rural
em regime de economia familiar, o garimpeiro e o pescador artesanal). Todos esses trabalhadores rurais e
trabalhadores em regime de economia familiar, neles incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador
artesanal terão o direito de se aposentarem com 60 anos, se homens, e 55 anos, se mulheres.
Quanto à carência, o § 2º, do art. 48, da Lei n.º 8.213/1991, exige que o trabalhador rural deve
comprovar o efetivo exercício da atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento
administrativo. Isso significa que, para ter direito àqueles requisitos etários reduzidos, o segurado deve ser
efetivamente um daqueles trabalhadores rurais quando for requerer o benefício ou que, pelo menos, tenha
163
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
adquirido o direito ao benefício quando era trabalhador rural. Ambos os requisitos – idade e carência –
devem ser cumpridos quando o segurado ainda era um trabalhador rural.
Por exemplo, na situação hipotética em que um segurado tenha trabalhado 15 anos como
trabalhador rural no interior do Mato Grosso, mas quando ele tinha ainda 55 anos de idade, mudou-se do
campo para a cidade, passando a ser trabalhador urbano, deixando as lides campesinas no passado. Nesse
caso, quando completar 60 anos de idade, ao tentar o benefício de aposentadoria por idade rural, já terão
passados cinco anos desde que ele deixou o campo e, com isso, não poderá mais atender ao que o art. 48, §
2º, da Lei n.º 8.213/1991, exige: que o exercício da atividade rural tenha se dado no período imediatamente
anterior ao requerimento.
Em resumo, ele não será mais trabalhador rural no momento do requerimento e não poderá se
aposentar com a idade reduzida. No momento do requerimento, ele já tinha se transformado em trabalhador
urbano e, com isso, deve cumprir os requisitos da aposentadoria programada, que é de natureza urbana.
Mas o grande problema é que a lei não especifica qual é o “período imediatamente anterior”. Há
entendimento no sentido de que se deve considerar o período até o máximo de 36 meses anteriores a DER,
em analogia ao prazo máximo previsto para os períodos de graça assinalados no art. 15, da Lei n.º
8.213/1991. De outro lado, em tese, poder-se-ia argumentar pela aplicabilidade, também no caso de
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aposentadorias rurais, da aplicação da Lei n.º 10.666/03. Mas o STJ manteve em nível de precedente
qualificado esse entendimento, alçando-o ao patamar de julgado em recurso repetitivo, como se pode ver
da ementa abaixo (tema 642 de seus recursos repetitivos):
etária exigida no artigo 48, § 1º, da Lei 8.213/1991, o segurado especial deixar de exercer
atividade rural, sem ter atendido a regra transitória da carência, não fará jus à
Marceli souza
aposentadoria por idade rural pelo descumprimento de um dos dois únicos critérios
legalmente previstos para a aquisição do direito. Ressalvada a hipótese do direito
Marceli
No inteiro teor do acordão acima, restou muito clara a assertiva de que “a regra prevista no art. 3º,
§ 1º, da Lei n.º 10.666/2003 referente à desnecessidade do preenchimento dos requisitos da aposentadoria
não se aplica à aposentadoria por idade rural prevista no art. 143 da Lei 8.213/1991. Não se mostra possível
conjugar de modo favorável ao segurado especial a norma do § 1º do art. 3º da Lei n.º 10.666/2003, que
permitiu a dissociação da comprovação dos requisitos para os benefícios que especificou: aposentadoria por
tempo de contribuição, aposentadoria especial e aposentadoria por idade urbana, as quais pressupõem
contribuição” (grifo nosso).
Vejamos o quadro-resumo da aposentadoria por idade do trabalhador rural em regime de economia
familiar, isto é, do segurado especial, o que inclui o pequeno agricultor de subsistência e o pescador
artesanal:
164
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
APOSENTADORIA POR
IDADE DO Esses requisitos
TRABALHADOR RURAL também valem para o
em regime de PESCADOR ARTESANAL
economia familiar
Sobre a aposentadoria programada, trata-se de benefício não programado por razões óbvias, pois
ninguém se programa para em algum momento da sua vida ficar incapaz para o trabalho, muito menos de
forma total e permanente. Sendo assim, foi de bom grado a mudança promovida pela Emenda Constitucional
103 no que toca à alteração da nomenclatura até então adotada.
Assim, em relação à Emenda 103, houve alteração da nomenclatura para a aposentadoria decorrente
de incapacidade total e permanente. Antes da reforma previdenciária de 2019 o nome deste benefício era
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“aposentadoria por invalidez”. Nos termos do art. 40, da Portaria 450, a “aposentadoria por invalidez passa
a ser chamada aposentadoria por incapacidade permanente e poderá ser concedida nas modalidades
previdenciária e acidentária”. Com efeito, temos que a aposentadoria por incapacidade permanente pode
souza -- CPF:
ser acidentária ou previdenciária. Nesse ponto, a expressão adotada não é das melhores, porque mesmo
sendo uma aposentadoria por incapacidade permanente decorrente de algum tipo de acidente, seja ele de
Marceli souza
trabalho ou não, continua esse benefício mantendo sua natureza previdenciária, já que depende da
verificação do cumprimento de requisitos gerais atinentes à qualidade de segurado e carência.
Marceli
De todo modo, vale a lembrança de que, em sendo uma incapacidade oriunda de acidente de
trabalho, o respectivo pedido de concessão de benefício deverá ser dirigido à Justiça Estadual, ante a ressalva
expressa dada pelo Constituinte Originário no art. 109, inciso I, da Constituição Federal de 1988:
O trato da definição de acidente de trabalho em nosso ordenamento jurídico não se encerra em sua
definição estrita. O art. 20, da Lei n.º 8.213/1991, amplia a noção desse conceito e indica algumas situações
que são equiparadas a acidente de trabalho. Vejamos o art. 20, da referida lei de benefícios da previdência
social:
Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes
entidades mórbidas:
165
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído
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diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o
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trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;
II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de:
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de
trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao
trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de
trabalho;
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IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
Marceli souza
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta
dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do
meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que
seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras
necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado
no exercício do trabalho.
§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que,
resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do
anterior. (grifos nossos)
Quanto às normas que regem a aposentadoria por incapacidade permanente são as seguintes: a) art.
201, I, da CF/88; b) arts. 42 a 47, da Lei n.º 8.213/91; c) arts. 43 a 50, do Decreto n.º 3.048/99; d) arts. 40 a
42, da Portaria 450/20; e) arts. 213 a 224, da IN 77/15.
Como o próprio nome já diz, trata-se de benefício não programado cujo fato gerador é a incapacidade
total e permanente. Na letra da lei, conforme os art. 42, da Lei de Benefícios e art. 43, do Regulamento da
Previdência Social, o fato gerador é a incapacidade “insusceptível de reabilitação para o exercício de
atividade que lhe garanta a subsistência”. A norma previdenciária, assim, exige que se constate a
166
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
incapacidade total para o trabalho, isto é, não apenas para a atividade habitual do segurado, mas também
para qualquer outra que lhe possa, em tese, garantir a subsistência.
A incapacidade, conforme reza o art. 43, § 1º, do RPS, deverá ser verificada por meio de exame
médico-pericial a cargo da perícia médica federal, de modo que o segurado possa, às suas expensas, ser
acompanhado por médico de sua confiança. Note que o segurado pode levar para a perícia médica do INSS
um médico de sua confiança. É na perícia médica a cargo da perícia médica federal que o segurado terá seu
afastamento do trabalho avaliado. Não necessariamente haverá um auxílio por incapacidade temporária
anterior à aposentadoria, na medida em que se a incapacidade for constatada em seu grau máximo, logo na
primeira avaliação médica, o INSS deverá conceder imediatamente a aposentação do segurado. As hipóteses
de conclusão possíveis decorrentes da perícia médica federal são as seguintes:
a) inexistência de incapacidade,
b) existência de incapacidade parcial e/ou meramente temporária, o que vai gerar o benefício de
auxílio por incapacidade temporária; ou,
c) por fim, em havendo constatação de incapacidade total e permanente, insuscetível de
reabilitação para qualquer atividade que lhe garanta a subsistência, o segurado será aposentado
por incapacidade permanente.
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internos de revisão daqueles benefícios por incapacidade, tal como, por exemplo, a portaria nº 914, de 6 de
agosto de 2021, que dispõe “sobre os procedimentos de operacionalização do Programa de Revisão dos
Benefícios por Incapacidade – PRBI”. O art. 4º, § 3º, da referida Portaria, deixa bem claro que, no “caso de
não atendimento da convocação no prazo estabelecido no caput, o benefício será suspenso”.
souza -- CPF:
O art. 43, § 4º, da Lei de Benefícios assevera que o “segurado aposentado por invalidez poderá ser
Marceli souza
convocado a qualquer momento para avaliação das condições que ensejaram o afastamento ou a
aposentadoria, concedida judicial ou administrativamente, observado o disposto no art. 101 desta Lei”.
Marceli
Cabe chamar à atenção, assim, nos termos do art. 101, caput, que:
a) essa convocação pode ocorrer a qualquer momento;
b) essa convocação pode ocorrer mesmo que o benefício tenha sido concedido judicialmente.
O art. 101, da Lei n.º 8.213/1991, portanto, reforça a regra do art. 43, § 4º, da Lei n.º 8.213/1991.
Assim, em relação ao segurado em gozo de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, bem como o
pensionista inválido serão obrigados, sob pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a
cargo da Previdência Social. Além disso, o citado artigo também determina outras obrigações, sob pena de
suspensão das prestações:
• processo de reabilitação profissional por ela prescrito e custeado, e
• tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são
facultativos.
Essa é a regra: convocação para exame revisional a qualquer tempo e ainda que o benefício tenha
decorrido de determinação judicial. No entanto o art. 101, § 1º, da Lei n.º 8.213/1991, também indica
exceções.
Assim, esse referido artigo especifica hipóteses diante das quais o INSS não pode mais convocar o
segurado para o exame médico pericial de revisão. Esse dispositivo é dirigido não apenas ao segurado
167
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
aposentado por incapacidade permanente e ao pensionista inválido, ou seja, aquele dependente habilitado
para fins de pensão por morte na condição de filho ou irmão inválido, conforme art. 16, da Lei de Benefícios,
mas também ao segurado em gozo de auxílio por incapacidade temporária. Cabe anotar, entretanto, que
para os segurados que estão recebendo benefício de auxílio por incapacidade temporária, o dispositivo
complementa outro sistema de revisão da incapacidade. Isso, pois, quanto aos segurados em gozo de auxílio
por incapacidade temporária, vigora a regra da “alta programada”, que será estudada oportunamente,
quando formos tratar desse benefício.
Tratemos das exceções. Para que o segurado – e o pensionista inválido - incidam nessas exceções, a
primeira questão a ser identificada é se houve retorno ou não ao trabalho. Além dessa primeira questão,
existem outros requisitos cumulativos para que haja a isenção da obrigação de comparecimento à perícia
médica revisional. Esses outros requisitos são ligados à idade do beneficiário, bem como ao tempo de
duração do benefício por incapacidade.
A regra, assim, é a possibilidade de convocação para perícia médica a fim de se promover a
verificação da persistência das condições médicas do segurado, ainda que ele tenha sido aposentado por
incapacidade permanente. Somente não serão convocados à perícia médica de revisão, portanto, se:
• não tiverem retornado ao trabalho e já tenham 55 anos de idade ou mais e já estejam recebendo
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Mas, de outro lado, existem as exceções das exceções! Mesmo nas hipóteses acima, os segurados
serão convocados nas seguintes situações:
1º. a verificação da necessidade de assistência permanente de outra pessoa (a chamada “grande
invalidez”), o que resulta no acréscimo de 25% na RMI da aposentadoria;
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2º. a verificação da recuperação da capacidade de trabalho, mas desde que, nesse caso, haja a
solicitação do aposentado ou pensionista;
3º. a verificação de invalidez para fins de curatela, para subsidiar autoridade judiciária.
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coisa julgada. Contudo, com ressalvas óbvias, pois permitir a ampla possibilidade de revisão administrativa
de sentenças judiciais é chancelar uma interferência totalmente anômala de um Poder em outro, ferindo de
Marceli
morte, além disso, a garantia fundamental da inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXVI). Nessa
seara, portanto, o INSS deverá comprovar cabalmente que as condições médicas que o Juízo conheceu e
assinalou na sentença foram, de fato, alteradas. Se houve a certificação judicial, com trânsito em julgado, de
que o segurado estava incapaz de modo total e permanente, o INSS não pode simplesmente fazer uma nova
perícia e, sem fundamentação médica detalhada, ultrapassar o laudo médico que foi acolhido no processo
judicial.
Acerca da extensão dos beneficiários possíveis para receberem a aposentadoria por incapacidade
permanente, não há restrições no RGPS. todos os segurados têm direito a esse benefício.
Em relação à carência exigida para a aposentadoria por incapacidade permanente, temos que, de
acordo com o art. 5º, da Portaria 450, ela será de 12 contribuições mensais, mesmo após a EC n.º 103, senão
vejamos:
Art. 5º Fica mantida a carência disciplinada pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
mantendo-se, assim, a exigência de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais para as
aposentadorias programáveis e de 12 (doze) contribuições para a aposentadoria por
incapacidade permanente previdenciária, antiga aposentadoria por invalidez
previdenciária, classificada como não-programável. (grifos nossos)
168
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais;
Já no Decreto n.º 3.048/1999, na redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020, repete-se o
mandamento legal:
Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
I - doze contribuições mensais, nos casos de auxílio por incapacidade temporária e
aposentadoria por incapacidade permanente (...)
Cabe lembrar que, no caso de aposentadoria por incapacidade permanente acidentária, vale a
mesma regra aplicável ao auxílio por incapacidade temporária, segundo a qual é isento de carência o
segurado que sofrer acidente de qualquer natureza.
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Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II do art. 26,
independe de carência a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez ao
segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das seguintes doenças: tuberculose
souza -- CPF:
A respeito da renda mensal inicial da aposentadoria por incapacidade permanente, seu cálculo deve,
desde 13/11/2019, ser extraído do art. 26, caput, da Emenda 103:
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
§ 1º A média a que se refere o caput será limitada ao valor máximo do salário de
contribuição do Regime Geral de Previdência Social para os segurados desse regime e para
o servidor que ingressou no serviço público em cargo efetivo após a implantação do regime
de previdência complementar ou que tenha exercido a opção correspondente, nos termos
do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 da Constituição Federal.
§ 2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
média aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º, com acréscimo de 2 (dois)
169
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
de contribuição nos casos:
I - do inciso II do § 6º do art. 4º, do § 4º do art. 15, do § 3º do art. 16 e do § 2º do art. 18;
II - do § 4º do art. 10, ressalvado o disposto no inciso II do § 3º e no § 4º deste artigo;
III - de aposentadoria por incapacidade permanente aos segurados do Regime Geral de
Previdência Social, ressalvado o disposto no inciso II do § 3º deste artigo; e
IV - do § 2º do art. 19 e do § 2º do art. 21, ressalvado o disposto no § 5º deste artigo.
§ 3º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 100% (cem por cento) da média
aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º:
I - no caso do inciso II do § 2º do art. 20;
II - no caso de aposentadoria por incapacidade permanente, quando decorrer de acidente
de trabalho, de doença profissional e de doença do trabalho.
§ 4º O valor do benefício da aposentadoria de que trata o inciso III do § 1º do art. 10
corresponderá ao resultado do tempo de contribuição dividido por 20 (vinte) anos, limitado
a um inteiro, multiplicado pelo valor apurado na forma do caput do § 2º deste artigo,
ressalvado o caso de cumprimento de critérios de acesso para aposentadoria voluntária que
resulte em situação mais favorável.
§ 5º O acréscimo a que se refere o caput do § 2º será aplicado para cada ano que exceder
15 (quinze) anos de tempo de contribuição para os segurados de que tratam a alínea "a" do
inciso I do § 1º do art. 19 e o inciso I do art. 21 e para as mulheres filiadas ao Regime Geral
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de Previdência Social.
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O Decreto n.º 3.048/1999, com as alterações feitas pelo Decreto n.º 10.410/2020, reverberam as
normas acima, senão vejamos:
souza -- CPF:
Art. 44. A aposentadoria por incapacidade permanente será devida a partir do dia imediato
ao da cessação do auxílio por incapacidade temporária, ressalvado o disposto no § 1º, e
Marceli souza
I - sessenta por cento, com acréscimo de dois pontos percentuais para cada ano de
contribuição que exceder o tempo de vinte anos de contribuição, para os homens, ou quinze
anos de contribuição, para as mulheres; ou
II - cem por cento, quando a aposentadoria decorrer de:
a) acidente de trabalho;
b) doença profissional; ou
c) doença do trabalho.
Primeiramente deverá ser calculado o salário de benefício, com base na média aritmética de 100%
do período básico de cálculo do segurado, considerado esse o período contributivo desde a competência
julho de 1994 ou desde o início da contribuição, se posterior àquela competência. A partir disso, aplica-se o
coeficiente de partida de 60% sobre o SB (salário de benefício). A norma temporária do art. 26, da EC 103,
ademais, permite que ao coeficiente de 60% possa se somar 2% a cada ano que ultrapassar: a) 15 anos de
contribuição, para mulheres; b) 20 anos de contribuição, para homens.
Nas regras acima, a Emenda 103, por seu art. 26, §1º, determina que haja a limitação da RMI a 100%
do salário de benefício. Isso quer dizer que, caso o segurado tenha tempo de contribuição suficiente para a
cada ano ir obtendo o acréscimo de 2%, será possível que esse acréscimo atinja mais do que 100% do SB.
170
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Contudo há uma norma de cálculo da RMI para a aposentadoria por incapacidade permanente que se aplica
especificamente para os casos de incapacitação decorrente de:
• acidente de trabalho;
• doença profissional e de;
• doença do trabalho.
Nesses casos, a RMI será calculada com base em 100% do SB encontrado, independentemente do
tempo de contribuição do segurado. Além disso, a melhor interpretação é que, tal como na regra relativa aos
casos não derivados de acidente de trabalho e afins, no caso dessas incapacitações laborais e equiparadas a
renda mensal inicial não se limitará, igualmente, a 100% do salário de benefício, desde que não ultrapasse o
teto da previdência, por óbvio. Isso quer dizer que os acréscimos de 2% a cada ano que exceder o tempo
mínimo de 15 anos para mulheres e 20 anos para homens poderão ultrapassar 100% do salário de benefício,
mas limitado ao TETO dos benefícios da previdência social. Isso significa que se um segurado homem sofrer
acidente de trabalho e já contar com 45 anos de contribuição, ele poderá aplicar o acréscimo de 2% a cada
ano que ultrapassar os 20 anos de contribuição de modo a ultrapassar, na soma, os 100% do seu salário de
benefício. Assim, 2% x 25 anos, o acréscimo será de 50% sobre o coeficiente de partida (sim, não será 50% +
100%), de sorte que a RMI de sua aposentadoria será de 110% do salário de benefício.
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É importante lembrar, também, da previsão legal que permite o aumento da RMI em 25%, tal como
previsto no art. 45, da Lei n.º 8.213/1991:
Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência
permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).
Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:
a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal;
b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;
CPF: 073.496.444-77
Já o RPS, com redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020 assim diz:
souza -- CPF:
Art. 45. O valor da aposentadoria por incapacidade permanente do segurado que necessitar
da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de vinte e cinco por cento,
Marceli souza
Haverá o acréscimo mesmo que a aposentadoria atinja teto do RGPS. O segurado que faz jus ao
acréscimo da grande invalidez pode ter, portanto, sua RMI calculada na base de 125% de seu salário de
benefício, podendo “furar” o limite máximo do salário de contribuição do RGPS. De outro lado, é um
acréscimo personalíssimo, pois se refere à condição médica do aposentado por incapacidade permanente,
que necessita de terceiros para cuidados diários. É comum nas perícias judiciais, inclusive, um quesito que
indaga se o periciando possui necessidade de assistência permanente e se tem condição de ter uma vida
independente com relação a cuidados pessoais, etc. Em sendo personalíssimo, o acréscimo referente à
grande invalidez cessa com a morte do segurado, de modo que não entra na RMI da pensão por morte
derivada da aposentadoria do segurado falecido.
Com relação às possíveis hipóteses nas quais o segurado terá direito ao acréscimo do art. 45, da Lei
de Benefícios, o Regulamento da Previdência Social indica em seu Anexo I um rol de incapacidades que
presumidamente se enquadra na grande invalidez. Tem-se, contudo, um rol meramente exemplificativo na
lista de incapacidades indicadas naquele anexo.
171
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Também é importante lembrar que o STF, no julgamento do Tema 1095 de sua repercussão geral,
entendeu ser vedada a extensão do referido adicional a outras hipóteses de aposentadoria. A tese firmada
pela Corte Suprema foi assim definida:
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), somente lei pode criar ou ampliar
benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão de extensão do
auxílio da grande invalidez a todas às espécies de aposentadoria.
Com isso, não possui mais aplicabilidade o quanto decidido pelo STJ, quando do julgamento do Tema
982 de seus recursos repetitivos, cujo julgamento havia permitido a extensão daquele adicional para outras
aposentadorias.
A respeito da DIB da aposentadoria por incapacidade permanente, ela pode derivar da conversão do
auxílio por incapacidade temporária ou ser concedida diretamente pelo INSS. Na primeira hipótese, a
aposentadoria iniciará no dia imediato à cessação do auxílio, enquanto que, em não havendo esse, a DIB da
aposentadoria corresponderá ao 16º dia de afastamento para os segurados empregados (exceto o
doméstico) e no primeiro dia afastamento pra os demais segurados, desde que o afastamento seja maior do
que 15 dias. Nessa segunda hipótese, caso o pedido administrativo tenha sido feito após 30 dias do início do
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afastamento, a aposentadoria será devida desde a DER. Quando não houver prévio requerimento
administrativo, aplica-se a Súmula 576 do STJ:
Cabe registrar, contudo, que essa súmula foi editada antes do Tema 350 do Supremo Tribunal
CPF: 073.496.444-77
Federal, que fixou a tese relativa à indispensabilidade do prévio requerimento administrativo para que se
configure o interesse de agir na ação judicial. Assim, a Súmula 576 do STJ, deve ser lida nessas circunstâncias,
tais como a hipótese de reconhecimento da incapacidade permanente somente no curso do processo. É
comum que os pedidos judiciais atinentes à incapacidade do segurado sejam declinados em nível subsidiário
souza -- CPF:
e cumulativo, isto é, são formulados de modo a, não sendo concedida a aposentadoria por invalidez, que seja
então considerado o pedido de auxílio por incapacidade temporária. Em paralelo, também é frequente que
Marceli souza
decisões judiciais entendam que uma incapacidade tida como parcial pela perícia médica judicial seja
Marceli
considerada como total, levando em conta aspectos relativos à idade da parte, ao seu histórico profissional
limitado e, bem assim, à baixa instrução. Com isso, nessas ocasiões, pode-se ter como válida a aplicação da
Súmula 576, do STJ, de modo a considerar o início da aposentadoria por invalidez na data da citação,
mantendo os atrasados desde a DER – e até a citação – apenas no importe respectivo do auxílio por
incapacidade temporária.
Em relação à cessação da aposentadoria por incapacidade permanente, ela é regulada pelos arts. 47
e 49, da Lei n.º 8.213/1991, enquanto no Regulamento a questão é dirimida pelo art. 49. Em suma, a
aposentadoria por incapacidade permanente somente cessa com a morte do segurado, caso a sua
capacidade para o trabalho não seja atestada em alguma perícia revisional, conforme já abordamos. Caso
ocorra essa última hipótese, em se verificando a recuperação da capacidade do segurado, a norma
previdenciária estabelece uma distinção entre a recuperação dentro do prazo de cinco anos da
incapacitação ou maior do que cinco anos, a fim de que se estabeleça o prazo de cessação do benefício.
Nessa última hipótese, fala-se da chamada mensalidade de recuperação. Portanto, para os casos de
recuperação da capacidade laboral no prazo de 5 anos, há duas hipóteses de cessação, conforme a categoria
do segurado:
172
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
1º) sendo segurado empregado que tenha o direito de retornar imediatamente à função que
desempenhava na empresa ao se aposentar, na forma da legislação trabalhista (ou seja, na forma
do art. 475, da CLT35)36, a da aposentadoria será imediata. Essa cessação é imediata por conta do
direito trabalhista que assegura a estabilidade temporária do segurado afastado por acidente de
trabalho ou fato equiparado a acidente de trabalho.
2º) para os demais segurados, se a recuperação ocorrer antes de 5 anos, as prestações da
aposentadoria serão prolongadas por tantos meses quantos forem os anos de duração do auxílio
por incapacidade temporária e da aposentadoria por incapacidade permanente. Assim, por
exemplo, se o benefício durou 4 anos, a mensalidade de recuperação durará 4 meses.
Já para os casos de recuperação da capacidade laboral no prazo maior do que 5 anos, há a previsão
de cessação gradual, senão vejamos: 1º) nos seis meses após a verificação da capacidade, o valor da
prestação continua sendo integral; 2º) após o período acima e pelo tempo de seis meses, a prestação cai
para 50% do valor anterior; 3º) por fim, após os períodos acima e por mais seis meses, a prestação cai mais
25% em relação ao valor anterior, ou seja, passa a ter uma redução de 75% do valor inicial da aposentadoria.
Mas, atenção: o pagamento da mensalidade de recuperação de forma gradual, tal como supracitado,
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também ocorrerá quando a recuperação for parcial para o trabalho ou quando o segurado for declarado apto
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para o exercício de outra atividade. Nesses casos, independentemente do tempo de duração do benefício
por incapacidade, não importa se maior ou menor do que cinco anos, haverá sempre a mensalidade de
recuperação paga de forma gradual, isto é, com redução de 6 em 6 meses.
Finalizaremos com o quadro-resumo das características básicas e dos requisitos do benefício.
APOSENTADORIA POR
CPF: 073.496.444-77
INCAPACIDADE PERMANENTE
RMI = calculada na
Incapacidade absoluta 12 meses de
carência forma do art. 26, da EC
(total e permanente)
103.
souza -- CPF:
35 Art. 475 - O empregado que for aposentado por invalidez terá suspenso o seu contrato de trabalho durante o prazo fixado pelas
leis de previdência social para a efetivação do benefício. § 1º - Recuperando o empregado a capacidade de trabalho e sendo a
aposentadoria cancelada, ser-lhe-á assegurado o direito à função que ocupava ao tempo da aposentadoria, facultado, porém, ao
empregador, o direito de indenizá-lo por rescisão do contrato de trabalho, nos termos dos arts. 477 e 478, salvo na hipótese de ser
ele portador de estabilidade, quando a indenização deverá ser paga na forma do art. 497. (Redação dada pela Lei nº 4.824, de
5.11.1965) § 2º - Se o empregador houver admitido substituto para o aposentado, poderá rescindir, com este, o respectivo contrato
de trabalho sem indenização, desde que tenha havido ciência inequívoca da interinidade ao ser celebrado o contrato.
36 Súmula n.º 160 do Tribunal Superior do Trabalho: “Cancelada a aposentadoria por invalidez, mesmo após cinco anos, o trabalhador
terá direito de retomar ao emprego, facultado, porém, ao empregador, indenizá-lo na forma da lei”.
173
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Em relação a aposentadoria especial, é muito importante se ter em mente que houve mudança
significativa por meio da Emenda 103. Após a redação dada por essa emenda constitucional, o inciso II, do §
1º, do art. 201, CF/88, agora, é mais detalhista e minucioso. Antes, a expressão era muito ampla: condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Agora, de antemão, o Constituinte já aponta quais
são as condições especiais que prejudicam a saúde: unicamente aquelas atividades exercidas com efetiva
exposição a agentes nocivos químicos, físicos e biológicos, ou a associação desses.
Quanto ao agente periculosidade, ele não se encontra mais no texto constitucional. É que a norma
constitucional antes previa que a aposentadoria especial era devido ao trabalhador que estivesse exposto a
agentes prejudiciais à saúde ou a sua integridade física. Essa última expressão foi retirada do texto
marceliangel@hotmail·com
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constitucional e, com isso, entende-se que não há mais fundamento para a concessão de aposentadoria
especial com base no agente periculosidade, a partir de 13/11/2019. Todavia, o texto do art. 57, da Lei n.º
8.213/1991 ainda menciona aquela expressão. Ademais, deve-se ter em mira que a jurisprudência da TNU e
do STJ entendeu que é possível a concessão de aposentadoria especial com base na periculosidade mesmo
após o Decreto n.º 2.172/1997. A jurisprudência da TNU e do STJ ainda não se manifestou sobre a supressão
da expressão “integridade física” do texto constitucional, de modo que, até eventual superação (overruling)
dos precedentes firmados, continua valendo a possibilidade judicial de concessão de aposentadoria especial
CPF: 073.496.444-77
material equivalente) comprove a permanente exposição à atividade nociva, com o uso de arma de fogo”.
Marceli souza
Quanto aos requisitos atuais para a aposentadoria especial, tem-se que, no âmbito
infraconstitucional, o art. 57 da Lei n.º 8.213/91, com a alteração introduzida pela Lei n.º 9.032/95, dispõe
que a aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida, ao segurado que tiver
trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física durante 15 (quinze),
20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. Portanto, pela regra constante do art. 57, da
Lei de Benefícios, a aposentadoria especial pode ser concedida com base em certos limites temporais de
exposição aos respectivos agentes nocivos. De acordo com o grau de nocividade, a lei permite que essa
exposição seja feita por até 15, 20 ou 25 anos.
Os requisitos para a concessão da aposentadoria especial, contudo, após a Emenda 103, estão
dispostos no corpo da própria emenda constitucional. O art. 19, § 1º, I, da referida emenda, funciona
atualmente como norma transitória, valendo enquanto não sobrevier uma lei complementar para
174
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
estabelecer os requisitos para a aposentadoria especial. O art. 201, §1º, II, da Constituição Federal, na
redação dada pela Emenda 103, estabelece que podem ser estabelecidos, via lei complementar, previsão de
idade e tempo de contribuição distintos para os trabalhadores expostos aos agentes prejudiciais à saúde. E,
na medida em que essa lei complementar ainda não foi editada, o art. 19, § 1º, I, da EC 103, funciona como
norma transitória.
Assim diz o referido dispositivo que regulamenta o art. 201, §1º, II, da CF/88:
anos de contribuição; ou
c) 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 25 (vinte e cinco)
anos de contribuição;
II - ao professor que comprove 25 (vinte e cinco) anos de contribuição exclusivamente em
efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio e tenha 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade,
se homem.
§ 2º O valor das aposentadorias de que trata este artigo será apurado na forma da lei. (grifos
CPF: 073.496.444-77
nossos)
Ao realizar a leitura atenta das novas regras permanentes para a aposentadoria especial, pode ser
concluído que:
• não consta mais possibilidade de aposentadoria especial com base em atividades que expõem o
souza -- CPF:
trabalhador ao risco de sua integridade física, constando apenas que é possível benefício com
Marceli souza
As idades mínimas variam conforme o tempo de exposição ao agente nocivo. Em relação a esse
tempo, lembro que ele deve representar efetivo tempo de contribuição, especialmente porque a EC 103
também vedou expressamente qualquer contagem de tempo ficto após 13/11/2019, conforme inclusão do
§ 14, ao art. 201, da CF/88 (§ 14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de
concessão dos benefícios previdenciários e de contagem recíproca). Sendo assim, serão exigidas as idades
de:
• 55 anos, para o tempo de contribuição/exposição de 15 anos aos agentes nocivos;
• 58 anos, para o tempo de contribuição/exposição de 20 anos aos agentes nocivos;
• 60 anos, para o tempo de contribuição/exposição de 25 anos aos agentes nocivos.
175
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Com relação ao cálculo da RMI, será ela feita com base no art. 26, caput, da Emenda Constitucional
n.º 103. Ademais, não há que se falar mais em incidência de fator previdenciário. Na hipótese de atividade
especial com tempo mínimo de 15 anos de contribuição, incide o § 5º, do art. 26, da EC 103, ou seja, será
possível o acréscimo de 2% para cada ano que sobejar 15 anos de contribuição, independentemente de o
requerente da aposentadoria ser homem ou mulher.
Frisa-se, novamente, que o Constituinte também deixou clara a vedação da caracterização por
categoria profissional ou ocupação, fazendo isso de modo irrestrito. Perceba que isso almeja impedir a
interpretação jurisprudencial que se formou a respeito do reconhecimento de atividades especiais por mero
enquadramento ou ocupação profissional com base na norma da época. Isso porque, é de se notar que,
mesmo para os filiados antes da Emenda 103, a norma de transição estabelecida no art. 21 da Emenda proibiu
a caracterização da atividade especial por categoria profissional ou ocupação profissional, o que denota
possível violação à jurisprudência acima mencionada, que visa à proteção do ato jurídico perfeito e do direito
adquirido.
Se a norma de transição é dirigida aos segurados filiados anteriormente à Emenda 103, isso significa
que eles podem ter, em período anterior a 1995 (ano a partir do qual se extinguiu a aposentadoria
profissional pelo mero enquadramento), atividades consideradas especiais pelo simples enquadramento em
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Art. 21. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de
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Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada
em vigor desta Emenda Constitucional cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva
exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que
cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no
souza -- CPF:
serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria,
na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se
Marceli souza
176
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A respeito da conversão do tempo especial em comum, até a Emenda 103, isso era permitido. No
regramento anterior, exercendo o segurado uma ou mais atividades sujeitas a condições prejudiciais à saúde
sem que, no entanto, tenha complementado o prazo mínimo para aposentadoria especial, era permitida a
conversão de tempo de serviço prestado em condições especiais em tempo de serviço comum, para fins de
concessão de aposentadoria por tempo de contribuição.
CPF: 073.496.444-77
Já vimos que a aposentadoria por tempo de contribuição não existe mais nas regras permanentes de
nossa Constituição e, bem assim, de nosso ordenamento jurídico-previdenciário, tendo sido substituída pela
aposentadoria programada. Nada obstante, em havendo conversão de atividades especiais em comum,
prestadas no máximo até 13/11/2019, elas poderão ser convertidas em tempo comum para fins de obtenção
souza -- CPF:
da antiga aposentadoria por tempo de contribuição, com espeque no direito adquirido. Assim, feita a
Marceli souza
conversão, se o segurado tiver reunido o tempo total de 35 anos de contribuição, se homem, ou 30 anos, se
mulher, poderá se aposentar por tempo de contribuição com base na regra do art. 3º, da Emenda 103, a qual
Marceli
Como se vê, é possível converter o tempo especial em comum, desde que cumprido até a data de
entrada em vigor da Emenda 103. Dessa maneira, as atividades prestadas sob condições especiais que se
efetivaram sob os critérios estabelecidos pela lei vigente à época em que o segurado realizou o
correspondente labor passam a integrar, repito, como direito autônomo, o patrimônio jurídico do
trabalhador. Eventual alteração ocorrida na legislação, posteriormente, não pode ser aplicada
177
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
retroativamente, mesmo que não mais se reconheça aquela atividade como especial. Essa alteração
normativa, então, não retira do trabalhador o direito à contagem do tempo de serviço na forma
anteriormente adquirida, sendo este o entendimento pacificado do Superior Tribunal de Justiça, ao se
considerar o princípio tempus regit actum para tal desiderato.
Cabe registrar, de outro lado, que tramita no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de
Inconstitucionalidade n.º 6309, que, dentre outros dispositivos, aponta a inconstitucionalidade do art. 25, §
2º, da EC 103. A referida ação de controle de constitucionalidade em abstrato, contudo, ainda não produziu
nenhuma decisão, continuando a valer, com isso, a presunção de constitucionalidade da norma prevista no
art. 25, § 2o, da EC 103, bem como outras que também são alvo de impugnação.
Em relação à aposentadoria especial, ainda, devemos observar que é possível a concessão do
benefício conforme os requisitos anteriores a Emenda 103, com espeque na regra de direito adquirido
demarcada no art. 3º, da referida emenda constitucional:
Em resumo, pode-se ter concessão de aposentadoria especial conforme: a) regras anteriores, com
base no direito adquirido; b) regras de transição estabelecidas no art. 21, da EC 103, àqueles segurados que
já estavam filiados ao RGPS antes da vigência da EC 103, mas não conseguiram reunir os requisitos para a
aposentadoria especial com base no direito adquirido; c) regras atuais previstas no art. 19, § 1º, I, da EC 103.
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De todo modo, por quais dessas regras, é de todo evidente que deve haver respeito do ato jurídico
perfeito, ao direito adquirido e ao princípio tempus regit actum, de maneira que os períodos de atividade
especial prestados até 13/11/2019 devem ser lidos sob a ótica do que até então era permitido em nosso
souza -- CPF:
especiais que eram assim tidas pelo simples enquadramento da atividade. Por exemplo, motorista de
caminhão, por si só, já era suficiente para ser considerada especial, por mero enquadramento dessa atividade
em um rol de atividades.
Após 1995, pela Lei n.º 9.032/1995, somente se passou a permitir atividades especiais que eram
assim consideradas diante da constatação técnica de que estavam efetivamente submetidas a agentes
nocivos de ordem química, física e/ou biológica. Para esse tipo de enquadramento, as normas previdenciárias
sempre exigiram comprovação por meio de formulários técnicos, assinados por engenheiros do trabalho.
Esse último tipo de consideração de atividade especial já existia, em verdade, antes de 1995, coexistindo com
a comprovação pelo mero enquadramento por categoria profissional ou ocupação.
No entanto a partir da Lei 9.032/95 somente passou a existir em nosso ordenamento jurídico – salvo
o direito adquirido em relação a atividades até então prestadas – a comprovação por meio de formulários de
demonstração efetiva da incidência não ocasional, nem intermitente, de agentes nocivos físicos, químicos e
biológicos, bem como a associação desses. Assim, a partir da vigência da Lei n.º 9.032/1995, a atividade
especial passou a ser dependente de comprovação por meio, unicamente, de formulários. Esses formulários
eram estipulados por normas infralegais de cunho administrativo. Ao longo das décadas, foram inúmeros os
tipos de formulários, sendo os mais comuns os seguintes: SB-40, DISES BE 5235, DSS-8030 e DIRBEN 8030.
178
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Somente no ano de 2004 é que passou a vigorar o formulário que temos vigente até hoje: o Perfil
Profissiográfico Previdenciário (PPP).
Além disso, antes mesmo da vigência do PPP, a lei previdenciária passou a exigir um laudo técnico
para embasar as informações contidas nos formulários até então vigentes, a fim de dar mais robustez e
higidez às informações lançadas por mera declaração do empregador em relação às atividades especiais.
Com a edição da Lei n.º 9.528/1997, portanto, passou-se a exigir laudo técnico para comprovação da efetiva
exposição aos agentes nocivos. Importante lembrar que para o agente ruído sempre foi exigido o laudo
técnico para embasar os respectivos formulários da época, mesmo antes da Lei n.º 9.528/1997.
Então, desde a Lei 9.528/97, a verificação efetiva daqueles agentes nocivos é consubstanciada em
formulário administrativo emitido pela empresa empregadora (a partir de 2004, com base no PPP), com base
em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de
segurança do trabalho (Lei n.º 8.213/1991, art.58). Deve-se acrescentar, ainda, na esteira da Súmula n.º 68
da TNU, que o laudo pericial, embora não contemporâneo ao período trabalhado, é apto para comprovar a
atividade especial. Nesse mesmo sentido, o julgamento do Tema 14, da TNU, cuja tese afirmou que, na
aposentadoria especial, a apresentação de laudo pericial extemporâneo não afasta sua força probante, desde
que não modificadas as condições do ambiente.
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Podemos sintetizar o histórico de normas que trataram da indicação do que era atividade especial e
sua forma de comprovação por meio de duas linhas:
a) normas indicadoras de atividade especial pelo mero enquadramento de categoria ou ocupação
profissional;
b) normas indicadoras de atividade especial pela comprovação da incidência dos agentes nocivos.
Ambas essas linhagens normativas foram se alterando ao longo das décadas.
Com relação às normas que permitiam o mero enquadramento das categorias profissionais, devem
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ser considerados, inicialmente, como já dito, os Decretos n.º 53.831/64 e n.º 83.080/79, até 28/04/1995,
data da extinção do reconhecimento da atividade especial por presunção legal, em virtude da Lei n.º
9.032/1995.
Acerca da forma de comprovação da atividade especial por enquadramento, conforme as leis
souza -- CPF:
aplicáveis, cabe frisar, de início, que a CTPS apresentada pelo segurado possui presunção juris tantum,
somente afastáveis por meio de prova em contrário, nos termos da jurisprudência. A presunção das
Marceli souza
anotações da CTPS somente pode ser elidida se houver a percepção de erro na anotação que possa configurar
Marceli
fraude ou simulação.
Quanto à indicação da atividade especial pela comprovação da incidência dos agentes nocivos, esses
agentes – físicos, químicos e biológicos, bem como as atividades de risco, tal como o fogo, risco de explosões,
a segurança patrimonial e de pessoas e, bem assim, a exposição ao agente eletricidade - também constavam
daqueles Decretos 53.831/64 e 83.080/79, que vigoraram (em relação à listagem dos agentes nocivos) até
05/03/1997. Nessa data, sobreveio o Decreto n.º 2.172/97, que os substituiu como uma nova listagem de
agentes nocivos. Assim, entre 06/03/1997 e 06/05/1999, deve ser considerado o Decreto 2.172/97, que
estabeleceu a lista dos agentes nocivos no seu Anexo IV. A partir de 07/05/1999, deve ser considerado o
Decreto 3.048/99 (Anexo IV), que trouxe, também, nova lista de agentes nocivos, vigente até hoje.
Em suma:
ENQUADRAMENTO POR AGENTES NOCIVOS (apenas quando
ENQUADRAMENTO DAS CATEGORIAS
comprovados efetivamente os agentes nocivos por meio de
PROFISSIONAIS (por simples consideração
respectivos formulários a serem preenchidos, com indicação dos
da categoria ou ocupação profissional)
agentes físicos, químicos e biológicos)
Até 05/03/1997: Decretos 53.831/64 e 83.080/79
Decretos 53.831/64 e 83.080/79, até
Entre 06/03/1997 e 06/05/1999: Decreto 2.172/97
28/04/1995
De 07/05/1999 até o momento: Decreto 3.048/99
179
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Quanto aos formulários técnicos exigidos para a comprovação das atividades nocivas, eis a seguinte
síntese histórica para o entendimento de como era feita a prova das atividades especiais com base na
incidência de agentes físicos, químicos e biológicos:
Cabe destacar que se entende no sentido de que há um rol exemplificativo quanto aos agentes
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submetido à sistemática do art. 543-C do Código de Processo Civil, reconheceu no julgamento do Tema 534
Marceli souza
Portanto, no que tange às atividades não enquadradas nos aludidos Decretos, é possível que venham
a ser reconhecidas como especiais, desde que, no caso concreto, comprove-se a exposição aos agentes
nocivos ali relacionados. Desse modo, pode-se afirmar que o rol de categorias profissionais é de natureza
exemplificativa, o que permite a inclusão de outras classes de trabalhadores, desde que no caso concreto
fique comprovada a exposição.
Acerca da utilização dos equipamentos de proteção individual, importante assinalar que a
disponibilidade ou utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs), por si só, não afasta a natureza
especial da atividade, porquanto as medidas de segurança não eliminam a nocividade dos agentes agressivos
à saúde, tendo apenas o condão de reduzir os seus efeitos. Contudo, o Supremo Tribunal Federal firmou as
seguintes teses no julgamento de Recurso Extraordinário submetido à repercussão geral (ARE 664335,
Relator(a): Min.º LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 04/12/2014, Acórdão Eletrônico Repercussão Geral -
Mérito DJe-029 Divulg. 11-02-2015 Public. 12-02-2015):
180
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
É necessário analisar com cuidado as teses acima. O Supremo Tribunal Federal afirma que se a
utilização de EPI for realmente eficaz (leia-se: realmente neutralizador), ou seja, capaz de neutralizar a
nocividade, não haverá respaldo à concessão da aposentadoria especial. Em outras palavras, a simples
menção de EPI eficaz pelo empregador no âmbito do PPP não descaracteriza o tempo de serviço especial da
aposentadoria, pois é necessário que haja realmente a neutralização.
A indicação da eficácia do EPI permite inferir que houve proteção, mas o que se questiona é até que
ponto sua função protetiva chegou, ou seja, se houve realmente o afastamento total e, por conseguinte,
neutralização, dos agentes nocivos. Ou, ainda, se houve afastamento parcial e até que ponto isso
efetivamente interferiu positivamente na proteção da saúde do trabalhador. Com efeito, há, de certa forma,
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presunção legal da nocividade do agente físico, químico e/ou biológico, a favor do segurado (em outros
termos, a favor da caracterização da atividade especial). A lei, previamente, já diz que, havendo exposição
permanente, afigura-se a nocividade à saúde e, com isso, nasce a caracterização da atividade especial. A
menção pura e simples em PPP de uma possível eficácia não pode levar à quebra dessa presunção sem a
indicação de elementos técnicos e precisos para tanto.
Tanto é assim que a tese 2 explanada acima aduz que, quanto ao ruído, não basta a simples menção
em PPP de que o EPI é eficaz, justamente por conta da presunção anterior e legal acerca de aquele agente
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fundamentação, nas bases da fixação das teses, deixou transparecer o mesmo prisma de entendimento aqui
Marceli souza
adotado. Disse a Corte Suprema que, em caso “de divergência ou dúvida sobre a real eficácia do Equipamento
de Proteção Individual, a premissa a nortear a Administração e o Judiciário é pelo reconhecimento do
Marceli
direito ao benefício da aposentadoria especial. Isto porque o uso de EPI, no caso concreto, pode não se
afigurar suficiente para descaracterizar completamente a relação nociva a que o empregado se submete”.
Eis o quadro-resumo da aposentadoria especial por agentes nocivos, conforme regime anterior a EC
n.º 103:
Vejamos, agora, o quadro-resumo da aposentadoria especial por agentes nocivos, conforme regime
previsto para a regra de transição do art. 21, da EC 103:
181
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
exposição
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Vejamos, por fim, o quadro-resumo da aposentadoria especial por agentes nocivos conforme a regra
atual prevista no art. 19, § 1º, I, da EC 103:
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filiação posterior à
13/11/2019
variável conforme o
tempo de exposição ao
Marceli souza
agente nocivo
Marceli
Quanto às aposentadorias dos professores vinculados ao RGPS, temos no art. 19, II, da EC 103, a
previsão de seus requisitos atuais:
182
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 19. Até que lei disponha sobre o tempo de contribuição a que se refere o inciso I do §
7º do art. 201 da Constituição Federal, o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência
Social após a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional será aposentado aos
62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, com 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, se mulher, e 20(vinte) anos de
tempo de contribuição, se homem.
§ 1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de
contribuição prevista nos §§ 1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida
aposentadoria:
(...)
II - ao professor que comprove 25 (vinte e cinco) anos de contribuição exclusivamente em
efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e
médio e tenha 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade,
se homem.
A regra é acima é norma transitória, vigendo enquanto não for editada a lei ordinária prevista no art.
201, § 7º, I, da CF/88, que trata da aposentadoria com requisitos diferenciados para os professores. Os
requisitos da aposentadoria do professor tomam em consideração o disposto no art. 201, § 7º, I, que trata
da aposentadoria programada em geral. A diferença é a exigência de um requisito etário reduzido, bem como
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a comprovação de tempo de efetivo exercício nas funções de magistério do ensino básico, isto é, na educação
infantil, ensino fundamental e médio. Vejamos:
Portanto, como se vê, a mudança que importa, nesse caso, é a redução do requisito etário, exigindo-
se 5 anos a menos do que na aposentadoria programada comum. Isso quer dizer que as professoras poderão
Marceli
se aposentar com 57 anos de idade, enquanto que os professores com 60 anos de idade. Nada obstante,
deverão comprovar um tempo mínimo de contribuição maior e exclusivo em efetivo exercício das funções
de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio. Vejamos o que diz a Portaria 450
sobre:
Cabe lembrar que não há incidência do fator previdenciário e a RMI será calculada com base no art.
26, caput, da EC 103. Aliás, o fator previdenciário somente persiste em nosso ordenamento jurídico em três
hipóteses, quais sejam: a) aposentadoria por tempo de contribuição com base na regra do direito adquirido;
b) aposentadoria por idade urbana com base na regra de transição prevista no art. 18, da EC 103; c)
aposentadoria da pessoa com deficiência, sendo facultativo nesse caso. Quanto ao cálculo da renda mensal
183
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
inicial do benefício, a norma matriz é o art. 26, da Emenda 103, sendo regra replicada no art. 53, do Decreto
n.º 3.048/99, o qual é transcrevido abaixo:
Quanto às regras de aposentadoria dos professores previstas no Decreto n.º 3.048/99, vejamos seu
art. 54, já na redação dada pelo Decreto 10.410/20.
Art. 54. Para o professor que comprove, exclusivamente, tempo de efetivo exercício em
função de magistério na educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio,
desde que cumprido o período de carência exigido, será concedida a aposentadoria de que
trata esta Subseção quando cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - cinquenta e sete anos de idade, se mulher, e sessenta anos de idade, se homem; e
II - vinte e cinco anos de contribuição, para ambos os sexos, em efetivo exercício na função
a que se refere o caput.
§ 1º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma prevista no
art. 53.
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§ 2º Para fins de concessão da aposentadoria de que trata este artigo, considera-se função
de magistério aquela exercida por professor em estabelecimento de ensino de educação
básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as
funções de direção de unidade escolar e de coordenação e assessoramento pedagógicos.
souza -- CPF:
184
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Chama-se à atenção ao fato de que o Decreto n.º 10.410/20 continuou na linha interpretativa do
Supremo Tribunal Federal no sentido de que se considera “função de magistério aquela exercida por
professor em estabelecimento de ensino de educação básica em seus diversos níveis e modalidades,
incluídas, além do exercício da docência, as funções de direção de unidade escolar e de coordenação e
assessoramento pedagógicos” (art. 54, § 2º, do Decreto n.º 3.048/99, com as alterações do Decreto n.º
10.410/20).
Assim, não apenas o professor que atua dentro de sala de aula fará jus à aposentadoria programada
com requisitos diferenciados, mas também aquele que atua nas funções de direção escolar, de coordenação
escolar e de assessoramento pedagógicos, desde que sejam, por óbvio, professores.
A data de início do benefício segue a regra geral disposta para a aposentadoria programada,
conforme previsão do art. 52, do Decreto n.º 3.048/99. Assim, sendo requerida a aposentadoria em até 90
dias do desligamento do emprego, os valores retroagirão para essa data, isto é, a DIB do benefício será a data
do desligamento. De outro lado, se o pedido de aposentadoria for feito após 90 dias, a DIB será a DER – data
do requerimento administrativo.
Vejamos o quadro-resumo da aposentadoria dos professores, conforme regime atual previsto no art.
19, § 1º, II, da EC 103:
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APOSENTADORIA dos
PROFESSORES
25 anos de contribuição, voltados ao exercício efetivo das
(regras atuais)
souza -- CPF:
Todos os requisitos abordados acima são destinados àqueles professores que se filiaram ao RGPS
após 13/11/2019, data de publicação da Emenda 103, ou para aqueles que não se enquadram nas regras
estabelecidas para o direito adquirido (aposentadoria do professor com base nas regras antigas) ou nas
regras de transição. Se o professor for filiado ao RGPS até 13/11/2019, ele poderá fazer uso dessas duas
últimas hipóteses normativas, as quais estão previstas, respectivamente, nos arts. 3º e 15, ambos da Emenda
103.
A aposentadoria do professor com base nas regras antigas deverá ser concedida se houver o
cumprimento dos requisitos dispostos na redação antiga do art. 201, § 8º, da CF/88, a saber:
185
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Pelas regras anteriores, havia apenas tempo de contribuição e não se exigia idade mínima. Logo,
basta que o professor cumpra 30 anos de contribuição, se homem, e 25 anos de contribuição, se mulher.
Esse tempo precisa ser oriundo exclusivamente do efetivo exercício das funções de magistério na educação
infantil e no ensino fundamental e médio, tal como as regras foram definidas atualmente também.
Já para aqueles professores que são filiados ao RGPS até 13/11/2019, mas que não satisfazem os
requisitos para a aposentadoria com base no direito adquirido, podem fazer uso da regra de transição
disposta no art. 15, §3º, da Emenda Constitucional 103, que assim diz:
Art. 15. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em
vigor desta Emenda Constitucional, fica assegurado o direito à aposentadoria quando forem
preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se
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homem; e
II - somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, equivalente a 86
(oitenta e seis) pontos, se mulher, e 96 (noventa e seis) pontos, se homem, observado o
disposto nos §§ 1º e 2º.
§ 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a pontuação a que se refere o inciso II do caput será
acrescida a cada ano de 1 (um) ponto, até atingir o limite de 100 (cem) pontos, se mulher,
e de 105 (cento e cinco) pontos, se homem.
§ 2º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório
de pontos a que se referem o inciso II do caput e o § 1º.
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homem, aos quais serão acrescidos, a partir de 1º de janeiro de 2020, 1 (um) ponto a cada
ano para o homem e para a mulher, até atingir o limite de 92 (noventa e dois) pontos, se
Marceli souza
na forma da lei.
A regra de transição do art. 15, da EC 103, é baseada na exigência conjunta de tempo de contribuição
com um sistema de pontos. O sistema de pontos é a soma do tempo de contribuição com a idade. Assim, a
idade acaba sendo considerada indiretamente. Nessa regra de transição, o tempo de contribuição exigido
para os professores é o mesmo que constava nas regras anteriores da Constituição. Assim, o professor deverá
comprovar 30 anos de contribuição e a mulher 25 anos de contribuição. Lembrando que esse tempo deve
ser sempre de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil, no ensino fundamental e
médio. Ao lado da exigência desse tempo de contribuição, os professores, nesta regra de transição, precisam
demonstrar a pontuação mínima para se aposentarem.
A pontuação a ser demonstrada nessa regra de transição será:
• 81 pontos, se mulher;
• 91 pontos, se homem.
A pontuação acima era a vigente na data da publicação da Emenda 103. A partir de 1º de janeiro de
2020, começou a ser acrescido 1 ponto a cada ano para o homem e para a mulher, até atingir o limite de 92
(noventa e dois) pontos, se mulher, e 100 (cem) pontos, se homem. No ano de 2021, portanto, a pontuação
necessária se encontra em:
186
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
• 83 pontos, se mulher;
• 93 pontos, se homem.
Isso significa que, no ano de 2021, um homem, professor, deverá comprovar no mínimo 30 anos de
contribuição e 63 anos de idade. O tempo de contribuição mínimo é de 30 anos, como vimos. Sendo assim,
para se alcançar 93 pontos, esse professor deverá ter no mínimo 63 anos de idade, já que: 63 + 30 = 93
pontos.
A RMI será calculada na forma do art. 15, § 4º, c/c art. 26, § 2º, I, ambos da Emenda 103. Isto é, será
calculada com base na média aritmética simples de todo o período contributivo desde julho de 1994, ou a
última competência em caso de filiação posterior àquela data. Sobre o resultado dessa média incide o
coeficiente de partida no importe de 60%, acrescido de 2% a cada ano que exceder 15 anos de contribuição,
se mulher, e 20 anos de contribuição, se homem.
Ao final, como visto acima, a pontuação máxima será de 100 pontos, o que será atingido em 2028.
No ano de 2028, então, um professor que já tenha 30 anos de contribuição, deverá ter 70 anos de idade,
para atingir 100 pontos. Concluiu-se, por óbvio, que em 2028 essa regra de transição não será mais atrativa,
porque a regra atual permanente para a aposentadoria do professor exige, conforme art. 19, § 1º, II, da EC
103, apenas 60 anos de idade, com 25 anos de tempo de contribuição desempenhados efetivamente nas
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A RMI será calculada na forma do art. 19, § 2º, c/c art. 26, § 2º, I, ambos da Emenda 103, isto é, será
calculada com base na média aritmética simples de todo o período contributivo desde julho de 1994, ou a
última competência em caso de filiação posterior àquela data. Sobre o resultado dessa média incide o
coeficiente de partida no importe de 60%, acrescido de 2% a cada ano que exceder 15 anos de contribuição,
se mulher, e 20 anos de contribuição, se homem.
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De acordo com a nova redação do dispositivo acima, dada pela Emenda 103, não mais se adota a
expressão “portadores de deficiência”, como constava antes no texto constitucional, mas apenas
“deficiência”. Preconiza-se, com isso, a orientação normativa dada pela Convenção de Nova Iorque sobre o
Direito das Pessoas com Deficiência, internalizada em nosso ordenamento jurídico com o status de norma
constitucional, aprovada pelo rito das emendas constitucionais. Em âmbito interno, pois, a referida
Convenção está normativamente instrumentalizada pelo Decreto n.º 6.040, de 25 de agosto de 2009.
