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Mestre em Teologia na Pontifícia

Universidade Católica do Parana (PUC-PR).


Bolsista Capes. Especialização em
Metodologia de Sociologia e Filosofia.
Faculdade São Braz(FSB). Especialização em
Educação a Distância com Ênfase na
Formação de Tutores. Faculdade São Braz
(FSB) . Bacharel em Teologia pela Faculdade
Cristã de Curitiba (FCC).Atualmente é
Professor de Teologia e Filosofia. Professor
do Curso Ministerial ENSINAI, Professor do
Curso Ministerial IBADEP. Professor da
Faculdade Teológica de Pinhais (FATEPI),
Professor-Tutor da Faculdade São Braz
(FSB). Membro do Grupo de Pesquisa Bíblia e
Pastoral (PUC-PR), Membro do Grupo de
Pesquisa Tradução e Exegese da Bíblia no
Brasil (PUC-PR), Membro do Grupo de
Pesquisa Islamismo, Educação e Política
(FSB) Membro do Grupo de Pesquisa O
Vaticano no Sistema Internacional (FSB)
https://danielvicente.kpages.online/nova-pagina-744655

5
Índice

Capítulo 1 -Apocalipse 1a Parte 13

Capítulo 2 -Apocalipse 2a Parte 37

Capitulo 3 -Escatologia 1a Parte 61

Capítulo 4 -Escatologia 2a Parte 91

Capítulo 5 -Escatologia 3ª Parte 115

Referências Bibliográficas 139


11
Apocalipse: 1ª Parte

Autor; João, Apóstolo.


Apocalipse Data: Entre 90 e 96 d.C.
Tema: A Consumação do Conflito dos Séculos.
Palavras-Chave: Trono, Sete, Vencer,
Cordeiro, Eu vi.
Versículos-chave: Ap 1.1a,5b,6 e 19

O Senhor Jesus Cristo é e sempre será a Revelação


por excelência do Deus invisível. Ele é Deus manifesto às suas
criaturas.
Deus se manifestou várias vezes, de diferentes
maneiras e nestes últimos tempos por meio de Jesus Cristo Seu
Filho. Estas manifestações foram feitas pela mesma Pessoa que
mais tarde veio em carne. Portanto, o último livro do Novo
Testamento nos diz que no futuro, o mesmo Senhor, a Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade, revelará Deus no clímax do plano
divino, estabelecendo o reino eterno do bem. Estas
manifestações serão de diferentes maneiras, reveladoras e
significativas.
O Legislador nas chamas e nuvens do Sinai é o
Juiz Supremo no Grande Trono Branco. O Príncipe dos
Exércitos de Israel, que apareceu a Josué e destruiu
Jericó, é Aquele que dirigirá a
última batalha e os acontecimentos que causarão a destruição final
das forças malignas.
Ele providenciou o carneiro como sacrifício

9
substitutivo em lugar de Isaque, é "O Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo", cordeiro que vencerá e abrirá os selos que
colocará em ação os eventos finais da história humana.
Aquele que em companhia de dois anjos visitou
Abraão em Manre e ordenou a destruição das cidades de Sodoma
e Gomorra, salvando Ló e suas filhas, é o mesmo, em meio a
inumeráveis hostes de anjos, ordenará as pragas e castigos que
destruirão os rebeldes ao acontecerem os castigos dos selos, das
trombetas e das taças da ira.
Deus estava no topo da escada que ia da terra
ao céu e anjos subiam e desciam por ela, é o mesmo que disse a
Natanael que no futuro ele veria o céu aberto e os anjos de Deus
subindo e descendo sobre o Filho do Homem (Jo 1.51).
Aos judeus do Concilio afirmou em ser o Filho
do Deus Bendito e disse que haveriam de ver o Filho do Homem
assentado à direita do Todo- Poderoso, vindo sobre as nuvens do
céu (Mc 14.62).
Ele que um dia veremos sobre o trono
excelso1, com milhões e milhões de anjos e de remidos ao Seu
redor, adorando-o, e Ele mesmo ordenará o desenvolvimento dos
acontecimentos finais.
O Apocalipse é o último livro do Novo Testamento,
singular entre os demais. Ele é, ao mesmo tempo: s Uma
revelação do futuro (Ap 1.1,19); S Uma profecia (1.3;
22.7,10,18,19); e S Um conjunto de sete cartas (1.4,11; 2.1-
3.22).
Apocalipse deriva da palavra grega
'apocalupsis', traduzida por revelação em Apocalipse 1. 1. É uma
revelação divina quanto à natureza do seu conteúdo, uma
profecia quanto à sua mensagem e uma epístola quanto aos seus
destinatários.
Cinco fatos importantes no tocante ao contexto
deste livro são revelados no capítulo 1.

1. É a "revelação de Jesus Cristo" (Ap 1.1).

1 Alto, elevado; sublime. Excelente, admirável.

10
2. Essa revelação foi dada ao autor sobrenaturalmente, por Cristo
glorificado através do seu anjo (Ap 1.1,1018).

3. A Revelação, desvendamento, foi entregue a João, servo de


Deus (Ap 1.1,4,9; cf. 22.8).

4. João teve as visões e recebeu a mensagem apocalíptica


quando esteve exilado na Ilha de Patmos (80 km a sudoeste
de Éfeso), por causa da Palavra de Deus e do testemunho do
próprio João (Ap 1.9).

5. Os destinatários iniciais foram às sete igrejas da Ásia (Ap


1.4,11).

O Propósito
O Apocalipse tem por finalidade dar ao mundo uma
última declaração divina de que Jesus é o Filho de Deus e há de
triunfar sobre todo inimigo e será o Governador do Universo
durante a eternidade.
O Apocalipse anunciao últimoconvite escrito por
inspiração divina, chamando aos pecadores a
reconciliarem-se com Deus pormeio da fé em Jesus Cristo.
A admoestação é feita às nações e seus reis: "Beijai o
Filho" (SI 2.10-12). Neste convite de graça (Ap
22.17), há também o aviso da mais triste
e irrevogável sentença: "Quanto,porém, aos covardes, incrédulos,
abomináveis1, assassinos, impuros, feiticeiros, idólatras e todos os
mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo
e enxofre, a saber, a segunda morte" (Ap 21.8).
A escolha será: "Venha... receba de graça" (Ap
22.17) ou "será lançado para dentro do lago de fogo" (Ap
20.15).

1 Que deve ser abominado; detestável, execrável, execrando, abominando,


abominoso.

11
Na presença de Cristo não entra nenhuma
cousa imunda, ou seja, é preciso lavar nossas vestes no sangue do
Cordeiro (Ap 22.14; 12.11; 7.9-17). Ficarão de fora os que têm
prazer nos deleites carnais.
Aos crentes, esta profecia tem um propósito duplo de
admoestação e de alento. Repreende e anima, esquadrinha e
exorta. Incentivando e estimulando a serem santos e ativos diante
de Deus, gratos pela salvação e a bem-aventurada esperança. Não
apóia a idéia errônea de que a salvação eternadas almas é determi
pelas obras feitas pelo indivíduo. A sua relação com o Cordeiro de
Deus é indispensável.
A maneira de ensinar os cristãos é por
meio dejuízos diretosrelacionados com as sete igrejas da Ásia; o
Senhor Jesus Cristo elogiando ou censurando, os ensinamentos
proféticos do futuro, findando com a descrição do Juízo Final e
visão da Cidade Eterna, a Nova Jerusalém, com seu divino Rei.
Todas as divisões do livro têm suas lições para o salvo
hodierno1. Observando o que o Senhor Jesus Cristo elogia ou
censura nas igrejas, notamos o que lhe agrada ou não.
Reconhecendo a parte que teremos nos eventos
celestiais como remidos, veremos que convém aprender agora a
louvar ao Senhor Jesus e dar-lhe glória.
Aqui mesmo nos entregamos à tarefa de aprender
como viver devidamente na presença de Deus, sabendo que os
Seus olhos vêem a todos os nossos atos. Desta forma saberemos
viver naquela cidade onde não há necessidade de sol, lua ou
lâmpada, pois a glória de Deus a ilumina (Ap 21.23). O Cristo, Juiz
do capítulo 1, é o Cordeiro iluminador do capítulo 21!
Quando habitarmos a Nova Jerusalém, teremos
deixado para trás tudo o que é mau e indigno. O Espírito Santo
nos revela o futuro neste livro, ao mesmo tempo Ele opera em
nossas mentes produzindo os resultados que deseja. O cristão
deve pensar que nessa ocasião ele é um santo preparado para
habitar as mansões celestiais. Esta é outra prova da graça divina e
que o Espírito Santo mora no crente.
Outra maneira que este último livro da Bíblia
1 Relativo aos dias de hoje; atual.

12
ajuda o cristão é revelando minúcias acerca do futuro. Apresenta
um panorama ou perspectiva dos eventos do fim da História que,
de outro modo, o estudante da Palavra não teria.
Embora ele faça uso de uma linguagem figurada e de
símbolos, em sua maioria são explicados aqui mesmo e nas
Escrituras Sagradas.
Uma verdade de importância sem igual se destaca
entre as coisas simbólicas e figuradas, impressionando a pessoa
cada vez que lê o Apocalipse, é esta: Jesus Cristo é o Vencedor!
Vencerá todos os inimigos! Levará o plano divino à sua apoteose 1
triunfante!
A presença deste livro no cânon do Novo Testamento
é justificada pela mensagem que anuncia. O Evangelho de João
14.1-3 diz que o Salvador prometeu aos Seus voltar para levá-los,
a estarem com Ele no lugar que Ele mesmo prepararia.
Exortou-lhes ter nEle a mesma fé que tinham
em Deus, evitando a perturbação que estava sujeita. Nos últimos
capítulos do Apocalipse, lemos sobre o lugar que o Redentor está
preparando para os Seus. Que gloriosa cidade! Ler sobre a Nova
Jerusalém é desejar alcançá-la.
O mesmo autor diz que ainda não se manifestou o que
nós, filhos de Deus, havemos de ser, mas sabemos que quando
Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque O veremos
tal como Ele é (lJo 3.2).
No Apocalipse, João descreve a maneira como Cristo
há de manifestar em forma visível e gloriosa. Que satisfação deve
ter sentido o apóstolo do Senhor ao receber esta revelação mais
plena e ser comissionado a escrevê-la para torná-la conhecida das
igrejas da Ásia Menor.
Há outras declarações no Evangelho de João
acerca do futuro e este livro propõe a ampliar. Exemplo: João 3.16
fala da maneira de receber a vida eterna, e não perecer. Que quer
dizer essas frases? No Apocalipse há mais detalhes acerca desta
vida perene ou perdição.
João 11.25-26 ensina o mesmo acerca da ressurreição
ou do arrebatamento, Paulo em I
1 Conjunto de honras ou homenagens tributadas a alguém. Glorificação; esplendor.

13
Tessalonicenses 4 e 5 confirma, e está de acordo com este último
livro profético, isto é, que só os crentes terão parte na felicidade
eterna. Também Cristo mencionou a Sua volta em João 14.28.
Veja-se João 6.40,44,54.
O aspecto mais amplo do futuro que é mencionado no
Quarto Evangelho que ocupa a maior
parte deste livro final é o juízo em relação a Jesus Cristo. É
verdade que o Senhor não veio para condenar (ou julgar, que é a
palavra original), mas para salvar o mundo (Jo 3.17). Ele disse em
João 8.15: "Eu a ninguém julgo". Mas, diz em João 5.21- 22 e 26-
29 que o Pai entregou ao Filho toda autoridade divina para julgar.
Virá o tempo em que Ele chamará a juízo todos os
seres humanos e separará os salvos dos condenados. Em João
8.26 o Senhor diz: "Muitas coisas tenho para dizer a vosso
respeito e vos julgar".
A maior parte do Apocalipse mostra Jesus Cristo
entronizado e julgando os habitantes deste mundo. No primeiro
sermão que fez na sinagoga de Nazaré, Jesus disse que havia
vindo para "apregoar o ano aceitável do Senhor" citando Isaías
61.2 (Lc 4.19). E no Apocalipse vemos que chegou o tempo a que
se refere o resto de Isaías 61.2 "o dia da vingança do nosso
Deus".
Em Amós 5.18-20 diz "Ai de vós que desejais o
dia do Senhor! Para que quereis vós este dia do Senhor? Trevas
será e não luz". Veja Sofonias
1. 14; 2.2.
Nos capítulos 2 e 3 do Apocalipse o juízo começa com
a casa de Deus (lPe 4.17-18). Mas, de Apocalipse 6.1 até 19.21
lemos sobre um juízo após outro, um castigo, uma praga, uma
dor, uma pestilência, etc, cada vez mais severos, até que os
homens busquem a morte, mas esta se distancia deles. Além
disto, virá após o reino milenar, o tempo do juízo final, Cristo
assentado sobre o Grande Trono Branco, todo o mundo diante
dEle, para o juízo definitivo.
Por esta razão o Apocalipse é chamado de livro de
juízo, de vingança, de terror. Muitos não enxergam nele mais que
castigos, pragas e têm idéia

14
que Deus dará um fim à história humana, fazendo que todo o
mundo sofra grandes penas.
O evento descrito no capítulo 19 mostra os
santos e os seres celestiais alegres ao ver o julgamento da grande
prostituta dizendo: Aleluia... Verdadeiros e justos são os seus
juízos, pois julgou...
O objetivo deste livro é dar ao mundo a mensagem
divina de que o fim de todas as coisas se aproxima. As condições
atuais não continuarão sempre assim. A paciência de Deus não
durará eternamente. O dia do juízo é inevitável.
O diabo e os seus perderão a batalha e
sofrerão eterna perdição. Jesus Cristo gozará a vitória que obteve
na cruz e com os Seus reinará eternamente.
Está decidido, que é o Cordeiro e não a besta ou
dragão que será coroado Vitorioso e Vencedor. A santidade
dominará o Reino perene1, enquanto a maldade deixará de existir.
Que propósito digno para este importante livro final!

Autor

O autor refere a si quatro vezes como "João" (Ap


1.1,4,9; 22.8). Era conhecido e sua autoridade espiritual era
reconhecida que não precisou impor suas credenciais.
A antiga tradição eclesiástica atribui unânime este
livro ao apóstolo João. Evidências históricas e internas do livro
indicam o apóstolo João como o autor.
Irineu vê que Policarpo (Irineu conheceu a Policarpo e

este ao Apóstolo João) referiu-se a João, 1


Que não acaba; perpétuo,

15
imperecível, imperecedouro, eterno. escrevendo o Apocalipse perto do fim

do reinado de Domiciano, Imperador romano (81-96 d.C.).

O livro retrata as circunstâncias históricas do


reinado de Domiciano, que exigiu aos seus súditos 1 que lhe
chamassem de "Senhor e Deus". Sem dúvida, o decreto do
Imperador estabeleceu um confronto entre os que dispunham a
adorá-lo e os crentes fiéis que confessavam que somente Jesus
era "Senhor e Deus".
Destarte2, o livro foi escrito num período em que os
crentes enfrentavam intensa perseguição por causa de seu
testemunho. A tribulação é demonstrada no contexto do livro de
Apocalipse 1.19; 2.10,13; 7.1417;11.7; 12.11,17; 17.6; 18.24;
19.2; 20.4.

Como o estudante já deve ter percebido,


cremos que o escritor do Apocalipse é o mesmo João que escreveu
o Quarto Evangelho e as Epístolas que levam o seu nome. Não
vemos razão para duvidar disto. Confessamos que não há aqui
tantos indícios que é aobra deum pobre pescador sem muita
preparação acadêmica.
Embora João não tenha estudado em
Jerusalém com Gamaliel, como Paulo, contudo não devemos
deduzir que João era iletrado como os componentes do Sinédrio
diziam.
Não se vestia como os estudantes ou
discípulos de um reconhecido mestre da capital, de modo que,
julgaram que ele só tinha a cultura ministrada pela escola rural da
Galiléia. Para os orgulhosos cônsules, isto era ser "iletrado".

1 Que está submetido à vontade de outrem; sujeito.


2 Por esta forma; deste modo; assim. Assim sendo; diante disto.

16
João era "o discípulo que Jesus amava". O
Evangelho e as suas Epístolas falam do amor como tema
predileto. Um homem ideal para transmitir a revelação que o
Senhor deu a ele em Patmos.
A idéia que havia outro ancião chamado João
que escreveu o Apocalipse parece-nos fantasiosa. Dizer que algum
anônimo o fez e atribuiu ao apóstolo a fim de assegurar a sua
aceitação é uma conjectura.
Por que não crer na declaração do próprio
livro? A lógica é aceitar que o autor é o mesmo apóstolo e, por
conseguinte, crer também que ele foi inspirado, como afirmou.
João não pretende que a obra seja produto da
sua própria sabedoria. Afirma ter recebido a revelação de Jesus
Cristo. Escreveu o que lhe foi ordenado. Temos aqui, portanto, a
"Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu... notificou ao seu
servo João" (Ap 1.1). "E eu, João" (Ap 22.8).
A referência histórica mais recente
ao Apocalipse encontra-se nas obras de Justino Mártir (135
d.C.), por volta da metade do século II. Ele citou que foi escrito
por João, apóstolo de Jesus Cristo (Diálogo com Trifon, pág. 81 -
Citado por Tenny Interpreting Revelation, pág. 16).
Irineu cita cinco passagens e declara que João foi o
autor. Também, Pápias, Clemente de Alexandria, Teófilo de
Antioquia, Pastor de Hermas, O Cânon
Muratório, provando que nos fins do século II, o Apocalipse de
João era aceito como livro apostólico, como parte legítima do
cânon do NT.
Os outros livros apocalípticos foram rejeitados. As
igrejas orientais não aceitaram o Apocalipse no cânon até o quarto
século, isto é, não todas as igrejas desde o princípio. Mas, a
decisão final foi favorável ao Apocalipse e contra os escritos em
estilo similar.
Um mesmo autor pode usar estilos diferentes
quando escreve. E é certo que a
linguagem é a da época da Igreja Primitiva, pois não durou muito
a influência do aramaico sobre ela. E há críticos que alegam que o

17
grego do Apocalipse prova que ele foi escrito antes da queda de
Jerusalém no ano 70.

18
1.

