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APOCALIPSE

CURSO DE EXTENSÃO – PUC/SP

AULA 3- O GRANDE JULGAMENTO: Ap 10 - 18

ASSESSORA: Ma Izabel Patuzzo - MdI


APOCALIPSE
Uma grande narrativa teológica para fortalecer o
discipulado nas comunidades joaninas da Ásia
Menor

NARRAR A FÉ PARA AJUDAR A


COMUNIDADE RESISTIR A HOSTILIDADE,
AMEAÇAS E SUSCITAR A ESPERANÇA.
O livro do Apocalipse inclui
diversos corpus literários
capaz de combinar seu
caráter epistolar com uma
linguagem apocalíptico-
profética dentro de uma
moldura narrativa.
A TRAMA NARRATIVA DO LIVRO DO APOCALIPSE

1)Exposição ou situação inicial: Prólogo


Mensagem às sete Igrejas;

2) Complicação ou questão incitante: Visões proféticas;

3) A ação transformadora: Deus julga a história

4) Solução ou desenlace Destruição da Babilônia


da complicação: e o reinado de Cristo

5) Situação final: Deus cria o novo céus e a


e a nova terra.
E nesta narrativa João relata o que lhe aconteceu na
ilha de Patmos. Ele descreve o que viu e ouviu
quando foi conduzido pelo Espírito a contemplar os
céus, transmitindo aos seus ouvintes e leitores sua
experiencia mística como narrador e personagem de
uma história artisticamente contada como um drama
cósmico.
Este drama chega ao clímax de seu conflito nos
capítulos centrais, narrando a grande luta do bem
contra o mal.
Deus julga a história e restaura a obra da criação.
1,1-8: Prólogo

1,9 - 3,22: Primeira visão: visão inaugural e a carta às sete igrejas

4,1 - 5,14: Segunda visão: o trono celeste

6,1-17; 8,1-5: Terceira visão: os sete selos

7,9-17: Quarta visão: quatro anjos (primeiro interlúdio)

8,6-9,21; 11,14-19: Quinta visão: as sete trombetas

10,1-11,13: Sexta visão: sete trovões (segundo interlúdio)

12,1-15,4: Sétima visão: a mulher e o dragão (terceiro interlúdio)

15,5-16,21: Oitava visão: as sete taças

17,1-19,10: Nona visão: a queda da Babilônia

19,11-21: Décima visão: o cavaleiro montado no cavalo branco

20,1-15 Décima primeira visão: o milênio


No Novo Testamento o verbo
διηγέομαι (narrar) frequentemente
está relacionado com o ato de
explicar, descrever, relatar de forma
ordenada, os eventos a respeito de
Jesus Cristo, e a proclamação da fé
cristã na comunidade (cf. Lc 1,1;
8,39; 9,10; Mc 5,16; At 9,27).
O desígnio teológico do enredo do
livro do Apocalipse evoca uma série de
imagens que apresentam um Deus
transcendente, fonte de vida, e todas
as criaturas do céu da terra
reconhecem que Ele é o Senhor da
história; Ele governa o universo do
princípio ao fim:
Ap 10, 1-11 – O anjo
poderoso é de uma
dignidade excepcional –
entrega o livrinho para que
aquele que recebe tenha
um espírito profético.
O v. 7 implicitamente fala
do grande julgamento.
Ap 11,1-14 – As duas Testemunhas

Um personagem angélico aparece diante do vidente


para medir o Templo.
O texto caracteriza-se por uma linguagem litúrgica
sacerdotal.
As duas testemunhas : Elias e Moisés – Lei e os
Profetas;
O testemunho da Igreja é apresentado aqui como a
realização da profecia.
Ap 12 : A mulher, seu filho e o Dragão
O dragão é a personificação hierárquica do poder que
persegue a mulher. Ele tem poder sobre a besta.

O dragão é precipitado para a terra, lugar de seu domínio.


Ele acusa os fiéis diante de Deus. Mas, é derrotado pelo
Cristo.

A vitória do Cordeiro é também a vitória de seus


seguidores.

A comunidade dos fiéis não estão mais à mercê do dragão.