Na mesma toada da Convenção, posteriormente, foi editada a Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015,
que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Vejamos o parágrafo único do art. 1º da Lei n.º 13.146/2015, que também faz uso da expressão “pessoas
com deficiência”:
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o
187
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à
sua inclusão social e cidadania.
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do
Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008 , em conformidade com o procedimento
previsto no § 3º do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil , em vigor para
o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto
nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no plano interno. (grifos
nossos)
Os critérios que o legislador poderá adotar como diferenciadores para as pessoas com deficiência
são a idade e o tempo de contribuição. A forma pela qual esses critérios poderão ser exigidos pelo legislador
infraconstitucional continua sendo a lei complementar. De outro lado, quanto à forma de constatação de
deficiência do segurado, houve um processo de constitucionalização de procedimentos administrativos.
Agora, a própria Constituição determina o que antes era dado pela lei. Pela nova redação do § 1º do art. 201
da CF/88, ficou assentado que a o segurado com deficiência será submetido à avaliação biopsicossocial
realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar. Essa previsão já era do nosso ordenamento
jurídico, mas apenas em nível legal. A mencionada Lei n.º 13.146/2015, por exemplo, enuncia em seu art. 2º,
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que a avaliação da deficiência será, quando necessário, feita por equipe multidisciplinar. Vejamos:
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas.
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por
equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: (Vigência)
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A norma constitucional determina a avaliação biopsicossocial, não mais sendo válida a previsão acima
de que somente quando for necessária é que será feita tal avaliação. De se ver, portanto, que no campo
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previdenciário não mais se trata de uma faculdade do administrador a realização da avaliação da deficiência,
Marceli
Art. 22. Até que lei discipline o § 4º-A do art. 40 e o inciso I do § 1º do art. 201 da
Constituição Federal, a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral
de Previdência Social ou do servidor público federal com deficiência vinculado a regime
próprio de previdência social, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo
de 10 (dez) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo
em que for concedida a aposentadoria, será concedida na forma da Lei Complementar nº
142, de 8 de maio de 2013, inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios. (grifos
nossos)
188
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Perceba que, inclusive, no que toca aos critérios de cálculos, será aplicável a Lei Complementar n.º
142/2013, não incidindo nesse caso a nova norma geral de cálculos dos benefícios previdenciários do RGPS
e do RPPS da União (art. 26, caput, da EC 103). A Portaria 450 dispõe, a respeito disso:
Art. 4º Ficam mantidas as concessões da aposentadoria por idade rural, agora denominada
de aposentadoria do trabalhador rural e do garimpeiro, e as aposentadorias da pessoa
com deficiência da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013, nas mesmas condições
anteriormente previstas, inclusive quanto ao seu valor, observadas, no entanto, com novas
regras quanto à formação do Período Básico de Cálculo - PBC. (grifos nossos)
Portanto, a respeito dos requisitos para a concessão da aposentadoria da pessoa com deficiência, é
necessário que observemos os requisitos estabelecidos pela Lei Complementar n.º 142/2013, que assim diz
em seu art. 3º:
A primeira percepção que se tem ao fazer a leitura da lei é que existem duas espécies de
aposentadoria para a pessoa com deficiência: a) aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com
souza -- CPF:
deficiência; b) aposentadoria por idade da pessoa com deficiência. A primeira espécie exige a demonstração
de um determinado tempo de contribuição que varia conforme o grau da deficiência apresentada pela
Marceli souza
pessoa.
Marceli
189
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
pelo Decreto n.º 8.145/13, que introduziu os artigos 70-A e seguintes. Em verdade, o conceito de deficiência
deriva da própria Convenção de Nova Iorque, internalizada em nosso ordenamento jurídico, mas é replicada
nos diplomas legais que tratam de direitos das pessoas com deficiência, tal como a Lei Complementar n.º
142/2013 e seu regulamento.
De acordo com o art. 2º, da Lei Complementar n.º 142/2013, para o reconhecimento do direito à
aposentadoria, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
O art. 70-D, § 3º, do Decreto n.º 3.048/1999, replica a referida norma legal. Trata-se de um sistema
de avaliação da deficiência que não se atém somente ao aspecto físico e estático das eventuais restrições
funcionais, mas vai além e considera como é a interação dessas restrições e impedimentos, com barreiras
encontradas na dinâmica socio-laboral da pessoa com deficiência. Por isso, é um sistema biopsicossocial.
De um lado, há que se fazer o cotejo dos elementos físicos, que são os impedimentos de longo prazo;
de outro lado, há que se fazer o cotejo dos elementos sociais, que são as diversas barreiras encontradas na
sociedade. Se a conjunção desses elementos indicar que não há uma participação plena e efetiva da pessoa
em igualdade de condições com as demais, então, trata-se de pessoa com deficiência.
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Com isso, é de ser perceber que o conceito de pessoa com deficiência para fins das aposentadorias
previstas na Lei Complementar n.º 142/2013 é o mesmo conceito dado pela Lei n.º 8.742/1993, para fins de
concessão do benefício assistencial àquelas pessoas.
seguintes requisitos:
I - aos vinte e cinco anos de tempo de contribuição na condição de pessoa com deficiência,
Marceli
Art. 70-C. A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, cumprida a carência, é
devida ao segurado aos sessenta anos de idade, se homem, e cinquenta e cinco anos de
idade, se mulher.
§ 1º Para efeitos de concessão da aposentadoria de que trata o caput, o segurado deve
contar com no mínimo quinze anos de tempo de contribuição, cumpridos na condição de
pessoa com deficiência, independentemente do grau, observado o disposto no art. 70-D.
§ 2º Aplica-se ao segurado especial com deficiência o disposto nos §§ 1º a 4º do art. 51, e
na hipótese do § 2º será considerada a idade prevista no caput deste artigo, desde que o
tempo exigido para a carência da aposentadoria por idade seja cumprido na condição de
pessoa com deficiência.
190
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Com relação especificamente à avaliação biopsicossocial da pessoa com deficiência, o art. 4º, do
Decreto n.º 10.410/2020, determinou que para
fins de acesso a benefícios da pessoa com deficiência, até que seja aprovado o instrumento
específico para a avaliação biopsicossocial da pessoa com deficiência, realizada por equipe
multiprofissional e interdisciplinar, será utilizado o instrumento aprovado pela Portaria
Interministerial AGU/MPS/MF/SRDH/MP nº 1, de 27 de janeiro de 2014.
De acordo com o art. 2º, dessa portaria, compete à perícia própria do Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS, por meio de avaliação médica e funcional, para efeito de concessão da aposentadoria da pessoa
com deficiência, avaliar o segurado e fixar a data provável do início da deficiência e o respectivo grau. Essa
perícia deverá também apontar a ocorrência de variação no grau de deficiência e indicar os respectivos
períodos em cada grau.
Os graus de deficiência são aferidos em conformidade com o conceito de funcionalidade disposto na
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF, da Organização Mundial de
Saúde, e mediante a aplicação do Índice de Funcionalidade Brasileiro Aplicado para Fins de Aposentadoria
– IFBrA, conforme o instrumento anexo à Portaria. Em verdade, o IFBrA é o sistema brasileiro criado a partir
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do sistema internacional, que é a CIF, da OMS. O IFBrA é feito com base na avaliação de 41 atividades
possíveis, as quais são distribuídas dentro de 7 domínios de atuação da pessoa no seu dia a dia. Para cada
atividade, há uma pontuação atribuída, que pode ser de 25, 50, 75 e 100 pontos. Essa variação é determinada
pelo grau de dependência da pessoa com alguém, isto é, qual o grau de dependência dela para realizar suas
atividades diárias. Quanto menor for a pontuação (25 e 50 pontos), maior será a dependência. Quanto maior
for a pontuação (75 e 100 pontos), menor será a dependência. As pontuações são atribuídas em dois
momentos: primeiramente, por um médico; depois, por um assistente social. As pontuações de cada uma
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dessas avaliações são somadas, aplicando-se, em seguida um método linguístico chamado FUZZY.
O método FUZZY considera qual os domínios sensíveis da deficiência. Isso, pois existem quatro tipos
de deficiência: auditiva, visual, motora e intelectual. Cada um desses tipos possui um domínio, isto é, em que
parte da vida da pessoa a deficiência tem mais relevância. Então, por exemplo, a deficiência auditiva possui
souza -- CPF:
“mobilidade” e “vida doméstica”. A deficiência motora possui como domínios a “mobilidade” e os “cuidados
pessoais”. Por fim, a deficiência do tipo intelectual, cognitiva-mental possui como domínios a “vida
Marceli
doméstica” e a “socialização”.
Após a atribuição das pontuações para cada uma daquelas 41 atividades, dentro de 7 domínios, é o
Método FUZZY que fará o balanceamento dos pontos com base nos domínios sensíveis da respectiva
deficiência avaliada. A consequência prática do Método FUZZY é que nos domínios sensíveis da deficiência
avaliada, a pontuação atribuída pelo médico e pelo assistente social serão reduzidas ao menor grau lançado.
Exemplo: em uma deficiência motora, que se relaciona aos domínios “mobilidade” e “cuidados pessoais”,
foram atribuídas às respectivas atividades desses domínios notas que variaram de 50, 75 e 100. Contudo, em
função de esses serem os domínios sensíveis da deficiência motora, o Método FUZZY fará com que todas as
pontuações lançadas naquelas atividades sejam reduzidas para 50, que foi a menor pontuação lançada.
São os peritos médicos federais que realizam as perícias de avaliação biopsicossocial. Interessante
lembrar que foi criada uma carreira específica para o cargo de Perito Médico Federal, por meio da Lei n.º
13.846/2019. Originariamente, a carreira de perito do INSS foi criada pela Lei n.º 9.620/1998, integrando os
quadros próprios do INSS, mas com a edição da MP 871/19, convertida na Lei n.º 13.846/2019, a carreira
passou a compor os quadros do Ministério da Economia, especialmente por conta da então extinção do
Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Todavia, com o retorno desse Ministério, o quadro de perito
médico federal volta a compor os quadros do INSS.
191
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A deficiência será constada, ao final, de acordo com as seguintes pontuações extraídas da avaliação
biopsicossocial:
• pontuação inferior a 5739 pontos: deficiência grave;
• pontuação de 5740 a 6354: deficiência moderada;
• pontuação de 6355 a 7.584: deficiência leve;
• pontuação maior do que 7585: não há deficiência.
A partir dos graus acima, assim, serão definidos os requisitos temporais para a aposentadoria por
tempo de contribuição, como visto anteriormente. Para a aposentadoria por idade, contudo, será irrelevante
o grau de deficiência, bastando, assim, que a pontuação não ultrapasse 7585 pontos.
A RMI da aposentadoria da pessoa com deficiência deve ser calculada com base no disposto no art.
8º, da Lei Complementar n.º 142/2013:
Art. 8º. A renda mensal da aposentadoria devida ao segurado com deficiência será calculada
aplicando-se sobre o salário de benefício, apurado em conformidade com o disposto no art.
29 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, os seguintes percentuais:
I - 100% (cem por cento), no caso da aposentadoria de que tratam os incisos I, II e III do art.
3º; ou
II - 70% (setenta por cento) mais 1% (um por cento) do salário de benefício por grupo de 12
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(doze) contribuições mensais até o máximo de 30% (trinta por cento), no caso de
aposentadoria por idade.
Inclusive, a própria Emenda 103, ao determinar que continua válida a LC n.º 142/2013 até que outra
venha a lhe substituir, assinala que devem valer os critérios de cálculo dispostos naquela lei, senão vejamos:
Art. 22. Até que lei discipline o § 4º-A do art. 40 e o inciso I do § 1º do art. 201 da
Constituição Federal, a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral
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142, de 8 de maio de 2013, inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios. (grifos
nossos)
Marceli souza
Dessa feita, o art. 29, da Lei n.º 8.212/1991 não foi revogado pelo art. 26, da Emenda 103, no que
Marceli
toca à aposentadoria da pessoa com deficiência, pois o art. 8º, da LC n.º 142/2013, determina que sejam
usados os critérios daquele dispositivo da lei de benefícios. O salário de benefício, portanto, será calculado
com base nos 80% maiores salários de contribuição desde a competência julho/1994, ou a última existente
em caso de filiação posterior àquela competência.
O art. 29, da Lei n.º 8.213/1991 diz o seguinte:
Podem ser descartados, pois, os 20% menores salários de contribuição, sem nenhum ônus ao
segurado, o que é regra mais vantajosa em relação ao disposto no art. 26, da Emenda 103, cujos termos
determinam a consideração de todo o período contributivo.
O art. 26 referido permite o descarte de contribuições que reduzam a média, desde que mantenham
o tempo mínimo de contribuição. O INSS tem ido além e asseverado administrativamente que o descarte de
192
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
contribuições pela regra do art. 26 da EC 103 provoca a desconsideração da competência excluída para todos
os efeitos e não apenas para tempo de contribuição. Isso, portanto, é extremamente desvantajoso em
relação à regra antiga, a qual, como visto, permanece incólume no art. 29, da Lei n.º 8.213/1991, mas apenas
para as aposentadorias das pessoas com deficiência (e, claro, para as hipóteses de direito adquirido de outras
espécies de aposentadorias).
Apurado, assim, o salário de benefício com base no art. 29, da Lei n.º 8.213/1991, o art. 8º, da LC n.º
142/2013, prevê coeficientes distintos para cada tipo de aposentadoria prevista para as pessoas com
deficiência. No caso da aposentadoria por tempo de contribuição, o coeficiente será de 100% do SB,
limitando-se, apenas, ao teto dos benefícios da previdência social. O coeficiente será de 100% do SB, aliás,
para qualquer grau de deficiência. Já para a aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, o art. 8º,
inciso II, da LC n.º 14/2013, prevê um coeficiente de partida de 70% do salário de benefício, sendo acrescido
1% para cada grupo de 12 contribuições, limitando-se a 30% o acréscimo, isto é, a 100% do salário de
benefício.
Com relação a essa última espécie de aposentadoria, ela é, quanto ao cálculo da RMI, idêntica à
antiga aposentadoria por idade urbana, que consta do art. 48 e seguintes da Lei n.º 8.213/1991 (mas que foi
revogada pela Emenda 103, pois, como dito, com a reforma previdenciária, passamos a ter fusão da antiga
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aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade urbana em uma única espécie de
aposentadoria, qual seja a aposentadoria programada). A diferença está no fato de que, para a pessoa com
deficiência, o requisito etário é reduzido, exigindo-se apenas 60 anos, para homens, e 55 anos de idade, para
mulheres. Já na antiga aposentadoria por idade urbana, a exigência etária era de 65 anos, para homens, e 60
anos, para mulheres.
Cabe destacar, por fim, que em ambas as espécies de aposentadoria da pessoa com deficiência,
poderá incidir o fator previdenciário se esse for benéfico ao cálculo. Cabe lembrar que o fator previdenciário
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foi introduzido em nosso ordenamento jurídico como uma alternativa para a não inclusão, na época, da idade
mínima como requisito para as aposentadorias do RGPS.
A Lei n.º 9.876/1999 instituiu o fator previdenciário, logo após a reforma previdenciária advinda com
a Emenda Constitucional n.º 20/98, em virtude, na pratica, como se sabe, de não ter vingado no Congresso
souza -- CPF:
Nacional a aprovação da idade mínima para se aposentar no Regime Geral de Previdência Social. A propósito,
vale citar trecho de estudo feito pelo IPEA37, que aborda bem o contexto de criação do fator previdenciário:
Marceli souza
Marceli
37 CONSTANZI, Rogerio Nagamine, Alexandre Zioli Fernandes e Graziela Ansiliero, in “O Princípio Constitucional de Equilíbrio
Financeiro e Atuarial no Regime Geral de Previdência Social: tendências recentes e o caso da regra 85/95 progressiva”, Texto para
discussão / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.- Brasília : Rio de Janeiro : Ipea.
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FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Como se vê, quanto maiores a idade e o tempo de contribuição, maior o FP a ser aplicado e,
consequentemente, o valor do benefício. É por isso que o fator previdenciário pode ser aplicado às
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aposentadorias das pessoas com deficiência, pois, diante das peculiaridades do requerente, pode ser que o
seu cálculo resulte em um fator maior que 1, sendo, pois, favorável. Caberá, pois, à pessoa com deficiência
decidir se incide ou não o fator previdenciário.
Nada obstante às espécies de aposentadorias previstas na Lei Complementar n.º 142/2013, nada
impede que a pessoa com deficiência possa se valer de alguma outra espécie de aposentadoria prevista de
modo geral para os segurados, desde que lhe seja mais benéfico a ser apurado caso a caso. Contrariamente,
contudo, não será possível mesclar leis a fim de que se crie um benefício próprio, com regras favoráveis
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aposentadoria por tempo de contribuição prevista no art. 8º, I, da LC n.º 14/2013, se contribuir
facultativamente na forma do art. 25, § 1º, c/c art. 21, da Lei n.º 8.212/1991, bem como art. 70-B, parágrafo
Marceli souza
único, c/c art. 199 e 200, § 2º, todos do Decreto n.º 3.048/99, senão vejamos:
Marceli
194
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
deficiência MODERADA:
29 anos de TC (H);
24 anos de TC (M).
Aposentadoria
por tempo de
contribuição deficiência LEVE:
33 anos de TC (H);
28 anos de TC (M).
APOSENTADORIA deficiente
DAS PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA RMI de 100% do SB
(LC N.º 14/2013)
60 anos de idade (H);
souza -- CPF:
A aposentadoria por idade do trabalhador urbano, como espécie autônoma, não existe mais. Como
já vimos no nosso curso, a Emenda Constitucional 103/19 instituiu a idade mínima para as aposentadorias
no RGPS, de maneira que não há mais a distinção entre aposentadoria por idade e aposentadoria por tempo
de contribuição, como era antes. Somente há, desde 13/11/2019, a aposentadoria programada, com os
requisitos que já foram estudados.
Assim, somente falaremos de aposentadoria por idade do trabalhador urbano, como espécie
autônoma, em duas hipóteses.
A primeira é a hipótese de direito adquirido, isto é, se o segurado cumpriu os então vigentes
requisitos da aposentadoria por idade urbana até 13 de novembro de 2019, data da publicação da referida
emenda constitucional. A segunda hipótese é referente à proteção da expectativa do direito, ou seja, aquela
195
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
que permite uma regra de transição para os segurados filiados ao RGPS até a publicação da reforma
previdenciária. A norma que permite a concessão da aposentadoria por idade urbana com base em direito
adquirido está descrita no art. 3º, da Emenda Constitucional; já a norma que permite a concessão da
aposentadoria por idade urbana com base em regra de transição está descrita no art. 18, daquela Emenda.
Cabe registrar, ademais, que havia, no antigo regramento, a divisão entre aposentadoria por idade
do trabalhador urbano e aposentadoria por idade do trabalhador rural. No âmbito de estudo do direito
adquirido, relativamente às inovações dadas pela Emenda 103, cabe-nos falar tão somente no regramento
anterior da aposentadoria por idade do trabalhador urbano, uma vez que a aposentadoria por idade do
trabalhador rural não sofreu nenhuma alteração.
Vejamos, assim, primeiramente, a possibilidade de concessão de aposentadoria por idade urbana
com base no direito adquirido.
Para saber as situações que se enquadram no espectro do direito adquirido, é preciso, portanto,
conhecer os requisitos da época. Os dispositivos aplicáveis, com as redações anteriores, são: a) art. 201, § 7º,
II, CF/88 (na redação dada pela EC 20); b) arts. 48 a 51, da Lei n.º 8.213/1991; c) arts. 51 a 53, do Decreto n.º
3.048/99 (antes das revogações dadas pelo Decreto n.º 10.410/20); d) arts. 225 a 229, da IN 77/2015.
Vejamos a regra constitucional, então vigente, a fim de conhecer os requisitos que o segurado precisa
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que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor
rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. (grifos nossos)
8.213/1991.
Marceli souza
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
Marceli
O requisito da carência, portanto, era igual ao da aposentadoria por tempo de contribuição, ou seja,
eram necessárias 180 contribuições para a concessão do benefício ou, caso o segurado seja filiado ao INSS
até 24 de julho de 1991 (data da promulgação da Lei n.º 8.213/1991), deve-se aplicar a tabela progressiva
prevista no art. 142, da Lei n.º 8.213/1991. A mencionada tabela progressiva é uma norma de transição
prevista nessa Lei. Na sistemática anterior, vigia a Lei n.º 3.807/1960 (a chamada LOPS – Lei Orgânica da
Previdência Social), pela qual era prevista a carência de apenas 60 meses.
Então, em suma, para a aposentadoria por idade do trabalhador urbano filiado até 13/11/2019, isto
é, antes da reforma previdenciária de 2019, os requisitos a serem cumpridos para a demonstração do direito
adquirido são:
• idade mínima de 65 anos, para homens;
• idade mínima de 60 anos, para mulheres;
• 180 contribuições para comprovação da carência, para ambos os sexos (para segurados filiados
após a Lei n.º 8.213/1991);
196
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
• carência conforme a tabela progressiva do art. 142, da Lei n.º 8.213/1991 (para segurados filiados
antes da Lei n.º 8.213/1991).
Na Lei n.º 8.213/1991, a aposentadoria por idade do trabalhador urbano está disposta nos arts. 48 a
51:
Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência
exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta),
se mulher. (...)
§ 4º Para efeito do § 3 deste artigo, o cálculo da renda mensal do benefício será apurado
de acordo com o disposto no inciso II do caput do art. 29 desta Lei, considerando-se como
salário-de-contribuição mensal do período como segurado especial o limite mínimo de
salário-de-contribuição da Previdência Social.
O regramento acima permanecia vigente até a EC 103, sem revogações tácitas, de modo que continua
a ser aplicável aos casos de direito adquirido, no que toca à aposentadoria por idade do trabalhador urbano.
Se, na data da publicação da Emenda 103, um segurado, homem, trabalhador urbano, já detinha 65 anos e
180 meses de carência (ou com a carência respectiva da tabela progressiva do art. 142, da Lei n.º 8.213/91),
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pode ele se aposentar por idade na forma da sistemática anterior, mesmo que o requerimento administrativo
seja feito hoje, por exemplo.
Em relação a esse último ponto mencionado, relativamente à data do requerimento administrativo
para os casos de direito adquirido (bem como nos casos das regras de transição), não importa, realmente, a
data da DER, mas sim a data em que os fatos geradores dos benefícios foram perfectibilizados no mundo
jurídico. Se os requisitos foram satisfeitos até 13 de novembro de 2019, isso basta para que o direito
adquirido seja delineado, sendo irrelevante que a DER tenha data posterior àquele marco. Isso ficou,
CPF: 073.496.444-77
Quanto à renda mensal inicial da aposentadoria por idade em tais casos de direito adquirido, deverá
Marceli
ela ser calculada na forma prevista pelo art. 50, da Lei n.º 8.213/1991, afastando-se a regra temporária
prevista no art. 26, caput, da Emenda Constitucional n.º 103. Assim diz o art. 50, da Lei n.º 8.213/1991:
Art. 50. A aposentadoria por idade, observado o disposto na Seção III deste Capítulo,
especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 70% (setenta por cento) do
salário-de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições,
não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário-de-benefício.
A regra do art. 26, caput, da Emenda 103 é desfavorável, aparentemente, para o segurado, já que a
norma anterior permitia o descarte das mais baixas contribuições correspondentes a 20% do período básico
de cálculo, sem que isso implicasse qualquer prejuízo ao segurado. Esse é o maior ponto de diferença entre
a norma anterior e a novel norma de cálculo do salário de benefício, uma vez que o descarte de menores
contribuições, hoje permitido, implica prejuízo sensível para o segurado. Isso, pois o descarte atual de
contribuições mais baixas do PBC resulta na inutilização das respectivas competências para quaisquer fins,
ou seja, não poderá o segurado usar as contribuições retiradas para os acréscimos de 2% a cada ano que
exceder o tempo de vinte anos de contribuições. Isso está previsto no § 6º, do art. 26, da Emenda:
197
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Na sistemática anterior, dada pelo art. 29, I, da Lei n.º 8.213/1991, não havia qualquer ressalva nesse
sentido, de modo que o direito de exclusão das menores competências somente favorecia e não prejudicava.
Portanto, na regra anterior, o cálculo do salário de benefício deve ser feito com base no referido artigo, ou
seja, com base nos oitenta por cento maiores salários de contribuição apurados desde a competência
julho/1994, ou a última competência, em caso de a filiação ter sido posterior àquela. Veja:
Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas
inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em
benefícios e serviços:
I - quanto ao segurado:
(...)
b) aposentadoria por idade;
70%, como ponto de partida para se descobrir a RMI do benefício. A partir disso, acrescia-se 1% (um por
cento) no coeficiente incidente no salário de benefício a cada grupo de 12 (doze) contribuições, não podendo
ultrapassar 100% (cem por cento) do salário-de-benefício.
Considerando as somas percentuais decorrentes dos acréscimos, na prática, se o segurado
souza -- CPF:
efetivamente verteu contribuições durante o prazo de carência de 180 meses (em regra), a renda mensal
inicial da aposentadoria por idade do trabalhador urbano acabava sendo de 85% do salário de benefício (70%
Marceli souza
+ 1% x 15 anos = 70% + 15% = 85%). De outro lado, caso o segurado tenha se utilizado de períodos de tempo
Marceli
de serviço até então admitidos como tempo de contribuição, ou ainda, tempo ficto, a renda mensal inicial
seria menor, já que o dispositivo menciona “a cada grupo de 12 contribuições”.
Quanto à data de início da aposentadoria, devem ser seguidas as regras do art. 49, da Lei n.º
8.213/1991, variando o termo inicial de pagamento conforme o momento do pedido administrativo, no caso
dos segurados empregados e empregados domésticos. Vejamos:
O quadro-resumo da aposentadoria por idade urbana a ser concedida com base na regra do direito
adquirido, em face das mudanças promovidas pela Emenda 103, pode ser assim concebido:
198
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
incidência facultativa do
FATOR PREVIDENCIÁRIO
Passemos, então, a estudar a possibilidade de concessão de aposentadoria por idade urbana com
base na regra de transição disposta no art. 18, da Emenda Constitucional 103/19, que assim diz:
Art. 18. O segurado de que trata o inciso I do § 7º do art. 201 da Constituição Federal filiado
CPF: 073.496.444-77
ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda
Constitucional poderá aposentar-se quando preencher, cumulativamente, os seguintes
requisitos:
I - 60 (sessenta) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem;
souza -- CPF:
e
II - 15 (quinze) anos de contribuição, para ambos os sexos.
§ 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade de 60 (sessenta) anos da mulher, prevista no
Marceli souza
inciso I do caput, será acrescida em 6 (seis) meses a cada ano, até atingir 62 (sessenta e
Marceli
A aposentadoria acima é voltada para os segurados filiados ao RGPS em data anterior a 13/11/2019
e que não conseguiram satisfazer os requisitos para a aposentadoria por idade urbana com espeque no
direito adquirido. É possível, em verdade, que o segurado filiado anteriormente a 13/11/2019 opte pela
aposentadoria mais vantajosa, conforme o caso. Em outras palavras, poderá optar em se aposentar pela
regra do direito adquirido, pela regra de transição ou, ainda, pela nova regra permanente da aposentadoria
programada, sendo assegurado sempre o direito ao melhor benefício.
Optando pela regra de transição disposta no art. 18, da EC 103, há que se observar que as principais
diferenças se referem à idade mínima fixada para as mulheres, bem como à regra de cálculo da
aposentadoria. Com relação à idade mínima das mulheres, fixa-se na regra de transição crescente, iniciando-
se a exigência do requisito etário em 60 anos e chegando em 62 anos no ano de 2023. Se estipulou o
acréscimo de 6 meses a cada ano, a partir de 1º de janeiro de 2020. Assim, tem-se que a idade mínima para
a mulher se aposentar nessa regra de transição é de:
• 60 anos em 2019;
• 60 anos e 6 meses em 2020;
• 61 anos em 2021;
199
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Quanto ao cálculo da aposentadoria, o §2º, do art. 18, da Emenda, sinaliza que ele será feito na forma
da lei. A lei vigente, no momento, para esse cálculo é dada pelo art. 26, § 2º, I, também da Emenda 103. Veja:
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
§ 1º A média a que se refere o caput será limitada ao valor máximo do salário de
contribuição do Regime Geral de Previdência Social para os segurados desse regime e para
o servidor que ingressou no serviço público em cargo efetivo após a implantação do regime
de previdência complementar ou que tenha exercido a opção correspondente, nos termos
do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 da Constituição Federal.
§ 2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
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média aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º, com acréscimo de 2 (dois)
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
de contribuição nos casos:
I - do inciso II do § 6º do art. 4º, do § 4º do art. 15, do § 3º do art. 16 e do § 2º do art. 18;
Com efeito, o cálculo da aposentadoria por idade urbana com base na regra de transição do art. 18,
da Emenda 103, deverá usar como base a média aritmética simples de 100% dos salários de contribuição
CPF: 073.496.444-77
existentes desde a competência julho/1994, ou a posterior em caso de inexistência daquela. Essa média fica
limitada ao mesmo teto fixado para o salário de contribuição do RGPS. A partir da apuração dessa média,
que será, portanto, o salário de benefício do segurado, incidirá o percentual de 60%, acrescido de 2% a cada
ano que exceder 15 anos de contribuição, para mulheres, e 20 anos de contribuição, para homens.
souza -- CPF:
O quadro-resumo da aposentadoria por idade urbana a ser concedida com base na regra do direito
adquirido, em face das mudanças promovidas pela Emenda 103, pode ser assim disposto:
Marceli souza
Marceli
tempo de contribuição:
15 anos (H);
15 anos (M).
200
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Nesse caso, se houver a conjunção de períodos rurais e urbanos em momento anterior a EC 103, o
requisito etário será o do regramento anterior, ou seja, 60 anos para as mulheres e 65 anos para os homens.
A carência, igualmente, deverá ser a do regramento anterior: 15 anos de contribuição para ambos os sexos.
Isso decorre da possibilidade de preenchimento dos requisitos da aposentadoria por idade hibrida até
13/11/2019, de modo que, nesse caso, pelo direito adquirido, devem ser buscados os critérios fixados para
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a então vigente aposentadoria por idade urbana, cujas regras já foram analisadas nas linhas anteriores.
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De outro lado, se houver qualquer período a ser usado referente a momento anterior a 13/11/2019,
não há clareza nas novas normas previdenciárias acerca da possibilidade de uso das regras de transição do
art. 18, da EC 103. Se isso for possível, a idade mínima a ser considerada será de 60 anos para as mulheres
(ou, conforme o ano, com os acréscimos correspondentes de 6 meses) e 65 anos para os homens, sendo a
carência de 15 anos para ambos os sexos. Nessa ótica, somente será, então, demandada a aplicação da nova
regra permanente da aposentadoria programada, conforme art. 19, da EC 103, se todos os períodos, urbanos
CPF: 073.496.444-77
e rurais, a serem somados, forem posteriores a 13/11/2019. Nesse caso, a idade mínima da mulher será de
62 anos, enquanto que para os homens permanece o requisito etário em 65 anos. Já a carência deverá
também ser maior para os homens, ou seja, de 20 anos, enquanto para as mulheres, a carência continua de
15 anos, conforme o dispositivo citado (art. 19, caput, da Emenda 103).
souza -- CPF:
Pela regra do art. 57, do Decreto n.º 3.048/1999, conforme redação dada pelo Decreto n.º
10.410/2020, tem-se que deve ser aplicada a regra da aposentadoria programada em qualquer hipótese, não
Marceli souza
se abrindo brecha, ao que se depreende, para a regra mais branda prevista no art. 18, da Emenda 103:
Marceli
Art. 57. Os trabalhadores rurais que não atendam ao disposto no art. 56 mas que satisfaçam
essa condição, se considerados períodos de contribuição sob outras categorias de segurado,
farão jus ao benefício ao atenderem os requisitos definidos nos incisos I e II do caput do art.
51.
§ 1º Para fins do disposto no caput, o valor da renda mensal da aposentadoria será apurado
na forma do disposto no art. 53, considerando-se como salário de contribuição mensal do
período como segurado especial o salário-mínimo.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se ainda que, na oportunidade do requerimento da
aposentadoria, o segurado não se enquadre como trabalhador rural.
Art. 56. A aposentadoria por idade do trabalhador rural, uma vez cumprido o período de
carência exigido, será devida aos segurados a que se referem a alínea “a” do inciso I, a alínea
“j” do inciso V e os incisos VI e VII do caput do art. 9º e aos segurados garimpeiros que
trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido no § 5º
do art. 9º, quando completarem cinquenta e cinco anos de idade, se mulher, e sessenta
anos de idade, se homem.
Art. 51. A aposentadoria programada, uma vez cumprido o período de carência exigido,
será devida ao segurado que cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - sessenta e dois anos de idade, se mulher, e sessenta e cinco anos de idade, se homem; e
201
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Havia dúvidas se a aposentadoria por idade híbrida exigia que o segurado fosse rural no momento
do requerimento e esse era o argumento do INSS. No entanto questão foi dirimida pelos Tribunais, que
apontaram por meio de consolidada jurisprudência a irrelevância do segurado ser rural ou urbano no
momento do requerimento administrativo desse tipo de aposentadoria. Logo, pode ser um segurado rural
que já teve ao longo de sua vida alguns vínculos urbanos, ou pode ser também um segurado urbano que, no
passado, trabalhou em atividades campesinas. Tanto faz para a aposentadoria por idade híbrida, pois o
objetivo da norma é somar todos os períodos rurais e urbanos para fins de atingimento de carência. Isso
acabou sendo sedimentado no Superior Tribunal de Justiça por meio do julgamento do TEMA 1007 dos
recursos repetitivos daquela Corte, de modo que a tese fixada foi a seguinte:
O tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, anterior ao advento da Lei
8.213/1991, pode ser computado para fins da carência necessária à obtenção da
aposentadoria híbrida por idade, ainda que não tenha sido efetivado o recolhimento das
contribuições, nos termos do art. 48, § 3º. da Lei 8.213/1991, seja qual for a predominância
do labor misto exercido no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no momento
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O STJ assinalou, portanto, que pode ser computado o tempo rural remoto, isto é, aquele período
rural anterior a Lei n.º 8.213/1991, independentemente do recolhimento de contribuições previdenciárias.
Além disso, assinalou que é irrelevante saber qual foi a predominância do tipo de labor.
No âmbito da Turma Nacional de Uniformização também há precedente firmado. O Tema 131 dos
representativos de controvérsia da TNU firmou tese no sentido de que:
CPF: 073.496.444-77
Para a concessão da aposentadoria por idade híbrida ou mista, na forma do art. 48, § 3º, da
Lei n.º 8.213/91, cujo requisito etário é o mesmo exigido para a aposentadoria por idade
urbana, é irrelevante a natureza rural ou urbana da atividade exercida pelo segurado no
período imediatamente anterior à implementação do requisito etário ou ao requerimento
souza -- CPF:
do benefício. Ainda, não há vedação para que o tempo rural anterior à Lei n.º 8.213/1991
seja considerado para efeito de carência, mesmo que não verificado o recolhimento das
Marceli souza
respectivas contribuições.
Marceli
Com relação ao Tema 1007, do STJ, contudo, houve recurso extraordinário do INSS junto ao STF,
tendo sido recebido com a suspensão nacional dos processos, em grau recursal, conforme restou
determinado pela Vice-Presidência daquela Corte Superior:
Nada obstante, ao receber o recurso extraordinário, o Supremo Tribunal Federal o afetou ao Tema
1104, entendendo que não havia questão constitucional a ser enfrentada no recurso, imputando-lhe os
efeitos da ausência de repercussão geral. Com isso, o recurso extraordinário foi devolvido ao STJ e o Tema
1007 transitou em julgado. Vejamos:
Tema 1104
Requisitos legais necessários para a concessão do benefício previdenciário de
aposentadoria híbrida por idade.
202
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Tese
É infraconstitucional, a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão geral, a
controvérsia relativa à definição e ao preenchimento dos requisitos legais necessários para
a concessão de aposentadoria híbrida, prevista no art. 48, § 3º da Lei nº 8.213/91.
Atualmente, cabe ressaltar, a aposentadoria por idade híbrida deve seguir os requisitos fixados para
a aposentadoria programada, de acordo com as novas regras fixadas pela Emenda Constitucional 103/19.
Como vimos, as regras para a aposentadoria programada são o cumprimento de idade mínima de 62 anos,
para mulheres, e 65 anos, para homens, bem como o tempo mínimo de contribuição e carência. O tempo
mínimo de contribuição para homens é de 20 anos, enquanto que para as mulheres é de 15 anos. Já a
carência é invariável para ambos os sexos, devendo ser cumprido, no mínimo, 180 meses, isto é, 15 anos de
contribuições mensais.
Sendo assim, se um segurado rural não conseguir atingir os requisitos para a aposentadoria do
trabalhador rural - cujos requisitos são idade mínima de 60 anos, para homens, e 55 anos para mulheres,
bem como a comprovação de 180 meses de trabalho rural em regime de economia familiar, ou, se filiado
anterior a Lei n.º 8.213/1991, a carência indicada na tabela progressiva do art. 142 dessa lei – ele poderá
buscar a aposentadoria na modalidade híbrida, caso tenha também alguns vínculos urbanos a serem
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traduzir uma real e concreta extinção de uma prestação previdenciária que foi criada justamente para
garantir o princípio da universalidade da cobertura e do atendimento da seguridade social e, especialmente,
o princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais,
conforme art. 194, parágrafo único, I e II, da CF/88.
souza -- CPF:
Vejamos, nada obstante essa discussão doutrinária a respeito da aposentadoria por idade híbrida, os
Marceli souza
requisitos atualmente vigentes para sua concessão, tal como disposto no art. 57 c/c art. 51, do Decreto n.º
3.048/1999, na redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020:
Marceli
203
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
As normas que regem o benefício previdenciário de pensão por morte estão previstas nos seguintes
dispositivos: a) art. 201, V, da CF/88; b) arts. 74 a 78, da Lei n.º 8.213/1991; c) arts. 105 a 115, do Decreto n.º
3.048/1999; d) arts. 47 a 50, da Portaria 450/2020; e) arts. 364 a 380, da IN 77/2015.
Vejamos, primeiramente, o art. 201, V, da CF/88:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
(...)
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no § 2º.
(...)
§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho
do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.
do risco “morte” do segurado, assegurando uma pensão ao cônjuge ou companheiro sobrevivente, bem
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Todos os segurados do RGPS, em incorrendo no risco morte, podem gerar pensão por morte aos seus
dependentes habilitados. Não importa a categoria de segurado, se obrigatório ou facultativo, haverá sempre
o direito à pensão por morte, desde que os dependentes comprovem a qualidade de segurado de segurado
do instituidor. Como bem descreve o art. 105, caput, do RPS, não importa se o segurado falecido estava
souza -- CPF:
Art. 105. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que
falecer, aposentado ou não, a contar da data:
204
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
O fato gerador do benefício é, como o próprio nome já diz, a morte. A pensão por morte pode ser
concedida nos casos de “morte real” e nos casos de “morte presumida”. Quanto à morte presumida,
conforme arts. 74 e 78, da Lei n.º 8.213/1991, também se trata, portanto, de uma hipótese geradora da
pensão por morte. Aqui é necessário que se recorra à lei civil. O art. 6º, segunda parte, do Código Civil, elucida
que se presume a morte “quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva”. Além disso, o art. 7º, I e II, do Código, trata da morte presumida, sem decretação de ausência,
quando “for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida”, bem como quando
“alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término
da guerra”. A lei civil, pois, prevê a declaração de morte presumida em duas hipóteses: com ou sem
reconhecimento de ausência.
A “ausência” é “antes de tudo, um estado de fato, em que uma pessoa desaparece de seu domicílio,
sem deixar qualquer notícia”38. Portanto, a ausência não implica imediato e automático reconhecimento de
morte presumida. Isso ocorre somente quando a lei autorizar a abertura de sucessão definitiva (art. 6º, caput,
CC). O próprio Código Civil delineia o procedimento a ser adotado para a sucessão definitiva dos ausentes, o
que leva tempo considerável.
Trata-se de procedimento deveras longo, que se inicia, em regra, pela curadoria dos bens do ausente
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(arts. 22 a 25, CC), passando pela sucessão provisória (arts. 26 a 36, CC) e, por fim, chegando à sucessão
definitiva (arts. 37 a 39, CC). Justamente em função desse longo prazo é que a lei previdenciária permite, em
seu art. 78, caput, da Lei n.º 8.213/1991, que, a título de “morte presumida do segurado, declarada pela
autoridade judicial competente, depois de 6 (seis) meses de ausência, será concedida pensão provisória”.
É, em vista desse prazo especial para concessão de pensão provisória, que a jurisprudência do STJ entende
que a declaração de ausência no âmbito previdenciário possui normas próprias. Nesse sentido, o STJ já
assinalou que o “reconhecimento da morte presumida, com o fito de concessão de pensão previdenciária,
CPF: 073.496.444-77
não se confunde com a declaração de ausência regida pelos diplomas cível e processual. In casu, obedece-
se ao disposto no art. 78, da Lei n.º 8.213/199139.
A IN 77/15 parece apontar que, de fato, trata-se de declaração de ausência regulada por normas
próprias do Direito Previdenciário. Isso, pois seu art. 380 determina que, nessas hipóteses, o recebedor do
souza -- CPF:
benefício provisório deverá apresentar documento da autoridade competente, contendo informações acerca
Marceli souza
do andamento do processo “relativamente à declaração de morte presumida, até que seja apresentada a
certidão de óbito”.
Marceli
Não há normas muito claras sobre a declaração de ausência para fins de pensão por morte, mas o
conjunto das regras acima dispostas denota que o reconhecimento de morte presumida poderá ser feito no
prazo de 6 meses na seara previdenciária, permitindo a concessão de pensão por morte provisória. De todo
modo, não dispensará a continuidade do processo civil que certificará a morte presumida, a extinção da
pessoa natural para todos os fins e, por fim, a abertura da sucessão definitiva.
Também haverá pensão provisória em caso de desaparecimento do segurado por motivo de
catástrofe, acidente ou desastre. Nesse último caso, a IN 77/15 também explicita melhor como deve ser a
comprovação dessas circunstâncias:
Art. 379. Para a concessão da pensão, em caráter provisório, por morte presumida em razão
do desaparecimento do segurado por motivo de catástrofe, acidente ou desastre, nos
termos do inciso II do art. 112 do RPS, servirão como prova hábil do desaparecimento, entre
outras:
I - boletim do registro de ocorrência feito junto à autoridade policial;
II - prova documental de sua presença no local da ocorrência; e
III - noticiário nos meios de comunicação.
38 Ibidem, p. 186.
39 Resp - Recurso Especial - 232893 1999.00.88085-4, Jorge Scartezzini, STJ - Quinta Turma, DJ Data:07/08/2000 Pg:00135 .DTPB.
205
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Cabe repisar, por fim, que a competência para o reconhecimento de morte presumida para os fins
de recebimento de pensão por morte é da Justiça Federal, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça
no Conflito de Competência n.º 130296. O STJ afirmou, nesse julgamento, que “tendo o pedido de
reconhecimento de morte presumida o único propósito de percepção de pensão por morte (ex. VI do art. 78
da Lei n.º 8.213/91), cabe à Justiça Federal o processamento e julgamento da lide”.
Quanto aos beneficiários da pensão por morte, são os dependentes habilitados na forma da lei
previdenciária, os quais são extraídos do art. 16, da Lei n.º 8.213/1991. Foram muitas as alterações, além de
que o rol dos dependentes já passou por algumas mudanças legais significativas desde a edição da Lei n.º
8.213/1991, há quase 30 anos.
Em síntese, o rol do art. 16 da Lei de Benefícios foi objeto de mudança decorrente das seguintes leis:
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1º) Lei n.º 9.032/1995; 2º) Lei n.º 12.470/2011; 3º) Lei n.º 13.135/2015; 4º) Lei n.º 13.146/2015. Além dessas
leis, outras também foram editadas de modo a alterar os parágrafos do art. 16, modificando, por isso, alguns
aspectos importantes de cada classe de dependente. Essas leis, em suma, foram as seguintes: a) Lei n.º
9.528/1997; b) Medida Provisória n.º 871/2019, convertida na Lei n.º 13.846/2019. À vista disso, a par das
inúmeras alterações legais no rol de dependentes, é importante ter a noção segura de quem são,
atualmente, esses dependentes. Sintetizaremos no quadro abaixo, a fim de facilitar o estudo:
CPF: 073.496.444-77
Cabe lembrar que o art. 23, § 6º, da Emenda 103, assinalou que se equiparam “a filho, para fins de
recebimento da pensão por morte, exclusivamente o enteado e o menor tutelado, desde que comprovada a
dependência econômica”. Objetivou-se, com isso, afastar o enquadramento por equiparação feito pela
jurisprudência relativamente ao menor sob guarda40.
40Gueller, Marta Maria R. Penteado; Berman, Vanessa Carla Vidutto. O Que muda com a reforma da previdência: regime geral e
regime próprio dos servidores (p. 141). Edição do Kindle.
206
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Nada obstante, recentemente, o Supremo Tribunal Federal julgou, por maioria, a ADI 4878, procedente, de
modo a conferir interpretação conforme ao § 2º do art. 16 da Lei nº 8.213/1991, para contemplar, em seu
âmbito de proteção, o “menor sob guarda”. Assim, na relação acima deve ser incluído o menor sob guarda.
Conforme art. 113, do Decreto n.º 3.048/1999, a pensão por morte, havendo mais de um pensionista,
será rateada entre todos, em partes iguais. Já as hipóteses de perda da qualidade de dependente estão
previstas no art. 17, do Decreto n.º 3.048/1999.
Para o cônjuge, a pensão por morte cessará pelo divórcio ou pela separação judicial ou de fato, salvo
se assegurada a prestação de alimentos. Nesse caso, contudo, a pensão por morte poderá ter a duração da
pensão fixada em decisão judicial. Também cessará a pensão por morte pela superveniente anulação do
casamento, por óbito ou por sentença judicial transitada em julgado relativo, nesse caso, a qualquer hipótese
que venha reconhecer a invalidade da pensão. Para a companheira ou companheiro, também cessa a pensão
por morte pela dissolução da união estável, salvo se for estabelecido o pagamento de prestação de alimentos.
Já para o filho, irmão, enteado, menor tutelado ou, ainda, para o menor sob guarda, a pensão cessa
ao se atingir 21 anos de idade ou quando ocorrem quaisquer causas de emancipação, salvo se inválido ou
deficiente intelectual, mental ou grave, hipótese na qual somente cessará a pensão quando a causa da
invalidez ou deficiência deixar de existir. Note, entretanto, que exercício de atividade remunerada, inclusive
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na condição de MEI, não impede a concessão ou a manutenção da parte individual da pensão do dependente
com deficiência intelectual, mental ou grave, nos termos do § 3º, do art. 105, do RPS. Isso deixa bem claro
que a pessoa com deficiência não é sinônimo de pessoa inválida, de modo que o deficiente intelectual,
mental ou grave poderá, em tese, se readaptar e trabalhar ou exercer qualquer tipo de atividade
remunerada, inclusive na condição de microempreendedor individual, sem que isso implique
necessariamente impedimento para a concessão do benefício de pensão por morte, ou sua manutenção.
Importante observar que outra causa de cessação da pensão por morte é a condenação por
CPF: 073.496.444-77
homicídio doloso contra o instituidor, fato esse que implica perda do direito à pensão. Diz o art. 105, § 4º, do
RPS, já na redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020, que “perde o direito à pensão por morte o condenado
criminalmente por sentença transitada em julgado, como autor, coautor ou partícipe de homicídio doloso,
ou de tentativa desse crime, cometido contra a pessoa do segurado, ressalvados os absolutamente incapazes
souza -- CPF:
e os inimputáveis”. Somente o homicídio doloso é que implica essa perda, não havendo que se falar em
Marceli souza
qualquer impedimento ao recebimento da pensão por morte se o crime foi culposo. Ressalva-se, contudo, a
hipótese de que o agente seja absolutamente incapaz e inimputável.
Marceli
Também é necessário lembrar que a simulação ou fraude no casamento ou na união estável implica,
igualmente, perda do direito à pensão. De acordo com o § 5º, do art. 105, do RPS, incluído pelo Decreto n.º
10.410/2020, perde o
Quando houver a cessação da pensão por morte para um dos dependentes habilitados, a respectiva
cota não será reversível para os demais. Assim, as cotas por dependente cessarão com a perda dessa
qualidade e não serão reversíveis aos demais dependentes. Trata-se, em verdade, de nova regra que rompe
com a regra anterior, no sentido de que seria reversível aos demais dependentes habilitados a cota cessada,
conforme antiga redação do art. 113, parágrafo único, do RPS, já revogada pelo Decreto n.º 10.410/2020.
Conforme art. 50, § 3º, da Portaria 450, a não reversão das cotas aplica-se somente aos benefícios
com fato gerador posterior à EC nº 103, de 2019, não atingindo os benefícios em manutenção, tampouco aos
requeridos com fato gerador anterior. É que essa inovação desfavorável aos dependentes da pensão por
morte foi promovida pela reforma previdenciária de 2019, que estabeleceu expressamente em seu texto
207
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
essa vedação. O art. 23, § 1º, da EC 103, deixou claro que as “cotas por dependente cessarão com a perda
dessa qualidade e não serão reversíveis aos demais dependentes”.
Não há exigência de carência para a concessão de pensão por morte, conforme disposto no art. 26,
I, da Lei n.º 8.213/1991:
A respeito do cálculo da RMI da pensão por morte, a Emenda Constitucional n.º 103 alterou
profundamente a regra anterior, instituindo um sistema de cotas que se encontra previsto atualmente no
art. 23, da referida Emenda, senão vejamos:
Art. 23. A pensão por morte concedida a dependente de segurado do Regime Geral de
Previdência Social ou de servidor público federal será equivalente a uma cota familiar de
50% (cinquenta por cento) do valor da aposentadoria recebida pelo segurado ou servidor
ou daquela a que teria direito se fosse aposentado por incapacidade permanente na data
do óbito, acrescida de cotas de 10 (dez) pontos percentuais por dependente, até o máximo
de 100% (cem por cento).
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§ 1º As cotas por dependente cessarão com a perda dessa qualidade e não serão reversíveis
aos demais dependentes, preservado o valor de 100% (cem por cento) da pensão por morte
quando o número de dependentes remanescente for igual ou superior a 5 (cinco).
§ 2º Na hipótese de existir dependente inválido ou com deficiência intelectual, mental ou
grave, o valor da pensão por morte de que trata o caput será equivalente a:
I - 100% (cem por cento) da aposentadoria recebida pelo segurado ou servidor ou daquela
a que teria direito se fosse aposentado por incapacidade permanente na data do óbito, até
o limite máximo de benefícios do Regime Geral de Previdência Social; e
II - uma cota familiar de 50% (cinquenta por cento) acrescida de cotas de 10 (dez) pontos
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percentuais por dependente, até o máximo de 100% (cem por cento), para o valor que
supere o limite máximo de benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
§ 3º Quando não houver mais dependente inválido ou com deficiência intelectual, mental
ou grave, o valor da pensão será recalculado na forma do disposto no caput e no § 1º.
§ 4º O tempo de duração da pensão por morte e das cotas individuais por dependente até
souza -- CPF:
A RMI, portanto, parte de uma cota familiar de 50% sobre o valor que o segurado recebia de
aposentadoria na data do óbito, caso estivesse aposentado. Caso não estivesse aposentado, o percentual
incide sobre o valor que o segurado receberia, em tese, se estivesse aposentado por incapacidade
permanente na data do óbito. Com isso, acresce-se o percentual de 10% para cada dependente habilitado,
até o máximo de 100% a incidir sobre a aposentadoria (qualquer aposentadoria no RGPS que eventualmente
o segurado estivesse recebendo) ou sobre a aposentadoria por incapacidade permanente.
208
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A Emenda 103 previu, ainda, uma regra de cálculo especial para a pensão por morte a ser concedida
em caso de dependentes inválidos e/ou com deficiência intelectual, mental ou grave. As regras especiais de
cálculo da pensão por morte nessas hipóteses estão descritas no art. 23, I e II, da Emenda 103. O inciso I é
dirigido tanto para os segurados do RGPS, quanto para os servidores públicos federais. Já o inciso II é dirigido
apenas aos servidores públicos federais, uma vez que permite o pagamento da pensão por morte em patamar
superior ao teto do RGPS, de acordo com os mesmos percentuais descritos no caput, do art. 23, da Emenda.
Embora o inciso II não fale expressamente que é dirigido apenas aos segurados do regime próprio da União,
é de todo evidente essa interpretação, eis que não existe aposentadoria no RGPS que supere o teto dos
benefícios pagos pelo INSS.
Cabe registrar que, quando não houver mais dependente inválido ou com deficiência intelectual,
mental ou grave, o valor da pensão será recalculado na forma do disposto no caput e no § 1º, do art. 26, da
Emenda 103. Desse modo, a redução do valor do benefício poderá ser drástica.
Outro ponto de grande relevância em relação à pensão por morte constitui no fato de que a Emenda
Constitucional 103 estabeleceu algumas regras de acumulação desse benefício com aposentadorias. O art.
24, da EC 103, assevera a norma transitória que regula as hipóteses possíveis de acumulação de benefícios,
enquanto não sobrevier a lei complementar a ser editada nos termos do art. 201, § 15, da CF/88. A partir da
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EC 103, as regras de acumulação previstas no RGPS também valem para os regimes próprios, conforme o §
6º, do art. 40, CF/88. Os casos de acumulação de benefícios deverão ser tratados por lei complementar, mas
enquanto não sobrevier a referida lei, as hipóteses de acumulação são as previstas no art. 24, da EC 103.
Em síntese, não se pode acumular mais de uma pensão por morte no âmbito do mesmo regime, seja
no RGPS, seja nos RPPSs, ressalvados os cargos acumuláveis na forma do art. 37, XVI, CF/88. De outro lado,
a priori, não há vedação para que haja recebimento de uma pensão por morte em regimes previdenciários
distintos. Em verdade, cabe anotar, já havia a proibição de acumulação de mais de uma pensão dentro do
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RGPS, conforme inciso VI, do art. 124, da Lei n.º 8.213/1991, de sorte que essa regra dada pela EC 103
impactou, mais propriamente, os regimes próprios e regimes previdenciários militares.
Nada obstante, embora continuem valendo as demais regras de acumulação previstas no art. 124,
da LBPS, para as pensões e aposentadorias, o art. 24, § 2º, da Emenda 103, determinou o recebimento do
souza -- CPF:
valor integral do benefício acumulado mais vantajoso, somado ao recebimento de parte do outro benefício.
Marceli souza
O benefício menos vantajoso, assim, sofrerá uma redução, sendo limitado seu valor por faixas, conforme os
percentuais de 10%, 20%, 40% ou 60% consoante à correspondência da faixa em salários mínimos. Sendo
Marceli
assim, não há óbice para o acúmulo de pensão com aposentadoria, ainda que no mesmo regime, mas haverá
limitação do valor a ser pago quanto ao segundo benefício, conforme art. 24, § 2º, da EC 103.
Atenção! Essas regras de acumulação previstas acima são aplicáveis apenas às pensões instituídas
por cônjuge ou companheiro, ex-cônjuge e ex-companheiro, conforme art. 59, parágrafo único, incisos I e II,
da Portaria 450. A vedação da Emenda 103 alcança apenas pensões que tenham sido geradas por cônjuge
ou companheiro(a), bem como ex-cônjuge ou ex-companheira (quando houver comprovação de
dependência econômica nesses últimos casos). Ademais, somente se aplicam às hipóteses em que o fato
gerador ou preenchimento dos requisitos de qualquer dos benefícios seja posterior a 14 de novembro de
2019, independentemente do início dos demais. Assim, se qualquer das pensões ou aposentadorias
envolvidas no caso concreto tiver sido concedida em data posterior a 14/11/2019, incidirão as regras de
acumulação previstas no art. 24, da Emenda 103.
No campo infralegal, o art. 167-A, do RPS, na redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020, reproduz
as normas constitucionais relativamente às restrições de acumulação, estabelecendo que as “restrições
previstas neste artigo não se aplicam caso o direito aos benefícios tenha sido adquirido até 13 de novembro
de 2019”.