24
Data
0 livro em si não oferece muita evidência acerca da data exata
em que foi escrito. (A idéia que Apocalipse 13.18 se refere a Nero, porque o
seu nome Neron Kesar em hebraico pode ser escrito de tal maneira que o
valor numérico das letras seja 666, não é razoável).
Tampouco é certo que as referências ao templo como se ainda
estivesse de pé sejam prova de que o livro foi terminado antes da destruição
de Jerusalém. Pode referir-se a outro templo futuro.
A favor da data comumente aceita pelos
evangélicos de teologia conservadora, ao redor do ano 90 ou um pouco mais
tarde, há várias considerações. O próprio texto oferece um testemunho que
merece séria atenção, ao procurarmos descobrir a data da sua origem.
Os dois capítulos em que constam as cartas às
igrejas, o segundo e o terceiro, descrevem uma condição de decadência que
viria após um período de desenvolvimento e maturidade.
Este estado de cousas não podia ter prevalecido durante o
Império de Nero. Não havia transcorrido tempo suficiente depois do
estabelecimento daquelas igrejas, pelo apóstolo Paulo. Além disto, a evidência
externa é a favor de uma data posterior, na última década do primeiro século.
Irineu diz especificamente que o Apocalipse foi
escrito durante o reinado do Imperador Domiciano (81 a 96 depois de Cristo).
Este último dos Césares podia muito bem ter sido o que desterrou 1 o velho
apóstolo João para a ilha de
Patmos. Vitoriano, Eusébio e Jerônimo estão de acordo com Irineu.
Não há dúvidas de que o autor do Apocalipse estava familiarizado
com o Antigo Testamento, as Escrituras Sagradas do judaísmo. Considerando
a existência de muitos escritos neste estilo, como o chamado Apocalipse de
Pedro, outro de Paulo, de Esdras, de Elias, de Zacarias, etc, destaca-se que o
livro do Apocalipse foi realmente escrito pelo apóstolo João, o discípulo
amado.
É lógico deduzir que o Apocalipse foi escrito quando começaram
as perseguições em todo o Império Romano.
Havendo em circulação várias obras de cunho apocalíptico, não é
estranho que em tempos de perseguição, esta mensagem às igrejas tomasse
este estilo de comunicação, embora seja uma literatura diferente e empregue
um vocabulário distinto, especial.
O apóstolo João conhecia bem as igrejas da Ásia Menor. Sabia
da preocupação dos irmãos, especialmente dos pastores, ao
ver o princípio da perseguição imperial.
Onde está Cristo? Que prometeu: As portas do
inferno não prevaleceriam contra a Sua Igreja? Ele havia vencido o mundo, e
que o Pai lhes daria o Reino? E a vinda do Senhor em glória? Qual era a
responsabilidade e maneira de proceder da igreja, naquelas circunstâncias?

1 Fazer sair da terra, do país; exilar, banir.


20
Estas perguntas reclamavam uma mensagem divina para aquela
época, alguma resposta autorizada, antes de encerrar-se o cânon do Novo
Testamento.
Domiciano, o último dos doze Césares, que
reinou até o ano 96, começou, no fim do seu reinado, a perseguir os cristãos.
O governo percebia
que o cristianismo não era simplesmente uma seita do judaísmo, sem
importância, mas um poder que rivalizava com o próprio Império na demanda
da lealdade dos homens.
Roma decretou a adoração do imperador como deus visível, que
supria as necessidades e outorgava benefícios ao povo nas festas, corridas e
lutas no estádio.
Os cidadãos e escravos estavam acostumados
a adorar deuses de madeira, gesso, pedra e metais. Não lhes era difícil
acrescentar outro deus à lista de divindades, especialmente um que era
visível, de reconhecido poder e autoridade, capaz de fazer bem ou mal.
Mas, o Evangelho fazia discípulos e estes recusavam a dobrar os
joelhos diante do Imperador e a adorar a sua imagem. Não sacrificariam
animais nos altares pagãos. Reconheciam somente a Jesus Cristo nos céus
como seu Senhor e Salvador de suas almas.
Roma não podia permitir tal atitude de desobediência a suas leis
e costumes. Percebeu a incompatibilidade entre o cristianismo e as outras
religiões. Embora os cristãos não usassem armas carnais para propagar a sua
fé, o Imperador temeu uma revolução civil como resultado de tais ideologias.
Verifica-se, que no tempo de Domiciano, as igrejas no Império
estavam em perigo, e urgia1 a necessidade de uma nova luz e uma visão
renovada da sua gloriosa esperança e destino. Por esta razão também cremos
que o Apocalipse foi escrito pelo apóstolo João na última década do primeiro
século da nossa dispensação.
Interpretação
O Apocalipse é o livro do NT que mais se
encontra dificuldades em sua interpretação. Os leitores originais
provavelmente entenderam a sua mensagem sem muita dificuldade, porém,
nos séculos subseqüentes surgiram quatro escolas principais de interpretação
deste livro, a saber:

1 Ser necessário sem demora; ser urgente.


21
Preteristas Consideram que o livro e as suas profecias
cumpriram-se no contexto histórico original do
Império Romano, a não ser os capítulos 19-22,
que aguardam cumprimento.

Historicistas Entendem que o Apocalipse é uma previsão


profética do quadro total da história da igreja,
partindo de João até o fim da presente era.

Idealistas Consideram o simbolismo do livro como a


expressão de princípios espirituais, sem
limitação de tempo, concernente ao bem e ao
mal, através da história sem prenderse a
eventos históricos.

Futuristas Consideram os capítulos 4-22 como profecias


de eventos da história, que ocorrerão somente
no fim desta era.

Que Devemos Esperar do Apocalipse?


Quando Adão e Eva desobedeceram a Deus no Éden, o Senhor
prometeu-lhes um Redentor que venceria Satanás, ao custo da Sua Própria
vida. Na plenitude dos tempos o Filho de Deus nasceu de uma virgem
conforme as Escrituras e disse: Veio para que os Seus tenham vida abundante
(Jo 10.10).
 0 apóstolo João escreve que "para isto Se manifestou o Filho de Deus:
para destruir as obras do diabo" (lJo 3.8).
 0 apóstolo Pedro ensina que "Cristo morreu, uma única vez, pelos
pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus" (lPe 3.18).
 Paulo diz: "Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de
Cristo" (2Co 5.18).

Cremos que a profecia em Gênesis 3.15, no


plano soberano de Deus incluía em si, a promessa divina da anulação dos
efeitos da queda do homem, juntamente com a completa reconciliação de
Deus com os descendentes de Adão (toda raça humana) que aceitaria
reconciliação oferecida (2Co 5.20).
Portanto, no Apocalipse, devemos esperar encontrar o pleno
cumprimento de tudo o que se subentende em Gênesis 3.15.

22
A esperança que tem fortalecido os santos durante os milênios,
tem sido a confiança que Deus cumprirá o que prometeu ao primeiro homem
pecador. No último livro da Bíblia deve haver o desenvolvimento da história
humana, ver o homem cumprindo, por fim, o propósito divino para o qual foi
criado.
Veremos a solução justa e eterna do problema do mal, veremos o
bem triunfante para sempre sem possibilidade de mais luta.
Os salvos deverão estar gozando de todos os benefícios da
redenção, porquanto o Redentor venceu e foi glorificado como Rei do
universo, devido à eficácia1 da Sua obra salvadora.
Cristo ocupa essa posição suprema e sublime;
não só agora, por ser o criador de tudo,
mas também por tê-lo merecido e pelo que fez; não unicamente como Filho
de Deus, mas por ser o Filho do homem; não só como a Segunda Pessoa da
Trindade, mas porque é o que veio em carne, foi morto, sepultado,
corporalmente ressuscitado, e em corpo glorificado ascendeu ao Pai.
Por toda eternidade Ele será o Deus revelado, o Deus visível, o
Cordeiro de Deus que foi morto, mas não pode morrer mais, porém antes,
venceu a morte.
Vive Eternamente. É o Cristo porque é Jesus e é Deus.
A exaltação de Jesus Cristo que esvaziou a Si mesmo é a
mensagem principal deste precioso livro que encerra o cânon da Palavra de
Deus.

A Revelação (Ap 1.1-8)

Escrita às "sete igrejas" que estão na Ásia (Ap 1.4a). A obra de


João é uma "revelação" das "coisas que em breve devem acontecer".
Notificada ao apóstolo João, por Jesus Cristo, é uma mensagem
entregue por Deus ao Senhor para que a mostre aos seus "servos".
João escreveu sua profecia em forma de epístola, começando com
uma saudação de graça e paz de cada pessoa da Trindade (Ap 1.4-5).
O tema do livro é claro: O Senhor Deus, Todo-
poderoso, garante a vitória definitiva do Jesus crucificado perante toda a terra
(Ap 1.7,8).
Sua vitória será inquestionável. Seu povo se alegrará em sua
libertação definitiva, mas os que o rejeitaram lamentarão sua vinda, porque
significará condenação para eles.

1 Qualidade ou propriedade de eficaz; eficiência.


23
João em Patmos - Mensagens às Igrejas (Ap
1.9-20)

Exilado na ilha de Patmos João viu o Senhor


ressurreto (Ap 1.9-20). Foi arrebatado em espírito, no dia do
Senhor. Ouviu atrás de si uma grande voz, alta como de
trombeta. A voz declarou que João deveria escrever o que iria ver
e enviá-lo às sete igrejas:

Éfeso Esmirna Pérgamo Tiatira


Sardes Filadélfia Laodicéia
É interessante que, antes de mencionar Cristo,
ele afirma ter visto "sete candeeiros1 de ouro" (Ap
1.12,20) que "são as sete igrejas".
Por isso o significado das visões de João, a
mensagem às sete igrejas, não deve ser menosprezada. Na
verdade, não encontramos as sete cartas dirigidas às igrejas
apenas nos capítulos 2-3, mas em todo Apocalipse (1.3;
22.10,16-19).
Certamente não há evidências textuais de que
as cartas, individualmente ou como coletânea, circularam
separadas do restante da obra literária de João.
Constitui um erro sério pensar que certos
trechos de Apocalipse não eram importantes para seus primeiros
leitores. Apocalipse como um todo é pertinente para as igrejas
daqueles dias e ao longo da história. Eram participantes com João
"na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus" (Ap 1.9).
Cada igreja precisa prestar atenção não
apenas em sua própria carta, na verdade, em todo
Apocalipse (Ap 22.18-19), que adverte sobre o julgamento futuro e pronuncia
uma bênção sobre todos os que perseveram nos momentos de tribulação e
morrem fiéis ao Senhor (Ap 14.13).
O Apocalipse cheio de autoridade não é um
mistério literário para quem está lutando para sobreviver em uma época difícil
de perseguição e sofrimento. É uma exortação às igrejas para permanecerem
fiéis a Jesus Cristo, perseverarem firmes nos momentos de tribulação,
sabendo que Cristo é o Senhor das igrejas, aquele que anda entre os sete
candeeiros de ouro (Ap 1.13; 2.1).

1 Vaso destinado a dar luz, alimentada por óleo.


24
Entre os sete candeeiros de ouro, João viu no meio deles um
"semelhante ao Filho do Homem" vestido até aos pés, usando um cinto de
ouro em torno do peito (diferente do trabalhador que usava o cinto mais
embaixo, em torno da cintura, para poder prender a ele as pontas da capa
enquanto trabalhava).
Como o ancião de dias em Daniel 7.9-10, esse personagem
glorioso tinha cabelos "brancos como alva lã, como neve" (Ap 1.14). Seus
olhos, com poder penetrante para julgar e discernir, eram como uma chama
de fogo. Seus pés, provavelmente aludindo a Daniel 10.6, eram como bronze
polido. Sua voz, que João já comparara ao som de uma trombeta, como o
som de muitas águas, semelhante à descrição da voz de Deus em Ezequiel
43.2.
Na mão direita ele tinha sete estrelas, que eram os anjos das sete
igrejas (Ap 1.20). De sua boca viu saindo uma espada de dois gumes para
ferir as nações (Ap 19.15), servindo de advertência às igrejas que ele é o
Senhor do julgamento (Ap 2.12).
João, vencido por essa visão do Filho do Homem caiu aos seus
pés, como morto. O Glorioso, porém, pôs a mão direita sobre ele e disse:
"Não
temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive" (Ap 1.17-18).
Essa definição é sinônima do título Alfa e Ômega dado ao Senhor
Deus em Apocalipse 1.8. 0 "Eu Sou" de Êxodo 3.14 com a descrição do
Senhor, o rei de Israel, Deus. Igual a Ele não existe outro (Is 44.6). Que foi
morto, mas agora está vivo para sempre (Ap 1.18).
Ele é o Senhor Jesus Cristo ressurreto. Apesar
de "nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gl 4.4) por isso, suscetível 1 e
vulnerável2 à morte, Jesus, depois de passar pelo sofrimento da morte,
ressuscitou para a vida absoluta e nunca mais pode morrer (Rm 6.9; Hb
7.1625).
Cada característica na descrição que João faz do Cristo
ressuscitado indica a presença de poder e majestade. Aquele que vive instruiu
João escrever e relatar as coisas que vira e haveria de ver, "das que hão de
acontecer depois destas” (Ap 1.19).

As Cartas às Sete Igrejas (Ap 2.1-3.22)


As cartas às igrejas de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira,
Sardes, Filadélfia e Laodicéia têm uma estrutura padronizada.

1 Passível de receber impressões, modificações ou adquirir qualidades; capaz.


2 Diz-se do lado fraco de um assunto ou de uma questão, ou do ponto pelo qual alguém pode ser
atacado ou ferido.
25
Após definir os destinatários, o Senhor ressurreto, apresenta e
descreve a si mesmo usando parte da descrição do Filho do Homem conforme
Apocalipse 1.9-20. Inicia com a palavra "conheço", de elogio ou de crítica.
Em seguida há um tipo de exortação. Aos
repreendidos (criticados), a exortação é arrepender-
se. As igrejas de Esmirna e de Filadélfia, porém, para as quais o Senhor
elogiou, a exortação era que permanecessem firmes (Ap 2.10; 3.10-11).
Cada carta conclui, nem sempre na mesma
ordem, com uma exortação para ouvir o que o Espírito diz às igrejas e com
uma promessa de recompensa para o "vencedor", isto é, aquele que prevalece
por perseverar na causa de Cristo.
À igreja de Éfeso (Ap 2.1-7) é dito que retorne ao primeiro amor, ou o seu
candeeiro seria retirado do seu lugar, punição que implica a morte da
igreja, mesmo que não indique perda individual da salvação eterna.
A igreja de Esmirna (Ap 2.8-11) foi amavelmente incentivada a ser fiel até
a morte.
As igrejas de Pérgamo (Ap 2.12-17) e Tiatira (Ap 2.18-29) foram
advertidas com ternura a tomar cuidado com os falsos ensinos e as ações
imorais.
A igreja de Sardes (Ap 3.1-6) é chamada a despertar e a completar seus
atos de obediência.
A igreja de Filadélfia, perseguida pela sinagoga local (Ap 3.7-13) recebe a
promessa, que a fé em Jesus lhe daria acesso ao reino eterno. Somente
Cristo tem a chave de Davi e a porta que Ele abre ninguém pode fechar.
E a igreja de Laodicéia (Ap 3.14-22) recebe a ordem de não se enganar e
de arrepender-se da sua mornidão.

Essas advertências e exortações foram


enviadas a sete igrejas da Ásia. Não há duvida de que o número "sete" tem
significado simbólico e pode muito bem significar que as sete igrejas
representavam muitas outras comunidades da Ásia

26
Menor. Todavia, por m ais representativas que possam ter sido, as sete igrejas eram
igrejas que conheciam João, e este, instruído pelo Senhor ressurreto escreveu essas
palavras de advertêhcia e de esperança.
Alguns comentaristas referem-se às sete igrejas como sete épocas da
história do mundo, mas não há o mínimo indício no texto que as sete igrejas devem ser
entendidas dessa forma. Trata-se, na verdade, uma maneira errada de ver a história da
Igreja; o propósito é fazer as cartas às sete igrejas parecerem profecias de sete épocas
da história do mundo.
Não há nenhum indício no texto de que João queria que entendêssemos as
sete cartas dessa maneira. É notório que as cartas foram escritas e enviadas às igrejas
locais, estabelecidas e envolvidas em lutas, tribulações, demonstrando a fé e
perseverança em meio à perseguição.
Apocalipse: 2a Parte

A Soberania do Deus Criador (Ap 4.1-5.14)


O elo central do livro se encontra entre os capítulos 4 e 5. Pois, unem as exortações
iniciais do Senhor ressurreto às igrejas (capítulos 2-3) com o triunfo e as punições
finais aplicadas pelo Cordeiro (capítulos 622).
Vistas desta forma as exortações às igrejas,
são advertências da vinda de aflições e do triunfo final de Deus, que serviriam e serve
de estímulo de esperança para ajudar os destinatários da profecia a suportar as
aflições.
Estes capítulos também são a bases histórica e teológica da autoridade do Senhor
ressurreto sobre a Igreja e para o mundo, mostrando sua entronização e capacitação
para executar os propósitos de condenação e de salvação de Deus.
O capítulo 4 assevera a autoridade soberana
do Deus Criador. Sendo exaltado por quatro criaturas poderosas e os vinte e quatro
anciãos que o adoram, o Senhor Deus Todo-poderoso é Santo, Soberano e Digno de
todo louvor. Ele criou todas as coisas, e elas existem por causa da sua vontade
graciosa e soberana (Ap 4.11).
A visão que João tem de Deus em seu trono (Ap 4.2)
lembra Daniel 7 (note os vv. 9-10) e Ezequiel 1, ambos
impressionam o leitor com seu poder e glória.
O capítulo 5 retrata a transferência da
autoridade divina para o Senhor ressurreto, apresentando uma
seqüência de acontecimentos que igualmente lembram Daniel 7. O
povo de Deus estava sendo oprimido por quatro animais terríveis,
que simbolizavam impérios e reis malignos.
Similarmente, o Apocalipse foi escrito para pessoas
que estavam passando ou logo passariam por perseguições e lutas
infligidas pelos poderes do mal. Em Daniel 7 são erguidos os
tronos celestes de julgamento, livros do julgamento são abertos e
a autoridade para exercer o julgamento de Deus e resgatar o seu
povo das nações ímpias é entregue a uma figura humana. Essa
figura humana, um "Filho do Homem" glorioso, aparece
misteriosamente perante o trono de Deus nas nuvens.
De modo semelhante, em Apocalipse 5, vemos um
livro de julgamento (neste caso com sete selos, na mão direita de
Deus) e um agente glorioso e redentor de Deus. Entretanto, o
notável agente de Deus não é uma figura humana sem
identificação, é Jesus crucificado, o Cordeiro e Leão de Deus. Esse
Jesus, por causa da sua obediência vitoriosa à vontade de Deus,
está agora entronizado, razão pela qual é digno de abrir o livro e
os seus selos.
Os acontecimentos descritos aqui são
simbólicos, mas nem por isso devem ser considerados um simples
mito. O evento sugere um momento histórico e teológico do
ensino bíblico bem conhecido em outras
passagens: a ascensão e entronização de Jesus.
Além de explicar a ausência visível de Jesus e
o fim das aparições da ressurreição, a
ascensão de Jesus é sua entronização como Senhor celeste (At
2.33-36; Ef 1.20-2.31; Cl 1.18). Ele agora recebeu poder para
executar as decisões judiciais de Deus.
Ele é digno de tomar o livro, porque foi morto (Ap
5.9,12). Sua morte redentora, isto é, sua obediência à vontade de
Deus, revelou-o como qualificado para o papel de Senhor celeste.
Ele "venceu" (Ap 5.5), palavra usada por João para
descrever o sofrimento triunfal de Jesus e sua subseqüente 1
entronização (veja Ap 3.21), que lhe permite agora como Senhor
celeste, assumir o papel de agente e executor divino.
Todo o poder no céu e na terra lhe foi dado (Mt
28.18). Ele pode abrir o livro e os sete selos de juízo, executando
assim os propósitos do Soberano Deus Criador. Com sua
entronização, os céus se alegram (Ap 5.8-14; 12.5-12), porque
Ele é digno, e o povo de Deus agora tem seu Salvador reinando.

