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NOÇÕES TEÓRICAS BÁSICAS DO PROCESSO


172 minutos

 Aula 1 - Direito e sociedade: evolução histórica da resolução de


conflitos
 Aula 2 - Processo e pressupostos processuais

 Aula 3 - Acesso à justiça e modos adequados de composição de


conflitos
 Aula 4 - Direito processual versus Direito material e normas
processuais no tempo e no espaço
 Referências

Aula 1

DIREITO E SOCIEDADE: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA


RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
A compreensão sobre as formas de composição de conflitos e a sua evolução história ajuda a entender o
estágio de nossa sociedade.
44 minutos

INTRODUÇÃO

A compreensão sobre as formas de composição de conflitos e a sua evolução história ajuda a entender o
estágio de nossa sociedade, onde estamos e as ferramentas que o operador do direito terá para a resolução
dos diversos conflitos que possam surgir.

Ao final dos estudos, haverá a devida compreensão de que não se pode fazer a denominada “justiça com as
próprias mãos” para resolver as questões pendentes de solução e que o sistema nos confere instrumentos
hábeis e eficazes para resolver os direitos, sejam eles individuais ou coletivos.

É sempre muito importante fazer o devido aprofundamento e a detida compreensão desse tema.

Bons estudos e até breve!

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CONFLITOS DE INTERESSES E SEUS MODOS DE RESOLUÇÃO NOS TEMPOS ANTIGOS: DA

AUTOTUTELA À JURISDIÇÃO - NULLA POENA SINA IUDICIO

A sociedade evoluiu, e com ela as formas de composição de conflitos existentes. A primeira forma de
resolução que se conhece é a denominada autotutela. Trata-se da solução de conflitos mais antiga que se tem
notícia, que se dá pela vontade de uma das partes em detrimento da outra. O “magistrado” do caso é uma das
partes. Esse cenário é proibido, como regra, pelos ordenamentos jurídicos civilizados.

Contudo, sempre foi utilizada como alternativa diante da falta de poder do Estado para resolver os conflitos,
como ocorria no período romano anterior à fase da cognitio extra ordinem. Atualmente, constitui conduta
tipificada como crime: exercício arbitrário de suas próprias razões – art. 345 do CP (se for particular) – e
exercício arbitrário ou abuso de poder – art. 350 do CP (se for o Estado).

Evidente que ainda se mantêm resquícios dos períodos primitivos, e o ordenamento permite, vez ou outra, a
possibilidade do uso arbitrário de suas próprias razões, como o desforço imediato (Código Civil, art. 1.210, §
1º), a autotutela do direito obrigacional (Código Civil, arts. 249, parágrafo único, e 251, parágrafo único), o
estado de necessidade e a legítima defesa no direito penal (Código Penal, art. 23, II). Fora hipóteses
expressamente previstas, a autotutela é crime. Uma das maiores evoluções das formas de resolução de
conflitos está justamente na fase da execução (momento em que se satisfaz a obrigação com a penhora de
bens do devedor).

No Brasil, a execução é eminentemente real, ou seja, recai somente no patrimônio do executado. A


configuração atual do princípio se deu por longa evolução histórica: no período romano (especialmente na Lei
das XII Tábuas), a execução era pessoal e o devedor pagava com a vida (cortava-se o devedor em quantos
pedaços fossem os credores) ou com prisão pelo descumprimento das obrigações, até mesmo ameaça para
compelir os familiares à satisfação da obrigação.

Entretanto, em tempos atuais decorrentes da forte influência francesa do século XIX acerca da intangibilidade
da vontade humana, esta evolução chegou a um estágio tão avançado que mesmo no patrimônio do
executado existem bens não suscetíveis à responsabilidade executiva por afrontar o princípio da dignidade
humana. Assim, são as hipóteses de: a) impenhorabilidade, prevista no CPC (arts. 832-834); b)
impenhorabilidade do bem de família (Lei Federal nº 8.009/90); c) impenhorabilidade, quando “o produto da
execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução” (CPC, art.
836) (BRASIL, 2015, [s. p.]). Contudo, as novas técnicas de execução indireta não só assumiram um lugar que a
sub-rogação não necessariamente alcançava (obrigações in natura) como também ajudaram na mais efetiva
aplicação das obrigações em dinheiro (em especial, nos termos autorizadores do CPC, art. 139, IV).

Existem raras exceções em que a incidência da execução não será no patrimônio do executado:

• Prisão civil. hoje, o Brasil admite apenas uma hipótese de prisão civil: na dívida de alimentos. A despeito de
inserta na Constituição Federal, a prisão do depositário infiel não mais é admitida, conforme entendimento do
RE 466.343-1, Súmula Vinculante 25 e Enunciado 419 da Súmula do STJ, tendo em vista os Tratados
Internacionais ratificados no Brasil, que restringem a prisão civil ao devedor de alimentos. Contudo, a prisão
civil não é forma de satisfação da dívida, e sim mecanismo para compelir o seu cumprimento.

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• Pressão psicológica. A execução indireta (execução com emprego de mecanismos para “estimular” o
cumprimento espontâneo da obrigação) é uma forma de forçar o devedor. Aqui, o Estado busca mecanismos
típicos (CPC, art. 497, parágrafo único) ou atípicos para compelir o executado a cumprir a obrigação. A multa
do art. 523, § 1º, as astreintes e a possibilidade de redução dos honorários para metade no cumprimento
espontâneo (CPC, art. 827) são exemplos da forma de execução por coerção (e não por sub-rogação, método
tradicional).

PROCESSO CIVIL E O PODER JUDICIÁRIO

Nosso ordenamento adotou a teoria da tripartição de poderes (CF, art. 2º). A razão de ser da separação dos
Poderes é a melhor descentralização da atividade e, principalmente, a necessidade de evitar que o poder se
concentre na mão de apenas um órgão. Dessa forma, com a atribuição específica para cada poder, teve
origem a construção doutrinária denominada freios e contrapesos, na medida em que a atuação de um
poder específico impediria a atuação arbitrária de outro poder.

Há, ainda, um relevante motivo para a separação: a especialidade (especialização do Judiciário), ou seja,
exercendo função específica, exerce-a melhor e de maneira mais efetiva (CF, art. 5º, LXXVIII). Dessa forma, o
Estado moderno, para que melhor possa conservar as condições da sociedade, afinal essa é a sua função,
exerce três funções distintas, mas harmônicas entre si: legislativo, executivo e judiciário.

Essa divisão não é importante apenas no plano da divisão estrutural do Poder Judiciário mas também para a
fixação do órgão competente e para saber qual matéria (normas de direito material e processual) que incidirá
como forma de atuação desses entes. Quanto à atividade jurisdicional do Poder Judiciário (sua função típica), a
Constituição Federal estabelece as denominadas justiças especiais. Essa classificação toma como premissa a
natureza da situação jurídica posta em juízo. Dessa forma, tem-se a Justiça do Trabalho (art. 114, CF), a Justiça
Eleitoral (art. 121, CF) e a Justiça Militar (art. 124, CF).

O processo civil atua de forma supletiva e subsidiária nas justiças eleitoral e trabalhista, ou seja, para que o
processo civil seja aplicado a essas justiças, é necessário que haja: a) omissão legislativa na esfera trabalhista
ou eleitoral sobre a norma de processo ou procedimento que se deseja aplicar e b) uma chancela
jurisprudencial, ou seja, a mera omissão legislativa não acarreta aplicação automática, pois será necessária a
autorização, especialmente, dos órgãos responsáveis pelo processamento e julgamento das causas.

Em contraposição a essas hipóteses, por mera exclusão, tem-se a justiça comum, que se encarrega de tutelar
todas as demais situações (litigiosas ou não) que não se abarcam nas situações enumeradas nos referidos
artigos constitucionais.

A justiça comum é dividida em justiça federal e justiça estadual. Na justiça comum, é possível a divisão
entre jurisdição penal e civil. A jurisdição penal, tanto no âmbito federal como no estadual, atua na previsão,
no processamento, no julgamento e no cumprimento de práticas de crimes em suas mais diferentes espécies.

A jurisdição não penal (federal ou estadual) é denominada jurisdição civil (federal ou estadual). Na jurisdição
civil, adota-se integralmente o Código de Processo Civil e demais legislações processuais correlatas que
possam de certa maneira regulamentar a atividade da justiça comum (v.g., Lei nº 9.289/96, Lei nº 12.016/2009,

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regimentos internos etc.).

A justiça federal é regulamentada pelos arts. 108 e 109 da Constituição Federal, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm, que assim dispõem:

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Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:

I – processar e julgar, originariamente:

a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do


Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público
da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da


região;

c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz


federal;

d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal;

e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal;

II – julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes
estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem


interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa


domiciliada ou residente no País;

III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou


organismo internacional;

IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços


ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas
as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a


execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;

V – as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5o deste artigo;

VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o


constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;

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VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,


excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da


Justiça Militar;

X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta


rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

XI – a disputa sobre direitos indígenas.

1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver
domicílio a outra parte.

2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que
for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou


beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado,
sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa
condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas
pela justiça estadual.

4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal


Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.

§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da


República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal
— Someone famous

É de se ver que, em quase todos os casos, a justiça federal atua quando figurar como autor, réu ou
interveniente a União Federal e seus entes correlatos.

A justiça estadual possui competência residual e abrange todas as causas que não forem previstas nas
hipóteses dos arts. 108 e 109 da Constituição Federal.

Assim, serão levadas à justiça comum estadual, entre outras, as causas de família, cíveis em geral, tributos
municipais e estaduais, causas entre particulares, causas de direito do consumidor, meio ambiente, direito
empresarial, demandas que envolvam a Fazenda Pública estadual ou municipal (é importante frisar que não

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há uma “justiça municipal”, de modo que as demandas contra os entes municipais serão propostas na justiça
estadual).

É possível, ainda, no plano estrutural, dividir o Poder Judiciário pelos seus diferentes graus de jurisdição.

Antes de tudo, não se deve baralhar os conceitos de grau de jurisdição e instância.

Instância é termo ligado à organização judiciária, sendo certo que na estrutura do Poder Judiciário existem
órgãos hierarquicamente inferiores e superiores. É um conceito estático, pois se refere à condição do juiz
dentro do sistema organizacional do Estado. Assim, os juízes de primeira instância são aqueles lotados nas
comarcas/seções judiciárias dos fóruns; os desembargadores estão nos Tribunais Regionais e locais, que
funcionam como segunda instância; os ministros dos tribunais superiores exercem suas atividades em
instância especial.