209
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Em relação aos percentuais de limitação do benefício acumulado, nos termos do art. 24, § 2º, da
Emenda 103, ou seja, limitação da aposentadoria ou pensão acumulada, são os seguintes percentuais e faixas
para a incidência da redução:
A data de início do benefício de pensão por morte é tratada no art. 74, da Lei n.º 8.213/1991 e no
art. 105, do Decreto n.º 3.048/1999. Essa questão já passou por algumas alterações ao longo do tempo. Logo,
tem-se uma questão de conflito intertemporal de normas. Atualmente, a DIB da pensão será paga desde o
óbito somente se o requerimento administrativo não ultrapassar 90 dias desse, ou, em caso de menores de
16 anos, até 180 dias. Já para os casos de morte presumida, a pensão será paga a partir da decisão judicial.
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Quanto ao prazo de até 180 dias fixado para que os menores de 16 anos tenham direito ao
pagamento da pensão desde o óbito do instituidor, trata-se de inovação dada pela MP 871/19, convertida
na Lei n.º 13.846/2019, cunhada de “minirreforma previdenciária”. O objetivo foi evitar a regra anterior que
permitia o afastamento da prescrição em face dos menores absolutamente incapazes. Tanto é assim, que a
minirreforma previdenciária também acabou por revogar o art. 79, da Lei n.º 8.213/1991, o qual prescrevia,
justamente, que não se “aplica o disposto no art. 103 desta Lei ao pensionista menor, incapaz ou ausente,
na forma da lei”.
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O art. 103, da Lei n.º 8.213/1991, por sua vez, em sua redação original, assentava que “prescreve em
5 (cinco) anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época própria, resguardados os direitos
dos menores dependentes, dos incapazes ou dos ausentes”. O próprio art. 103, como visto em sua parte
final, já mencionava que se resguardava da prescrição as prestações devidas aos menores, incapazes e
souza -- CPF:
ausentes. Posteriormente, o art. 103 foi alterado pela MP 1.596-14/97, convertida na Lei n.º 9.528/1997, a
Marceli souza
qual passou a estabelecer um prazo decadencial decenal para o direito de revisão do ato de concessão do
benefício. Quanto à previsão da prescrição quinquenal relativa às parcelas não pagas, aquelas mesmas
Marceli
normas passaram a descrevê-la no art. 103, parágrafo único, da Lei de Benefícios, o qual se encontra vigente
até hoje sem alterações, senão vejamos:
Como se vê, o art. 103, parágrafo único, ainda prevê de forma expressa a não incidência da
prescrição quinquenal em face de menores, incapazes e ausentes. E, além disso, o art. 347, parágrafo único,
do Decreto n.º 3.048/1999, por sua vez, continua prevendo da mesma forma que o art. 103, parágrafo único,
da Lei de Benefícios, no sentido de resguardar dos efeitos da prescrição as parcelas eventualmente devidas
em relação aos menores, incapazes e ausentes. Diz o art. 347 que prescreve “em cinco anos, a contar da data
em que deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ou quaisquer
restituições ou diferenças devidas pela previdência social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes,
na forma do Código Civil”. De se notar, aliás, que o Decreto n.º 10.410/2020 não alterou o dispositivo acima.
210
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Além disso, a favor do afastamento da prescrição em relação aos menores de 16 anos, malgrado a
existência daquele prazo de 180 dias, deve prevalecer o que se encontra previsto nos art. 198, I e art. 208,
ambos do Código Civil.:
Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I.
Em sendo assim, contra os absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil,
ou seja, contra os menores de 16 anos, não pode correr a prescrição, seja qual for a relação jurídico-civil, de
modo que no campo previdenciário também assim deverá ser, notadamente em virtude da máxima
efetividade das normas protetivas da criança e do adolescente. A jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça sempre assinalou que deve ser seguida a diretriz prevista no art. 198, I, 3º e 208, todos do
Código Civil, mediante os quais se resguarda peremptoriamente os menores de 16 anos dos efeitos da
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3. O Superior Tribunal de Justiça orienta-se no sentido de que não corre a prescrição contra
incapazes, resultando na conclusão de que são devidas as parcelas a partir da data do
falecimento do instituidor da pensão, independentemente do momento em que formulado
o requerimento administrativo ou de quando ocorreu a citação judicial válida. (...) (REsp
1770679/MS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2018, DJe 19/12/2018)
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No que toca à duração da pensão por morte e, bem assim, a cessação do benefício, as hipóteses
estão previstas no art. 77, § 2º, da Lei n.º 8.213/1991, bem como no art. 114, do RPS. Nessa seara, além das
hipóteses de cessação já abordadas no início deste tópico, há que se chamar à atenção que, em relação ao
souza -- CPF:
cônjuge, companheiro ou companheira existem regras mais complexas, cujos prazos previstos para a
duração da pensão por morte se relacionam com a idade daqueles, o tempo de relacionamento e, bem assim,
Marceli souza
A variação do tempo da pensão por morte para o cônjuge, companheiro ou companheira vai variar
com base na verificação do número de contribuição que o segurado instituidor verteu em vida (se mais ou
menos do que 18 contribuições) e no tempo do casamento ou união estável (se mais ou menos do que 2
anos de relação conjugal ou de união estável).
Se um desses elementos não atingir o mínimo, isto é, se não houver 18 contribuições do instituidor
e/ou não houver mais de 2 anos de relação conjugal ou de união estável, a pensão por morte somente vai
durar 4 meses. Se houver 18 contribuições ou mais, bem como no mínimo 2 anos de relação, a pensão vai
variar conforme a IDADE do BENEFICIÁRIO, conforme quadro abaixo:
211
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Para finalizar, sintetizaremos as características da pensão por morte, conforme esquema abaixo:
presumida.
2.10. Auxílio-reclusão
O benefício de auxílio reclusão está previsto no art. 80, da Lei n.º 8.213/1991, bem como no art. 116,
do Regulamento da Previdência Social. Além disso, é importante lembrar que a nossa Constituição Federal
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também inclui a reclusão entre os riscos expressamente cobertos pela previdência social. Nesse sentido, o
benefício previdenciário de auxílio reclusão para os dependentes do segurado de baixa renda se encontra
previsto no art. 201, IV, da CF/88. Vejamos:
souza -- CPF:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
Marceli souza
Cabe perceber, contudo, que a redação atual desse dispositivo foi dada pela Emenda Constitucional
20/98, substituindo a redação anterior que, embora indicasse também a reclusão como um risco coberto
pela previdência social, não condicionava a cobertura desse risco mediante comprovação da baixa renda. A
partir da Emenda 20, passou a ser exigida a comprovação da baixa renda do segurado, para que ele faça jus
à concessão de auxílio-reclusão aos seus dependentes. Note, assim, que o auxílio-reclusão e o salário-família
são os únicos benefícios previdenciários que possuem vinculação à comprovação da baixa renda do
respectivo segurado.
Assim, o auxílio-reclusão será devido aos dependentes do segurado de baixa renda recolhido à prisão
em regime fechado. Além disso, o segurado nessas condições não poderá estar recebendo remuneração da
empresa nem estar em gozo de auxílio por incapacidade temporária, de pensão por morte, de salário-
maternidade, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço.
Quanto a esses impeditivos, importante frisar que o INSS deverá sempre preservar o direito de opção
pelo melhor benefício. Note, sobre isso, que a IN 77/15, assegura no art. 383, §3º, que o “segurado recluso,
ainda que contribua como facultativo, não terá direito aos benefícios de auxílio-doença, salário-maternidade
212
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
e aposentadoria durante a percepção, pelos dependentes, do auxílio-reclusão”, mas será “permitida a opção
pelo benefício mais vantajoso”.
No mais, quanto ao auxílio por incapacidade temporária, embora a norma o aponte como causa
impeditiva do recebimento do auxílio-reclusão, a constatação de seu recebimento pelo segurado no
momento da prisão implicará apenas sua suspensão, a princípio. Essa suspensão durará 60 dias e, caso, a
prisão se mantenha após esse período, então, o auxílio por incapacidade temporária será cessado. Trata-se
isso de uma inovação normativa dada pela MP 871/19, convertida na Lei n.º 13.846/2019, no § 3º, do art.
59, da Lei de Benefícios. Portanto, embora o auxílio por incapacidade temporária conste como benefício
impeditivo do auxílio-reclusão, a solução a ser dada não será o indeferimento automático desse, mas sim a
suspensão daquele e, posteriormente, sua cessação, na hipótese da prisão se prolongar por mais de dois
meses.
Quanto aos benefícios de salário-maternidade e pensão por morte, também arrolados como
impeditivos de recebimento do auxílio-reclusão, a menção a eles no art. 80, da Lei n.º 8.213/1991 somente
veio com a MP 871/19. Não havia nenhuma proibição na lei, tampouco no regulamento, de acumulação do
auxílio-reclusão com pensão por morte ou salário-maternidade antes daquela medida provisória. Assim,
apenas a partir da publicação dessa medida provisória que se poderá ter a incidência de tais impedimentos
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quanto à concessão do auxílio-reclusão. Isso significa que, até 17 de janeiro de 2019, de acordo com o
princípio tempus regit actum, o segurado preso poderia estar recebendo pensão por morte no momento da
prisão e, mesmo assim, ter o direito à concessão do auxílio-reclusão, com o pagamento das respectivas
parcelas para os seus dependentes. O valor da pensão, contudo, não poderia ultrapassar o limite estabelecido
pela norma quanto ao que se concebe como segurado de baixa renda. O mesmo se diga em relação ao salário-
maternidade. Ressalta-se, ainda, que a compleição do direito adquirido no caso do recebimento conjunto de
benefícios previdenciários somente se perfectibiliza quando ambas as prestações nascem de fatos geradores
CPF: 073.496.444-77
conquanto já contasse com todos os requisitos para a aposentadoria integral, optasse por permanecer em
Marceli souza
serviço.
Quanto ao requisito da reclusão, é bem verdade que somente por meio da MP 871/19, convertida
Marceli
na Lei n.º 13.846/2019, é que se alterou a norma legal do auxílio-reclusão para que o regime necessário à
sua concessão fosse necessariamente o fechado. Assim, somente, pois, a partir de 18 de janeiro de 2019 é
que se passou a condicionar o direito ao auxílio-reclusão à efetiva e integral reclusão, ou seja, em regime
fechado. Antes era possível o recebimento do benefício em regime semiaberto até a MP 871. Quanto ao
regime aberto, ele nunca foi apto a gerar o benefício de pensão por morte. O regime fechado sempre foi
apto a gerar o benefício e, desde a MP 871, passou a ser a única forma de se efetivamente cumprir o requisito
constitucional da demonstração da “reclusão”.
Quanto ao segundo elemento constitutivo positivo do fato gerador do auxílio-reclusão, a baixa
renda, o art. 116, do Decreto n.º 3.048/1999, em sua redação original, já enunciava que era a renda do
segurado que deveria ser norteador da apuração do requisito constitucional, senão vejamos:
Art. 116. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos
dependentes do segurado recolhido à prisão que não receber remuneração da empresa
nem estiver em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em
serviço, desde que o seu último salário-de-contribuição seja inferior ou igual a R$ 360,00
(trezentos e sessenta reais).
213
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Essa norma gerou muitos questionamentos, pois havia entendimento no sentido de que a baixa
renda deveria ser dos dependentes do segurado recluso. Em momento posterior, a resposta decisiva ao
questionamento foi dada de maneira peremptória pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do Tema
89, com repercussão geral. Assinalou a Corte Suprema que segundo “decorre do art. 201, IV, da Constituição,
a renda do segurado preso é que a deve ser utilizada como parâmetro para a concessão do benefício e não
a de seus dependentes”41.
Até a edição da MP 871, não havia na Lei n.º 8.213/91 as disposições incluídas no art. 80, §§3º e 4º,
as quais indicam que a aferição da renda mensal bruta para enquadramento do segurado como de baixa
renda ocorrerá pela média dos salários de contribuição apurados no período de 12 (doze) meses anteriores
ao mês do recolhimento à prisão. Não havendo salários de contribuição nos doze meses anteriores ao fato
gerador do benefício, deve-se considerar delineada a condição de baixa renda do segurado 42.
A previsão normativa que vigia, até então, sobre o momento de se considerar a renda do segurado
recluso estava presente apenas no art. 116, caput e § 1º, do RPS. A leitura conjunta das previsões do caput
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segurado. Após certo tempo de discussão, o STJ definiu a questão no julgamento do Tema 896 de seus
recursos repetitivos, estabelecendo que, se não houvesse renda no momento da prisão, não seria possível
buscar o último salário de contribuição do segurado, mas sim considerá-lo sem renda e, com isso,
autorizando a sua caracterização como “segurado de baixa renda” para fins de percepção de auxílio-reclusão.
souza -- CPF:
Vejamos o julgado:
Marceli souza
TESE PARA FINS DO ART. 543-C DO CPC/1973 8. Para a concessão de auxílio-reclusão (art.
Marceli
80 da Lei 8.213/1991), o critério de aferição de renda do segurado que não exerce atividade
laboral remunerada no momento do recolhimento à prisão é a ausência de renda, e não o
último salário de contribuição. (....) (REsp 1485417/MS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/11/2017, DJe 02/02/2018) (grifos nossos).
Já no STF, reconheceu-se que não há repercussão geral em relação à identificação de critérios legais
de aferição da renda do segurado, para fins de percepção do benefício do auxílio-reclusão (Tema 1017), no
seguinte sentido:
41 (RE 587365, Relator(a): Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 25/03/2009, Repercussão Geral - Mérito. DJe-084 DIVULG
07-05-2009 PUBLIC 08-05-2009 EMENT VOL-02359-08 PP-01536).
42 (Memorando-Circular Conjunto n.º 2/DIRBEN/PFE/DIRAT/INSS, de 28, de janeiro de 2019).
214
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
No entanto, no próprio STJ, recentemente, foi proposta a revisão da tese firmada no Tema 896:
A Primeira Seção, na sessão de julgamento realizada em 27/5/2020, acolheu a Questão de Ordem
para, nos termos dos arts. 256-S e 256-T do RI/STJ, submeter o REsp 1.842.985/PR e o REsp 1.842.974/PR ao
rito da revisão de tese repetitiva relativa ao Tema 896/STJ (REsp 1.485.417), de forma que a Primeira Seção
delibere sobre sua modificação ou sua reafirmação (acórdão publicado no DJe de 1/7/2020).
A tese revisada pelo STJ considerou a inovação legislativa dada pela MP 871/19, convertida na Lei n.º
13.846/2019, que, finalmente, passou a prever, na Lei n.º 8.213/1991, critério de aferição da baixa renda do
segurado tal qual já constava no Decreto n.º 3.048/1999. Sendo assim, o Tema 896, do STJ passou a constar
com a seguinte tese firmada:
Quanto ao valor do que se estabeleceu para baixa renda, com a Emenda 20/98, que introduziu esse
conceito na Constituição Federal, foi fixada a quantia de R$ 360,00. Esse valor, obviamente, vem passando
por atualizações anuais, conforme determinou o art. 13, da Emenda 20/98. Esse dispositivo foi revogado,
como se vê, pela Emenda 103/19, que em seu art. 27, caput, disciplinou o seguinte:
Art. 27. Até que lei discipline o acesso ao salário-família e ao auxílio-reclusão de que trata
o inciso IV do art. 201 da Constituição Federal, esses benefícios serão concedidos apenas
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àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 1.364,43 (mil, trezentos e
sessenta e quatro reais e quarenta e três centavos), que serão corrigidos pelos mesmos
índices aplicados aos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
Portanto, desde 13/11/2019, a renda bruta mensal tida como limite para se configurar a baixa renda
souza -- CPF:
do segurado apto à concessão do auxílio-reclusão para os seus dependentes é de R$ 1.364,43. Esse valor já
Marceli souza
sofreu atualização em 2020, pela Portaria nº 3.659, de 10 de fevereiro de 2020, que assim o fixou em R$
1.425,56.
Marceli
Quanto aos beneficiários do auxílio-reclusão, são os dependentes do segurado recluso, conforme rol
previsto no art. 16, da Lei de Benefícios. Cabe anotar, ainda, que o auxílio-reclusão será devido nas condições
da pensão por morte. Aplicam-se ao auxílio-reclusão as normas referentes à pensão por morte e, no caso de
qualificação de cônjuge ou companheiro ou companheira após a prisão do segurado, o benefício será devido
a partir da data de habilitação, desde que comprovada a preexistência da dependência econômica (art. 116,
§ 3º, do RPS).
Em relação à carência exigida para o auxílio-reclusão, ela não existia até a MP 871/19, convertida na
Lei n.º 13.846/2019. A partir dessa mudança, conforme art. 25, IV, da Lei n.º 8.213/1991, a carência exigida
é de 24 meses:
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
IV - auxílio-reclusão: 24 (vinte e quatro) contribuições mensais.
A carência, contudo, somente pode ser exigida a partir de 18 de janeiro de 2019, com a publicação
da MP 871, uma vez que não havia sua exigência anteriormente, com a redação original da Lei de Benefícios.
215
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A MP 664/14 chegou a prever, durante sua vigência, o mesmo prazo hoje exigido, de 24 meses, mas essa
previsão não foi confirmada na conversão daquela medida provisória na Lei n.º 13.135/2015.
Acerca do valor do auxílio-reclusão, atualmente, é o art. 27, § 1º, da EC 103, que determina que até
que “lei discipline o valor do auxílio-reclusão, de que trata o inciso IV do art. 201 da Constituição Federal, seu
cálculo será realizado na forma daquele aplicável à pensão por morte, não podendo exceder o valor de 1
(um) salário-mínimo”. Nos termos da Portaria 450, o valor do auxílio-reclusão, com fato gerador posterior à
EC nº 103, de 2019, sempre será de um salário mínimo, sendo apurado na forma do cálculo da pensão por
morte, conforme § 1º do art. 27 da EC nº 103, de 2019.
A data de início do benefício é fixada conforme o art. 116, § 4º, do RPS:
Aplicam-se aqui as mesmas observações feitas quanto à pensão por morte, relativamente a não
fluência dos prazos prescricionais e decadenciais aos absolutamente incapazes.
Para finalizar, sintetizaremos as características da pensão por morte, conforme esquema abaixo:
aposentadoria ou de abono de
permanência em serviço.
AUXÍLIO-
RECLUSÃO
Marceli souza
871/19)
a) DATA DO RECOLHIMENTO À PRISÃO,
para requerimentos feitos até 90 dias
ou, no caso de menores de 16 anos, em
até 180 dias.
DIB
As normas que regem o benefício previdenciário de auxílio por incapacidade temporária estão
previstas nos seguintes dispositivos: a) artigo 201, I, da Constituição Federal de 1988; b) arts. 59 a 63, da Lei
n.º 8.213/1991; c) arts. 71 a 80, do Decreto n.º 3.048/1999; d) art. 39, da Portaria 450/2020; e) artigos 300 a
322, da IN 77/2015.
De início, cabe ressaltar que, conforme art. 26 da EC nº 103, de 2019, “o auxílio-doença passa a ser
chamado auxílio por incapacidade temporária e poderá ser concedido nas modalidades previdenciária e
216
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
acidentária” (art. 39, da Portaria Conjunta ME/INSS/PR n.º 450/20). Estamos tratando, pois, do antigo
“auxílio-doença”, que agora passa a ser chamado de “auxílio por incapacidade temporária”.
A se iniciar pela Constituição Federal, o dispositivo constitucional que prevê a incapacidade
(temporária ou permanente) como contingencia social a ser coberta pelo regime geral de previdência social,
é o seguinte:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada;
A redação anterior e a nova redação, dada pela Emenda 103, torna perceptível a substituição da
nomenclatura. Essas alterações na redação do art. 201, § 7º, I, da Constituição Federal, foram estudadas no
capítulo IX. O benefício não protege o risco da doença, mas sim da incapacidade gerada por essa doença. O
que é e sempre foi coberto pela norma previdenciária é a doença incapacitante e não a simples doença, pois
nem sempre essa vai afastar o trabalhador do trabalho. Em verdade, mesmo antes da EC 103, a normatização
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infraconstitucional dos benefícios previdenciários sempre indicou como fato gerador da cobertura
previdenciária promovida pelo INSS a existência de incapacidade para o trabalho, temporária ou
permanente, parcial ou total. A doença em si não necessariamente será incapacitante e, por isso, a simples
existência de alguma patologia no segurado não lhe dava direito à fruição de benefício de auxílio-doença ou,
ainda, de aposentadoria por invalidez.
O tratamento legal do auxílio por incapacidade temporária, nosso antigo auxílio-doença, é
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encontrado nos arts. 59 a 63, da Lei n.º 8.213/1991. Vejamos o art. 59, § 1º, da referida Lei:
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o
caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para
a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
souza -- CPF:
O dispositivo acima, em seu parágrafo único, deve ser interpretado no sentido de que a incapacidade
não pode ser anterior à filiação ao sistema. Em um primeiro momento, como se vê, a lei aponta para a
impossibilidade de doença anterior à filiação, mas a lei ressalva a progressão ou o agravamento da doença
ou da lesão anterior à filiação ao sistema. Se dessa progressão ou agravamento se delinear a incapacidade
para o trabalho ou para a atividade habitual e, se isso ocorrer já quando o trabalhador estiver filiado, então
ele terá direito ao benefício previdenciário, desde que cumprida a carência.
Logo, se já filiado quando do início da incapacidade, não importa se a doença era anterior ou não à
filiação. Aliás, de acordo com Súmula n.º 26, de 9 de junho de 2008, da Advocacia-Geral da União, para a
“concessão de benefício por incapacidade, não será considerada a perda da qualidade de segurado
decorrente da própria moléstia incapacitante." Quer-se dizer, com isso, que é na DII que se deve perquirir a
qualidade de segurado ou não do trabalhador.
Grave, portanto, isso: doença preexistente não impede a concessão do benefício; já a incapacidade
preexistente impede. Note, aliás, que o novo regulamento da previdência social, dado pelas alterações
imprimidas no Decreto n.º 3.048/1999, pelo Decreto n.º 10.410/2020, reforça a impossibilidade de doença
anterior à filiação ao RGPS, conforme art. 71:
217
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 71. O auxílio por incapacidade temporária será devido ao segurado que, uma vez
cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu
trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos, conforme
definido em avaliação médico-pericial.
§ 1º Não será devido auxílio por incapacidade temporária ao segurado que se filiar ao RGPS
já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão do benefício, exceto
quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença
ou lesão.
veda a concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, mesmo nos casos de reingresso no RGPS”.
No âmbito do STJ, o mesmo entendimento é expressado, de modo que o “que não se permite é a
cobertura social à incapacidade preexistente à filiação ao Regime. Portanto, a doença pode ser preexistente,
não a incapacidade”43.
Quanto ao fato gerador do benefício, deve-se pontuar a necessidade de a incapacidade superar 15
dias de afastamento para o trabalho ou para sua atividade habitual. Ressalta-se, ademais, que a necessidade
de incapacidade por mais de 15 dias se aplica a todos os segurados. O art. 59, caput, da Lei n.º 8.213/1991
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Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o
caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para
souza -- CPF:
Já no art. 60, da Lei n.º 8.213/1991, há uma distinção entre o segurado empregado e os demais
segurados do RGPS. Assinala a norma que apenas àquele é que se deve o pagamento do auxílio a partir do
Marceli
16º dia de afastamento, enquanto que para os demais é devido a contar do início da incapacidade, senão
vejamos:
Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto
dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do
início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz.
Cabe esclarecer que, para todo e qualquer segurado, o fato gerador do auxílio por incapacidade
temporária é a incapacidade maior do que 15 dias. Não há cobertura previdenciária para o risco de
afastamento do trabalho inferior aos quinze primeiros dias de incapacitação. A diferença dada pelo art. 60,
caput, então, refere-se à retroatividade ou não das prestações devidas pelo INSS: se retroagem para o
primeiro dia de afastamento ou não. No caso do segurado empregado, não há essa retroação para o
primeiro dia de afastamento porque é o próprio empregador quem arca com esses primeiros quinze dias de
afastamento, conforme consta expressamente no § 3º, do art. 60. No caso dos demais segurados, sim, há
43ARESP - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - 1188470 2017.02.57055-8, MAURO CAMPBELL MARQUES, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE
DATA:04/10/2019. DTPB.
218
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
essa retroação ao primeiro dia de afastamento, mas somente se a incapacidade, ao final, ultrapassar os 15
dias exigidos no art. 59, caput, da Lei n.º 8.213/1991.
Para ambas as hipóteses (segurados empregados e demais segurados) há, na lei, uma condicionante
temporal de que, se o pedido administrativo do benefício for feito após 30 dias de afastamento, o seu
pagamento não retroagirá para o início da incapacidade (quanto aos demais segurados) ou para o 16º dia de
afastamento (quanto ao segurado empregado), mas sim será contado da DER. Isso consta do § 1º, do art. 60,
da Lei de Benefícios, o qual assevera que, quando “requerido por segurado afastado da atividade por mais
de 30 (trinta) dias, o auxílio-doença será devido a contar da data da entrada do requerimento”. Portanto, se
o segurado solicitou após 30 dias do início de seu afastamento, as prestações não serão retroativas ao
primeiro dia, ou a qualquer dia anterior ao trigésimo dia de afastamento, mesmo que seja constatada que já
nesse momento o segurado estava incapacitado.
Havia exceção ao disposto acima, no sentido de que, caso a incapacidade tivesse decorrido de
acidente de trabalho, não importaria se o pedido fosse feito após 30 dias ou não, pois o pagamento do
benefício sempre retroagiria àqueles marcos de início da incapacidade. A Lei n.º 9.032/1995, contudo,
revogou essa isenção legal direcionada aos casos de acidente de trabalho, não havendo mais essa norma
especial.
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Quanto ao ônus financeiro de arcar com os primeiros quinze dias de afastamento, o pagamento é
feito pelo próprio empregador e não pelo INSS. De acordo com o § 3º, do art. 60, da Lei de Benefícios, durante
“os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à
empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral”. O §4º, do art. 60, é ainda mais explicativo
sob as responsabilidades do empregador em relação ao ónus pelo pagamento dessa quinzena inicial:
§ 4º A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo
o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido no § 3º, somente
devendo encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando a
incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias.
souza -- CPF:
Se houver serviço médico dentro da empresa, o próprio empregador poderá avaliar a incapacidade
de seus empregados, abonando as faltas, se for o caso. Se não houver serviço médico interno ou conveniado,
Marceli souza
caberá ao empregado levar os devidos atestados médicos para a avaliação do empregador. Em qualquer
Marceli
caso, sendo hígida a causa do afastamento, ou seja, em havendo, de fato, incapacidade para o trabalho, a
empresa deve abonar essas faltar. Feito isso, se a incapacidade persistir, deverá encaminhar o segurado ao
INSS somente após o 15º dia, ou seja, no 16º dia de afastamento, quando o segurado já poderá formular
pedido administrativo para a concessão do auxílio por incapacidade temporária.
Quanto à natureza jurídica do pagamento feito pelo empregador, se salário ou benefício
previdenciário, devemos estar atentos ao entendimento jurisprudencial firmado nos Temas 738, do STJ e
482, do STF. O Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Tema 738, entendeu que sobre “a importância paga
pelo empregador ao empregado durante os primeiros quinze dias de afastamento por motivo de doença não
incide a contribuição previdenciária, por não se enquadrar na hipótese de incidência da exação, que exige
verba de natureza remuneratória”. O STJ, portanto, entende que não há natureza salarial no pagamento dos
primeiros quinze dias pelo empregador. De outro lado, em relação aos primeiros 15 dias de afastamento do
segurado empregado, o Supremo Tribunal Federal já cuidou de afastar a repercussão geral sobre a questão,
quando do julgamento do Tema 482:
219
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A norma previdenciária, quando trata do auxílio por incapacidade temporária, faz uma distinção
entre “trabalho” e “atividade habitual”. Essa distinção se deve ao fato de que a habitualidade da atividade
desempenhada pelo segurado é relevante para se aferir se a incapacidade é parcial ou não. A incapacidade
para o “trabalho” deve ser lida como sendo a incapacidade para todo e qualquer trabalho, ou seja, a
incapacidade total. De outro lado, a incapacidade para a “atividade habitual” deve ser lida como a
incapacidade única e exclusivamente para o trabalho que o segurado desempenha de modo habitual, ou seja,
nesse caso a incapacidade é parcial.
A incapacidade para o recebimento do benefício de “auxílio por incapacidade temporária”, o antigo
“auxílio-doença”, deverá ser, em regra, por óbvio, temporária. Se falarmos em incapacidade permanente,
estaremos em outra seara, relativa ao benefício da aposentadoria por incapacidade permanente. A
aposentadoria por incapacidade permanente, contudo, requer a constatação necessária da totalidade da
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incapacidade. Isto é, não basta que a incapacidade seja permanente, ela deve ser total. A incapacidade deve
pairar em relação ao segurado para toda e qualquer atividade laboral. O segurado deve estar incapaz de
modo tal que ele seja insuscetível de reabilitação para qualquer outra atividade laboral. É o que diz o art. 42,
caput, da Lei n.º 8.213/1991, bem como o art. 43, caput, do Decreto n.º 3.048/1999, já com a nova redação
do Decreto n.º 10.410/2020.
Partindo dessas premissas, é possível observar os seguintes tipos de incapacidade, os quais podem
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TIPOS DE “INCAPACIDADES”
GRAU e EXTENSÃO BENEFÍCIO DEVIDO MEDIDA PREVIDENCIÁRIA
TOTAL e TEMPORÁRIA Auxílio por incapacidade temporária Afastamento temporário
souza -- CPF:
Se a incapacidade é total e temporária, não há que se falar em reabilitação, uma vez que o
impedimento laboral é total, ou seja, para qualquer atividade, de modo que não há como o segurado ser
reabilitado para outra função. Para todas as funções laborais ele está absolutamente incapacitado. Nada
obstante, essa incapacidade total e absoluta é meramente temporária, de sorte que bastará o afastamento
das atividades laborais por um tempo, até sua completa recuperação, não sendo cabível a aposentadoria.
Se a incapacidade é parcial e temporária, poder-se-ia falar, a princípio, em reabilitação, porém é
desnecessária, uma vez que o impedimento para a atividade habitual é apenas momentâneo e cessará com
o tempo. Basta o afastamento por um período, até a completa recuperação, assim como no caso acima.
Se a incapacidade é parcial e permanente, podemos falar em reabilitação, porque, nesse caso, o
impedimento funcional e laboral do segurado para a sua atividade habitual é permanente, ou seja, não é
suscetível de recuperação e um período de tempo não será suficiente para isso. A incapacidade é permanente
e está, a princípio, insuscetível de recuperação. Contudo, o perito médico do INSS, na medida em que conclui
ser parcial a incapacidade do segurado, está afirmando que o impedimento laboral é apenas para a atividade
habitual, de sorte que o segurado pode ser reabilitado para outra função compatível com suas características
pessoais.
220
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Nesse caso, o perito médico não fixa uma DCB, mas sim, encaminha o segurado para o serviço de
reabilitação do INSS, conforme disposto no art. 62, da Lei n.º 8.213/1991, in verbis:
Note que, nos casos de incapacidade parcial e permanente, o segurado, ao final do processo de
reabilitação, poderá ter conclusões que podem se dar no sentido de sua recuperação ou de sua “não
recuperação”. Nessa última hipótese o benefício deve ser convertido em aposentadoria por incapacidade
permanente. Isso, porque, na medida em que se conclui, ao final, pela não recuperabilidade do segurado, ele
está insuscetível de recuperação para qualquer outra atividade que lhe garanta sua subsistência.
Cabe registrar, também, que o art. 101 da Lei n.º 8.213/1991 assevera que o
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Não cabe ao segurado escolher se quer se reabilitar ou se tratar, portanto. Nada obstante, se o
segurado não cumprir com sua obrigação pessoal de comparecer ao processo de reabilitação ou se negar
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injustificadamente a fazer tratamento médico, poderá ter o benefício suspenso. Somente não terá essa
obrigação e, por isso, não poderá ter o seu benefício cortado, se o tratamento médico correspondente
indispensavelmente a processo cirúrgico ou transfusão de sangue, de modo que, nesses casos, não terá o
benefício suspenso, por expressa ressalva do art. 101, da Lei de Benefícios.
souza -- CPF:
minirreforma previdenciária), o segurado recluso em regime fechado não pode receber o benefício de auxílio
por incapacidade temporária. Vejamos:
Assim, o segurado recluso não pode receber auxílio por incapacidade temporária, de modo que, (i)
se estava recebendo quando foi para prisão, deverá ser suspenso o benefício (art. 59, § 3º, da Lei n.º
221
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
8.213/1991); (ii) se surgiu a incapacidade durante o encarceramento, não poderá gozar do benefício. No
primeiro caso, a suspensão do benefício terá a duração de 60 dias. Findo esse prazo, se não houver retorno
à liberdade, o benefício deverá ser cessado. Se houver soltura antes do prazo de 60 dias, o restabelecimento
do benefício contará da data em que foi posto em liberdade, não retroagindo para o momento em que foi
suspenso, salvo se a prisão for declarada ilegal, quando, então, retroagirá.
O segurado que durante o gozo do auxílio-doença vier a exercer atividade que lhe garanta
subsistência poderá ter o benefício cancelado a partir do retorno à atividade (art. 60, § 6º, da Lei de
Benefícios). Veja que, quanto ao retorno à atividade que lhe garanta subsistência após o deferimento do
benefício, não há dúvidas de que a disposição normativa acima se aplica sem ressalvas. Nada obstante, o
disposto no § 6º deve ser lido em conjunto com o § 7º, ambos do art. 60, da Lei de Benefícios.
O § 6º aduz que poderá haver o cancelamento porque nem sempre o retorno implicará
descaracterização da incapacidade que gerou o benefício. Isso porque o §7º diz que na “hipótese do § 6º,
caso o segurado, durante o gozo do auxílio-doença, venha a exercer atividade diversa daquela que gerou o
benefício, deverá ser verificada a incapacidade para cada uma das atividades exercidas”. Em resumo, se
houver retorno para a mesma atividade habitual que ensejou o benefício, ou seja, para a atividade em
relação à qual foi reconhecida a incapacidade do segurado, aplicar-se-á o cancelamento. Seria, portanto, um
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Auxílio por incapacidade temporária do segurado que exercer mais de uma atividade
abrangida pela previdência social será devido mesmo no caso de incapacidade apenas para
o exercício de uma delas, hipótese em que o segurado deverá informar a Perícia Médica
Federal a respeito de todas as atividades que estiver exercendo.
souza -- CPF:
Portanto, mesmo que um segurado exerça, por exemplo, duas atividades de trabalho
Marceli souza
concomitantemente, e caso fique incapacitado apenas para uma delas, mesmo assim receberá o auxílio por
incapacidade temporária, independentemente de continuar trabalhando na segunda atividade.
Marceli
Perceba, contudo, que no caso de o segurado ficar incapacitado para ambas as atividades que exerce,
a norma assinala que ele poderá receber o segundo auxílio em patamar abaixo do salário mínimo, mas com
a condição de que somadas as prestações de cada benefício seja superado aquele mínimo.
Outra peculiaridade em relação ao auxílio por incapacidade temporária no caso de atividades
concomitantes é que, caso a incapacidade verificada para uma das atividades desempenhadas
concomitantemente alcance grau absoluto, ou seja, torne-se insuscetível de reabilitação ou recuperação,
não será devida a aposentadoria por incapacidade permanente, enquanto não houver incapacidade para
todas as demais atividades. O auxílio por incapacidade temporária pago em razão da incapacidade de uma
das atividades será pago, assim, indefinidamente, sem conversão para aposentadoria. Vejamos o art. 74, do
RPS:
Art. 74. Quando o segurado que exercer mais de uma atividade for considerado
definitivamente incapacitado para uma delas, o auxílio por incapacidade temporária
deverá ser mantido indefinidamente, hipótese em que não caberá a concessão de
aposentadoria por incapacidade permanente enquanto a incapacidade não se estender às
demais atividades.
222
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
houver atividade remunerada concomitante com período de incapacidade. Isso, pois, nessas condições, o
trabalhador realiza um sobre-esforço, ou seja, vai além de suas limitações e dá o máximo que pode, e o que
não pode, em termos médicos, para sobreviver.
Nesse mesmo sentido, a TNU cristalizou o entendimento de que é possível o recebimento de todo o
período. A Súmula 72 da Turma Nacional de Uniformização, portanto, demarcou que é “possível o
recebimento de benefício por incapacidade durante período em que houve exercício de atividade
remunerada quando comprovado que o segurado estava incapaz para as atividades habituais na época em
CPF: 073.496.444-77
que trabalhou”.
No Superior Tribunal de Justiça, a questão foi dirimida no julgamento do Tema 1013, que firmou a
tese de que no
souza -- CPF:
ao recebimento conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua
incapacidade laboral, e do respectivo benefício previdenciário pago retroativamente.
Marceli
Há, contudo, uma regra específica que consta do Decreto n.º 3.048/1999 – que foi mantida na nova
redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020 – que é referente à CONTINUIDADE DE INCAPACIDADE em
intervalo inferior a 60 dias. Nesses casos, quando após a cessação de um auxílio por incapacidade temporária
se constata, em até 60 dias, um novo afastamento decorrente do mesmo fato gerador, o INSS deve conceder
um novo benefício contado da cessação anterior e DESCONTAR da prestação a ser paga os dias que foram
trabalhados. Vejamos:
Cabe falar, agora, sobre a chamada “alta programada”. Esse instituto é conhecido como COPES –
Cobertura Previdenciária Estimada. No início, a previsão da alta programada era dada apenas pelo art. 78,
§§1º a 3º, do Decreto n.º 3.048/1999, os quais foram incluídos pelo Decreto n.º 5.844/2006. Não havia
previsão direta na Lei de Benefícios e isso era o que abria margem para discussão sobre sua legalidade.
223
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Basicamente, a chamada “alta programada” era prevista no §1º, do art. 78, pelo qual o INSS, no ato de
concessão do benefício, poderia estabelecer o prazo que entendesse suficiente para a recuperação da
capacidade para o trabalho do segurado, dispensando, com isso, uma nova avaliação médico-pericial. Essa
sempre foi a questão: a possibilidade ou não do INSS dispensar uma nova avaliação médico-pericial, cessando
o benefício sem prévia reavaliação da situação médica do segurado.
Um dos argumentos de defesa do INSS, recorrentemente, foi o fato de que o segurado sempre pode
requerer, antes da data demarcada como alta programada, uma nova avaliação médico-pericial. Nesse
sentido, como é possível constatar na leitura do § 2º, do art. 78, do RPS, sempre houve, realmente, essa
possibilidade. Desde o nascedouro normativo do instituto da alta programada se disponibilizou ao segurado
em gozo de benefício, a faculdade administrativa de formular um PP – pedido de prorrogação –, pleiteando,
para tanto, a marcação de nova perícia antes do prazo assinalado na COPES. Com isso, nunca houve, em
tese, mácula à prévia defesa do segurado, já que ele poderia intentar administrativamente a prorrogação do
benefício.
Aliás, quanto à possibilidade de formular pedido de prorrogação do benefício, a TNU entende que
não é necessário formulá-lo para que seja pleiteado o restabelecimento do benefício previdenciário junto ao
Judiciário. Isso ficou assentado no julgamento do TEMA 04, dos representativos de controvérsia da TNU 44.
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A tese firmada foi no sentido de que é “devido o restabelecimento do auxílio-doença nas hipóteses
conhecidas por “alta programada”, independentemente de prévio pedido administrativo de prorrogação”.
Apesar do antigo julgado acima, a TNU afetou há pouco tempo o TEMA 277, o qual possui como questão
submetida a julgamento saber “se à vista do decidido no Tema 164/TNU, quais as consequências da ausência
de pedido administrativo de prorrogação do auxílio-doença cessado por alta programada na postulação
judicial de restabelecimento do benefício”.
Inicialmente, como vimos, somente havia previsão da alta programada por meio de Decreto. Diante
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disso, a sistemática de fixação pelo INSS de um termo final para o benefício de incapacidade, portanto, sem
nova perícia, acabou não sendo aceita pela jurisprudência, especialmente nos Juizados Especiais Federais,
justamente porque não havia “lei em sentido estrito a regulamentar a matéria”45.
De todo modo, após dez anos da criação expressa da alta programada e sua instituição no art. 78, do
souza -- CPF:
Decreto n.º 3.048/1999, o imbróglio normativo decorrente da ausência de dispositivo legal específico para
Marceli souza
aquele instituto foi superado com a aprovação das Medidas Provisórias n.º 739/2016 e n.º 767/2017. Essas
medidas provisórias introduziram alterações diretas na própria Lei n.º 8.213/1991, encerrando a questão. A
Marceli
MP n.º 767/2017 foi convertida na Lei n.º 13.457, de 26 de junho de 2017, de sorte que, definitivamente,
passou a constar expressamente no art. 60, § 8º, da Lei n.º 8.213/1991, a alta programada. Vejamos:
Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia
do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início
da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz.
§ 8º Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial
ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício.
§ 8o Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial
ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício.
Recentemente, no âmbito regulamentar, o art. 78, do RPS, ganhou, como dito, nova redação pelo
Decreto n.º 10.410/2020. Vejamos:
Art. 78. O auxílio por incapacidade temporária cessa pela recuperação da capacidade para
o trabalho, pela concessão de aposentadoria por incapacidade permanente ou, na hipótese
224
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
de o evento causador da redução da capacidade laborativa ser o mesmo que gerou o auxílio
por incapacidade temporária, pela concessão do auxílio acidente.
§ 1º Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio por incapacidade
temporária, judicial ou administrativo, deverá estabelecer o prazo estimado para a duração
do benefício.
O § 1º, do art. 78, do RPS, com a redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020, ganhou ainda mais
corpo, eis que, agora, menciona-se expressamente que não apenas o ato de concessão administrativa deve,
sempre que possível, apontar um prazo estimado para a duração do benefício, mas também o ato judicial
que concede o benefício de auxílio por incapacidade temporária. Quanto ao possível pedido de prorrogação
por parte do segurado antes do termo indicado para a cessação do benefício, manteve-se tal faculdade,
conforme § 2º, do art. 78, do RPS, abaixo transcrito:
ou judicial em relação ao cumprimento da fixação da duração estimada do benefício. Se não houver nenhum
prazo fixado administrativa ou judicialmente, a duração do benefício será de 120 dias. De outro lado, caso o
segurado se considere capaz para retornar ao trabalho antes do prazo assinalado, deverá solicitar perícia
para esse fim. Vejamos:
Art. 78 (...)
§ 4º Caso não seja estabelecido o prazo de que trata o § 1º, o benefício cessará após o prazo
de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do auxílio por
CPF: 073.496.444-77
exame médico-pericial, hipótese em que o benefício será mantido até a data da sua
desistência, desde que posterior à data de cessação estabelecida pela Perícia Médica
Marceli
Federal.
§ 7º O segurado que não concordar com o resultado da avaliação a que se refere o § 1º
poderá apresentar, no prazo de trinta dias, recurso da decisão proferida pela Perícia Médica
Federal perante o Conselho de Recursos da Previdência Social - CRPS, cuja análise médico-
pericial, se necessária, será feita por perito médico federal diverso daquele que tenha
realizado o exame anterior.
Visto isso, a norma atualmente vigente não determina que seja realizada uma perícia de saída do
segurado, isto é, ao fim do prazo estipulado para sua recuperação. A questão, aliás, no âmbito da
jurisprudência, ficou bem alinhada no sentido do julgamento do Tema 164, da TNU, no qual se apontou, em
outras palavras, que a alta programa é válida, de modo que “os benefícios concedidos, reativados ou
prorrogados posteriormente à publicação da MP n.º 767/2017, convertida na Lei n.º 13.457/17, devem, nos
termos da lei, ter a sua DCB fixada, sendo desnecessária, nesses casos, a realização de nova perícia para a
cessação do benefício”.
Assim, o instituto da alta programada administrativa ou judicial está consagrado em nosso
ordenamento jurídico, não havendo mácula legal que afaste sua aplicabilidade na concessão dos benefícios
de auxílio por incapacidade temporária. A TNU assentou, de modo muito explícito, no julgamento do Tema
164 de seus representativos de controvérsia que não vislumbra “ilegalidade na fixação de data estimada para
225
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
a cessação do auxílio-doença, ou mesmo na convocação do segurado para nova avaliação da persistência das
condições que levaram à concessão do benefício na via judicial”.
Deve-se ter em mente, contudo, que a TNU fez um recorte no tempo, tomando como marco legal a
Medida Provisória n.º 739/2016. Para os benefícios concedidos anteriormente a essa medida provisória,
entendeu-se que eles podem ser objeto de revisão administrativa, na forma e prazos previstos em lei e
demais normas que regulamentam a matéria, por meio de prévia convocação dos segurados pelo INSS, para
avaliar se persistem os motivos de concessão do benefício. A decisão não foi muito clara, mas parece apontar
para a negativa de validade da alta programada em relação aos benefícios de auxílio-doença concedidos,
judicial ou administrativamente, anteriormente à edição da MP n.º 739/2016.
No âmbito do STJ, cabe anotar que não há recurso repetitivo sobre a matéria, mas apenas julgados
souza -- CPF:
esparsos no sentido de que a introdução da alta programada em nosso ordenamento jurídico por meio de
Marceli souza
reiteradas decisões no sentido de que a alta programada é contrária ao ordenamento jurídico vigente e que
não pode haver cessação do benefício sem perícia médica prévia, acompanhada de processo administrativo
que assegure ao segurado o contraditório. De todo modo, essas decisões se referiram à momento anterior a
MP 767/2018. Note, por fim, que, conquanto não tenha ocorrido pronunciamento direto, o STJ em outro
julgado já apontou que, indiretamente, a validade da introdução da alta programada por meio da Medida
Provisória n.º 767/2017, senão vejamos:
226
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
A questão que se indaga, agora, é sobre a possibilidade, ou não, do INSS revisar ou cancelar benefícios
previdenciários concedidos judicialmente e já acobertados pela coisa julgada. A resposta é SIM, mas com
ressalvas óbvias, pois permitir a ampla possibilidade de revisão administrativa de sentenças judiciais é
chancelar uma interferência totalmente anômala de um Poder em outro, ferindo de morte, além disso, a
garantia fundamental da inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXVI).
O art. 43, § 4º, da Lei n.º 8.213/1991, assinala que o “segurado aposentado por invalidez poderá ser
convocado a qualquer momento para avaliação das condições que ensejaram o afastamento ou a
aposentadoria, concedida judicial ou administrativamente”. Já o art. 60, § 10, também da Lei n.º 8.213/1991
vai na mesma linha, asseverando que o “segurado em gozo de auxílio-doença, concedido judicial ou
administrativamente, poderá ser convocado a qualquer momento para avaliação das condições que
ensejaram sua concessão ou manutenção”.
Cabe assinalar, contudo, que um ato administrativo que cancela um benefício sem comprovação de
alteração da situação fática que o ensejou, não estará respeitando a coisa julgada e, desse modo,
promovendo inequívoco descumprimento de ordem judicial. De outro lado, vedar completamente a revisão
de um benefício apenas porque ele foi implantado por ato judicial, após sentença ou liminar, não é
condizente com a própria natureza desses benefícios, os quais são concedidos sempre mediante a implícita
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Ausência de fixação do prazo de que trata o § 8º deste artigo, o benefício cessará após o
prazo de cento e vinte dias, contado da data de concessão ou de reativação do auxílio-
doença, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação perante o INSS, na forma do
regulamento, observado o disposto no art. 62 desta Lei.
souza -- CPF:
A carência do benefício de auxílio por incapacidade temporária está prevista no art. 25, I, da Lei n.º
Marceli souza
8.213/1991:
Marceli
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social
depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais;
No RPS, já atualizado pelo Decreto n.º 10.410/2020, a norma se manteve, senão vejamos:
Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
I -doze contribuições mensais, nos casos de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez; e
I - doze contribuições mensais, nos casos de auxílio por incapacidade temporária e
aposentadoria por incapacidade permanente; e (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de
2020).
Portanto, a regra é que sejam exigidas 12 contribuições mensais para ter direito ao benefício.
Havendo perda da qualidade de segurado, para readquirir eventual carência já atingida, deverá haver novo
recolhimento de pelo menos a metade do prazo exigido, ou seja, pelo menos 6 meses de contribuições,
conforme art. 27-A, da Lei n.º 8.213/1991. Existem exceções, contudo, que estão previstas no art. 26, II,
também da Lei de Benefícios:
227
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Em síntese, não será exigível a carência para a concessão do AIT quando a causa da incapacidade
laboral que acomete o segurado for decorrente de: a) acidente de qualquer natureza ou causa; b) doença
profissional; c) doença do trabalho; d) doenças listadas no art. 151, da Lei de Benefícios. Diz o art. 151, da Lei
n.º 8.213/1991:
Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II do art. 26,
independe de carência a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez ao
segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das seguintes doenças: tuberculose
ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose múltipla, hepatopatia grave, neoplasia
maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de
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III - auxílio por incapacidade temporária e aposentadoria por incapacidade permanente nos
casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho
e nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, seja acometido de alguma das
doenças ou afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da
Economia, atualizada a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação,
souza -- CPF:
mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que
mereçam tratamento particularizado;
Marceli souza
228
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Perceba que não necessariamente o acidente precisa ser do trabalho, mas apenas de qualquer
natureza. Então, por exemplo, se a causa que gerou a incapacidade do segurado foi um acidente
automobilístico, não será exigível carência para que ele tenha direito ao benefício.
O cálculo do benefício de auxílio por incapacidade temporária, de acordo com o art. 39, da Portaria
450, será feito na forma do art. 35, do mesmo diploma infralegal, que assim diz:
Art. 35. Nos termos do art. 26 da EC nº 103, de 2019, o PBC é composto por 100% (cem por
cento) dos salários de contribuição a partir de julho de 1994 ou desde o início das
contribuições, se posterior a esta competência, observado o disposto no art. 27.
Portanto, desde 13/11/2019, a regra de cálculo dos benefícios previdenciários é dada pelo art. 26,
caput, da Emenda 103, afastando a norma ainda prevista no art. 29, II, da Lei n.º 8.213/91, que previa, para
o cálculo do salário de benefício, a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição
correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo.
A regra do art. 29, II, da Lei n.º 8.213/1991 pode ser mais favorável para os segurados cuja data de
início da incapacidade tenha se verificado antes de 13/11/2019. A questão, portanto, deve ser vista caso a
caso, na busca do melhor benefício e com a proteção ao direito adquirido e na melhor interpretação do
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princípio tempus regit actum. Apurado o SB (salário de benefício), o coeficiente a ser aplicado para se obter
a RMI do benefício em estudo é previsto no art. 72, caput, do RPS, confirmando a regra prevista no art. 61,
da Lei de Benefícios (Lei n.º 8.213/1991). Vejamos:
Em resumo, a RMI do auxílio por incapacidade temporária será apurada com base na alíquota de 91%
Marceli souza
sobre o SB, o qual, por sua vez, é derivado da média aritmética de 100% por cento do PBC. Interessante
Marceli
observar a regra prevista no art. 39, § 5º, do RPS é aplicável aos auxílios por incapacidade temporária
decorrentes de acidente de qualquer natureza ou causa. Nessas espécies de AIT, em havendo cessação do
benefício e, após, constatação de agravamento que justifique o retorno do benefício cessado, a nova RMI
será de 91% do SB anteriormente apurado. Ou seja, não será feito novo cálculo do SB, mas, sim, usado o SB
apurado para o primeiro benefício cessado, apenas corrigindo-o pelos mesmos índices de correção
empregados no cálculo dos benefícios em geral. Cabe chamar à atenção, por fim, a um limitador da RMI do
AIT, previsto no art. 32, § 23, caput, do RPS, bem como no 29, §10, da Lei de Benefícios. Vejamos:
229
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
se não houver doze salários de contribuição, a média aritmética simples dos salários de
contribuição existentes, observado o disposto no art. 33.
A data de início do benefício de auxílio por incapacidade temporária é regulada de acordo com o art.
59, caput, c/c art. 60, § 1º, ambos da Lei n.º 8.213/1991, bem como no art. 72, do Decreto n.º 3.048/1999, já
na redação dada pelo Decreto n.º 10.410/2020, transcrevido abaixo:
Art. 72. O auxílio por incapacidade temporária consiste em renda mensal correspondente a
noventa e um por cento do salário de benefício definido na forma prevista no art. 32 e será
devido:
I - a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade para o segurado empregado,
exceto o doméstico;
II - a contar da data do início da incapacidade, para os demais segurados, desde que o
afastamento seja superior a quinze dias;
III - a contar da data de entrada do requerimento, quando requerido após o trigésimo dia
do afastamento da atividade, para todos os segurados.
Art. 78. O auxílio por incapacidade temporária cessa pela recuperação da capacidade para
o trabalho, pela concessão de aposentadoria por incapacidade permanente ou, na hipótese
de o evento causador da redução da capacidade laborativa ser o mesmo que gerou o auxílio
por incapacidade temporária, pela concessão do auxílio acidente.
esquema abaixo:
Incapacidade para o
trabalho/atividade
habitual + 15 dias.
souza -- CPF:
230
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após
consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem
sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente
exercia.
§ 1º O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinquenta por cento do salário-de-
benefício e será devido, observado o disposto no § 5º, até a véspera do início de qualquer
aposentadoria ou até a data do óbito do segurado.
§ 2º O auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-
CPF: 073.496.444-77
No Decreto n.º 3.048/1999, com as atualizações do Decreto n.º 10.410/2020, o auxílio-acidente está
regulamentado nos artigos 104 e seguintes.
Com base no regramento normativo acima, podemos identificar que o benefício de auxílio-acidente
está ligado a uma indenização, decorrente da consolidação das lesões, as quais, por sua vez, são provenientes
de um acidente. Esse acidente não precisa ser de trabalho, mas apenas um acidente de qualquer natureza.
Aquelas lesões consolidadas, portanto, precisam gerar no segurado uma sequela, de modo que essa, tendo
relação com a dinâmica funcional do trabalhador, reduza sua capacidade para o trabalho que habitualmente
exercia.
Nada obstante essa necessária relação com o trabalho que habitualmente exercia, desde o Decreto
n.º 6.722, de 2008, cabe “a concessão de auxílio-acidente oriundo de acidente de qualquer natureza ocorrido
durante o período de manutenção da qualidade de segurado”. Nesse caso, a solução a ser dada, para
verificação do direito ao auxílio-acidente, é considerar a última atividade habitualmente exercida. Somente
assim será possível concluir pela relação de prejudicialidade entre a sequela e a função laboral do segurado.
De fato, não fazia sentido impedir o direito ao auxílio-acidente enquanto o segurado está desempregado,
desde que esteja no período de graça, uma vez que o fato gerador do auxílio-acidente já não era, desde 1995,
231
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
atrelado a acidente de trabalho. Logo, poderia um acidente de qualquer natureza, ocorrido enquanto o
segurado já estivesse desempregado, ensejar perfeitamente o fato gerador do benefício.
Como se vê, ainda, o auxílio-acidente não é um benefício cuja prestação é substitutiva da
remuneração do segurado, mas sim um benefício indenizatório. A natureza do auxílio-acidente, portanto,
não é substitutiva. Bem por isso, aliás, é que ele pode ter suas prestações pagas em valor inferior ao salário-
mínimo. Acerca disso, a própria Constituição Federal de 1988, antes mesmo da Emenda 103, já dispunha que
nenhum “benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá
valor mensal inferior ao salário-mínimo” (art. 201, § 2º, CF/88). O auxílio-acidente não substitui o salário de
contribuição ou o rendimento do segurado, de modo que, por isso, ele pode ter valor mensal inferior ao
salário mínimo. Mesmo assim, o auxílio-acidente continua sendo um benefício previdenciário.
Assim, justamente por ser um benefício previdenciário de índole indenizatória, e não substitutiva da
remuneração, é que pode haver cumulação dos valores recebidos pelo INSS com a remuneração do trabalho
do segurado. Dessa forma, o benefício de auxílio-acidente é recebido juntamente com os ganhos habituais
do trabalhador.
O fato gerado do auxílio-acidente é a consolidação das lesões, como dito. Não qualquer consolidação
das lesões, mas apenas aquelas que deixarem sequelas no indivíduo. Deve haver um nexo causal entre a
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sequela e o trabalho habitualmente exercido. Como dito, apenas as sequelas que reduzirem a capacidade
laboral do trabalhador, desde que essa redução tenha relação com o trabalho que habitualmente exercia, é
que são efetivamente consideradas na concessão do auxílio-acidente.