Os Sete Selos
(Ap 6.1-8.5)
A abertura dos primeiros quatro selos mostra
quatro cavaleiros de diferentes cores (Ap
6.1- 8). Esses cavaleiros, no mesmo espírito do caos predito em
Marcos 13, representam os juízos de Deus por meio de guerras
(Ap 6.2) e conseqüências sociais devastadoras, a saber: violência
(Ap 6.3-4), fome (Ap 6.5-6), epidemias e morte (Ap 6.7-8).
O quinto selo (Ap 6.9-11) fala do clamor por justiça
dos santos martirizados em relação aos
opressores. Recebem a resposta de que, por enquanto, precisam
esperar, pois o número de mártires do povo de Deus ainda não
está completo.
Uma análise atenta do sexto selo (Ap 6.12) é
importante para compreender a estrutura literária e a seqüência
de episódios do Apocalipse.
Ao ser aberto, o sexto selo faz surgir os sinais
do fim: um grande terremoto, escurecimento do sol, lua que se
torna avermelhada ("como sangue") e a queda das estrelas do
céu (Mt 24.29- 31; Mc 13.24-27).
1 Que subsegue no tempo ou no lugar; imediato, seguinte:

39
32
Ao ler poucos capítulos do Apocalipse e já somos
levados aos acontecimentos finais. O Céu é enrolado como um
pergaminho; montanhas e ilhas são abaladas. Os poderosos e os
insignificantes da terra percebem que chegou o grande dia da ira
de Deus (e do Cordeiro) e que nada pode salvá-los (Ap 6.14-17).
O terremoto neste livro é um sinal que sempre indica
a destruição que precede imediatamente o fim (veja Ap 8.5;
11.13,19; 16.18- 19) da história e a manifestação do Senhor.
Referências a terremotos em lugares
estratégicos de Apocalipse não significam que a história em si
chega várias vezes ao fim, mas que João empregou a conhecida
técnica literária da "recapitulação" (veja Gn 1-2), isto é, contar de
novo a mesma história por "ângulos" diferentes, focalizando
outras dimensões e personagens da mesma história. Desta forma
somos levados, repetidas vezes em Apocalipse ao fim da história e
à época da volta de Cristo.
João, porém, guardou sua última descrição (e mais
completa) do fim do mundo até a última parte do seu livro (Ap
19.1-22.5). Usou a técnica literária da repetição (entre outras) a
fim de preparar seus leitores para os traumas e esperanças da
história humana, para o julgamento que viria pelas mãos do
Cordeiro de Deus entronizado (Ap 6.1 -17, pensando na proteção
do se povo I Ap 7.1-17;11.1)
e na responsabilidade que tinha de dar testemunho sobre ele na
terra (Ap 10.1-11.13), no propósito redentor do julgamento (Ap
8.6-9.21), na perseguição futura (Ap 11.7; 12.1-13.18)e no
caráter definitivo do juízo de Deus (Ap 15.1-18.24).
João tinha muito a explicar a respeito do sofrimento
dos santos e do triunfo aparente do mal, que parecem negar a
confissão do cristão de que Cristo foi ressuscitado e entronizado
como Senhor.
Será que ele protege mesmo o seu povo? Será que
voltará realmente? Por que temos de sofrer, e "até quando, ó
Soberano Senhor" (Ap6.10), temos de esperar?
Os caminhos misericordiosos e misteriosos de Deus
para a raça humana exigem que se conte a história humana sob
vários pontos de vista. Para certeza que a condenação ou salvação
vem e é por meio de Jesus
Cristo.
A descrição dos juízos iniciados com a abertura dos
primeiros seis selos certamente deixou atônitos 1 os leitores de
João, mas a ira final não é o destino do povo de Deus (veja Rm
8.35,39; lTs 5.9). João interrompendo a seqüência de juízos que
levavam ao sétimo selo nos lembra de que o povo de Deus não
precisa entrar em desespero, pois "os servos do nosso Deus'' (Ap
7.3) têm por promessa: o Céu.

Cento e Quarenta e Quatro Mil (Ap.7.4-8)

João observa 144.000 judeus em sua visão, 12.000 de


cada tribo, e que fazem parte dos "servos do nosso Deus" (Ap
7.3).
No Apocalipse, o grupo de 144.000 pessoas é
formado pela etnia judaica. O apóstolo João enfatiza essa etnia
identificando-os como membros das doze tribos de Israel (Ap 7.5-
8). Sua presença testemunha a fidelidade de Deus e a certeza do
cumprimento de suas promessas.
No Antigo Testamento, Deus prometeu
preservar da destruição um "remanescente" (uma pequena fração)
de Israel (Is 28.5; 37.31; Jr 23.3; 50.20; cf. Rm 11.1-5), a
despeito dos pecados que a nação praticou.
Ele só não os salvará da destruição como também
prometeu uma nova aliança (Jr 31.31-33) e um novo
relacionamento com Ele (Os 2.14-23; cf. Ap 21.3). Sua promessa
incluía as dez tribos do Norte que é Israel (Is 11.16; Jr 3.11,12,
18; 23.8) e também as duas tribos do Sul - Judá (O mito popular
das dez tribos perdidas de Israel é apenas isso - um mito; Deus
nunca as perdeu).
Esses judeus não estão aqui por causa de sua
qualificação étnica, mas pelo seu caráter. O livro diz que foram
assinalados com "o nome dele e o de seu Pai" (Ap 14.1; cf. 7.3),

1 Muito espantado e quase sem ação; pasmado, estupefato.


34
para que pudessem ser reconhecidos por Deus, o Pai e Jesus, o
Messias; foram "comprados" ou "remidos" (Ap 14.3).
Também haviam evitado os pecados de muitos de
seus companheiros judeus, pois não mentiram a respeito dos
cristãos (Ap 14.5; cf. 3.9) e nem se deixaram envolver pela
imoralidade sexual (Ap 14.4; cf.
2.14,20; 9.21; 17.2; 21.8; 22.15).
Sua recompensa será tornarem-se a
companhia constante do Cordeiro (Ap 14.4) e conhecerem uma
canção de adoração que somente eles poderão cantar (Ap 14.3).
Salvar-se-á Alguém no Período da Grande
Tribulação?

O número de gentios entre o povo dé Deus


claramente eclipsa1 o número de judeus. Usando sua descrição
favorita do céu (ver Ap 21.3-4,23; 22.1-
5) , João disse que eles são "os que vêm da grande tribulação",
para agora experimentar as alegrias do céu e o alívio das
tribulações que suportaram.
As interrogações sobre Salvação durante o
período da Grande Tribulação são constantemente feitas por
varias classes de pessoas, e por estranho que pareça, há sempre
os que negam a resposta positiva; entretanto, examinando
cuidadosamente as Escrituras, acharemos a resposta satisfatória.
Não há dúvida de que um restante foi visto por João,
que vinha da "Grande Tribulação" e como já dissemos, serão os
que crerão através da pregação das testemunhas aludidas, os
quais estavam previstos no espírito dos profetas do AT (SI 64;
79; 80; Is 63.15-19; 64).
Compreendemos que aquele restante suportou
providencialmente, todo o tempo daquela aflição horrível, durante
os sete anos do governo do anticristo, os quais constituirão os
"cento e quarenta e quatro mil assinalados", que sofrerão, mas
vencerão e serão fiéis até o fim.
Certamente eles tomarão parte ativa naquele duro
ministério, como evangelistas voluntários,
convidando seus contemporâneos a aceitarem ao Messias,
apelando para a sua grande misericórdia. Será o cumprimento
total de Mateus 24.31-40.
Não há dúvida que haverá salvação no período
da Grande Tribulação, porque ouvirão a Palavra de Deus, e é por
meio dela que o homem recebe o conhecimento de Cristo e é
salvo (Rm 10.17).

1Esconde, encobre; obscurece, ofusca; vence; excede; sobrepõe.


João vê e descreve a abertura do sétimo selo e
novamente vemos a repetição dos sinais do fim, como "trovões,
vozes, relâmpagos e terremoto" (Ap 8.5).
Esses sinais indicam o próprio fim da história humana
e a vinda do Senhor, mas o profeta ainda não estava pronto para
descrever a volta de Cristo. Ele ainda tinha muito a dizer (baseado
no que vira) sobre a natureza do julgamento e sobre a
perseguição pela besta, para encerrar sua profecia.
Antes de descrever o fim, João teve de começar de
novo. Usando o instrumento simbólico das sete trombetas, ele
declarou que os juízos de Deus também têm um propósito
redentor porque são sinais, expressões parciais, do julgamento
final do futuro.

As Sete Trombetas

(Ap 8.6-11.19)
Os sete selos foram divididos entre os quatro
cavaleiros e os três selos restantes, com uma interrupção
narrativa entre o sexto e sétimo selos, para lembrar ao povo de
Deus da promessa do Senhor sobre proteção final e sobre sua
esperança de glória eterna. Um padrão semelhante se vê com as
sete trombetas (Ap 8.7-11.19).
As quatro trombetas iniciais relatam juízos parciais,
"a terça parte", (Ap 8.7) que caem sobre a vegetação da terra, os
oceanos, a água fresca e as luzes celestes.
As últimas três trombetas são tratadas em conjunto
como três "desgraças" que atingem a terra, destacando o juízo de
Deus para a raça humana.
A quinta trombeta (primeira desgraça) libera
gafanhotos infernais que ferroam os que não têm o selo de Deus
(Ap 9.1-12).
A sexta trombeta (segunda desgraça) traz um
poderoso exército de cavaleiros do inferno, que matam um terço
da raça humana (Ap 9.13-19).
Todos os juízos não têm efeito redentor,
pois orestante da raça humana que não
foi morto pelas epidemias recusa-se a se arrepender das suas
Imoralidades (Ap 9.20-21). As advertências caíam em ouvidos
surdos.
Assim como o interlúdio1 entre o sexto e o
sétimo selo garantiu aos destinatários de Apocalipse que os que
são de Deus estão protegidos dos efeitos eternamente destrutivos
da ira divina, também entre a sexta e sétima trombetas somos
lembrados da mão protetora de Deus sobre o seu povo (Ap 10.1-
11.14).
No interlúdio das trombetas, porém, também ficamos
sabendo que a proteção de Deus durante os dias de tribulação
não significa Isolamento, pois o povo de Deus (os judeus) precisa
dar testemunho profético ao mundo.
Em Apocalipse 10.1-11 o chamado de João (pelo
padrão de Ez 2.1-3.11) é reafirmado. Ele recebe a ordem de
comer um livro agridoce2 e "profetizar a respeito de muitos povos,
nações, línguas e reis" (Ap
10.11).
A nota de proteção e testemunho é tocada
novamente em Apocalipse 11.1-13, onde a medição do templo de
Deus alude à mão protetora de Deus sobre seu povo na hora do
caos.
As perseguições durarão quarenta e dois meses, mas
seu povo, a "cidade santa" (Ap 11.2), não será nem destruído
nem silenciado.
As "duas testemunhas" (Ap 11.3) darão testemunho
nesse período, também chamado de 1260 dias, da misericórdia e
do julgamento de Deus.
Veja bem: os 42 meses e os 1260 dias referem-se ao
mesmo período de tempo de perspectivas diferentes, porque os
dias de testemunho também são dias de oposição (Ap 11.2- 7;

1 Intermédio.
2 Agro (azedo) e doce ao mesmo tempo; agro-doce, acre-doce.

45
38
12.6, 13-17). Referências negativas à perseguição e à atividade
de Satanás e das bestas são sempre feitas em termos de "42
meses" (Ap 11.2; 13.5), enquanto asreferênciaspositivas à mão
sustentadora de Deus ou ao testemunho profético das suas duas
testemunhas são feitascomo "um tempo, tempose metade de um
tempo" (Ap12.14) ou "1260 dias" (Ap 11.3; 12.6).
A sétima trombeta (terceira desgraça)
novamente traz terremoto, relâmpagos e
trovões (Ap11.15-19. O fim da história chegou, é a hora
dos mortos serem julgados e dos santos serem
recompensados (Ap 11.18).
Sem dúvida o fim chegou de fato, porque o
coro celeste agora fala da vinda do Reino de Deus (e de Cristo),
assim como do dia do julgamento, como fatos do passado (Ap
11.17-18). O coro canta: "O reino do mundo se tornou do nosso
Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos"
(Ap 11.15).

As Duas Testemunhas
As duas testemunhas evidentemente são homens.
Alguns crêem que sejam Enoque (Gn 5.24) e
Elias (2Reis 2.11), porque estes nunca morreram,

i
Outros têm sugerido Moisés e Elias, representando a lei e os
profetas. Porém, não o sabemos o certo.
O objetivo deles é chamar a atenção do
mundo, e especialmente dos líderes do mundo,, para as
reivindicações do Deus do céu, em meio a um período em
que o mundo está seguindo loucamente as maquinações
diabolicamente falsas do homem do pecado. Nenhuma
arma prosperará contra elas até que a sua obra esteja
realizada.
A nota trágica é a louca alegria do mundo
por causa da morte violenta das testemunhas (Ap 11.9,10)
. Aqui se manifesta a impiedade do coração humano, no
que ele tem de pior. Mas a sua alegria frenética1 tem curta
duração. Depois de três dias, os corpos ultrajados recebem
nova vida, e são arrebatados visivelmente para o céu.

A Perseguição dos Justos pelo Dragão (Ap 12.1-


13,18)

O capítulo 12 é crucial2 para compreender a


perspectiva de João da seqüência histórica. O número três e meio
era visto por cristãos e judeus como tempos de dor e de juízo
(veja Lc 4.25). João referiu-se aos três anos e meio às vezes
como "42 meses" (Ap 11.2; 13.5), outras como "1260 dias" (Ap
11.3; 12.6) e ainda outras como "um tempo, tempos e metade de
um tempo" (Ap 12.14).
Para João, este é o período de tempo em que
os poderes do mal farão suas obras de opressão. Durante o
mesmo tempo, porém, Deus protegerá seu povo (Ap
12.6,14) enquanto ambos testemunham da sua fé (Ap 11.3) ao
mesmo tempo em que sofrem nas mãos destes poderes maus (Ap
11.2,7; 12.13- 17; 13.5-7).
Todos os comentaristas concordam que este terrível
período de tribulação terá fim com a vinda do Senhor. A questão
crítica, porém, é saber quando o período de três anos e meio de
perseguição e de testemunho começa.
Apesar de alguns estudiosos terem relegado 3 os três
anos e meio a algum momento ainda futuro, o capítulo 12
inquestionavelmente liga seu início à ascensão e entronização de
Cristo (Ap

1 Que tem frenesi; delirante, desvairado, furioso.

47
2 Terminante, categórico, decisivo. Muito importante; capital.
3 Pôr em segundo plano; desprezar.
40
12. 5).
Quando o descendente da mulher (de Israel) é
"arrebatado para Deus até ao seu trono" (Ap 12.5), há guerra no
céu e o dragão é lançado na terra. O céu se alegra porque o
adversário (Satanás) foi vencido (Ap
12.10-12), mas para a terra é hora de lamentar (Ap
12.12) porque o mal foi lançado a
terra, e sua ira é muito grande. Satanás sabe que foi derrotado
pela entronização de Cristo e que lhe resta pouco tempo (Ap
12.12).
A mulher (Israel) que gerou Cristo (Ap
12.1- 2) e também outros descendentes (aqueles que mantêm o
testemunho de Jesus) agora recebem todo o ímpeto da ira
frustrada do dragão. Mas quando o furioso dragão for para
descarregar seu furor contra a mulher, ela será alimentada e
protegida por "1260 dias" (Ap 12.6), ou seja, por "um tempo,
tempos e metade de um tempo" (Ap 12.14).
A descrição muito breve que João faz da vida de
Cristo (apenas seu nascimento e entronização são
especificamente mencionados) não deve induzir ao leitor a pensar
que o menino é "arrebatado para Deus até ao seu trono" (Ap
12.5).
Essa passagem não tem como propósito
principal narrar a vida de Cristo, pois João sabia que seus leitores
estavam familiarizados com os fatos decisivos da história de
Cristo. Antes, a passagem quer mostrar a continuidade da
perseguição iniciada por Satanás contra a mulher (Israel) e seu
filho (Cristo) e continuada contra a mulher e o restante dos seus
descendentes (os cristãos).
Naturalmente, é o Senhor crucificado e ressurreto que
é entronizado e cuja ascensão ao trono traz consigo a derrota das
trevas (Ef 1.19-23; lPe 3.22; compare Rm 1.4; lTm 3.16).
O relato da derrota do dragão no céu e sua expulsão
dali começam claramente com a entronização do descendente da
mulher e é causada por ela. Do mesmo modo, veja bem que a
história de Apocalipse 12.6, em que a mulher foge para o deserto
e é protegida por Deus por "1260 dias” tem dois "ganchos"
inconfundíveis que a inserem na história do capítulo 12.

42
Em primeiro lugar, a fuga da mulher e os "1260 dias"
de proteção em Apocalipse 12.6 começam claramente com a
entronização de Apocalipse 12.5. Mas em Apocalipse 12.14-17 é a
perseguição do dragão, que agora foi lançado do céu para a terra,
que motiva a mulher a fugir para o deserto. Por isso, o que temos
em Apocalipse 12.14- 17 é a retomada e ampliação da história da
mulher começada em Apocalipse 12.6.
Observe as referências paralelas em
Apocalipse 12.6 e 12.14 a "deserto", alimentação e "um tempo,
tempos e metade de um tempo" (Ap 12.14) ou a seu equivalente
"1260 dias" (Ap 12.6).
Esse elo na história em que dois
acontecimentos são vistos com a fuga da mulher entre a
entronização do descendente da mulher (Cristo) e a perseguição da
mulher pelo dragão não é, nem estranha nem surpreendente. É a
entronização que (praticamente ao mesmo tempo) causa a guerra
no céu, que resulta na expulsão do dragão e
depois imediatamente leva o dragão agora furioso a
perseguir a mulher e "os restantes da sua descendência" (Ap
12.17).
Não apenas fica claro que os "1260 dias" de Apocalipse
12.6 eqüivalem a "um tempo, tempos e metade de um tempo" de
Apocalipse 12.14.
Depois o dragão levanta dois carrascos1 (Ap 13) para
ajudá-lo a perseguir aqueles que crêem em Jesus. Um deles é
apersonificação de Satanás em um líder político, a besta do mar
(Ap 13.1), chamado "o homem do pecado" ou "anticristo" (2Ts
2.3,4; lJo 2.18), que falará blasfêmias durante "quarenta e dois
meses" (Ap 13.5) e "pelejará contra os santos" (Ap
13.7), enquanto a segunda besta (ou "falso profeta", Ap
19.20), que procede da terra (Ap
13.11) , procura enganar a terra de modo que seus habitantes
adorem a primeira besta, o anticristo.
Portanto, os capítulos 12-13, é mais uma forma de se
referir aos três anos e meio, indicando o mesmo período de tempo.