Grau de jurisdição é um conceito dinâmico, pois não é ligado à organização judiciária de forma estática, mas
no contato do Poder Judiciário com a causa. E esse contato (das diversas instâncias) pode variar conforme as
regras de competência estabelecidas em lei. Dessa forma, uma ação de despejo será processada em primeira
instância e em primeiro grau de jurisdição (primeiro contato do Judiciário com a causa). Aquele que foi
sucumbente poderá interpor recurso de apelação para o segundo grau de jurisdição, na segunda instância.

Mas, nem sempre é assim. Pelas regras de competência previstas no ordenamento, a ação rescisória será
julgada originariamente por um tribunal. Assim, se o tribunal competente for o Tribunal de Justiça do Estado
de Minas Gerais, por exemplo, a ação será processada na segunda instância (organização judiciária), mas em
primeiro grau de jurisdição (primeiro contato do Judiciário com aquela causa).

Essa visão vertical do Poder Judiciário decorre da possibilidade de existência de recursos contra as decisões de
primeiro grau para outro órgão hierarquicamente superior e da competência originária dos tribunais para
determinadas demandas. Assim, a jurisdição dos tribunais pode ser categorizada da seguinte maneira:

Quadro 1 | Categorização da jurisdição dos tribunais

1ª instância Comarcas para a justiça estadual,


Juízes seções ou subseções judiciárias
(Fórum) + juizados especiais para a justiça federal

2ª instância Desembargadores (juízes nos 27 tribunais estaduais e 5 Tribunais

(Tribunais e Turmas Recursais) casos de juizados especiais) Regionais Federais

Instâncias especiais Superior Tribunal de Justiça e


Ministros
(Tribunais Superiores) Supremo Tribunal Federal

Fonte: elaborado pelo autor.

O PROCESSO CIVIL E AS DEMAIS DISCIPLINAS DO DIREITO

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O processo civil, como disciplina instrumental, possui, em diferentes níveis, relação com os demais ramos do
direito. O processo não apenas mantém íntima relação com o direito material (nas mais diversas disciplinas)
como também entre as próprias vertentes processuais. Assim, é possível estabelecer correspondência entre:

• Direito processual do trabalho e direito processual penal:

No plano estrutural, a despeito dos inúmeros ramos do direito material (direito civil, penal, tributário,
previdenciário, constitucional, administrativo, entre outros), é comum estudar apenas três modalidades de
processo: o processo penal, que tutela o direito penal; o processo do trabalho, que tutela o direito do
trabalho; o processo civil, que tutela todas as outras demais disciplinas do direito material.

Cada uma dessas modalidades possui um aglutinado de normas próprias, com seus prazos, seus recursos e
suas diretrizes principiológicas. Contudo, é comum, no plano do processo civil, a doutrina proceder a
subdivisões em “pequenas áreas do processo”, como processo coletivo, processo constitucional, processo
tributário, processo societário, processo do consumidor, entre outros.

Não existe divisão no plano legislativo, já que não há lei que regulamente somente o processo tributário ou o
processo constitucional, por exemplo. Contudo, para fins didáticos e de modo a auxiliar o operador do direito
(que, por exemplo, atue apenas no denominado “contencioso tributário” ou “contencioso societário”) é que
diversas publicações literárias grupam os artigos ou leis que possam dar um sentido comum a essa disciplina.

É importante saber que a subdivisão não desnatura o fato de que todos esses “processos” fazem parte do
ramo direito processual civil.

Voltando aos processos penal e do trabalho, essas duas disciplinas possuem, em regra, regime processual
próprio. Contudo, o Código de Processo Civil (CPC) constitui fonte subsidiária e supletiva na falta de normas
que regulem, no plano processual, a questão, conforme o art. 15 do CPC: “Na ausência de normas que
regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas
supletiva e subsidiariamente” (BRASIL, 2015, [s. p.]). No processo do trabalho, há diversos temas que são
tratados exclusivamente pelo processo civil, por exemplo, tutela provisória, ação rescisória, consignação em
pagamento, ação monitória, preliminares de contestação, embargos de terceiro e algumas questões sobre
penhora. No processo penal, apesar de sofrer menor influência do processo civil, há diversos temas que são
trazidos para responder a problemas do processo penal. Essa autorização não decorre apenas do já citado art.
15 do CPC, mas do art. 3º do Código de Processo Penal, que é expresso ao dizer que “a lei processual penal
admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica” (BRASIL, 1941, [s. p.]). Ademais, há dispositivos do CPP
que expressamente invocam o CPC, como os arts. 139, 362 e 790. Mas, há outras importantes regras do
processo civil que se aplicam ao processo penal, por exemplo: i) a necessidade de estabilidade da
jurisprudência e da vinculação dos juízos aos precedentes (arts. 926 e 927, NCPC); ii) o atendimento ao
contraditório material (art. 10, CPC); iii) a teoria da fundamentação analítica (art. 489, § 1º, CPC); iv) a
perpetuatio jurisdictionis (art. 43, CPP); v) a calendarização processual (art. 191, CPC); vi) o IRDR e assunção de
competência (arts. 976 e 946, CPC). Para realçar o que foi dito aqui, o Enunciado 3 da I Jornada de Direito
Processual Civil (CJF) estabelece: “As disposições do Código de Processo Civil aplicam-se supletiva e
subsidiariamente ao Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei” (BRASIL, 2017,
p. 13).
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• Direito constitucional

Não existe diploma que exerça tanta influência sobre o processo civil como a Constituição Federal. Apesar de
desnecessário, o CPC traz expressa essa submissão: “Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e
interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]).

Assim, a Constituição Federal: i) regulamenta a tripartição de poderes e a autonomia do Poder Judiciário (art.
2º, CF); ii) regulamenta os órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CPC); iii) disciplina o cabimento dos recursos
especial, extraordinário e ordinário; iv) disciplina, igualmente, os remédios constitucionais, como o mandado
de segurança, o habeas data e o mandado de injunção; v) estabelece a previsão de alguns denominados
“precedentes vinculantes”, como a decisão em controle concentrado de constitucionalidade pelo STF e a
súmula vinculante (arts. 102, § 2º, e 103-A da CF); vi) regulamenta um sem-número de princípios com ampla
incidência na seara processual, como o do devido processo legal, o do juiz natural, o da legalidade e outros
que possuem previsão tanto na CF como no CPC (duração razoável do processo, isonomia, contraditório e
ampla defesa, inafastabilidade); vii) estabelece as garantias dos juízes (art. 95, CF): vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos; viii) regulamenta uma série de regras de competência, em
especial, a das justiças especializadas, a da justiça federal e a competência originária dos tribunais; ix)
regulamenta o processamento dos precatórios (art. 100, CF) para os pagamentos nos casos de execução
contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910, CPC).

• Direito administrativo

Apesar do adjetivo “civil”, o direito processual não serve apenas ao direito civil, mas a todas as matérias de
direito público. Ademais, para os administrativistas, jurisdição voluntária é procedimento administrativo e não
jurisdicional. A regulamentação da execução fiscal, da execução contra a Fazenda Pública, das prerrogativas
da Fazenda Pública em juízo e da remessa necessária são pontos de intersecção entre ambas as matérias. Ele
também se presta a fornecer subsídios ao processo administrativo, regulamentado na Lei nº 9.784/99.

• Direito civil e empresarial

O processo civil serve ao direito civil e empresarial em relação de instrumentalidade (ainda que essa
expressão seja criticada por segmentos da doutrina). Especialmente quanto ao direito civil,

Não obstante a previsão específica de cabimento desse recurso para as matérias não penais no art.
1.027 do CPC.

os procedimentos especiais foram edificados com base nas relações privadas de direito material, assim como
existe uma profícua ligação entre ambas as disciplinas no que concerne às provas, desconsideração da
personalidade jurídica, participação dos cônjuges no processo, prescrição e decadência, evicção, penhora,
entre outros.

• Direito penal

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O direito penal participa da vida do processo civil no plano da ilicitude, seja para regular o tipo de situação
passível de ação rescisória (art. 966, I, CPC – prevaricação corrupção e concussão), seja na aplicação dos
crimes de desobediência (art. 330, CP e arts. 403, parágrafo único, 524, § 3º, 529, § 1º, 532, 536, § 3º, e 912, §
1º, CPC).

VÍDEO RESUMO

Agora, no vídeo, você entenderá as formas de composição de conflitos e sua evolução, a relação do processo
civil com o Poder Judiciário (e toda sua estrutura orgânica) e como o processo civil convive com as demais
áreas do direito. Para isso, já se recomenda a leitura do texto sobre direito processual e direito material, que
será estudado na Aula 4.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

 Saiba mais
Leia A crise do Poder Judiciário: os mecanismos alternativos de solução de conflitos como condição de
possibilidade para a garantia do acesso à justiça . Vale muito a pena ler este texto para aprofundamento
dos seus estudos.

Aula 2

PROCESSO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS


A presente aula pretende introduzir você a uma análise constitucional e infraconstitucional do acesso à
justiça, entender o conceito de processo e verificar os seus requisitos necessários, classicamente
denominados “pressupostos processuais”.
42 minutos

INTRODUÇÃO

A presente aula pretende introduzir você a uma análise constitucional e infraconstitucional do acesso à justiça,
entender o conceito de processo e verificar os seus requisitos necessários, classicamente denominados
“pressupostos processuais”. Esses conceitos não estão previstos em Lei (Código de Processo Civil).

São extraídos da doutrina e da jurisprudência, sendo conceitos sazonais, ou seja, podem ser alterados de
acordo com a mudança que se tenha sobre o conceito de processo ou pressupostos.

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É importante entender ainda que não há uma unanimidade, em especial, na doutrina, acerca dessas
definições.

Portanto, pretendo trazer a análise mais ampla possível para que você tenha um panorama geral sobre o
tema.

Bons estudos e até breve!

ACESSO À JUSTIÇA

Quadro 1 | Linhas evolutivas do processo

LINHAS EVOLUTIVAS DO PROCESSO

Surgimento das primeiras normas processuais e possibilidade de levar as


Fase inicial
pretensões a uma autoridade pública.

Processo civil Início do estudo do processo civil como ciência independente de questões

na fase da religiosas.

Grécia antiga Observância do princípio dispositivo e da oralidade.

Desenvolvido em três fases:

1) Período legis actiones: as partes apenas poderiam usar as cinco ações que
estavam previstas em lei para tutelar seus direitos. O procedimento era solene,
Processo não envolvia advogados e era prioritariamente oral. Possuía duas fases distintas: a
primeira perante um juiz, que verificava a admissibilidade e fixava o litígio. A outra
civil na fase
perante cidadãos na função de árbitros para prolação da sentença.
do Império
2) Período formulário: com a expansão do império, foi necessária a criação de
Romano novos processos e procedimentos. Com isso, permitiu-se ao magistrado
estabelecer fórmulas para que os litígios pudessem ser resolvidos.