Há, como se vê, um encadeamento lógico de fatos para que nasça o direito ao auxílio-acidente. O
primeiro fato consubstanciador do direito ao benefício é um acidente de qualquer natureza. Novamente
chamo à atenção: não é necessário, portanto, que o acidente seja de trabalho. Basta que seja um acidente,
por exemplo, tropeçando na calçada da rua da sua casa, o que não tem nada a ver com o trabalho. A definição
CPF: 073.496.444-77
de “acidente de qualquer natureza” está posta no art. 30, § 1º, do Decreto n.º 3.048/1999. Vejamos:
Para ser acidente de qualquer natureza, deve haver, assim, alguma ação exógena sobre a pessoa, por
Marceli
meio de agentes físicos, químicos ou biológicos. Essa ação externa deve causar um trauma no corpo,
acarretando algum tipo de lesão ou, no mínimo, perturbação funcional. Esse evento traumático pode gerar
até a morte, como diz a norma, mas para fins de auxílio-acidente, bastará, obviamente, que haja apenas uma
perda ou redução da capacidade laborativa.
ATENÇÃO!
Embora a palavra “sequela” possa nos induzir a concluir que a redução da capacidade laboral causada
por ela seja permanente, a norma previdenciária deixa claro que a lesão ou perturbação funcional pode ser
apenas temporária. Então, não é impossível que um auxílio-acidente dure apenas por um tempo. A sequela
pode ser superada de algum modo, com o tempo, o que será objeto de revisões periódicas do INSS.
Nada obstante, a questão da reversibilidade ou não da sequela é tema que transita nos tribunais.
Existem decisões judiciais que que afirmam ser irrelevante a constatação médica de reversibilidade futura da
lesão. Contudo tem prevalecido o entendimento de que uma lesão anatômica seja superada com o tempo,
seja pelo uso e pela modernização, por exemplo, de próteses mecânicas, robóticas etc. De outro lado, o
próprio segurado pode se desenvolver de tal forma que a lesão consolidada não mais passe a implicar
redução da capacidade laborativa, não justificando a prestação indenizatória do auxílio-acidente. Por fim, a
232
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
própria norma previdenciária, como vimos, ao tratar do acidente de qualquer natureza, define como sendo
um evento que gera perda ou a redução permanente ou temporária da capacidade laborativa. Conclui-se,
assim, que a sequela pode ser reversível, na medida em que os efeitos do acidente de qualquer natureza
podem ser temporários.
O Superior Tribunal de Justiça acabou definindo essa discussão por meio do julgamento do Tema 156
de seus repetitivos, demarcando a tese de que será “devido o auxílio-acidente quando demonstrado o nexo
de causalidade entre a redução de natureza permanente da capacidade laborativa e a atividade profissional
desenvolvida, sendo irrelevante a possibilidade de reversibilidade da doença”46.
Além dessa questão, deve-se ter em mente que, no auxílio-acidente, pressupõe-se sempre que o
acidente de qualquer natureza tenha provocado, primeiro, uma lesão incapacitante e que, após certo lapso
de tempo, que essa lesão tenha se consolidado. A consolidação significa que seu processo curativo ou de
recuperação de algum modo se estagnou, estabilizando os impactos anatômicos ou funcionais na capacidade
de trabalho do segurado acidentado.
A sequela, pela letra do art. 86, da Lei n.º 8.213/1991, pode ser qualquer uma, conquanto que tenha
relação com a atividade habitual do trabalhador. O art. 104, caput, do RPS, aliás, expressamente registra que
o acidente de qualquer natureza que resulta sequela definitiva “a exemplo das situações discriminadas no
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Anexo III”, implica direito ao auxílio. A “relação das situações que dão direito ao auxílio-acidente”, conforme
Anexo III, do Regulamento da Previdência Social, é meramente exemplificativa. Isso constou, inclusive, da
intepretação dada pela própria Administração Pública, que reconheceu a natureza exemplificativa desse rol
no Parecer 17/2013/CONJUR-MPS/CGU/AGU, aprovado pela Portaria n.º 264/2013/MPS 47. Apesar disso, já
houve uma tentativa do Poder Executivo Federal em, aparentemente, tornar a interpretação sobre a noção
de sequela não mais casuística, mas sim prévia e taxativa. Isso ocorreu durante a vigência da Medida
Provisória n.º 905, de 11 de novembro de 2019 (permeada pela MP 955/2019), que incluiu o § 6º, ao art. 86,
CPF: 073.496.444-77
Economia, de acordo com critérios técnicos e científicos. (Incluído pela Medida Provisória
nº 905, de 2019) (Revogada pela Medida Provisória nº 955, de 2020) Vigência encerrada
Marceli souza
A referida MP, no entanto, não foi convertida em lei e perdeu sua vigência em 18/08/2020. Assim,
Marceli
continua não havendo previsão fechada das hipóteses que dão ensejo à concessão do auxílio-acidente.
Importante saber, de outro lado, que o elemento “acidente de qualquer natureza” para fins de
auxílio-acidente somente, foi inserido na norma previdenciária pela Lei n.º 9.528/1997. Antes dessa lei,
somente se concedia aquele benefício quando houvesse um acidente de trabalho. Portanto, a generalidade
ínsita ao conceito de “acidente de qualquer natureza” somente foi inserida em nossa legislação
previdenciária pela Lei n.º 9.032/1995. Antes dela, somente pelo acidente ocorrido no bojo das relações
laborais é que se poderia ter o nascimento do fato gerador do benefício de auxílio-acidente.
Quanto ao termo inicial do benefício de auxílio-acidente, é de ser destacar que, em regra, não existe
o auxílio-acidente deferido sem que tenha havido, antes, a concessão de um auxílio por incapacidade
temporária. Portanto, ele é comumente derivado de um benefício precedente. É o que no mais das vezes se
verifica, especialmente porque não há nas plataformas de atendimento do INSS um canal de pedido
específico para a concessão do auxílio-acidente, sendo sua concessão sempre derivada da análise relacionada
ao auxílio por incapacidade temporária.
46 REsp 1112886/SP, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, julgado em 25/11/2009, DJe 12/02/2010.
47 AMADO, Frederico, in Curso de Direito e Processo Previdenciário, 11ª edição, Editora JusPodvim, 2019, Salvador, p. 1064.
233
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Nada obstante, não seria impossível, do ponto de vista do direito de petição, como garantia
fundamental de qualquer pessoa, uma postulação administrativa inominada para o INSS, requerendo apenas
o auxílio-acidente, independentemente do direito, em tese, a um possível auxílio por incapacidade
temporária precedente. Além disso, a jurisprudência tem aceito que, nesses casos, haja postulação judicial
direta, como no caso do julgado abaixo, proferido pelo STJ:
No âmbito administrativo também vigora esse entendimento, que pode ser constatado no
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que lhe implique sequela definitiva e, com isso, redução de sua capacidade para o trabalho que
habitualmente exercia. Conclui-se, com isso, que deve haver um nexo de causalidade entre a sequela e a
funcionalidade laboral do membro ou de qualquer parte anatômica do segurado que tenha sido afetado pela
souza -- CPF:
lesão ou perturbação.
Se não houver esse nexo, não há direito ao auxílio-acidente.
Marceli souza
Contudo, é importante lembrar que o grau da lesão, se mínima, média ou máxima, não implicará
Marceli
absolutamente nenhuma alteração no direito ao recebimento do benefício. Isso quer dizer que, se houver a
verificação do nexo de causalidade entre a sequela e a atividade laboral do segurado, de modo a se perceber
a redução da capacidade dele em tal função, não importará se essa redução será mínima. O que importa é
que há uma sequela que, ainda que minimamente, impactará algum tipo de atenção ou esforço especial do
trabalhador na atividade que habitualmente exercia.
Essa questão já foi alvo de intensa discussão jurisprudencial, mas o STJ definiu em favor dos
segurados no âmbito do Tema 416, de seus recursos repetitivos. A tese fixada foi no sentido de que se exige
“para concessão do auxílio-acidente, a existência de lesão, decorrente de acidente do trabalho, que implique
redução da capacidade para o labor habitualmente exercido. O nível do dano e, em consequência, o grau do
maior esforço, não interferem na concessão do benefício, o qual será devido ainda que mínima a lesão” 48.
Cabe perceber, ademais, que o decreto n.º 10.410/2020 deu nova redação ao art. 104, do RPS,
revogando os incisos I a III que delineavam as hipóteses possíveis de redução da capacidade em decorrência
das sequelas verificadas. Agora, a redação atual está assim disposta, apenas afirmando que qualquer redução
da capacidade pode gerar o benefício:
48REsp 1109591/SC, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
25/08/2010, DJe 08/09/2010.
234
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Há, também, uma previsão legal peculiar, que precisa ser lembrada e que diz respeito ao
delineamento normativo dado ao que se concebe como redução da capacidade laboral para fins de
percepção do auxílio-acidente. Diz, expressamente o §4º, do art. 86, da Lei de Benefícios, que a “perda da
audição, em qualquer grau, somente proporcionará a concessão do auxílio-acidente, quando, além do
reconhecimento de causalidade entre o trabalho e a doença, resultar, comprovadamente, na redução ou
perda da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia”. A Súmula 44, do STJ, acerca da perda da
audição para fins de auxílio-acidente, aponta que a “definição, em ato regulamentar, de grau mínimo de
disacusia, não exclui, por si só, a concessão do benefício previdenciário”. A “disacusia” é o “estado mórbido
em que certos sons produzem distúrbio da audição, dor ou mal-estar; disacústica”49.
Vejamos, agora, quem são os beneficiários do auxílio-acidente. É o art. 18, § 1º, da Lei de Benefícios,
que define quais são esses:
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Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas
inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em
benefícios e serviços:
(...)
§ 1o Somente poderão beneficiar-se do auxílio-acidente os segurados incluídos nos incisos
I, II, VI e VII do art. 11 desta Lei.
Sinterizaremos em um quadro-resumo:
CPF: 073.496.444-77
Segurado EMPREGADO
Segurado EMPREGADO DOMÉSTICO
BENEFICIÁRIOS DO AUXÍLIO-ACIDENTE
Segurado TRABALHADOR AVULSO
souza -- CPF:
Segurado ESPECIAL
Marceli souza
Com relação aos empregados domésticos, eles somente passaram a ser beneficiários a partir da Lei
Complementar n.º 150, de 1º de junho de 2015. Mas, a grande questão que se destaca em relação aos
Marceli
235
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
indicação expressa da exclusão desses segurados e apenas indica as contingências materiais para o
delineamento do fato gerador do auxílio-acidente. O critério legal da lei, portanto, é objetivo e não subjetivo.
Já o art. 104, caput, do RPS, vai além e indica expressamente apenas os segurados empregados, empregados
domésticos, avulsos e segurados especiais como possuidores do direito ao auxílio-acidente. Como exemplo
de posição doutrinária no sentido de incluir os contribuintes individuais e segurados facultativos, cito, a
doutrina de Lazzari50:
Contribuintes individuais e segurados facultativos não fazem jus a esse benefício, segundo
a interpretação dominante, por não estarem enquadrados na proteção acidentária (art. 19
da Lei n.º 8.213/ 1991). Nesse sentido: TRF4, AC 0023410-26.2014.404.9999, 5ª Turma, Rel.
Juiz Federal Luiz A. Bonat, DE de 26.4.2016; AC 0003072-26.2017.4.04.9999, TRS-SC, Rel.
Des. Paulo A. B. Vaz, DE 5.4.2018).
A Constituição Federal não estabelece distinção entre os segurados da Previdência Social
no tocante ao auxílio-acidente.
Portanto, entendemos que deve ser reconhecido o direito ao tratamento isonômico entre
os segurados do RGPS.
Por outro lado, a ausência de previsão na Lei n.º 8.213/ 1991 não impede a concessão do
auxílio-acidente ao contribuinte individual, pois a contribuição que financia esse benefício
não é da responsabilidade dos segurados. Nesse sentido: Recurso Cível 5000361-
marceliangel@hotmail·com
073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
91.2012.404.7200/ SC, 1ª Turma Recursal de Santa Catarina, Rel. p/ acórdão Juiz Federal
João Batista Lazzari, Sessão de 13.11.2012.
Entretanto, destaca-se que as posições acima não refletem a atual jurisprudência, que aponta pela
NÃO concessão do auxílio-acidente ao contribuinte individual, tal como cristalizado na percepção da TNU
quando do recente julgamento do Tema 201, de seus representativos de controvérsia, que fixou a tese de
que o “contribuinte individual não faz jus ao auxílio-acidente, diante de expressa exclusão legal”.
CPF: 073.496.444-77
Em relação aos segurados especiais, inicialmente eles não estavam previstos como detentores do
direito ao benefício, e havia entendimento que apontava o direito ao benefício somente se os segurados
especiais recolhessem facultativamente. A redação do art. 39, I, da Lei de Benefícios, não incluía
expressamente aquele benefício acidentário no rol de proteção previdenciária dos segurados especiais. Isso
souza -- CPF:
foi alterado, no entanto, pela Lei n.º 12.873/2013, que deu a seguinte redação ao art. 39, I, da Lei n.º
8.213/1991:
Marceli souza
Marceli
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, fica
garantida a concessão:
I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de
pensão, no valor de 1 (um) salário-mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art.
86, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no
período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses
correspondentes à carência do benefício requerido; ou
Por fim, a minirreforma previdenciária promovida pela Lei n.º 13.846/2019 manteve a inclusão do
auxílio-acidente ao segurado especial, senão vejamos:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do caput do art. 11 desta Lei,
fica garantida a concessão:
I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de
pensão, no valor de 1 (um) salário-mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art.
86 desta Lei, desde que comprovem o exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao
50 Idem.
236
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Apesar da mudança legislativa acima, a divergência permanecia em relação ao período anterior a Lei
n.º 12.873/2013. Contudo, o STJ decidiu a questão no julgamento do Tema 627, fixando a seguinte tese no
sentido de que o “segurado especial, cujo acidente ou moléstia é anterior à vigência da Lei n.º 12.873/ 2013,
que alterou a redação do inciso I do artigo 39 da Lei n.º 8.213/ 91, não precisa comprovar o recolhimento de
contribuição como segurado facultativo para ter direito ao auxílio-acidente”51.
Tema importante em relação ao auxílio-acidente, também, refere-se à antiga vitaliciedade do
benefício e às regras de cumulação com aposentadoria. Na redação original do art. 86, § 1º, da Lei de
Benefícios, o auxílio-acidente era um benefício vitalício. Essa vitaliciedade foi mantida pela redação dada
pela Lei n.º 9.032/1995, mas tal direito foi extinto com a Lei n.º 9.528/1997, que deu nova redação ao art.
86, § 1º, da Lei de Benefícios, fixando o seguinte:
Pela Medida Provisória 1.596-14, convertida na Lei n.º 9.528/1997, portanto, foram introduzidas
como causas de cessação do benefício de auxílio-acidente o óbito do segurado, bem como a concessão de
qualquer aposentadoria. Até então era possível a cumulação do auxílio-acidente com qualquer
aposentadoria. A partir disso, passou a ser proibida tal cumulação. Atualmente, o auxílio-acidente pode ser
cumulado com qualquer benefício previdenciário, salvo qualquer aposentadoria. Apesar dessa mudança, a
MP n.º 1.596-14, convertida na Lei n.º 9.528/97, também alterou o art. 31, da Lei n.º 8.213/1991, passando
CPF: 073.496.444-77
da AGU:
Marceli souza
O Supremo Tribunal Federal, ao final, reconheceu a repercussão geral sobre essa questão, afetando
o julgamento do RE 687.813 ao Tema 599, mas até hoje não houve apreciação da questão.
237
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Ainda no tópico relacionado à acumulação de benefícios, cabe frisar que há entendimento no sentido
de que dois auxílios-acidentes poderiam ser cumulados em decorrência de fatos geradores distintos, ou seja,
se cada auxílio-acidente derivasse de infortúnios diversos. Contudo, essa não é a letra da norma
previdenciária, a qual não parece abrir exceção para nenhuma hipótese de cumulação de auxílios-acidentes,
ainda que derivados de infortúnios diversos.
O art. 124, IV, da Lei n.º 8.213/1991, assinala claramente que não é permitido o recebimento
conjunto de mais de um auxílio-acidente. É até possível o recebimento de auxílio por incapacidade
temporária decorrente de outro acidente ou doença, com auxílio-acidente pago em razão de atividade
concomitante, mas a norma proíbe dois auxílios-acidentes, ainda que decorrentes de atividades
concomitantes. No STJ é pacífico o entendimento quanto “à impossibilidade de acumulação de mais de um
auxílio-acidente. Contudo, havendo novo infortúnio, admite-se recalcular o benefício que já vinha sendo
pago, somando-se ao salário de contribuição vigente no dia do segundo acidente, a fim de obter valor
melhorado”52
Além disso, o art. 129, do RPS, determina que o “segurado em gozo de auxílio-acidente, auxílio-
suplementar ou abono de permanência em serviço terá o benefício encerrado na data da emissão da
certidão de tempo de contribuição”. Contra essa interpretação, manifesta-se Lazzari53 ao afirmar “o INSS,
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
benefício e será devido, observado o disposto no § 5º, até a véspera do início de qualquer
aposentadoria ou até a data do óbito do segurado.
Marceli
É o salário de benefício que deu origem ao auxílio por incapacidade temporária precedente do
auxílio-acidente, sobre o qual incidirá o coeficiente acima. Nada impede, como já dito, que a RMI seja inferior
ao salário mínimo. O STF chegou a afetar tal questão ao Tema 609, mas concluiu que se trata de matéria de
índole infraconstitucional.
Nos termos do art. 26, I, da Lei n.º 8.213/1991, independe de carência a concessão de auxílio-
acidente. Cabe lembrar, contudo, que o auxílio-acidente, em geral, é precedido de um auxílio por
incapacidade temporária, de modo que para este, em regra, deve haver a satisfação de 12 meses de carência.
Nada obstante, como já falamos, pode haver, também, a concessão inicial de auxílio-acidente. Em qualquer
dos casos, por óbvio, o postulante ao benefício deverá comprovar sua qualidade de segurado.
O auxílio-acidente será “devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença,
independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado, vedada sua
acumulação com qualquer aposentadoria” (art. 86, § 2º, da Lei n.º 8.213/1991). Quando não houver prévio
52 ARESP - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - 1545456 2019.02.13296-2, HERMAN BENJAMIN, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE
DATA:19/12/2019. DTPB.
53 Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 20368-20376). Forense.
Edição do Kindle.
238
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
auxílio por incapacidade temporária, bem como ausente o prévio requerimento administrativo de auxílio
acidente, o termo inicial de pedidos judiciais deve ser a data da citação.
Note que o INSS, ao que parece, não disponibiliza no “meu INSS” o pedido direito de auxílio-acidente,
de modo que, com isso, fica liberado o pedido direito pela via judicial, sem ofensa à jurisprudência do STF.
Em relação a isso, o STJ entendeu, no Tema 862, que o “termo inicial do auxílio-acidente deve recair no dia
seguinte ao da cessação do auxílio-doença que lhe deu origem, conforme determina o art. 86, § 2º, da Lei n.º
8.213/1991, observando-se a prescrição quinquenal da Súmula 85/STJ”.
Para finalizar, sintetizaremos as características desse importante benefício:
DIB
b) a partir da data da citação nos
pedidos judiciais, quando não
houver prévio AIT ou prévio
requerimento administrativo.
souza -- CPF:
Marceli souza
2.13. Salário-maternidade
Marceli
As normas que tratam do salário-maternidade são: a) art. 201, II, da CF/88; b) arts. 71 a 73, da Lei n.º
8.213/1991; c) arts. 93 a 103, do Decreto n.º 3.048/1999; d) art. 38, da Portaria 450/2020; e) arts. 340 a 358,
da IN 77/2015.
Trata-se de benefício que dirigida às trabalhadoras que ficam afastadas do trabalho em virtude do
parto, bem como de aborto não criminoso e, ainda, em virtude da adoção. Além disso, importante ressaltar
que o salário-maternidade não é sinônimo de licença maternidade, sendo essa decorrente de um direito
trabalhista. O salário-maternidade é um direito previdenciário e a licença maternidade um direito trabalhista.
São os arts. 391 a 400, da CLT que dispõem sobre a proteção à maternidade no âmbito das relações
trabalhistas. A licença à gestante, aliás, possui previsão constitucional, no art. 7º, XVIII:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
(...)
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e
vinte dias;
239
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
(...)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante.
Após a CF/88, sobreveio a Lei n.º 8.213/1991, com a regulamentação do benefício. Na redação
original do art. 71, da referida lei, o salário-maternidade era garantido apenas para a segurada empregada,
empregada doméstica e trabalhadora avulsa. Posteriormente, vale lembrar, a Lei n.º 8.861/1994, expandiu
a proteção previdenciária da maternidade em relação às seguradas especiais, no valor de 1 salário-mínimo.
Nova expansão de cobertura veio com a edição da Lei n.º 9.876/1999, propiciando o salário-maternidade
também para as seguradas contribuintes individuais e facultativas. Desde então, portanto, todas as
categorias de seguradas do RGPS estão contempladas com o direito ao salário-maternidade.
Interessante anotar a restrição do recebimento concomitante de salário-maternidade ainda que um
dos adotantes cônjuges esteja vinculado a regime próprio. Em outros termos, não importa se a fonte do
pagamento conjunto será a mesma ou não. O que importa é não pagar mais de um salário-maternidade para
um mesmo núcleo familiar adotante.
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
A Lei n.º 10.422/2002, ainda, propiciou o salário-maternidade em caso de adoção ou guarda judicial
para fins de adoção. Interessante observar que, no caso de adoção ou guarda judicial para fins de adoção, o
salário-maternidade será “devido ao segurado ou à segurada independentemente de a mãe biológica ter
recebido o mesmo benefício quando do nascimento da criança” (art. 93-A, § 1º, do RPS).
Por fim, a Lei n.º 12.873/2013 permitiu o recebimento do benefício para o segurado, homem,
também em caso de adoção ou guarda judicial para fins de adoção, conforme art. 71-A, da Lei n.º 8.213/1991.
Veja, aliás, que o prazo de duração do salário-maternidade nessa última hipótese é de 120 dias também, não
CPF: 073.496.444-77
havendo diferenciação entre homens e mulheres. Não poderá haver, contudo, concessão dupla do benefício,
ou seja, para a mulher adotante e para o home adotante em relação a mesma criança. Essa vedação se
encontra prevista no art. 93-A, § 7º, do RPS:
souza -- CPF:
Art. 71-B. No caso de falecimento da segurada ou segurado que fizer jus ao recebimento do
salário-maternidade, o benefício será pago, por todo o período ou pelo tempo restante a
que teria direito, ao cônjuge ou companheiro sobrevivente que tenha a qualidade de
segurado, exceto no caso do falecimento do filho ou de seu abandono, observadas as
normas aplicáveis ao salário-maternidade.
§ 1º O pagamento do benefício de que trata o caput deverá ser requerido até o último dia
do prazo previsto para o término do salário-maternidade originário.
§ 2º O benefício de que trata o caput será pago diretamente pela Previdência Social durante
o período entre a data do óbito e o último dia do término do salário-maternidade originário
e será calculado sobre:
I - a remuneração integral, para o empregado e trabalhador avulso;
II - o último salário-de-contribuição, para o empregado doméstico;
240
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
III - 1/12 (um doze avos) da soma dos 12 (doze) últimos salários de contribuição, apurados
em um período não superior a 15 (quinze) meses, para o contribuinte individual, facultativo
e desempregado; e
IV - o valor do salário-mínimo, para o segurado especial.
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo ao segurado que adotar ou obtiver guarda judicial
para fins de adoção.
dias atuais.
Acerca da duração do benefício de salário-maternidade, haverá diferença de tempo conforme o tipo
de benefício, isto é, se decorrente de parto, aborto não criminoso ou adoção/guarda para fins de adoção. No
caso do parto, o benefício tem duração de 120 dias, com início no período entre 28 (vinte e oito) dias antes
do parto e a data de ocorrência deste. Isso quer dizer que o salário-maternidade pode ter início no 28º dia
antecedente ao parto. Se isso ocorrer, ela terá após o parto mais 91 dias de salário-maternidade, em regra
CPF: 073.496.444-77
(28 + 1 + 91 =120 dias). Entretanto, considerando que nem sempre é possível definir a data do parto, o
benefício de salário-maternidade terá sempre, na verdade, a duração de 120 dias, não sendo muito
relevante, na prática, os períodos pré e pós-parto acima indicados. Veja, nesse sentido, a disposição prevista
no art. 93, § 4º, do RPS:
souza -- CPF:
§ 4º Em caso de parto antecipado ou não, a segurada tem direito aos cento e vinte dias
previstos neste artigo.
Marceli
Embora o dia do parto seja, administrativamente, para o INSS, a data de início do benefício, o direito
ao benefício pode ser demonstrado a partir do 28º dia antecedente ao nascimento da criança. O INSS
entende se o direito ao salário-maternidade for demonstrado a partir do 28º dia, caso a segurada perca a
qualidade de segurado logo após, na data do parto, isso não afetará a concessão do benefício, conforme
PARECER/CONJUR/MPS 616/2010. Existe regra em lei especial sobre o salário-maternidade concedido para
crianças vítimas de microcefalia, de modo que neste caso o benefício terá a duração legal de 180 dias, nos
termos da Lei n.º 13.985/2020.
A regra geral é, como visto, no caso de parto, o prazo de 120 dias. No entanto a norma previdenciária
também permite exceção, estendendo o prazo anterior e posterior daquele interregno por mais duas
semanas. Assim, pelo art. 93, § 3º, do RPS, é possível considerar mais duas semanas para antes e para após
o parto:
241
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
No caso de adoção, ou guarda judicial para fins de adoção, o salário-maternidade terá a duração,
igualmente, de 120 dias, conforme art. 71-A, da Lei de Benefícios:
Art. 71-A. Ao segurado ou segurada da Previdência Social que adotar ou obtiver guarda
judicial para fins de adoção de criança é devido salário-maternidade pelo período de 120
(cento e vinte) dias.
§ 1º O salário-maternidade de que trata este artigo será pago diretamente pela Previdência
Social.
Nesse caso, contudo, não há direito de extensão em mais duas semanas, já que a norma fala em
período pré e pós parto, o que não se aplica ao caso de adoção ou guarda judicial para fins de adoção. De se
perceber, ainda, que a norma previdenciária fala em adoção de criança, o que exclui a proteção no caso de
adoção de adolescente. Desse modo, é possível o recebimento de salário-maternidade se a adoção ou guarda
judicial para fins de adoção quando a criança tiver até 12 anos de idade incompletos. A expressão
“incompletos” significa que será considerada criança até o dia anterior que completar doze anos de idade.
Nesse sentido, a letra expressa do art. 93-A, caput, do RPS, conforme redação dada pelo Decreto n.º
10.410/2020, cuja letra registra que o “salário-maternidade é devido ao segurado ou à segurada da
marceliangel@hotmail·com
previdência social que adotar ou obtiver guarda judicial, para fins de adoção de criança de até doze anos de
073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
ADPF 54.
Deve ser lembrado, também, de recente julgamento do Supremo Tribunal Federal na ADPF 6327, em
medida cautelar, que entendeu ser possível a extensão do salário-maternidade em caso de partos
prematuros. Vejamos trecho da ementa do julgado:
souza -- CPF:
(...) 9. Presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, defiro a liminar, a fim de conferir
Marceli souza
interpretação conforme à Constituição ao artigo 392, §1º, da CLT, assim como ao artigo
71 da Lei n.º 8.213/1991 e, por arrastamento, ao artigo 93 do seu Regulamento (Decreto
Marceli
242
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
maternidade, o valor desse benefício será calculado com base na média dos salários de contribuição
apurados no intervalo máximo de 15 meses anteriores ao parto e será pago à razão de 1/12 avos. Nas
competências anteriores ao parto nas quais não houver salário de contribuição, deverá ser considerado, para
efeito de cálculo, o valor de um salário mínimo.
Cabe lembrar que o salário-maternidade, no caso das seguradas empregadas, não se sujeita ao teto
do RGPS, limitando-se ao teto do funcionalismo público, ou seja, o subsídio recebido pelos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, senão vejamos a previsão do art. 94, da Lei de Benefícios, bem como dos artigos
CPF: 073.496.444-77
igual à sua remuneração integral e será pago pela empresa, efetivando-se a compensação,
observado o disposto no art. 248 da Constituição, quando do recolhimento das
Marceli souza
Art. 248. Os benefícios pagos, a qualquer título, pelo órgão responsável pelo regime geral
de previdência social, ainda que à conta do Tesouro Nacional, e os não sujeitos ao limite
máximo de valor fixado para os benefícios concedidos por esse regime observarão os limites
fixados no art. 37, XI.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo
e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória,
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder
Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e
o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte
e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
243
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do
Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos;
Se a segurada empregada receber remuneração que supere o subsídio mensal dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, a empresa empregadora assume a diferença. Isso porque o art. 7º, inciso XVIII, da
Constituição Federal, assegura a “licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração
de cento e vinte dias”.
Em relação à carência do salário-maternidade, também há tratamento normativo distinto conforme
a categoria de segurada. Para as seguradas empregada, empregada doméstica e trabalhadora avulsa não se
exige carência. De outro lado, para a segurada contribuinte individual, segurada facultativa e segurada
especial são exigidas 10 contribuições mensais a título de carência.
Em síntese:
No caso da segurada especial a carência será comprovada por meio do trabalho rural em regime de
economia familiar nos dez meses anteriores ao fato gerado do benefício.
Para finalizar, façamos uma síntese dos requisitos do salário-maternidade:
criminoso; adoção/guarda
para adoção.
SALÁRIO-
MATERNIDADE RMI: depende da categoria b) segurada especial: um salário mínimo.
de segurada.
244
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
2.14. Salário-família
As normas aplicáveis ao salário-família são: a) Art. 201, IV, da CF/88; b) arts. 65 a 70, da Lei n.º
8.213/1991; c) arts. 81 a 92, do Decreto n.º 3.048/1999; d) art. 53, da Portaria n.º 450; e) arts. 359 a 363, da
IN 77.
O salário-família é um benefício previdenciário voltado para as famílias de baixa renda. Assim,
somente fazem jus os segurados cujo salário de contribuição seja inferior aos valores fixados em ato infralegal
pelo INSS. No ano de 2021, de acordo com a PORTARIA SEPRT/ME Nº 477, de 12 de janeiro de 2021, o valor
fixado para a consideração de baixa renda foi de R$ 1.503,25 (um mil quinhentos e três reais e vinte e cinco
centavos). Desta feita, somente o segurado que possui renda igual ou inferior a esse quantitativo é que terá
direito ao recebimento do salário-família, desde que cumpridos os demais requisitos.
Cabe lembrar que o salário-família é benefício previdenciário previsto na Constituição Federal de
1988, que em seu art. 201, IV, enuncia que a previdência social atenderá, dentre outras contingências sociais,
o “salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda”. Além disso, consta
também do art. 7º, XII, da Constituição, cuja letra assevera que são direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social (...) o salário-família pago em razão do
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dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei. Note que, até a Emenda 20/1998, o salário-
família não possuía o condicionamento normativo de ser dirigido apenas ao trabalhador de baixa renda. Tal
requisito normativo, portanto, somente passou a ser exigido com a publicação daquela emenda
constitucional, de modo que antes disso, o benefício poderia ser pago independentemente da renda auferida
pelo segurado.
De todo modo, antes ou depois da inserção desse requisito, a norma previdenciária sempre restringiu
o pagamento do salário-família apenas aos segurados empregados, empregados domésticos e trabalhadores
CPF: 073.496.444-77
avulsos. Portanto, contribuintes individuais, segurados facultativos e segurados especiais estão fora do
espectro de proteção previdenciária do salário-família.
Em síntese:
souza -- CPF:
SALÁRIO-FAMÍLIA
Segurados que possuem direito a receber Segurados que não possuem direito a receber
Marceli souza
Quando o pai e a mãe são segurados empregados, inclusive domésticos, ou trabalhadores avulsos,
ambos têm direito ao salário-família. O aposentado por invalidez ou por idade e os demais aposentados com
65 (sessenta e cinco) anos ou mais de idade, se do sexo masculino, ou 60 (sessenta) anos ou mais, se do
feminino, terão direito ao salário-família, pago juntamente com a aposentadoria. Assim, permite-se a
cumulação de ambos os benefícios: salário-família e aposentadoria, desde que essa tenha sido nas espécies
“aposentadoria por incapacidade permanente” ou “aposentadoria por idade”.
Na medida em que não há mais aposentadoria por idade urbana, como já estudado, o novo
regulamento da previdência social estabelecido com as alterações promovidas pelo Decreto n.º 10.410/2020
assinalou a possibilidade de recebimento conjunto de salário-família pelos segurados empregados e
trabalhadores avulsos aposentados, desde que tenham 65 anos de idade, se homem, ou 60 anos de idade,
se mulher. Ao que parece, na medida em que não restringe a que tipo e aposentadoria, parece que a norma
permitiu o recebimento conjunto do benefício com qualquer aposentadoria, desde que concedida para
segurados que comprovem aquela idade mínima.
Vejamos o dispositivo pertinente no RPS:
245
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
art. 201 da Constituição Federal, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que
tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 1.364,43 (mil, trezentos e sessenta e
quatro reais e quarenta e três centavos), que serão corrigidos pelos mesmos índices
aplicados aos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
Além disso, a Emenda 103 deixou claro que até que “lei discipline o valor do salário-família, de que
trata o inciso IV do art. 201 da Constituição Federal, seu valor será de R$ 46,54”. Com efeito, o salário-família
passou a ter faixa única de enquadramento no que toca ao valor da cota paga por dependente. Antes havia
CPF: 073.496.444-77
duas faixas de enquadramento. A Portaria 450, justamente nesse sentido de interpretação, disciplinou no
seu art. 53, que o “benefício de salário-família, a partir de 14 de novembro de 2019, passa a ter faixa única
quanto ao valor da cota devida, não havendo alteração para enquadramento como segurado de baixa renda,
conforme estabelecido pelo art. 27 da EC nº 103, de 2019”. Já no Decreto n.º 3.048/1999, com as alterações
souza -- CPF:
dadas pelo Decreto n.º 10.410/2020, essa sistemática de pagamento em faixa única foi confirmada, senão
vejamos:
Marceli souza
Marceli
Art. 83. O valor da cota do salário-família por filho ou por enteado e por menor tutelado,
desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos, até quatorze anos de
idade ou inválido, é de R$ 48,62 (quarenta e oito reais e sessenta e dois centavos).
Quanto ao ônus de pagamento, conforme o art. 68, da Lei de Benefícios, as cotas do salário-família
serão pagas pela empresa ou pelo empregador doméstico, mensalmente, junto com o salário, efetivando-se
a compensação quando do recolhimento das contribuições, conforme dispuser o Regulamento. Já o art. 81,
do Regulamento da Previdência Social estabelece que o salário-família é devido, mensalmente, ao segurado
empregado, inclusive o doméstico, e ao trabalhador avulso, na proporção do respectivo número de filhos
ou de enteados e de menores tutelados, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos.
Assim, o salário-família é pago em tantas cotas quantos forem o número de filhos, enteados ou menores
tutelados, sendo que para esses dois últimos é exigida a comprovação da dependência econômica. Contudo,
deve-se observar que os filhos, enteados ou menores tutelados devem ter no máximo 14 anos de idade ou
inválidos de qualquer idade.
Além disso, existe mais outro requisito relativo à comprovação da frequência escolar dos
beneficiários e à demonstração de atestado de vacinação obrigatória. Nesse sentido, conforme art. 67, do
RPS, assinala-se, pois, que
246
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
De outro lado, o empregado doméstico deve apresentar apenas a certidão de nascimento, estando
dispensado de comprovar a frequência escolar e a vacinação anual obrigatória dos filhos e equiparados.
A apresentação do atestado de vacinação obrigatória dos referidos dependentes deve ser ANUAL e
feita até os seis anos de idade. Já a comprovação de frequência à escola deve ser SEMESTRAL a partir de
quatro anos de idade. Mas, repita-se, para recebimento do salário-família, o empregado doméstico
apresentará ao seu empregador apenas a certidão de nascimento do filho ou a documentação relativa ao
enteado e ao menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos.
Em síntese:
Para finalizar, façamos um quadro-resumo das características básicas e dos requisitos do benefício:
SALÁRIO-FAMÍLIA
PREVISÃO - Art. 201, IV, da Constituição Federal de 1988;
souza -- CPF:
FATO Trabalhadores de baixa renda: com salário de contribuição inferior ou igual a R$ 1.425,56 (mil
GERADOR quatrocentos e vinte e cinco reais e cinquenta e seis centavos), na proporção do respectivo
número de filhos ou de enteados e de menores tutelados, desde que comprovada a dependência
econômica dos dois últimos
SEGURADOS - EMPREGADO;
COBERTOS - EMPREGADO DOMÉSTICO;
- AVULSO.
CARÊNCIA SEM CARÊNCIA.
CÁLCULO DA - a partir de 14/11/19: até que lei discipline o valor do salário-família, de que trata o inciso IV do
RMI art. 201 da Constituição Federal, seu valor será de R$ 46,54 por filho ou equiparado de qualquer
condição, até 14 anos de idade, ou inválido de qualquer idade.
QUEM PAGA? - EMPRESA PAGA: ao empregado;
- EMPREGADOR DOMÉSTICO: ao empregado doméstico;
- SINDICATO ou OGMO: ao trabalhador avulso.
DIB Na data de apresentação da certidão de nascimento do filho ou da documentação relativa ao
equiparado ou ao inválido, e à apresentação anual de atestado de vacinação obrigatória e de
comprovação de frequência à escola do filho ou equiparado (o empregado doméstico deve
apresentar apenas a certidão de nascimento).
247
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Como vimos, as prestações efetivadas pelo INSS no âmbito do RGPS se dividem em benefícios e
serviços. Já estudamos todas as prestações pagas pela autarquia previdenciária. Agora, abordaremos os
serviços, que são: a) serviço social; b) habilitação; c) reabilitação profissional.
Comecemos pelo serviço social. Trata-se de serviço considerado pela norma previdenciária como
sendo uma atividade auxiliar do seguro social. Sua previsão legal se encontra no art. 88, da Lei de Benefícios.
O objetivo primordial do serviço social é de esclarecer e informar os segurados de seus direitos e deveres
junto à previdência social. Nesse sentido, compete ao Serviço Social esclarecer, junto aos beneficiários, seus
direitos sociais e os meios de exercê-los. Por meio desse processo de esclarecimento, o INSS deve estabelecer
conjuntamente com os segurados o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com
a Previdência Social. A norma dispõe que essa obrigação deve se dar tanto no âmbito interno da instituição,
como na dinâmica da sociedade. Nesse trilho de atuação, o serviço social do INSS terá como diretriz a
participação do beneficiário na implementação e no fortalecimento da política previdenciária, em articulação
com as associações e entidades de classe.
Contudo, a lei estabelece uma prioridade de atendimento aos segurados, dada a demanda crescente.
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• pesquisa social.
Já no Regulamento da Previdência Social, o serviço social se encontra previsto no art. 161, do RPS,
senão vejamos:
souza -- CPF:
Art. 161. O serviço social constitui atividade auxiliar do seguro social e visa prestar ao
Marceli souza
248
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
explicitando as regras de acesso aos benefícios e prestando o atendimento necessário para que cada um
tenha os meios necessários de exercê-los.
Já a habilitação e a reabilitação profissional são serviços previstos no RGPS por meio dos artigos 89,
da Lei de Benefícios e 136, do RPS. De acordo com Lazzari54, citando Wladimir Novaes Martinez, temos que
habilitação
Art. 90-A. prestação de que trata o artigo anterior é devida em caráter obrigatório aos
segurados, inclusive aposentados e, na medida das possibilidades do órgão da Previdência
Marceli
Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional, auxílio para
tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, conforme dispuser o Regulamento.
Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2%
(dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou
pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:
I - até 200 empregados..........................................................2%;
II - de 201 a 500.....................................................................3%;
III - de 501 a 1.000.................................................................4%;
IV - de 1.001 em diante. ........................................................5%.
§ 1º A dispensa de pessoa com deficiência ou de beneficiário reabilitado da Previdência
Social ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e a dispensa
54Castro, Carlos Alberto Pereira de; Lazzari, João Batista. Manual de Direito Previdenciário (Locais do Kindle 22669-22672). Forense.
Edição do Kindle.
249
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 138. Cabe à unidade de reabilitação profissional encaminhar para avaliação médico-
pericial a ocorrência de que trata o § 2º do art. 337.
250
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Art. 141. A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a preencher de dois por
cento a cinco por cento de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras
de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:
I - até duzentos empregados, dois por cento;
II - de duzentos e um a quinhentos empregados, três por cento;
III - de quinhentos e um a mil empregados, quatro por cento; ou
IV - mais de mil empregados, cinco por cento.
CPF: 073.496.444-77
(...)
§ 3º À Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia compete
Marceli souza
reabilitados pela previdência social, além de fornecê-los, quando solicitados, aos sindicatos,
às entidades representativas dos empregados ou aos cidadãos interessados.
§ 4º Para a reserva de cargos será considerada somente a contratação direta de pessoa com
deficiência, excluído o aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das Leis do
Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1943.
A premissa básica dos serviços de habilitação e reabilitação é a incapacidade parcial ou total para o
trabalho do beneficiário, a fim de promover-lhe a reeducação e readaptação profissional e social. A
habilitação e reabilitação também visam dar o mesmo atendimento às PESSOAS COM DEFICIENCIA. Portanto,
quando falarmos em habilitação e reabilitação, deveremos correlacionar esses serviços com os beneficiários
que apresentem: a) incapacidade parcial ou total; b) deficiência intelectual, mental ou grave. E os objetivos
são reeducar e readaptar profissional e socialmente essas pessoas.
Para tanto, os serviços de habilitação e reabilitação compreendem, obrigatoriamente aos segurados,
inclusive aposentados, o seguinte:
251
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Ainda, para manter a proteção do mercado de trabalho a esses trabalhadores recuperados de suas
incapacidades e com eventual readaptação de suas deficiências, a norma do art. 93, § 1º, incluída pela Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146/2015), diz o seguinte:
souza -- CPF:
Social ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e a dispensa
imotivada em contrato por prazo indeterminado somente poderão ocorrer após a
Marceli
Por fim, cabe mencionar que, assim como o serviço social, a habilitação e a reabilitação independem
de carência, conforme art. 26, V, da Lei de Benefícios:
O abono anual está previsto no art. 40, da Lei de Benefícios e no art. 120, do RPS, tratando-se de
prestação do RGPS categorizada como sendo benefício previdenciário acessório, uma vez que, na prática, é
o “décimo-terceiro salário” ou a “gratificação natalina” do beneficiário do INSS. Conforme art. art. 201, §6º,
da Constituição Federal de 1988, a gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor
dos proventos do mês de dezembro de cada ano.
252
FREDERICO MARTINS REGRAS ESPECÍFICAS DO RGPS • 10
Importante observar que o abono anual é pago não apenas ao segurado, mas também ao
dependente. Logo, também é pago no âmbito da pensão por morte e do auxílio-reclusão. Também é
importante demarcar que, pela letra do art. 40, da Lei n.º 8.213/1991, o abono anual somente pode ser pago
nas prestações de natureza contínua, isto é, aquelas que não são pagas por determinado período já prefixado
pela lei previdenciária, tal como o salário-maternidade. Assim, em um primeiro momento, lendo apenas a
Lei n.º 8.213/1991, somente podemos falar em pagamento da chamada gratificação natalina dos segurados
e dependentes do INSS no pagamento do AUXÍLIO POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA, AUXÍLIO-ACIDENTE,
PENSÃO POR MORTE, AUXÍLIO-RECLUSÃO e APOSENTADORIAS. Todavia o art. 120, do Decreto n.º
3.048/1999, já na redação atualizada do Decreto n.º 10.410/2020, expande esse direito também para o
SALÁRIO-MATERNIDADE. Assim diz o referido dispositivo:
Art. 120. Será devido abono anual ao segurado e ao dependente que, durante o ano,
receberam auxílio por incapacidade temporária, auxílio-acidente, aposentadoria, salário-
maternidade, pensão por morte ou auxílio-reclusão. (Redação dada pelo Decreto nº
10.410, de 2020).
corresponderá à diferença entre o valor total do abono anual e o valor da primeira parcela e será paga
juntamente com os benefícios da competência de novembro.
Sintetizando:
souza -- CPF:
até 50% do valor do benefício diferença entre o valor total do abono anual e o valor da primeira parcela
Marceli
O abono anual, assim, é uma prestação acessória de alguns benefícios previdenciários. Note, por fim,
que o único benefício sobre o qual não é gerado o direito ao abono anual é o salário-família. Os benefícios
assistenciais ao idoso e ao deficiente também não recebem o abono anual.
253
Marceli
Marceli souza
souza -- CPF:
CPF: 073.496.444-77
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11
FREDERICO MARTINS
254
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
O processo judicial previdenciário não possui rito especial, sendo estabelecido conforme as regras
gerais do Código de Processo Civil. Entretanto, sabemos que a maioria das ações previdenciárias possuem
como objeto o pagamento de prestações a serem pagas pelo INSS em valores que, no quanto acumulado,
não ultrapassam os valores de alçada do Juizado Especial Federal. Assim, o maior volume de processos
judiciais previdenciários em tramitação hoje no país se encontra no âmbito das varas com especialização em
JEF, as quais, por sua vez, aplicam o rito especial da Lei n.º 10.259/2001, com aplicação subsidiária da Lei n.º
9.099/1995.
Quanto à competência para processar e julgar as ações previdenciárias, há que se recordar do
mandamento dado pela Constituição Federal em seu artigo 109, inciso I. De acordo com o dispositivo
constitucional, aos juízes federais compete processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica
ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto
as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Com isso,
na medida em que as ações previdenciárias são movidas em face de uma entidade autárquica federal, no
caso o INSS, a competência para processar e julgá-las será, em regra, da Justiça Federal. Digo “em regra”
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que já estava previsto na legislação anterior ao regime constitucional de 1988. Na década de 1960, em virtude
da pouca interiorização da justiça federal, foi editada a Lei n.º 5.010/1966. Essa lei é válida até hoje e prevê
que, nas comarcas em que não há sede da justiça federal, as demandas previdenciárias podem ser
ajuizadas perante a justiça estadual. Naquela época, as demandas previdenciárias ajuizadas contra a
souza -- CPF:
autarquia previdenciária federal também eram da competência da justiça federal. A competência delegada,
portanto, era uma exceção legal. Após a Constituição federal de 1988, essa competência delegada foi
Marceli souza
transferida para a norma constitucional prevista no artigo 109, §3º, da CF/88, in verbis:
Marceli
Foram feitas duas mudanças significativas no dispositivo acima, pela Emenda 103 de 2019. A redação
atual diz assim:
A primeira mudança se refere à retirada do trecho que permitia que outras causas também fossem
processadas e julgadas pela justiça estadual. Na redação anterior, era permitido que uma determinada lei
também previsse, no âmbito da competência delegada, outras hipóteses processuais e não apenas causas
255
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
previdenciárias. Aliás, existia a competência delegada em relação às execuções fiscais, mas essa hipótese foi
extinta pela da Lei n.º 13.043/2014, que revogou o disposto no art. 15, inciso I, da Lei n.º 5.010/1966. Logo,
não é mais possível que lei estabeleça nenhuma outra causa para que seja incluída no espectro normativo
da competência delegada. Somente processos previdenciários podem ser considerados nessa hipótese
normativa de exceção, em relação à regra de competência dos juízes federais demarcada no art. 109, inciso
I, da Constituição Federal.
A segunda mudança se refere à alteração da forma como é prevista a competência delegada em
relação às causas previdenciárias. Antes da Emenda 103, a norma previa de maneira impositiva a existência
da competência da justiça estadual nas causas previdenciárias referentes aos segurados com domicílio em
comarcas nas quais não há sede da justiça federal. A norma constitucional anterior não deixava nenhuma
margem para que o legislador não regulasse a competência delegada. De antemão, o texto antigo do art.
109, §3º, CF, já impunha que seriam processadas e julgadas e ponto final. Agora, a Constituição Federal diz
que a lei poderá autorizar essa competência delegada.
Note, assim, que não há mais o caráter impositivo para a manutenção da exceção à regra de
competência da justiça federal. Pode ser que a lei autorize, pode ser que não, isso dependerá da escolha do
legislador. De todo modo, ainda existe lei autorizando. Como dito acima, ainda permanece válida a Lei n.º
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5.010/1966, incidindo o quanto previsto em seu art. 15, III. No entanto esse dispositivo sofreu sensível
alteração pela Lei n.º 13.876/2019. Até a edição dessa lei, não havia condicionante relativa à distância da
sede de Vara Federal. Com a mudança legislativa, somente haverá competência delegada nas comarcas cuja
distância da sede da justiça federal for maior do que 70 Km. Vejamos:
Art. 15. Quando a Comarca não for sede de Vara Federal, poderão ser processadas e
julgadas na Justiça Estadual:
(...)
CPF: 073.496.444-77
Federal;
Marceli
Cabe lembrar que a jurisdição de unidades judiciais federais engloba vários municípios, de modo que
somente continuarão, portanto, na competência direta do próprio Juízo Federal, aquelas localidades que não
estão situados a mais de 70 Km da sede deste. Assim, mesmo fazendo parte da jurisdição de uma
determinada Vara Federal, se um segurado tiver domicílio em algum daqueles municípios situados a mais de
70 Km da sede, seu processo será julgado pelo Juízo Estadual da respectiva comarca a que pertence seu
município.
Nesse caso, se ajuizada a ação previdenciária junto ao Juízo Estadual que exerce a competência
delegada, NÃO cabe o declínio de competência de ofício para o Juizado Especial Federal que engloba a
respectiva comarca. Se a comarca onde foi ajuizada a ação previdenciária estiver situada a menos de 70 Km
da sede de Vara Federal, tenho que o declínio de competência pode ser realizado de ofício pelo Juízo
Estadual, já que se trataria de violação de regra de competência funcional, de natureza absoluta. De outro
lado, se a ação tiver sido ajuizada em comarca que dista mais de 70 Km da sede de Vara Federal, não pode
haver declínio de competência, por se tratar de competência de natureza relativa e, nos termos da Súmula
33, do STJ, a “incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.
Quanto à regra geral de competência previdenciária prevista no art. 109, I, CF, há que se lembrar,
ainda, da hipótese de ações acidentárias. Nesse caso, ainda que se trate de benefício previdenciário
concedido pelo INSS, a competência não será a dos juízes federais, mas sim dos juízes estaduais. Se o fato
256
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
gerador que originou a cobertura previdenciária pelo regime geral de previdência social decorrer de um
acidente de trabalho, isso afastará a regra de competência dos juízes federais. A previsão da competência
dos juízes federais para o processamento e julgamento das pretensões previdenciárias e assistenciais em
face do INSS é de natureza funcional. Portanto, possui status indeclinável e de caráter objetivo. Afigura-se,
assim, como competência de natureza objetiva, que não pode ser prorrogada ou modificada pelos órgãos
judiciários com a competência para o processamento e julgamento dessas causas.
Trata-se de competência intuitu personae, na medida em que há presença de pessoa jurídica de
direito público da esfera federal. A respeito dessas questões processuais, o art. 62, do Código de Processo
Civil, assevera que a competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável
por convenção das partes.
A súmula 501, do STF, assinala que compete “à Justiça ordinária estadual o processo e o julgamento,
em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a União, suas
autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista”. A referida súmula foi criada no regime
constitucional da Constituição de 1967 e da Emenda 01/1969, mas, por óbvio, ainda possui a mesma
aplicabilidade atualmente. Já no âmbito do STJ, foi editada a súmula 15, cujo texto assinala que compete à
“Justiça Estadual processar e julgar os litígios decorrentes de acidente do trabalho”.
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Na eventualidade, então, de uma causa previdenciária não relacionada a acidente de trabalho ser
processada e julgada na justiça estadual, teremos uma hipótese de nulidade absoluta, implicando anulação
da sentença. Em qualquer momento em que for detectada essa circunstância, o processo deverá ser
remetido ao Juízo Estadual com competência territorial para o processo, conforme a localidade da comarca
do segurado. Se houver essa constatação em grau recursal, a sentença deverá ser anulada e remetidos os
autos à Justiça Estadual de primeiro grau. De outro lado, se isso ocorrer após o trânsito em julgado caberá
ação rescisória, na forma prevista pelo art. 966, inciso II, CPC. Se a sentença transitada em julgado tiver sido
CPF: 073.496.444-77
prolatada no âmbito do JEF, cabe lembrar que não é possível a ação rescisória, conforme vedação expressa
do art. 59, da Lei n.º 9.099/1999, aplicável subsidiariamente ao rito dos Juizados Especiais Federais, por força
do art. 1º, da Lei n.º 10.259/2001.
Havia discussão se fariam parte da competência do Juízo Estadual, não apenas as ações que intentam
souza -- CPF:
Pacificou-se, contudo, o entendimento de que compete, igualmente, aos juízes estaduais processar e julgar
essas causas. O Superior Tribunal de Justiça já afirmou, nessa linha, que compete à Justiça ordinária estadual
Marceli
o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que
promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e,
também, os pedidos de revisão delas decorrentes (AgRg no CC 135.327/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/09/2014, DJe 02/10/2014).
Em outro julgado, o STJ assentou que tanto a ação de acidente do trabalho quanto a ação de revisão
do respectivo benefício previdenciário devem ser processadas e julgadas pela Justiça Estadual (CC
124.181/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2012, DJe 01/02/2013).
De outro lado, muito importante perceber que, acerca dos benefícios acidentários, note que apenas
as prestações relativas à incapacidade entram na competência da justiça estadual, estando de fora as
pensões por morte. Com efeito, se um segurado do RGPS faleceu em virtude de um acidente de trabalho, a
pretensão de recebimento da correspondente pensão por morte não deverá ser direcionada para um juiz de
direito, mas sim para um juiz federal. Nesse sentido, o STJ se manifestou aduzindo que compete à Justiça
Federal processar e julgar as ações objetivando a concessão ou revisão dos benefícios de pensão por morte,
ainda que decorrentes de acidente de trabalho (CC 166.107/BA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2019, DJe 18/10/2019).
Outra questão muito importante relacionada a aplicação, ou não, da competência da justiça estadual
pode ser vista nos casos em que o benefício previdenciário se refere a segurado especial. Nesse caso, o
257
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Superior Tribunal de Justiça já entendeu que, ainda que se trate de causa relacionada acidente de trabalho,
a competência será da justiça federal. Segundo o STJ, é assente o entendimento da Corte quanto à
competência residual da Justiça Estadual para processar demanda relativa a acidente de trabalho.
Entretanto, a comprovação da qualidade de segurado especial, para fins de concessão de benefício perante
a Autarquia Previdenciária, como no caso, é matéria estranha à competência da Justiça Estadual, devendo
ser a demanda processada pela Justiça Federal, nos termos do art. 109, I da CF. Somente seria possível o
processamento da presente ação no Juízo Estadual, se a Comarca do domicílio do segurado não fosse sede
de Vara Federal. (STJ – CC 86797/ PE Conflito de Competência – Rel. Min.º Napoleão Maia – TERCEIRA SEÇÃO
– Julgamento 22/08/2007 – DJ 03/09/2007 p. 119).
Contudo o entendimento acima foi alterado, de modo que, atualmente, o STJ entende que é
irrelevante a categoria do segurado. Em sendo causa relacionada à acidente de trabalho, a competência não
será da justiça federal, mesmo que se trate de segurado especial. O Enunciado 187, do FONAJEF, segue essa
linha, afirmando que são da competência da Justiça Federal os pedidos de benefícios ajuizados por segurados
especiais e seus dependentes em virtude de acidentes ocorridos nessa condição. Vejamos a nova orientação
do STJ:
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da repercussão geral. Na oportunidade desse julgamento, ficou definido que o prévio requerimento na via
administrativa não ofende o direito fundamental previsto no artigo 5º, XXXV. Assim, não há nenhuma mácula
na garantia fundamental da inafastabilidade do Judiciário pela exigência de prévio requerimento
administrativo, junto ao INSS. Nessa ótica de argumentação, o Supremo Tribunal Federal fundamentou que,
para haver conflito de interesses, é necessário que haja antes uma pretensão resistida. Portanto, somente
após a prévia provocação da Administração Pública, é que, então, haverá verdadeira lesão ou ameaça de
lesão ao direito dos segurados, em sendo negado o pedido.
Se não houver o indeferimento do pedido administrativo, ou ainda a negativa do INSS - ou omissão
em relação ao algum ponto do requerimento - não haverá como se caracterizar a prévia tentativa de solução
do conflito, ou melhor, não haverá como se caracterizar o próprio conflito. Sendo assim, o Judiciário não
estará apto a se manifestar para resolver a lide, já que essa ainda não terá se delineado. Note que na ratio
decidendi do julgado também se aventou a possibilidade de omissão do INSS em apreciar determinada
questão, embora tenha sido feito um pedido nesse sentido. Com isso, mesmo em alguns casos nos quais não
houver expresso indeferimento da autarquia previdenciária, pode-se falar em satisfação do TEMA 350 do STF
e, bem assim, satisfação do interesse de agir.