Triunfo, Advertência e Condenação

1 Indivíduo cruel, desumano.

43
(Ap 14.1-20)
Após entregar mensagens de constantes perseguições
ao povo de Deus pela trindade do mal, os leitores de João carecem
de outra palavra de ânimo e advertência. Por isso o capítulo 14 usa
sete "vozes" para relacionar mais uma vez as advertências e
promessas do céu.
Há mais uma visão dos 144 mil, que "foram
redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o
Cordeiro" (Ap 14.4). Isentos da imoralidade sexual como figura da
idolatria, João disse que esses seguidores do Cordeiro eram "sem
mácula" (Ap 14.5).
Em outras palavras, não tinham se
"prostituído" com a besta. São os homens e mulheres que foram
fiéis na adoração ao único Deus verdadeiro por meio de Jesus
Cristo, e não foram seduzidos pelos enganos satânicos da primeira
besta e do seu aliado, o falso profeta.
Eles serão resgatados e levados ao trono no céu, onde
em uma só voz cantarão um novo cântico de salvação (Ap 14.1-5).
Ouve-se outra voz (Ap 14.6-7), de um anjo
anunciando o evangelho eterno e avisando a terra do juízo
iminente1. As "vozes" (ou declarações) restantes seguem em rápida
sucessão.
A queda da "grande Babilônia" (Ap 14.8), símbolo
veterotestamentário de uma nação inimiga do povo de Deus é
anunciado. Depois o povo de Deus é advertido para não seguir a
besta, e aqueles que a seguem são advertidos dos futuros
tormentos da separação de Deus (Ap 14.9-12).
Em seguida uma bênção é pronunciada aos que
permanecem fiéis (Ap 14.13). Por fim, duas vozes convocam para
a colheita. Uma chama o Filho do Homem para colher a terra
como se fosse uma gigantesca plantação de trigo (Ap 14.14-16),
enquanto a última voz compara a colheita da terra a uma
vindima, pois a vinda do Senhor equivalerá a pisar o lagar 2 da
terrível ira do Deus Todo-poderoso (Ap 14.17-20).

1 Que ameaça acontecer breve; que está sobranceiro; que está em via de efetivação
imediata; impendente.
2 Espécie de tanque onde se espremem e se reduzem a líquidos certos frutos,
especialmente as uvas.

44
As Sete Taças (Ap 15.1-16.21)
Assim como os sete selos e as sete trombetas
mostram aspectos diferentes do julgamento de Deus efetuado
por Cristo, agora mais uma dimensão do seu juízo é revelada.
As sete taças da ira são semelhantes às sete
trombetas e aos sete selos, mas também são diferentes; pois
vem o tempo em que à ira de Deus não será mais parcial ou
temporária, mas completa e permanente.

Essas taças derramadas significam que a


condenação divina também é definitiva e irrevogável 1. O juízo
parcial ("a terça parte") das trombetas mostra que Deus usa os
sofrimentos e males da vida como advertências para levar a raça
humana ao arrependimento e à fé.
As taças da ira representam os juízos do Cordeiro que
atingem a terra, e especialmente às pessoas que receberam a
marca da besta.
Entre o sexto e o sétimo selo e a sexta e a sétima
trombeta somos avisados da proteção do povo de Deus e da
missão de Deus para ele.
Nas sete taças não há interrupção entre o sexto e o
sétimo derramamento de punição. Só resta a ira; a grande
Babilônia, símbolo de todos os que se levantaram contra o Deus
Altíssimo, cairá. Ao ser derramada a sétima taça da ira há
novamente o grande terremoto acompanhado de "relâmpagos,
vozes e trovões" (Ap 16.18), pois o fim chegou.
A noção da ira de Deus nem sempre é um tema bem
vindo pelo leitor da Bíblia, mas é um ensino evidente do Antigo e
do Novo Testamento. A realidade do mal, da liberdade humana, a
justiça e o anseio de Deus de ter criaturas que, apesar de distintas
dEle como criaturas, mesmo assim se relacionam com Ele em
confiança e em amor, tornam inevitáveis as noções da ira de Deus.
Um Deus justo reage aos que persistem em sua recusa
maligna de reconhecê-lo como Senhor. Deus deseja ver o homem
rebelde depor as armas e voltar-se para Ele.
Deus agiu em misericórdia, por todos os meios
possíveis a ponto de assumir pessoalmente, por meio do seu Filho
unigênito, a pena que Ele mesmo prescrevera 2 para o pecado.
1 Que não se pode revogar; não revogável; incontrastável.
2 Indicar com precisão; determinar, fixar, preceituar.

45
A ira causa tristeza até mesmo no coração de Deus,
mas Ele não nos obriga a amá-lo. Ele deu liberdade aos seus filhos
e não destruirá a humanidade deles tirando-lhes essa liberdade,
mesmo se seus filhos insistem com teimosia em usar

46
da liberdade para rebelar-se contra Ele. É incrível que,
apesar da imensa misericórdia de Deus revelada [em Jesus Cristo,
existem pessoas que rejeitam sua misericórdia. Nesses casos, o
Deus fiel da criação e da redenção responderá fielmente de acordo
com sua própria natureza e palavra, dando aos seus filhos e: filhas
rebeldes aquilo em que insistiram com teimosia, isto é, a separação
eterna dEle.
Certamente, enquanto a ira de Deus, este é o ponto
alto do tormento e da desgraça: estar separado daquele que é a
verdadeira fonte de vida, ser separado do seu Criador compassivo
e, assim, experimentar para sempre a morte eterna que resulta da
rejeição daquele que é a fonte da vida eterna. Todavia, não
devemos negar nem lamentar a sabedoria de Deus em suas
manifestações passadas ou futuras de ira.
Nosso Deus evidentemente ama a retidão, a
justiça e a misericórdia a tal ponto que não tolera nossa tolerância
covarde do mal. Não podemos descartar como insignificante o fato
que o céu não está em silêncio nem embaraçado quando o mal é
punido. O céu festeja com a justiça e com o juízo de Deus (Ap
19.1-6).

Queda e Ruína da Cidade Imoral e da Besta (Ap


17.1-18.24)
O cap. 17 menciona a sexta taça anunciando a
queda da grande Babilônia, e o cap. 18 traz um lamento
comovente sobre a grande cidade, que não cumpriu os propósitos
de Deus para ela.
Todas as suas produções e obras grandiosas são
reduzidas a nada, porque ela se fez prostituta e adorou a besta
em vez de dedicar sua capacidade e energia a Deus e ao Cordeiro.

55
Júbilo no Céu e a Revelação do Cordeiro (Ap 19.1-
22.5)
O céu festeja porque a grande Babilônia caiu e
está na hora de aparecer a noiva do Cordeiro. O grande banquete da
salvação está pronto para começar. Depois de ter evitado a
descrição da vinda do Senhor em pelo menos três ocasiões
anteriores, João agora está preparado para descrever as glórias da
manifestação do Senhor.
Todo o céu festeja com a gloriosa punição do mal por
Deus (Ap 19.1-6). A noiva do Cordeiro, o povo de Deus, preparou-se
com sua fidelidade para seu Senhor por meio do sofrimento. Por isso
"lhe foi dado" (a salvação é sempre uma dádiva de Deus) vestir-se
de linho fino, "porque são chegadas as bodas do Cordeiro" (Ap 19.7-
8).
O céu está aberto, e aquele cuja vinda foi fielmente
pedida desde os tempos antigos, o Verbo de Deus, Rei dos reis e
Senhor dos senhores, surge para combater os inimigos de Deus em
um conflito sobre cujos resultados não restam dúvidas (Ap
19.11-16).
Quando o Cordeiro vir com seus exércitos
celestes, as duas bestas serão lançadas no lago de fogo (Ap 19.20).
O dragão, a antiga serpente, Diabo e Satanás são lançados em um
abismo, que é fechado e lacrado por mil anos (Ap 20.1-3).
Os poderes do mal reinarão por "três anos e meio",
mas, Cristo reinará por "mil anos". Os que morreram em Cristo
serão ressuscitados para governar com Ele (Ap 20.4-6), e o governo
do direito de Deus sobre a terra é vindicado.
O reino de mil anos é chamado milênio. O
termo vem do latim (mille, mil, e annum, ano) e significa período de
mil anos.
A palavra "mil" na Bíblia é eleph em hebraico e chilioi
em grego. Em muitas passagens do AT o termo é usado em
contagens, assim como no NT (veja Gn 24.60; Lc 14.31). Às vezes é
usado para referir-se a um grande número, sem a pretensão de ser
exato (veja Mq 5.2; 6.7; Ap 5.11). A referência específica usada

48
para criar a doutrina do reinado de mil anos ligado à última vinda de
Cristo que se encontra em Apocalipse 20.2-7.
O material bíblico não apresenta uma
escatologia sistemática em que todas essas diferentes referências ao
tempo do fim são organizadas em um só ensino. Por isso, na história
cristã, surgiram diferentes tipos de interpretação.
Os estudiosos cristãos que querem elaborar uma
doutrina sistemática coerente dos últimos acontecimentos
relacionam:
 Os trechos apocalípticos das profecias do AT (Vide o livro de
Daniel);
 Os trechos apocalípticos do NT (Ver Mt 24-25;
Mc 13; 2Pe; Jd; Ap);
 Os escritos de Paulo sobre a última vinda (lTs 4.1318; 2Ts 2.1-
11 - o homem da iniquidade);  As opiniões de Paulo sobre o
relacionamento entre judeus e gentios (Rm 9-11); e

 As referências ao anticristo (ou anticristos) em 1 João.


Nosso interesse nas questões do milênio, ou seja, se a
volta de Cristo ocorrerá antes do milênio (pré-milenismo) ou depois
do milênio (como no pós-milenismo e no amilenismo) é uma
preocupação cujo valor é muito exagerado quanto à interpretação de
Apocalipse.
O que realmente importava para João é que os
seguidores de Cristo, aqueles que sofreram
as aflições e perseguições desta época má, um dia serão resgatados
pela vinda de Cristo, quando Ele destruirá os poderes do mal.
Está claro no NT que a forma e a promessa da
esperança futura devem exercer influência sobre nossa conduta
presente e sobre nossa dedicação moral a Cristo (compare com Rm
8.18-25).
Na verdade, o objetivo do Apocalipse é
incentivar os cristãos a perseverar no presente à luz do triunfo de
Deus no futuro por meio de Jesus Cristo.

49
A interpretação sobre o reino de mil anos com a volta de
Cristo dada no comentário acima poderá ser mais bem entendida na
lição 3.
Logo após o término dos "mil anos" (Ap 20.7, o dragão
deverá ser solto. Permite-se a ele mais um tempo para enganar as
pessoas, mas de curta duração.
Depois desse episódio de engano, no fim dos
mil anos, o dragão é recapturado e dessa vez lançado no lago de
fogo e enxofre, "onde já se encontram não só a besta como também
o falso profeta" (Ap 20.10).
O destino reservado para a besta e para o
falso profeta na volta de Cristo é estendido também ao dragão, no
fim do reinado de Cristo. Então ocorre o julgamento final, e os que
não estiverem incluídos no livro da vida serão lançados no lago de
fogo (Ap 20.1115).
Com frequência pensa-se que o capítulo 21 refere-se ao
período que segue o reinado de mil anos, mas ele está mais
provavelmente recontando a volta de Cristo do ponto de vista da
noiva.
Aqui temos indicações claras de uma
"repetição" literária. Assim como o capítulo 17 é uma recapitulação
da sétima taça e da queda da meretriz, a grande Babilônia (compare
a linguagem de
Apocalipse 17.1-3, que apresenta claramente uma "narrativa
repetida", com a linguagem de Apocalipse 21.9-10), o capítulo 21
recapitula a glorificação da noiva do Cordeiro (Ap 22.1-22.5).
Aqui a revelação é contada da perspectiva da
noiva. Ser a noiva significa ser a cidade santa, a nova Jerusalém,
viver na presença de Deus e do Cordeiro, e ter proteção, alegria, luz
eterna e vivificadora de Deus (Ap 21.9-27).
A árvore da vida cresce ali, onde também flui o rio da
água da vida. Ali não haverá mais noite; não haverá mais nenhuma
maldição, pois o trono de Deus e do Cordeiro está presente. Ali seus
servos o servirão e reinarão com ele para todo o sempre (Ap 21.1-
5).

50
Conclusão

(Ap 22.6-21)
João conclui sua narrativa declarando a fidelidade de
suas palavras. Os que ouvirem a sua profecia se beneficiarão das
bênçãos de Deus. Os que desprezarem suas advertências serão
deixados do lado de fora das portas que dão acesso à presença de
Deus (Ap 22.6-15).
João encerra seu livro orando pela volta do Senhor (Ap
22.17,20). As igrejas devem dar ouvidos ao que o Espírito diz (Ap
22.16-17).
Sob a ameaça de maldição eterna, os leitores são
advertidos a proteger o texto sagrado de João: não devem
acrescentar nem tirar nada das palavras de sua profecia (Ap 22.18-
19).
O povo de Deus precisa, pela graça divina, perseverar
na hora da tribulação, sabendo que seu Senhor entronizado logo
voltará em triunfo.

51
Capítulo 3
Escatologia: 1a Parte

Escatologia bíblica (Is 5.1-4; Mt 24.3-24; 27,44) é o


estudo dos eventos que estão para acontecer, segundo as Escrituras.
O termo escatologia deriva do grego "eschatos" (último), e "logia"
(trato ou estudo), logo, escatologia é o tratado das últimas coisas.
Nas primeiras palavras do texto de Apocalipse 1.1
podemos entender o sentido da escatologia para a Igreja. Significa
para os cristãos "o estudo ou a doutrina das últimas coisas".
A escatologia é o ponto alto do estudo teológico. A
teologia só pode ser completa quando apresenta uma escatologia
fidedigna, harmônica e com interpretação fiel.
Pela palavra profética, Deus informa aos
homens algo sobre os tempos e estações que estabeleceu pelo seu
próprio poder (At 1.7). Para os salvos, maravilhosas e
surpreendentes coisas estão reservadas dentro de um futuro breve,
de riquezas ímpares e regozijantes.
Para os ímpios, que não se arrependerem, o quadro
futurístico é dramático e lamentável;
o sofrimento eterno os colocam num inferno real de dor e
desespero (Mt 25.46; Lc 16.19-31).
52
Os acontecimentos do futurotêm sido assunto
do interesse da humanidade, principalmente neste século. A Igreja
de Cristo aguarda um futuro glorioso como consequência de sua
comunhão com Deus, Apesar de estarmos tratando de um tema
que, se nãohouver cuidado entra no terreno da especulação.
Deus tem um plano eterno de ação em andamento (Ef
3.11):
 Em relação ao homem;
 Em relação à criação;
 Ao universo material.
Este plano eterno e divino aproxima-se do seu fim,
quanto ao ciclo da históriahumana, inclusive a história de redenção
(lPe 4.7). Abrange:
1. Israel. Seu renascimento nacional e seu atual
desenvolvimento;
2. Os gentios. Sua expansão, seus movimentos, suas convulsões 1
sociais; seu humanismo e sua salvação;
3. A Igreja. O derramamento do Espírito Santo na Igreja em
geral; a renovação da Igreja;
4. Satanás e suas hostes2. Proliferação do satanismo sob os
mais diversos nomes e formas.

A Importância da Escatologia Bíblica


A escatologia bíblica não é apenas abrangente; é
amorosamente conclusiva. Percorre a História e descortina a
eternidade. Revela-se, e é sempre um mistério. Deus a engendrou 3
nos
profetas, fecundou-a nos Evangelhos e Epístolas, e deua a
pleníssima luz no Apocalipse.
Ela desvenda-nos o Estado Intermediário e o que há de
suceder-se no Arrebatamento da Igreja, na Grande Tribulação, no

1 Grande agitação ou transformação.


2 Tropa; exército. Bandos, chusma; multidão.
3 Dar origem a; gerar, produzir. Inventar, imaginar, engenhar.
53
Milênio, na instauração do Juízo Final e no estabelecimento do
Eterno Estado.
Se alguma coisa esconde, isto fica por conta da
economia divina (Dt 29.29). É revelação; não admite hipóteses.
Onde ela se cala, não precisamos ter voz.
No essencial e básico: unidade; nos adiáforos 1e pontos
secundários: liberdade; mas nunca sem o amor.
A Igreja sempre se preocupou com a Doutrina
das Últimas Coisas. A História mostra que o cristianismo, desde a
sua fundação, vem sendo caracterizado por um decisivo enfoque
escatológico. E, hoje, segundo o Dr. Orr, a Escatologia Bíblica vive o
seu ápice2. Nunca os cristãos estudaram tanto as Últimas Coisas
quanto nestes dias que se abreviam.

O Campo da Escatologia Bíblica


A escatologia é baseada na revelação divina.
A Bíblia é a revelação da vontade de Deus à
humanidade. Inicialmente, Deus escolheu a semente de Abraão, ou
seja, o povo de Israel, para revelar a sua vontade. Mais tarde, Deus
ampliou o campo da sua revelação e formou um novo povo, a Igreja,
constituído de judeus e gentios (Ef 2.11-19).
A partir de então, a Igreja é o alvo da
revelação divina. Toda a revelação aponta para o futuro e a Igreja
caminha com esta esperança, pois é identificada como "peregrina e
forasteira" (lPe
2.11) . Ela existe por causa da esperança (Rm 5.2; 8.24; Ef 4.4 e lTs
4.13). A esperança indica uma meta; traça planos para um futuro.
O mundo pagão se fecha dentro de um
fatalismo3 histórico, sem expectativas, sem futuro, mas a Bíblia
revela o futuro.

A escatologia pertence ao campo da profecia.

1 Não essencial; acessório, secundário, dispensável.


2 O mais alto grau; apogeu.
3 Atitude ou doutrina que admite que o curso dos acontecimentos esteja previamente
fixado, nada podendo alterá- lo.
54
Interpretar os textos proféticos das Escrituras
é a preocupação principal e a atenção da escatologia.
As verdades proféticas se tornam claras e definidas
quando se tem o cuidado de interpretá-las seguindo os princípios da
hermenêutica, observando o seu contexto histórico e doutrinário
(2Pe 1.19-21).

Métodos de Interpretação da Escatologia


Na História da Igreja têm sido adotados vários métodos
de interpretação no que concerne às escrituras proféticas. Eles têm
produzido explicações e posições que obrigam os cristãos a serem
cautelosos. Para isso, dois métodos de interpretação devem merecer
a nossa atenção.

1) Método alegórico ou figurado.


Alguns teólogos definem a alegoria "como qualquer
declaração de fatos supostos que admite a interpretação literal, mas
que requer, também, uma interpretação moral ou figurada".
Se interpretarmos uma profecia bíblica, não
observando o sentido real, figurado ou literal, negando o valor
histórico, dando uma interpretação
de somenos1 importância; corremos o sério risco de anular a
revelação de Deus.

2) Método literal e textual


É o método gramático-histórico, isto é, preocupa-se em
dar um sentido literal às palavras da profecia, interpretando-
as conforme o significado ordinário, de uso normal.
Contudo, os dois métodos abordados aqui são válidos,
mas devem ser utilizados com cuidado e precisão. Há uma perfeita
relação entre as verdades literais e a linguagem figurada.

O Plano de Deus para Israel


Descendentes de Abraão (Gn 12.1,3).

1 De menor valor que outro; inferior.


55
Os filhos de Israel foram privilegiados como nenhuma
outra nação o foi, Deus escolheu a nação israelita para o
estabelecimento de seu plano salvífico, beneficiando toda a
humanidade. Abaixo vemos as bênçãos de Deus para com Israel:
A. Israel é a nação eleita por Deus (Dt 7.6; Lv
20.24; Êx 19.6);
B. Deus prometeu abençoar o mundo através de Israel (Gn
22.18);
C. Deus outorgou a Israel sete privilégios (Rm
9.4,5):
1. Adoção de filhos;
2. A glória (manifesta no Monte, Tabernáculo e no
Templo);
3. Os concertos (com Abraão, Moisés e Davi);
4. A Lei;
5. O Culto (consistia no serviço espiritual, sacrifícios, ofertas
e festas);

56
6. As promessas; e por fim
7. Israel rejeitou o próprio Cristo que nós consideramos o
"privilégio dos privilégios" (Rm
9.5).