3) Período da extraordinária cognitio: nessa fase se aboliram os árbitros privados


para dar lugar a funcionários do Estado. Adotou-se a forma escrita.

A queda do Império Romano gerou um retrocesso na evolução do processo, com


disparidade de entendimentos e forte influência da religião sobre o direito.
Idade Média
Houve a fusão dos direitos germânico, romano e canônico, dando origem ao
processo comum.

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Em decorrência do liberalismo, o Estado mínimo preconizado reduziu o poder do


juiz, fortalecendo a liberdade das partes. O legalismo (Estado Legislativo) foi uma
forma de retirar o poder do regime absolutista até então existente. O direito era

Processo civil exclusivamente o que a lei dizia, e esta, a lei, possuía ampla legitimidade, já que
produzida por autoridade dotada de competência normativa. Para não afrontar
no século XIX especialmente os princípios da igualdade e da liberdade, as leis deveriam ser
gerais e abstratas, como garantia de isonomia e imparcialidade de quem as
aplicava. O juiz não podia levar em conta peculiaridades ou circunstâncias
diferentes do caso concreto.

Processo civil O juiz voltou a ter amplos poderes em decorrência da visão publicista do processo.
Em decorrência disso, passou a ter permissão para produzir provas sem
no século XX provocação e conhecer determinadas matérias em nome do interesse público.

Mantendo a natureza pública do processo, a Constituição Federal passou a exercer

Processo civil forte influência sobre o processo civil (o denominado neoprocessualismo, pós-
positivismo ou neoconstitucionalismo), fortalecendo os princípios constitucionais,
no século XXI em especial, o do devido processo legal. Essas questões serão mais bem estudadas
infra.

Com a independência do Brasil, as Ordenações Filipinas se mantiveram em vigor


naquilo em que não afrontassem a soberania do governo.

Regulamento nº 737: primeiro Código brasileiro que regulava apenas causas


comerciais (em virtude do advento do Código Comercial de 1850).

Códigos estaduais: em decorrência da legitimidade conferida pela Constituição de


1891, diversos Estados elaboraram seus próprios Códigos de Processo.

Processo civil CPC/39: projeto de Pedro Batista Martins com forte influência dos direitos alemão
brasileiro e português.

CPC/73: Código estruturado por Alfredo Buzaid com base nos ensinamentos do
professor italiano Enrico Tullio Liebman.

CPC/2015: originado do Projeto Legislativo n. 166/2010, passou, ao longo de sua


tramitação, por uma série de mudanças no Congresso. Foram instituídas diversas
comissões de juristas, além de audiências públicas para o seu resultado final, que
se vê analisado nesse Manual.

Fonte: elaborado pelo autor.

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CONCEITO DE PROCESSO

Processo constitui um método de atuação do Poder Judiciário para o exercício das atividades jurisdicionais em
que participam sujeitos interessados com o objetivo de: a) solucionar uma determinada situação jurídica; b)
que o resultado desse processo possa servir de paradigma para a resolução de casos futuros (precedentes).

Em nosso entender, contudo, o desenvolvimento desse método se dá por meio de uma atividade complexa.
Assim, apenas será possível definir processo (dentre outros fatores, como será visto), pelo aspecto da relação
jurídica processual entre autor, réu e juiz somado ao procedimento em contraditório.

Explica-se.

O Estado e as partes estão interligados por uma série de vínculos. Esses vínculos conferem às partes o direito/
ônus/dever de praticar atos, pois são titulares de posições jurídicas: é a denominada relação jurídica. Contudo,
a relação jurídica é apenas uma das partes, uma vertente, da definição maior que se agrega também ao
procedimento. Dessa forma, processo é uma entidade complexa com a soma da relação jurídica (seu aspecto
intrínseco) com o procedimento (seu aspecto extrínseco).

O procedimento (que liga a petição inicial até a satisfação do processo) é marcado por uma série de posições
jurídicas afetas ao juiz e às partes. Por ser o processo fenômeno eminentemente dinâmico, essas posições são
alteradas conforme os atos que se sucedem ao longo da cadeia procedimental (assim, o réu não pode recusar
a citação, pois constitui uma obrigação, mas, uma vez citado, tem o ônus de se defender, que se encerra
numa faculdade). Dessa, essas relações são dinâmicas não apenas porque o processo avança, mas porque as
posições processuais tendem a mudar ao longo do procedimento com diferentes poderes, ônus, deveres e
faculdades.

Essa sucessão de atos tem previsão legal e guarda, em princípio, uma estrita sequência lógica. Em princípio
porque, a despeito da previsão legal, os atos do processo podem ser alterados em sua ordem original,
podendo ser acrescidos atos até então não existentes, suprimidos atos desnecessários aos objetivos daquele
caso, tudo em atenção à flexibilização procedimental decorrente de convenção processual genericamente
prevista nos arts. 190, 191, 139, IV, 536 e 537 do CPC.

Esses artigos são reforçados pelo inciso VI do art. 139 do CPC, em que poderá o magistrado “dilatar os prazos
processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de
modo a conferir maior efetividade à tutela do direito” (BRASIL, 2015, [s. p.]) e pelo § 2º do art. 437 do CPC:
“Poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar o prazo para manifestação sobre a prova documental
produzida, levando em consideração a quantidade e a complexidade da documentação” (BRASIL, 2015, [s. p.]).

A existência dos procedimentos especiais não é suficiente para a aderente e justa prestação da tutela do
direito material. Isso porque essas (importantes) técnicas são criadas à luz do direito material em abstrato. É
necessário, em complemento, municiar as partes e o juiz com instrumentos de adaptação do procedimento
com base no caso concreto. Esse é o motivo da existência dos negócios jurídicos processuais, pois muitas
questões não têm como os sujeitos do processo anteverem e somente será vivenciada com o procedimento in
concreto.

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Assim, de cada fato surge uma posição jurídica, e do próximo ato a ser praticado decorre uma nova posição
jurídica (deveres, poderes, ônus, faculdades) e sucessivamente.

Se olharmos uma hipotética linha do tempo, podemos verificar que o processo caminha pelo procedimento
(sucessão de atos encadeados logicamente) e para cada ato se exige uma determinada posição jurídica que
vincula uma parte a outra e essas ao juiz (relação jurídica).

Contudo, especialmente pelo redimensionamento do princípio do contraditório à luz do atual CPC, o processo,
como método de trabalho, deve prestigiar a efetiva participação dos sujeitos interessados, que constitui o
núcleo desse princípio.

É até intuitivo: se o procedimento é desenvolvido precipuamente para a atividade das partes e que estas
possam demonstrar a existência do seu direito ou contradireito, elas devem participar do procedimento em
contraditório (arts. 9º e 10, CPC). O contraditório constitui a legitimação do procedimento.

É por isso que aumentam os números de adeptos à teoria do processo como procedimento em contraditório,
havendo quem entenda ser necessário haver do processo “uma visão participativa, policêntrica, por força da
qual juiz e partes constroem, juntos, seu resultado final”. (CÂMARA, 2022)

Contudo, acreditamos que falar que o processo constitui procedimento em contraditório é muito mais dizer
que a necessidade de participação das partes decorre do devido processo legal do que propriamente
estabelecer uma definição de processo.

Como bem observado por Dinamarco e Lopes (2017),

definir o processo mediante associação do procedimento ao contraditório ou inserir em


seu conceito a relação jurídica processual são apenas dois modos diferentes de ver a
mesma realidade. São perspectivas diferentes que não distorcem essa realidade nem se
excluem reciprocamente, antes se complementam – uma perspectiva política
representada pela exigência do contraditório e uma perspectiva técnico-processual na
qual se revelam aquelas posições jurídicas ativas e passivas.

Assim é que o processo é composto pela relação jurídica e o procedimento (que obrigatoriamente deve ser
exercido em contraditório). Todavia, em tempos atuais, o processo assume um conceito muito mais
abrangente, pois ao conceito exposto se agregam outras características inerentes à sua correta definição.

O processo é um reflexo das atividades exercidas pelos poderes no plano constitucional, em especial, o Poder
Legislativo e o Poder Judiciário. Pelo legislativo, na obrigatoriedade de se traçar a criação de processo (e
procedimentos) que atendam às técnicas de direitos fundamentais processuais (devido processo). Da mesma
forma, os juízes devem estabelecer esse controle constitucional criando negócios jurídicos processuais que
atendam à tutela material de forma mais justa e efetiva; declarando a inconstitucionalidade concreta de
normas que sejam contrárias aos valores previstos na CF; valendo-se de técnicas para permitir a devida

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isonomia e prestação adequada da tutela jurisdicional como a concessão de tutela provisória, inversão do
ônus da prova, concessão de medidas executivas atípicas. Juiz não pode apenas “administrar o jogo”, mas
fazer valer as regras processuais e constitucionais para a garantia de um processo justo e équo.

Não se pode confundir processo com autos do processo. Esse é a documentação dos atos do processo de
forma física ou eletrônica.

Assim, processo é:

Quadro 2 | Autos do processo

Uma relação
Envolve ao menos três sujeitos de direito (juiz, autor e réu): conceito estático.
jurídica

Um procedimento Constitui um conjunto de atos concatenados para a obtenção da tutela


jurisdicional e com a participação das partes (contraditório e colaboração)
em contraditório para conferir legitimidade a esse procedimento: conceito dinâmico.

Formador de O juiz, por meio do processo, criará a solução (norma) que regulará o caso

norma jurídica concreto.

Criador de
Pelo processo, o magistrado decide o caso concreto, que poderá (ou deverá,
precedentes caso se enquadre no art. 927, I, II e III, CPC) servir de precedente para
aplicação em processos análogos futuros.
(vinculantes ou facultativos)

Os primeiros na criação de leis processuais que atendam aos direitos


UM REFLEXO DAS ATIVIDADES
fundamentais. O Poder Judiciário na concretização desses direitos
ESTRUTURANTES DO
fundamentais dentro do processo, ainda que não haja lei prevendo nesse
LEGISLATIVO E DO JUDICIÁRIO
sentido ou em sentido contrário.

Fonte: elaborado pelo autor.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

O legislador estabelece a observância de algumas regras necessárias para que o processo exista e se
desenvolva regularmente. A este conjunto de regras ficou convencionado a denominação pressupostos
processuais. Os pressupostos processuais agem como uma espécie de “filtro”, com o objetivo de impedir a
passagem de pretensões manifestamente infundadas.