O Supremo Tribunal Federal, entretanto, estabeleceu que a pretensão de revisão do benefício
previdenciário não se submete a exigência do prévio requerimento administrativo. Além da hipótese de
258
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
revisão do benefício previdenciário anteriormente concedido, também não haverá necessidade de prévio
requerimento administrativo se a pretensão do requerente for o restabelecimento ou a manutenção da
prestação previdenciária. A justificativa para a anotação dessas exceções no julgamento do Supremo Tribunal
Federal decorre do fato de que, naquelas hipóteses, o INSS está tacitamente negando a prestação
previdenciária. Ademais, nos casos de revisão, em geral, a autarquia previdenciária nega os pedidos
administrativos feitos pelos beneficiários das prestações previdenciárias, de maneira que nesses casos
públicos e notórios de negativa administrativa também não haverá a exigência de prévio requerimento
administrativo, podendo o segurado se dirigir diretamente ao Poder Judiciário.
Sintetizando:
Por conta da grande oscilação jurisprudencial a respeito da questão tratada, foi estabelecida um
REGRA DE TRANSIÇÃO para os processos ajuizados até o julgamento do TEMA 350, em 03/09/2014. Assim,
se for constatado que a ação foi ajuizada até aquela data e não houve o prévio requerimento administrativo,
devem ser seguidas as seguintes regras:
souza -- CPF:
(para ações ajuizadas até 09/09/2014 e que não tenha apresentado comprovação
Marceli
Ainda com relação à temática do prévio requerimento administrativo, cabe registrar que a Turma
Nacional de Uniformização já decidiu que é dispensável o pedido de prorrogação dos casos em que o
benefício previdenciário é concedido dentro da sistemática da alta programada. A tese fixada no TEMA 4 da
TNU entendeu, assim, que é devido o restabelecimento do auxílio-doença nas hipóteses conhecidas por alta
programada, independentemente de prévio pedido administrativo de prorrogação. Registre-se que o TEMA
164, da TNU, entendeu não haver ilegalidade na sistemática da alta programada.
259
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Trataremos, um pouco mais, sobre o sistema dos Juizados Especiais Federais. Como dito, trata-se de
importante estudo porque a maioria das ações previdenciárias do país corre no âmbito dos JEFs. Os Juizados
Especiais Federais foram previstos na Constituição por meio da Emenda 22/1999. Até então somente havia
a previsão dos “juizados especiais” no inciso I, do art. 98, CF. Com a EC 22 foi introduzido o parágrafo único,
do art. 98, posteriormente remunerado pela EC 45 para §1º. No plano infraconstitucional, a sua criação
efetiva ocorreu quando da edição da Lei n.º 10.259/2001. Conforme expressa previsão da referida lei, são
aplicadas de maneira subsidiária as disposições referentes aos juizados especiais estaduais previstas na Lei
n.º 9.099/1995. E de maneira supletiva são aplicadas também às disposições do Código de Processo Civil,
quando não forem incompatíveis com os regramentos específicos dos juizados especiais.
Os o Juizados Especiais Federais são, atualmente, a principal via de acesso ao Judiciário para os
segurados da previdência social, especialmente após a reforma promovida pela Emenda Constitucional 103,
que reduziu sensivelmente a renda mensal inicial dos benefícios. Assim, na maioria das vezes, as pretensões
de recebimento das prestações previdenciárias não ultrapassaram o teto da competência dos juizados
especiais federais, que é de 60 salários-mínimos. A competência dos JEFs é estabelecida pelo art. 3º, caput,
da Lei n.º 10.259/2001:
marceliangel@hotmail·com
Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de
073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
Note-se que se trata de competência para processar e julgar, bem como para executar suas próprias
sentenças condenatórias. Atente-se ao fato de que se trata de competência absoluta, conforme art. 3º, §3º,
da Lei n.º 10.259/2001, cujo texto menciona que no “foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a
sua competência é absoluta”.
CPF: 073.496.444-77
Perceba que a competência é absoluta sob o critério funcional, mas quanto ao critério territorial,
ainda há divergência na jurisprudência. Há entendimento no sentido de que o ajuizamento de ação em JEF
da Capital do Estado, e não na Subseção Judiciária Federal do domicílio da parte autora, implicaria a extinção
do feito sem resolução do mérito, nos termos do art. 51, III, da Lei n.º 9.099/1995. É que, em sendo absoluta
souza -- CPF:
a competência do JEF no foro onde instalada a Vara Federal, bem como, sendo competente o Juizado Especial
Marceli souza
Federal mais próximo do domicílio da parte autora (art. 20, da Lei n.º 10.259/2001), a parte autora não
poderia escolher ajuizar a demanda na Capital do Estado, ou ainda, no DF. Em sendo absoluta, ademais, o
Marceli
260
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Federal de Porto Alegre, foro eleito pela recorrente. Vícios no julgado. Inexistência.
Embargos de declaração rejeitados.” (grifei) Cumpre ressaltar, por necessário, que esse
entendimento vem sendo observado em sucessivos julgamentos proferidos no âmbito do
Supremo Tribunal Federal (AI 459.273/RS, Rel. Min.º GILMAR MENDES – RE 453.967/RS, Rel.
Min.º JOAQUIM BARBOSA – RE 491.330/PR, Rel. Min.º EROS GRAU – RE 474.691/SC, Rel.
Min.º CÁRMEN LÚCIA – RE 631.937/DF, Rel. Min.º TEORI ZAVASCKI, v.g.):
Quanto à identificação do valor da causa, para fins de fixação da competência funcional, o cálculo é
feito com base na soma das parcelas vencidas na data do ajuizamento da ação, com as doze parcelas
vincendas. Essa interpretação é antiga e decorria da conjunção do art. 3º, §2º, da Lei n.º 10.259/2001, com
o art. 260 do CPC/73. O art. 260, do CPC/73 é hoje replicado no art. 292, §§1º e 2º, do CPC/15:
Assim, não houve mudança de entendimento, que há muito se consagrou na jurisprudência do STJ
(CC 91.470/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/8/2008, DJe
26/8/2008) e continua a ser aplicada até hoje, de modo que “o valor da causa, na espécie, deve corresponder
à soma das parcelas vencidas com 12 parcelas vincendas, não havendo que se cogitar no acréscimo de
suposto débito do Autor com a Autarquia” (CC 1012381-91.2019.4.01.0000, DESEMBARGADOR FEDERAL
WILSON ALVES DE SOUZA, TRF1 - PRIMEIRA SEÇÃO, PJe 03/07/2019 PAG).
CPF: 073.496.444-77
Cabe registrar, contudo, que o STJ fixou tese no TEMA 1030 e seus repetitivos que ao autor
que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar, de modo
expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60 (sessenta)
salários mínimos previstos no art. 3º, caput, da Lei 10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso,
souza -- CPF:
até doze prestações vincendas, nos termos do art. 3º, § 2º, da referida lei, c/c o art. 292,
§§ 1º e 2º, do CPC/2015.
Marceli souza
Marceli
Assim, para adequação ao limite de alçada dos JEFs, a parte autora pode renunciar não apenas
valores atrasados, mas também parcelas vincendas ao longo da ação.
Registro que essa renúncia se refere ao momento da fixação da competência, ou seja, a parte autora
escolhe renunciar valores (incluindo parcelas vincendas) que ultrapassarem o teto dos Juizados Especiais
Federais. Todavia, ao final da ação, em havendo condenação do INSS, nada impedirá que sejam computadas
também as parcelas vincendas NÃO renunciadas. Nessa situação, a única questão é que o pagamento do
montante condenatório não poderá ser feito via RPV, mas apenas por meio de precatório, se o valor total for
superior a sessenta salários-mínimos (pois esse é, também, como visto, o limite para pagamento por meio
de RPV).
O pagamento das condenações no âmbito dos Juizados Especiais Federais ocorre no prazo de 60 dias
a partir do trânsito em julgado por meio de RPV – requisição de pequeno valor –, não se submetendo à
sistemática mais morosa dos precatórios. Se o quantum condenatório exceder o limite de 60 salários, todo o
valor será pago por meio de precatório, sendo vedado o fracionamento. Nada obstante, o credor pode
renunciar ao que exceder esse limite para evitar o recebimento por meio de precatório, que é inegavelmente
mais moroso, já que é feito nos termos do art. 100, §5º, da Constituição Federal.
Além dos princípios processuais gerais, são aplicáveis aos juizados especiais, conforme artigo 2º, da
Lei n.º 9.099/1995, os princípios específicos da: a) oralidade; b) simplicidade; c) informalidade; d) economia
261
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
processual; e) celeridade. Ademais, são pilares do sistema processual específico dos juizados, de maneira
mais proeminente ainda, digamos, do que as disposições do CPC-15, a busca da conciliação e da transação.
Em relação ao princípio da simplicidade, informalidade e oralidade, deve-se destacar que há
divergência quanto à possibilidade ou não de realização de prova pericial. Há entendimento no sentido de
que o rito do JEF não afasta a possibilidade de realização de prova pericial, desde que não se trate de perícia
complexa. De outro lado, há orientação de que, por exemplo, o “JEF não possui competência para julgar ação
de aposentadoria para o reconhecimento de tempo de serviço especial a pessoa com deficiência”, conforme
noticiado no site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região55. De acordo com a notícia,
o relator, desembargador federal João Luiz de Sousa, ao analisar a questão, destacou ser
orientação já consolidada pelo TRF1 que as causas com instruções complexas, com perícias,
para fins de reconhecimento de tempo de serviço especial, “não se incluem na competência
dos Juizados Especiais Federais, por não atender aos princípios da oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual e celeridade (art. 1º da Lei n.º 10.259/2001 c/c art. 2º
da Lei n.º 9.099/95).
dos juizados especiais federais”. (AgInt no AREsp 1232765/PE, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 29/06/2020, DJe 05/08/2020)
Como um dos pontos importantes do sistema processual específico dos juizados especiais federais,
deve-se mencionar a igualdade de prazos entre as partes autoras e os entes públicos que figuram no polo
passivo. Outrossim, registre-se que somente cabe recurso, em regra, da sentença definitiva e também das
decisões que indeferirem medidas cautelares ou tutelas provisórias no curso do processo, não havendo
CPF: 073.496.444-77
possibilidade de recurso de decisões interlocutórias em geral. Não há que se falar, também em reexame
necessário no caso de sentenças desfavoráveis aos entes públicos demandados. As partes podem demandar
diretamente sem advogados para as causas até 60 salários mínimos.
Os recursos das sentenças dos Juizados Especiais Federais são interpostos no prazo de 10 dias,
souza -- CPF:
tratando-se de recurso inominado. Os recursos são dirigidos às Turmas Recursais das respectivas seções
judiciárias em cada TRF. Assim, por exemplo, um Juizado Especial Federal localizado em Cuiabá/MT submete-
Marceli souza
se, em grau recursal, a Turma Recursal da Seção Judiciária do Mato Grosso. Existem Seções Judiciárias com
Marceli
apenas uma Turma Recursal, enquanto há outras, como no DF, com várias Turmas Recursais. Cada uma delas,
em regra, deveria ser composta apenas por juízes federais titulares, mas na prática, há vários juízes federais
substitutos que compõem esses colegiados, por conta de afastamentos de seus titulares. As TR´s são
compostas por 3 juízes, sendo um nomeado Presidente, responsável por algumas atribuições administrativas
junto à Secretaria da Turma Recursal.
Em nível jurisdicional superior às Turmas Recursais, existem as Turmas Regionais de Uniformização e
a Turma Nacional de Uniformização da jurisprudência dos Juizados Especiais Federais. É importante, pois,
discorrer sobre como é feita a uniformização de jurisprudência dos Juizados Especiais Federais. Ela ocorre
por meio do chamado “pedido de uniformização de interpretação de lei federal” (PUIL), previsto no art. 14 e
parágrafos seguintes, da Lei n.º 10.259/2001, que dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais no âmbito da Justiça Federal. O PUIL é uma espécie de recurso próprio previsto dentro da estrutura
de funcionamento judicial dos Juizados Especiais Federais.
Como há diversas Turmas Recursais, tem-se como bastante frequente a existência de entendimentos
distintos entre esses variados órgãos judiciários do sistema JEF. Assim, prevendo a possibilidade de
55 FONTE: https://portal.trf1.jus.br/portaltrf1/comunicacao-social/imprensa/noticias/decisao-jef-nao-possui-competencia-para-
julgar-acao-de-aposentadoria-para-o-reconhecimento-de-tempo-de-servico-especial-a-pessoa-com-deficiencia.htm acesso em
15/09/2021, às 13:15.
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FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
divergência de entendimento sobre a interpretação de lei federal pelas Turmas Recursais, a Lei n.º
10.259/2001 prescreveu que caberá “pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver
divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na
interpretação da lei” (art. 14, caput, da Lei n.º 10.259/2001).
De acordo o entendimento da própria TNU, por
Previu, ainda, aquela lei, que o pedido “fundado em divergência entre Turmas da mesma Região será
julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador” (art. 14, §1º,
da Lei n.º 10.259/2001). Já a divergência instalada entre Turmas de diferentes regiões, será dirimida pela
Turma Nacional de Uniformização (art. 14, §2º, da Lei n.º 10.259/2001).
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Caberá também pedido de uniformização junto a TNU quando aquelas Turmas Recursais de origem
– ou, ainda, as Turmas Regionais de Uniformização - decidirem de modo contrário à “jurisprudência
dominante” do Superior Tribunal de Justiça. Também é possível que se utilize, para tais fins, enunciado de
CPF: 073.496.444-77
§10 e art. 15, da Lei n.º 10.259/2001. A Súmula 86, da TNU também explicita isso, ao dizer que não “cabe
incidente de uniformização que tenha como objeto principal questão controvertida de natureza
Marceli souza
constitucional que ainda não tenha sido definida pelo Supremo Tribunal Federal em sua jurisprudência
Marceli
dominante”.
A Turma Nacional de Uniformização é órgão jurisdicional, mas faz parte da estrutura administrativa
do Conselho da Justiça Federal. Esse órgão, por sua vez, desempenha tão somente funções administrativas e
financeiras da Justiça Federal, junto à estrutura do Superior Tribunal de Justiça, conforme previsão
constitucional nesse sentido, conforme art. 105, da Constituição Federal, senão vejamos:
É a RESOLUÇÃO Nº 586, DE 30 DE SETEMBRO DE 2019, editada pelo Conselho da Justiça Federal, que
dispõe sobre o Regimento Interno da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais.
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FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Quanto à composição e organização da TNU, ela será composta por 10 juízes federais e será sempre
presidida pelo Corregedor-Geral da Justiça Federal, conforme art. 1º, §2º, da referida Resolução, senão
vejamos:
DA COMPOSIÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Art. 1º A Turma de Uniformização, com sede na Capital Federal e jurisdição em todo o
território nacional, tem a designação de Turma Nacional de Uniformização dos Juizados
Especiais Federais - TNU.
§ 1º A Turma Nacional de Uniformização funciona em Plenário junto ao Conselho da Justiça
Federal, onde ocorrerão as sessões de julgamento, que podem ser realizadas fora da sede,
em caso de necessidade ou conveniência, a critério do Presidente.
§ 2º A Turma Nacional de Uniformização, presidida pelo Ministro Corregedor-Geral da
Justiça Federal, é composta por dez juízes federais como membros efetivos.
§ 3º Cada tribunal regional federal indicará dois juízes federais como membros efetivos e
dois como suplentes, os quais serão escolhidos entre os integrantes de turmas recursais,
para mandatos de dois anos, permitida uma recondução.
§ 4º A condição de membro efetivo de turma recursal é pressuposto para designação do
juiz como membro, efetivo ou suplente, da Turma Nacional de Uniformização, e não para
sua permanência em caso de modificação superveniente de lotação.
§ 5º Os juízes federais terão assento segundo a ordem de antiguidade na Turma ou,
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Cabe registrar que, à semelhança do que existe em relação aos recursos repetitivos no âmbito do STJ
e do STF, a Turma Nacional de Uniformização também possui os chamados “temas representativos de
controvérsia”. Sobre isso, vejamos os dispositivos pertinentes no Regimento Interno da TNU (Resolução CJF
n.º 586/2019):
CPF: 073.496.444-77
Art. 14. Decorrido o prazo para contrarrazões, os autos serão conclusos ao magistrado
responsável pelo exame preliminar de admissibilidade, que deverá, de forma sucessiva:
(...)
VI – admitir o pedido de uniformização de interpretação de lei federal que preencha os
requisitos legais e regimentais, encaminhando os autos à Turma Nacional de Uniformização
souza -- CPF:
disposto no art. 16, ficando sobrestados os demais enquanto não julgado o caso-piloto;
(...)
Marceli
Art. 16. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão
de direito, a Turma Nacional de Uniformização poderá afetar dois ou mais pedidos de
uniformização de interpretação de lei federal como recurso representativo de controvérsia.
§ 1º O juízo responsável pelo exame preliminar de admissibilidade que indicar pedido de
uniformização de interpretação de lei federal como representativo de controvérsia na
origem comunicará o Presidente da Turma Nacional de Uniformização, indicando os dados
do respectivo processo e daqueles que ficaram sobrestados, a fim de que a Turma Nacional
delibere acerca da afetação da matéria, nos termos do caput.
(...)
VI – transitado em julgado o acórdão da Turma Nacional de Uniformização, os pedidos de
uniformização de interpretação de lei federal sobrestados:
a) terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a
orientação da Turma Nacional de Uniformização; ou
b) serão encaminhados à Turma de origem para juízo de retratação, quando o acórdão
recorrido divergir do decidido pela Turma Nacional, ficando integralmente prejudicados os
pedidos de uniformização de interpretação de lei federal anteriormente interpostos.
264
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
disso, em verdade, há questionamento doutrinário sobre a possibilidade ou não desses julgados serem
vinculantes em relação aos juízes que compõem o sistema JEF.
Todavia, a TNU vem se manifestando que seus “entendimentos (...) mesmo que sumulados, não tem
efeito vinculante, a não ser nos limites da lide casuisticamente examinada, motivo pelo qual não pode a parte
pretensamente prejudicada pela não adequação do julgado valer do meio processual da Reclamação”.
(PEDILEF 5010930-17.2013.4.04.7201, Juiz Federal SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA, j. 11/09/2014).
Neste julgamento, em seu voto, o relator elencou que os arts. 1039, 1040 e 1041 do Código de Processo Civil
disciplinam o julgamento dos recursos especiais e extraordinários, sem que seja feita menção ao pedido de
uniformização julgado pela TNU.
Em certa ocasião, por exemplo, a TNU negou provimento a Embargos de Declaração para
reconhecimento de eficácia vinculante a precedente seu.56 Destacou-se, nesse sentido, que a
eficácia vinculante de precedente é efeito excepcional de decisão judicial, que deve ser
expressamente prevista na Constituição da República (arts. 102, §2°, 103-A) ou em lei, ainda
que tomada por órgão jurisdicional com competência relacionada à uniformização de
jurisprudência, por consubstanciar ressalva ao princípio da livre cognição motivada do
magistrado.
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o disposto no art. 17, inciso VII, do Regimento Interno da Turma Nacional de Uniformização,
abrange a eficácia obstativa e persuasiva do precedente formado em julgamento de
representativo de controvérsia, o que não é suficiente para conferir-lhe efeito vinculante,
conforme orientação adotada por este colegiado ao cancelar a sua Questão de Ordem n.º
16 (Processo nº 0000005-49.2018.4.90.0000/DF).
CPF: 073.496.444-77
A uniformização da jurisprudência dos Juizados Especiais Federais também pode alcançar eventual
divergência entre a Turma Nacional de Uniformização e o Superior Tribunal de Justiça. O objetivo é
resguardar a coerência interpretativa da lei federal dentro do microssistema do JEF. Para esse último caso,
souza -- CPF:
há previsão específica na Lei n.º 10.259/2001 de uma simples “provocação” da parte interessada ao STJ, o
que se faz, na prática, por meio de uma petição (no STJ é classificada em seu sistema processual como PET).
Marceli souza
A lei almejou, nesse ponto, que as decisões emanadas pela jurisprudência dominante do STJ irradiassem
Marceli
efeitos nos Juizados Especiais Federais, na medida em que não faz realmente sentido que haja duas
interpretações completamente distintas entre órgãos judiciários apenas em função do limite de alçada. Pois
sabemos que, nos Juizados Especiais Federais, conforme a previsão do art. 3º, da Lei n.º 10.259/2001,
somente são admissíveis as causas de competência da Justiça Federal que não ultrapassem 60 (sessenta)
salários-mínimos. Vejamos o art. 14, §4º, da Lei n.º 10.259/2001:
Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver
divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas
Recursais na interpretação da lei.
(...)
§ 4o Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito
material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça -
STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.
A lei fala muito pouco sobre essa petição ao STJ. Apenas prevê a sua existência. Sua regulamentação
foi feita inicialmente pela Resolução n.º 22/2008, do Conselho da Justiça Federal. A referida resolução chegou
a ser alterada pela Resolução CJF n.º 163/2011, mas, posteriormente, foi revogada pela Resolução CJF n.º
265
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
345/2015. Essa, por sua vez, também foi revogada pela Resolução CJF n.º 586/2019, que hoje é a norma que
regula o procedimento previsto no art. 14, §4º, da Lei n.º 10.259/2001. Ela dispõe, como vimos, “sobre o
Regimento Interno da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados”.
É o Conselho da Justiça Federal o órgão com atribuições, portanto, para fixar o Regimento Interno da
Turma Nacional de Uniformização. A TNU, por conseguinte, deve fazer às vezes do STJ dentro dos limites de
competência dos Juizados Especiais Federais. Para que isso seja garantido, digamos, a lei previu a petição ao
STJ quando “a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito material, contrariar
súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça –STJ”. E o próprio Superior Tribunal de
Justiça esmiuçou ainda mais a regulamentação dessa petição (PET), por meio de sua Resolução n.º 10/2007 57.
Diante do exposto, os aspectos do sistema de uniformização de jurisprudência dos Juizados Especiais
Federais podem ser assim resumidos:
COMO É O SISTEMA DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS
É o pedido de uniformização de interpretação de lei federal previsto
O que é o PUIL?
especificamente para o microssistema dos Juizados Especiais Federais.
Onde está previsto? Está previsto no art. 14, caput, da Lei n.º 10.259/01.
Ele pode versar sobre questões de Não, somente pode ter como objeto controvérsia relativa a direito material,
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direito processual? sendo vedado discutir por essa via questão processual (Súmula 43 da TNU).
Quando houver divergência entre
Turmas Recursais da mesma região,
Nesse caso, vai para a respectiva Turma Regional de Uniformização.
para onde é dirigido o pedido de
uniformização?
E quando houver divergência entre
Turmas Recursais de diferentes Aí, vai para a TNU.
regiões?
Existem, ainda, outras hipóteses de Sim, em caso de violação da jurisprudência dominante do STJ ou da própria
CPF: 073.496.444-77
acórdão da Turma Recursal de Não caberá PUIL junto a TNU se houver questão constitucional a ser dirimida
Marceli
origem for uma questão por via de recurso extraordinário (Súmula 86 da TNU).
constitucional apenas.
Não se conhece de incidente de uniformização que implique reexame de
Pode haver reexame de fato no
matéria de fato (Súmula 42 da TNU), cabendo, contudo, PUIL se a questão
âmbito de um pedido de
fática a ser dirimida implicar reflexo direto na competência do próprio
uniformização junto a TNU?
Juizado Especial Federal (Enunciado 97 do FONAJEF).
Os pedidos de uniformização junto Pedido de uniformização julgado pela TNU, de acordo com atual
a TNU possuem eficácia vinculante? entendimento da própria TNU, não possui eficácia vinculante.
Quais são os efeitos, então, dos
julgados proferidos pela TNU em A eficácia desses julgados da TNU é meramente persuasiva e obstativa.
representativos de controvérsia?
Cabe reclamação em face de Por não contar com eficácia vinculante, não cabe reclamação que pretenda a
decisões que não atendam aos garantia da autoridade de decisão proferida pela TNU em processo em que a
julgados da TNU? reclamante não tenha sido parte.
57MARTIN, Frederico. É possível que tenhamos entendimentos diversos entre a TNU e o STJ? Blog do Gran, ago. 2020. Disponível em:
https://blog.grancursosonline.com.br/e-possivel-que-tenhamos-entendimentos-diversos-entre-a-tnu-e-o-stj/ Acesso em: 20 set.
2021
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FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
2. ACIDENTE DE TRABALHO
Lembro que, em sendo acidente de trabalho, a competência para processamento e julgamento das
causas previdenciárias correspondentes não é da Justiça Federal, conforme a letra constitucional insculpida
no art. 109, inciso I, da Constituição Federal de 1988:]
ATENÇÃO!
O STJ vem entendendo que no caso de CONTRIBUINTE INDIVIDUAL, em havendo acidente, não há
como enquadrá-lo conceitualmente na noção de “acidente de trabalho”, de modo que para tais hipóteses a
competência não será da Justiça Estadual, mas sim da JUSTIÇA FEDERAL.
Veja:
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Esse entendimento decorre do fato de que o art. 19, da Lei de Benefícios, esclarece que o “acidente
de trabalho” é o que se verifica “pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador
doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei”. Bem por
isso, calha saber o que é definido como acidente de trabalho, bem como quais são as hipóteses equiparadas
a acidente de trabalho, nos termos do art. 19 e seguintes, da Lei n.º 8.213/1991:
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de
empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da
capacidade para o trabalho. (Redação dada pela Lei Complementar nº 150, de 2015)
§ 1º A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de
proteção e segurança da saúde do trabalhador.
§ 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as
normas de segurança e higiene do trabalho.
§ 3º É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da operação
a executar e do produto a manipular.
267
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes
entidades mórbidas:
I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do
trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo
Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente,
constante da relação mencionada no inciso I.
§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:
a) a doença degenerativa;
b) a inerente a grupo etário;
c) a que não produza incapacidade laborativa;
d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se
desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto
determinado pela natureza do trabalho.
§ 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista
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nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado
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Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído
diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;
II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de:
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trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão;
Marceli souza
268
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Então, nos termos do art. 19, caput, da Lei n.º 8.213/1991, sintetizaremos o direcionamento dado
pela norma acima para dizer o que é e quais segurados do RGPS podem, em tese, sofrer “acidente de
trabalho”. Nessa base, o acidente de trabalho ocorre:
1. pelo exercício do trabalho a serviço da empresa (segurados empregados e trabalhadores avulsos);
2. pelo exercício do trabalho a serviço de empregador doméstico (segurado empregado doméstico);
3. pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII, do art. 11 (segurados especiais).
Ora, a meu ver, pelo número “1”, tenho que o contribuinte individual poderia se enquadrar na
descrição relativa ao “exercício do trabalho a serviço da empresa”. Isso, pois o contribuinte individual pode
prestar serviço “de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de
emprego” (art. 11, V, “g”, da Lei de Benefícios).
Quanto aos contribuintes individuais, havia apenas uma ressalva na norma feita de modo específico
para os médicos residentes, conforme Lei n.º 6.932/1981, com as alterações promovidas pela Lei n.º
8.138/1990. No art. 4º, §5º, da referida Lei havia a previsão de cobertura por acidentes de trabalho ao médico
residente. Essa cobertura, no entanto, foi REVOGADA pela Lei n.º 12.514/2011. Assim, até a vigência dessa
lei, ou seja, até 31/10/2011, o médico residente fazia jus à proteção especial em face de acidentes de
trabalho. A partir dessa data, os acidentes sofridos pelos médicos residentes, assim como para quaisquer
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contribuintes individuais, são tidos pela norma como “acidentes de qualquer natureza” e não mais como
“acidentes de trabalho”.
Há que se chamar à atenção o entendimento que prevalecia, há alguns anos, quanto à fixação da
competência da Justiça Federal ainda quando se tratasse de acidente de trabalho, na hipótese do segurado
acidente ser segurado especial. Essa orientação acabou se cristalizando no Enunciado n.º 187, aprovado no
XIV FONAJEF:
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Esse, contudo, não é mais o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, que em conflito de
competência já entendeu ser da Justiça Estadual a competência para as causas relativas a acidente de
Marceli souza
269
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
A expressão “direito ao melhor benefício” pode ser empregada genericamente, quando nos
referimos à concomitância de fatos geradores previdenciários, cada qual com seus requisitos próprios, os
quais podem gerar, cada um, determinada renda mensal inicial melhor ou pior para o segurado. O segurado,
assim, em condições de concomitância de requisitos legais para mais de uma prestação inacumulável, terá
direito a receber do INSS a devida análise para o recebimento da prestação previdenciária mais vantajosa.
Aliás, a própria norma previdenciária já prevê tal obrigação por parte do INSS, tal como se pode observar da
leitura do art. 687, da IN 77/2015:
Art. 687. O INSS deve conceder o melhor benefício a que o segurado fizer jus, cabendo ao
servidor orientar nesse sentido.
Além disso, a questão do direito ao melhor benefício possui relação direta com o tópico do direito
adquirido. Sob tal perspectiva, pelo direito ao melhor benefício, entende-se a situação na qual o segurado já
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esteja recebendo determinada prestação previdenciária, mas percebe que em algum momento, antes da
concessão de tal prestação, teria implementado requisitos para o recebimento de outro benefício mais
vantajoso.
Essa perspectiva foi ilustrada no julgamento do TEMA 999, do STJ, que assim entendeu:
STJ.
Assim, é direito do Segurado o recebimento de prestação previdenciária mais vantajosa
dentre aquelas cujos requisitos cumpre, assegurando, consequentemente, a prevalência
do critério de cálculo que lhe proporcione a maior renda mensal possível, a partir do
souza -- CPF:
histórico de suas contribuições. (REsp 1554596/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/12/2019, DJe 17/12/2019)
Marceli souza
Nessa hipótese, o segurado acaba intentando pedido de revisão para que o INSS reveja sua concessão
Marceli
e lhe conceda o melhor benefício. Pode ocorrer, como já exemplificamos, que um determinado segurado
tenha obtido aposentadoria por tempo de contribuição (quando essa era prevista) com a incidência de fator
previdenciário (quando esse era previsto), mas que, em verdade, já possuía também idade mínima e carência
para a aposentadoria por idade, sem incidência de fator previdenciário e, portanto, com renda mensal inicial
melhor, de acordo com seu período básico de cálculo. Em tais casos, trata-se, em verdade, de espécie de
revisão a ser promovida pelo INSS, mas que sofre a incidência do prazo decadencial previsto no art. 103, da
Lei n.º 8.213/1991. Essa, pelo menos, foi a ótica adotada pelo STJ quando do julgamento do TEMA 966, de
seus recursos repetitivos, senão vejamos:
270
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
O Supremo Tribunal Federal também já deixou claro, no julgamento do TEMA 334, de sua
repercussão geral, que:
Para o cálculo da renda mensal inicial, cumpre observar o quadro mais favorável ao
beneficiário, pouco importando o decesso remuneratório ocorrido em data posterior ao
implemento das condições legais para a aposentadoria, respeitadas a decadência do direito
à revisão e a prescrição quanto às prestações vencidas.
CPF: 073.496.444-77
4. A REAFIRMAÇÃO DA DER
O tópico da reafirmação da DER possui relação com a questão do direito ao melhor benefício. A
reafirmação da DER é circunstância que deve ser aferida pelo servidor do INSS responsável pelo atendimento
souza -- CPF:
do segurado, tratando-se de obrigação da autarquia previdenciária. Isso consta expressamente do art. 690,
da IN 77/2015, in verbis:
Marceli souza
Marceli
Art. 690. Se durante a análise do requerimento for verificado que na DER o segurado não
satisfazia os requisitos para o reconhecimento do direito, mas que os implementou em
momento posterior, deverá o servidor informar ao interessado sobre a possibilidade de
reafirmação da DER, exigindo-se para sua efetivação a expressa concordância por escrito.
Parágrafo único. O disposto no caput aplica-se a todas as situações que resultem em
benefício mais vantajoso ao interessado.
Art. 176-D. Se, na data de entrada do requerimento do benefício, o segurado não satisfizer
os requisitos para o reconhecimento do direito, mas implementá-los em momento
posterior, antes da decisão do INSS, o requerimento poderá ser reafirmado para a data em
que satisfizer os requisitos, que será fixada como início do benefício, exigindo-se, para
tanto, a concordância formal do interessado, admitida a sua manifestação de vontade por
meio eletrônico.”
Art. 176-E. Caberá ao INSS conceder o benefício mais vantajoso ao requerente ou benefício
diverso do requerido, desde que os elementos constantes do processo administrativo
assegurem o reconhecimento desse direito.
271
FREDERICO MARTINS TEMAS FINAIS EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA • 11
Assim, a reafirmação da DER traduz hipótese na qual o requerente não tinha ainda o cumprimento
dos requisitos no momento da entrada do requerimento, mas os preencheu ao longo do processo
administrativo previdenciário, desde que antes da decisão final. Nessa hipótese, a data de início do benefício
coincidirá com a data de reafirmação da DER, desde que haja a concordância expressa e formal do segurado.
Isso pode ocorrer também em relação às hipóteses que estudamos relacionadas ao direito ao melhor
benefício, uma vez que, ao longo do processo administrativo, o requerente pode preencher os requisitos
para outro benefício mais vantajoso e, em tal caso, o servidor do INSS é obrigado a cientificar o segurado
sobre o direito de opção.
Se optar pelo benefício, cujos requisitos somente foram cumpridos ao longo do processo
administrativo, haverá a reafirmação da DER para a data em que aqueles foram satisfeitos, contando-se, a
partir dessa reafirmação, a data de início do benefício a ser deferido. No âmbito judicial, também se discutia
a questão da reafirmação da DER, ou seja, se seria possível considerar o preenchimento dos requisitos para
o benefício ao longo do processo judicial, ou entre o indeferimento do pedido administrativo e o ajuizamento
da ação. A questão foi debatida no TEMA 995, do STJ, que assim entendeu:
272
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA
1. STJ
Órgão
Tema/Repetitivo 627 Situação do tema Trânsito em julgado Primeira Seção
Julgador
julgamento
concessão de auxílio-acidente.
Benedito
Marceli souza
273
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
ATENÇÃO!
No próprio STJ, recentemente, foi proposta a REVISÃO DA TESE firmada no TEMA 896:
O teor da decisão proferida pelo Min. Herman Benjamin, na Questão de Ordem julgada no bojo do
Tema 896 pode ser observado a seguir:
QUESTÃO DE ORDEM
PROCESSUAL CIVIL. REVISÃO DE TEMA REPETITIVO. TEMA 896/STJ. APARENTE CONFRONTO
COM A COMPREENSÃO FIXADA PELO STF. ADMISSÃO DO RITO. SUSPENSÃO DE TODOS OS
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recurso foi provido monocraticamente, pois, segundo o Relator, Ministro Marco Aurélio de
Mello (ARE 1.122.222), aplica-se o entendimento, fixado sob o rito da repercussão geral, de
Marceli
que "a renda do segurado preso é a que deve ser utilizada como parâmetro para a
concessão do benefício e não a de seus dependentes."
3. Essa situação tem causado dúvidas sobre a aplicação da tese repetitiva do Tema 896/STJ,
especialmente sobre ter ela sido ou não suplantada pela decisão monocrática do Min.º
Marco Aurélio no STF.
4. A dúvida, a ser respondida com a admissão do rito de revisão da tese repetitiva, é se o
STJ teria negado a compreensão do STF, fixada em Repercussão Geral, de que a aferição da
compatibilidade da renda do segurado com o patamar legal deve considerar o último salário
por ocasião do recolhimento à prisão.
5. A proposta é, pois, a revisão, em sentido amplo, do tema repetitivo, de forma que o STJ
modifique a tese para adequá-la à compreensão do STF ou reafirme seu teor.
CONCLUSÃO
6. Questão de Ordem acolhida para, nos termos dos arts. 256-S e 256-T do RI/STJ, submeter
o REsp 1.842.985/PR e o REsp 1.842.974/PR ao rito da revisão de tese repetitiva relativa ao
Tema 896/STJ (REsp 1.485.417), de forma que a Primeira Seção delibere sobre sua
modificação ou sua reafirmação. 7.
Determina-se a suspensão de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
versem acerca da questão delimitada pelo Tema 896/STJ e que tramitem no território
nacional (art. 1.037, II, do CPC/2015).
274
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Perceba, por fim, que restou DETERMINADA A SUSPENSÃO de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem acerca da questão delimitada pelo Tema 896/STJ e que tramitem no
território nacional.
CPC e não intentar ação idêntica, tal como ocorreu. Com esses argumentos, entre outros,
a Seção, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na AR para rescindir o acórdão
proferido no REsp e negar o direito do réu à aposentadoria por idade a fim de prevalecer o
acórdão transitado em julgado em março de 1998. Precedentes citados: AR 2.826-SP, DJ
21/8/2006; AR 3.565-PR, DJe 30/6/2008; AR 3.273-SC, DJe 18/12/2009, e REsp 653.613-DF,
souza -- CPF:
DJe 15/6/2009. AR 3.029-SP, Rel. Min.º Jorge Mussi, julgada em 11/5/2011. (grifo nosso).
Marceli souza
NOVA AÇÃO
EMENTA [...] RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC.
RESOLUÇÃO No. 8/STJ. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. AUSÊNCIA DE PROVA
MATERIAL APTA A COMPROVAR O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE RURAL. CARÊNCIA DE
PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VÁLIDO DO PROCESSO. EXTINÇÃO
DO FEITO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO, DE MODO QUE A AÇÃO PODE SER REPROPOSTA,
DISPONDO A PARTE DOS ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA COMPROVAR O SEU DIREITO. [...]
2. As normas previdenciárias devem ser interpretadas de modo a favorecer os valores
morais da Constituição Federal/1988, que prima pela proteção do Trabalhador Segurado da
Previdência Social, motivo pelo qual os pleitos previdenciários devem ser julgados no
sentido de amparar a parte hipossuficiente e que, por esse motivo, possui proteção legal
que lhe garante a flexibilização dos rígidos institutos processuais. Assim, deve-se procurar
encontrar na hermenêutica previdenciária a solução que mais se aproxime do caráter social
da Carta Magna, a fim de que as normas processuais não venham a obstar a concretude do
direito fundamental à prestação previdenciária a que faz jus o segurado. [...] 5. A ausência
de conteúdo probatório eficaz a instruir a inicial, conforme determina o art. 283 do CPC,
implica a carência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo,
impondo a sua extinção sem o julgamento do mérito (art. 267, IV do CPC) e a consequente
possibilidade de o autor intentar novamente a ação (art. 268 do CPC), caso reúna os
elementos necessários à tal iniciativa. [...] (REsp 1352721 SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/12/2015, DJe 28/04/2016)
275
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Órgão
Tema/Repetitivo 629 Situação do tema Trânsito em julgado Corte Especial
Julgador
Argumento de que a parte autora deixou de instruir seu pedido inicial com documentos que
comprovassem o exercício de atividade rural em momento imediatamente anterior ao
Questão submetida a
ajuizamento da ação, consoante exigência legal prevista no art. 143 da Lei 8.213/91, motivo
julgamento
pelo qual o feito deveria ter sido extinto nos termos do art. 269, I do CPC, com a decretação
de improcedência do pedido.
A ausência de conteúdo probatório eficaz a instruir a inicial, conforme determina o art. 283
do CPC, implica a carência de pressupostos de constituição e desenvolvimento válido do
Tese firmada processo, impondo sua extinção sem o julgamento do mérito (art. 267, IV, do CPC) e a
consequente possibilidade de o autor intentar novamente a ação (art. 268 do CPC), caso
reúna os elementos necessário a tal iniciativa.
Napoleão
REsp 1.352.721/SP TRF3 Sim Nunes 4/4/2013 16/12/2015 28/4/2016 * 15/9/2017
Maia Filho
souza -- CPF:
Napoleão
REsp 1.352.875/SP TRF3 Sim Nunes 4/4/2013 * * * *
Marceli souza
Maia Filho
Marceli
276
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Órgão
Tema/Repetitivo 555 Situação do tema Trânsito em julgado Primeira Seção
Julgador
Súmula Originada do
Súmula 507/STJ
Tema
Herman
REsp 1.296.673/MG TJMG Não 15/6/2012 22/8/2012 3/9/2012 * 4/10/2012
Marceli souza
Benjamin
Marceli
Felix
REsp 1.111.828/SP TJSP Sim 14/4/2009 * * * *
Fischer
Marco
REsp 1.158.893/SP TJSP Não Aurélio 3/2/2010 * * * *
Bellizze
TEMA REPETITIVO 22
POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DE AUXÍLIO-ACIDENTE NOS CASOS DE PERDA AUDITIVA
MÍNIMA [...] AUXÍLIO-ACIDENTE. [...] DISACUSIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGALMENTE
EXIGIDOS. SÚMULA N.º 44/STJ. APLICABILIDADE.
[...]
2. Conforme a jurisprudência deste Tribunal Superior, ora reafirmada, estando presentes os
requisitos legais exigidos para a concessão do auxílio-acidente com base no art. 86, § 4º, da
277
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Lei n.º 8.213/91 - deficiência auditiva, nexo causal e a redução da capacidade laborativa -,
não se pode recusar a concessão do benefício acidentário ao Obreiro, ao argumento de que
o grau de disacusia verificado está abaixo do mínimo previsto na Tabela de Fowler.
3. O tema, já exaustivamente debatido no âmbito desta Corte Superior, resultou na edição
da Súmula n.º 44/STJ, segundo a qual "A definição, em ato regulamentar, de grau mínimo
de disacusia, não exclui, por si só, a concessão do benefício previdenciário."
4. A expressão "por si só" contida na citada Súmula significa que o benefício acidentário não
pode ser negado exclusivamente em razão do grau mínimo de disacusia apresentado pelo
Segurado. [...]
7. [...] Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ n.º 08, de
07/08/2008. (REsp 1095523 RS, Rel. Ministro LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
26/08/2009, DJe 05/11/2009)
Órgão
Tema/Repetitivo 22 Situação do tema Trânsito em julgado Terceira Seção
Julgador
“A expressão ‘por si só’ contida na citada Súmula significa que o benefício acidentário não
Anotações Nugep pode ser negado exclusivamente em razão do grau mínimo de disacusia apresentado pelo
Segurado.”
CPF: 073.496.444-77
Tribunal Acórdão
Relator Data de Julgado Embargos de Trânsito
Processo de RRC publicado
Marceli souza
Laurita
REsp 1.095.523/SP TJSP Sim 12/3/2009 26/8/2009 5/11/2009 4/8/2010 6/9/2010
Vaz
RESP 773.657/RS
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. SUS.
LEGITIMIDADE PASSIVA SOLIDÁRIA DO MUNICÍPIO, DO ESTADO E DA UNIÃO. ARTS. 196 E
198, § 1º, DA CF/88.
I - É da competência solidária entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
a responsabilidade pela prestação do serviço de saúde à população, sendo o Sistema Único
de Saúde composto pelos referidos entes, conforme pode se depreender do disposto nos
arts.
196 e 198, § 1º, da Constituição Federal.
II - Recurso especial improvido. (REsp 773.657/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/11/2005, DJ 19/12/2005, p. 268)
AGRG NO AG 961.677/SC
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM
AGRAVO DE INSTRUMENTO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERATIVOS. LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO.
278
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
RESP 516.359/RS
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTO. UNIÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA. TUTELA ANTECIPADA CONTRA A
FAZENDA PÚBLICA. POSSIBILIDADE. SÚMULA 729/STF E PRECEDENTES DESTA CORTE.
"É obrigação do Estado (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) assegurar
às pessoas desprovidas de recursos financeiros o acesso à medicação ou congênere
necessário à cura, controle ou abrandamento de suas enfermidades, sobretudo as mais
graves. Sendo o SUS composto pela União, Estados-membros e Municípios, é de
reconhecer-se, em função da solidariedade, a legitimidade passiva de qualquer deles no
pólo passivo da demanda" (RESP 719716/SC, Min. Relator Castro Meira).
É possível a antecipação de tutela contra a Fazenda Pública, Súmula 729/STF e
jurisprudência deste eg. Tribunal.
Recurso especial não conhecido. (REsp 516.359/RS, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA
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MIN.º HERMAN BENJAMIN, DJE 20.6.2017; AGINT NOS EDCL NO ARESP 959.082/PR, REL.
MIN.º SÉRGIO KUKINA, DJE 16.5.2017. POSSIBILIDADE DE FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTO NÃO INCORPORADO AO SUS POR PROTOCOLOS CLÍNICOS QUANDO O
TRIBUNAL DE ORIGEM ATESTAR A IMPRESCINDIBILIDADE DO USO DO FÁRMACO PARA A
MANUTENÇÃO DA SAÚDE DO PACIENTE. AGRAVO INTERNO DA UNIÃO A QUE SE NEGA
souza -- CPF:
PROVIMENTO.
1. Este Superior Tribunal de Justiça tem firmada a jurisprudência de que o funcionamento
Marceli souza
figurar no polo passivo de demanda que objetiva a garantia do acesso a medicamentos para
tratamento de problema de saúde. Precedentes: REsp. 1.657.913/RJ, Rel. Min.º HERMAN
BENJAMIN, DJe 20.6.2017; AgInt nos EDcl no AREsp. 959.082/PR, Rel. Min.º SÉRGIO KUKINA,
DJe 16.5.2017.
2. A jurisprudência do STJ já orientou que é possível o fornecimento de medicamento não
incorporados ao SUS por protocolos clínicos quando o Tribunal de origem atestar a
imprescindibilidade do uso do fármaco para a manutenção da saúde do paciente. Nesse
sentido: AgInt no REsp. 1.588.507/PE, Rel. Min.º MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe
14.10.2016.
3. Agravo Interno da União a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 818.734/RS, Rel.
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/05/2018, DJe
21/05/2018)
REsp 1.537.571-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
Processo
27/9/2016, DJe 20/8/2020
279
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Ramo do
Direito Administrativo, Direito do Consumidor
Direito
Destaque
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA deve exigir, na rotulagem dos produtos alimentícios, a advertência
da variação de 20% nos valores nutricionais.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR. Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada contra a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA -, após apuração de irregularidades na rotulagem
de produtos light e diet, a fim de que a autarquia, utilizando-se do seu poder de normatizar
e fiscalizar os produtos de interesse para a saúde, exija que passe a constar, nos rótulos dos
produtos alimentícios, a advertência de variação de 20% nos valores nutricionais. A ANVISA,
por meio da Portaria n.º 27/1998 e da Resolução n.º 360/2003, regulamentou a informação
nutricional complementar e a rotulagem nutricional de alimentos embalados. Ambos os
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atos normativos permitem a tolerância de até 20% nos valores constantes da informação
dos nutrientes declarados no rótulo. Embora toda advertência seja informação, nem toda
informação é advertência. Quem informa nem sempre adverte. A advertência é informação
qualificada: vem destacada do conjunto da mensagem, de modo a chamar a atenção do
consumidor, seja porque o objeto da advertência é fonte de onerosidade além da normal,
seja porque é imprescindível à prevenção de acidentes de consumo. O dever de informação
exige comportamento positivo e ativo, pois o CDC afasta a regra caveat emptor e não aceita
que o silêncio equivalha à informação, caracterizando-o, ao contrário, como patologia
repreensível, que é relevante somente em desfavor do fornecedor, inclusive como oferta e
CPF: 073.496.444-77
publicidade enganosa por omissão, punida civil, administrativa e criminalmente pelo CDC.
Cabe ainda ressaltar que, sobretudo nos alimentos e medicamentos, os rótulos constituem
a via mais fácil, barata, ágil e eficaz de transmissão de informações aos consumidores. São
eles mudados frequentemente para atender a oportunidades efêmeras de negócios, como
eventos desportivos ou culturais. Não se pode, por conseguinte, alegar que a inclusão
souza -- CPF:
expressa da frase "variação de 20% dos valores nutricionais" das matérias-primas utilizadas
na fabricação dos alimentos cause onerosidade excessiva aos fabricantes de alimentos.
Marceli souza
Desse modo, o consumidor tem o direito de ser informado no rótulo dos produtos
alimentícios da existência de variação de 20% nos valores nutricionais, principalmente
Marceli
porque existe norma da ANVISA permitindo essa tolerância. (Informativo n.º 677)
RO 213-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
Processo
05/12/2019, DJe 12/12/2019
Ramo do
Direito Administrativo
Direito
“Projeto Mais Médicos do Brasil”. Médico de nacionalidade estrangeira cooperado. Direito subjetivo
Tema
de permanência no programa social. Inexistência.
Destaque
Inexiste direito adquirido para os médicos cooperados estrangeiros de permanecer nos quadros de agentes públicos
da saúde pública, ainda que já tenham sido vinculados ao Projeto Mais Médicos para o Brasil.
280
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
PUIL 810-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 10/6/2020, DJE
Processo
5/8/2020
Ramo do
Direito Administrativo, Direito Previdenciário
Direito
Regime Geral de Previdência Social. Critério de cálculo de aposentadoria. Direito adquirido ao regime
CPF: 073.496.444-77
Tema anterior à EC n. 20/1998. Aplicação do art. 187 do Decreto n. 3.048/1999. Salários de contribuição.
Correção até a data da reunião dos requisitos, sob pena de hibridismo de regime.
Destaque
souza -- CPF:
É aplicável que o art. 187 do Decreto n. 3.048/1999 quando a aposentadoria foi deferida com base no direito adquirido
Marceli souza
anterior à vigência da Emenda Constitucional n. 20/1998, devendo a atualização dos salários de contribuição
integrantes do período básico de cálculo observar como marco final a data ficta de dezembro de 1998 e, a partir de
Marceli
então, a renda mensal inicial deverá ser reajustada até a data da entrada do requerimento administrativo pelos índices
de reajustamento dos benefícios.
281
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
deverá ser reajustada pelos índices de correção monetária dos benefícios previdenciários
até a efetiva implantação em folha de pagamento. Vale ressaltar que o critério entabulado
pelo art. 187 do Decreto n.º 3.048/1999, ampara o segurado com correção monetária até o
início do benefício. Em sentido contrário, a adoção do critério da correção dos salários de
contribuição até o início do benefício, o requerimento administrativo no caso, resultaria na
adoção de hibridismo de regimes, incompatível com o Regime Geral de Previdência Social.
Isso porque o segurado reúne as condições para aposentadoria de regime extinto, e sob a
regência dele é que deve ser calculada a renda mensal inicial do benefício. Essa
interpretação decorre de julgamento do STF sob a sistemática da Repercussão Geral: RE
575.089, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 10.9.2008, DJe
23.10.2008. (Informativo n.º 676)
REsp 1.596.203-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
Processo
em 11/12/2019, DJE 17/12/2019 (Tema 999)
Ramo do
Direito Previdenciário
Direito
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Destaque
Aplica-se a regra definitiva prevista no art. 29, I e II, da Lei n. 8.213/1991, na apuração do salário de benefício, quando
CPF: 073.496.444-77
mais favorável do que a regra de transição contida no art. 3º da Lei n. 9.876/1999, aos segurados que ingressaram no
Regime Geral da Previdência Social até o dia anterior à publicação da Lei n. 9.876/1999.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR. A Lei n.º 9.876/1999 adotou nova regra de cálculo dos
souza -- CPF:
282
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
a maior renda mensal possível, a partir do histórico de suas contribuições. Desse modo,
impõe-se reconhecer a possibilidade de aplicação da regra definitiva prevista no art. 29, I e
II, da Lei n.º 8.213/1991, na apuração do salário de benefício, quando se revelar mais
favorável do que a regra de transição contida no art. 3º da Lei 9.876/1999, respeitados os
prazos prescricionais e decadenciais. Afinal, por uma questão de racionalidade do sistema
normativo, a regra de transição não pode ser mais gravosa do que a regra definitiva.
(Informativo 662)
pensão por morte entre companheira do de cujus - beneficiária da pensão de acordo com
as normas municipais - e a genitora do falecido. Nesse contexto, cinge-se a controvérsia,
dentre outros pontos, a analisar os efeitos gerados por esse acordo, em especial, em relação
à autarquia previdenciária municipal responsável pelo pagamento do benefício. De início,
consigna-se que o ajuste formulado inter partes, pode produzir efeitos em face do Instituto
de Previdência e Assistência de Servidores Municipais desde que a sua efetivação não
acarrete ônus à autarquia, além daquele estritamente relativo à efetivação dos registros
nos assentamentos e eventuais transferências de valores. Dito de outro modo: desde que
CPF: 073.496.444-77
segurado. Com isso, não tendo o ajuste homologado em juízo o condão – e nem o poderia
– de alterar ordem legal de pensionamento, a conclusão que dele decorre é que houve o
Marceli souza
em favor da genitora não tem natureza de pensionamento, porque inexistente suporte legal
para tanto, não podendo gerar, para o futuro, qualquer direito em favor de terceiros
dependentes dessa beneficiária, bem como fica condicionado se e quando persistir a
pensão por morte de que é titular a companheira do de cujus. Por fim, caso dito desconto
seja suspenso, excluído ou diminuído, por qualquer motivo – morte ou revisão total ou
parcial do ajuste em juízo –, a parcela respectiva retorna para a beneficiária titular. Por seu
turno, a autarquia previdenciária tem a obrigação de, tão somente, implantar o benefício
de pensão por morte em nome da dependente legal, mas do valor total a ser pago
mensalmente à pensionista, por força de acordo inter partes, deve ser descontado o
percentual acordado, a ser depositado, pelo Instituto de Previdência e Assistência dos
Servidores Municipais em favor da genitora do falecido.
RESP 1185474/SC
ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL - ACESSO À CRECHE AOS MENORES DE ZERO A SEIS
ANOS - DIREITO SUBJETIVO - RESERVA DO POSSÍVEL - TEORIZAÇÃO E CABIMENTO -
IMPOSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO COMO TESE ABSTRATA DE DEFESA - ESCASSEZ DE
RECURSOS COMO O RESULTADO DE UMA DECISÃO POLÍTICA - PRIORIDADE DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS - CONTEÚDO DO MÍNIMO EXISTENCIAL - ESSENCIALIDADE DO DIREITO À
EDUCAÇÃO - PRECEDENTES DO STF E STJ.
1. A tese da reserva do possível assenta-se em ideia que, desde os romanos, está
incorporada na tradição ocidental, no sentido de que a obrigação impossível não pode ser
283
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
exigida (Impossibilium nulla obligatio est - Celso, D. 50, 17, 185). Por tal motivo, a
insuficiência de recursos orçamentários não pode ser considerada uma mera falácia.
2. Todavia, observa-se que a dimensão fática da reserva do possível é questão
intrinsecamente vinculada ao problema da escassez. Esta pode ser compreendida como
"sinônimo" de desigualdade. Bens escassos são bens que não podem ser usufruídos por
todos e, justamente por isso, devem ser distribuídos segundo regras que pressupõe o
direito igual ao bem e a impossibilidade do uso igual e simultâneo.
3. Esse estado de escassez, muitas vezes, é resultado de um processo de escolha, de uma
decisão. Quando não há recursos suficientes para prover todas as necessidades, a decisão
do administrador de investir em determinada área implica escassez de recursos para outra
que não foi contemplada. A título de exemplo, o gasto com festividades ou propagandas
governamentais pode ser traduzido na ausência de dinheiro para a prestação de uma
educação de qualidade.
4. É por esse motivo que, em um primeiro momento, a reserva do possível não pode ser
oposta à efetivação dos Direitos Fundamentais, já que, quanto a estes, não cabe ao
administrador público preteri-los em suas escolhas. Nem mesmo a vontade da maioria pode
tratar tais direitos como secundários. Isso, porque a democracia não se restringe na vontade
da maioria. O princípio do majoritário é apenas um instrumento no processo democrático,
mas este não se resume àquele. Democracia é, além da vontade da maioria, a realização
dos direitos fundamentais. Só haverá democracia real onde houver liberdade de expressão,
marceliangel@hotmail·com
respeito às minorias e às ideias minoritárias etc. Tais valores não podem ser malferidos,
ainda que seja a vontade da maioria. Caso contrário, se estará usando da "democracia" para
extinguir a Democracia.
5. Com isso, observa-se que a realização dos Direitos Fundamentais não é opção do
governante, não é resultado de um juízo discricionário nem pode ser encarada como tema
que depende unicamente da vontade política. Aqueles direitos que estão intimamente
ligados à dignidade humana não podem ser limitados em razão da escassez quando esta é
fruto das escolhas do administrador.
CPF: 073.496.444-77
Não é por outra razão que se afirma que a reserva do possível não é oponível à realização
do mínimo existencial.