A história de Israel abrange 10 períodos:


1. Patriarcal ...... Abraão a José;
2. Opressão ...... no Egito por 430 anos;
3. Peregrinação. Moisés no deserto;
4. Conquista ..... com Josué;
5. Indecisão ...... época dos Juizes;
6. Consolidação. época do reino unido;
7. Divisão......... época do reino dividido;
8. Maldição ....... no cativeiro;
9. Dispersão ..... interbíblico até a vinda de Jesus;
10. Purificação .... Daniel 9.24.

Desobediência e Rejeição de Israel


Deus demonstrou sua presença, seu poder e seu nome (Rm
9.17), Israel falhou e a tudo rejeitou. As conseqüências destas
rejeições foram:
=>Perderam o reino (Mt 21.43; Lc 20.16);
=>A casa ficou deserta (Mt 23.38);
=>Foram dispersos (Os 9.17);
=>Seus ramos foram quebrados (Rm 11.17). Israel no Plano
Divino para a Salvação
Em Romanos 9-11, Paulo trata da eleição de Israel no
passado, da sua rejeição do evangelho no presente, e da sua salvação
futura. Três capítulos foram escritos para responder à pergunta que os
crentes judaicos faziam: Como as promessas de

66
Deus a Abraão e à nação de Israel poderiam permanecer válidas,
quando a ação de Israel, como um todo, não parece ter parte no
Evangelho?
O presente estudo resume o argumento de Paulo. Há três
elementos distintos no exame que Paulo faz de Israel no plano divino
da salvação.

O primeiro elemento (Rm 9.6-29).


É um exame da eleição de Israel no passado. Em Romanos
9.6-13, Paulo fala que a promessa de Deus a Israel não falhou, pois a
promessa era só para os fiéis da nação.
Visava somente o verdadeiro Israel, que eram fiéis à
promessa (Gn 12.1-3; 17.19). Sempre há um Israel dentro de Israel,
que tem recebido a promessa.
Em Romanos 9.14-29, Paulo chama a nossa atenção para
o fato que Deus tem o direito de fazer o que Ele quer com os indivíduos
e as nações. Tem o direito de rejeitar a Israel, se desobedecerem a Ele
e o direito de usar de misericórdia para com os gentios, oferecendo-
lhes a salvação.

O segundo elemento (Rm 9.30-10.21).


Analisa a rejeição presente do Evangelho por Israel. Seu
erro de não se voltar para Cristo, não se deve a um decreto
incondicional de Deus, mas à sua própria incredulidade e desobediência
(Rm 10.3).

O terceiro elemento (Rm 11.1-36).


Paulo explica neste texto que a rejeição de Israel é apenas
parcial e temporária. Israel por fim aceitará a salvação divina em
Cristo.
O argumento do apóstolo Paulo contém vários
passos, a saber:
1. Deus não rejeitou o Israel verdadeiro, pois Ele permaneceu fiel
ao "remanescente" que permanece fiel a Ele, aceitando a Cristo
(Rm11.1-6).
2. No presente, Deus endureceu a maior parte de Israel, porque os
israelitas não quiseram aceitar a Cristo (Rm 11.7-10; cf. 9.31-
10.21).
3. Deus transformou a transgressão de Israel (i.e., a crucificação de
Cristo) numa oportunidade de proclamar a salvação a todo o
mundo
(Rm11.11,12,15).

58
4. Durante esse tempo presente da incredulidade nacional de Israel,
a salvação de indivíduos, tanto os judeus como os gentios (Rm
10.12,13) dependem da fé em Jesus Cristo (Rm 11.13-24).
5. A fé em Jesus Cristo, por uma parte do Israel nacional,
acontecerá no futuro (Rm 11.25-29).
6. O propósito sincero de Deus é misericórdia, tanto dos judeus
como dos gentios, e incluí-los em seu reino todas as pessoas que
crêem em Cristo (Rm
1.30-36; 10.12,13; 11.20-24).

Aspectos interessantes em Romanos 3 a 11.

1. Esse exame da condição de Israel não se refere à vida ou morte


eterna de indivíduos após a morte.
Pelo contrário, Paulo está tratando do modo como Deus
lida com nações e povos do ponto de vista histórico, i.e., do seu direito
de usar povos e nações conforme Ele quer.
Um exemplo disso foi a escolha de Jacó em
lugar de Esaú (Rm 9.11) que teve como propósito fundar e usar as
nações de Israel e de Edom, oriundas1 destes.
Nada tinham que ver com seu destino eterno, ou seja,
quanto a sua salvação ou condenação como indivíduos.

2. Paulo expressa sua constante solicitude 2 e intensa tristeza pela


nação judaica (Rm 9.1-3).
O próprio fato que Paulo ora para que seus
compatriotas sejam salvos, revela que ele não admitia o ensino
teológico da predestinação, afirmando que todas as pessoas já nascem
predestinadas, ou para o céu, ou para o inferno.
Pelo contrário, o sincero desejo e oração de Paulo refletem
a vontade de Deus para o povo judaico (cf. Rm 10.21).

3. O mais relevante neste assunto é o tema da fé.


O estado espiritual de perdido, da maioria dos israelitas,
não fora determinado por um decreto arbitrário de Deus, mas,
resultado da recusa de se submeterem ao plano divino da salvação
mediante a fé em Cristo (Rm 9.33; 10.3; 11.20).

1 Originário, proveniente, procedente; natural.


2 Zelo em prestar qualquer espécie de assistência; dedicação. Atenção inquieta; cuidado
constante; boa vontade.
59
Inúmeros gentios, porém, aceitaram o
caminho de Deus, que é o da fé. Obedeceram a Deus pela fé e se
tornaram "filhos do Deus vivo" (Rm
9.25,26) . Esse fato ressalta a importância da obediência mediante a fé
(Rm 1.5; 16.26) refere à chamada e eleição da parte de Deus.

4. A oportunidade de salvação está perante a Israel, se deixar sua


incredulidade (Rm 11.23).
Os gentios (convertidos) que fazem parte da Igreja de
Deus são advertidos que corre o mesmo risco de serem cortados da
salvação (Rm 11.13-22). Eles devem perseverar na fé com temor. A
advertência aos gentios em Romanos 11.20-23, pelo fato da falha de
Israel, é tão válida hoje quanto o foi no dia em que Paulo a escreveu.

5. A Bíblia fala sobre promessas de restauração a Israel quando


aceitarem o Messias.
Ao findar-se a Grande Tribulação, na iminência da volta
pessoal de Cristo (Is 11.10-12; 24.17-23; 49.22,23; Jr 31.31-34; Ez
37.12-14; Rm11.26).

1.

60
As Setenta Semanas de Daniel (Dn 9.24-27)

As semanas de anos equivalem a 490 anos. O termo


hebraico para semanas é "Shábua”, (Lv 25.8, Nm
14.34).
Os judeus violaram a Lei divina do ano
sabático, isto é, deveriam trabalhar na terra por 6 anos, e no sétimo
ano a terra descansaria. Da monarquia ao cativeiro, período de 500
anos, os judeus não cumpriram a determinação divina, como não
obedeceram, Deus os manteve fora da terra, cativos em Babilônia por
um período de 70 anos, o correspondente a 490 anos sabáticos (Jr
25.11;29.10).
Divisão e análise das semanas de anos:

Grupos de Semanas Referências


Semanas Bíblicas

Primeiro 7 semanas ou 49 anos Dn 9.25


Segundo 62 semanas ou 434 anos Dn 9.25,26
Terceiro 1 semana ou 7 anos Dn 9.27
7 + 62 + 1 = 70 semanas / 49 + 434 + 7 = 490 anos

O Início da Contagem

Afirma o Dr. A. J. McCIain, que início da contagem das


semanas tem como base em Neemias 2.1: "Sucedeu no mês de Nisã,
no ano vigésimo do rei Artaxerxes”.

Ascensão de Artaxerxes

Vigésimo ano de seu reinado 445 a.C.

Calendário hebraico Mês de Nisã, 1° dia

Nosso calendário Dia 14 de março


Conclusão 465 - 20 = 445 a.C.

61
Portanto a data determinada para o início da contagem é
14 de março de 445 a.C.
As duas primeiras divisões: 7 + 62 = 69. Para um cálculo
real, devemos reduzir as semanas em dias. Temos 69 semanas de 7
anos cada uma, e cada ano têm 3601 dias, façamos então a equação:

69 * 7 * 360 = 173.880 dias

Iniciando a contagem em 14 de março de 445 a.C.,


contando 173.880 dias, chegaremos exatamente em 6 de abril do ano
32 d.C., quando Jesus entrou em
Jerusalém montado em um jumentinho (Zc 9.9; Lc 19.2844).
Os 173.880 dias são correspondentes ao
período desde 14 de março de 445 a.C. até 6 de abril de 32 d.C.
1

Cálculo

445 a.C. até 32 d.C. = 476 anos


(a.C. 1 até d.C. 1 = 1 ano) = 476 dias = 173.740 dias
Aumento de anos bissextos2 = 116 dias (3 a menos em 4 séculos).
14 de março a 6 de abril = 24 dias
Total = 173.880 dias
1ª Divisão: compreende 7 semanas = 49 anos, (445 a.C. a
396 a.C.) Jerusalém é reconstruída. 2a Divisão:
compreende 62 semanas 434 anos (396
a. C. até a morte do Messias). Neste período, a cidade de
Jerusalém é destruída, e há guerras até o fim.

1 Conforme o calendário egípcio na sua versão mais primitiva, que serviu de base para o
calendário gregoriano, o ano tinha 12 meses de 30 dias, totalizando 360 dias divididos em
três quadrimestres correspondentes às três estações regidas pelo Nilo: Cheia, Plantio e
Colheita.
2 O que tem 366 dias, sendo que a introdução de um dia
extra no mês de fevereiro compensa a incomensurabilidade
entre os períodos de translação e rotação da Terra.

62
Dedução: 7 semanas + 62 semanas = 69 semanas... 49 anos +
434 anos = 483 anos

Profecias que encerram as primeiras


divisões (Dn 9.26):

 Será tirado o Messias: Refere-se à morte de Cristo.


 0 Povo do príncipe (são os romanos). No ano 70 d.C.
destruíram Jerusalém sob as ordens de Tito.  O

príncipe que há de vir: o anticristo. O Intervalo


Entre a 69a e a 70a Semana

A Igreja.
O cumprimento da 70a semana será no
futuro. A contagem das semanas proféticas parou na 69 a com a
mortedo Messias e a destruição de Jerusalém. Pelo contexto dos
versículos 26 e 27 do capítulo 9 do livro de Daniel podemos afirmar
que
entre um e outro existe um intervalo, o qual denomina hoje como
"dispensação da graça", o período do surgimento da Igreja.
A Bíblia se refere à Igreja como o "mistério"
que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações e
que agora foi manifestado aos seus santos (Cl 1.26; ICo 2.7; Rm
16.25; Ef 3.9). O intervalo entre a 69 a e a 70a semana já alcança mais
de 1.900 anos, sendo que neste período os gentios foram beneficiados
por Deus com a grande oportunidade de salvação pela graça (Ef 2.8,9;
Rm 1.16,17).

Os judeus rejeitaram a Cristo, que foi aceito pelos gentios.


O relógio de Deus não pode parar. Como Israel
foi expulso de sua terra no ano 70 d.C. pelos romanos, a profecia das
semanas não poderia se cumprir em sua seqüência normal, mas teria
um intervalo. Assim, a contagem destas semanas passa por um hiato 1
para o surgimento da Igreja.
O que estava nos planos de Deus, é que dentro deste
tempo os judeus retornassem à Palestina, cumprindo as profecias de
Isaías 66.8; Cantares 2.13,15 e Mateus 24.32,33.

1 Lacuna, intervalo, falha.


63
A 70a semana de Daniel correspondente a Grande Tribulação.
Sua duração naturalmente será de 7 (sete)
anos e coincidirá com o surgimento do anticristo.
Nota: O comentário a respeito da Grande
Tribulação que corresponde à septuagésima semana de Daniel, bem
como do texto de Daniel 9.27 será comentado posteriormente.

64
Fatos marcantes no decorrer das semanas (Dn
9.24).
 Extinguir a transgressão de Israel. Daniel confessou a
transgressão do seu povo em oração (Dn 9.11);
 Dar fim aos pecados. Por fim aos pecados de Israel.
Acontecerá antes do reinado milenial de Cristo na terra (Ez
37.22-28);
 Expiar a iniqüidade. Expiação em favor de Israel que
rejeitou o sacrifício vicário de Jesus no Calvário
(Jo 1.11; Rm 11.25-27);
 Trazer a justiça eterna. Trata-se da justiça de
Cristo, adquirida na cruz do Calvário (Is
9.6,7);
 Selar a visão e a profecia. É óbvio que se trata da profecia
das setenta semanas. A profecia será selada quando o povo
andar em retidão, deixando suas práticas abomináveis1;
 Ungir o Santo dos Santos. Refere-se à purificação do
Templo de Jerusalém que foi profanado2 pela abominação
desoladora, mencionada por Daniel
11.31 e por Jesus (Mt
24.15).

A Morte e o Estado Intermediário

A morte.
É um inimigo (ICo 15.26, Ap 21.4), que entrou no
mundo através do pecado (Rm 5.12). A Bíblia nos revela três
tipos de morte:
 Morte física. Separação entre o corpo, a alma e o
espírito (Gn 3.19; Jo 11-14; Lc 16.19-31);
 Morte espiritual. Separação entre Deus, a alma e
o espírito (Gn 2.17; 3.6,7; Ef 2.1);

1 Que deve ser abominado; detestável, execrável, execrando, abominando,


abominoso:
2 Tratar com irreverência (coisas sagradas); desconsagrar.
 Morte eterna. Também chamada segunda morte,
sofrimento final do corpo novamente unido à alma
e ao espírito, no caso do pecador não regenerado,
ficando completamente separado de Deus e dos
redimidos por toda a eternidade (Ap 20.1115;
21.8).

O Estado Intermediário.
Os primeiros cristãos não
tinham uma concepção clara sobre esse assunto. Como
aguardavam a vinda de Cristo para aqueles dias, acreditavam que
os justos, tão logo morriam, eram recolhidos por Deus ao paraíso,
enquanto que os ímpios, de imediato, eram lançados ao inferno.
Frustrados em sua espera puseram-se a
estudar com mais serenidade as profecias. Daí Justino, o Mártir,
(100 a 165 d.C.) haver concluído: "As almas dos piedosos estão
num lugar melhor, e as dos injustos num lugar pior, aguardando
o tempo do juízo".
Se o dogma1 do Estado Intermediário ainda não
estava esboçado, a concepção já era clara. A doutrina seria
desenvolvida por Irineu, Hilário, Ambrósio e Agostinho.
Acreditavam que Deus conduzia os mortos ao Hades, onde, nas
várias seções desse cárcere extradimensional, permaneceriam até
ao Dia do Juízo. Mas os mártires, segundo Tertuliano (155-222
d.C.), não tinham necessidade de passar por tal processo; seu
sofrimento garantia-lhes acesso direto aos céus.
A mente de Agostinho avançou no Estado
Intermediário, extra biblicamente, avançou e concluiu que, no
Hades, as almas eram submetidas a um processo de amorosa
purificação para, em seguida, serem recolhidas pelo Senhor ao
paraíso. Concebia-se, assim, o embrião do Purgatório que tantos
malefícios trouxeram ao cristianismo.
Se o purgatório foi concebido por Agostinho, viria à
luz através de Gregório, o Grande: "Deve ser crido que existe, por
1 Ponto fundamental e indiscutível duma doutrina religiosa.

77
66
causa das pequenas falhas, um fogo purgatorial antes do juízo".
Em conseqüência de semelhante alocução 1, esse papa entrou para
a história como o pai do purgatório, cuja doutrina seria redefinida
e dogmatizada pelo Concilio de Trento em 1563.

O Que Seria Purgatório?

De acordo com essa concepção, é um estado a que


se submetem as almas que, embora amigas de Deus, necessitam
purificar-se dos pecados veniais2.
Pode-se definir Purgatório como um estado
transitório de purificação, é o estágio em que as almas dos justos
completam a purificação de suas penas, devidas pelos pecados já
cometidos, antes de entrar no céu. Somente assim estarão aptas
a unir- se ao Cristo, pois no Purgatório, um fogo purificador vai,
pouco a pouco, limpando todas as imperfeições e resquícios do
original pecado.
O fogo, em imagem, segundo alguns teólogos,
aumenta-lhes a esperança e o regozijo eternos.

1 Discurso breve, proferido em ocasião solene.


2 Digno de vênia ou desculpa; perdoável, desculpável.
Ensinavam ainda que o Purgatório localizavase na
fronteira do Hades com o inferno. Foi em conexão com esta
extravagância doutrinária que a venda de indulgências1 foi
popularizada, somente estas, proclamavam a
Igreja Católica, haveriam de abreviar o estágio das almas que se
encontravam no Purgatório.
A idéia do Purgatório foi energicamente combatida
pelos reformadores protestantes. Os Artigos de Smacald
decretaram que Purgatório pertence "á geração pestilenta da
idolatria, gerada pela cauda do dragão".
As Escrituras ensinam tanto a existência dos judeus
como a existência dos ímpios após a morte e antes da
ressurreição.