Classificação dos pressupostos processuais

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O exame destes pressupostos parte da premissa de que sua criação decorre de requisitos voltados a
salvaguardar o interesse das partes. Por isso, a maioria dos pressupostos processuais tem essa função
(como se verá nos casos, por exemplo, da suspeição, da citação e da capacidade postulatória).

Entretanto, há outros pressupostos que visam garantir o correto exercício da atividade jurisdicional (como
o impedimento e a incompetência absoluta). Esses pressupostos são essenciais para a estruturação do
processo e não podem ser desconsiderados, mesmo que não causem prejuízo às partes. Aqui, não se trata de
impor a instrumentalidade das formas ou a primazia do mérito, já que a natureza cogente se sobrepõe.

Classificam-se os pressupostos processuais (com base no art. 485, IV e V, CPC) da seguinte maneira:

• Positivos

Pressupostos processuais de existência do processo

Demanda

O art. 2º do CPC disciplina que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial”
(BRASIL, 2015, [s. p.]).

Sendo a jurisdição inerte, é indispensável que o Estado-juiz seja provocado por meio da ação. A ação é
formalizada pela petição inicial. Esta formalização denomina-se “demanda”. Sem demanda, o processo sequer
pode ser considerado juridicamente existente.

Jurisdição

Um dos institutos menos contestados no que tange a ser alçado à categoria de pressuposto processual.
Assim, para que um processo exista juridicamente, deverá ser desenvolvido por órgão investido previamente
de jurisdição, conforme os poderes outorgados pela Constituição Federal (art. 92). Dessa forma, um processo
conduzido por um não juiz é considerado juridicamente inexistente. Importante que se entenda que, para o
preenchimento dos requisitos de existência, basta que o órgão tenha jurisdição, pois a competência, a
despeito de sua importância, constitui pressuposto de desenvolvimento, como se verá infra.

Citação

Certamente, é o instituto que mais causa dificuldades no enquadramento dos pressupostos processuais de
existência. Alguns autores[1] entendem não ser a citação pressuposto processual, e o argumento é de fato
muito coerente: a citação não seria requisito de existência, mas de eficácia do processo. Sabendo que validade
e eficácia são fenômenos que se situam em planos distintos. O processo existe desde sua propositura.

Todavia, a citação, em nossa opinião, constitui um pressuposto de existência, já que permite a


triangularização do processo, formalizando a relação jurídica entre Estado-juiz, autor e réu.

Para Bueno (2016, p. 41), a citação – como manifestação clássica do princípio do contraditório – é pressuposto
de existência para o réu. E isso porque “não haveria como conceber um processo juridicamente existente se o
réu não for citado”.

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Essa afirmação não entra em choque com os arts. 331 e 332 do CPC. Ambos os casos permitem a resolução do
processo sem citar o réu. No primeiro, a resolução se dará sem análise do mérito, já que a petição inicial não
preenche requisitos mínimos de admissibilidade, sendo inviável o prosseguimento da demanda.

No segundo, nas hipóteses previstas na lei, o magistrado já constata que a causa não terá êxito para o autor.
Nos dois casos (resolução por inadmissibilidade ou por improcedência prima facie), é desnecessária a citação.
O que não desnatura a sua imprescindibilidade, aliás, o art. 239 do CPC realça essa condição.

Nestes casos, a celeridade e a efetividade do processo relativizam o rigor do pressuposto. A propósito, o STF já
enfrentou a questão (Pleno, AI-AgR 427.533/RS) e asseverou que a regra é compatível com o modelo
constitucional do processo desde que o réu, ao ser citado (o que somente será possível com o provimento do
recurso de apelação do autor), tenha a possibilidade de levantar toda matéria respeitante ao processo, até
mesmo aquela que levou ao indeferimento da petição inicial.

Portanto, no Brasil, hoje, há quatro correntes bem delineadas:

1. Citação como pressuposto de existência (Arruda Alvim, Teresa Arruda Alvim, Enrico Tullio Liebman, Nelson
Nery e Marcelo Abelha Rodrigues).

2. Citação como pressuposto de existência para o réu (Cassio Scarpinella Bueno).

3. Citação como requisito de validade (Cândido Dinamarco).

4. Citação como condição de eficácia do processo para o réu (Fredie Didier).

• Pressupostos processuais de desenvolvimento (validade) do processo

Aqui, o processo já existe, mas, a despeito de sua existência, há outros pressupostos necessários ao
desenvolvimento válido e regular do processo.

Petição inicial apta

Não basta a existência da petição inicial (aqui, denominada “demanda”). É necessário que esta petição seja
apta, ou seja, contenha os requisitos essenciais para o seu desenvolvimento.

Todavia, é equívoco asseverar que a aptidão da petição inicial decorre do exato cumprimento do art. 319 do
CPC, pois, do contrário, dever-se-ia afirmar que a não observância do referido artigo geraria a inaptidão da
petição inicial. Entretanto, a falta de requerimento de provas e do endereço do réu não gera inaptidão da
demanda – a despeito de serem requisitos do art. 319 do CPC.

A definição de aptidão se abstrai por exclusão. Assim como a competência, a imparcialidade e a capacidade
são conceitos que somente podem ser formulados produzindo o efeito negativo (incapaz, imparcial,
incompetente). A aptidão ocorre quando não houver a inaptidão – esta, sim, definida pela lei (CPC):

[1] DINAMARCO, C. Instituições de direito processual civil. São Paulo, SP: Malheiros, 2002. p. 507.

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Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:

I – for inepta.

(...)

§ 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:

I – lhe faltar pedido ou causa de pedir;

II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o


pedido genérico;

III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

IV – contiver pedidos incompatíveis entre si.

— (BRASIL, 2015, [s. p.])

Assim, se o autor não enquadrar a sua demanda numa das hipóteses-tipo do art. 330, § 1º, por consequência,
sua petição será considerada apta.

Conforme será visto no capítulo de petição inicial (infra) à luz do atual sistema que prestigia a primazia do
mérito e a convalidação dos atos processuais, é possível afirmar que a inépcia da petição inicial somente
gerará a resolução do processo sem resolução de mérito se e quando a referida invalidade não puder ser
corrigida. Assim, se for possível emendar a petição inicial para “inserir pedido” (inciso I, art. 330), “determinar o
pedido” (inciso II, art. 330), “corrigir a narrativa para adequar a conclusão” (inciso III, art. 330) ou
“compatibilizar os pedidos cumulados” (inciso IV, art. 330), não haverá extinção do feito.

Competência do juízo e imparcialidade do juiz

Não basta que o juiz esteja investido de jurisdição. É necessário que ele também seja competente e imparcial.
A competência, conforme será estudado (infra), é a distribuição aos órgãos judiciários de suas funções e
constitui pressuposto de validade. Há quem defenda que a competência não seria pressuposto processual,
pois a sua decretação importa na remessa dos autos ao juízo competente, e não na resolução do processo
sem análise do mérito, como normalmente ocorre. Contudo, não é a consequência do ato que o caracteriza
como pressuposto processual. A própria lei, em certos casos, opta pela “extinção do processo” nos casos de
competência dos juizados (art. 51, III, da Lei nº 9.099/95). Ademais, se o mérito não poderá ser examinado por
determinado órgão (dada sua incompetência), certamente a sentença ali proferida será inválida, o que
confirma sua situação de pressuposto.

Sendo a competência pressuposto de validade, a incompetência relativa também seria alcançada? Quando se
fala em competência absoluta, os órgãos jurisdicionais são fixados peremptoriamente pela lei. Já no que se
refere à competência relativa, a despeito de ser previamente prevista em lei, esta mesma lei confere certa

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margem de liberdade aos litigantes para escolher outro órgão jurisdicional igualmente competente (veja, por
exemplo, a cláusula de eleição de foro diverso daquele em que residem autor e réu, conforme art. 63 do CPC)
[1].

Dessa forma, justamente por depender da manifestação da parte contrária, sob pena de prorrogação com a
consequente convalidação do ato (CPC, art. 65), a competência relativa não pode ser pressuposto de validade
do processo.

Já os vícios de parcialidade – impedimento e suspeição – são vícios de capacidade subjetiva do próprio juiz.
Conforme já exposto, o principal requisito para o julgamento é que seja proferido por um juiz imparcial,
desinteressado na causa e equidistante das partes.

Todavia, existem determinadas situações que podem desviar a convicção do magistrado, por motivos de
ordem familiar, pessoal ou econômica. Atento a esses casos, o legislador mapeou as situações que podem dar
ensejo a um julgamento maculado. As questões mais graves, a lei denominou hipóteses de impedimento; as
menos graves, suspeição.

Citação válida

Consoante foi ressaltado, a citação é pressuposto de existência do processo. Entretanto, o ato citatório deve
respeitar determinadas regras previstas no CPC em seus arts. 238 e seguintes.

Importante frisar que este pressuposto processual pode ser relativizado pelo princípio da instrumentalidade
das formas. A citação é ato solene, depende de uma série de requisitos previstos em lei. No entanto, se o réu
comparece espontaneamente em juízo, supre a necessidade da citação, pois o ato atingiu, por outra forma, a
sua finalidade (art. 239, § 1º, do CPC).

Capacidade postulatória

Sabe-se que os atos processuais somente podem ser praticados por quem detenha capacidade de estar em
juízo. Esta capacidade permite à parte litigar no processo sem representação ou assistência. Todavia, esta
capacidade, por si só, é insuficiente para a atividade forense, já que a postulação em juízo depende de outro
tipo de capacidade conferida somente aos advogados e denominada capacidade postulatória. Consiste na
autorização legal para atuação profissional em juízo do advogado.

Legitimação para o processo

As regras de legitimação para o processo (capacidade processual) serão mais bem desenvolvidas no capítulo
destinado às partes.

Esse é o posicionamento dominante na doutrina (Arruda Alvim, Teresa Arruda Alvim, Ernane Fidélis dos
Santos, Marcelo Abelha Rodrigues).

• Pressupostos negativos

Os pressupostos processuais negativos são aqueles que, como o próprio nome identifica, não podem existir
no processo, ao contrário dos positivos, cuja presença se faz obrigatória. Dessa forma, são situações que não
podem ocorrer, sob pena de ser cominado com as consequências impostas pela lei. Em virtude de os

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institutos que compõem os pressupostos negativos serem objeto de estudo ao longo deste Manual, confere-
se apenas uma rápida definição, remetendo o leitor aos capítulos correspondentes, que aludem, com mais
profundidade, a cada um desses conceitos.

