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1
Ana Cristina de Souza Serrano Mascarenhas
acrismascarenhas@hotmail.com
2
Natal dos Reis Carvalho Júnior
reticenciasguaxupe@hotmail.com
RESUMO
O Direito Processual ganhou autonomia cientifica e destacada importância prática na rotina forense.
Esse acentuado relevo dado às regras processuais pelos trabalhadores do direito geram vasta
quantidade de demandas solucionadas por meio de regras processuais, ou seja, sem o julgamento de
mérito. A Jurisdição, na medida em que busca a pacificação social e a solução de conflitos, somente
se concretiza na proporção em que consegue oferecer resposta de mérito as questões que lhe são
como instrumento de concretização do Direito material sem, contudo, diminuí-lo ou restringir sua
verdadeiramente democrático.
Palavras-chave:
1
Advogada, graduada pela Faculdade de Direito de Franca, Mestra em Gestão e Políticas Ambientais
pela Universidade de Évora, pós-graduada em Direito do Ordenamento do Território, do Urbanismo e
do Ambiente pela Faculdade de Direito - Universidade de Coimbra (2008); Professora e coordenadora
do Curso de Direito do Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé.
2
Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba; Advogado; Especialista em ciências
criminais pela Faculdade de Direito de Curitiba; Ex-procurador Geral do Município de Guaxupé, Minas
Gerais; Especialista em Administração Pública e Gerência de Cidades pelo Centro Universitário
Internacional de Curitiba; Professor dos Cursos de Direito e Serviço Social do Centro Universitário da
Fundação Educacional Guaxupé.
2
Introdução
3
DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil – Introdução ao Direito Processual Civil e Processo
de Conhecimento. 15ª Ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2013, p. 105.
3
Ficando, destarte, a jurisdição entregue ao monopólio do Poder Judiciário ela acontecerá para
que seja retirada da mão dos particulares a solução dos conflitos e banida do seio do Estado a
vingança privada. Em última análise a jurisdição ao tomar para si a responsabilidade pela solução dos
conflitos pretende promover a pacificação social. Assim lecionam Antonio Carlos de Araújo Cintra,
Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:
O poder jurisdicional não pode em um estado democrático ser simples exercício de poder. É a
finalidade e o interesse social a ele atribuídos que o legitimam com todas as suas características, de
modo especial, a imperatividade ou coercibilidade que fará com que a decisão tomada pelo poder
judiciário deva ser cumprida pelas partes que lhe submeteram o conflito de interesses, independente
de suas concordâncias ou divergências em relação a decisão tomada .
Também o processualista Rinaldo Mouzalas em sua obra assevera a pacificação social como
objetivo da jurisdição em que se destaca um escopo social, político e jurídico:
Na seara do Processo Penal, Aury Lopes Jr destaca a adoção da pena pública em que o
Estado substituiu a vingança privada e descreve a construção da jurisdição criminal a partir da
implantação de critérios de justiça:
4
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37ª ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros,
2014. p.560.
5
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Candido Rangel. Teoria Geral
do Processo. 29ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2013. pág. 24.
6
MOUZALAS, Rinaldo. Processo Civil. 7ª ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2014, p. 53.
7
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007. p.04.
4
É assim que a ideia de jurisdição e, consequentemente, de processo não pode mais ser
concebida isolada de fundamentos que os coloquem a serviço da realização da pacificação social
pretendendo gerar a concretização da justiça.
É pertinente para compreensão do tema proposto a divisão que se faz entre direito material e
direito processual. Essa divisão, que permite dois grandes agrupamentos diferentes de regras
jurídicas, auxilia na compreensão dos objetivos e da natureza tanto das áreas que se vinculam ao
direito material, quanto aquelas que se vinculam ao direito processual.
Primeiro, quanto ao direito material percebemos que ele traduz uma relação direta com o bem
jurídico que se almeja ou que se pretende tutelar. Vejamos a definição trazida por Marcus Vinicius
Rios Gonçalves que vincula o direito material a um interesse primário do titular desse mesmo direito:
Luiz Rodrigues Wambier, Flávio Renato Correia de Almeida e Eduardo Talamini ensinam que
as regras de direito material são aquelas que criam, regem ou extinguem relações jurídicas:
Regra geral é possível afirmar que todas as normas que criam, regem e extinguem
relações jurídicas, definindo aquilo que é lícito e pode ser feito, aquilo que é ilícito e
não deve ser feito se constituem em normas jurídicas de direito material. Tratam
estas normas das relações jurídicas que se travam no mundo empírico, como,por
exemplo, as regras que regulam a compra e venda de bens, ou disciplinam o modo
como deve ocorrer o relacionamento entre vizinhos, ou como se espera um negócio
no âmbito financeiro, etc. Trata-se de regras que, em resumo, regulam as relações
jurídicas, em geral, excluída a matéria relativa a disciplina dos fenômenos que se
10
passam no processo, inclusive da relação jurídica processual base .