Geena, Sheol, Hades, Seio de Abraão e

Tártaro
Temos através de John Davids as seguintes
colocações a respeito destes termos:

1. Lugar dos mortos.


Uma das traduções da palavra hebraica, Sheol
e da grega hades (At 2.27).
A versão revista da Bíblia inglesa do AT, tanto
no texto como à margem, usa a palavra Sheol, nos livros
proféticos, emprega-se a palavra Sheol nas margens e a palavra
Inferno no texto, e em Deuteronômio 32.22; Salmos 55.15;
86.13, emprega Sheol nas margens e abismo no texto. O NT usa
a palavra Hades, no texto.
Ambos os vocábulos também se traduzem por
sepultura (Gn 37.35; Is 38.10,18; Os 13.14). A
versão revista inglesa traduz Sheol por morte em ICoríntios
15.55.
Não há certeza quanto à etimologia da

1 Clemência, misericórdia. Tolerância, benevolência. Remição das penas; perdão.

68
palavra. Sheol tem o sentido de insaciável em Provérbios 27.20 e
30.15,16. Hades pronunciado sem aspiração, significa invisível.
Tanto um como outro termo denotam o lugar dos mortos.
Não existe evidência quanto ao verdadeiro sentido,
pode afirmar-se, porém, que durante alguns séculos, os hebreus
partilharam a idéia semítica a respeito de Sheol.
Era uma concepção vaga e indefinida, e, portanto,
abria caminho para a imaginação, que inventava pormenores
fantásticos para descrever o Sheol. É preciso muito cuidado para
não confundir os frutos da imaginação com a fé.
Os antigos hebreus, semelhantes a outras raças
semíticas, imaginavam o Sheol embaixo da terra (Nm 16.30,33;
Ez 31.17; Am 9.2). Pintavam-no como tendo portas (Is 38.10),
região tenebrosa e melancólica, onde se passa uma existência
consciente, porém triste e inativa (2Sm 22.6; SI 6.6; Ec 9.10).
Imaginavam o Sheol como sendo o lugar para onde
vão as almas de todos os homens, sem distinção alguma (Gn
37.35;SI 31.17; Is 38.10), onde os ímpios sofriam e os justos
gozavam. Pensavam também que havia possibilidade de virem à
terra (ISm 28.8-19; Hb 11.19).
É importante notar que a doutrina autorizada dos
hebreus sobre Sheol, dizia que só Deus era conhecido, e que
estava na sua presença (Pv 15.11; Jó 26.6); que Deus estava
presente a ele (SI 139.8); e que os espíritos de seu povo e as
suas condições naquela habitação, estavam sob a vigilância de
seu olhar.
Esta doutrina inclui a grande bênção de Deus para
com o seu povo depois da morte, gozando da sua presença e de
seu constante amor, e, ao mesmo tempo, a miséria dos ímpios.
Dois lugares de habitação para os mortos: um
para os justos com Deus, e outro para os ímpios, banidos para
sempre da sua presença. Esta doutrina subjaz à doutrina da
ressurreição eventual do corpo para a vida eterna.
A doutrina a respeito da glória futura e da
ressurreição do corpo, já era confortadora aos crentes do AT (Jó
19.25-27; SI 16.8-10; 17.15; 49.14,15; 73.24; Dn 12.2,3). Uma
base para esta doutrina encontra-se no exemplo de Enoque e de

69
Elias que foram arrebatados, e também na crença dos egípcios
com que se relacionaram, durante séculos, os hebreus.

Havia entre ambos os povos, idéias paralelas


a respeito da vida futura e da relação de mortalidade da vida
presente com o bem estar futuro, além da sepultura. Porém, só
Jesus Cristo poderia derramar luz plena sobre a imortalidade,
revelando as bênçãos para as almas salvas, habitando na
presença de Deus, depois da morte, livres de todos os males da
presente vida (Lc
23.43; Jo 14.1-3; 2Co 5-6-8; Fp 1.23).

2. Lugar de tormentos e miséria.


Neste sentido é que se traduz a palavra grega
Gehenna, em Mateus 5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15,33; Marcos
9.47; Lucas 12.5; Tiago 3.6. É a forma grega do hebraico
Gehinnom, vale de Hinom, onde queimavam crianças vivas em
honra de Moloque.
Por causa destes horríveis pecados que se
cometiam ali, por causa das suas imundícias, e
talvez por servir de depósito ao lixo da cidade, veio a servir de
emblema do pecado e da miséria, e o nome passou a designar o
lugar do castigo eterno (Mt 18.8,9; Mc 9.43).
Das cenas que se observam ali, a imaginação tirou as
cores para pintar a Geena dos perdidos (Mt
5.22; cf. 13.42; Mc 9.48).
Na Segunda Epístola de Pedro capítulo 2 e versículo
4, onde se lê: ".. .precipitando-os no inferno", é a tradução do
verbo tartaroô, significando - lançar no Tártaro.
O Tartarus dos romanos, o Tartaros dos
gregos, era o lugar por eles imaginado para onde iam as almas,
situado abaixo do Hades, quando o Hades estava abaixo do céu.
Ainda que a etimologia seja diferente, Geena e
Tártaro incluem essencialmente a mesma idéia - lugar de punição
para os perdidos.

70
3. Seio de Abraão.
Conforme o teólogo Claudinor C. de Andrade, o termo
vem do gr. kólpon Abraám, e é a designação que os judeus do
tempo de Cristo davam ao lugar, provavelmente no centro da
terra, para onde eram enviadas as almas dos justos (Lc
16.22,23).
Nesse local de delícias, separado do Hades por um
grande abismo, ficariam até a ressurreição de Cristo. Nessa
ocasião, o paraíso foi esvaziado, sendo seus habitantes
transferidos, pelo Senhor, à destra de Deus, onde permanecerão
até o arrebatamento (Ef 4.810), quando voltarão gloriosa e
incorruptivelmente aos seus corpos para unir-se à Igreja numa
santa e eterna assembléia.

71
Estado dos Mortos
*" Antes da ressurreição de Cristo.
No AT todos os mortos justos e ímpios iam para o
Hades (palavra grega equivalente a Sheol no hebraico).
Havia, porém uma separação entre os justos e os maus.
Os justos ficavam no "Seio de Abraão" (chamado também de
paraíso), os ímpios iam para o sofrimento, um lugar medonho, de
dores (Lc
16.19-31).
Vale-se dizer, que todos os mortos, justos e
ímpios, ficavam conscientes no Estado Intermediário.

Depois da ressurreição de Cristo.


Com a morte de Cristo por nós pecadores, houve uma
realmudança quantoao Estado Intermediário dos justos, naverdade
a mudança ocorreu entre a morte e a ressurreição do Senhor (Lc
23.43; Ef 4.8,9).
Ao ressuscitar, Jesus levou para o céu os crentes do AT
que estavam no "Seio de Abraão" (ver Mt 27.52,53). Portanto, hoje
o estado dos justos é muito mais glorioso, todos os mortos em
Cristo, estão no Paraíso, também chamado de terceiro céu (2Co
12.1-4).

O Estado dos Justos Falecidos


O apóstolo Paulo foi ao Paraíso, o qual está no terceiro
céu (2Co 12.1-4), portanto, o Paraíso está em cima, na imediata
presença de Deus, e não em baixo, como dantes.
As almas dos mártires da Grande Tribulação
permanecerão no Céu, "debaixo do altar”, aguardando o momento
da ressurreição e ingresso
do reino milenial de Cristo (Ap 6.9,10; 20.4).
Portanto, os crentes que agora dormem no Senhor, estão no Céu,
pois o Paraíso está agora ali, como um dos resultados da obra
redentora do Senhor Jesus Cristo (2Co 5.8).
"Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a
última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos

72
ressuscitarão primeiro, e nós seremos
transformados".
"Porque convém que isto que é corruptível se
revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da
imortalidade".
Depois que Cristo ascendeu ao Céu, a Bíblia nunca mais se
refere ao Paraíso como estando "em baixo". Desse ponto em
diante todas as referências no NT sobre o assunto, falam da
localização do Paraíso como estando "em cima" ou "no alto".

 Estão com Deus (Ec 12.7; Hb 12.22,23);


 Por ocasião da morte os crentes entram no

 Paraíso (2Co 124; Lc 23.42,43);


 Os justos estão vivos e conscientes (Mt
22.32);
 Estão em descanso (Ap 14.13).

O Estado dos ímpios Falecidos


Para os ímpios mortos não houve qualquer alteração
quanto ao seu estado. Continuam descendo ao Hades, o "império
da Morte", onde ficarão em sofrimento consciente até o Juízo Final,
após o Milênio, onde serão julgados e condenados ao inferno eterno
(Ap 20.13-15).
Assim sendo, qualquer fantasma ou "alma do outro
mundo" que porventura aparecer por aqui, é coisa diabólica,
porque do Hades não sai ninguém. É uma prisão, cuja chave está
nas mãos de Jesus
(Ap 1.18). Alma de outro mundo não vem a terra, pois os salvos
estão em Jesus e os perdidos que morreram estão encerrados para
o grande dia do juízo do Grande Trono Branco.
 Estão vivos e conscientes (Lc 16.23);
 Estão separados de Deus (Lc 16.23);
 Encontram-se em prisão (lPe 3.19);
 Estão debaixo da punição (2Pe 2.4,9).

73
O Céu
A Bíblia e a doutrina cristã define o "Céu"
como o destino final e eterno da Igreja, e sua habitação na eterna
presença de Deus. Em João 14.2,3 vemos que por duas vezes
Jesus chama o "Céu" de lugar.
Realmente o "Céu" é um lugar real, literal e físico. É um lugar na
presença de Deus, um lugar que
Cristo está nos preparando.
 Fica em cima (At 1.9; Ap 21.3,4; 22.3-5; Pv
15.24).
 É um lugar espaçoso (Ap 7.9).
 É um lugar que não se pode descrever.

Como quer que ele seja, deve ser


fundamentalmente diverso. Sua definição deve estar além do
entendimento e imaginação do homem. O importante que podemos
dizer neste caso é que o "Céu" é onde Deus está. Diz o Apocalipse:
"Deus habitará com os homens" (Ap 21.3).
O ponto alto da história bíblica da redenção
levada a efeito por Deus é "a Cidade Santa", Deus com o seu povo.
"Deus limpará de seus olhos toda lágrima e não haverá mais
morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras
coisas são passadas" (Ap
21.4).
0 "Céu" é um lugar de maior conhecimento. Os santos
na terra, quando comparados com os pecadores, são
incomparavelmente sábios; porém comparados
com os santos que estão no "Céu", sabem mui pouco.
Há textos nas Escrituras que falam da imperfeição do
conhecimento dos crentes no estado presente, o que agora
sabemos "sabemos em parte", agora não detemos a totalidade do
conhecimento que há no "Céu".
Na verdade, ainda não é manifestado o que
adquiriremos no "Céu" e nem o que havemos de ser (ICo 13.12; Jo
13.7; lJo 3.2). Sem dúvida, o "Céu" é um lugar de "Santidade
Perfeita",lá não há pecado. A santidade

74
que há no "Céu" seconstitui num dos seus mais poderosos
atrativos.
É um local onde os salvos viverão para sempre nos
domínios da pureza perfeita. Um lugar de "Amor Santo”. Todos os
santos daquele mundo amam a Deus no sentido mais elevado. É
um reino repleto de santo amor.
O Inferno
A existência do homem não termina com a morte, mas
continua para sempre; na presença de Deus, ou em lugar de
tormento. A respeito do estado dos perdidos, devemos notar o
seguinte.

Jesus ensinou.
 Que há um lugar de castigo eterno para aqueles que são
condenados por rejeitarem a salvação (Mt
5.22,29,30; 10.28; 18.9;
23.15,33; Mc 9.43,45,47; Lc 10.16; 12.5).
 Trata-se da realidade do inferno, como o lugar onde o fogo
nunca se apaga (Mc 9.43);
 Um local com fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos (Mt 25.41);
 Lugar de pranto e ranger de dentes (Mt 13.42,50);
 Onde os perdidos ficarão aprisionados nas trevas (Mt
22.13);
 Lugar de tormento e angústia e de separação do céu (Lc
16.23).

As Epístolas ensinam.
 Fala de um julgamento vindouro da parte de Deus;
 Da sua vingança sobre os que desobedecem ao Evangelho
(2Ts 1.5-9);
 De uma separação da presença e da glória do Senhor (2Ts
1.9);
 Da destruição dos inimigos de Deus (Fp
3.18,19; ver Rm 9.22; ICo 16.22; Gl 1.9; Hb 10.27; Jd
7; 2Pe 2.4; Ap 14.10; 19.20;

75
20.10,14).

É inevitável o castigo dos malfeitores.


O fato predominante é a condenação,
sofrimento e a separação de Deus eternamente.
O ensino desta doutrina não é agradável, nem de fácil
entendimento. Mesmo assim, ele deve submeterse à autoridade da
Palavra de Deus e confiar na decisão e na justiça divina.

Um alerta.
Devemos sempre ter em mente que Deus
enviou seu Filho para morrer por nós, para que ninguém pereça (Jo
3.16).
É intenção e desejo de Deus que ninguém vá
para o inferno! Quem for para o inferno é porque rejeitou a
salvação provida por Deus (Rm 1.16;2.10). O fato e a realidade do
inferno devem levar todo o povo de Deus a aborrecer e repelir o
pecado com toda veemência1; a buscar continuamente a salvação
dos perdidos, e a advertir todos os homens a respeito do futuro e
justo juízo de Deus.

1 Grande energia; vigor. Intensidade, atividade, vivacidade. Eloquência comovente.

76
77
capítulo 4
a
Escatologia: 2 Parte

A vinda de Jesus se dará em duas fases


distintas:

1) Primeira fase:
 Jesus virá para a Igreja (lTs 4.16,17);
 Será uma surpresa, pois Jesus virá secretamente (Mt 24.39-
41; ICo 15.52, lTs 5.2);
 Como um acontecimento profético-histórico o arrebatamento
tem como centro de atenção a Igreja triunfante que velando
aguarda o Salvador.

2) Segunda fase:
 Jesus virá para livrar Israel (Zc 1.17; Rm
11.25-29);
 Virá publicamente, todo olho o verá (Ap 1.7).
Tomará vingança contra os rebeldes (Ap
19.11-21);
 Estabelecerá o Trono de Davi (Is 9.6,7);
 Estabelecerá um governo teocrático1 (SI 2.1-9; Dn
2.44,45).
0 Arrebatamento da Igreja

Vivendo ainda a atmosfera da ascensão do Cristo,


pensavam os crentes primitivos que a parousia2dar-se-ia naquela
geração. E eles não estavam de todo errados.

1 Forma de governo em que a autoridade, emanada de Deus, é exercida por seus


representantes na Terra.
2 Ver página 121.
79
Se o fim haveria de vir somente depois da proclamação
universal da mensagem do Reino, então chegara o momento. Pois o
Evangelho não necessitara mais que três décadas para alcançar os
rincões1 mais distantes do Império Romano.
A Segunda Vinda de Jesus é um fato real:
 Mencionada 1.845 vezes; só no AT 1.527 e NT 318 vezes;
 A promessa da Sua vinda, a bendita esperança (Tt 2.13);
 Jesus afirmou que voltaria (Jo 14.3; Mt 25.31;
Ap 22.7,12, 20);
 Anjos afirmaram que Jesus voltará (At 1.10,11); Os
escritores sacros afirmaram (Hb 9.27,28).
O termo "arrebatamento" deriva da palavra
raptus em latim, que significa "arrebatado rapidamente e com
força".
O termo latino raptus equivale a harpazo em
grego, traduzido por "arrebatado" em I Tessalonicenses 4.17. Esse
evento, descrito aqui e em I Coríntios 15, refere-se à ocasião em
que a Igreja do Senhor será arrebatada da terra para encontrar-se
com Ele nos ares.
O arrebatamento abrange apenas os salvos em Cristo.
No arrebatamento, ao descer Cristo do céu
para buscar Sua Igreja, ocorrerá a ressurreição dos "que morreram
em Cristo" (l Ts 4.16). Não se trata
da mesma ressurreição referida em Apocalipse 20.4, que somente
ocorrerá depois de Cristo voltar a terra, julgar os ímpios e prender
Satanás (Ap 19.11-20.3).
Ao mesmo tempo em que ocorre a ressurreição dos
mortos em Cristo, os crentes vivos serão
transformados; seus corpos se revestirão de imortalidade (I Co
15.51,53). Isso acontecerá num instante, "num abrir e fechar de
olhos" (IC o 15.52). (7 décimos de um segundo).
Os crentes ressurretos e os
vivos transformados serão "arrebatados juntamente" (l Ts

1 Lugar retirado ou oculto, indeterminado, distante; recanto.

80
4.17) para encontrar-se com Cristo nos ares, ou seja: na atmosfera
entre a terra e o céu.
Estarão unidos com Cristo (l Ts 4.16,17),
levados à casa do Pai, no céu (Jo 14.2,3; l Ts 4.13- 18). Estarão
livres de todas as aflições (2Co 5.2,4; Fp 3.21), de toda perseguição
e opressão (ver Ap
3.9) , de todo domínio do pecado e da morte (I Co 15.51-56); o
arrebatamento os livra da "ira futura" (ver l Ts 1.10; 5.9), ou seja:
da Grande Tribulação.
A esperança que Cristo logo voltará para nos arrebatar e
estarmos "sempre com o Senhor" (l Ts 4.17) é a bem-aventurada
esperança de todos os redimidos (Tt 2.13). É fonte principal de
consolo para os crentes que sofrem (lTs 4.17,18; 5.10).
Paulo emprega o pronome "nós" em I
Tessalonicenses 4.17. A Bíblia insiste que anelemos 1 e esperemos
confiantemente à volta do nosso Senhor (cf.
Rm 13.11; ICo 15.51,52; Ap 22 . 12 , 20 ) .
Os infiéis não terão parte no arrebatamento (Mt 25.1-
13; Lc 12.45). Os tais ficarão neste mundo e farão parte da igreja
apóstata2 (ver Ap 17.1), sujeitos à ira de Deus.
Após o arrebatamento, virá o Dia do Senhor, um tempo
de sofrimento e ira sobre os ímpios (lTs 5.210). Seguir-se-á a
segunda fase da vinda de Cristo, quando, Ele virá para julgar os
ímpios e reinar sobre a terra (Mt 24.42,44).

Assim Virá Jesus


A vinda de Jesus está relacionada com os três grupos de
povos em que Deus mesmo divide a raça humana: judeus - Israel;
gentios e a Igreja de Deus (ICo 10.32).
Primeiro: para a Igreja. Jesus virá como seu noivo a fim de
levá-la para si, para a glória celestial (Mt
25. 1-13; Jo 14.3).

1 Desejar ardentemente; aspirar a.


2 Abandono da fé Cristã.

81
Segundo: para Israel. Jesus virá como seu Messias e
Libertador após prová-lo e expurgá-lo, mediante a Grande
Tribulação (Rm 11.26; Mt 23.39;
26. 64).
Terceiro: para os gentios. São as nações em geral. Jesus virá
como Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores e juiz, para julgá-las
e após, reinar sobre elas com vara de ferro, isto é, com justiça e
paz (Mt 25.31-36; SI 96.13; Ap 19.11-15; 20.1-4).

Sinais da Vinda de Jesus


A humanidade atual, em todas as camadas sociais, em
todos os países, torna-se cada vez mais indiferente a Deus, à sua
Palavra, e tudo o mais que lhe diz respeito, isto precede a vinda de
Jesus, conforme ele fez ciente em Lucas 18.8b; 17.26-30.
A vinda de Jesus será procedida de sinais já
preditos na Bíblia como:
 Falsos Cristos (Mt 24.5);
 Guerras e rumores de guerras (Mt 24.6);
 Nação contra nação (Mt 24.7);

 Fome (Mt 24.7). Exemplos: índia, Etiópia, Angola e outros.


 Pestes (Mt 24.7). Atualmente podemos destacar: o câncer,
enfermidades psicossomáticas1, praga bubônica2, AIDS,
dengue, e algumas mais;
 Terremotos (Mt 24.7). Um bom exemplo é o grande e terrível
maremoto que provocou a morte de quase 300.000
(trezentas mil) pessoas em vários países do sudeste asiático
em dezembro de 2004;
 Ódio, traição e morte (Mt 24.9,10);

1 Diz-se das perturbações ou lesões orgânicas produzidas por influências psíquicas


(emoções, desejos, medo, etc.).
2 Pertencente ou relativo a bubão (íngua; Adenite).

82
 O aumento da ciência (Dn 12.4); automóvel (Na
2.4) ; avião (SI 55.6; Is 60.8); o homem na lua (Jr
51.53; Ob 4);
 Propagação do ocultismo e satanismo (2Co 4.4; lTm 4.1);
 Indiferentismo, tempos trabalhosos (2Tm 3.1,6; Jd 18);
 O derramamento do Espírito Santo (Jl 2.28,29; At
2.1-18);
 A Igreja morna (Ap 3.15,16);
 Restauração de Israel como nação (Is 66.8; Ez
36.33,35; Mt 24.32,33);
 Apostasia (Mt 24.11; 2Ts 2.3; 2Tm 4.3,4; Jd 4).