Ap 13 – As duas Bestas
- A primeira besta vem do mar e a segunda vem da terra. Elas
são criaturas do dragão. A simbologia remete ao sistema
imperial romano.
- O imperador governa as províncias por meio de autoridades
políticas locais.
- Os governadores das províncias reproduzem a ordem política
em todo império.
- Diademas, coroas, chifres, blasfêmias são símbolos políticos,
vinculados à blasfêmias – implicitamente falando o cultor
imperial. Os imperadores eram deificados.
Os capítulos 15 e 16 do livro
do Apocalipse são
considerados uma unidade
completa da visão das sete
taças e o julgamento divino;
dentro dessa macro
narrativa, o capítulo 15
funciona como introdução
do julgamento.
O texto coloca em cena os personagens: João como
narrador, os sete anjos, um dos quatro animais, e o
grupo dos santos; o cenário apresenta a terra,
descrita como um mar de vidro misturado com fogo e
o céu, onde o vidente contempla o templo e o
tabernáculo de Deus. Os acontecimentos se
desenvolvem dentro de um tempo: o julgamento
eminente. No espaço os eventos cósmicos que estão
para acontecer, envolvem o céu e a terra.
O símbolo das sete taças descritas em Ap 15 e 16
designam uma série de pragas derramadas sobre a
terra como sinal do julgamento divino. Essas imagens
possuem um rico fundamento e profundo significado
teológico que reforça a ênfase da tradição do Êxodo
nas visões narradas nesses capítulos. O termo φιάλη
(taça ou cálice) no Antigo Testamento (Is 51,17.23; Jr
25,15,19; Lm 4,21; Ez 23,31-33; Sl 116,12-19) é uma
metáfora do julgamento de Deus que é derramado
sobre a terra.
A taça da ira de Deus é geralmente entendida dentro da
moldura teológica da aliança como expressão da infidelidade
do povo escolhido. Embora o simbolismo da taça da ira divina
não seja proeminente na literatura do segundo Templo, a
temática da ira de Deus é muito frequente nesses escritos.
Neste período surgem novos desenvolvimentos conferindo
novos significados para este simbolismo. A taça taça ou
cálice já se tornou um utensílio usado durante rituais e cultos
sagrados.
O sacrifício de Jesus, ao derramar seu
sangue na cruz, na teologia do Novo
Testamento se torna o selo da nova
aliança. É importante notar que na cena
em que Jesus se angustia no Getsêmani
(Mt 26,39) ποτήριον, o vocábulo ποτήριον
(cálice) tem o mesmo sentido simbólico
de φιάλη no Apocalipse.
Dentre os vários motes teológicos que são
abordados pelo autor do Apocalipse presentes
em outros livros do Antigo Testamento, o
Êxodo tem particular significância.
Considerando que as Escrituras eram
importantes para o autor do Livro do
Apocalipse, isto seria esperado que eventos tão
significativos do Antigo Testamento
desenvolveria um papel central na sua
mensagem.
Um desses eventos centrais que perpassam
todas as Escrituras são as narrativas exodais. A
referência mais clara do êxodo no Livro doa
Apocalipse se encontra no capítulo 15 por que
faz uma referência direta às pragas do Egito
(cf. Ap 15,1), Moisés (cf, Ap 15,3) e a tenda do
Testemunho (cf. Ap 15,5).
O capítulo 15 do Livro do Apocalipse fornece uma
significativa referência à tradição do Êxodo, colocando o
cântico de Moisés (Ex 15,1-18; Dt 32,1-4; Sl 90) em uma
oração de louvor ao Cordeiro. Os três versículos
introdutórios (Ap 15,1-3) é um discurso narrativo, nos quais
a voz do narrador coloca em cena os sete anjos portadores
das sete pragas. Eles saíram vitoriosos da luta contra a
Besta e entoam o Cântico de Moisés, servo de Deus e do
Cordeiro.
O texto de Ap 15,2-4 descreve a cena da vitória
dos santos que entoam o cântico de Moisés e do
Cordeiro. A narrativa coloca-os como os
personagens principais; eles são todos aqueles
que venceram a Besta, sua imagem e o número
do seu nome. Eles venceram a batalha e agora
dão glória a Deus pela grandeza de suas obras,
seus feitos e santidade. Depois de vencer a
Besta eles louvam a Deus pela conquista de três
coisas: vencer a besta, sua imagem e o número
de seu nome.
A cena introdutória de Ap 15,1-5 descreve a
preparação do derramamento das sete taças e
introduz o sentido teológico fundamental do
julgamento por meio de pragas que expressam
a ira de Deus. As cenas das sete taças que
trazem o furor de Deus são modeladas a partir
das narrativas exodais das pragas do Egito
A diferença nos números das pragas reflete a
influência da literatura apocalítica do segundo
Templo que tem uma preferência pelo número sete,
que é adotado por João. Ela atualiza a tradição
exodal a partir da linguagem e simbolismo da
apocalíptica, pois era familiar aos seus leitores.
O desenlace das pragas mencionadas antes do
cântico de Moisés e do Cordeiro narradas em Ap
15 e 16 estabelecem uma semelhança aos
eventos que aconteceram no Egito; chagas
malignas, o sangue que faz as criaturas morrer,
escuridão, espíritos imundos em forma de rãs,
raios, relâmpagos, trovões e terremotos. Enfim,
o julgamento de Apocalipse 15 e 16 tem como
pano de fundo as dez pragas narradas no Êxodo
Apocalipse Pragas Êxodo