Perempção

Ocorre perempção quando o autor deixa o processo se extinguir por três vezes sem resolução de mérito, por
abandono da causa pela hipótese do art. 486, § 3º, do CPC. Contudo, a despeito de gerar a impossibilidade de
nova propositura, a alegação de perempção poderá ser utilizada como matéria de defesa mesmo após ter
atingido as três extinções do feito.

Litispendência

Ocorre litispendência quando se distribui uma ação idêntica à que está em curso. Assim, conviveriam
contemporaneamente duas ações com as mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir. A segunda
ação proposta não pode existir, demandando a resolução do processo sem análise do mérito (art. 485, V,
CPC).

Coisa julgada

Ocorre coisa julgada quando se distribui uma ação idêntica à outra que já se findou. Essa segunda ação possui
os mesmos elementos que a anterior, já julgada (partes, pedido e causa de pedir). Essa segunda ação
proposta igualmente não pode existir, demandando a resolução do processo sem análise do mérito (art. 485,
V, CPC).

Compromisso arbitral

Compromisso firmado entre as partes, no qual se estabelece que determinado litígio não corra pelo Poder
Judiciário, mas, sim, pela arbitragem.

Há autores que entendem que o compromisso arbitral (uma espécie da convenção de arbitragem) não seria
pressuposto processual negativo[1], pois o juiz não pode decretar a nulidade de processo judicial em trâmite,
cuja causa deveria correr na arbitragem, como ocorre com a litispendência, a perempção e a coisa julgada.

WAMBIER, T. A. A. Nulidades do processo e da sentença. 4. ed. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 1998. p.
63-64.

VÍDEO RESUMO

Agora, no vídeo, você entenderá como se deu a evolução história do processo para chegar ao conceito de
processo que se tem hoje, a definição, ou melhor, as definições do processo e o papel que ele assume e, por
fim, os pressupostos processuais, que são os requisitos necessários para que o processo exista e se
desenvolva regularmente.

Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.

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 Saiba mais
Sobre o Juízo de Admissibilidade, vale muito a pena ler o seguinte texto para aprofundamento dos seus
estudos sobre pressupostos processuais:

• https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/207/edicao-2/juizo-de-admissibilidade

Aula 3

ACESSO À JUSTIÇA E MODOS ADEQUADOS DE


COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS
Conhecer e aplicar conceitos básicos de conflito, formas de resolução e atividade jurisdicional.
45 minutos

INTRODUÇÃO

A compreensão sobre as formas de composição de conflito e sua evolução história ajuda a entender o estágio
de nossa sociedade, onde estamos e as ferramentas que o operador do direito terá para a resolução dos
diversos conflitos que possam surgir.

Ao final dos estudos, haverá a devida compreensão de que não se pode fazer a denominada “justiça com as
próprias mãos” para resolver as questões pendentes de solução e que o sistema nos confere instrumentos
hábeis e eficazes para resolver os direitos, sejam eles individuais ou coletivos.

É sempre muito importante fazer o devido aprofundamento e a detida compreensão desse tema.

Bons estudos!

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O PROCESSO

Apesar de os códigos de processo civil brasileiros, ao longo da história, conviverem com as constituições
vigentes, foi apenas a partir da CF/88 que se reconheceu sua verdadeira força normativa. Isso se reflete no art.
1º do CPC, que estabelece: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e
as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as
disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Em consequência desse reconhecimento, o sistema
processual brasileiro passou a: adotar os princípios como importante fonte do direito, reconhecendo sua
categoria de norma jurídica; reconhecer a análise da funcionalidade do processo para concretizar os direitos
fundamentais, como o direito à saúde (art. 196, CF), e a autoaplicação desses direitos fundamentais (art. 5º, §

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1º, CF); promover a ampla expansão da jurisdição constitucional, em especial, com o controle de
constitucionalidade (concentrado e difuso); mostrar que a CF serve para preencher os “buracos” deixados pelo
processualista, especialmente na fase científica.

Isso é o que a doutrina denomina como neoprocessualismo, pós-positivismo ou neoconstitucionalismo.


Portanto, houve um fortalecimento dos princípios constitucionais, em especial, o do devido processo legal, do
qual se constatou a notória dificuldade de a lei regular tudo, somado às novas técnicas de produção legislativa
(cláusulas gerais e normas de conceito vago e indeterminado), bem como à complexidade dos fenômenos
sociais, à adoção dos princípios como norma, à vinculação aos precedentes e à categorização da
jurisprudência como fonte primária do direito. Dessa forma, não apenas analisa o conteúdo da norma em si
considerada como (e principalmente) também analisa sua incidência sob o enfoque (filtragem) constitucional.

Assim, compete ao Judiciário aplicar, precipuamente, o ordenamento jurídico (CPC, art. 140). A lei deve sempre
ser interpretada de acordo com a Constituição Federal. Caso o juiz, por exemplo, encontre mais de uma
solução para o caso concreto, deve escolher aquela mais rente ao interesse disciplinado na CF. Assim, se um
texto de lei der margem a várias interpretações, o juiz não deve valer-se de sua convicção pessoal, mas fazer
uso da técnica interpretação de acordo com a CF.

Assim, a Constituição Federal: i) regulamenta a tripartição de poderes e a autonomia do Poder Judiciário (art.
2º, CF); ii) regulamenta os órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CPC); iii) disciplina o cabimento dos recursos
especial, extraordinário e ordinário; iv) disciplina, igualmente, os remédios constitucionais, como o mandado
de segurança, o habeas data e o mandado de injunção; v) estabelece a previsão de alguns denominados
“precedentes vinculantes”, como a decisão em controle concentrado de constitucionalidade pelo STF e a
súmula vinculante (arts. 102, § 2º, e 103-A da CF); vi) regulamenta um sem-número de princípios com ampla
incidência na seara processual, como o do devido processo legal, o do juiz natural, o da legalidade e outros
que possuem previsão tanto na CF como no CPC (duração razoável do processo, isonomia, contraditório e
ampla defesa, inafastabilidade); vii) estabelece as garantias dos juízes (art. 95 da CF): vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos; viii) regulamenta uma série de regras de competência, em
especial, a das justiças especializadas, a da justiça federal e a competência originária dos tribunais; ix)
regulamenta o processamento dos precatórios (art. 100, CF) para os pagamentos nos casos de execução
contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910, CPC).

A Constituição, em sua função de tutelar o ordenamento, estabelece as diretrizes e os contornos da vida do


processo. Não apenas enunciando os princípios a serem seguidos, mas na estruturação do Poder Judiciário,
na fixação de competência, na previsão de determinados recursos e medidas judiciais, entre outros. No
entanto, essa função constitucional não se dá apenas de cima para baixo, ou seja, não apenas a Constituição
alimentará o processo com regras, princípios e diretrizes. O vetor pode ser visto pelo outro lado: o processo
poderá mudar as características da Constituição.

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ARBITRAGEM

Constitui mecanismo de heterocomposição, pois é uma forma de solução de conflitos, em que as partes em
litígio buscam numa terceira pessoa de sua confiança uma solução para a questão. Apesar de ser de confiança
das partes, é equidistante delas. Importante asseverar que não há nenhuma inconstitucionalidade na
arbitragem que constitui modalidade facultativa. O Supremo Tribunal Federal, em 2001, reconheceu a
autonomia das partes para eleger a arbitragem como forma de composição de conflitos e não ofende o art. 5º,
XXXV, da CF (inafastabilidade da jurisdição). Tanto não ofende que o próprio art. 3º do CPC, que reproduz
quase que fielmente o texto constitucional, estabelece no seu § 1º que “é permitida a arbitragem, na forma da
lei” (BRASIL, 2015, [s. p.]).

Assim, é equiparado aos funcionários públicos e juízes no exercício de suas funções para efeitos da legislação
penal (art. 17, Lei nº 9.307/96), o árbitro é também considerado “juiz de fato e de direito, e a sentença que
proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário” (art. 18, Lei nº 9.307/96) e “no
desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência,
diligência e discrição” (art. 13, § 6º, Lei nº 9.307/96) (BRASIL, 1996, [s. p.]).

O árbitro, não obstante, não possui poder estatal, já que não é agente público, profere decisão que vincula as
partes e forma-se título executivo judicial (art. 515, VII, CPC).

Dessa forma, profere decisão que tem força imperativa entre as partes, mas, se não cumprida, é necessário
levar ao Poder Judiciário, pois o árbitro não pode coagir as partes ao cumprimento da sentença, tampouco
praticar atos materiais, como penhora e expropriação. Igualmente, pelo mesmo fundamento, não possui
poder para permitir a imissão na posse de imóvel. Assim, “Contrato de locação. Cláusula compromissória.
Ação de despejo por falta de pagamento. Imissão na posse pelo abandono do imóvel. Submissão da questão
ao juízo arbitral. Impossibilidade. Natureza executória da pretensão. Poder coercitivo direto. Matéria atinente
ao juízo togado” (REsp 1.481.644-SP). Não se admite arbitragem em causas penais e, desde a Emenda
Constitucional nº 45, há previsão da arbitragem no campo trabalhista (CF, art. 114, § 2º). Conforme dito, vem
expressamente regulada como forma de composição de conflitos no CPC, em seu art. 3º, § 1º.

No Brasil, há duas correntes acerca da natureza jurídica da arbitragem. A primeira corrente defende que a
arbitragem constitui um equivalente jurisdicional, pois representa mais uma forma de heterocomposição ao
lado da jurisdição. Ademais, ao escolher a arbitragem, renuncia-se à jurisdição; a jurisdição exige agente
público (juiz) aprovado em concurso (art. 93, I, da CF), que constitui um poder indelegável, o que não ocorre na
arbitragem; na arbitragem, não existe a regra do juiz natural; o árbitro não pode executar suas sentenças; não
pode ser jurisdição, pois as decisões do árbitro podem ser controladas pelo Poder Judiciário; por fim, a
arbitragem apenas se aplica a uma classe específica de causas (direitos patrimoniais disponíveis), restringindo
demais essa atividade. É posição defendida por Humberto Theodoro Júnior, Luiz Guilherme Marinoni e Cassio
Scarpinella Bueno.

A segunda corrente defende que arbitragem é jurisdição (Carlos Alberto Carmona, Fredie Didier e Joel Dias
Figueira Jr.). Para essa corrente, a arbitragem seria uma jurisdição privada (ao lado da jurisdição estatal). Isso
porque: a sentença arbitral tem força própria, não precisando de homologação da jurisdição estatal para que
gere sua vinculação; ademais, é apta a formar coisa julgada, somente podendo ser alterada se a parte

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interessada pleitear ao Poder Judiciário sua nulidade nos casos previstos em lei (arts. 32 e 33, Lei nº 9.307/96);
a Lei de Arbitragem prevê a garantia da imparcialidade, tal qual na jurisdição estatal; o fato de não poder
executar suas sentenças constitui um caso de incompetência, e não de falta de jurisdição (vide a execução da
sentença penal condenatória que será no cível e inegavelmente é atividade jurisdicional).