Assim, as regras de direito material terão íntima relação com os valores e os desejos que os
jurisdicionados buscam diante da jurisdição. De outro lado, encontram-se as normas de direito
processual. Vejamos a definição de Marcus Vinicius Rios Gonçalves:
8
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Candido Rangel. op cit. p.25.
9
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 3ª ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2013. p.38.
10
WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo
Civil. Vol.1. 7ª ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.58.
11
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. op.cit. p.39.
5
3. Instrumentalidade do processo.
A partir das reflexões anteriores que colocam o surgimento do processo a partir da frustração
da regra de direito material, surge uma importante característica do processo a ser debatida. Essa
característica é a sua instrumentalidade para a consecução do direito material. Todavia,
preliminarmente é preciso que se ressalte que o processo contemporâneo possui autonomia. Nesse
sentido Cintra, Grinover e Dinamarco:
Contudo, se de um lado o processo se firma como disciplina jurídica autônoma com regras,
autonomia legislativa e principiologia própria, por outro lado a sua instrumentalidade é marca que o
distinguirá dos ramos do direito material. Vejamos ainda Cintra, Grinover e Dinamarco:
12
WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato; TALAMINI, Eduardo. op. cit. p.59.
13
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Candido Rangel. op cit. p.47.
14
Ibidem, p. 41.
6
do processo que denomina instrumentalismo, destacando que essa característica do processo não o
torna hierarquicamente inferior a nenhum outro ramo do direito:
Para a compreensão do raciocínio de Didier vejamos o que o professor Joaquim José Calmon
de Passos assevera a respeito do assunto combatendo a ideia de que possa existir uma
instrumentalidade do processo:
Didier, muito embora concorde com o pensamento do Mestre Calmon de Passos, entende
que esse pensamento não é incompatível com a instrumentalidade do processo, mas ao contrário
que é o argumento complementar, e segue defendendo a ideia de instrumentalismo como podemos
perceber em suas lições:
Com isso percebemos que o direito processual não se coloca hierarquicamente inferior ao
direito material, mas ao seu lado e para a sua plena consecução. A ideia de instrumentalidade do
processo não vem se referir a uma subordinação ao direito material, mas alertar o processo de sua
missão e dos princípios a que está vinculado.
Sobre a instrumentalidade do processo Marcos Vinicius Rios Gonçalves:
15
DIDIER JR, Fredie. op. cit., p. 25.
16
PASSOS, Joaquim José Calmon de. Instrumentalidade do processo e devido processo legal. Revista de
Processo. São Paulo: RT, 2001, n.102, p.64.
17
DIDIER JR, Fredie. op. cit., p. 26.
18
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. op.cit. p.39.
7
O professor Rinaldo Mouzalas esclarece que a lei instrumental, em virtude de sua natureza,
funciona, como regra, de critério de proceder e não como um critério de julgamento, diferente das leis
materiais:
Destaca-se que Mouzalas faz importante reflexão a respeito do conteúdo ético do processo
em virtude de seu caráter instrumental:
19
MOSSIN, Heráclito Antônio. Compêndio de Processo Penal: curso completo. Barueri, SP: Manole, 2010,
p.61.
20
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 8ª ed. São Paulo: Ltr, 2010.
p.61.
21
MOUZALAS, Rinaldo. op. cit., p. 49.
8
Houve época no Direito Romano, em que a forma era mais importante que o
ato, pois a rigidez das regras traçadas pelos sacerdotes impunham uma verdadeira
teatralização, obrigando os envolvidos a repetir fórmulas e modelos precisos, sob o
risco de, inobservada a forma, perder a demanda, como aquele litigante que usou a
expressão “vitis” (videira), quando a lei prescrevia “arbor” (arvore).
Tal absurdo nos dias de hoje é inconcebível. O processo não existe para
23
cultuar a forma, mas para dar razão a quem efetivamente a tem .
Logo, a instrumentalidade das formas (positivada nos artigos 154 e 250 do Código de
Processo Civil) reflete um compromisso do processo com a sua finalidade que acaba por refletir no
próprio caráter instrumental do processo, que ao lado do direito material se coloca diante da
jurisdição para cumprimento de seus objetivos.