16, 1 Chagas malignas 9,8 – 12

16,3-4 Sangue que provoca morte nas criaturas 7, 17-19

16,10 Escuridão 10,21-23

16, 13 Os três espíritos do mal com aparência de rãs 8,1-15

16,17-21 Raios, relâmpagos, trovões e terremotos 9,23


Um ponto central da narrativa do Êxodo, é a
decisão permanente de YHWH habitar no
meio de seu povo escolhido, numa tenda
especialmente construída para Ele (Ex 25,8).
A tenda de YHWH é também designada como
tenda do encontro (Ex 29.42), tabernáculo
(Ex 25,9). Santuário ou tabernáculo do
testemunho (Nm17,23).
A imagem da tenda celeste
descrita em Ap 15,5 se
aproxima do tabernáculo de
testemunho da tradição do
Êxodo. O templo do
tabernáculo é o lugar que
abriga, que guarda, que
preserva a Lei recebida na
teofania do Sinai.
O templo do tabernáculo é o lugar que
abriga, que guarda, que preserva a Lei
recebida na teofania do Sinai. Desse modo,
aqui o autor do Apocalipse recorda também
que a aliança é inseparável da Lei recebida
no deserto.
Implicitamente o autor do Apocalipse
procura preservar na memória das
comunidades cristãs da Ásia Menor, que a
relação de Deus para com seu povo é
pactual e que a aliança constituída no
passado é eterna.
O cenário de teofania em Ap 15,8 com a
fumaça que toma conta do templo recorda
a entrega do tabernáculo no Sinai.
Enquanto no Antigo Testamento as
nuvens, as fumaças são imagens que se
associam ao lugar da morada de Deus, em
Apocalipse 15 designa a presença divina
que está para executar o julgamento, por
meio dos anjos, seus servos ou ministros.
As pragas que estão para
serem executadas, no final
também evocam a presença
divina que intervém para
libertar as comunidades fiéis
ao Cordeiro que estão
sofrendo pelo mal infligido
pela Besta.
O cântico de Moisés mencionado em Ap 15,3-
4, insere o aposto “servo de Deus”, ao
descrever Moisés. Sua designação como
servo de Deus é frequentemente encontrada
no Antigo Testamento, mas sua denominação
como servo de Deus e a narrativa do cântico
juntos, só aparece em Êxodo 14 – 15 e Ap
15,3.
Mesmo que do ponto de vista
linguístico Ap 15 e Ex 15 não
apresentam um paralelo explicito,
no que se refere às temáticas é
evidente a intertextualidade dos
textos; ambos cantam e louvam a
Deus por suas grandes obras, seu
poder, sua santidade, seus
caminhos são justos e verdadeiros
e só ele é digno de toda glória.
APOCALIPSE ÊXODO
“Israel viu a proeza realizada
“...cantando o cântico de pelo Senhor Deus contra os
Moisés, o servo de Deus, e o
cântico do Cordeiro:
egípcios. E o povo temeu ao
Grandes e maravilhosas são Senhor Deus, e creram no
as tuas obras, ó Senhor Senhor Deus e em Moisés seu
Deus Todo-poderoso; teus servo. Então, Moisés e os
caminhos são justos e israelitas entoaram esse canto ao
verdadeiros, ò Rei das Senhor Deus: Cantarei ao Senhor
nações” (Ap 15,3). Deus, porque se vestiu de glória;
Ele lançou ao mar o cavalo e ao
cavaleiro” (Ex 14,31-15,1).
“Quem não temeria, Quem é igual a ti, ó Senhor Deus,
ó Senhor, e não entre os deuses? Quem é igual a ti,
glorificaria o teu tão ilustre em santidade? Terrível
nome? Sim! Só tu és nas façanhas, hábil em Maravilhas?
santo! Todas as (Ex15,11).
nações virão prostrar- “Os povos ouviram falar e
se diante de ti, pois começaram a tremer; dores se
tuas justas decisões se espalharam no meio dos filisteus, e
tornaram manifestas” ficaram com medo os habitantes
(Ap 15,4). de Edom. Os chefes de Moab, o
terror os dominou” (Ex 15,14-15).
Em síntese, o cântico de Ex 15 e Ap 15
louvam a Deus pela sua ação salvífica,
porque seus feitos são grandes e
maravilhosos, pelo temor e o respeito do
ser humano em seu favor, pela
singularidade de sua santidade e glória.
Nesses aspectos os dois cânticos entoam
as mesmas proclamações ao Senhor Deus,
mesmo que expressas em diferentes
palavras.
O capítulo 17 põe em cena uma besta
personificada como, um ser vindo do abismo
que era, mas não é mais.
Ao contrário de Deus que é Aquele que era, que
é e que vem, a besta era, mas não existe mais.
Junto à besta esta uma mulher, descrita como
prostituta, cheia de abominações, embriagada
com o sangue dos santos.
O autor fala da prostituição no sentido
simbólico atribuído pelos profetas do AT –
Remete à realidade da idolatria.
A embriaguez da mulher está vinculada ao
sangue dos mártires. A metáfora lembra a
hostilidade de Roma para com os cristãos.
O capítulo 18 narra a queda da Babilônia.
O anjo que desce do céus proclama a queda da
Babilônia.

Uma voz do céus pede que o povo fiel saia


desta cidade, como no Êxodo.
A Babilônia é descrita como o lugar dos
flagelos, do sofrimento, do pecado e da
injustiça.
Para criar o novo céu e a nova terra, Deus
elimina o mal. Deus derruba os poderosos
de seus tronos, mas a comunidade precisa
ser fiel.
A comunidade que segue o Cordeiro é
chamada resistir, a ser testemunha fiel até a
morte à proposta divina.

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