Propósitos do Arrebatamento

Ele virá com finalidade definida:


 Levar sua Igreja para si (Jo 14.3; lTs 4.17) livrando-a
assim da Grande Tribulação (lTs 1.10; Ap 3.10; Jr 30.7,8;
Jl 2.11,21,32; Ap 7.14;
12.1);
 Consumar a salvação do crente (lPe 1.5; Rm
13.11; 8.7,8,23);
 Glorificar os seus (Cl 3.4; Rm 8.16-18);
 Julgar e recompensar a todos (Mt 13.30,40,43; 16.27; 2Co
5.10; Ap 22.12). A recompensa do crente terá por base
sua fidelidade ao Senhor (Mt 25.14,35);
 Promover o casamento entre o Cordeiro e sua Noiva (Ap
19.7).

A Ressurreição dos Mortos em Cristo


A ressurreição dos mortos, será seguida pela
transformação dos vivos, sendo estes, todos santos do Senhor. Tudo
será secreto, e num instante (ICo 15.52), pelo seu poder (ICo 6.14).
O arrebatamento da Igreja será precedido pelo soar, no
céu, do brado de Jesus, a voz do arcanjo de Deus. Será o suave soar
dessa orquestra celeste que propiciará a ressurreição dos mortos em
Cristo.
83
Quanto a isto, escreveu o apóstolo Paulo: "Porque, se
cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em
Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele...". "Porque o
mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com a voz do arcanjo,
e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo
ressuscitarão primeiro" (lTs 4.14,16).

Há duas ressurreições.
A dos justos e a dos injustos, havendo um
intervalo de mil anos entre elas (Jo 5.28,29; Ap 20.5; Dn
12.2).
A expressão "ressurreição dentre os mortos"
em Lucas 20.35 e Filipenses 3.11, implica

numa ressurreição em que somente os justos


participarão.
A ressurreição dos justos é o corruptível
revestido de incorruptibilidade. É o mortal se revestindo da
imortalidade. Dar-se-á de forma gloriosa. Os santos que descansam
em Cristo no Paraíso ressuscitarão no momento do arrebatamento
da Igreja (lTs 4.14-17). São todos os santos desde o tempo de
Adão.
Encontramos na Bíblia Sagrada três grupos de
ressurretos. Todos, mesmo em condições distintas estão
relacionados com a primeira ressurreição:

1) As primícias da primeira ressurreição:


Composto por Cristo e os santos que ressuscitaram após
sua morte na cruz do Calvário (ICo 15-20-23; Mt 27.53; Cl 1.18). A
Festa das Primícias movida perante o Senhor, são os primeiros
frutos da colheita que se avizinhava.
Graças a Deus que a ressurreição dos fiéis já começou!
Cristo - as Primícias da Ressurreição - já ressuscitou! (Mt 27.52,53),

84
foi o cumprimento da profecia típica de Levítico 23.10,12, referente
à ressurreição de Jesus.

2) A colheita geral da ressurreição:


Composto por todos os santos que haverão de
ressuscitar no momento do arrebatamento da Igreja (lTs
4.16).

3) Os rabiscos da colheita:
É composto pelos gentios e judeus salvos e
martirizados durante a Grande Tribulação, os quais (com o grupo
anterior) ressuscitarão à revelação de Cristo, logo antes do Milênio
(Ap 6.9-11; 7.9-14; 15.2; 20.4 - Compare com Lv 23.22; Rt 1.15-
17).

85
Quanto a segunda ressurreição, ela abrange todos os
ímpios mortos, e ocorrerá ao findar o Milênio (Ap 20.5,6; Jo
5.28,29; Dn 12.2).
A palavra ressurreição implica em ressurreição num
corpo glorioso em vários sentidos (ICo 15), e os ímpios, num
corpo ignominioso1, em que sofrerão pela eternidade (Mt 10.28).

O Encontro nos Ares


"... A encontrar o Senhor nos ares, e assim
estaremos para sempre com o Senhor" (lTs 4.17c).
Os santos que se encontram no Paraíso ressuscitarão
primeiro, e nós que estivermos vivos seremos transformados,
num abrir e fechar de olhos (ICo 15.52).

O Tribunal de Cristo
"Porque todos devem comparecer ante o tribunal de
Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por
meio do corpo, ou bem, ou mal” (2Co 5.10).
O Tribunal de Cristo nada tem a ver com o Grande
Trono Branco, que ocorrerá após a segunda ressurreição, mas sim
com todos os fiéis de todas as épocas, em que receberão as
recompensas pelos trabalhos prestados ao Senhor da seara (Is
40.10; Ap 22.12).
O crente foi julgado como pecador através da
pessoa de Cristo, como o Cordeiro de Deus sacrificado em seu
lugar. Foi julgado como filho de Deus durante a sua vida. Agora
no Tribunal de Cristo, será julgado como servo, isto é, quanto ao
serviço prestado a Deus, e seu testemunho.
Considerações sobre o Tribunal.
 Será um julgamento dos crentes em Jesus Cristo (Ap
22.12; ICo 3.13-15);
 Ocorrerá logo após o arrebatamento da Igreja (2Tm
4.8; lPe 5.4);

1 Que merece repulsão; oprobrioso, infame.

86
 O juiz será o Senhor Jesus Cristo (2Tm 4.7,8; Jo 5.22; 2Co
5.10);
 O instrumento de juízo será o fogo (Ap 1.14). O juízo pelo
fogo mostra a grande seriedade do tribunal de Cristo, e nos
revela a ação disciplinadora de Deus sobre nossos atos;
 A base do julgamento será a fidelidade dos crentes (ICo
4.2; Ef 1.1; Mt 24.45);
 O Tribunal de Cristo terá lugar nas regiões celestiais (lTs
4.17). Paulo ao escrever, usou a expressão grega, "Bema"
que originalmente quer dizer "uma plataforma elevada, ao
ar livre, com acesso por meio de degraus". O termo técnico
conhecido pelos leitores a quem o apóstolo falava era
empregado com relação aos jogos olímpicos, quando o juiz
recebia na plataforma o vencedor da justiça atlética e lhe
entrega como recompensa uma coroa de louros 1 (ICo 9.24;
2Tm 4.8);
 O seu propósito é galardoar os servos que foram achados
fiéis (Ap 22.12; Mt 25.21).

Somos submetidos à prova no Tribunal.


 Nossa conduta cristã (2Co 5.10), nossos passos são
acompanhados pelo olhar onisciente do Senhor (SI
139.1-3);
 Nossas obras (Rm 14.10);
 O tratamento dispensado aos irmãos (Tg 5.4; Mt
18.23-25, Rm 14.10);
 A evangelização (2Co 5.11a; Ez 33.8);  Pastores (Hb
13.17).

Materiais a serem julgados.


 Ouro: Simboliza a glória de Deus, relaciona-se com as
coisas celestiais, divinas (Ap 3.18; Jó 22.23-25);
 Prata: Símbolo de redenção, e tudo que se relaciona com
sacrifício e resgate - A redenção de Cristo (Êx 30.11-16;
ICo 1.23); Pedras preciosas:
1 Glórias, triunfos, lauréis.

99
Simboliza tudo que se faz através do Espírito Santo
(Fp 3.3; Cl 1.29; Rm 15.18-20; Ez 16.11-14; ICo 12.4-6);
 Madeira: Representa a natureza humana (ICo 3.3; Gl 6.8;
Lc 6.33,34);
 Feno: Representa aquilo que é seco, sem renovação (Jr
23.28; Is 15-16);
 Palha: Representa a ausência de estabilidade (Ef 4.14) e
servidão (Êx 5.7). A palha também não tem sabor, isto fala
de crentes que não alcançam expressão no trabalho cristão.

Obs.: Os materiais que resistem ao teste de fogo ilustram a


Trindade Divina: ouro (Deus), prata
(Cristo) e pedras preciosas (Espírito Santo).

As recompensas de cada um.


 A coroa da vida (Tg 1.12; Ap 2.10), para os que foram fiéis
mesmo nas horas difíceis, e não recuaram em face da
morte;
 A coroa da glória (lPe 5.4; 2Tm 4.8; ICo
9.24,25) para os que agiram com humildade e submissão;
 A coroa da justiça (2Tm 4.8), para aqueles que
ansiosamente aguardavam a vinda de Cristo;

88
 A coroa da alegria (lTs 2.19,20; Fp 4.1), para os ganhadores
de almas;
 A coroa incorruptível (ICo 9.25-27), para aqueles que
venceram a própria carne, sujeitando-se a Deus.

As Bodas do Cordeiro
"Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-
lhe glória porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua
esposa se aprontou" (Ap 19.7).
A Bíblia tem início com o casamento de Adão e Eva (Gn
2.18) e termina com o casamento de Cristo (o segundo Adão) e a
noiva (Igreja).
Após termos recebidos a salvação pela fé, no sangue
do Cordeiro, e os galardões pela fidelidade e trabalhos prestados a
Deus, entraremos nas Bodas do Cordeiro para a grande festa.

Considerações sobre as Bodas do Cordeiro.


Será após o Tribunal de Cristo;
A noiva é a Igreja neotestamentária, composta por aqueles
que foram salvos pela fé em Cristo. Os santos do AT se
encontrarão ali, na qualidade de amigos do Noivo (Jo 3.29);
O salmo 45 tipifica as bodas do Cordeiro;
Haverá grande alegria durante a cerimônia (Ap
19.7);
O ornamento da noiva será de linho finíssimo, resplandecente
e puro. Que são os atos de justiça dos santos (Ap 19.8);
Ali a Igreja será vista no seu aspecto universal. Cumprir-se-á
a oração sacerdotal de Jesus descrita em Jo 17.24 e também
em Mt 8.18; Haverá a celebração da Ceia do Senhor (Lc
22.16, compare
22.27-30);
Miríades1 celestiais comparecerão às bodas do Cordeiro
como convidados.

1 Quantidade indeterminada, porém grandíssima.

89
A Grande Tribulação
"Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como
desde o princípio do mundo até agora não tem havido" (Mt 24.21).
A Grande Tribulação também e chamada na Bíblia de
outros nomes, como se vê abaixo:
O dia do Senhor (Jl 3.14);
O tempo da angústia de Jacó (Jr 30.7);
O dia de trevas (Am 5.18,20; Jl 2.2);
O dia da vingança de nosso Deus (Is 34.8);
Dia da ira (Sf 2.3);
O grande dia (Jr 30.7);
Ira (Rm 5.9; lTs 5.9);
Ira vindoura ou futura (lTs 1.10; Lc 3.7).

Aspectos da Grande Tribulação.


 Ocorrerá logo após o arrebatamento (2Ts 2.1- 4);
 Passará por sete anos (Dn 9.27);
 Será um período de grande aflição (Mt 24.21); Será o
período do derramamento da ira divina (Ap
6.16-17; Is 26.20);
 Será um período de vingança do Senhor (Lc4.19);
 Será um período de angústia de Israel (Dn 12.1; Jr 30.7);
 Será marcado pelo surgimento do anticristo (2Ts 2.3; lJo
2.18).

O Anticristo
O anticristo será o maior líder de toda a história.
Personificando o diabo, será portador de faculdades sobrenaturais

90
como: oratória, sabedoria, intelectualidade, estratégia,
liderança, carisma, popularidade, e uma personalidade
irresistível.
A Bíblia o chama ainda de:
Homem do pecado (2Ts 2.3);
Filho da perdição (2Ts 2.3);
O iníquo (2Ts 2.3);
A besta (Dn 7.11; Ap 13);
O ímpio (Is 11.4);
O príncipe que há de vir (Dn 9.26,27);
O chifre pequeno (Dn 7); O
assírio (Mq 5.5).
A Grande Tribulação está intimamente
relacionada com o anticristo. A terra estará sob seu total controle;
os homens sujeitos às suas normas e subordinações.
Seu poderio será total, controlará o mundo em
seus aspectos variados:

 Área política (Ap 13.4; 17.12-17);


 Área econômica (Dn 11.38-43; Ap 13.17;
18.1-24);
 Área religiosa (Ap 13.1-18; Dn 11.35);
 Área do Império Romano Restaurado (Ap 13.1;
17.8-17).

A Trindade Satânica
O diabo procura imitar a Deus, é o que a Bíblia nos
revela. Também dentro do aspecto glorioso da Trindade ele faz sua
imitação.

O dragão.
É o próprio diabo (Ap 13.1-3). Imitará a Deus.
O anticristo.
É a besta que subiu do mar (significa as
nações - Is 17.12,13; Ap 17.15).
91
A palavra "besta" no original "therion", que significa
uma fera, revela a verdadeira identidade do anticristo. Imitará a
Cristo.

O falso profeta.
A segunda besta que subiu da terra. Imitará o
Espírito Santo. As atividades do falso profeta serão:
Será o secretário particular do anticristo;
Na figura da segunda besta terá dois
chifres: poder político e religioso (Ap 13.11);
Terá a figura de um cordeiro (Ap 13.11). Terá um
aspecto de docilidade e mansidão, logo revelará a
personalidade do dragão, o diabo;
Operará sinais e milagres (Ap 13.13) - fará fogo
descer do céu, imitação dos verdadeiros profetas do
Senhor do Velho Testamento;
Edificará uma imagem da primeira besta
(anticristo), para ser adorada;
Dará espírito à imagem da besta para que fale; vale
dizer que a imagem terá somente movimento e não
vida (Ap 13.14-16).

Visão Panorâmica da Grande Tribulação


Logo após o arrebatamento, no início da septuagésima
semana de Daniel, teremos os seguintes eventos na terra:
1. O Império Romano reconstruído - A confederação de nações
(Dn 7.20; 2.41-44; Ap 17.12-17);
2. Retorno numeroso dos judeus, desejosos pelo estabelecimento
do reino do Messias (At 1.6-7);
3. A reconstrução do Templo (Mt 24.15; 2Ts
2.3,4) . Ainda durante a Grande Tribulação o Templo será
destruído, possivelmente por terremotos que assolarão a terra
(Ap
11.13;16.18,19);

92
4. A derrota de Gogue (Ez 38.1-6; 19-22; 39.4-6). Os mortos
serão tantos, que o enterro durará sete meses (Ez 39.12).

Os Primeiros Sete Selos Abertos

Primeiro selo.
Aparece o cavalo branco (Ap 6.1,2). Período de falsa
paz, o anticristo arranca para a conquista sobre as nações.
O branco fala da falsa paz (lTs 5.3). O arco fala do
alcance (extensão do domínio do anticristo). A coroa é para o
vencedor.
Nesse período o mundo terá
grande prosperidade (Dn 11.36), porém, todo esse
progresso será falso, posteriormente a besta revelará seu caráter
diabólico.

Segundo selo.
Guerra e carnificina (Ap 6.3,4). O cavalo vermelho
figura o horror da Grande Tribulação.
Nesse período o acordo com os judeus será quebrado
(Dn 9.27), e tanto a igreja apóstata como os judeus serão
perseguidos (Ap 17.16; Jr 30.7).
Terceiro selo.
Fome e carestia1 (Ap 6.5-6). Fome causada pela
guerra, a balança fala de racionamento. O cavalo preto.

Quarto selo.
Morte (Ap 6.7,8). O cavalo amarelo. A morte
será em decorrência de quatro fatores:
1. Espada: O anticristo estará dominado amplamente a terra. A
igreja apóstata sofrerá nesse tempo, tendo seu sangue
derramado.
2. Fome: É o que está incluso no terceiro selo.

1 Qualidade do que é caro. Preço alto, superior ao valor real.


Alta de preço; encarecimento. Escassez, falta; carência. 2
Bruto, selvagem; bravo. Feroz.
93
3. Peste: Possivelmente pelo aparecimento de bactérias e vírus
que promoverão a morte de muitos.
4. Feras: Certamente animais bravios2. Surgirão nesse período
as "duas testemunhas" (Ap 11.3- 13).

Quinto selo.
O clamor dos mártires (Ap 6.9-11). Judeus e gentios
que morreram pela fé, mesmo tendo seu próprio sangue
derramado estarão debaixo do altar de Deus (Ap 6.9; 7.14).
Cremos assim, que haverá salvação durante a Grande Tribulação.

Sexto selo.
Sinais no céu e angústia na terra (Ap 6.12,17).
Houve um grande tremor de terra (Ap 6.12);
O sol tornou-se negro (Ap 6.12);
A lua tornou-se como sangue (Ap 6.12);
=>As estrelas caíram do céu (Ap 6.13);
=>O céu retirou-se como um livro (Ap 6.14);
=>Todos os montes e ilhas foram removidos (Ap 6.14,15);
=>Conforme Apocalipse 6.17, Deus respondeu ao clamor dos
mártires, sua ira manifestou-se.

Sétimo selo.
Surpresas evidentes (Ap 8.1-21). Primeiro
houve silêncio no céu por quase meia hora, em atitude de respeito
ao que sucederia (Ap 8.1).
Sete anjos aparecem com sete trombetas (Ap 8.2). O
sétimo selo engloba as quatro primeiras trombetas.
1ª Trombeta: Saraiva, fogo e sangue (Ap 8.7). A terceira
parte da terra morre.
2 Trombeta: Algo como um incandescente1!
a

caindo no mar e contaminando-o (Ap 8.8,9). Um terço da vida


marítima e um terço dos navios serão destruídos. 3a Trombeta: O
absinto2 (Ap 8.10,11). A terça parte da água fica contaminada.

1 Que está em brasa; ardente, candente.


2 Amarguíssimo.
94
4a Trombeta: Trevas na terra (Ap8.12), um terço do sol, da lua, e
das estrelas deixará de brilhar.
5a Trombeta: A praga dos gafanhotos (Ap 9.1- 12). Uma grande
estrela que caiu do céu (Satanás), e foi-lhe dado a chave do
poço do abismo (Hades), e os gafanhotos saíram (demônios)
para atormentar os moradores da terra que não tiveram 0
sinal de Deus (Ap 9.4). A 5a trombeta equivale ao primeiro Ai.
6a Trombeta: (Ap 9.13-21). Anjos infernais em número de
quatro, liberarão esta cavalaria infernal (demônios), que são
em número de 200 milhões. A terça parte dos homens morrerá.
A 6a trombeta equivale ao segundo Ai.
7a Trombeta: (Ap 11.15; 12.1-12). A mulher e o dragão. A 7 a

trombeta equivale ao terceiro Ai. As Sete Visões


Primeira Visão: o Cordeiro triunfante com os remidos no
Monte Sião (Ap 14.1-5);
Segunda Visão: o anjo proclama o Evangelho eterno (Ap
14.6,7);
Terceira Visão: o anjo anuncia a queda de Babilônia (Ap 14.8);
Quarta Visão: o julgamento dos adoradores da besta (Ap 14.9-
12);
Quinta Visão: a Bem-aventurança dos mortos (Ap
14.13);
Sexta Visão: a ceifa da terra (Ap 14.14-16);

Sétima Visão: a Vindima da terra (Ap 14.17-20).