Acreditamos que a primeira corrente é a mais acertada. O CPC aparentemente também a adotou, conforme
se verifica do § 1º do art. 3º, que coloca a arbitragem como uma exceção à inafastabilidade da jurisdição.

Ademais, o art. 42 também apresenta a arbitragem em outro plano ao estabelecer que “as causas cíveis serão
processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir
juízo arbitral, na forma da lei” (BRASIL, 2015, [s. p.]).

Apesar da tentativa de equiparação, árbitro e juiz definitivamente não se confundem. Em comum, apenas a
necessidade de ser terceiro imparcial (art. 21, § 2º, da Lei nº 9.307/96) para a solução do conflito. Aliás, no
tocante à sua imparcialidade, o art. 14, § 1º, da Lei nº 9.307/96 estabelece que “as pessoas indicadas para
funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da aceitação da função, qualquer fato que denote
dúvida justificada quanto à sua imparcialidade e independência” (BRASIL, 1996, [s. p.]). Dessa forma, as regras
de impedimento e suspeição se aplicam ao árbitro com muito mais rigor. No Poder Judiciário, é necessário
provar a parcialidade do juízo. Na arbitragem, como a relação é de confiança (art. 13, da Lei nº 9.307/96), a
mera desconfiança de uma das partes sobre o terceiro já gera o afastamento do árbitro.

O árbitro não se submete às regras de competência (e, consequentemente, do juiz natural), sendo escolhido
direta e aleatoriamente pelas partes.

Está sendo remunerado especificamente para atender àquele processo (que poderia ter recusado), ao
contrário do juiz, que deve cuidar de diversos processos e, em decorrência de sua função pública, não pode
delegá-los ou recusar o seu processamento.

A arbitragem é regulamentada no Brasil pela Lei nº 9.307/96, e agora com as substanciais alterações trazidas
pela Lei nº 13.129/2015. Pode ser constituída por meio de negócio jurídico denominado convenção de
arbitragem, que, nos termos do art. 3º da lei, pode ser tanto:

– Cláusula compromissória – convenção contratual em que as partes resolvem que as


divergências do negócio jurídico serão solucionadas pela arbitragem;

– Compromisso arbitral – aqui o litígio já existe e as partes decidem, de comum acordo,


submeter a solução desse conflito para a arbitragem.
— (BRASIL, 1996, [s. p.])

Regramento da arbitragem no Brasil

1. Disponibilidade da norma substancial a ser escolhida no caso concreto (art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei de
Arbitragem). Assim, direitos indisponíveis não podem ser submetidos à arbitragem.

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2. Para a arbitragem, o árbitro deve ser pessoa física e possuir capacidade. O árbitro enverga a condição de
juiz, sendo equiparado aos servidores públicos para efeitos penais, conforme dito.

3. A sentença arbitral não precisa ser homologada, pois possui autonomia eficacial, produzindo efeitos no
momento de sua prolação. Assim, tal qual a sentença proferida pelo Poder Judiciário, a sentença arbitral
constitui espécie de título executivo judicial (art. 515, VII, CPC). Contudo, a despeito de o árbitro decidir, por
não possuir poder de constrição, não tem jurisdição para tomar nenhuma providência executiva.

4. É possível a arbitragem com o Poder Público (art. 1º, §§ 1º e 2º, da LArb), desde que seja para discutir
direitos patrimoniais disponíveis e a autoridade pública que celebrar a convenção deve seja a mesma para
realizar acordos ou convenções.

5. A sentença arbitral poderá ser revista pelo Poder Judiciário, não no tocante ao mérito (a decisão do árbitro
é soberana), mas no tocante a aspectos formais (arts. 32 e 33 da LARb):

Art. 32. É nula a sentença arbitral se:

I – for nula a convenção de arbitragem;

II – emanou de quem não podia ser árbitro;

III – não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;

IV – for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;

VI – comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;

VII – proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e

VIII – forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2o, desta Lei.

Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a
declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.

§ 1º A demanda para a declaração de nulidade da sentença arbitral, parcial ou final,


seguirá as regras do procedimento comum, previstas na Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil), e deverá ser proposta no prazo de até 90 (noventa) dias
após o recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ou final, ou da decisão
do pedido de esclarecimentos.

§ 2º A sentença que julgar procedente o pedido declarará a nulidade da sentença arbitral,


nos casos do art. 32, e determinará, se for o caso, que o árbitro ou o tribunal profira nova
sentença arbitral.

— (BRASIL, 1996, [s. p.])

Assim, pode-se acentuar como principais diferenças:


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Quadro 1 | Diferenças entre jurisdição e arbitragem

JURISDIÇÃO ARBITRAGEM

É estatal É arbitral

É permanente É transitória

Decorre de lei Decorre da convenção das partes

Versa sobre direitos disponíveis ou


Apenas sobre direitos disponíveis
indisponíveis

Postulam pessoas capazes ou incapazes Postulam somente pessoas capazes

A sentença jurisdicional será executada no A sentença arbitral não pode ser executada perante o
Judiciário árbitro ou câmara arbitral

A decisão jurisdicional faz coisa julgada


A decisão arbitral faz coisa julgada admitindo ação
admitindo ação rescisória (art. 966, CPC) no
anulatória no prazo de 90 dias (art. 32 da LARb)
prazo de 2 anos

Fonte: elaborada pelo autor.

A Lei nº 13.129/2015 traz importantes novidades à Lei de Arbitragem, como: a possibilidade de utilização da
arbitragem pela administração direta ou indireta, quando o objeto for direitos patrimoniais disponíveis; a
interrupção da prescrição retroagindo à data de seu requerimento de instituição; as medidas cautelares
antecedentes à instituição da arbitragem; a utilização da nomenclatura “sentenças parciais” conforme o art.
23, § 1º.

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

Influenciado pela Resolução nº 125/10, que estabelece a “Política Judiciária Nacional de tratamento adequado
dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário”, o CPC atual estabeleceu, em seus arts. 165 a 175, o
regramento mínimo conferido à mediação e à conciliação, bem como a atuação do conciliador e do mediador
nesses casos. O CPC definitivamente ingressa na tentativa de incentivar as técnicas de autocomposição para
desafogar o excessivo número de demandas que trafegam no Judiciário. Está entre os poderes do magistrado
no processo (art. 139, V, CPC).

Apenas para se ter uma ideia, em 2013, o Brasil contava com, aproximadamente, 200 milhões de processos
(praticamente uma causa para cada brasileiro). O número de juízes existentes é fisicamente incompatível com
a escala industrial das causas que surgem todos os dias no Judiciário.

Alguns autores defendem que a conciliação e a mediação não constituem “formas alternativas” de composição
de conflito, mas, meios adequados para esse fim.
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A conciliação se diferencia da mediação. Na conciliação, existe uma atuação mais efetiva do terceiro, que pode
propor soluções para a resolução do conflito. Atua, preferencialmente, nos casos em que não havia prévio
vínculo jurídico entre as partes (CPC, art. 165, § 2º), como nos casos de acidente de carro ou propaganda
enganosa, em que a relação entre as partes se deu exatamente no momento que gerou a situação litigiosa. Já
na mediação, a participação do terceiro é mais reservada. Sua atividade se limita a instruir as partes para
auxiliar no objeto do litígio e para que se estabeleça um diálogo, a fim de lograr a autocomposição. O
mediador não faz proposta de acordo; deve deixar as próprias partes chegarem a esse desiderato. Isso
decorre do fato de ele atuar em casos em que já exista prévia relação jurídica entre as partes (CPC, art. 165,
§ 3º), como nas relações contratuais ou nas relações envolvendo direito de família (daquilo que for objeto de
disponibilidade).

Assim, a atuação do conciliador é mais intensa, pois este apresenta potenciais soluções para o litígio,
enquanto na mediação apenas se abre o caminho para a comunicação entre as partes.

É possível que haja conciliação ou mediação parcial que verse apenas sobre um fragmento do conflito, e as
demais, possivelmente, são levadas ao Poder Judiciário.

O conciliador e o mediador devem preencher o requisito de capacitação mínima em curso a ser realizado por
entidade credenciada a ser definida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministério da Justiça. Esse
curso permite ao mediador e ao conciliador procederem à inscrição no cadastro nacional e no cadastro dos
tribunais regionais. Posteriormente, o Tribunal remeterá os dados do conciliador ou mediador para o foro da
comarca, a fim de que conste de lista a participar das atividades de autocomposição naquele local. A escolha
do mediador e do conciliador será realizada de forma aleatória e alternada, tal qual na distribuição de uma
causa.

É possível, ainda, as partes, por negócio jurídico processual, escolherem o conciliador/mediador ou a câmara
privada para julgamento, independentemente de estar cadastrado ou não no tribunal.

Se o conciliador/mediador for advogado, estará impedido de exercer essa função na comarca em que atuar.
Igualmente, nos casos de impedimento do próprio conciliador ou mediador (por exemplo, parente de uma
das partes no processo), este deverá comunicar e devolver os autos ao juiz do processo ou coordenador do
CEJUSC para nova distribuição. Ademais, o art. 172 do CPC estabelece que “O conciliador e o mediador ficam
impedidos, pelo prazo de 1 (um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram, de assessorar,
representar ou patrocinar qualquer das partes” (BRASIL, 2015, [s. p.]).

O conciliador e o mediador, salvo nas hipóteses do art. 167, § 6º, do CPC, receberão remuneração conforme
tabela do tribunal correspondente, parametrizada pelo Conselho Nacional de Justiça.

Se o conciliador ou mediador estiver temporariamente indisponível, deve comunicar o fato ao Centro


Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), para não receber, nesse período, novas distribuições.

Por fim, será excluído do cadastro o mediador ou conciliador, sem prejuízo do processo administrativo, que:
agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou mediação sob sua responsabilidade ou violar qualquer
dos deveres decorrentes do art. 166, §§ 1º e 2º; atuar em procedimento de mediação ou conciliação apesar de
impedido ou suspeito. Ademais, de acordo com o art. 173, § 2º, CPC,

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O juiz do processo ou o juiz coordenador do centro de conciliação e mediação, se houver,


verificando atuação inadequada do mediador ou conciliador, poderá afastá-lo de suas
atividades por até 180 (cento e oitenta) dias, por decisão fundamentada, informando o fato
imediatamente ao tribunal para instauração do respectivo processo administrativo.
— (BRASIL, 2015, [s. p.])