6. O mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo para se viver. O
conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange também as condições
socioculturais, que, para além da questão da mera sobrevivência, asseguram ao indivíduo
souza -- CPF:
encontra-se o direito à educação. O que distingue o homem dos demais seres vivos não é a
sua condição de animal social, mas sim de ser um animal político. É a sua capacidade de
Marceli
284
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
RESP 1.230.957-RS
DIREITO TRIBUTÁRIO E PREVIDENCIÁRIO. INCIDÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
SOBRE O SALÁRIO-MATERNIDADE. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES.
8/2008-STJ). Incide contribuição previdenciária a cargo da empresa sobre os valores pagos
a título de salário-maternidade.
De fato, o art. 201, § 11, da CF estabelece que "os ganhos habituais do empregado, a
qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e
CPF: 073.496.444-77
285
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
não é dado ao Poder Judiciário, a título de interpretação, atuar como legislador positivo, a
fim de estabelecer política protetiva mais ampla e, desse modo, desincumbir o empregador
do ônus referente à contribuição previdenciária incidente sobre o salário-maternidade,
quando não foi esta a política legislativa. Precedentes citados: AgRg nos EDcl no REsp
1.040.653-SC, Primeira Turma, DJe 15/9/2011; e AgRg no Ag 1.424.039-DF, Segunda Turma,
DJe 21/10/2011.
(REsp 1.230.957-RS, Rel. Min.º Mauro Campbell Marques, julgado em 26/2/2014).
RESP 591.370/MG
PREVIDENCIÁRIO - EMBARGOS DECLARATÓRIOS - ARTS. 535 II DO CPC - OBSCURIDADE
INEXISTENTE - TRABALHADOR RURAL - PROVA DOCUMENTAL - CERTIDÃO DE CASAMENTO
- ANOTAÇÕES NA CTPS - CARÊNCIA - INEXIGIBILIDADE - CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
- A norma processual é clara ao fixar as hipóteses, na via dos Embargos Declaratórios, de
mudança do teor do julgado prolatado, tais como, omissão, contradição ou obscuridade.
Não é o caso dos autos, porquanto o mesmo não incorreu em nenhuma das hipóteses. No
caso em exame, não se vislumbra qualquer indício da omissão apontada que venha a
justificar o caráter infringente do julgado.
- No que se refere à comprovação da atividade rurícola do autor, além dos depoimentos
testemunhais, a Certidão de Casamento, acostada à fls.08 dos autos, que declara sua
profissão de tratorista e as anotações em sua CTPS comprovam seu trabalho em empresas
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sentido de que a prova testemunhal deve estar apoiada em um início razoável de prova
material.
2. O rol de documentos hábeis à comprovação do exercício de atividade rural, inscrito no
art. 106, parágrafo único da Lei n.º 8.213/1991, é meramente exemplificativo, e não
taxativo, sendo admissíveis, portanto, outros documentos além dos previstos no
mencionado dispositivo.
3. A declaração de sindicato rural somente constitui início de prova material hábil a
demonstrar o labor campesino se homologada pelo INSS ou pelo Ministério Público.
Precedentes.
4. A análise das questões trazidas pela agravante demandaria o reexame de matéria fático-
probatória, o que é obstado, em âmbito de recurso especial, pela Súmula 7/STJ.
5. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 550.391/SP, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/10/2014, DJe 08/10/2014)
RESP 464.760-SC
É certo ter se firmado a jurisprudência deste Superior Tribunal no sentido de que é o óbito
do segurado que determina o suporte fático a ser analisado na concessão de benefício de
pensão por morte e que há de se aplicar a lei vigente àquela época.
Assim, constatado o falecimento da avó segurada na vigência da Lei n.º 8.213/1991, já com
a redação determinada pela Lei n.º 9.032/1995, não faz jus ao benefício seu neto, pois não
286
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
alimentos, não a proíbe de requerer a pensão por morte, uma vez devidamente
comprovada a necessidade (REsp.472.742/RJ, Rel. Min.º JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, DJU
31.03.2003).
3. Agravo Regimental desprovido. (AgRg no REsp 1015252/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 25/04/2011)
RESP 1183378/RS
DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO
CPF: 073.496.444-77
da constitucionalização do direito civil, não é possível ao STJ analisar as celeumas que lhe
aportam "de costas" para a Constituição Federal, sob pena de ser entregue ao
Marceli
jurisdicionado um direito desatualizado e sem lastro na Lei Maior. Vale dizer, o Superior
Tribunal de Justiça, cumprindo sua missão de uniformizar o direito infraconstitucional,
não pode conferir à lei uma interpretação que não seja constitucionalmente aceita.
2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento conjunto da ADPF n.º 132/RJ e da ADI n.º
4.277/DF, conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002 interpretação conforme à
Constituição para dele excluir todo significado que impeça o reconhecimento da união
contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar,
entendida esta como sinônimo perfeito de família.
3. Inaugura-se com a Constituição Federal de 1988 uma nova fase do direito de família e,
consequentemente, do casamento, baseada na adoção de um explícito poliformismo
familiar em que arranjos multifacetados são igualmente aptos a constituir esse núcleo
doméstico chamado "família", recebendo todos eles a "especial proteção do Estado".
Assim, é bem de ver que, em 1988, não houve uma recepção constitucional do conceito
histórico de casamento, sempre considerado como via única para a constituição de família
e, por vezes, um ambiente de subversão dos ora consagrados princípios da igualdade e da
dignidade da pessoa humana. Agora, a concepção constitucional do casamento -
diferentemente do que ocorria com os diplomas superados - deve ser necessariamente
plural, porque plurais também são as famílias e, ademais, não é ele, o casamento, o
destinatário final da proteção do Estado, mas apenas o intermediário de um propósito
maior, que é a proteção da pessoa humana em sua inalienável dignidade.
287
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
vulneráveis, não pode o Poder Judiciário demitir-se desse mister, sob pena de aceitação
tácita de um Estado que somente é "democrático" formalmente, sem que tal predicativo
resista a uma mínima investigação acerca da universalização dos direitos civis.
11. Recurso especial provido. (REsp 1183378/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 25/10/2011, DJe 01/02/2012)
souza -- CPF:
RESP 1709883/RS
Marceli souza
CABIMENTO. PRECEDENTES.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal contra
o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, em que objetiva que o réu se abstenha de
indeferir, exclusivamente por motivo de idade, os requerimentos de benefícios de salário-
maternidade formulados pelas seguradas indígenas da cultura Mbyá-Guarani provenientes
de qualquer cidade de competência. A sentença de procedência foi mantida pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região.
2. O acórdão impugnado está em consonância com o entendimento do STJ em casos
idênticos aos dos autos. Por emblemático, transcreve-se trecho do REsp 1.650.697/RS:
3. O sistema previdenciário protege os indígenas, caso desempenhem trabalho
remunerado. A Constituição da República de 1988, a Convenção 129 da Organização
Internacional do Trabalho e o Estatuto do Índio são uníssonos ao proteger os direitos
indígenas e garantir à esta população, no tocante ao sistema previdenciário, o mesmo
tratamento conferido aos demais trabalhadores.
4. A limitação etária não tem o condão de afastar a condição de segurada especial das
indígenas menores de 16 (dezesseis) anos, vedando-lhes o acesso ao sistema de proteção
previdenciária estruturado pelo Poder Público. Princípio da primazia da verdade. As regras
de proteção das crianças e adolescentes não podem ser utilizadas com o escopo de
restringir direitos.
5. Nos casos em que ocorreu, ainda que de forma indevida, a prestação do trabalho pela
menor de 16 (dezesseis) anos, é preciso assegurar a essa criança ou adolescente, ainda que
288
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
ARESP 1570257/RS
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO ART.
1.022 DO CPC. INEXISTÊNCIA. PENSÃO POR MORTE. FILHO MAIOR INVÁLIDO. REQUISITOS.
PREENCHIMENTO. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. REVISÃO DE PREMISSAS FÁTICAS.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza ofensa
ao art. 1.022 do CPC.
2. Consoante a jurisprudência do STJ, é irrelevante o fato de a invalidez ter sido após a
maioridade do postulante, uma vez que, nos termos do artigo 16, III c/c o parágrafo 4º,
da Lei 8.213/1991, é devida a pensão por morte, comprovada a dependência econômica,
ao filho inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou
relativamente incapaz, assim declarado judicialmente.
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5. Merece transcrição o seguinte excerto da decisão combatida: "(...) Saliento, ainda, que a
citada condição de enfermo dependente do autor é corroborada pela documentação
trazida aos autos pelo INSS, bem como pelo próprio depoimento das testemunhas" (fl. 242,
e-STJ).
6. Para desconstituir as conclusões abrigadas pelo acórdão quanto à demonstração de
souza -- CPF:
dependência econômica exigida para fins de concessão de pensão por morte, é necessário
revolver o acervo fático-probatório dos autos, defeso ao STJ em razão da Súmula 7/STJ.
Marceli souza
AAGARESP 615088
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. PAIS. COMPROVAÇÃO DE DEPENDÊNCIA
ECONÔMICA NÃO DEMONSTRADA. REVALORAÇÃO DA PROVA. DESCABIMENTO. REEXAME
DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ.
1. Para fins de percepção de pensão por morte, a dependência econômica entre os
genitores e o segurado falecido deve ser demonstrada, não podendo ser presumida.
2. No caso dos autos, o acórdão recorrido entendeu "não comprovada a dependência
econômica da mãe em relação ao filho de criação, ante a inexistência de conjunto
probatório harmônico e coerente. Ausente a prova dependência econômica, inviável a
concessão da pensão por morte". (...) (AAGARESP - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - 615088 2014.02.78236-3, HERMAN
BENJAMIN, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:12/08/2015 ..DTPB:.)
AINTARESP 1346126
(...) V. É firme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que "é devida
pensão por morte aos pais de família de baixa renda, em decorrência da morte de filho
menor, e não é exigida prova material para comprovação da dependência econômica do
289
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
filho, para fins de obtenção do referido benefício" (STJ, AgRg no Ag 1.252.268/SP, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de 18/03/2010).
Nesse sentido: STJ, AgInt no AREsp 1.047.018/SC, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, DJe de 29/06/2017; AgRg no AREsp 346.483/PB, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 06/12/2013.
VI. Agravo interno improvido. (AINTARESP - AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL - 1346126 2018.02.07535-9, ASSUSETE MAGALHÃES, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE
DATA:17/12/2018.DTPB.)
ARESP 891154
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. PROVA
EXCLUSIVAMENTE TESTEMUNHAL. ADMISSIBILIDADE.
1. Esta Corte Superior possui jurisprudência no sentido de que a prova exclusivamente
testemunhal pode ser utilizada para a comprovação da dependência econômica dos pais
em relação aos filhos, com fins de percepção do benefício de pensão por morte,
porquanto a legislação previdenciária não exige início de prova material para tal
comprovação.
2. Agravo conhecido para negar provimento ao recurso especial.
(ARESP - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - 891154 2016.00.79102-9, GURGEL DE FARIA, STJ
- PRIMEIRA TURMA, DJE DATA:23/02/2017 .DTPB:.)
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considerado inaplicável aos autos, sendo certo que a reforma do aludido entendimento
mostra-se inviável em recurso especial, visto que exigiria revisitar o acervo fático-
Marceli
RESP 988.171/RS
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. DEVOLUÇÃO DE VALORES RECEBIDOS A TÍTULO DE
TUTELA ANTECIPADA POSTERIORMENTE REVOGADA. POSSIBILIDADE. LIMITAÇÃO DO
DESCONTO A 10% SOBRE O VALOR LÍQUIDO DA PRESTAÇÃO DO BENEFÍCIO.
1. A tutela antecipada é provimento jurisdicional de caráter provisório, que, nos termos do
art. 273, § 3º e 475-O do CPC, tem a sua execução realizada por iniciativa, conta e
responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a decisão for reformada, a reparar os
danos que o executado haja sofrido.
2. De acordo com o art. 115 da Lei n.º 8.213/1991, que disciplina os planos de benefícios da
Previdência Social, havendo pagamento além do devido, como no caso, o ressarcimento
será efetuado por meio de parcelas, nos termos determinados em regulamento, ressalvada
a ocorrência de má-fé.
3. Tendo em vista a natureza alimentar do benefício previdenciário e a condição de
hipossuficiência do segurado, reputa-se razoável o desconto de 10% sobre o valor líquido
da prestação do benefício, a fim de restituir os valores pagos a mais, decorrente da tutela
antecipada posteriormente revogada.
290
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
4. Embora possibilite a fruição imediata do direito material, a tutela antecipada não perde
a sua característica de provimento provisório e precário, daí porque a sua futura revogação
acarreta a restituição dos valores recebidos em decorrência dela (art. 273, § 3º e 475-O do
CPC).
5. Recurso Especial do INSS provido.
(REsp 988.171/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado
em 04/12/2007, DJ 17/12/2007, p. 343)
RESP 1384418/SC
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. RECEBIMENTO VIA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE
REVOGADA. DEVOLUÇÃO. REALINHAMENTO JURISPRUDENCIAL. HIPÓTESE ANÁLOGA.
SERVIDOR PÚBLICO. CRITÉRIOS. CARÁTER ALIMENTAR E BOA-FÉ OBJETIVA. NATUREZA
PRECÁRIA DA DECISÃO. RESSARCIMENTO DEVIDO. DESCONTO EM FOLHA. PARÂMETROS.
1. Trata-se, na hipótese, de constatar se há o dever de o segurado da Previdência Social
devolver valores de benefício previdenciário recebidos por força de antecipação de tutela
(art. 273 do CPC) posteriormente revogada.
2. Historicamente, a jurisprudência do STJ fundamenta-se no princípio da irrepetibilidade
dos alimentos para isentar os segurados do RGPS de restituir valores obtidos por
antecipação de tutela que posteriormente é revogada.
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Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 16.4.2012; EDcl nos EDcl no REsp
1.241.909/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 15.9.2011; AgRg no
Marceli souza
REsp 1.332.763/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012; AgRg
no REsp 639.544/PR, Rel. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargador Convocada
Marceli
do TJ/PE), Sexta Turma, DJe 29.4.2013; AgRg no REsp 1.177.349/ES, Rel. Ministro Gilson
Dipp, Quinta Turma, DJe 1º.8.2012; AgRg no RMS 23.746/SC, Rel. Ministro Jorge Mussi,
Quinta Turma, DJe 14.3.2011.
6. Tal compreensão foi validada pela Primeira Seção em julgado sob o rito do art. 543-C
do CPC, em situação na qual se debateu a devolução de valores pagos por erro
administrativo: "quando a Administração Pública interpreta erroneamente uma lei,
resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa de que os
valores recebidos são legais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra desconto dos
mesmos, ante a boa-fé do servidor público." (REsp 1.244.182/PB, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Seção, DJe 19.10.2012, grifei).
7. Não há dúvida de que os provimentos oriundos de antecipação de tutela (art. 273 do CPC)
preenchem o requisito da boa-fé subjetiva, isto é, enquanto o segurado os obteve existia
legitimidade jurídica, apesar de precária.
8. Do ponto de vista objetivo, por sua vez, inviável falar na percepção, pelo segurado, da
definitividade do pagamento recebido via tutela antecipatória, não havendo o titular do
direito precário como pressupor a incorporação irreversível da verba ao seu patrimônio.
9. Segundo o art. 3º da LINDB, "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a
conhece", o que induz à premissa de que o caráter precário das decisões judiciais liminares
é de conhecimento inescusável (art. 273 do CPC).
10. Dentro de uma escala axiológica, mostra-se desproporcional o Poder Judiciário
desautorizar a reposição do principal ao Erário em situações como a dos autos, enquanto
291
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
RESP 991.030/RS
PROCESSO CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL AFASTADA. RESTITUIÇÃO DE PARCELAS PREVIDENCIÁRIAS PAGAS POR FORÇA DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. VERBA ALIMENTAR RECEBIDA DE BOA FÉ PELA SEGURADA.
RECURSO ESPECIAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.
1. A questão da possibilidade da devolução dos valores recebidos por força de antecipação
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dos efeitos da tutela foi inequivocamente decidida pela Corte Federal, o que exclui a
alegada violação do artigo 535 do Código de Processo Civil, eis que os embargos de
declaração não se destinam ao prequestionamento explícito.
2. O pagamento realizado a maior, que o INSS pretende ver restituído, foi decorrente de
decisão suficientemente motivada, anterior ao pronunciamento definitivo da Suprema
Corte, que afastou a aplicação da lei previdenciária mais benéfica a benefício concedido
antes da sua vigência. Sendo indiscutível a boa-fé da autora, não é razoável determinar a
sua devolução pela mudança do entendimento jurisprudencial por muito tempo
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ERESP 1086154/RS
souza -- CPF:
STJ.
1. A dupla conformidade entre a sentença e o acórdão gera a estabilização da decisão de
primeira instância, de sorte que, de um lado, limita a possibilidade de recurso do vencido,
tornando estável a relação jurídica submetida a julgamento; e, de outro, cria no vencedor
a legítima expectativa de que é titular do direito reconhecido na sentença e confirmado
pelo Tribunal de segunda instância.
2. Essa expectativa legítima de titularidade do direito, advinda de ordem judicial com força
definitiva, é suficiente para caracterizar a boa-fé exigida de quem recebe a verba de
natureza alimentar posteriormente cassada, porque, no mínimo, confia - e, de fato, deve
confiar - no acerto do duplo julgamento.
3. Por meio da edição da súm. 34/AGU, a própria União reconhece a irrepetibilidade da
verba recebida de boa-fé, por servidor público, em virtude de interpretação errônea ou
inadequada da Lei pela Administração. Desse modo, e com maior razão, assim também
deve ser entendido na hipótese em que o restabelecimento do benefício previdenciário dá-
se por ordem judicial posteriormente reformada.
4. Na hipótese, impor ao embargado a obrigação de devolver a verba que por anos recebeu
de boa-fé, em virtude de ordem judicial com força definitiva, não se mostra razoável, na
medida em que, justamente pela natureza alimentar do benefício então restabelecido,
pressupõe-se que os valores correspondentes foram por ele utilizados para a manutenção
da própria subsistência e de sua família. Assim, a ordem de restituição de tudo o que foi
292
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Sendo assim, se acabou por ser malsucedida a demanda na qual houvera antecipação da
tutela judicial, o autor da ação responde pelo que recebeu indevidamente.
Além do mais, não prospera o argumento de que o autor não seria obrigado a devolver
benefícios advindos da antecipação por ter confiado no juiz, porquanto esta
fundamentação ignora o fato de que a parte, no processo, está representada por advogado,
o qual sabe que a antecipação de tutela tem natureza precária.
Há, ainda, o reforço do direito material.
Um dos princípios gerais do direito é o de que não pode haver enriquecimento sem causa.
CPF: 073.496.444-77
Sendo um princípio geral, ele se aplica ao direito público, e com maior razão neste caso
porque o lesado é o patrimônio público.
Ademais, o art. 115, II, da Lei 8.213/1991 é expresso no sentido de que os benefícios
previdenciários pagos indevidamente estão sujeitos à repetição. Uma decisão do STJ que
viesse a desconsiderá-lo estaria, por via transversa, deixando de aplicar norma legal que, a
souza -- CPF:
contrario sensu, o STF declarou constitucional, uma vez que o art. 115, II, da Lei 8.213/1991
exige o que dispensava o art. 130, parágrafo único na redação originária, declarado
Marceli souza
inconstitucional na ADI 675 (Tribunal Pleno, DJ 20/6/1997). REsp 1.401.560-MT, Rel. Min.º
Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min.º Ari Pargendler, Primeira Seção, julgado em
Marceli
RESP 1230957/RS
PROCESSUAL CIVIL. RECURSOS ESPECIAIS. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A
CARGO DA EMPRESA. REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. DISCUSSÃO A RESPEITO DA
INCIDÊNCIA OU NÃO SOBRE AS SEGUINTES VERBAS: TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS;
SALÁRIO MATERNIDADE; SALÁRIO PATERNIDADE; AVISO PRÉVIO INDENIZADO;
IMPORTÂNCIA PAGA NOS QUINZE DIAS QUE ANTECEDEM O AUXÍLIO-DOENÇA. 1. Recurso
especial de HIDRO JET EQUIPAMENTOS HIDRÁULICOS LTDA.
(...)
1.2 Terço constitucional de férias.
No que se refere ao adicional de férias relativo às férias indenizadas, a não incidência de
contribuição previdenciária decorre de expressa previsão legal (art. 28, § 9º, "d", da Lei
8.212/91 - redação dada pela Lei 9.528/97). Em relação ao adicional de férias concernente
às férias gozadas, tal importância possui natureza indenizatória/compensatória, e não
constitui ganho habitual do empregado, razão pela qual sobre ela não é possível a
incidência de contribuição previdenciária (a cargo da empresa). A Primeira Seção/STJ, no
julgamento do AgRg nos EREsp 957.719/SC (Rel. Min.º Cesar Asfor Rocha, DJe de
16.11.2010), ratificando entendimento das Turmas de Direito Público deste Tribunal,
adotou a seguinte orientação: "Jurisprudência das Turmas que compõem a Primeira Seção
293
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Turma, Rel. Min.º Luiz Fux, DJ de 29.11.2004; REsp 803.708/CE, 2ª Turma, Rel. Min.º Eliana
Calmon, DJ de 2.10.2007; REsp 886.954/RS, 1ª Turma, Rel. Min.º Denise Arruda, DJ de
29.6.2007; AgRg no REsp 901.398/SC, 2ª Turma, Rel. Min.º Herman Benjamin, DJe de
19.12.2008;
(...)
1.4 Salário paternidade.
O salário paternidade refere-se ao valor recebido pelo empregado durante os cinco dias de
afastamento em razão do nascimento de filho (art. 7º, XIX, da CF/88, c/c o art. 473, III, da
CPF: 073.496.444-77
CLT e o art. 10, § 1º, do ADCT). Ao contrário do que ocorre com o salário maternidade, o
salário paternidade constitui ônus da empresa, ou seja, não se trata de benefício
previdenciário. Desse modo, em se tratando de verba de natureza salarial, é legítima a
incidência de contribuição previdenciária sobre o salário paternidade. Ressalte-se que "o
salário-paternidade deve ser tributado, por se tratar de licença remunerada prevista
souza -- CPF:
constitucionalmente, não se incluindo no rol dos benefícios previdenciários" (AgRg nos EDcl
no REsp 1.098.218/SP, 2ª Turma, Rel. Min.º Herman Benjamin, DJe de 9.11.2009).
Marceli souza
(...)
2.2 Aviso prévio indenizado.
Marceli
294
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
que integram a Primeira Seção/STJ firmou-se no sentido de que sobre a importância paga
pelo empregador ao empregado durante os primeiros quinze dias de afastamento por
motivo de doença não incide a contribuição previdenciária, por não se enquadrar na
hipótese de incidência da exação, que exige verba de natureza remuneratória.
(...)
Acórdão sujeito ao regime previsto no art. 543-C do CPC, c/c a Resolução 8/2008 -
Presidência/STJ. (REsp 1230957/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 26/02/2014, DJe 18/03/2014)
c) adicional de periculosidade
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA E BASE DE CÁLCULO: NATUREZA
REMUNERATÓRIA
2. Com base no quadro normativo que rege o tributo em questão, o STJ consolidou firme
jurisprudência no sentido de que não devem sofrer a incidência de contribuição
previdenciária "as importâncias pagas a título de indenização, que não correspondam a
serviços prestados nem a tempo à disposição do empregador" (REsp 1.230.957/RS, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 18/3/2014, submetido ao art. 543-
CPF: 073.496.444-77
C do CPC).
3. Por outro lado, se a verba possuir natureza remuneratória, destinando-se a retribuir o
trabalho, qualquer que seja a sua forma, ela deve integrar a base de cálculo da
contribuição.
ADICIONAIS NOTURNO, DE PERICULOSIDADE, HORAS EXTRAS: INCIDÊNCIA
souza -- CPF:
Segunda Turma, DJe 20/6/2012; REsp 1.149.071/SC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda
Turma, DJe 22/9/2010; Rel. Ministro Ari Pargendler, Primeira Turma, DJe 9/4/2013; REsp
1.098.102/SC, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 17/6/2009; AgRg no
Ag 1.330.045/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 25/11/2010; AgRg no REsp
1.290.401/RS; REsp 486.697/PR, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ
17/12/2004, p. 420; AgRg nos EDcl no REsp 1.098.218/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe 9/11/2009).
(...)
CONCLUSÃO
9. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. Acórdão
submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 8/2008. (REsp 1358281/SP,
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/04/2014, DJe
05/12/2014)
AIEDRESP 1566704
TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA SOBRE AS PARCELAS RECEBIDAS A TÍTULO DE
13o. (DÉCIMO TERCEIRO) SALÁRIO, AUXÍLIO-MATERNIDADE, HORAS-EXTRAS, ADICIONAIS
DE INSALUBRIDADE, NOTURNO E PERICULOSIDADE, REPOUSO SEMANAL. AUXÍLIO-
ALIMENTAÇÃO PAGO EM ESPÉCIE. NÃO INCIDÊNCIA SOBRE O ABONO ASSIDUIDADE
CONVERTIDO EM PECÚNIA. AGRAVO INTERNO DA EMPRESA DESPROVIDO.
295
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Informativo nº 0470
Período: 25 a 29 de abril de 2011.
Marceli souza
PRIMEIRA TURMA
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. AUXÍLIO-DOENÇA. QUEBRA DE CAIXA. Na espécie,
Marceli
296
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
942.365-SC, Rel. originário Min.º Luiz Fux, Rel. para acórdão Min.º Teori Albino Zavascki,
julgado em 26/4/2010.
AIRESP 1545125
EMEN: TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA INCIDENTE SOBRE FÉRIAS GOZADAS, ADICIONAIS NOTURNO, DE
PERICULOSIDADE E DE INSALUBRIDADE, DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO (GRATIFICAÇÃO
NATALINA) E AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. AGRAVO INTERNO DA EMPRESA DESPROVIDO. 1. O
Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que incide Contribuição
Previdenciária sobre a gratificação natalina, bem como sobre os valores pagos a título de
férias gozadas, adicionais noturno, de periculosidade, de insalubridade e auxílio-
alimentação. 2. Agravo Interno da Empresa desprovido. ..EMEN:
(AIRESP - AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - 1545125 2015.01.78516-4,
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJE DATA:18/11/2019 ..DTPB:.)
RESP 1554596/SC
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL AFETADO AO RITO DOS REPETITIVOS. ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO 3/STJ. REVISÃO DE BENEFÍCIO. SOBREPOSIÇÃO DE NORMAS. APLICAÇÃO
DA REGRA DEFINITIVA PREVISTA NO ART. 29, I E II DA LEI 8.213/1991, NA APURAÇÃO DO
SALÁRIO DE BENEFÍCIO, QUANDO MAIS FAVORÁVEL DO QUE A REGRA DE TRANSIÇÃO
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que no cálculo do salário de benefício dos Segurados filiados à Previdência Social até o dia
anterior à data de publicação desta lei, o período básico de cálculo só abarcaria as
contribuições vertidas a partir de julho de 1994.
3. A norma transitória deve ser vista em seu caráter protetivo. O propósito do artigo 3o. da
Lei 9.876/1999 e seus parágrafos foi estabelecer regras de transição que garantissem que
souza -- CPF:
os Segurados não fossem atingidos de forma abrupta por normas mais rígidas de cálculo
dos benefícios.
Marceli souza
4. Nesse passo, não se pode admitir que tendo o Segurado vertido melhores contribuições
antes de julho de 1994, tais pagamentos sejam simplesmente descartados no momento da
Marceli
297
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
aos Segurado que ingressaram no Regime Geral da Previdência Social até o dia anterior à
publicação da Lei 9.876/1999.
9. Recurso Especial do Segurado provido.
(REsp 1554596/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 11/12/2019, DJe 17/12/2019)
AGRG NO AG 150.454/SP
PREVIDENCIARIO. AÇÃO ACIDENTARIA. EXECUÇÃO. LEI 8.880/94. BENEFICIOS PAGOS COM
ATRASO. ATUALIZAÇÃO. IRSM DE FEVEREIRO/94. CONVERSÃO EM URV. AGRAVO
REGIMENTAL. 1. DEVE SER APLICADO O INDICE DE 39,67%, REFERENTE AO IRSM/IBGE DO
MES DE FEVEREIRO DE 1994, AOS BENEFICIOS PREVIDENCIARIOS PAGOS COM ATRASO,
PARA SO ENTÃO PROCEDER-SE A TRANSFORMAÇÃO DO "QUANTUM" APURADO NO
EQUIVALENTE EM URV. 2. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
(AgRg no Ag 150.454/SP, Rel. Ministro EDSON VIDIGAL, QUINTA TURMA, julgado em
18/06/1998, DJ 03/08/1998, p. 287)
RESP 1501798/RS
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. REVISÃO
DA RENDA MENSAL INICIAL. IRSM DE FEVEREIRO/94. DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA.
TERMO INICIAL. DATA DA MEDIDA PROVISÓRIA 201, DE 23/7/2004, CONVERTIDA NA LEI
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contribuição anteriores a março de 1994. O presente caso não envolve revisão do ato
administrativo que analisou o pedido de deferimento da prestação previdenciária.
Marceli souza
4. O termo inicial para a contagem do prazo decadencial deve ser a edição da Medida
Provisória 201, de 23/7/2004, convertida na Lei 10.999/2004. A ação neste caso foi ajuizada
Marceli
em 11/10/2011, portanto, não se passaram mais de dez anos entre o termo inicial e o
ajuizamento da ação.
5. Recurso especial conhecido e não provido.
(REsp 1501798/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado
em 21/05/2015, DJe 28/05/2015)
298
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
III - Quanto ao prazo decadencial, a Lei n.º 10.999/2004 serviu apenas para dar suporte e
estabelecer limites para a realização de acordos e transações, como meio de viabilizar a
pacificação da controvérsia, não tendo o condão de renovar o prazo decadencial decenal.
Assim, merece aplicação o entendimento fixado pela Primeira Seção do STJ, no julgamento
dos Recursos Especiais repetitivos 1.309.529/PR e 1.326.114/SC, o qual prescreve que
"Incide o prazo de decadência do art. 103 da Lei 8.213/1991, instituído pela Medida
Provisória 1.523-9/1997, convertida na Lei 9.528/1997, no direito de revisão dos benefícios
concedidos ou indeferidos anteriormente a esse preceito normativo, com termo a quo a
contar da sua vigência (28.6.1997)".
IV - Agravo interno parcialmente provido. (AgInt no REsp 1609124/RS, Rel. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe 19/12/2019)
de contribuinte individual.
AgRg no REsp 1.444.003-RS, Rel. Min.º Humberto Martins, julgado em 8/5/2014.
Marceli souza
Marceli
RESP 774.126/RS
A princípio, a matéria ora em exame não comporta maiores discussões no âmbito deste
Superior Tribunal, que já firmou entendimento no sentido de que, para a contagem
recíproca de tempo de contribuição, mediante a junção do período prestado na
administração pública com a atividade rural ou urbana, faz-se necessária a indenização do
período rural exercido anteriormente à Lei n.º 8.213/1991, acrescida de juros moratórios e
multa, a teor do previsto no art. 45, § 4º, da Lei 8.212/91 (...)
3. Constata-se, todavia, que somente a partir da edição da MP 1.523, de 11/10/96, que
acrescentou o § 4º ao art. 45 da Lei 8.212/91, é que se tornou exigível a incidência de juros
moratórios e multa nas contribuições pagas em atraso. Isto porque, antes desta alteração
legislativa, não havia sequer previsão legal dessa incidência nas contribuições apuradas a
título de indenização, para fins de contagem recíproca.
4. Inexistindo previsão de juros e multa em período anterior à edição da MP 1.523/96, ou
seja, 11/10/1996, não pode haver retroatividade da lei previdenciária para prejudicar os
segurados, razão pela qual devem ser afastados os juros e a multa do cálculo da indenização
no referido período. 5. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 774.126/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em
11/10/2005, DJ 05/12/2005, p. 376)
EDRESP 327803
299
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
artigo 142 da LBPS. Assim, deve cumprir carência de 180 meses de contribuição para obter
a aposentadoria por idade. Ocorre que a Lei nº 8.213/91, ao aumentar o prazo de carência
de 60 para 180 meses para as aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial,
criou uma tabela progressiva (artigo 142) para a exigência desse novo lapso temporal a fim
de não prejudicar o segurado inscrito na Previdência Social em data anterior à vigência da
referida lei, levando-se em conta o ano em que o segurado implementa todas as condições
necessárias à obtenção do benefício. E o artigo 24, parágrafo único, da referida legislação,
fixou regra acerca do aproveitamento das contribuições anteriores em caso de perda da
qualidade de segurado, exigindo que o beneficiário contribua com, no mínimo, 1/3 do
CPF: 073.496.444-77
(AgRg no REsp 512.592/PR, Rel. Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA, julgado em
19/08/2003, DJ 22/09/2003, p. 407)
Marceli souza
RESP 450.078/RS
Marceli
300
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
PET 7.476/PR
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. REQUISITOS: IDADE E
COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE AGRÍCOLA NO PERÍODO IMEDIATAMENTE ANTERIOR AO
REQUERIMENTO. ARTS. 26, I, 39, I, E 143, TODOS DA LEI N.º 8.213/1991. DISSOCIAÇÃO
PREVISTA NO § 1º DO ART. 3º DA LEI N.º 10.666/2003 DIRIGIDA AOS TRABALHADORES
URBANOS. PRECEDENTE DA TERCEIRA SEÇÃO.
1. A Lei n.º 8.213/1991, ao regulamentar o disposto no inc. I do art. 202 da redação original
de nossa Carta Política, assegurou ao trabalhador rural denominado segurado especial o
direito à aposentadoria quando atingida a idade de 60 anos, se homem, e 55 anos, se
mulher (art. 48, § 1º).
2. Os rurícolas em atividade por ocasião da Lei de Benefícios, em 24 de julho de 1991, foram
dispensados do recolhimento das contribuições relativas ao exercício do trabalho no
campo, substituindo a carência pela comprovação do efetivo desempenho do labor agrícola
(arts. 26, I e 39, I).
3. Se ao alcançar a faixa etária exigida no art. 48, § 1º, da Lei n.º 8.213/91, o segurado
especial deixar de exercer atividade como rurícola sem ter atendido a regra de carência,
não fará jus à aposentação rural pelo descumprimento de um dos dois únicos critérios
legalmente previstos para a aquisição do direito.
4. Caso os trabalhadores rurais não atendam à carência na forma especificada pelo art. 143,
mas satisfaçam essa condição mediante o cômputo de períodos de contribuição em outras
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RESP 1354908/SP
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA
souza -- CPF:
TRANSIÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 143 DA LEI 8.213/1991. REQUISITOS QUE DEVEM SER
PREENCHIDOS DE FORMA CONCOMITANTE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
Marceli
301
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
inicial registrado na CTPS encontrava-se eivado de erro, motivo pelo qual não reconheceu
o tempo de serviço especial prestado no período de 24.7.1970 a 16.7.1979 e que não
Marceli souza
houve comprovação de exposição a agente nocivos, motivo pelo qual não seria o caso de
enquadramento na categoria especial.
Marceli
RESP 1306113/SC
As normas regulamentadoras, que estabelecem os casos de agentes e atividades nocivos à
saúde do trabalhador são exemplificativas, podendo ser tido como distinto o labor que a
técnica médica e a legislação correlata considerarem como prejudiciais ao obreiro, desde
que o trabalho seja permanente, não ocasional, nem intermitente, em condições especiais.
302
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
TEMA 1031
É admissível o reconhecimento da especialidade da atividade de Vigilante, com ou sem o
uso de arma de fogo, em data posterior à Lei 9.032/1995 e ao Decreto 2.172/1997, desde
que haja a comprovação da efetiva nocividade da atividade, por qualquer meio de prova
até 5.3.1997, momento em que se passa a exigir apresentação de laudo técnico ou
elemento material equivalente, para comprovar a permanente, não ocasional nem
intermitente, exposição à atividade nociva, que coloque em risco a integridade física do
Segurado.
(REsp 1831371/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 09/12/2020, DJe 02/03/2021)
ARESP 1188470
EM RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. BENEFÍCIO POR
INCAPACIDADE. DOENÇA DO ALCOOLISMO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
OCORRÊNCIA. PRORROGAÇÃO DO AUXÍLIO-DOENÇA. POSTERIOR CONVERSÃO EM
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO CONHECIDO PARA CONHECER
EM PARTE DO RECURSO ESPECIAL E NESSA PARTE, NEGAR-LHE PROVIMENTO.
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1. Cuida o caso concreto de trabalhador segurado que possui a doença do alcoolismo, sendo
diagnosticado alcoolista crônico desde os 15 anos de idade.
2. Pretende o segurado ver restabelecido auxílio-doença com posterior conversão em
aposentadoria por invalidez.
3. Em preliminar, cumpre consignar que não configura cerceamento de defesa o
indeferimento da prova testemunhal, porque consoante § 1º do artigo 42 da Lei
8.213/1991, a prova da incapacidade laboral se faz por perícia médica, primordialmente.
4. Quanto à aplicação do § 2º do artigo 42 da Lei 8.213/1991 o Tribunal a quo afirmou que
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TEMA 1013
No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença
ou de aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem
direito ao recebimento conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível
com sua incapacidade laboral, e do respectivo benefício previdenciário pago
retroativamente. (EDcl no REsp 1786590/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 09/09/2020, DJe 17/12/2020)
RESP 1597725
PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. ALTERAÇÃO DO REGULAMENTO DA PREVIDÊNCIA
SOCIAL PELO DECRETO 5.844/2006. CRIAÇÃO DA DENOMINADA "ALTA PROGRAMADA".
ILEGALIDADE. CONTRARIEDADE AO ART. 62 DA LEI 8.213/1991. 1. O acórdão recorrido está
no mesmo sentido da compreensão do STJ de que a inserção da chamada "alta
303
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programada" para auxílio-doença concedido pelo INSS pelo art. 78, §§ 1º a 3º, do Decreto
3.048/1999 (mediante modificação operada pelo Decreto 5.844/2006) é ilegal, pois
contraria o art. 62 da Lei 8.213/1991. A propósito: REsp 1.717.405/PB, Rel. Ministro
Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 17.12.2018; AgInt no AREsp 968.191/MG, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 20.10.2017; AgInt no REsp
1.546.769/MT, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 3.10.2017; AgInt no AREsp
1.049.440/MT, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 30.6.2017. 2. Recurso
Especial não provido. (RESP - RECURSO ESPECIAL - 1597725 2016.01.00172-0, HERMAN
BENJAMIN, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:01/07/2019 RSTP VOL.:00363 PG: 00132.
DTPB.)
RESP 1737688/MT
DOENÇA. CESSAÇÃO DO PAGAMENTO DO BENEFÍCIO. AUSÊNCIA DE PERÍCIA MÉDICA.
IMPOSSIBILIDADE.
1. A jurisprudência do STJ tem-se firmado no sentido de que é incompatível com a lei
previdenciária a adoção, em casos desse jaez, do procedimento da "alta programada", uma
vez que fere o direito subjetivo do segurado de ver sua capacidade laborativa aferida
através do meio idôneo a tal fim, que é a perícia médica.
2. De fato, revela-se incabível que o Instituto preveja, por mero prognóstico, em que data o
segurado está apto para retornar ao trabalho, sem avaliar efetivamente o estado de saúde
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em que se encontra, tendo em vista que tal prognóstico pode não corresponder à evolução
da doença, o que não é difícil de acontecer em casos mais complexos, como é o versado nos
autos.
Precedentes: REsp 1.291.075/CE, Relatora Ministra Regina Helena Costa, DJe 18/2/2014;
REsp 1.544.417/MT, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 19/8/2015; REsp
1.563.601-MG, Relator Ministro Humberto Martins, DJe 30/6/2016. 3. Recurso Especial não
provido. (REsp 1737688/MT, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 12/06/2018, DJe 23/11/2018)
CPF: 073.496.444-77
AIRESP 1604876
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. AUXÍLIO-DOENÇA. ALTA
PROGRAMADA. CANCELAMENTO AUTOMÁTICO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Em período anterior à vigência da Medida Provisória n.º 767/2017, convertida na Lei
souza -- CPF:
2. O contexto fático do presente caso (2007) antecedeu a nova regulação da matéria, razão
pela qual se aplica o posicionamento anteriormente firmado por esta Corte de Justiça. 3.
Agravo interno não provido. ..EMEN:
(AIRESP - AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - 1604876 2016.01.28963-8, OG
FERNANDES, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:20/08/2018 ..DTPB:.)
RESP 1.408.281/ SC
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ CONCEDIDA
JUDICIALMENTE. CANCELAMENTO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE
AÇÃO JUDICIAL REVISIONAL. RECURSO ESPECIAL DO INSS A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.
“Com efeito, o acórdão recorrido está em consonância com o entendimento desta Corte de
que não é possível a cessação administrativa dos benefícios por incapacidade concedidos
judicialmente, sob pena de violação à coisa julgada material e desrespeito ao princípio do
paralelismo das formas”. (STJ, REsp 1.408.281/ SC, julg. 24.2.2017)
INFORMATIVO 536
INFORMATIVO 536, do STJ (de 26/03/2014): DIREITO PREVIDENCIÁRIO. PRINCÍPIO DO
PARALELISMO DAS FORMAS NA REVISÃO DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. O INSS pode
suspender ou cancelar benefício de prestação continuada concedido judicialmente, desde
que conceda administrativamente o contraditório e a ampla defesa ao beneficiário, não
se aplicando o princípio do paralelismo das formas. O STJ, por meio da Sexta Turma,
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
DJe 13/8/2012. REsp 1.429.976-CE, Rel. Min.º Humberto Martins, julgado em 18/2/2014.
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AINTCC 152187
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. BENEFÍCIO ACIDENTÁRIO. SEGURADO ESPECIAL. QUALIDADE
DE SEGURADO. REQUISITO COMUM AOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS E ACIDENTÁRIOS.
CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA. PEDIDO E CAUSA DE PEDIR.
1. A Terceira Seção, à época em que detinha competência para matéria previdenciária,
firmou entendimento de que, no caso de segurado especial, a concessão de benefícios
acidentários seria de competência da Justiça Federal.
2. Constatadas decisões monocráticas em sentido contrário, com fundamento nas Súmulas
15/STJ e 501/STF, faz-se necessário que a Primeira Seção, atualmente competente para a
matéria, firme entendimento sobre o tema.
3. Considerando que a qualidade de segurado é condição sine qua non para a concessão de
qualquer benefício, seja acidentário ou previdenciário, tem-se, consequentemente, que ela
não serviria de critério para definir a competência, restando analisar, apenas, a causa de
pedir e o pedido.
4. Diante das razões acima expostas e do teor das Súmulas 15/STJ e 501/STF, chega-se à
conclusão de que deve ser alterado o entendimento anteriormente firmado pela Terceira
Seção, a fim de se reconhecer a competência da Justiça estadual para a concessão de
benefícios derivados de acidente de trabalho aos segurados especiais.
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AAGARESP 313827
CPF: 073.496.444-77
TEMA 416
PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-ACIDENTE. COMPROVADA A INCAPACIDADE LABORATIVA PARA
A ATIVIDADE HABITUALMENTE EXERCIDA. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME DE FATOS
E PROVAS. SÚMULA N.º 7/STJ.
I - Na origem, cuida-se de ação ajuizada em desfavor do Instituto Nacional do Seguro Social
- INSS objetivando a concessão do benefício de auxílio-acidente.
II - A Terceira Seção do STJ, no julgamento do REsp n.º 1.109.591/SC, sob o regime de
recursos repetitivos, vinculado ao Tema n.º 416, firmou o entendimento que "[e]xige-se,
306
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
SÚMULA 44 DO STJ
A definição, em ato regulamentar, de grau mínimo de disacusia, não exclui, por si só, a
concessão do benefício previdenciário.
sobre a produção rural comercializada, somente faz jus à aposentadoria por tempo de
serviço, se recolher contribuições facultativas.
TEMA 627
O segurado especial, cujo acidente ou moléstia é anterior à vigência da Lei n.º 12.873/ 2013,
que alterou a redação do inciso I do artigo 39 da Lei n.º 8.213/ 91, não precisa comprovar
o recolhimento de contribuição como segurado facultativo para ter direito ao auxílio-
acidente.” (REsp 1.361.410/ RS, 1ª Seção, DJe 21.2.2018)
CPF: 073.496.444-77
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RESP 1440024
MATERNIDADE. TRABALHADORA RURAL MENOR DE 16 ANOS. ATIVIDADE CAMPESINA
COMPROVADA. ART. 11, VII, c, § 6o. DA LEI N.º 8.213/1991. CARÁTER PROTETIVO DO
DISPOSITIVO LEGAL. NORMA DE GARANTIA DO MENOR NÃO PODE SER INTERPRETADA EM
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3. Esta Corte já assentou a orientação de que a legislação, ao vedar o trabalho infantil, teve
por escopo a sua proteção, tendo sido estabelecida a proibição em benefício do menor e
não em seu prejuízo, aplicando-se o princípio da universalidade da cobertura da Seguridade
Social.
4. Desta feita, não é admissível que o não preenchimento do requisito etário para filiação
souza -- CPF:
ao RGPS, por uma jovem impelida a trabalhar antes mesmo dos seus dezesseis anos,
prejudique o acesso ao benefício previdenciário, sob pena de desamparar não só a
Marceli souza
adolescente, mas também o nascituro, que seria privado não apenas da proteção social,
como do convívio familiar, já que sua mãe teria de voltar às lavouras após seu nascimento.
Marceli
5. Nessas condições, conclui-se que, comprovado o exercício de trabalho rural pela menor
de 16 anos durante o período de carência do salário-maternidade (10 meses), é devida a
concessão do benefício.
6. Na hipótese, ora em exame, o Tribunal de origem, soberano na análise do conjunto fático-
probatório dos autos, asseverou que as provas materiais carreadas aliadas às testemunhas
ouvidas, comprovam que a autora exerceu atividade campesina pelo período de carência
exigido por lei, preenchendo todos os requisitos para a concessão do benefício.
7. Recurso Especial do INSS desprovido.
(RESP - RECURSO ESPECIAL - 1440024 2014.00.48346-2, NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, STJ
- PRIMEIRA TURMA, DJE DATA:28/08/2015 ..DTPB:.)
RESP 232893
PREVIDENCIÁRIO - PROCESSUAL CIVIL - RECURSO ESPECIAL - PENSÃO POR MORTE
PRESUMIDA DO SEGURADO - DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA - ART. 78, DA LEI N.º 8.213/1991.
- O reconhecimento da morte presumida, com o fito de concessão de pensão previdenciária,
não se confunde com a declaração de ausência regida pelos diplomas cível e processual.
In casu, obedece-se ao disposto no artigo 78, da Lei n.º 8.213/1991. Precedentes. - Recurso
conhecido, mas desprovido.
(RESP - RECURSO ESPECIAL - 232893 1999.00.88085-4, JORGE SCARTEZZINI, STJ - QUINTA
TURMA, DJ DATA:07/08/2000 PG:00135 ..DTPB:.)
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
RESP 1770679/MS
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE PAGAMENTO DEVIDO A
MENOR DE IDADE. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. DATA DO ÓBITO DO GENITOR.
1. Trata-se de ação em que o recorrente busca desconstituir acórdão que reconheceu o
termo inicial do benefício a partir do requerimento administrativo.
2. Hipótese em que o Tribunal de origem consignou: "com relação ao termo inicial, por se
tratar de recurso exclusivo do INSS, e em observância ao princípio da proibição da
reformatio in pejus, o termo inicial deve ser mantido a partir do requerimento, tal como
CPF: 073.496.444-77
decidido na sentença".
3. O Superior Tribunal de Justiça orienta-se no sentido de que não corre a prescrição
contra incapazes, resultando na conclusão de que são devidas as parcelas a partir da data
do falecimento do instituidor da pensão, independentemente do momento em que
formulado o requerimento administrativo ou de quando ocorreu a citação judicial válida.
souza -- CPF:
RESP 1672295/RS
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 1.022 DO CPC/2015. NÃO
OCORRÊNCIA. AUXÍLIO-RECLUSÃO. PRISÃO DOMICILIAR. RECONHECIMENTO
ADMINISTRATIVO. INSTRUÇÃO NORMATIVA N.º 85/2016. DIREITO.
1. Não há falar em anulação do julgado por negativa de prestação jurisdicional quando o
acórdão adota fundamentação suficiente, ainda que diversa da pretendida pelo recorrente.
2. Nos termos dos arts. 80 da Lei n.º 8.213/1991, 116, § 5º, e 119 do Decreto n.º 3.048/1999,
o auxílio-reclusão será devido durante o período em que o apenado estiver recluso, seja em
regime fechado ou semiaberto.
3. Hipótese em que a pretensão recursal da autarquia está em dissonância com sua
própria orientação interna, porquanto desde 19/02/2016, por meio da Instrução
Normativa n.º 85 PRES/INSS, reconhece que o cumprimento de pena em prisão domiciliar
não impede a percepção do benefício, se o regime previsto for o fechado ou semiaberto,
caso dos autos.
4. Recurso especial desprovido. (REsp 1672295/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/10/2017, DJe 26/10/2017)
309
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
SÚMULA 15 DO STJ
COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR OS LITIGIOS DECORRENTES DE
ACIDENTE DO TRABALHO.
AGRG NO CC 135.327/ES
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO NEGATIVO DE
COMPETÊNCIA INSTAURADO ENTRE JUÍZOS ESTADUAL E FEDERAL. REVISÃO DA RENDA
MENSAL INICIAL DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ DECORRENTE DE ACIDENTE DE
TRABALHO. ART. 109, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULAS 501/STF E 15/STJ.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. O Parquet requer a reconsideração da decisão proferida em conflito negativo de
competência, para que seja reconhecida a competência da Justiça Federal.
2. A decisão ora agravada asseverou que o conflito negativo de competência foi instaurado
em autos de ação revisional de renda mensal inicial de aposentadoria por invalidez
decorrente de acidente do trabalho, apoiada na petição inicial, fixando a competência da
Justiça estadual.
3. O agravante sustenta que a causa de pedir remota não é oriunda de acidente do trabalho.
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CC 166.107/BA
Marceli souza
FEDERAL.
1. Conforme entendimento jurisprudencial consagrado pelo Superior Tribunal de Justiça,
compete à Justiça Federal processar e julgar as ações objetivando a concessão ou revisão
dos benefícios de pensão por morte, ainda que decorrentes de acidente de trabalho. A
propósito: AgRg no CC 113.675/SP, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Terceira Seção, DJe
18/12/2012; CC 119.921/AM, Rel. Ministra Marilza Maynard (Desembargadora Convocada
do TJ/SE), Terceira Seção, DJe de 19/10/2012; AgRg no CC 108.477/MS, Rel. Min.º Maria
Thereza de Assis Moura, DJe de 10/12/2010; AgRg no CC 107.796/SP, Rel. Min.º Arnaldo
Esteves Lima, DJe de 7/5/2010; CC 89.282/RS, Rel. Min.º Jane Silva (Desembargadora
Convocada do TJ/MG, DJ de 18/10/2007; AgRg no CC 139.399/RJ, Rel. Ministro Olindo
Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Primeira Seção, DJe 2/3/2016;
AgRg no CC 112.710/MS, Rel. Min.º Og Fernandes, DJe de 7/10/2011. 2. Conflito de
Competência conhecido para determinar a competência do Juízo suscitado, qual seja, a 2ª
Vara do Juizado Especial Federal de Vitória da Conquista/BA.
(CC 166.107/BA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
28/08/2019, DJe 18/10/2019)
AGINT NO CC 152.187/MT
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. BENEFÍCIO
ACIDENTÁRIO. SEGURADO ESPECIAL. QUALIDADE DE SEGURADO. REQUISITO COMUM AOS
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
CC 104.044/SP
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL. JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS.
COMPETÊNCIA TERRITORIAL. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO ART. 4º DA LEI N.º 9.099/1995.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO
ESTADO DE SÃO PAULO.
1. Compete ao Superior Tribunal de Justiça o julgamento de conflito de competência
envolvendo Juizados Especiais Federais vinculados a Turmas Recursais diversas, ainda que
integrantes da mesma Seção Judiciária.
2. A Lei 10.259/2001, que dispõe a respeito dos Juizados Especiais Federais, não possui
regra específica relativamente à distribuição da competência territorial. Por essa razão,
conforme autoriza o art. 1º da referida lei, deve ser aplicado subsidiariamente o disposto
no art. 4º da Lei n.º 9.099/1995. Assim, exceto nas ações de reparação de danos, nas quais
a competência é determinada de acordo com o domicílio do autor, e nas ações de obrigação
de fazer, em que a competência é estabelecida pelo lugar onde a obrigação deve ser
satisfeita, nas demais demandas o Juízo competente será o do "domicílio do réu ou, a
critério do autor, do local onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou
mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório".
3. Esta Corte de Justiça julgando demandas similares à dos presentes autos, consagrou
entendimento no sentido de que compete aos Juizados Especiais Federais processar e julgar
311
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
TEMA 1030
Ao autor que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar,
de modo expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60
(sessenta) salários mínimos previstos no art. 3º, caput, da Lei 10.259/2001, aí incluídas,
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sendo o caso, até doze prestações vincendas, nos termos do art. 3º, § 2º, da referida lei, c/c
o art. 292, §§ 1º e 2º, do CPC/2015.
1. O art. 3º, caput, da Lei 10.259/2001 define a competência dos juizados especiais federais
para toda demanda cujo valor da ação não ultrapasse 60 (sessenta) salários mínimos. De
acordo com § 2º do dispositivo mencionado, quando a demanda tratar de prestações
vincendas, a importância de doze prestações não poderá superar o limite fixado no caput.
2. O valor da alçada é de sessenta salários mínimos calculados na data da propositura da
souza -- CPF:
tal circunstância não alterará a competência para a execução nem implicará a renúncia
aos acessórios e consectários da obrigação reconhecida pelo título. Precedentes do STJ.
Marceli
TEMA 966
Incide o prazo decadencial previsto no caput do artigo 103 da Lei 8.213/1991 para
reconhecimento do direito adquirido ao benefício previdenciário mais vantajoso.
TEMA 995
É possível a reafirmação da DER (Data de Entrada do Requerimento) para o momento em
que implementados os requisitos para a concessão do benefício, mesmo que isso se dê no
interstício entre o ajuizamento da ação e a entrega da prestação jurisdicional nas instâncias
ordinárias, nos termos dos arts. 493 e 933 do CPC/2015, observada a causa de pedir.
2. STF
TEMA 70
INSS. APOSENTADORIA. CONTAGEM DE TEMPO. DIREITO ADQUIRIDO. ART. 3º DA EC 20/98.
CONTAGEM DE TEMPO DE SERVIÇO POSTERIOR A 16.12.1998. POSSIBILIDADE. BENEFÍCIO
CALCULADO EM CONFORMIDADE COM NORMAS VIGENTES ANTES DO ADVENTO DA
312
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
TEMA 996
Ementa
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO – ATUALIZAÇÃO. Não encontra amparo no Texto
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Não encontra amparo no Texto Constitucional revisão de benefício previdenciário pelo valor
nominal do salário-mínimo. (RE 968414 - Órgão julgador: Tribunal Pleno - Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO - Julgamento: 15/05/2020 - Publicação: 03/06/2020)
TEMA 313
souza -- CPF:
313
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
de ajuda permanente de outra pessoa para atividades cotidianas, tais como higiene ou
alimentação. Sob o prisma da dignidade da pessoa humana, do tratamento isonômico e da
garantia dos direitos sociais, previstos, respectivamente, nos arts. 1º, III, 5º, caput, e 6º, da
Constituição da República, tanto o aposentado por invalidez, quanto o aposentado por
idade, tempo de contribuição ou especial, são segurados que podem, igualmente,
encontrar-se na condição de inválidos, a ponto de necessitar da assistência permanente de
terceiro. Sublinhe-se, ademais, que o Brasil é signatário da Convenção Internacional de
Nova Iorque sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2007, admitida com status
CPF: 073.496.444-77
de emenda constitucional, promulgada pelo Decreto n.º 6.949/2009, que em seu art. 1º
ostenta o propósito de "(...) promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo
de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com
deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente", garantindo, ainda, em seus
arts. 5º e 28, tratamento isonômico e proteção da pessoa com deficiência, inclusive na seara
souza -- CPF:
314
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
moléstia que deu causa à concessão do benefício originário, o que reforça seu caráter
assistencial. Da mesma maneira, consoante a alínea "c" do parágrafo único do art. 45 da Lei
n.º 8.213/1991, o pagamento do adicional cessará com a morte do aposentado, não sendo
incorporado ao valor da pensão por morte, circunstância própria dos benefícios
assistenciais que, pela ausência de contribuição prévia, são personalíssimos e, portanto,
intransferíveis aos dependentes. Devido à sua natureza assistencial, outrossim, não há
previsão legal de fonte de custeio específica para o "auxílio-acompanhante" recebido pelos
aposentados por invalidez. Dessarte, não há falar, igualmente, em fonte específica para às
demais modalidades de aposentadoria, porquanto tal benefício é garantido pelo Estado,
independentemente de contribuição à Seguridade Social, nos termos do art. 203 da
Constituição da República.