A Emenda Constitucional 45/2004 que promoveu a Reforma do Poder Judiciário criou e dotou
de grande força o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como mecanismo capaz de auxiliar na
promoção da celeridade processual e dar transparência ao Poder Judiciário. O Conselho, então,
passou a acompanhar a produtividade dos magistrados e apresentar metas a serem cumpridas.
Todavia, constata-se com preocupação que nas suas prestações de contas o Conselho Nacional de
Justiça não diferencia as decisões de mérito das decisões terminativas, ou pelo menos não
24
diferenciou em seu último relatório completo . Essa falta de dados específicos com relação as
decisões processuais pode gerar uma falsa sensação de aumento da prestação jurisdicional e um
estímulo as decisões terminativas que não são capazes de promover pacificação social e justiça.
Diante das reflexões feitas até o momento é importante frisar-se que o direito processual,
muito embora cumpra função instrumental em relação ao direito material e a própria jurisdição, possui
papel fundamental diante da Constituição Brasileira e do Estado Democrático de Direito. É por essa
razão e também por ser fundamental a concretude do direito material que não se coloca em posição
hierárquica inferior aos ramos do direito material. É também com vistas a sua missão constitucional e
o seu papel de garantidor da democracia diante da jurisdição que se estabeleceu uma nova fase na
evolução do direito processual chamada de neoprocessualismo, direito processual constitucional, ou
ainda, formalismo valorativo.
Fredie Didier Jr. comenta a respeito da constitucionalização do direito processual e seus
principais aspectos como marcas de um processo contemporâneo e que pode ser analisado a partir
de duas dimensões:
22
Ibidem, p. 50.
23
WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato; TALAMINI, Eduardo. op. cit. p.178.
24
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2014: ano base 2013: Brasília: CNJ,
2014.
9
O processualista Didier ainda destaca aspectos desse novo modelo teórico que aplica o
processo a partir de um repertório constitucional, marcando uma nova etapa na evolução do processo
brasileiro:
Cintra, Grinover e Dinamarco em sua obra Teoria Geral do Processo também destacam o
necessário exame do processo contemporâneo a partir dos valores constitucionais, que se revelam
através dos princípios constitucionais e da jurisdição constitucional. Para os autores, o direito
processual constitucional é um método de exame da ciência do processo:
Conclusões
a) O Direito Processual Brasileiro ganhou robustez e grande autonomia científica o que lhe
confere grande destaque junto às ciências jurídicas. Seus institutos ganharam complexidade e
mecanismos sofisticados. Isso por um lado gera mais oportunidade de participação das partes no
processo. Porém, de outro lado, é perceptível, por conta dessa mesma complexidade e sofisticação,
um aumento nas decisões processuais que extinguem o processo sem julgamento do mérito, além de
em significativo número de casos uma demora desarrazoada para se obter o trânsito em julgado com
a efetiva prestação jurisdicional.
b) Diante dessa problemática é preciso ocupar-se da reflexão de que o jurisdicionado não
procura o Poder Judiciário para obter uma decisão processual, mas sim uma decisão de mérito que
efetivamente apresente uma resposta sobre o bem jurídico da lide.
c) A jurisdição existe para a pacificação da sociedade e para a promoção da justiça por meio
da solução de conflitos e o processo é o mecanismo de que se vale a jurisdição para o alcance
dessas finalidades.
25
DIDIER JR, Fredie. op. cit., p. 33.
26
Ibidem, p. 32.
27
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Candido Rangel. op cit. p.79.
10
REFERÊNCIAS
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Candido Rangel.
Teoria Geral do Processo. 29ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2013.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2014: ano base 2013: Brasília: CNJ,
2014.
DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil – Introdução ao Direito Processual Civil e
Processo de Conhecimento. 15ª Ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2013.
FILHO, Misael Montenegro. Curso de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Processo e
Processo de Conhecimento. Vol.1. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009.
FILHO, Vicente Greco. Direito Processual Civil Brasileiro. Vol.1. 21ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil esquematizado. 3ª ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2013.
JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil: Teoria do Direito Processual
Civil e Processo de Conhecimento. Vol. 1. 50ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 8ª ed. São Paulo: Ltr,
2010.
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007.
MOSSIN, Heráclito Antônio. Compêndio de Processo Penal: curso completo. Barueri, SP: Manole,
2010.
MOUZALAS, Rinaldo. Processo Civil. 7ª ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2014, p. 53.
PASSOS, Joaquim José Calmon de. Instrumentalidade do processo e devido processo legal.
Revista de Processo. São Paulo: RT, 2001, n.102.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37ª ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2014.
WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de
Processo Civil. Vol.1. 7ª ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.