Posteriormente, foi editada a Lei nº 13.140/15, que regulamenta a mediação entre particulares e no âmbito da
administração pública, o que gerou, como se verá, uma contradição com algumas disposições do diploma
processual.

Para melhor cumprir a função de meios adequados à autocomposição, à conciliação e à mediação, o CPC atual
didaticamente estabeleceu (assim como o art. 1º do Anexo III da Resolução nº 125, que dispõe sobre o Código
de Ética dos Conciliadores e Mediadores) princípios que norteiam as atividades para fomentar a
autocomposição entre as partes, bem como limitam a atividade dos terceiros. O art. 166 refere-se aos
princípios da independência, imparcialidade, autonomia da vontade, confidencialidade, oralidade,
informalidade e decisão informada.

• Independência: a independência constitui um dos principais pilares da condição de conciliador ou


mediador. Ao contrário da magistratura, em que há elementos objetivos para a garantia de sua independência
(inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos – art. 95 da CF). No tocante aos terceiros,
tem-se apenas um mandamento genérico. Assim: “dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão
interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se ausentes as condições
necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou inexequível”
(BRASIL, 2010, [s. p.]).

• Imparcialidade: o inciso IV do referido artigo assevera: “dever de agir com ausência de favoritismo,
preferência ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do
trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor
ou presente” (BRASIL, 2015, [s. p.]). Esse controle é feito pelo próprio terceiro e deverá recusar-se a atuar
quando se encontre em alguma situação de suspeição e impedimento (art. 148, II e III, CPC), nada impedindo
que as partes também aleguem. Ademais, não poderá o mediador ou conciliador atuar como assessor técnico
das partes ou na forma de “advogado”, a fim de que se mantenha a sua equidistância em relação às partes.

• Autonomia da vontade: como a conciliação e a mediação consistem em mecanismos de autocomposição, é


natural que o resultado desse acordo decorra da vontade soberana das partes. Assim, são vedadas pressões
externas para que o acordo seja formalizado deste ou daquele jeito. As partes têm preferência na forma como
o negócio jurídico será estabelecido. Evidente que essa autonomia de vontade sofre restrições: quando o
acordo for resultante de violação à ordem pública ou às leis vigentes (que constitui outro princípio, de acordo
com o Anexo III da Resolução nº 125), por incapacidade das partes ou quando o acordo decorrer de algum
vício, como erro, dolo, lesão, coação, estado de perigo ou fraude.

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A autonomia se aplica igualmente às regras procedimentais necessárias à autocomposição (art. 166, § 4º,
CPC). A autonomia de vontade se aplica até mesmo na possibilidade de as partes escolherem, de comum
acordo, o conciliador, mediador ou mesmo a câmara privada destinada a esse fim (art. 168, CPC). Não é
sequer necessário que esse conciliador/mediador esteja previamente cadastrado no tribunal.

• Confidencialidade: a confidencialidade não se refere especificamente ao sigilo das informações


apresentadas em audiência, mas especialmente à incomunicabilidade entre a audiência de conciliação ou
mediação e o processo judicial. O que vale dizer: aquilo que se diz em audiência de autocomposição não
poderá ser usado pelas partes futuramente no processo judicial contra a outra. Isso tem por finalidade deixar
as partes mais livres para apresentar à mesa de negociação todos os elementos possíveis para a tentativa de
costurar um acordo. Se as informações pudessem ser utilizadas no Judiciário, certamente as partes não
abririam tantas informações com medo de se prejudicarem caso o acordo restasse infrutífero. A
confidencialidade alcança não apenas as partes, mas os advogados e o terceiro imparcial que preside a
audiência e seus auxiliares (art. 166, § 2º, CPC). Dessa forma, não poderá a parte no Poder Judiciário alegar
que a outra parte admitiu o acidente ou que confessou o inadimplemento em audiência de autocomposição
de mediação ou conciliação. Contudo, as provas documentais descobertas em audiência poderão ser
produzidas no procedimento judicial e não estão acobertadas pelo manto da confidencialidade. Explica-se: a
incomunicabilidade entre conciliação/mediação e processo judicial poderá fazer com que as partes criem a
estratégia de alegar absolutamente tudo que as desabone nessas audiências, para que nada possa ser
utilizado em fase de instrução de procedimento judicial.

• Oralidade: o princípio da oralidade se opõe à documentação dos atos. Consiste, na prevalência da palavra
como forma de expressão, imediação da relação entre o juiz e as partes, permanência subjetiva do juiz na
instrução do processo, concentração do procedimento. A oralidade, além das vantagens enumeradas, tem por
pressuposto específico guardar a confidencialidade, na medida em que os depoimentos não serão
consignados em ata.

• Informalidade: até mesmo para facilitar a autocomposição, não há solenidade ou forma específica para que
se realize a mediação ou conciliação. O terceiro terá a possibilidade de conduzir da melhor maneira que lhe
aprouver, atentando aos demais princípios de modo a facilitar o acordo. Não há tipicidade de conduta.

• Decisão informada: é fundamental que os mediadores e conciliadores informem as partes sobre as


consequências do acordo e seus efeitos jurídicos. Assim, o inciso II estabelece que o terceiro tem o “dever de
manter o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está
inserido” (BRASIL, 2010, [s. p.]).

VÍDEO RESUMO

Agora, no vídeo, você entenderá como se deu a denominada constitucionalização do processo (incidência da
Constituição Federal no Código de Processo Civil e leis extravagantes), bem como as formas de composição de
conflitos, em especial, a arbitragem (Lei nº 9.307/96), a mediação e a conciliação, que são importantes
ferramentas para desafogar o Poder Judiciário.

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 Saiba mais
É fundamental a leitura de duas leis para a compreensão dos estudos:

• Lei nº 9.307/96 (Lei de Arbitragem)

• Lei nº 13.140/15 (Lei de Mediação)

Aula 4

DIREITO PROCESSUAL VERSUS DIREITO MATERIAL E


NORMAS PROCESSUAIS NO TEMPO E NO ESPAÇO
Entender as características necessárias a um ótimo líder é o primeiro passo para se tornar um.
35 minutos

INTRODUÇÃO

É importante empreender a devida análise entre o direito material (as situações de vida que levam as pessoas
a irem ao Poder Judiciário) e sua devida relação com o direito processual (a propositura da demanda em juízo
em virtude do descumprimento de alguma regra do direito material).

É ainda fundamental entender que o processo é um INSTRUMENTO que serve ao direito material, e não
apenas um mecanismo autônomo cheio de regras. Essa adequação do processo ao direito é analisada no
enfoque da tutela jurisdicional. E, ainda, o estudo sobre a interpretação das normas processuais no tempo e
no espaço.

Bons estudos!

DISTINÇÃO ENTRE AS NORMAS DE DIREITO MATERIAL E AS NORMAS DE DIREITO PROCESSUAL

Para compreender o sentido e o alcance do direito processual civil, é importante estabelecer uma importante
relação entre o direito e o processo. O direito, denominado material ou substancial, consiste num
conjunto de normas aptas a regulamentar a vida em sociedade. Isso porque os relacionamentos mantidos
entre as pessoas (físicas, jurídicas) e demais entes necessitam da devida regulamentação (ubi societas ibi ius).
Evidente que nem tudo ligado à atividade humana é preocupação do Estado, havendo as denominadas
normas meramente sociais, como a amizade, a opção pelos alimentos que se consomem ou o gosto musical.

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Aquelas que são reguladas pelo direito são denominadas relações jurídicas. O legislador, ao criar de forma
abstrata a regulação da vida em sociedade, estabelece posições de vantagem e de desvantagem da qual os
sujeitos são submetidos. São esses critérios que definem os direitos que prevalecem e, em contraposição, os
direitos que serão tolhidos.

Aqueles que ocupam uma posição de vantagem em relação à norma possuem o que se denomina direito
subjetivo. Portanto, possui um direito subjetivo aqueles a quem a norma reconhece ou confere um
determinado direito. Assim, no direito subjetivo, há um preceito que atribui um direito e a faculdade de
exercer esse direito. A soma deles confere os contornos do direito subjetivo. O direito subjetivo “é subjetivo
porque as permissões, com base na norma jurídica e em face dos demais membros da sociedade, são
próprias das pessoas que as possuem, podendo ser ou não usadas por elas” (DINIZ, 2014, p. 265).

Contudo, o direito subjetivo é oriundo da concepção clássica do processo analisado sob a ótica individual de
que somente pode se ingressar no Poder Judiciário diante de uma violação a esse direito subjetivo.

Entretanto, as mudanças qualitativas de litígio, a que a sociedade se submeteu, deram espaço aos direitos (ou
interesses) metaindividuais (transindividuais, supraindividuais). Aqui, não se trata do direito particular do
indivíduo que vai a juízo buscar um direito próprio: o direito decorre de uma situação que envolve uma
coletividade de pessoas (direitos difusos, direitos coletivos em sentido estrito e direitos individuais
homogêneos) e que podem ser concedidos até mesmo em detrimento dos direitos subjetivos
(desapropriação, por exemplo).

Esses interesses, ou direitos metaindividuais, são o resultado da moderna sociedade na qual vivemos, em que
as decisões, condutas e atitudes têm aptidão de atingir uma coletividade de pessoas transcendendo a noção
individualista do direito subjetivo (os denominados direitos fundamentais de segunda e terceira geração).

Em qualquer desses casos (direitos subjetivos ou metaindividuais), tem espaço o direito processual, que
regula um conjunto de normas criadas para garantir que o direito material seja cumprido, porque o
destinatário da norma não o cumpriu de forma espontânea, ou porque as pessoas envolvidas no litígio
possuem pontos de vista diversos sobre os fatos ou sobre o direito que deveria ser aplicado no caso, o que
poderia, por esse desacordo, impedir a realização espontânea do direito; ou porque a norma substancial
somente poderá produzir efeitos com a chancela ou homologação do Poder Judiciário (por exemplo, a
jurisdição voluntária). Em qualquer dessas hipóteses, o Estado, para cumprir o direito, poderá impor uma
sanção à parte que resiste em obedecer ao comando judicial.

A relação do direito com o processo é de autonomia, mas de plena interação, decorrente da denominada
instrumentalidade do processo em relação ao direito material controvertido. Constitui uma relação circular,
na qual o direito material idealiza a conduta da sociedade, e o direito processual realiza o direito material
quando não cumprido na prática.