(Publicação: 26 de outubro de 2018. RECURSOS REPETITIVOS. Processo. REsp 1.648.305-RS,
Rel. Min.º Assusete Magalhães, Rel. Acd. Min.º Regina Helena Costa, Primeira Seção, por
maioria, julgado em 22/08/2018, DJe 26/09/2018 (Tema 982, grifos nossos)
O segurado aposentado por tempo de serviço que sofreu, após retornar à atividade laboral,
acidente de trabalho que lhe causou absoluta incapacidade, gerando a necessidade da
assistência permanente de outra pessoa, tem direito à transformação da aposentadoria
por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez e, com a conversão, ao recebimento
do adicional de 25% descrito no art. 45 da Lei n.º 8.213/1991 a partir da data de seu
requerimento administrativo. De fato, o adicional de 25% descrito no art. 45 da Lei n.º
8.213/1991 (adicional de grande invalidez) - concedido ao segurado que necessitar da
assistência permanente de outra pessoa, observado o Anexo I do Regulamento da
CPF: 073.496.444-77
Previdência Social (Dec. n.º 3.048/1999) - só pode ser concedido ao aposentado por
invalidez. Se fosse da vontade o legislador acrescer 25% a todo e qualquer benefício
previdenciário concedido a segurado que necessitasse dessa assistência, ele incluiria a
norma em capítulo distinto e geral. Todavia, incluiu esse direito na Subseção I da Seção V,
dedicada exclusivamente à aposentadoria por invalidez. Ademais, não se pode admitir
souza -- CPF:
benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem
a correspondente fonte de custeio total. Esse princípio, conforme entendimento
doutrinário, tem íntima ligação com o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial, de
modo que somente é possível ocorrer aumento de despesa para o fundo previdenciário
quando existir também, em proporção adequada, receita que venha a cobrir os gastos
decorrentes da alteração legislativa. Alerta-se, ademais, que a observância desse princípio
é de fundamental importância para que a Previdência Social Pública se mantenha em
condições de conceder as prestações previstas, sob pena de, em curto espaço de tempo,
estarem os segurados definitivamente sujeitos à privatização dessa atividade, em face da
incapacidade do Poder Público de gerar mais receita para cobertura de déficits. Nesse
sentido, a Primeira Turma do STJ já decidiu que o "art. 45 da Lei n.º 8.213/91, ao tratar do
adicional de 25% (vinte e cinco por cento), restringiu sua incidência ao benefício da
aposentadoria por invalidez, na hipótese de o segurado necessitar de assistência
permanente de outra pessoa, cujo acréscimo, entretanto, não poderá ser estendido a
outras espécies de benefícios" (REsp 1.533.402-SC, Primeira Turma, DJe 14/9/2015).
Nessa conjuntura, cabe destacar que o segurado, para fazer jus à aposentadoria por
invalidez, deve estar trabalhando quando da eclosão da incapacidade ou, ao menos, deve
estar em gozo do auxílio-doença. Além disso, o benefício da aposentadoria por invalidez
será devido quando não houver mais capacidade alguma para o trabalho: isto é, a
incapacidade vivida pelo segurado deve ser total, consistente na impossibilidade de
desempenho de qualquer atividade que possibilite o seu sustento. Na hipótese aqui
analisada, o segurado, mesmo aposentado por tempo de serviço, voltou ao mercado de
315
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
trabalho e, nesse período, sofreu acidente de trabalho que lhe causou absoluta
incapacidade, passando a necessitar da assistência permanente de outra pessoa. Essa
situação fática autoriza a transformação da aposentadoria por tempo de serviço em
aposentadoria por invalidez, por ser justo e o benefício mais vantajoso. Ademais,
considerando a absoluta incapacidade e a necessidade de assistência permanente, o
segurado, após a transformação, faz jus ao adicional de 25% descrito no art. 45 da Lei n.º
8.213/1991 (adicional de grande invalidez) a partir da data de seu requerimento
administrativo. Aliás, de modo similar, a Primeira Turma do STJ julgou caso em que o
segurado em gozo de auxílio-doença, desde o início da concessão do benefício, já fazia jus
à aposentadoria por invalidez, reconhecendo-se o direito à transformação do benefício com
o adicional de 25% (REsp 1.448.664-RS, Primeira Turma, DJe 2/6/2015). REsp 1.475.512-
MG, Rel. Min.º Mauro Campbell Marques, julgado em 15/12/2015, DJe 18/12/2015 (grifos
nossos).
preenchidos os requisitos legais para tanto. De fato, o art. 57, caput, da Lei 8.213/1991
("A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao
segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou
a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei") não traça qualquer diferenciação entre as diversas categorias de
segurados. Além disso, não se pode sustentar, tendo em vista o fato de o contribuinte
individual não cooperado não participar diretamente do custeio do benefício, a
inviabilidade de concessão da aposentadoria especial a ele. Realmente, os §§ 6º e 7º do art.
CPF: 073.496.444-77
316
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
de cálculo somente devem ocorrer a partir da data de promulgação dessa Emenda, sob
pena, inclusive, de violação ao art. 195, § 5º, CF, que exige indicação da fonte de custeio
Marceli souza
com base no art. 6º-A da Emenda Constitucional 41/2003, introduzido pela Emenda
Constitucional 70/2012, somente se produzirão a partir da data de sua promulgação
(30/2/2012)”. (RE 924456, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE
MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 05/04/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-203. DIVULG. 06-09-2017 PUBLIC 08-09-2017, grifos nossos).
RE 567985
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da
Constituição. A Lei de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203,
V, da Constituição da República, estabeleceu os critérios para que o benefício mensal de um
salário mínimo seja concedido aos portadores de deficiência e aos idosos que comprovem
não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. 2.
Art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo
Supremo Tribunal Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que
“considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa
a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O
requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua constitucionalidade contestada, ao
fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade social fossem
consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal
317
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
declarou a constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS. 3. Decisões judiciais contrárias aos
critérios objetivos preestabelecidos e Processo de inconstitucionalização dos critérios
definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal, entretanto, não pôs
termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per capita
estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de se
contornar o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado de
miserabilidade social das famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram
editadas leis que estabeleceram critérios mais elásticos para a concessão de outros
benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei
10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei 10.219/01,
que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a Municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados
a ações socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a
rever anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos critérios objetivos.
Verificou-se a ocorrência do processo de inconstitucionalização decorrente de notórias
mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações
legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros
benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro). 4. Declaração de
inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993. 5. Recurso extraordinário a que se nega provimento. (RE 567985, Relator(a):
marceliangel@hotmail·com
RE 262134 AGR
Precedentes. (RE 262134 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
12/12/2006, DJ 02-02-2007 PP-00139 EMENT VOL-02262-06 PP-01229 RT v. 96, n.º 860,
2007, p. 174-176)
ADI 1931
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ORDINÁRIA 9656/98. PLANOS DE SEGUROS
PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. MEDIDA PROVISÓRIA 1730/98. PRELIMINAR.
ILEGITIMIDADE ATIVA. INEXISTÊNCIA. AÇÃO CONHECIDA. INCONSTITUCIONALIDADES
FORMAIS E OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. OFENSA AO DIREITO ADQUIRIDO
E AO ATO JURÍDICO PERFEITO. 1. Propositura da ação. Legitimidade. Não depende de
autorização específica dos filiados a propositura de ação direta de inconstitucionalidade.
Preenchimento dos requisitos necessários. 2. Alegação genérica de existência de vício
formal das normas impugnadas. Conhecimento. Impossibilidade. 3. Inconstitucionalidade
formal quanto à autorização, ao funcionamento e ao órgão fiscalizador das empresas
operadoras de planos de saúde. Alterações introduzidas pela última edição da Medida
Provisória 1908-18/99. Modificação da natureza jurídica das empresas. Lei
regulamentadora. Possibilidade. Observância do disposto no artigo 197 da Constituição
Federal. 4. Prestação de serviço médico pela rede do SUS e instituições conveniadas, em
virtude da impossibilidade de atendimento pela operadora de Plano de Saúde.
Ressarcimento à Administração Pública mediante condições preestabelecidas em
resoluções internas da Câmara de Saúde Complementar. Ofensa ao devido processo legal.
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
RE 271286 AGR
CPF: 073.496.444-77
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
pessoas, especialmente daquelas que nada têm e nada possuem, a não ser a consciência de
sua própria humanidade e de sua essencial dignidade. Precedentes do STF.
(RE 271286 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 12/09/2000,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJ 24-11-2000 PP-00101 EMENT VOL-02013-07 PP-01409)
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
ADI 5293
CONSTITUCIONAL. PROTEÇÃO À SAÚDE E A PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS. LEI 16.285/2013,
souza -- CPF:
XIV, § 1º). 1. Os artigos 1º, 4º, 6º e 7º da lei impugnada não afrontam a regra, de reprodução
federativamente obrigatória, que preserva sob a autoridade do chefe do Poder Executivo
local a iniciativa para iniciar leis de criação e/ou extinção de Ministérios e órgãos da
Administração Pública (art. 61, § 1º, II, “e”, da CF). Mera especificação de quais cuidados
médicos, dentre aqueles já contemplados nos padrões nacionais de atendimento da rede
pública de saúde, devem ser garantidos a determinada classe de pacientes (portadores de
sequelas graves causadas por queimaduras). 2. A cláusula de reserva de iniciativa inscrita
no art. 61, § 1º, II, “b”, da Constituição, por sua vez, não tem qualquer pertinência com a
legislação objeto de exame, de procedência estadual, aplicando-se tão somente aos
territórios federais. Precedentes. 3. Inocorrência, ainda, de violação a preceitos
orçamentários, tendo em vista o acréscimo de despesas públicas decorrentes da garantia
de assistência médica especializada a vítimas de queimaduras. Conforme reafirmado pelo
Plenário Virtual desta Suprema Corte em sede repercussão geral (ARE 878.911, Rel. Min.º
GILMAR MENDES, DJe de 10/10/2016): “Não usurpa competência privativa do Chefe do
Poder Executivo lei que, embora crie despesa para a Administração, não trata da sua
estrutura ou da atribuição de seus órgãos nem do regime jurídico de servidores públicos
(art. 61, § 1º, II,"a", "c" e "e", da Constituição Federal)”. 4. Ao dispor sobre transporte
municipal, o art. 8º da Lei n.º 16.285/2013 do Estado de Santa Catarina realmente interferiu
na autonomia dos entes municipais, pois avançou sobre a administração de um serviço
público de interesse local (art. 30, V, da CF). Além disso, o dispositivo criou presunção legal
de restrição de mobilidade de vítimas de queimaduras graves, distanciando-se do critério
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
prescrito em normas gerais expedidas pela União dentro de sua competência para legislar
sobre proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência (art. 24, XIV, e §
1º, da CF). 5. A norma prevista no art. 9º da Lei estadual 16.285/2013 funciona como
cláusula de mero valor expletivo, que apenas conecta uma categoria normativa geral, de
“pessoas com deficiência”, com uma classe especial de destinatários sempre caracterizados
por incapacidade laboral – “pessoas com sequelas graves incapacitantes decorrentes de
queimaduras” – sem que exista qualquer contraste entre as duas disciplinas. 6. Ação direta
parcialmente procedente quanto ao art. 8º da Lei 16.285/2013, do Estado de Santa
Catarina. (ADI 5293, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em
08/11/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-263 DIVULG 20-11-2017 PUBLIC 21-11-2017)
ADI 903
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI 10.820/92 DO ESTADO DE MINAS GERAIS
- PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA - TRANSPORTE COLETIVO INTERMUNICIPAL -
EXIGÊNCIA DE ADAPTAÇÃO DOS VEÍCULOS - MATÉRIA SUJEITA AO DOMÍNIO DA
LEGISLAÇÃO CONCORRENTE - POSSIBILIDADE DE O ESTADO-MEMBRO EXERCER
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PLENA - MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA POR DESPACHO -
REFERENDO RECUSADO PELO PLENÁRIO. - O legislador constituinte, atento à necessidade
de resguardar os direitos e os interesses das pessoas portadoras de deficiência,
assegurando-lhes a melhoria de sua condição individual, social e econômica - na linha
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
inaugurada, no regime anterior, pela E.C. n.º 12/78 -, criou mecanismos compensatórios
destinados a ensejar a superação das desvantagens decorrentes dessas limitações de ordem
pessoal. - A Constituição Federal, ao instituir um sistema de condomínio legislativo nas
matérias taxativamente indicadas no seu art. 24 - dentre as quais avulta, por sua
importância, aquela concernente à proteção e à integração social das pessoas portadoras
de deficiência (art. 24, XIV) -, deferiu ao Estado-membro, em "inexistindo lei federal sobre
normas gerais", a possibilidade de exercer a competência legislativa plena, desde que "para
atender a suas peculiaridades" (art. 24, § 3º). A questão da lacuna normativa preenchível.
CPF: 073.496.444-77
EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Lei n.º 10.820/92 do Estado de Minas Gerais,
que dispõe sobre adaptação dos veículos de transporte coletivo com a finalidade de
assegurar seu acesso por pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção.
Competência legislativa concorrente (art. 24., XIV, CF). Atendimento à determinação
constitucional prevista nos arts. 227, § 2º, e 244 da Lei Fundamental. Improcedência. 1. A
ordem constitucional brasileira, inaugurada em 1988, trouxe desde seus escritos originais a
preocupação com a proteção das pessoas portadoras de necessidades especiais,
construindo políticas e diretrizes de inserção nas diversas áreas sociais e econômicas da
comunidade (trabalho privado, serviço público, previdência e assistência social).
Estabeleceu, assim, nos arts. 227, § 2º, e 244, a necessidade de se conferir amplo acesso e
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
plena capacidade de locomoção às pessoas com deficiência, no que concerne tanto aos
logradouros públicos, quanto aos veículos de transporte coletivo, determinando ao
legislador ordinário a edição de diplomas que estabeleçam as formas de construção e
modificação desses espaços e desses meios de transporte. 2. Na mesma linha afirmativa, há
poucos anos, incorporou-se ao ordenamento constitucional a Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, primeiro tratado internacional aprovado pelo
rito legislativo previsto no art. 5º, § 3º, da Constituição Federal, o qual foi internalizado por
meio do Decreto Presidencial n.º 6.949/2009. O art. 9º da convenção veio justamente
reforçar o arcabouço de proteção do direito de acessibilidade das pessoas com deficiência.
3. Muito embora a jurisprudência da Corte seja rígida em afirmar a amplitude do conceito
de trânsito e transporte para fazer valer a competência privativa da União (art. 22, XI, CF),
prevalece, no caso, a densidade do direito à acessibilidade física das pessoas com deficiência
(art. 24, XIV, CF), em atendimento, inclusive, à determinação prevista nos arts. 227, § 2º, e
244 da Lei Fundamental, sem preterir a homogeneidade no tratamento legislativo a ser
dispensado a esse tema. Nesse sentido, há que se enquadrar a situação legislativa no rol de
competências concorrentes dos entes federados. Como, à época da edição da legislação ora
questionada, não havia lei geral nacional sobre o tema, a teor do § 3º do art. 24 da
Constituição Federal, era deferido aos estados-membros o exercício da competência
legislativa plena, podendo suprir o espaço normativo com suas legislações locais. 4. A
preocupação manifesta no julgamento cautelar sobre a ausência de legislação federal
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protetiva hoje se encontra superada, na medida em que a União editou a Lei n.º
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ADI 1232
MEDIDA LIMINAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONCEITO DE "FAMILIA
INCAPAZ DE PROVER A MANUTENÇÃO DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA OU IDOSA"
DADO PELO PAR.3. DO ART. 20 DA LEI ORGÂNICA DA ASSISTENCIA SOCIAL (LEI N.º 8.742, DE
souza -- CPF:
de 1/4 do salário-mínimo de renda mensal "per capita" da família para que seja considerada
incapaz de prover a manutenção do idoso e do deficiente físico, ao argumento de que
Marceli
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
editadas leis que estabeleceram critérios mais elásticos para a concessão de outros
073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei
10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei 10.219/01,
que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a Municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados
a ações socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a
rever anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos critérios objetivos.
Verificou-se a ocorrência do processo de inconstitucionalização decorrente de notórias
mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações
CPF: 073.496.444-77
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FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003,
que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei 10.219/01, que criou o
Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro a
municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever
anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos critérios objetivos. Verificou-
se a ocorrência do processo de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças
fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos
patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros benefícios
assistenciais por parte do Estado brasileiro). 4. A inconstitucionalidade por omissão parcial
do art. 34, parágrafo único, da Lei 10.741/2003. O Estatuto do Idoso dispõe, no art. 34,
parágrafo único, que o benefício assistencial já concedido a qualquer membro da família
não será computado para fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS.
Não exclusão dos benefícios assistenciais recebidos por deficientes e de previdenciários, no
valor de até um salário mínimo, percebido por idosos. Inexistência de justificativa plausível
para discriminação dos portadores de deficiência em relação aos idosos, bem como dos
idosos beneficiários da assistência social em relação aos idosos titulares de benefícios
previdenciários no valor de até um salário mínimo. Omissão parcial inconstitucional. 5.
Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 34,
parágrafo único, da Lei 10.741/2003. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
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RE 262134
RECURSO EXTRAORDINÁRIO - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) - CONTRATAÇÃO DIRETA DE
SERVIÇOS HOSPITALARES - INOBSERVÂNCIA DA EXIGÊNCIA DE PROCEDIMENTO
LICITATÓRIO - LESÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LEGITIMIDADE
CPF: 073.496.444-77
(RE 262134 AgR, Relator(a): Min.º CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
12/12/2006, DJ 02-02-2007 PP-00139 EMENT VOL-02262-06 PP-01229 RT v. 96, n.º 860,
2007, p. 174-176)
ADI 1931
(...) A nenhuma pessoa será negado tratamento em hospital público, considerada a
universalidade do sistema. Porém, se o poder público atende a particular em virtude de
situação incluída na cobertura contratual, deve o SUS ser ressarcido, tal como faria o plano
de saúde em se tratando de hospital privado. (...) [ADI 1.931, rel. min.º Marco Aurélio, j. 7-
2-2018, P, Informativo 890.]
ADI 3105 ED
(...) não há, em nosso ordenamento, nenhuma norma jurídica válida que, como efeito
específico do fato jurídico da aposentadoria, lhe imunize os proventos e as pensões, de
modo absoluto, à tributação de ordem constitucional, qualquer que seja a modalidade do
tributo eleito, donde não haver, a respeito, direito adquirido com o aposentamento. (...)
(ADI 3105 ED, Relator(a): Min.º CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 02/02/2007, DJ
23-02-2007 PP-00017 EMENT VOL-02265-01 PP-00130 RT v. 96, n.º 861, 2007, p. 83-85)
ADI 2010 MC
325
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
ADI 3105
(...) 3. Inconstitucionalidade. Ação direta. Emenda Constitucional (EC nº 41/2003, art. 4º, §
únic, I e II). Servidor público. Vencimentos. Proventos de aposentadoria e pensões. Sujeição
à incidência de contribuição previdenciária. Bases de cálculo diferenciadas. Arbitrariedade.
Tratamento discriminatório entre servidores e pensionistas da União, de um lado, e
servidores e pensionistas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de outro.
Ofensa ao princípio constitucional da isonomia tributária, que é particularização do
CPF: 073.496.444-77
por cento do", constantes do § único, incisos I e II, do art. 4º da Emenda Constitucional nº
41, de 19 de dezembro de 2003, e tal pronúncia restabelece o caráter geral da regra do
Marceli souza
art. 40, § 18, da Constituição da República, com a redação dada por essa mesma Emenda.
(ADI 3105, Relator(a): Min.º ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min.º CEZAR PELUSO,
Marceli
ADI 2238 MC
CONSTITUCIONAL. MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI
COMPLEMENTAR Nº 101, DE 04 DE MAIO DE 2000 (LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL).
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.980-22/2000. Lei Complementar nº 101/2000. Não-
conhecimento. (...) XIII - Art. 17 e §§ 1º a 7º: que o aumento de despesa de caráter
continuado esteja condicionado à redução de despesa ou aumento de receita, também
em caráter continuado, é proposição que, por achar-se em sintonia com a lógica, não pode
ser obviamente considerada responsável pelo engessamento de qualquer dos Poderes de
Estado ou órgãos da Administração e, portanto, ofensiva ao princípio da separação dos
Poderes. Pela mesma razão, não se pode ver como atentatória ao princípio da autonomia
dos entes federados. O incremento da arrecadação pelas formas indicadas no § 3º do art.
17 da LRF se reveste de previsibilidade e se presta, por isso, para um cálculo de
compensação, que há de ser, tanto quanto possível, exato. XIV (...) XVI - Art. 24: as
exigências do art. 17 da LRF são constitucionais, daí não sofrer de nenhuma mácula o
dispositivo que determina sejam atendidas essas exigências para a criação, majoração ou
extensão de benefício ou serviço relativo à seguridade social. (...) (ADI 2238 MC, Relator(a):
Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, julgado em 09/08/2007, DJe-172 DIVULG 11-09-2008
PUBLIC 12-09-2008 EMENT VOL-02332-01 PP-00024 RTJ VOL-00207-03 PP-00950)
326
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
ADI 3106
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 79 e 85 DA LEI COMPLEMENTAR N.º
64, DE 25 DE MARÇO DE 2002, DO ESTADO DE MINAS GERAIS. (...) REGIME PRÓPRIO DE
PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL DOS SERVIDORES DO ESTADO DE MINAS GERAIS.
BENEFÍCIIOS PREVIDENCIÁRIOS E APOSENTADORIA ASSEGURADOS A SERVIDORES NÃO-
TITULARES DE CARGO EFETIVO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NO § 13 DO ARTIGO
40 E NO § 1º DO ARTIGO 149 DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. AÇÃO DIRETA JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE.
1. Artigo 85, caput, da LC n.º 64 estabelece que "o IPSEMG prestará assistência médica,
hospitalar e odontológica, bem como social, farmacêutica e complementar aos segurados
referidos no art. 3º e aos servidores não titulares de cargo efetivo definidos no art. 79,
extensiva a seus dependentes". A Constituição de 1988 --- art. 149, § 1º --- define que "os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir contribuição, cobrada de seus
servidores, para o custeio, em benefícios destes, de sistemas de previdência e assistência
social". O preceito viola o texto da Constituição de 1988 ao instituir contribuição
compulsória. Apenas os servidores públicos titulares de cargos efetivos podem estar
compulsoriamente filiados aos regimes próprios de previdência. Inconstitucionalidade da
expressão "definidos no art. 79" contida no artigo 85, caput, da LC 64/02.
2. Os Estados-membros não podem contemplar de modo obrigatório em relação aos seus
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DIVULG 23-09-2010 PUBLIC 24-09-2010 EMENT VOL-02416-01 PP-00159 REVJMG v. 61, n.º
193, 2010, p. 345-364)
ADI 2556 MC
souza -- CPF:
- A natureza jurídica das duas exações criadas pela lei em causa, neste exame sumário, é a
de que são elas tributárias, caracterizando-se como contribuições sociais que se
Marceli
RE 138284
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. CONTRIBUIÇÕES INCIDENTES
SOBRE O LUCRO DAS PESSOAS JURIDICAS. Lei n.º 7.689, de 15.12.88.
I. - Contribuições parafiscais: contribuições sociais, contribuições de intervenção e
contribuições corporativas. C.F., art. 149. Contribuições sociais de seguridade social. C.F.,
arts. 149 e 195. As diversas espécies de contribuições sociais. (...)
(RE 138284, Relator(a): Min.º CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 01/07/1992, DJ
28-08-1992 PP-13456 EMENT VOL-01672-03 PP-00437 RTJ VOL-00143-01 PP-00313)
RE 146733
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO DAS PESSOAS JURIDICAS. LEI 7689/88. - NÃO E
INCONSTITUCIONAL A INSTITUIÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO DAS
PESSOAS JURIDICAS, CUJA NATUREZA E TRIBUTARIA. (...)
(RE 146733, Relator(a): Min.º MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 29/06/1992, DJ
06-11-1992 PP-20110 EMENT VOL-01683-03 PP-00384 RTJ VOL-00143-02 PP-00684)
327
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
manutenção do sistema, sem exigir que tenham necessariamente algum tipo de vínculo
com os demais segurados, bem assim que façam jus a determinada retribuição ou qualquer
espécie de benefício. Por isso mesmo, Leda de Oliveira Pinho nota, acertadamente, que o
princípio da solidariedade é meio, tendo como fim a justiça social e como fonte a dignidade
da pessoa humana, destacando que a própria instituição do sistema de seguridade pública
configura um ato de solidariedade, do qual decorrem não apenas direitos, mas também
deveres contributivos
6. Ora, considerando-se que a seguridade social é financiada por toda a sociedade, a teor
do art. 195, caput, da Constituição, a participação dos distintos segmentos que a integram
CPF: 073.496.444-77
tem como parâmetro a capacidade contributiva de cada um deles, pois só assim afigura-se
possível atingir o seu fim último, qual seja, a justiça social. Ademais, como é sabido, as
contribuições sociais têm como fundamento uma solidariedade intergeracional, que une as
gerações presentes e futuras quanto à obrigação de arcar com os custos de manutenção da
seguridade pública, de maneira a contemplar os beneficiários atuais e vindouros do sistema,
souza -- CPF:
assim como no princípio da equidade, sem que haja nisso qualquer ofensa a princípios
constitucionais que norteiam o sistema tributário, notadamente ao da isonomia. Por essa
Marceli
razão, antes mesmo do advento da EC 20/1998, que introduziu o § 9° no art. 195 no texto
constitucional, já existia a possibilidade de o Estado exigir aportes diferenciados para a
seguridade social, levando em consideração a maior ou menor capacidade de participação
dos contribuintes na manutenção do sistema. Em outras palavras, já em momento anterior
à promulgação da citada emenda se colocava em prática o conceito de diversidade da base
de financiamento da seguridade pública, tendo como fundamento a ideia de equidade, com
base, é claro, no onipresente princípio da solidariedade. (...) (RE 599309, Relator(a): Min.º
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-275 DIVULG 11-12-2019 PUBLIC 12-12-2019)
RE 599309
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS. ALÍQUOTA ADICIONAL DE 2,5% SOBRE A CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
INCIDENTE NA FOLHA DE SALÁRIOS. § 2° DO ART. 3° DA LEI 7.787/1989.
CONSTITUCIONALIDADE. EXAÇÃO FUNDADA NOS PRINCÍPIOS DA SOLIDARIEDADE,
EQUIDADE E CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. POSTULADOS CONSTITUCIONAIS QUE
NORTEIAM A SEGURIDADE SOCIAL. APORTES ORIGINADOS DE DISTINTAS FONTES DE
CUSTEIO. INEXIGIBILIDADE DE CONTRAPARTIDA. PODER JUDICIÁRIO. ATUAÇÃO COMO
LEGISLADOR POSITIVO. IMPOSSIBILIDADE.
328
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
I - É constitucional a alíquota adicional de 2,5% (dois e meio por cento), estabelecida pelo
§ 2° do art. 3° da Lei 7.787/1989, incidente sobre a folha de salários de bancos e entidades
assemelhadas.
II - É defeso ao Poder Judiciário atuar na condição anômala de legislador positivo, com base
no princípio da isonomia, para suprimir ou equiparar alíquotas de tributos recolhidos pelas
instituições financeiras em relação àquelas suportadas pelas demais pessoas jurídicas. III -
Recurso extraordinário ao qual se nega provimento. (RE 599309, Relator(a): Min.º RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-275
DIVULG 11-12-2019 PUBLIC 12-12-2019)
RE 390840
CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE - ARTIGO 3º, § 1º, DA LEI Nº 9.718, DE 27 DE
NOVEMBRO DE 1998 - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1998. O
sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade superveniente.
TRIBUTÁRIO - INSTITUTOS - EXPRESSÕES E VOCÁBULOS - SENTIDO. A norma pedagógica do
artigo 110 do Código Tributário Nacional ressalta a impossibilidade de a lei tributária alterar
a definição, o conteúdo e o alcance de consagrados institutos, conceitos e formas de direito
privado utilizados expressa ou implicitamente. Sobrepõe-se ao aspecto formal o princípio
da realidade, considerados os elementos tributários. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - PIS - RECEITA
BRUTA - NOÇÃO - INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º DA LEI Nº 9.718/98. A
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MS Nº 28.576/DF
Mandado de segurança. Aposentadoria. Contagem de tempo. Aluno aprendiz. Decadência.
Ato complexo. Súmula nº 96/TCU. Concessão do benefício. [...] II – A questão encontra-se
souza -- CPF:
regulamentada pela Lei nº 3.442/1959, que não alterou a natureza das atividades e a
responsabilidade dos aprendizes estabelecidas pelo Dec.-Lei nº 8.590/1946. III – A Súmula
Marceli souza
MS Nº 27.615 AGR/AL
Agravo regimental. Mandado de segurança. Aposentadoria. Contagem de tempo. Aluno
aprendiz. Mudança de orientação do TCU quanto aos requisitos exigidos, após a concessão
da aposentadoria. Impossibilidade. Agravo regimental a que se nega provimento. I – A
questão encontra-se regulamentada pela Lei nº 3.442/1959, que não alterou a natureza das
atividades e a responsabilidade dos aprendizes estabelecidas pelo Dec.-Lei nº 8.590/1946.
II – A Súmula nº 96/TCU prevê a possibilidade de contagem, para efeito de tempo de serviço,
do trabalho prestado por aluno aprendiz, desde que comprovada sua retribuição
pecuniária, para cálculo de concessão do benefício de aposentadoria. [...]
(STF – MS nº 27.615 AgR/AL – Rel. Min.º Ricardo Lewandowski – Pleno – DJe de 13.6.2014.)
RE 351717
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. PREVIDÊNCIA SOCIAL. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL:
PARLAMENTAR: EXERCENTE DE MANDATO ELETIVO FEDERAL, ESTADUAL ou MUNICIPAL.
Lei 9.506, de 30.10.97. Lei 8.212, de 24.7.91. C.F., art. 195, II, sem a EC 20/98; art. 195, § 4º;
art. 154, I. I. - A Lei 9.506/97, § 1º do art. 13, acrescentou a alínea h ao inc. I do art. 12 da
Lei 8.212/91, tornando segurado obrigatório do regime geral de previdência social o
exercente de mandato eletivo, desde que não vinculado a regime próprio de previdência
329
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
social. II. - Todavia, não poderia a lei criar figura nova de segurado obrigatório da
previdência social, tendo em vista o disposto no art. 195, II, C.F. Ademais, a Lei 9.506/97,
§ 1º do art. 13, ao criar figura nova de segurado obrigatório, instituiu fonte nova de custeio
da seguridade social, instituindo contribuição social sobre o subsídio de agente político. A
instituição dessa nova contribuição, que não estaria incidindo sobre "a folha de salários, o
faturamento e os lucros" (C.F., art. 195, I, sem a EC 20/98), exigiria a técnica da competência
residual da União, art. 154, I, ex vi do disposto no art. 195, § 4º, ambos da C.F. É dizer,
somente por lei complementar poderia ser instituída citada contribuição. III. -
Inconstitucionalidade da alínea h do inc. I do art. 12 da Lei 8.212/91, introduzida pela Lei
9.506/97, § 1º do art. 13. IV. - R.E. conhecido e provido.
(RE 351717, Relator(a): Min.º CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 08/10/2003, DJ
21-11-2003 PP-00030 EMENT VOL-02133-05 PP-00875)
ADI 2111 MC
(...) Quanto à alegação de inconstitucionalidade material do art. 2º da Lei nº 9.876/99, na
parte em que deu nova redação ao art. 29, "caput", incisos e parágrafos, da Lei nº 8.213/91,
a um primeiro exame, parecem corretas as objeções da Presidência da República e do
Congresso Nacional. É que o art. 201, §§ 1º e 7º, da C.F., com a redação dada pela E.C. nº
20, de 15.12.1998, cuidaram apenas, no que aqui interessa, dos requisitos para a obtenção
330
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
SÚMULA 687
A revisão de que trata o art. 58 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias não se
aplica aos benefícios previdenciários concedidos após a promulgação da Constituição de
1988.
Revisão de benefício previdenciário concedido após a promulgação da CF/1988
A pretensão de mérito do Autor, que consiste no reajuste de sua aposentadoria especial em
números de salários mínimos desde abril de 1989 até maio de 1992, não se coaduna com
a assentada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
CPF: 073.496.444-77
331
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
(RE 937595 RG, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 02/02/2017,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-101 DIVULG 15-05-2017
PUBLIC 16-05-2017)
RE 1276977
EMENTA Recurso extraordinário. Previdenciário. Revisão de benefício. Cálculo do salário-
de-benefício. Segurados filiados ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) até a data de
publicação da Lei nº 9.876/99. Aplicação da regra definitiva do art. 29, inc. I e II, da Lei nº
CPF: 073.496.444-77
MI 4.158 AGR-SEGUNDO
Marceli souza
especial dos segurados do Regime Geral de Previdência Social, até que seja editada a lei
complementar exigida pelo art. 40, § 4º, II, da CF/88. (...)
2. A eficácia do direito à aposentadoria especial objeto do art. 40, § 4º, da CF/88 exige
regulamentação mediante lei complementar de iniciativa privativa do presidente da
República, de modo que cabe ao Supremo Tribunal Federal, ex vi do art. 102, I, q, da Lei
Maior, o julgamento do mandado de injunção impetrado com o objetivo de viabilizar o
seu exercício. [MI 4.158 AgR-segundo, rel. min. Luiz Fux, P, j. 18-12-2013, DJE 34 de 19-2-
2014.]
ADI 3772
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE MANEJADA CONTRA O ART. 1º DA LEI FEDERAL
11.301/2006, QUE ACRESCENTOU O § 2º AO ART. 67 DA LEI 9.394/1996. CARREIRA DE
MAGISTÉRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL PARA OS EXERCENTES DE FUNÇÕES DE
DIREÇÃO, COORDENAÇÃO E ASSESSORAMENTO PEDAGÓGICO. ALEGADA OFENSA AOS
ARTS. 40, § 5º, E 201, § 8º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. AÇÃO JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE, COM INTERPRETAÇÃO CONFORME.
I - A função de magistério não se circunscreve apenas ao trabalho em sala de aula,
abrangendo também a preparação de aulas, a correção de provas, o atendimento aos pais
e alunos, a coordenação e o assessoramento pedagógico e, ainda, a direção de unidade
escolar.
332
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
ADI 5105
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Isso também tem
como finalidade evitar a "fossilização da Constituição". Assim, o legislador, em tese, pode
editar nova lei com o mesmo conteúdo daquilo que foi declarado inconstitucional pelo STF.
Se o legislador fizer isso, não é possível que o interessado proponha uma reclamação ao STF
pedindo que essa lei seja automaticamente julgada também inconstitucional (Rcl 13019
AgR, julgado em 19/02/2014). Será necessária a propositura de uma nova ADI para que o
STF examine essa nova lei e a declare inconstitucional. Vale ressaltar que o STF pode até
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mesmo mudar de opinião no julgamento dessa segunda ação. (...) (STF. Plenário. ADI
5105/DF, Rel. Min.º Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015)
(RE 626837, Relator(a): Min.º DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 25/05/2017,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-018 DIVULG 31-01-2018
Marceli souza
PUBLIC 01-02-2018)
Marceli
ADI 3105
EMENTAS: 1. Inconstitucionalidade. Seguridade social. Servidor público. Vencimentos.
Proventos de aposentadoria e pensões. Sujeição à incidência de contribuição
previdenciária. Ofensa a direito adquirido no ato de aposentadoria. Não ocorrência.
Contribuição social. Exigência patrimonial de natureza tributária. Inexistência de norma de
imunidade tributária absoluta. Emenda Constitucional nº 41/2003 (art. 4º, caput). Regra
não retroativa. Incidência sobre fatos geradores ocorridos depois do início de sua vigência.
Precedentes da Corte. (...) (ADI 3105, Relator(a): ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão:
CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 18/08/2004, DJ 18-02-2005 PP-00005 EMENT
VOL-02180-02 PP-00123 RTJ VOL-00193-01 PP-00137 RDDT n.º 140, 2007, p. 202-203)
ADI 1770
(...) Lei 9.528/1997, que dá nova redação ao § 1º do art. 453 da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT -, prevendo a possibilidade de readmissão de empregado de empresa pública
e sociedade de economia mista aposentado espontaneamente. (...) É inconstitucional o §
1º do art. 453 da CLT, com a redação dada pela Lei 9.528/1997, quer porque permite, como
regra, a acumulação de proventos e vencimentos - vedada pela jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal -, quer porque se funda na idéia de que a aposentadoria espontânea rompe
o vínculo empregatício. Pedido não conhecido quanto ao art. 11, e parágrafos, da Lei nº
9.528/1997. Ação conhecida quanto ao § 1º do art. 453 da Consolidação das Leis do
333
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Trabalho, na redação dada pelo art. 3º da mesma Lei 9.528/1997, para declarar sua
inconstitucionalidade. (ADI 1770, Relator(a): JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado
em 11/10/2006, DJ 01-12-2006 PP-00065 EMENT VOL-02258-01 PP-00067 RB v. 19, n.º
518, 2007, p. 20-23 LEXSTF v. 29, n.º 339, 2007, p. 74-87)
ADI 1721
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 3º DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.596-
14/97, CONVERTIDA NA LEI Nº 9.528/97, QUE ADICIONOU AO ARTIGO 453 DA
CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO UM SEGUNDO PARÁGRAFO PARA EXTINGUIR O
VÍNCULO EMPREGATÍCIO QUANDO DA CONCESSÃO DA APOSENTADORIA ESPONTÂNEA.
PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
1. A conversão da medida provisória em lei prejudica o debate jurisdicional acerca da
"relevância e urgência" dessa espécie de ato normativo.
2. Os valores sociais do trabalho constituem: a) fundamento da República Federativa do
Brasil (inciso IV do artigo 1º da CF); b) alicerce da Ordem Econômica, que tem por finalidade
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, e, por um dos
seus princípios, a busca do pleno emprego (artigo 170, caput e inciso VIII); c) base de toda
a Ordem Social (artigo 193). Esse arcabouço principiológico, densificado em regras como a
do inciso I do artigo 7º da Magna Carta e as do artigo 10 do ADCT/88, desvela um
mandamento constitucional que perpassa toda relação de emprego, no sentido de sua
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desejada continuidade.
3. A Constituição Federal versa a aposentadoria como um benefício que se dá mediante o
exercício regular de um direito. E o certo é que o regular exercício de um direito não é de
colocar o seu titular numa situação jurídico-passiva de efeitos ainda mais drásticos do que
aqueles que resultariam do cometimento de uma falta grave (sabido que, nesse caso, a
ruptura do vínculo empregatício não opera automaticamente).
4. O direito à aposentadoria previdenciária, uma vez objetivamente constituído, se dá no
âmago de uma relação jurídica entre o segurado do Sistema Geral de Previdência e o
CPF: 073.496.444-77
situação em que este apenas exercita o seu direito de aposentadoria espontânea, sem
cometer deslize algum. 6. A mera concessão da aposentadoria voluntária ao trabalhador
Marceli souza
não tem por efeito extinguir, instantânea e automaticamente, o seu vínculo de emprego. 7.
Inconstitucionalidade do § 2º do artigo 453 da Consolidação das Leis do Trabalho,
Marceli
introduzido pela Lei nº 9.528/97. (ADI 1721, Relator(a): CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno,
julgado em 11/10/2006, DJe-047 DIVULG 28-06-2007 PUBLIC 29-06-2007 DJ 29-06-2007
PP-00020 EMENT VOL-02282-01 PP-00084 RTJ VOL-00201-03 PP-00885 LEXSTF v. 29, n.º
345, 2007, p. 35-52 RLTR v. 71, n.º 9, 2007, p. 1130-1134)
RE 318.684
334
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
repercussão geral: É constitucional o fator previdenciário previsto no art. 29, caput, incisos
e parágrafos, da Lei nº 8.213/91, com a redação dada pelo art. 2º da Lei nº 9.876/99.
(RE 1221630 RG, Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE, Tribunal Pleno, julgado em
04/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-154 DIVULG 18-
06-2020 PUBLIC 19-06-2020)
335
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
RE 791961
Ementa Direito Previdenciário e Constitucional. Constitucionalidade do art. 57, § 8º, da Lei
nº 8.213/91. Percepção do benefício de aposentadoria especial independentemente do
afastamento do beneficiário das atividades laborais nocivas a sua saúde. Impossibilidade.
Recurso extraordinário parcialmente provido.
1. O art. 57,§ 8º, da Lei nº 8.213/91 é constitucional, inexistindo qualquer tipo de conflito
entre ele e os arts. 5º, inciso XIII; 7º, inciso XXXIII; e 201,§ 1º, da Lei Fundamental. A norma
se presta, de forma razoável e proporcional, para homenagear o princípio da dignidade da
pessoa humana, bem como os direitos à saúde, à vida, ao ambiente de trabalho equilibrado
e à redução dos riscos inerentes ao trabalho.
2. É vedada a simultaneidade entre a percepção da aposentadoria especial e o exercício
de atividade especial, seja essa última aquela que deu causa à aposentação precoce ou
não. A concomitância entre a aposentadoria e o labor especial acarreta a suspensão do
pagamento do benefício previdenciário.
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3. O tema da data de início da aposentadoria especial é regulado pelo art. 57, § 2º, da Lei
nº 8.213/91, que, por sua vez, remete ao art. 49 do mesmo diploma normativo. O art. 57,§
8º, da Lei de Planos e Benefícios da Previdência Social cuida de assunto distinto e,
inexistindo incompatibilidade absoluta entre esse dispositivo e aqueles anteriormente
citados, os quais também não são inconstitucionais, não há que se falar em fixação da DIB
na data de afastamento da atividade, sob pena de violência à vontade e à prerrogativa do
legislador, bem como de afronta à separação de Poderes.
4. Foi fixada a seguinte tese de repercussão geral: “(i) [é] constitucional a vedação de
CPF: 073.496.444-77
(RE 791961, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 08/06/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-206 DIVULG 18-08-2020 PUBLIC 19-08-
2020)
ARE 664335
Tese 1: "O direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a
agente nocivo a sua saúde, de modo que se o Equipamento de Proteção Individual (EPI) for
realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo à concessão
constitucional de aposentadoria especial".
Tese 2: "Na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de
tolerância, a declaração do empregador no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário
(PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de Proteção Individual (EPI), não
descaracteriza o tempo de serviço especial para a aposentadoria".
336
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
Em razão do caráter contributivo do regime geral de previdência (CF/1988, art. 201, caput),
Marceli
RE 587365
PREVIDENCIÁRIO. CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AUXÍLIO-RECLUSÃO.
ART. 201, IV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LIMITAÇÃO DO UNIVERSO DOS
CONTEMPLADOS PELO AUXÍLIO-RECLUSÃO. BENEFÍCIO RESTRITO AOS SEGURADOS PRESOS
DE BAIXA RENDA. RESTRIÇÃO INTRODUZIDA PELA EC 20/1998. SELETIVIDADE FUNDADA NA
RENDA DO SEGURADO PRESO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.
337
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
I - Segundo decorre do art. 201, IV, da Constituição, a renda do segurado preso é que a
deve ser utilizada como parâmetro para a concessão do benefício e não a de seus
dependentes.
II - Tal compreensão se extrai da redação dada ao referido dispositivo pela EC 20/1998, que
restringiu o universo daqueles alcançados pelo auxílio-reclusão, a qual adotou o critério da
seletividade para apurar a efetiva necessidade dos beneficiários.
III - Diante disso, o art. 116 do Decreto 3.048/1999 não padece do vício da
inconstitucionalidade.
IV - Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE 587365, Relator(a): RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 25/03/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO.
DJe-084 DIVULG 07-05-2009 PUBLIC 08-05-2009 EMENT VOL-02359-08 PP-01536)
INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É bem de ver, no entanto, que a
exigência de prévio requerimento não se confunde com o exaurimento das vias
Marceli
administrativas.
3. A exigência de prévio requerimento administrativo não deve prevalecer quando o
entendimento da Administração for notória e reiteradamente contrário à postulação do
segurado.
4. Na hipótese de pretensão de revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício
anteriormente concedido, considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a
prestação mais vantajosa possível, o pedido poderá ser formulado diretamente em juízo –
salvo se depender da análise de matéria de fato ainda não levada ao conhecimento da
Administração –, uma vez que, nesses casos, a conduta do INSS já configura o não
acolhimento ao menos tácito da pretensão.
5. Tendo em vista a prolongada oscilação jurisprudencial na matéria, inclusive no Supremo
Tribunal Federal, deve-se estabelecer uma fórmula de transição para lidar com as ações em
curso, nos termos a seguir expostos.
6. Quanto às ações ajuizadas até a conclusão do presente julgamento (03.09.2014), sem
que tenha havido prévio requerimento administrativo nas hipóteses em que exigível, será
observado o seguinte: (i) caso a ação tenha sido ajuizada no âmbito de Juizado Itinerante, a
ausência de anterior pedido administrativo não deverá implicar a extinção do feito; (ii) caso
o INSS já tenha apresentado contestação de mérito, está caracterizado o interesse em agir
pela resistência à pretensão; (iii) as demais ações que não se enquadrem nos itens (i) e (ii)
ficarão sobrestadas, observando-se a sistemática a seguir.
338
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
7. Nas ações sobrestadas, o autor será intimado a dar entrada no pedido administrativo em
30 dias, sob pena de extinção do processo. Comprovada a postulação administrativa, o INSS
será intimado a se manifestar acerca do pedido em até 90 dias, prazo dentro do qual a
Autarquia deverá colher todas as provas eventualmente necessárias e proferir decisão. Se
o pedido for acolhido administrativamente ou não puder ter o seu mérito analisado devido
a razões imputáveis ao próprio requerente, extingue-se a ação. Do contrário, estará
caracterizado o interesse em agir e o feito deverá prosseguir.
8. Em todos os casos acima – itens (i), (ii) e (iii) –, tanto a análise administrativa quanto a
judicial deverão levar em conta a data do início da ação como data de entrada do
requerimento, para todos os efeitos legais.
9. Recurso extraordinário a que se dá parcial provimento, reformando-se o acórdão
recorrido para determinar a baixa dos autos ao juiz de primeiro grau, o qual deverá intimar
a autora – que alega ser trabalhadora rural informal – a dar entrada no pedido
administrativo em 30 dias, sob pena de extinção. Comprovada a postulação administrativa,
o INSS será intimado para que, em 90 dias, colha as provas necessárias e profira decisão
administrativa, considerando como data de entrada do requerimento a data do início da
ação, para todos os efeitos legais. O resultado será comunicado ao juiz, que apreciará a
subsistência ou não do interesse em agir. (RE 631240, Relator(a): ROBERTO BARROSO,
Tribunal Pleno, julgado em 03/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-220 DIVULG 07-11-2014 PUBLIC 10-11-2014 RTJ VOL-00234-01 PP-00220)
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RE 661256
EMENTA Constitucional. Previdenciário. Parágrafo 2º do art. 18 da Lei n.º 8.213/1991.
Desaposentação. Renúncia a anterior benefício de aposentadoria. Utilização do tempo de
serviço/contribuição que fundamentou a prestação previdenciária originária. Obtenção de
benefício mais vantajoso. Julgamento em conjunto dos RE nºs 661.256/sc (em que
reconhecida a repercussão geral) e 827.833/sc. Recursos extraordinários providos.
1. Nos RE nºs 661.256 e 827.833, de relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso, interpostos
pelo INSS e pela União, pugna-se pela reforma dos julgados dos Tribunais de origem, que
CPF: 073.496.444-77
Geral de Previdência Social (RGPS), somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à ‘desaposentação’, sendo
constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8213/91”. 4. Providos ambos os recursos
extraordinários (RE nºs 661.256/SC e 827.833/SC). (RE 661256, Relator(a): ROBERTO
BARROSO, Relator(a) p/ Acórdão: DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 27/10/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-221 DIVULG 27-09-2017
PUBLIC 28-09-2017)
339
FREDERICO MARTINS INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA •
desaposentação até a data deste julgamento. (RE 661256 ED-segundos, Relator(a): DIAS
TOFFOLI, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em
06/02/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-271 DIVULG 12-11-2020 PUBLIC 13-11-2020)
340
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
QUESTÕES
1. CESPE/CEBRASPE / 2018 / CESPE/CEBRASPE Tribunal de Contas da Paraíba - PB / Auditor de Contas
Públicas) No cálculo dos proventos de aposentadoria dos servidores que tenham ingressado no serviço
público a partir da data de promulgação da Emenda Constitucional n.º 41/2003, terá de ser observada a:
a) limitação mínima do salário de contribuição no mesmo valor fixado para o RGPS.
b) atualização dos proventos na mesma proporção e na mesma data, sempre que se modificar a remuneração
dos servidores em atividade.
c) totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria.
d) média aritmética simples das maiores contribuições, correspondentes a todo o período contributivo.
e) atualização das remunerações consideradas no cálculo inicial dos proventos, mês a mês, no mesmo índice
fixado para o RGPS.
possível e legal. Ao questionar a advogada, esta informou que os benefícios previdenciários, por serem
prestação pecuniária, não podem sofrer mudanças em aparência monetária e nem em aspecto real, devendo
a legislação estabelecer apropriado método de verificação do poder aquisitivo, de forma a restabelecer as
perdas, mediante reajuste periódico do valor da prestação previdenciária. Tal princípio é chamado de:
a) universalidade da cobertura e do atendimento.
b) garantia do benefício mínimo.
c) irredutibilidade do valor dos benefícios.
d) correção monetária dos salários de contribuição.
CPF: 073.496.444-77
4. (FGV/2017/TRT - 12ª Região (SC)/Analista Judiciário – Oficial de Justiça Avaliador Federal) O benefício
previdenciário de auxílio-reclusão é pago aos dependentes do segurado de baixa renda que for preso. Trata-
se de um princípio específico desse benefício previdenciário:
a) irredutibilidade do benefício;
b) equidade na forma de participação no custeio;
c) universalidade da cobertura;
d) seletividade e distributividade;
e) diversidade da base de financiamento.
341
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
6. (FADESP / 2019 / FADESP Prefeitura de Marabá - PA / Analista Previdenciário) O artigo 194 da Carta
Magna brasileira apresenta princípios constitucionais de seguridade social. O princípio segundo o qual as
normas apontam os requisitos legais para a concessão dos benefícios e serviços e consideram as
possiblidades econômico-financeiras do sistema é o da:
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a) organizado para garantir a proteção à maternidade, compreendida esta apenas como a exercida pela mãe
gestante.
b) garantidor do reajustamento dos benefícios previdenciários apenas para preservar-lhes o valor nominal.
c) de filiação obrigatória, mas sem caráter contributivo.
souza -- CPF:
d) organizado para atender, entre outros, à cobertura de eventos como doenças, invalidez e morte, mas não
o desemprego involuntário.
Marceli souza
e) garantidor de pelo menos um salário mínimo quando do pagamento de benefícios substitutivos do salário
Marceli
8. (TRT23R / 2011 / TRT - 23ª REGIÃO (MT) /Juiz do Trabalho) O . . . . . . . . . .é corolário do princípio da
isonomia e da capacidade contributiva dos contribuintes:
a) princípio da diversidade da base de financiamento.
b) princípio da solidariedade social.
c) princípio da equidade na forma de participação no custeio.
d) princípio da diversidade da base de financiamento.
e) princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais.
342
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
a) Certo.
b) Errado.
343
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei, é
a) benefício da seguridade social.
b) serviço previdenciário.
c) serviço assistencial.
d) benefício previdenciário.
e) benefício assistencial.
CPF: 073.496.444-77
20.(PUC-PR/2017/TJ-MS - Técnico de Nível Superior - Serviço Social) A Lei Orgânica de Assistência Social
prevê que o “benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover
a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família”. Sobre isso e considerando o disposto na referida
souza -- CPF:
madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde
Marceli
344
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
a) a função de assistência social destina-se aos segurados da previdência social mais carentes, ao passo que
a previdência se destina ao segurado que não tem plano próprio de previdência privada.
b) as ações do poder público no campo da saúde estão precipuamente voltadas para a prestação de serviços,
enquanto aquelas no âmbito da previdência social referem-se à prestação de benefícios previdenciários.
c) a função saúde atende aos segurados que se encontram no gozo dos direitos que, nessa qualidade, lhe são
inerentes, ao passo que a assistência social se destina aos que perderam essa qualidade.
d) o benefício de prestação continuada, previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, destina-se a ações
direcionadas à saúde e à assistência social.
e) a função saúde não se destina aos segurados da previdência que possuam planos privados de saúde.
Direito Brasileiro, de modo que, salvo disposição contrária, entra em vigor quarenta e cinco dias depois de
Marceli
oficialmente publicada.
a) Certo.
b) Errado.
345
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
a) As contribuições sociais, de que trata o art. 195 da CF/88, só poderão ser exigidas após decorridos noventa
dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no
art. 150, III, b, da Carta Magna.
b) As contribuições sociais de que trata o art. 195, da CF/88, só poderão ser exigidas após decorridos cento
e oitenta dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o
disposto no art. 150, III, b, da Carta Magna.
c) São isentas de contribuição para a seguridade social todas as entidades de assistência social que atendam
às exigências estabelecidas em lei complementar.
d) As contribuições sociais de que trata o art. 195, da CF/88, só poderão ser exigidas após decorridos noventa
dias da assinatura da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150,
III, b, da Carta Magna.
e) As contribuições sociais de que trata o art. 195, da CF/88, só poderão ser criadas e exigidas após decorridos
noventa dias da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto
no art. 150, III, b, da Carta Magna.
27. (QUESTÃO INÉDITA) Com relação aos princípios da Seguridade Social, julgue o item: os princípios da
Seguridade Social não são fontes formais do Direito, mas apenas orientações do Constituinte Originário, que
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28.(QUESTÃO INÉDITA) Com relação aos princípios da Seguridade Social, julgue o item: os princípios da
Seguridade Social são os pilares de todo o sistema da seguridade social previsto na Constituição Federal de
1988, possuindo amplo espectro normativo e funcionando como fontes materiais do Direito da Seguridade
CPF: 073.496.444-77
Social.
a) Certo.
b) Errado.
souza -- CPF:
29.(QUESTÃO INÉDITA) Com relação aos princípios da Seguridade Social, julgue o item: os princípios da
Seguridade Social devem ser lidos sob a ótica do pós-positivismo jurídico e apresentam força normativa e
Marceli souza
aplicabilidade direta, tal qual a força normativa que deriva das regras previstas nas leis previdenciárias,
devendo prevalecer, em regra, as normas princípiológicas eis que superiores na Pirâmide Kelsen.
Marceli
a) Certo.
b) Errado.
30.(QUESTÃO INÉDITA) Com relação aos princípios da Seguridade Social, julgue o item: os princípios da
Seguridade Social são fontes formais do Direito da Seguridade Social e deverão ser, sempre, interpretados
com base no princípio da solidariedade.
a) Certo.
b) Errado.
31. (QUESTÃO INÉDITA) Sobre as normas da Seguridade Social e sua interpretação, julgue o item: as normas
de Seguridade Social não podem ser vistas como normas de direito fundamental, eis que o Estado pode
promover reformas previdenciárias para alterá-las.
a) Certo.
b) Errado.
346
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
a) não pode ser considerado como dependente para os fins de obtenção de benefício previdenciário o irmão
não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência
intelectual ou mental ou deficiência grave.
b) o enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho e dispensam a comprovação da dependência
econômica, bastando, para essa finalidade, a declaração escrita de próprio punho do segurado.
c) a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um)
anos são exemplos de dependentes presumidos, que dispensam prova da dependência econômica.
d) as provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova material contemporânea
dos fatos, sendo admitida, porém, a prova exclusivamente testemunhal quando não houver provas
documentais.
e) os pais e os avós são considerados dependentes especiais do segurado e poderão obter o benefício por
meio de simples apresentação do documento que comprove a relação de parentesco, dispensados outros
meios de prova.
trinta e cinco anos de idade; Fátima não tem renda própria, dedica-se exclusivamente ao trabalho doméstico
no âmbito de sua residência e contribui para a previdência social na qualidade de segurada facultativa;
Marceli souza
347
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
b) I, III e IV.
c) I e IV
d) II, III e IV.
e) I, II e III.
36. (Quadrix/2019/CRF-PR/Advogado) A Lei n.º 8.213/1991, em seu art. 124, dispõe sobre as vedações de
recebimento conjunto de benefícios previdenciários. A aplicabilidade trazida por esse dispositivo restringe‐
se ao âmbito do RGPS, ou seja, proíbe o recebimento conjunto de certos benefícios no mesmo regime.
Contudo, é permitido o recebimento conjunto dos seguintes benefícios no RGPS:
a) aposentadoria e auxílio‐doença.
b) aposentadoria e abono de permanência em serviço.
c) salário‐maternidade e auxílio‐doença.
d) aposentadoria e pensão por morte.
e) auxílios‐acidente.
38. (CESPE/2018/EMAP/Analista Portuário - Área Jurídica - ADAPTADA) Maria, casada, sofreu acidente de
CPF: 073.496.444-77
trabalho em 1.º/2/2018 e ficou afastada da empresa em que trabalha por três meses, recebendo auxílio-
doença até a data imediatamente anterior ao seu retorno, que ocorreu em 2/5/2018. Na data do acidente,
o cônjuge de Maria tinha quarenta e quatro anos de idade.
souza -- CPF:
Nessa situação hipotética, tendo em vista que o acidente se deu antes da EC 103/19, durante o afastamento
por incapacidade temporária, a renda mensal inicial do benefício previdenciário recebido por Maria deve ter
Marceli souza
b) Errado.
39. (CESPE/2016/INSS/Técnico do Seguro Social) No próximo item, é apresentada uma situação hipotética
acerca de salário-de-contribuição, seguida de uma assertiva a ser julgada.
O contrato de trabalho de Carlos, empregado da empresa L & M Ltda., foi rescindido antes que ele pudesse
usufruir de férias vencidas. Nessa situação, haverá a incidência de contribuição previdenciária sobre a
importância paga a título de indenização das férias vencidas e sobre o respectivo adicional constitucional.
a) Certo.
b) Errado.
40. (CESPE/2016/INSS/Técnico do Seguro Social) No próximo item, é apresentada uma situação hipotética
acerca de salário-de-contribuição, seguida de uma assertiva a ser julgada.
Gustavo inscreveu-se na previdência social na condição de segurado facultativo. Nessa situação, o salário-
de-contribuição de Gustavo deverá variar entre um salário mínimo e o teto máximo fixado em portaria
interministerial.
a) Certo.
b) Errado.
348
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
41. (CESPE/2016/INSS/Técnico do Seguro Social) No próximo item, é apresentada uma situação hipotética
acerca de salário-de-contribuição, seguida de uma assertiva a ser julgada.
Bruna, empregada da empresa Vargas & Vargas Cia. Ltda., entrou em gozo de licença-maternidade. Nessa
situação, haverá incidência da contribuição previdenciária sobre o valor recebido por Bruna a título de
salário-maternidade.
a) Certo.
b) Errado.
função pública, inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rompimento do vínculo que
gerou o referido tempo de contribuição.
a) Certo.
b) Errado.
responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental,
enquanto permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para
o cargo de destino, podendo ser, mediante lei específica do ente federativo, alterada a remuneração do cargo
souza -- CPF:
de origem.
a) Certo.
Marceli souza
b) Errado.
Marceli
349
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
2019.
a) Certo.
b) Errado.
Na regra de transição prevista para a antiga aposentadoria por tempo de contribuição no RGPS, tal como
previsto na EC 103, deve ser concedida a aposentadoria calculada com o coeficiente de 60% sobre o salário
Marceli
350
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
b) Errado.
O auxílio por incapacidade temporária será devido ao segurado que, uma vez cumprido, quando for o caso,
o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por
mais de vinte dias consecutivos, conforme definido em avaliação médico-pericial.
a) Certo.
souza -- CPF:
b) Errado.
Marceli souza
Será devido auxílio por incapacidade temporária ao segurado que se filiar ao RGPS já portador de doença ou
lesão invocada como causa para a concessão do benefício, ainda quando a incapacidade sobrevier por motivo
de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.
a) Certo.
b) Errado.
351
FREDERICO MARTINS QUESTÕES •
O segurado recluso em cumprimento de pena em regime aberto ou semiaberto fará jus ao auxílio por
incapacidade temporária.
a) Certo.
b) Errado.
souza -- CPF:
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352
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
GABARITO COMENTADO
1. GABARITO: E.
Alternativa A: ERRADA, pois não há limitação mínima para a incidência de contribuições previdenciárias nos
salários de contribuição dos servidores públicos. Ao contrário, o que pode haver – veja, pode haver – é
limitação máxima para a incidência dessas contribuições. Isso porque se o ente administrativo implementar
um regime de previdência complementar, conforme previsto no art. 40, § 14, da CF, poderá haver a limitação
das contribuições ao PSS – Plano de Seguridade Social até o teto do salário de contribuição previsto para o
RGPS.
Transcrevo para o art. 40, § 14, da CF/88:
Veja, inclusive, que a alternativa mostra outra incorreção. É que essa limitação foi permitida a partir
da EC 20/98 e não pela EC 41/2003.
Alternativa B: ERRADA, pois o que aconteceu com a EC 41/2003 foi justamente o contrário, com o fim da
paridade entre os servidores da ativa e da inatividade. Logo, para os servidores que ingressaram após a EC
41/2003, não haverá a paridade (assim como a integralidade, que também foi extinta por meio dessa Emenda
Constitucional).
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Alternativa C: ERRADA, pois quando a alternativa diz que a aposentadoria corresponderá à totalidade da
remuneração do servidor público na ativa, está querendo dizer que haverá a integralidade como direito do
servidor. E, como visto acima, foi justamente isso que também foi extinto com a EC 41/2003, não havendo
mais o que sobre integralidade e paridade para os servidores que ingressaram a partir de 31/12/2003, data
souza -- CPF:
mas a partir da competência julho/1994, conforme determina o art. 1º, da Lei n.º 10.887/04, que assim diz:
Marceli
Art. 1º No cálculo dos proventos de aposentadoria dos servidores titulares de cargo efetivo
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incluídas suas autarquias e fundações, previsto no § 3º do art. 40 da Constituição Federa l e
no art. 2º da Emenda Constitucional n.º 41, de 19 de dezembro de 2003, será considerada
a média aritmética simples das maiores remunerações, utilizadas como base para as
contribuições do servidor aos regimes de previdência a que esteve vinculado,
correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo desde a
competência julho de 1994 ou desde a do início da contribuição, se posterior àquela
competência.
Veja que a EC 41/2003, ao dar nova redação ao § 3º, do art. 40, da CF, deixou claro que seriam
consideradas as remunerações do servidor para o cálculo de sua aposentadoria, mas não disse nada sobre a
extensão e os limites temporais do período contributivo que serviria de base para isso, relegando tal matéria
à regulamentação da lei.
Transcrevo para você o dispositivo constitucional:
§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por ocasião da sua concessão, serão
consideradas as remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos
353
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
regimes de previdência de que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei. (Redação
dada pela Emenda Constitucional n.º 41, 19.12.2003)
Alternativa E: CERTA, pois, conforme o § 17, do art. 40, CF/88, todos “os valores de remuneração
considerados para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados, na forma da lei”,
redação essa que foi incluída pela Emenda Constitucional n.º 41, 19.12.2003. Assim, a alternativa se encontra
correta, sendo a fundamentação disso a literalidade da norma constitucional.
2. GABARITO: E.
Alternativa A: ERRADA, pois a universalidade de cobertura nada tem a ver com a imposição estatal de
realizar, nos termos da lei, o reajuste dos benefícios previdenciários.
Alternativa B: ERRADA, pois o fato dos benefícios, em regra, não serem pagos abaixo do salário-mínimo, daí
não resulta a possibilidade de se reduzir o valor nominal e real dos benefícios.
Alternativa C: ERRADA, pois a irredutibilidade do valor dos benefícios não assegura o reajustamento para
manter o valor real da prestação previdenciária, mas tão somente o valor nominal. Nada obstante, cabe
chamar à atenção de que o Supremo Tribunal Federal tem dado o entendimento no sentido de que, também
no campo previdenciário, o que se tem garantido na norma constitucional é tão somente o valor nominal,
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com base na regra geral da seguridade social prevista no art. 194, parágrafo único, inciso IV, da CF. Sobre
isso, muito importante você se lembrar de que quando se fala em seguridade social, de modo genérico, a CF
fala em preservação do valor nominal (art. 194, parágrafo único, inciso IV). De outro lado, quando normatiza
na seara previdenciária, a CF diz que deve haver a preservação do valor real dos benefícios. No campo da
previdência social, a previsão constitucional de preservação do “valor real” encontra-se prevista no art. 201,
§ 4º, que assim diz:
CPF: 073.496.444-77
No campo amplo da seguridade social, ou seja, com a consideração não apenas da previdência social,
mas também da assistência social e da saúde, a previsão da preservação do valor nominal dos benefícios e
Marceli souza
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
(...)
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
Alternativa D: ERRADA, pois a atualização monetária dos salários de contribuição é obrigação administrativa
relacionada ao cálculo do salário de benefício, nada tendo a ver com a preservação do valor encontrado para
a renda mensal inicial do benefício concedido.
Alternativa E: ERRADA, pois o princípio da irredutibilidade não se atrela unicamente ao valor real, mas
também e, sobretudo, ao valor nominal da renda mensal inicial, ou seja, da prestação concedida pelo INSS
ao deferir administrativamente um benefício previdenciário.
354
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
3. GABARITO: D.
Alternativas A, B, C e E. ERRADAS, pois em todas elas há erro manifesto com o texto literal da Constituição
Federal de 1988, que em seu art. 201, § 7º, I, assim diz:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional n.º 20, de 1998)
(...)
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 20, de
1998)
I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher;
(Incluído dada pela Emenda Constitucional n.º 20, de 1998)
Lembrando, como se pode perceber da leitura do dispositivo transcrito, que essas regras etárias
foram introduzidas pela Emenda Constitucional n.º 20/98, a 1ª grande reforma previdenciária no pós
Constituição de 1988. Embora o regime previdenciário geral tenha sido sempre contributivo, não havia a
denominada “aposentadoria por tempo de contribuição” antes da EC 20/98. Aliás, não havia nada no texto
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constitucional de 1988 sobre a aposentadoria do RGPS. O que se tinha previsto literalmente no texto original
da CF/88 era apenas a menção no inciso I, do art. 201, de que os “planos de previdência social, mediante
contribuição, atenderão, nos termos da lei, a (...) cobertura dos eventos de (...) velhice”. Os requisitos,
portanto, da aposentadoria – então denominada “aposentadoria por tempo de serviço” – estavam previstos
unicamente nos artigos 52 e seguintes da Lei n.º 8.213/91. Claro está que o artigo 52 foi derrogado
tacitamente pela Emenda Constitucional n.º 20/98, já que, além de estipular que se trata de aposentadoria
CPF: 073.496.444-77
por “tempo de serviço” e não “tempo de contribuição”, elenca requisito etário diverso do previsto na CF/88
após a EC 20, exigindo apenas 30 anos de “serviço” para homens e 25 anos de “serviço” para as mulheres.
Lembro, ainda, de que isso se trata de simples constatação de revogação da lei, pelo critério da lex posterior
derrogat legi priori (lei posterior derroga lei anterior), não sendo caso de inconstitucionalidade
souza -- CPF:
superveniente, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, que já se expressou nos seguintes
termos58:
Marceli souza
Marceli
4. GABARITO: D.
Alternativa A: ERRADA, pois a irredutibilidade se refere à proteção do valor nominal e real, esse
condicionado à edição de lei, dos benefícios previdenciários, nada tendo a ver com a escolha de contingencias
sociais para que haja a proteção social da seguridade social.
Alternativa B: ERRADA, pois a equidade na forma de participação no custeio se relaciona, em essência, com
a capacidade contributiva daqueles que custeiam o sistema, orientando o legislador à escolha equânime das
bases de cálculo e alíquotas componentes das contribuições sociais destinadas à seguridade social.
58 Extraído de:
http://www.stf.jus.br/portal/diarioJustica/verDecisao.asp?numDj=188&dataPublicacao=25/09/2012&incidente=4190309&capitulo
=6&codigoMateria=3&numeroMateria=140&texto=4135765 , em 04/11/2019, às 11:35.
355
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
Alternativa C: ERRADA, pois a universalidade da cobertura se refere à expansividade da proteção dada pelo
sistema constitucional de seguridade social, mas não é o princípio que, especificamente, elege as
contingencias que serão objeto dessa expansão.
Alternativa D: CORRETA, pois a seletividade se atrela à escolha parlamentar relativa aos riscos que serão
cobertos pela seguridade social, enquanto que a distributividade é o efeito dessa seletividade, já que acaba
por distribuir a renda entre as camadas sociais cobertas pela proteção social. A distributividade também
acaba por promover a distribuição geográfica e demográfica dos benefícios e serviços prestados pela
seguridade social.
Alternativa E: ERRADA, pois a diversidade da base de financiamento se dirige ao custeio da seguridade social
e não com a escolha do risco social que será coberto, tal como no caso da seleção, digamos, da contingencia
social relacionada à ausência de renda de um grupo familiar, decorrente do encarceramento daquele que o
provê economicamente.
5. GABARITO: E.
Alternativa A: ERRADA, pois o princípio da filiação obrigatória impõe que, havendo atividade remunerada,
haverá filiação no sistema previdenciário do RGPS. Logo, se é trabalhador, está filiado.
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Alternativa B: ERRADA, pois o princípio da prévia fonte de custeio diz justamente o contrário. Logo, é
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necessário que haja a contribuição previdenciária para que haja a qualidade de segurado no RGPS. Sabe-se,
contudo, que o art. 34, inciso I, da Lei n.º 8.213/91, protege o segurado empregado e segurado empregado
doméstico, ao afirmar que serão considerados os seus salários de contribuição “ainda que não recolhidas
pela empresa ou pelo empregador doméstico”. Todavia, disso não resulta que possa haver, ao menos no
aspecto formal da lei, concessão de benefícios previdenciários sem que tenha havido o recolhimento
previdenciário, notadamente porque o próprio dispositivo legal assinala que haverá ao empregador a
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Art. 114. Salvo quanto a valor devido à Previdência Social e a desconto autorizado por esta
Marceli souza
a sua venda ou cessão, ou a constituição de qualquer ônus sobre ele, bem como a outorga
de poderes irrevogáveis ou em causa própria para o seu recebimento.
Alternativa D: ERRADA, pois a assertiva vai de encontro com o previsto no art. 202, da CF/88, senão vejamos:
Alternativa E: CORRETA, pois, de fato, a EC 20 assinalou na literalidade do art. 201, caput, a observância
indispensável do equilíbrio financeiro e atuarial da previdência social.
6. GABARITO: D.
Alternativa A: ERRADA, pois a uniformidade e equivalência é princípio que se refere ao trato da isonomia
entre as populações urbanas e rurais.
Alternativa B: ERRADA, pois a universalidade da cobertura é, em verdade, princípio que encontra relação
lógica anterior com o princípio relacionado no enunciado da questão. A seletividade e distributividade visam
356
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
otimizar a expansão da seguridade social por meio da seleção das contingencias sociais mais prioritárias e
relevantes, dentro das possibilidades orçamentarias estatais.
Alternativa C: ERRADA, pois a equidade na forma de participação do custeio se refere à capacidade
contributiva daqueles que contribuem com o sistema da seguridade social.
Alternativa D: CORRETA, pois é a seletividade que vai apontar quais são as vulnerabilidades sociais que
podem, no momento, ser atendidos pela seguridade social. Assim, o orçamento da seguridade social pode
cumprir seu objetivo de universalização do sistema, oferecendo a proteção social àqueles que mais
necessitam, bem como em regiões geográficas nas quais mais se demanda a presença do Estado nas políticas
sociais relativas à previdência, assistência e saúde.
7. GABARITO: E.
Alternativa A: ERRADA, pois o art. 201, inciso II, não dá exclusividade à mãe gestante, englobando também
a mãe adotiva e, bem assim, todas as formas de maternidade socioafetiva. Vejamos o dispositivo:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
Alternativa B: ERRADA, pois o art. 201, § 4º, da CF/88, abre a possibilidade de que seja protegido também o
valor real dos benefícios previdenciários e não apenas o valor nominal. Contudo, como já estudamos em
nossa aula, tal direito depende de lei ordinária para que isso seja de fato atingido pelo segurado.
CPF: 073.496.444-77
de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo”.
Marceli souza
8. GABARITO: C.
Marceli
Alternativa A: ERRADA, pois a diversidade da base de financiamento não decorre da isonomia e não
fundamenta a capacidade contributiva do custeio da seguridade social, sendo proveniente, mais, da
solidariedade na sustentação financeira do sistema de proteção social do Estado.
Alternativa B: ERRADA, pois a solidariedade social não é corolário de qualquer princípio, mas sim a base de
todos os objetivo e vetores da seguridade social.
Alternativa C: CORRETA, pois a equidade na forma de participação do custeio realmente se lastreia na
isonomia e, bem assim, por consequência lógica na premissa fundamental de que toda a exação tributária
deve ocorrer de acordo com a capacidade contributiva de cada contribuinte, sob pena de se prestigiar o
confisco na área tributária, algo que não é permitido por nossa ordem constitucional.
Alternativa D: ERRADA, pois a diversidade da base de financiamento decorre da solidariedade e não da
isonomia e capacidade contributiva.
Alternativa E: ERRADA, pois, embora a uniformidade e equivalência se baseiem na isonomia, não decorrem,
de outro lado, da capacidade contributiva.
9. GABARITO: B.
Alternativa A: ERRADA, pois a uniformidade entre os trabalhadores rurais e urbanos não significa que haja
diferença de tratamento entre esses segurados, sob pena de violação da isonomia. O fato de haver benefícios
357
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
com requisitos diversos entre rurais e urbanos não resulta concluir disso que se trata de diferenciação de
tratamento. Claro que há nuances e diferenças materiais entre uma categoria e outra de segurado
obrigatório, mas isso é decorrente da natureza das atividades e não do princípio da uniformidade, que visa
dar os mesmos benefícios previdenciários para ambos, na medida das desigualdades existentes entre cada
um deles.
Alternativa B: CORRETA, pois a seletividade, de fato, reside na ponderação parlamentar sobre os destinos
do orçamento da Seguridade Social, a fim de que contingências sociais desnecessárias não sejam eleitas como
objeto da cobertura da proteção social estatal.
Alternativa C: ERRADA, pois a universalidade, realmente, possui dois aspectos de observação. Um
relacionado à cobertura e outro relacionado ao atendimento. O primeiro é classificado pela doutrina como
sendo o aspecto objetivo da universalidade, enquanto o segundo se refere à visão subjetiva desse
princípio/objetivo da seguridade social. Mas vale observar que o modo de observação dos aspectos objetivo
e subjetivo desse princípio é bastante fluido, sendo certo que ambos da universalidade os polos são
interdependentes. Fique atento nas provas, porque pode haver uma relatividade nas assertivas que tratam
a universalidade objetiva como sendo apenas os benefícios, ou melhor, as contingencias sociais abarcadas
pela proteção social. Isso porque, em verdade, perceba que as contingencias sociais não podem ser vistas de
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modo dissociado das pessoas que se afligem por elas. Assim, a proeminência de conceituação da
universalidade é, realmente, a de que no quanto da cobertura ela é objetiva, enquanto que no quanto do
atendimento, ela é vista pelo modo subjetivo. De todo modo, não se esqueça da fluidez dos conceitos e de
sua interdependência.
Alternativa D: ERRADA. Explicado no item anterior.
Alternativa E: ERRADA, pois é justamente o contrário. A literalidade da Constituição Federal de 1988, em seu
art. 194, parágrafo único, refere-se ao termo “objetivos”, mas a doutrina é uníssona no sentido de que se
CPF: 073.496.444-77
trata, também, de um rol de princípios da seguridade social, dada a indiscutível carga axiológica que eles
carregam, como verdadeiros mandados de otimização da proteção social estatal no Brasil.
10. GABARITO: C.
souza -- CPF:
8.213/91, que assinala a proteção do “valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário-de-
Marceli
11. GABARITO: B. A assertiva vai de encontro com a literalidade do art. 194, caput, da Constituição Federal
de 1988, de maneira que a seguridade social não compõe a previdência complementar dos servidores
públicos. Dogmaticamente, seria possível considerar, sim, a previdência complementar dos servidores
públicos como integrante do grande complexo normativo de seguridade social de nossa Constituição.
Contudo, o enunciado da questão reclamou a leitura das normas escritas, devendo o candidato buscar, nesse
caso, a literalidade do art. 194, caput, da CF/88, até porque se trata de questão objetiva.
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
358
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
12. GABARITO: A. A assertiva vai ao encontro do texto escrito do art. 194, caput, da Constituição Federal de
1988:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.
13. GABARITO: B. A assertiva vai de encontro com o texto escrito do art. 194, parágrafo único, da
Constituição Federal de 1988, bem como com o art. 1º, do Decreto 3.048/99. No caso da questão, o
enunciado se encontra errado em função da indicação do princípio da “redutibilidade” do valor dos
benefícios, contrariando o art. 194, parágrafo único, IV, CF/88 c/c art. 1º, IV, do Decreto 3.048/99, de sorte
que o correto é “princípio da irredutibilidade dos benefícios”. Também há erro na indicação do “princípio da
diversidade dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais”, de modo que o correto seria
“diversidade da base de financiamento”, não se confundindo com outro princípio, qual seja o da
“uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais”.
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
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1998)
Marceli
14. GABARITO: A.
A assertiva vai ao encontro do texto escrito do art. 194, parágrafo único, da Constituição Federal de
1988, assinalando corretamente os princípios que nosso Constituinte asseverou como balizas da seguridade
social. Cabe lembrar que ainda há os princípios da equidade na forma de participação de custeio,
diversidade da base de financiamento, bem como o princípio do caráter democrático e descentralizado da
administração, mediante gestão quadripartite.
359
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
15. GABARITO: A.
O enunciado está correto, uma vez que a seguridade social compreende ações de iniciativa dos
poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos à saúde, à previdência e à assistência
social, conforme art. 194, caput, CF/88.
16. GABARITO: B.
O enunciado está errado, já que nos termos do art. 196, caput, da Constituição Federal o acesso à
saúde é universal e igualitário. Assim, o enunciado do item erra ao afirmar que a saúde é voltada ao acesso
apenas dos menos favorecidos economicamente.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
17. GABARITO: B.
O enunciado está errado, uma vez que não se encontra entre as contingências cobertas pela
previdência social os encargos de família. Cabe lembrar que a previdência possui como benefício o salário-
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Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional n.º 103, de 2019)
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 103, de 2019)
CPF: 073.496.444-77
18. GABARITO: B. O enunciado está incorreto, de sorte que a assistência social não é um sistema
contributivo. O enunciado da questão descreveu a função da previdência dentro do tripé da seguridade
social.
19. GABARITO: E.
A alternativa “A” está INCORRETA. É inegável que dentro da visão macro, ou seja, dentro do espectro
normativo da seguridade social como um todo, trata-se de um benefício da seguridade social. Contudo, a
questão exigia conhecimento técnico e específico, obviamente, do ramo da seguridade social ao qual
pertence o benefício assistencial. Por isso, está errada a alternativa. Tecnicamente, trata-se do benefício
assistencial de amparo ao idoso e ao deficiente, tal como previsto no art. 203, V, da CF/88, bem como no art.
2º, caput, da Lei n.º 8.742/93, senão vejamos:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
360
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
A alternativa “B” está INCORRETA. O benefício assistencial ao idoso e ao deficiente não é um “serviço
previdenciário”. Quanto aos serviços previdenciários, eles estão previstos no art. 18, da Lei n.º 8.213/91. As
prestações de serviços previdenciários são, conforme os artigos 88 e 89, da Lei n.º 8.213/91: a) o serviço
social; e b) o serviço de habilitação e reabilitação profissional.
Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas
inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em
benefícios e serviços:
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Art. 88. Compete ao Serviço Social esclarecer junto aos beneficiários seus direitos sociais e
os meios de exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos
problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no âmbito interno
da instituição como na dinâmica da sociedade.
20. GABARITO: A.
A alternativa A está CORRETA, sendo cópia do texto do art. 20, § 1º, da Lei n.º 8.742/1993, que assim
diz:
(...)
§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa
com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
361
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas. (Redação dada pela Lei n.º 13.146, de 2015) (Vigência)
(...)
§ 10. Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins do § 2o deste artigo, aquele
que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei n.º 12.470, de
2011)
A alternativa C está INCORRETA. O enunciado da alternativa está contrário ao texto do art. 20, § 3º,
I, da Lei n.º 8.742/1993:
2015) (Vigência)
A alternativa D está INCORRETA, eis que vai de encontro com o disposto no art. 20, § 4º, da Lei n.º
8.742/1993:
§ 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com
qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência
CPF: 073.496.444-77
médica e da pensão especial de natureza indenizatória. (Redação dada pela Lei n.º 12.435,
de 2011)
A alternativa “E” está INCORRETA, eis que vai de encontro com o disposto no art. 20, § 6º, da Lei n.º
8.742/1993:
souza -- CPF:
Marceli souza
realizadas por médicos peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro
Social - INSS. (Redação dada pela Lei n.º 12.470, de 2011)
21. GABARITO: B.
A alternativa A está INCORRETA. O direito à previdência não se condiciona à existência ou não de previdência
complementar privada.
A alternativa B está CORRETA. A assertiva está de acordo com o texto dos arts. 196 e 201, da Constituição
Federal de 1988:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público
dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado.
362
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional n.º 103, de 2019)
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 103, de 2019)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emenda
Constitucional n.º 20, de 1998)
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (Redação dada pela
Emenda Constitucional n.º 20, de 1998)
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º 20, de 1998)
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no § 2º. (Redação dada pela Emenda Constitucional n.º
20, de 1998)
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
A alternativa C está INCORRETA. O direito à saúde e à assistência social não são interdependentes.
O direito à saúde é de acesso universal e igualitário, enquanto que o direito à assistência social é destinado
a quem dele necessitar.
A alternativa D está INCORRETA. O benefício de amparo assistencial ao idoso e ao deficiente não
está inserido no bojo do complexo de prestação da saúde pelo Estado, mas sim da assistência social.
A alternativa E está INCORRETA, uma vez que o direito à saúde é de acesso universal e igualitário.
Esse direito não depende do fato da pessoa ser ou não filiado a plano de saúde privado.
CPF: 073.496.444-77
22. GABARITO: C.
Alternativa A. ERRADA, pois a doutrina e os costumes não são, sequer, fontes do Direito da
Seguridade Social. A doutrina funciona como instrumento de hermenêutica jurídica, enquanto a analogia é
souza -- CPF:
Seguridade Social.
Marceli
Alternativa C. CORRETA, pois as fontes materiais são os fatos sociais, políticos e econômicos que
ensejam o surgimento da norma jurídica previdenciária. Ou seja, é tudo aquilo que propicia, motiva e
estimula o surgimento da lei e, dessa maneira, da norma relativa à seguridade social. Uma fonte material do
Direito da Seguridade Social, pois, pode ser facilmente exemplificado pelo déficit nas contas públicas
relacionado à Previdência Social no país. A necessidade de equilíbrio das contas públicas é fonte material
clara do Direito da Seguridade Social, fazendo com que o Congresso Nacional vote atos normativos (emendas
constitucionais, leis ordinárias etc.) que possam atender às contingências socioeconômicas advindas
daquelas circunstâncias financeiras atuais do Estado.
Alternativa D. ERRADA, pois a doutrina não é fonte material do Direito da Seguridade Social, assim
como também não o são a CF/88, as emendas constitucionais, leis complementares e leis ordinárias. Todas
essas últimas são fontes formais do Direito.
23. GABARITO: D.
Alternativa A: ERRADA, pois o costume é elemento de integração da norma jurídica e depende, para
ser invocado, da omissão da lei, conforme o art. 4º, da LINDB. Como se trata de questão objetiva, que não
exige maiores conhecimentos ou divagações sobre o tema, a letra da lei deve ser o norte para a resposta. De
todo modo, cabe lembrar que o costume somente poderá ser invocado no Direito da Seguridade Social se
363
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
não criar nenhuma norma, mas apenas preencher lacuna da lei, sem que haja, ainda, violação aos demais
princípios norteadores da Seguridade Social, em especial o princípio da prévia fonte de custeio. É possível
concluir, ademais, que pelo princípio da norma mais favorável, a lacuna da lei apta a gerar dúvida em sua
interpretação não poderia jamais direcionar o interprete a uma conclusão contrária à máxima efetividade
dos direitos fundamentais da Seguridade Social.
Alternativa B: ERRADA, a legislação previdenciária não deve necessariamente observar a
jurisprudência, a menos que essa seja vinculante.
Alternativa C: ERRADA, pois a analogia, assim como descrito no quanto referente a alternativa “A”,
somente pode ser empregada quando houver lacuna da lei. As demais observações feitas em relação às
limitações de emprego do costume também valem para a analogia (observância dos demais princípios da
Seguridade Social e, ainda, o princípio da norma mais favorável).
Alternativa D: CORRETA, pois bate com o disposto no art. 4º, da LINDB, sendo certo que, na letra da
lei, os princípios gerais de Direito desempenham a função de integrar a norma jurídica quando houver
omissão normativa. Nada obstante, como vimos em nossa aula, os princípios na era do pós-positivismo
desempenham função normativa de primeiro grau, ou seja, são efetivamente fontes do Direito e não apenas
elemento de integração da norma quando essa for omissa.
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Alternativa E: ERRADA, pois o princípio do in dubio pro societate nada tem a ver com o Direito da
Seguridade Social, pertencendo às lições de Direito Processual Penal.
24. GABARITO: A.
Alternativa A é a CORRETA, uma vez que, de fato, não há nenhuma peculiaridade em relação à
legislação de Seguridade Social no que toca ao momento em que ela entra em vigor, seguindo a regra geral
prevista no art. 1º, da LINDB. Deve-se apenas ter em mente que as normas-custeio, quando instituírem ou
CPF: 073.496.444-77
modificarem contribuição social, somente poderão ser exigidas 90 dias após a data da publicação da
respectiva lei, conforme art. 195, §6º, da CF/88 (princípio da anterioridade nonagesimal). Note-se que esse
princípio não altera a vigência da lei, mas apenas a exigibilidade do tributo criado ou majorado. Daí é que o
enunciado não peca ao generalizar a afirmação para qualquer lei de natureza previdenciária.
souza -- CPF:
25. GABARITO: A.
Marceli souza
Alternativa A: CORRETA, pois vai ao encontro do disposto no art. 195, § 6º, da CF/88.
Marceli
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após
decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".
Alternativa B: ERRADA, pois o prazo é de noventa dias e não de 180 dias, conforme o art. 196, § 6º,
da CF/88.
Alternativa C: ERRADA, pois o princípio da anualidade tributária (ou da anterioridade anual), previsto
no art. 150, III, “b”, da CF/88, não se aplica às contribuições sociais previstas no art. 195, CF/88, por expressa
vedação indicada na parte final do art. 195, § 6º, da CF/88.
Alternativa D: ERRADA, pois ignora completamente a imposição, como vimos, do princípio da
anterioridade nonagesimal das contribuições sociais previstas no art. 195, CF/88.
Alternativa E: ERRADA, pois o prazo no enunciado está errado, sendo de 90 dias e não 120 dias.
26. GABARITO: A.
Alternativa A: CORRETA, pois é a cópia fiel do art. 195, § 6º, da CF/88:
364
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após
decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".
Alternativa B: ERRADA, pois indica prazo diverso do disposto no art. 150, § 6º, da CF/88.
Alternativa C: ERRADA, pois não bate com a letra do art. 195, § 7º, da CF/88, sendo que somente as
entidades beneficentes de assistência social, que atendam aos requisitos previstos em lei complementar, é
que contarão com a isenção dada pelo Constituinte Originário em relação às contribuições previstas no art.
195, CF/88.
Alternativa D: ERRADA, pois o prazo para que as contribuições previstas no art. 195, CF/88, possam
ser exigidas é contado da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado e, não como
constou do enunciado, da assinatura da lei.
Alternativa E: ERRADA, pois troca completamente o sentido do art. 195, § 6º, da CF/88.
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27. GABARITO: B.
A afirmação está ERRADA, pois os princípios da Seguridade Social são fontes formais do Direito da
Seguridade Social, sendo essa a parte incorreta do enunciado. Com relação à segunda parte, sim, de fato
criam standards normativos a serem cumpridos pelo legislador ordinário.
28. GABARITO: B.
A afirmação está ERRADA, pois a parte final do enunciado está incorreta, sendo certo que os
CPF: 073.496.444-77
princípios da Seguridade Social não são fontes materiais do Direito da Seguridade Social, mas sim fontes
formais.
29. GABARITO: A.
souza -- CPF:
A afirmação está CORRETA, pois, realmente, os princípios da Seguridade Social devem ser lidos
Marceli souza
dentro da ótica pós-positivista, na qual os princípios deixam de funcionarem unicamente como elementos
de integração da norma jurídica, ostentando, doravante, força normativa própria. Assim, tal qual as regras
Marceli
legais e positivadas, os princípios, ainda quando não escritos, possuem força normativa e são fontes formais
do Direito. Em regra, embora não haja hierarquia entre princípio e regra, quando se tratar, porém, de
princípio de estirpe constitucional, esse deverá prevalecer, salvo se a norma mais favorável for a prevista na
regra (com base no princípio da norma mais favorável em matéria de Seguridade Social).
30. GABARITO: B.
A afirmação está ERRADA, pois o princípio da solidariedade é um princípio de consideração
obrigatória quando se tem em mira a interpretação da norma jurídica da Seguridade Social, mas não é a base
principiológica que determinará de modo proeminente a conclusão do hermeneuta, mas o princípio pro
homine.
31. GABARITO: B.
A afirmação está ERRADA, pois as normas de Seguridade Social são, sim, normas que representam a
tutela de direitos fundamentais sociais, vistos esses como direitos fundamentais de 2ª dimensão. E o fato de
haver reformas previdenciárias que alterem o conteúdo desses direitos não implica qualquer
desconsideração de sua natureza. Pelo contrário, justamente por serem considerados direitos fundamentais,
as reformas previdenciárias encontram limitações referentes à proibição do retrocesso social, bem como às
365
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
vedações impostas pelo art. 60, § 4º, IV, da CF/88. Assim, as alterações no sistema de Seguridade Social não
podem excluir direitos, mas apenas modulá-los com razoabilidade e dentro de ponderações voltadas à
manutenção do sistema, eis que, ao lado das garantias sociais que o Constituinte alberga, também há de ser
respeitado o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial.
32. GABARITO: C.
A letra A está incorreta, pois, vai de encontro com o previsto no art. 16, III, da Lei n.º 8.213/1991:
A letra B está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 16, §2º, da Lei n.º 8.213/1991:
Regulamento.
A letra C está correta, pois está em consonância com o previsto no art. 16, I e §4º, da Lei n.º
8.213/1991:
condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual
ou mental ou deficiência grave;
(...)
§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais
deve ser comprovada
souza -- CPF:
A letra D está incorreta, pois, vai de encontro com o previsto no art. 16, §5º, da Lei n.º 8.213/1991:
Marceli souza
Marceli
A letra E está incorreta, pois, apenas os pais são dependentes do segurado, mas o disposto na alternativa vai
de encontro com o previsto no art. 16, §4º, da Lei n.º 8.213/1991:
33. GABARITO: A.
A assertiva está, de fato, correta, eis que seu enunciado vai ao encontro do disposto no art. 15, §4º,
da Lei n.º 8.213/1991:
366
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos fixados neste artigo e seus
parágrafos.
34. GABARITO: A.
A assertiva está, de fato, correta, eis que os irmãos apenas são dependentes entre si nas situações
previstas no art. 16, III, da Lei n.º 8.213/1991, sendo certo que somente poderiam ser considerados
dependentes, no caso da questão, se inválidos ou com deficiência mental ou intelectual ou deficiência grave,
pois nessas hipóteses a relação de dependência com o segurado vai além dos 21 anos. No mais, seria
necessária a comprovação de dependência econômica. Vejamos:
35. GABARITO: B.
O item I está correto, eis que vai ao encontro do disposto no art. 15, VI, da Lei n.º 8.213/1991:
O item II está incorreto, eis que vai de encontro com o disposto no art. 15, V, da Lei n.º 8.213/1991:
V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para
prestar serviço militar;
souza -- CPF:
O item III está correto, eis que vai ao encontro do disposto no art. 15, I, da Lei n.º 8.213/1991:
Marceli souza
O item IV está correto, eis que vai ao encontro do disposto no art. 15, §4º, da Lei n.º 8.213/1991:
36. GABARITO: D.
ATENÇÃO!
Mantive a questão acima na sua forma original apenas para treinarmos, mas cabe destacar que
houve alteração de seu teor, de acordo com a EC 103/19, senão vejamos:
a) agora, as regras de acumulação previstas no RGPS também valem para os regimes próprios, conforme o
§6º, do art. 40, da CF:
367
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
b) agora, há expressa previsão no art. 201, §15, da CF, no sentido de que é será uma lei complementar que
tratará dos casos de acumulação de benefícios previdenciários.
Além disso, o art. 24, da própria EC 103/19, trata de disposições constitucionais relativas às mudanças
nas regras de acumulação de benefícios previdenciários:
Art. 24. É vedada a acumulação de mais de uma pensão por morte deixada por cônjuge ou
companheiro, no âmbito do mesmo regime de previdência social, ressalvadas as pensões
do mesmo instituidor decorrentes do exercício de cargos acumuláveis na forma do art. 37
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
da Constituição Federal.
§ 1º Será admitida, nos termos do § 2º, a acumulação de:
I - pensão por morte deixada por cônjuge ou companheiro de um regime de previdência
social com pensão por morte concedida por outro regime de previdência social ou com
pensões decorrentes das atividades militares de que tratam os arts. 42 e 142 da
Constituição Federal;
II - pensão por morte deixada por cônjuge ou companheiro de um regime de previdência
social com aposentadoria concedida no âmbito do Regime Geral de Previdência Social ou
CPF: 073.496.444-77
(dois) salários-mínimos;
II - 40% (quarenta por cento) do valor que exceder 2 (dois) salários-mínimos, até o limite de
3 (três) salários-mínimos;
III - 20% (vinte por cento) do valor que exceder 3 (três) salários-mínimos, até o limite de 4
(quatro) salários-mínimos; e
IV - 10% (dez por cento) do valor que exceder 4 (quatro) salários-mínimos.
§ 3º A aplicação do disposto no § 2º poderá ser revista a qualquer tempo, a pedido do
interessado, em razão de alteração de algum dos benefícios.
§ 4º As restrições previstas neste artigo não serão aplicadas se o direito aos benefícios
houver sido adquirido antes da data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional.
§ 5º As regras sobre acumulação previstas neste artigo e na legislação vigente na data de
entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderão ser alteradas na forma do § 6º do
art. 40 e do § 15 do art. 201 da Constituição Federal.
368
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
• Pensão de um regime + pensão de outro regime de previdência social (regime próprio, regime de
previdência complementar fechada, regime de previdência complementar privada);
• Pensão de um regime qualquer não militar + pensão de um regime militar (Polícias Militares,
Corpo de Bombeiros Militares e Forças Armadas);
• Pensão por morte de um regime qualquer (RGPS/RPPS/Militar/Previdências Complementares
fechadas, abertas, públicas ou privadas) + aposentadoria do RGPS ou de um RPPS;
• Pensão por morte de um regime qualquer (RGPS/RPPS/Militar/Previdências Complementares
fechadas, abertas, públicas ou privadas) + proventos de inatividade de militares;
• Pensão militar (Polícias Militares, Corpo de Bombeiros Militares e Forças Armadas) +
aposentadoria do RGPS ou de um RPPS;
Mas mesmo nas hipóteses de acumulação, não haverá o recebimento integral de ambos os benefícios
acumuláveis. Haverá o recebimento do benefício de maior valor, mais uma parte do outro, que variará
conforme a sua correspondência quantitativa em salários mínimos, da seguinte forma:
Essas alterações somente valerão para as hipóteses de acumulação ocorridas após a vigência da EC
103, ou seja, a partir de 13/11/2019, conforme art. 36, III, da referida Emenda, sendo assegurados os direitos
adquiridos até então, de acordo com expressa previsão do §4º, do art. 24:
souza -- CPF:
§ 4º As restrições previstas neste artigo não serão aplicadas se o direito aos benefícios
Marceli souza
houver sido adquirido antes da data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional.
Marceli
Por fim, a EC 103 deixa ressalvado que as regras acima, bem como as que atualmente se encontram
vigentes na legislação previdenciárias, poderão ser alteradas por meio de lei complementar, conforme o art.
201, §15, da CF:
Assim, a resposta é a letra D, mesmo com as alterações acima, conforme a seguinte possibilidade de
cumulação prevista no texto do art. 24, da EC 103/19:
• Pensão por morte de um regime qualquer (RGPS/RPPS/Militar/Previdências Complementares
fechadas, abertas, públicas ou privadas) + aposentadoria do RGPS ou de um RPPS;
Note, contudo, que deverá haver a aplicação do § 2º, do art. 24, da Emenda, de modo que, apesar
da possibilidade de recebimento conjunto, não será possível o recebimento integral de ambos os benefícios,
sendo garantido o valor do maior, acrescido de um percentual do outro conforme as faixas abaixo previstas:
369
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
Quanto às demais opções, cabe salientar que o § 5º, do art. 24, da EC 103/19, assevera que ainda
estão vigentes as hipóteses e regramentos atualmente previstos na legislação previdenciária, até que seja
editada uma lei complementar para tratar dos casos de acumulação de benefícios, suas vedações, regras e
condições. Assim, ainda estão vigentes as regras do art. 124, da Lei n.º 8.213/1991, na medida em que não
foi editada qualquer lei complementar naquele sentido. Com isso, vejamos os casos:
Art. 124. Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos
seguintes benefícios da Previdência Social:
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A letra A está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 124, I, da Lei n.º 8.213/1991.
A letra B está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 124, III, da Lei n.º 8.213/1991.
A letra C está incorreta, pois vai de encontro com o previsto no art. 124, IV, da Lei n.º 8.213/1991.
A letra D está correta, conforme fundamentação e explicação dada acima, estando alinhada com o
souza -- CPF:
37. GABARITO: A.
A assertiva está correta, eis que o salário de contribuição possui, de fato, limites mínimo e máximo
para que sobre ele haja a incidência de contribuição previdenciária. O conceito legal do salário de
contribuição está previsto no art. 28, da Lei n.º 8.212/1991:
370
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
IV - para o segurado facultativo: o valor por ele declarado, observado o limite máximo a que
se refere o § 5º.
§ 1º Quando a admissão, a dispensa, o afastamento ou a falta do empregado ocorrer no
curso do mês, o salário-de-contribuição será proporcional ao número de dias de trabalho
efetivo, na forma estabelecida em regulamento.
§ 2º O salário-maternidade é considerado salário-de-contribuição.
§ 3º O limite mínimo do salário-de-contribuição corresponde ao piso salarial, legal ou
normativo, da categoria ou, inexistindo este, ao salário mínimo, tomado no seu valor
mensal, diário ou horário, conforme o ajustado e o tempo de trabalho efetivo durante o
mês.
§ 4º O limite mínimo do salário-de-contribuição do menor aprendiz corresponde à sua
remuneração mínima definida em lei.
Importa para o gabarito da questão, também, sabermos o quanto disposto no art. 214, §§3º e 5º, do
Decreto n. 3.048/99:
38. GABARITO: A.
A assertiva está correta, indo ao encontro do que dispõe o art. 61, da Lei n.º 8.213/1991:
souza -- CPF:
Ressalte-se, contudo, que é preciso ficar atento ao fato de que a incapacidade, no caso do enunciado
da questão, ocorreu antes da EC 103/19, de modo que, sendo assim, aplica-se a regra prevista no art. 61, da
Lei n.º 8.213/1991.
Com a EC 103, o benefício de auxílio-doença, ao menos no plano constitucional, passou a ser
chamado de benefício por incapacidade temporária, conforme nova redação dada ao art. 201, I, da CF/88:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada;
371
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
Cabe frisar que o art. 26, § 2º, da EC 103, determinou que o coeficiente do salário de benefício das
aposentadorias será de 60%, a princípio, senão vejamos:
Como se vê, a regra não alcança o auxílio-doença (benefício por incapacidade temporária),
restringindo-se às aposentadorias, em regra, de modo que, nesse cenário normativo, continua sendo
aplicável o art. 61, da Lei de Benefícios do RGPS.
39. GABARITO: B.
A assertiva está errada, pois vai contra o disposto no art. 28, §9º, “d”, da Lei n.º 8.212/1991:
(...)
d) as importâncias recebidas a título de férias indenizadas e respectivo adicional
constitucional, inclusive o valor correspondente à dobra da remuneração de férias de que
trata o art. 137 da Consolidação das Leis do Trabalho-CLT;
40. GABARITO: A.
A assertiva está correta, pois vai ao encontro do disposto no art. 214, inciso VI, §§3º e 5º, do RPS
(Decreto n.º 3.048/1999), senão vejamos:
CPF: 073.496.444-77
(...)
§ 3º O limite mínimo do salário de contribuição corresponde:
I - para os segurados contribuinte individual e facultativo, ao salário-mínimo, tomado no
Marceli souza
(...)
§ 5º O valor do limite máximo do salário-de-contribuição será publicado mediante portaria
do Ministério da Previdência e Assistência Social, sempre que ocorrer alteração do valor
dos benefícios.
41. GABARITO: A.
A assertiva está correta, uma vez que, conforme determina o art. 28, § 2º, da Lei n.º 8.212/1991, o
salário maternidade é considerado salário de contribuição, senão vejamos:
42. GABARITO: B.
A assertiva está realmente incorreta, uma vez que vai de encontro com o previsto no art. 22, XXI, da
CF, com a redação dada pela EC 103, senão vejamos:
372
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
43. GABARITO: A.
A assertiva está perfeita, de acordo com a literalidade do art. 37, §14, CF, com a redação dada pela
EC 103, senão vejamos:
Art. 37 (...)
§ 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo de contribuição decorrente de
cargo, emprego ou função pública, inclusive do Regime Geral de Previdência Social,
acarretará o rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição.
44. GABARITO: B.
De fato, não há como se considerar correta a assertiva, uma vez que a remuneração não poderá ser
alterada quando da readaptação do servidor público, segundo determina o mandamento constitucional
previsto no art. 37, §13, com a redação dada pela EC 103. Vejamos:
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073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
45. GABARITO: B.
CPF: 073.496.444-77
A assertiva está errada, na medida em que, embora estejam realmente vedadas as complementações
de aposentadoria que não sejam aquelas previstas nos planos de previdência complementar dos respectivos
entes federativos, na forma enunciada no §§ 14 a 16, do art. 40, as complementações instituídas por outras
vias institucionais anteriores a EC 103 poderão permanecer, conforme norma prevista no art. 7º, da referida
souza -- CPF:
Emenda. Vejamos:
Marceli souza
(...)
§ 15. É vedada a complementação de aposentadorias de servidores públicos e de pensões
por morte a seus dependentes que não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art.
40 ou que não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência social." (NR)
46. GABARITO: B.
A assertiva está errada, uma vez que, na hipótese do servidor público ser eleito para cargo eletivo,
permanecerá ele vinculado ao seu regime próprio de origem. Vejamos:
373
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
Em síntese, deve ser conjugada a regra do art. 40, §13, com a do art. 38, V, conforme o seguinte: a)
se o ocupante de mandato eletivo não for também servidor público efetivo, ou seja, se já não estiver
vinculado a regime próprio da previdência social, ficará automaticamente filiado ao RGPS quando ocupar o
cargo para o qual foi eleito; b) de outro lado, se o ocupante de mandato eletivo já for, antes da eleição,
servidor público efetivo e vinculado a regime próprio da previdência social, permanecerá filiado a esse regime
mesmo quando estiver ocupando o cargo para o qual foi eleito.
47. GABARITO: B.
A assertiva está realmente incorreta, uma vez que vai de encontro com o previsto no art. 201, caput,
da CF, com a redação dada pela EC 103, senão vejamos:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
Note-se que não há nenhuma exigência de que lei complementar trate da previdência social, de
modo geral. O caput, do art. 201, CF, mesmo na redação anterior à EC 103, sempre exigiu que a cobertura
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previdenciária das contingências sociais indicadas na Constituição Federal seja tratada por lei ordinária.
48. GABARITO: B.
A assertiva está realmente incorreta, uma vez que vai de encontro com o previsto no art. 201, caput,
da CF, com a redação dada pela EC 103, senão vejamos:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
CPF: 073.496.444-77
Perceba que a Emenda 103 não trata mais da doença e da invalidez como contingência social a ser
coberta pela previdência social. A partir da nova redação dada pela referida Emenda, trata-se de cobertura
Marceli
destinada à incapacidade para o trabalho, a qual pode ser temporária ou permanente. Na redação anterior,
apesar da indicação literal da cobertura de doença, a norma infraconstitucional sempre tratou da doença
incapacitante, ou seja, aquela que gerou efetivamente a restrição funcional laboral do segurado, a ponto de
impedi-lo de trabalhar, temporária ou permanentemente.
A norma constitucional dada pela EC 103, portanto, corrigiu um desvio técnico que poderia gerar
interpretações desconformes com a vontade do Constituinte, eis que a essência da previdência, nesse caso,
é cobrir os riscos pelo afastamento do trabalhador e não apenas a existência da doença em si enquanto ainda
não incapacitante. Lembre-se, ademais, que a partir da EC 103, as denominações auxílio-doença e
aposentadoria por invalidez foram substituídas por benefício por incapacidade temporária e benefício por
incapacidade permanente.
49. GABARITO: A.
A assertiva está perfeita, indo ao encontro do disposto no art. 41, da Portaria n.º 450/2020, que assim
diz:
Art. 41. Para a aposentadoria por incapacidade permanente previdenciária, a RMI será de
60% (sessenta por cento) do SB, acrescidos de 2% (dois por cento) para cada ano de
374
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
Além disso, a norma infralegal acima está em perfeita sintonia com o disposto no art. 26, § 2º, III c/c
§ 5º, da Emenda Constitucional n.º 103:
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
(...)
§ 2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
média aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º, com acréscimo de 2 (dois)
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
de contribuição nos casos:
(...)
marceliangel@hotmail·com
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50. GABARITO: B.
Está incorreto o enunciado, de modo que o gabarito a ser marcado é a letra B. Veja que, no caso de
benefício por incapacidade permanente que tenha sido derivado de acidente de trabalho, doença
profissional ou doença do trabalho, não há que se falar em aplicação da regra geral de cálculo estabelecida
souza -- CPF:
pelo art. 26, §2º, da Emenda 103. Aplica-se, neste caso, a exceção prevista no art. 26, §3º, III, da EC 103, bem
como o disposto no art. 42, da Portaria 450/20. Vejamos:
Marceli souza
Marceli
EMENDA 103
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
(...)
§ 2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
média aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º, com acréscimo de 2 (dois)
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
de contribuição nos casos:
(...)
§ 3º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 100% (cem por cento) da média
aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º:
(...)
II - no caso de aposentadoria por incapacidade permanente, quando decorrer de acidente
de trabalho, de doença profissional e de doença do trabalho.
375
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
PORTARIA 450
Art. 42. Para a aposentadoria por incapacidade permanente acidentária, a RMI será 100%
(cem por cento) do SB.
51. GABARITO: B.
Está incorreto o enunciado, eis que há nessa regra de transição uma exceção à regra geral da Emenda
103, de que o cálculo dos benefícios previdenciários deve partir da aplicação de um coeficiente de 60% sobre
o salário de benefício. Essa norma geral de cálculo está prevista no art. 26, §2º, da Emenda, mas ela comporta
algumas exceções expressas, sendo uma delas o caso da concessão de benefício por incapacidade
permanente decorrente de acidente de trabalho, doença profissional ou doença do trabalho, enquanto que
a outra hipótese de exceção é justamente o caso da regra de transição da antiga aposentadoria por tempo
de contribuição no RGPS. Essa hipótese de regra de transição está prevista no art. 20, §2º, II, da Emenda 103,
exigindo tempo de contribuição, idade mínima e pedágio de 100% do tempo de contribuição que faltava para
se aposentar na data da vigência da EC 103. Nesse caso, o cálculo do benefício de aposentadoria, portanto,
será feito com base em 100% do salário de benefício. Vejamos:
EMENDA 103
marceliangel@hotmail·com
073.496.444-77 -- marceliangel@hotmail·com
Art. 26. Até que lei discipline o cálculo dos benefícios do regime próprio de previdência
social da União e do Regime Geral de Previdência Social, será utilizada a média aritmética
simples dos salários de contribuição e das remunerações adotados como base para
contribuições a regime próprio de previdência social e ao Regime Geral de Previdência
Social, ou como base para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam
os arts. 42 e 142 da Constituição Federal, atualizados monetariamente, correspondentes a
100% (cem por cento) do período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde
o início da contribuição, se posterior àquela competência.
§ 1º A média a que se refere o caput será limitada ao valor máximo do salário de
CPF: 073.496.444-77
contribuição do Regime Geral de Previdência Social para os segurados desse regime e para
o servidor que ingressou no serviço público em cargo efetivo após a implantação do regime
de previdência complementar ou que tenha exercido a opção correspondente, nos termos
do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 da Constituição Federal.
§ 2º O valor do benefício de aposentadoria corresponderá a 60% (sessenta por cento) da
souza -- CPF:
média aritmética definida na forma prevista no caput e no § 1º, com acréscimo de 2 (dois)
pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 (vinte) anos
Marceli souza
Art. 20. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de
Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada
em vigor desta Emenda Constitucional poderá aposentar-se voluntariamente quando
preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem;
II - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se
homem;
(...)
§ 2º O valor das aposentadorias concedidas nos termos do disposto neste artigo
corresponderá:
II - em relação aos demais servidores públicos e aos segurados do Regime Geral de
Previdência Social, ao valor apurado na forma da lei.
PORTARIA 450
Art. 57. A aposentadoria por tempo de contribuição com idade e período adicional de 100%
(cem por cento) terá RMI igual ao SB, que equivale a 100% (cem por cento) da média, na
forma do inciso II do § 2º do art. 20 da EC nº 103, de 2019.
376
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
Cabe anotar que a regra do art. 26, EC 103 é norma transitória, que valerá, portanto, até que lei
regule a matéria. Tanto é assim, que, como se pode observar, o art. 20, §2º, II, EC 103, assevera que o valor
da aposentadoria tratada naquele dispositivo será apurado na forma da lei. Essa “lei”, entretanto, ainda é o
art. 26, da EC 103, o qual será poderá, futuramente, ser substituído por lei ordinária, dado o fenômeno da
desconstitucionalização operado na reforma da previdência neste e em outros institutos previdenciários.
52. GABARITO: B.
Assertiva em desacordo com o disposto no art. 201, § 1º, da CF/88.
53. GABARITO: B.
Assertiva em desacordo com o art. 201, § 1º, I, CF/88.
54. GABARITO: B.
Assertiva em desacordo com o art. 201, § 1º, II, CF/88.
CPF: 073.496.444-77
II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e
biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por
Marceli
55. GABARITO: A.
Assertiva de acordo com o disposto no art. 201, § 7º, I, CF/88.
56. GABARITO: B.
Assertiva em desacordo com o disposto no art. 201, § 7º, II, CF/88.
57. GABARITO: B.
Assertiva em desacordo com o disposto no art. 71, caput, do Decreto n.º 3.048/1999.
377
FREDERICO MARTINS GABARITO COMENTADO •
Art. 71. O auxílio por incapacidade temporária será devido ao segurado que, uma vez
cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu
trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos, conforme
definido em avaliação médico-pericial.
58. GABARITO: B.
Assertiva em desacordo com o art. 71, § 1º, do Decreto n.º 3.048/1999.
§ 1º Não será devido auxílio por incapacidade temporária ao segurado que se filiar ao RGPS
já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão do benefício, exceto
quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença
ou lesão.
59. GABARITO: A.
Assertiva de acordo com o art. 71, § 2º, Decreto n.º 3.048/1999.
60. GABARITO: B.
Assertiva de acordo com o disposto no art. 71, § 3º, Decreto n.º 3.048/1999.
§ 3º Não será devido o auxílio por incapacidade temporária ao segurado recluso em regime
fechado.
CPF: 073.496.444-77
61. GABARITO: A.
Assertiva de acordo com o disposto no art. 71, § 9º, Decreto n.º 3.048/1999.
378
FREDERICO MARTINS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS •
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Abner; MASTRODI, Josué. Sobre a teoria dos custos dos direitos. Revista Quaestio Iuris, Rio de Janeiro
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