Se o processo nada mais é do que a narrativa de uma situação de direito material em juízo, ele deve se
adaptar e se estruturar às peculiaridades do direito material. Por isso, há no sistema brasileiro mecanismos
para tornar o processo mais rente à realidade substancial, como os procedimentos especiais (dentro e fora do
CPC), os negócios jurídicos processuais (art. 190, CPC) e a possibilidade de adaptação do procedimento em
casos de cumulação (art. 292, § 2º, CPC).
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O direito processual se materializa por meio de um processo, que consiste (dentre diversas outras funções)
em um conjunto de atos hábeis a conferir um resultado prático ao conflito ou situação jurídica (tutela
jurisdicional). Isso só é possível porque aos juízes é conferido um poder para tornar a pretensão realidade
(jurisdição).

O Direito Processual Civil é, portanto, o sistema de normas que regulam o funcionamento e o exercício da
jurisdição civil. É ramo do direito público, porque regula a relação não somente das partes (quando o
processo é subjetivo) ou de legitimados (em processos objetivos), mas conta com a participação efetiva do
Estado-juiz na condição de exercente do poder estatal que resolverá a questão.

MITIDIERO, D. Processo Civil. São Paulo, SP: RT, 2021. p. 23. O autor exemplifica divergência de fato como a
discussão se a entrega de um bem foi dado em doação ou comodato.

TUTELA JURISDICIONAL

O ponto de partida para a compreensão da tutela jurisdicional reside no art. 5º, XXXV, da CF, e no art. 3º do
CPC, que a um só tempo preconiza o princípio da inafastabilidade (ou ubiquidade) do acesso à justiça e da
efetividade da jurisdição.

Ao se estabelecer que não se pode excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito,
confere-se ao Estado o dever de analisar a tutela de um direito que a parte alega possuir.

É obrigação do Estado responder a essa “provocação” da parte, ainda que para dizer, à luz do ordenamento
jurídico, que ela, parte, não tem razão. O que não se pode é deixar o processo sem resultado (non liquet).

Tutela, no sentido léxico, é a proteção, a salvaguarda do direito que a parte possui, já que em nosso
ordenamento não se pode (salvo raríssimas exceções) fazer justiça com as próprias mãos.

Mas, o que vem a ser tutela jurisdicional, então? A expressão “tutela jurisdicional” é, no plano doutrinário,
polissêmica. Ela significa os meios para a obtenção do resultado do processo, o pedido requerido ao Estado,
ou os efeitos práticos desse pedido.

Entendemos que a tutela jurisdicional é, num primeiro momento, a realização prática, a materialização
daquilo que a parte requer no Poder Judiciário. No entanto, esse conceito é insuficiente, pois a tutela
jurisdicional deve proteger ambas as partes, ou seja, a tutela será outorgada a quem tem razão e a quem não
tem razão.

Há quem defenda que a tutela jurisdicional seja a análise do processo sob o enfoque de quem tem razão. Com
base nesse argumento, todos poderiam postular em juízo (direito de petição); quem preenchesse os
requisitos de admissibilidade, os pressupostos e as condições da ação teria direito a um provimento
(inafastabilidade), mas apenas quem esteja amparado pelo direito material usufrui da tutela jurisdicional.

Não concordamos com essa posição.

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O vencedor, à luz do direito material, terá a tutela jurisdicional, podendo usufruir, in natura, do bem ou direito
postulado. A outra parte também recebe a tutela jurisdicional (= proteção do Estado), no sentido de se
declarar a inexistência do direito que postula (ou resiste).

O réu, quando o pedido do autor é julgado improcedente, recebe a tutela jurisdicional ao se garantir a não
afetação de sua esfera jurídica. É o que ocorre, outrossim, com a ação declaratória de inexistência jurídica
com pedido julgado procedente.

A resolução do processo sem análise do mérito (art. 485, CPC) não gera tutela jurisdicional propriamente dita,
pois não há a outorga do direito a quem assiste razão. Contudo, de certa forma, constitui uma tutela
jurisdicional para o réu (ainda que mitigada), pois a decisão terminativa impede a invasão na sua esfera
jurídica, o que é sua pretensão. É mitigada, contudo, pois essa decisão, em regra, não fica acobertada pela
coisa julgada material, permitindo a nova propositura da demanda sob os mesmos fundamentos.

Dessa forma, é possível definir tutela jurisdicional como a proteção concreta dada pelo Poder Judiciário,
dentro do processo, aos direitos que lhe são apresentados.

Não se pode, por fim, confundir tutela jurisdicional com prestação jurisdicional, já que esta consiste na
atividade (serviço) exercida pelo Poder Judiciário em sentido lato (juízes e auxiliares).

INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL. NORMAS PROCESSUAIS NO TEMPO E NO ESPAÇO. EFICÁCIA

TEMPORAL

O direito intertemporal é regido pelos arts. 14, 1.045, 1.046 e 1.047 do CPC. Só têm interesse para o seu
estudo para os processos pendentes: os findos, em decorrência da segurança jurídica processual, foram
acobertados pela coisa julgada (art. 5º, XXXVI). Aos processos vindouros, obviamente, aplica-se a lei nova.

É importante entender duas questões distintas:

1. Entrada da lei em vigor: esta segue a regra aplicável a todas as leis em geral. Compete ao próprio
legislador estabelecer o prazo da vacatio legis. Caso não haja essa previsão, será de 45 dias depois de
oficialmente publicada (art. 1º, LINDB) e perdura até que outra lei posterior a revogue de maneira expressa ou
por incompatibilidade.

2. Aplicação da lei nos processos em cursos: nesse caso, há três sistemas que explicitam a aplicação do
direito intertemporal:

a. O sistema da unidade processual, segundo o qual o processo em trâmite se encerrará com a lei que a ele
deu início.

b. O sistema das fases processuais, pelo qual a nova lei apenas passa a incidir na mudança de fase (sabendo
que se trata das fases postulatória, instrutória e decisória).

c. O sistema da imediatidade da aplicação da lei processual, cujas novas regras incidem nos processos
pendentes, dentro da mesma fase, mas respeitando o direito adquirido processual. O sistema brasileiro adota
essa posição (arts. 14, 1.046 e 1.047, CPC).

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Isso porque cada ato do processo tem a devida proteção para o caso de mudança legislativa.

Quanto aos processos pendentes, objeto deste estudo, a nova lei processual os atinge diretamente a “partir
de então”, sendo constitucionalmente vedados os efeitos retroativos da nova lei a situações consolidadas. A
retroação da lei ou a aplicação da lei mais benéfica apenas tem importância em algumas situações de direito
material.

O processo, como procedimento dinâmico que perdura no tempo, deverá, para a perfeita compreensão da
aplicação da nova lei, proceder ao isolamento dos atos. Estes (que em si são concatenados aos outros)
possuem um grau de proximidade e dependência variado a depender da etapa processual e das
especificidades dos próprios atos.

O CPC entrou em vigor um ano após sua publicação oficial (art. 1.045, CPC). Como foi publicado no dia 17 de
março de 2015, apenas no dia 16 de março de 2016 o novo Código de Processo Civil entrou em vigor.

É importante enfrentar algumas questões de direito intertemporal:

Quadro 1 | Tópicos do direito intertemporal

Aplica-se a lei anterior mesmo na fluência do prazo de recurso. Assim, a


abertura do prazo recursal enseja uma situação jurídica pendente. Isso
Recursos quer dizer que, se a decisão foi publicada no dia 14 de março de 2016, será
utilizado o recurso da lei antiga, ainda que este não mais exista ou tenha
prazo diverso da lei nova.

Se o CPC atual entrou em vigor enquanto pendente uma ação que corre
pelo rito sumário ou algum outro procedimento especial que tenha sido
extinto pelo diploma novo (por exemplo, usucapião judicial ou ação de
Procedimentos
depósito), o procedimento da lei antiga permanece até a sentença, quando,
então, desaparece a especialidade do procedimento seguindo o regime da
lei nova.

Salvo as alterações/revogações empreendidas pelo CPC (arts. 1.060 a


Legislação extravagante
1.072), mantém-se a legislação extravagante em vigor.

Se a prova foi requerida ou determinada de ofício antes da vigência desse


Provas
Código, aplicam-se as normas do diploma anterior.

Fonte: elaborado pelo autor.

É recomendável a leitura dos Enunciados administrativos 2 a 4 do STJ, bem como os Enunciados 267, 268, 275,
295, 308, 311, 341, 354, 355, 356, 479, 567 e 568 do Fórum Permanente dos Processualistas Civis.

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Quanto à lei processual no espaço, aplica-se o princípio da territorialidade das leis processuais, o que vale
dizer, o juiz aplicará as leis apenas circunscritas ao local em que exerce jurisdição. Assim, o CPC é norma
obrigatória em todo território nacional.

Nada impede, contudo, que um processo tramitando no Brasil, seguindo as regras do nosso CPC, o direito
material controvertido seja decidido com base em direito estrangeiro (por exemplo, art. 10, LINDB).

É o que se estabelece no art. 13 do CPC: “A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras,
ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o
Brasil seja parte” (BRASIL, 2015, [s. p.]); e no art. 16 do CPC: “A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos
tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código” (BRASIL, 2015, [s. p.]).

Contudo, há duas exceções:

• Os tratados, as convenções e os acordos internacionais em que o Brasil seja parte (art. 13, parte final, CPC).

• No plano probatório, prevalece a lei estrangeira quando o contrato ou negócio jurídico outro é praticado em
outro país, ainda que a demanda seja apresentada em território nacional (art. 13, LINDB).

VÍDEO RESUMO

Agora, nesse vídeo, você entenderá a distinção entre o direito material e o direito processual. A adequação
desses dois fenômenos (que se dá por meio do que chamamos de instrumentalidade) é analisada sob a ótica
da tutela jurisdicional. Por fim, a análise interpretativa do processo civil no tempo e no espaço.

 Saiba mais
Recomendo a leitura do artigo Tutela Jurisdicional: finalidade e espécies , do Ministro Luiz Fux.

REFERÊNCIAS
6 minutos

Aula 1

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
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Acesso em: 6 set. 2022.

https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3315112 35/37
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BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF: Presidência da República,
[2022]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 6
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BRASIL. Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília, DF: Presidência da
República, [2022]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm.
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BRASIL. Lei nº 8.009, de 29 de março de 1990. Dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família. Brasília,
DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8009.htm.
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Aula 2

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tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências.
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Aula 4

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Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
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DINIZ, M. H. Compêndio de introdução à ciência do direito. 25. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2014.

SÁ, R. M. D. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo, SP: Saraiva, 2022. Disponível em:
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Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.

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