Os Sete Anjos Com Sete Taças


1ª Taça: chagas malignas (Ap 16.3);

2a Taça: o mar torna-se sangue (Ap 16.3);

3a Taça: os rios tornam-se sangue (Ap 16.4-7);

4a Taça: o grande calor (Ap 16.8-9);

5a Taça: horror, trevas e dor (Ap 16.10,11);

95
6a Taça: a seca do rio Eufrates (Ap 16.12); 7a Taça: terremoto
e chuvas de pedras (Ap 16.1721).

96
A Revelação de Jesus Cristo (Zc 14,4; Cl 3.4)

Enquanto os eventos do período da Grande Tribulação


estiverem ocorrendo na terra, os crentes estarão em companhia do
Senhor.
Quando a maré da iniqüidade elevar-se e a
pecaminosidade dos homens atingir o seu ponto máximo, ocorrerá o
segundo aspecto da vinda do Senhor; a sua revelação aos povos do
mundo e aos exércitos reunidos da terra (Ap 1.7; 19.11,12).
Nessa ocasião, os crentes virão com o Senhor,
quando Ele retornar a este mundo (Cl 3.4).
Por ocasião de sua primeira vinda ao mundo, Jesus veio
como servo sofredor. Entretanto, por ocasião de sua segunda vinda,
Jesus aparecerá naquele mesmo país, cercado de grandes glórias e
honras. Jesus não mais fará apelo aos homens. Pelo contrário, Ele
virá para julgar, para conquistar, para impor Sua força e autoridade.

Os maravilhosos aspectos da revelação.


"O Senhor vem com poder e grande glória" (Mt
24.30);
"O Senhor virá visivelmente" (Ap 1.7; Zc
14.4);
"O Senhor voltará com os santos" (Cl 3.4; Jd
14);
"O Senhor destruirá o anticristo e seus exércitos"
(Ap 9.19,21);
"O anticristo e o falso profeta serão lançados no lago de fogo"
(Ap 19.20; 2Ts 2.8).

110
A Batalha do Armagedom
Influenciados por Satanás e sob os efeitos da
"mentira", os exércitos de todas as nações se reúnem em
"Armagedom", na Palestina, com o objetivo de guerrear contra Deus.
Em sua fúria, eles atacam principalmente Jerusalém, e
grande parte da população de Israel (Ap 16.14,16; Zc 12.3; 13.8,9;
14.1,2).
Nessa altura dos acontecimentos, os céus se
abrem e Cristo se manifesta juntamente com seu exército de santos.
Cristo executará juízo e vingança contra seus inimigos.
O anticristo e o falso profeta são lançados no lago de
fogo (Ap 19.20). Satanás, o dragão, é acorrentado pelo Arcanjo e
lançado no abismo, onde ficará durante mil anos (Ap 20.1,3).
Israel se converterá, e dirá que feridas são
essas entre as tuas mãos? Dirá Ele: são as feridas com que fui ferido
em casa dos meus amigos (Zc
13.6).
"Armagedom" significa "Montanha de Megido". Local
onde se travará a terrível batalha entre as nações e o grande Deus.
Situado ao norte de Israel, este local tornou-se famoso campo de
batalha.
O anticristo envolverá as nações num grande ataque
contra Israel e contra Deus. Acampados no Armagedom, as tropas do
anticristo caminharão contra
Jerusalém, os judeus lutarão como verdadeiros heróis (Zc 14.14).
Cumprir-se-ão os textos proféticos de Joel 3.2,14 e Zacarias 12.3.
Assim será a terrível batalha:
 O anticristo tomará Jerusalém (Zc 14.2);
 Os judeus lutarão heroicamente (Zc 14.14);
 Parte de Israel fugirá para Edom, no deserto, ao sul
de Israel (Is 63.1-7);

111
 Jesus virá em glória para livrar Israel (Ap 19.11-16).
Todo olho o verá (Ap 1.7); pisará o monte das
Oliveiras, e este se fenderá ao meio (Zc 14.3,4);
 Haverá a conversão dos judeus (Zc 12.10-
14; Os 3.5; Is 4.3; 60.21; Rm 9.27; 11.2527);
 O Senhor sairá contra o anticristo como um fogo, e os
seus carros como uma tempestade (Is 66.15,16).
Segurará a sua espada e brandirá 1 sua foice (Jl 3.13;
Ap 14.17,18);
 As forças do anticristo se desorganizarão ante a glória
do Senhor, e voltarão suas espadas uns contra os
outros (Zc 14.13);
 O morticínio será incalculável (Ap 19.21);
 O sangue chegará até aos freios dos cavalos (Ap
14.20);
 Formar-se-á um rio de sangue, cuja torrente chegará
até 30km aproximadamente;
 Gases mortíferos apodrecerão os olhos dos homens
(Zc 14.12);
 O anticristo e o falso profeta serão lançados no lago
de fogo e enxofre (Ap 19.20);
 Os abutres2 se ajuntarão para comer a carne dos
mortos (Ap 19.17,18).

O Julgamento das Nações


O julgamento das nações está escrito em Mateus 25.31-
46. Com este julgamento o Senhor determinará mais nações que
participarão do Milênio.
Ovelhas: são as nações que protegerão e defenderão Israel durante
a Grande Tribulação.
Bodes: nações aliadas ao anticristo que perseguirão Israel.
O julgamento girará em torno do tratamento dispensado
a Israel, conforme o texto de Mateus 25.4043. Os judeus são
identificados como os "irmãos" de Jesus (compare Gn 12.3; Zc 13.6).
As nações que estiverem contra Israel, os bodes, serão
lançadas no inferno (Mt 25.41,46). As nações protetoras de Israel, as
ovelhas, participarão do Milênio (Mt 25.34).

1 Erguer (a arma) antes da arremetida ou disparo. Agitar-se, vibrar, oscilar.


2 Designação comum às aves falconiformes vulturídeas do Velho Mundo, na maioria
sarcófaga (urubus brasileiros).

112
Escatologia: 3a Parte

O Milênio
O Milênio significa uma era de justiça e paz, de retidão e
abundância (Ver Is 2.1,4; 65.20,22; Mq
4.1,5).
Em Apocalipse 20.1,7 é dito que esse período de tempo
será de mil anos. O vocábulo milênio dos termos latinos mille (mil) e
annus (ano) podendo ser entendidos simplesmente, como "mil anos".

Propósitos do Milênio
Primeiro: no princípio, Deus estabeleceu uma ordem moral
sujeita às tentações de Satanás e a terra caiu sob a servidão.
Quando os efeitos da maldição tiverem sido anulados e Satanás
tiver sido amarrado, então os homens serão livres para observar
o amor, a justiça e a sabedoria do Senhor, pois Ele mesmo estará
governando o mundo com equidade1 e verdade.

Segundo: a era do reino é necessária para cumprimento das


profecias bíblicas sobre o futuro. Deus prometeu a Davi que seus
descendentes haveriam de governar para sempre (ver 2Sm 7.8,17;
SI 89.3,4,19,37; Jr 33.14,26). Conforme já vimos, tem havido uma
interrupção nesse governo e essas predições continuam esperando
cumprimento (Dn 2.34,35,44,45; Rm 8.18,25).

1 Disposição de reconhecer o direito de cada um. Retidão.

115
Características do Milênio

Mil anos de paz e prosperidade (Is 2.4);


O governo pessoal de Cristo na terra (Jr
23.5);
A regeneração final da terra (Mt 19.28);
A expressão final e mundial da glória e grandeza de Israel (Is
60.22; Am 9.1);
A prisão pessoal do Diabo (Ap 20.1,2);
Israel se converterá a Cristo e o reconhecerá como seu Messias
(Zc 12.10,12);
Jerusalém será a capital do mundo (Sf 3.20; Is
2.3);
Será um reino literal neste mundo (Zc 14.9); Incluirá os povos
que permanecerem vivos no mundo (SI 72.8,1; Dn 7.14 e Ml
25.31,32); Uma vez removidos os efeitos da maldição, o solo
produzirá alimentos em grande abundância. Não haverá mais
escassez de alimentos e nem fome (Is 35.1; Mq 4.1,4);
A Lei do Senhor será obedecida por todos os povos. Essa
legislação, apesar de ser bondosa e gentil, também será firme. O
resultado disso serão julgamentos perfeitos e perfeita justiça.
Todo aquele que se recusar obedecer será punido (SI
2.9; Is 11.4; 65.20; Zc 14.16,19);

116
Os súditos1 do Rei nesse reino terrestre, ao que parece serão
os sobreviventes da Grande
Tribulação;
A paz será uma das características fundamentais desse reino
milenar, porquanto, o governante será o Príncipe da Paz.
Sem a maligna influência de Satanás, não haverá mais

1 Que está submetido à vontade de outrem; sujeito.


guerras (Is 11.6,7); Aparentemente, os crentes remidos 1
ajudarão a administrar os negócios do reino. Os apóstolos
governarão a nação de Israel (ICo 6.2,3; Ap 5.10;
Mt 19.28; 25.31);
O reino animal experimentará uma maravilhosa
transformação. Os animais ferozes tornar-se-ão mansos e os
animais mansos não viverão atemorizados. Antes, todos
viverão juntos, pacificamente (Is 11.6,9);
As pessoas desejarão conhecer a Deus e as realidades
espirituais. Eles estudarão a Palavra de Deus, de tal maneira
que o conhecimento de Deus tornar-se-á evidente por toda à
parte (Is 2.3;
11.9; Zc 8.20,23).

O Milênio e Jesus
Jesus governará todo o mundo (Fp 2.9-11; Zc 14.9; Jr 30.9);
Ele reinará de Jerusalém (SI 72.8,9; Is 2.1-5); Jesus
cumprirá seu ministério de Rei (Mt 3.1- 3; Is
11.1-10);
A glória do Senhor encherá toda a terra (SI
72.19).
0 Milênio e a Igreja
A Igreja terá sido glorificada (Ap 20.4-6;
5.9,10);
A Igreja estará na Jerusalém celeste (Cl 3.4; Rm 8.17-18). A
Jerusalém celeste pairará2 sobre a terrestre (Is 2.2; Mq 4.1)
e quando os santos quiserem descer à Jerusalém terrestre
isto será possível - compare com Gênesis 28.12.

O Milênio e Israel
Israel se alegrará (Is 25.9);

1 Resgatados, libertados; salvos.


2 Estar ou ficar no alto, sobranceiro.

118
Israel terá sido totalmente ajuntado e purificado (Zc 8.1-3;
13.1);
Israel terá possuído toda terra prometida (Gn
15.18; 17.8; Êx 23.31);
O Templo estará reconstruído (Ez 48-8-12; Ap 11.1.2) . Os
sacrifícios oferecidos em harmonia com os gentios não terão
o mesmo caráter do AT, serão sem "Memórias". Algumas
festas como a dos Tabernáculos, Páscoa, serão reeditadas
também; Jerusalém será a sede do governo milenial e
mundial de Cristo (Is 2.3; 60-3; 66.20; Zc 8.3,
22,23; 14.16; Jr 3.17);
Todas as leis sairão de Jerusalém (Is 2.2; Mq 4.2);
Um rio fluirá do Templo milenial (Jl 3.18; Zc14.8); As águas
do mar Morto serão transformadas e darão muitos peixes (Ez
47.8-12).
0 Milênio e a Terra
A terra será elevada (Rm 8.19-22, Zc
14.9,10) . Pela mudança no relevo do solo, dificilmente se
saberá onde ficava determinado país;
Haverá grande fertilidade (Am 9.13,14);
Os desertos desaparecerão (Is 35.1,6;
41.19,20);
Haverá abundância de água (Is 30.25; Jl 3.18);
Animais voltarão a ser dóceis (Is 65.25; 11.6- 9); Somente a
serpente não terá sua natureza removida como os demais
animais, ela comerá o pó da terra (Is 65.25);
As armas se converterão em objetos de lavoura (Is
2.4).

O Milênio e Outros Benefícios para o Homem


A vida será prolongada (Is 65.20). Os falecimentos serão
reduzidos;
Haverá um elevado índice de natalidade (Zc 8.5;
10.8);
Haverá abundância de saúde (Is 33.24;
35.5,6) . As águas que fluirão debaixo do Templo, as folhas e
frutos das árvores que brotarem às margens desse rio servirão
como remédio (Ez 47.8-12);
Haverá prosperidade para todos; todos terão suas casas (Is
65.20,21);
Não haverá idolatria (Is 17.8; 2.18; Zc 13.2);
A saudação será "O Senhor te abençoe" (Jr 31.23);
A Salvação no Milênio
Haverá abundância de salvação (Is 33.6); Deus mesmo
salvará o seu povo (Zc 8.6-13;
9.16).

Os Pregadores no Milênio
Os judeus serão os mensageiros do Rei (Is 14.1,2; 66.6;
Zc 8.17; Mq 4.1-3);
Os judeus realizarão um grande movimento missionário (Is
52.7).

O Espírito Santo no Milênio


Haverá grande derramamento do Espírito Santo durante o
Milênio (Ez 39.29; 36.27; Zc 12.10);
A profecia de Joel 2.28 se cumprirá em sua totalidade.

O Final do Reino Milenial de Cristo


Todas as nações terão que celebrar a festa das
cabanas, enviando seus representantes de ano em ano à Palestina,
e os países que não o fizeram começarão a sofrer os danos da falta
de chuva (Zc 14.16-20). Aí começará a rebeldia e mortandade, e
haverá um plano para derrubar o governo de Cristo (Is 66.23,24).

A última revolta de Satanás


Ao terminarem os mil anos de paz, Satanás
será solto e enganará a muitos para lutarem contra Cristo (Ap
20.7-10). Deus permitirá que Satanás seja solto pelas seguintes
razões:
1. Como os nascidos durante o Milênio não foram provados por
não haver maldade na época, serão agora provados com a
soltura de Satanás.
2. Deus quer revelar a dureza do coração do homem e sua
natureza pecaminosa. Pois mesmo com os benefícios físicos,

105
morais e espirituais do Milênio o homem ainda terá a audácia
de se juntar a Satanás para lutar contra Cristo e os santos.
3. Satanás é incorrigível. Isto é o que Deus também provará ao
soltá-lo da prisão.
4. Satanás sairá a enganar as nações para lutarem contra
Deus; a ação será dupla: cercarão o arraial dos santos (os
judeus) e assolarão a cidade amada (Jerusalém). Cristo só
intervém depois de se completar o cerco à nação de Israel;
de Deus desce fogo dos céus e os devora (Ap 20.9). E o
diabo será lançado no lago de fogo e enxofre, preparado
para ele e seus anjos (Mt 25.41). A besta e o falso profeta
estarão ali desde o início do Milênio, entregues ao seu eterno
destino.
5. Com o ato de lançar Satanás no lago de fogo, findará toda
rebelião do povo da terra - findará todo pecado e toda morte
no planeta.

1
Os Pais da Igreja e a Parousia
Os Pais da Igreja não tinham uma clara concepção
quanto às Últimas Coisas. Pouco havia assimilado da ciência de
Paulo. Na elaboração de sua escatologia, sugeriam declarações
como que
proferidas pelo Cristo. Haja vista este pequeno discurso que,
segundo Papias, teria emanado dos lábios do Senhor:
"D/as virão quando as vinhas terão cada uma,
mil varas, e cada vara dez mil ramos, cada ramo dez mil hastes,
cada haste dez mil cachos, e cada cacho dez mil bagos, e cada
bago, quando espremido, dará quatro barris de vinho".
Teria os fragmentos das explicações sobre as
sentenças de Jesus sofrido alguma interpolação? De qualquer
forma, Jesus jamais se perderia em algo tão simplório.

1 Em grego, presença, vinda ou chegada. Termo usado para


descrever a volta gloriosa de Cristo para buscar a sua Igreja
e aqui implantar o Reino de Deus (Mt 13.39; 16.27,28;
24.3).

106
Para justificar tal declaração, Papias, que fora bispo de
Hierápolis e reclamado discípulo de João, ajuntou esta explicação
bizarra: "Isto é crível1 aos cristãos, pois se o leão vai se alimentar
da palha, qual não será a qualidade do próprio trigo, se a palha
serve de alimento a leões?".
As perseguições romanas redimensionaram a
escatologia da Igreja. No tempo de Severo, apareceu um peregrino
chamado Judas dando a entender que o Cristo viria no final do
reinado desse Imperador. Como teria o místico chegado a
semelhante conclusão? Através de um estudo arbitrário das
Setenta Semanas de Daniel. Já forçando os algarismos e já
tratando aleatoriamente as profecias, o falso profeta infere 2: a
parousia dar-se-ia no último ano de Severo - 203 d.C.
O presbítero Hipólito de Roma, martirizado em 235
d.C., informa em sua Tradição Apostólica que certa vez um bispo
sírio retirou-se para o deserto com toda a sua igreja para
recepcionar o Cristo. Mas retornaram tristemente aos seus lares. E
não foram poucos os que naufragaram na fé.
Eusébio de Cesaréia (263-340), cognominado o
pai da História da Igreja, acreditava que o anticristo surgiria ainda
naquela geração. Foi graças a Eusébio que tivemos acesso a
muitos documentos valiosíssimos dos primeiros séculos do
cristianismo. Suas predições, contudo, não tinham a mesma
precisão de suas crônicas.
Dos relatos acima, denota-se: os primeiros
cristãos tinham uma idéia quase que distorcida da vinda do Cristo.
Todavia, acreditavam que viria o Senhor arrebatar a sua Igreja.
Em momento algum, eles deixaram de crer no glorioso retorno do
Filho de Deus.

O Milênio e a História da Igreja


O montanismo foi um dos primeiros
movimentos a preocupar-se com o Milênio. Esta
concepção doutrinária, que teve em Montano a sua mais

1 Que se pode crer; acreditável.


2 Tirar por conclusão; deduzir pelo raciocínio.

107
representativa figura, realçava ainda a atualidade do batismo no
Espírito Santo e a dos dons espirituais. Os montanistas
aguardavam a manifestação literal do Reino de Deus.
Tertuliano, o grande doutrinador da Igreja Ocidental,
foi um dos mais insignes1 representantes deste movimento.
Desaprovando o montanismo, Jerônimo (350410)
apregoava que os crentes terão de fato um reino, mas, neste
mundo e antes do retorno do Cristo. Segundo ele, este império
tinha nada a ver com o Milênio; seria factível 2 somente através da
Igreja.
Esforçando-se por viver de acordo com a sua
doutrina, o intransigente tradutor de A Vulgata
despendeu3 os seus dias como monge em Belém de Judá.
O que pensavam os contemporâneos de Jerônimo
acerca do Milênio? Se o assunto era tratado oficialmente, não o
sabemos. Nos cânones, nenhuma menção era feita ao reinado
literal de Cristo neste mundo. Mas a situação mudaria
drasticamente com a ascensão4 de Constantino.

A Ascensão de Constantino e o Milênio


No ano 313, Constantino torna o cristianismo a
religião oficial do Império Romano. A Igreja, deixando-se levar
pelas circunstâncias, julga ter chegado o Reino de Deus.
Sua visão escatológica faz-se otimista. Se até
então o Imperador de Roma era o anticristo, doravante 5 haveria de
ser o Messias.
A parousia era agora um fato remoto. Ticônio
pôs-se a ensinar que o Milênio, iniciado na primeira vinda de
Cristo, estender-se-ia até a Sua segunda vinda.
Seu posicionamento influenciaria
decisivamente a Agostinho (354-430). Em sua Cidade de Deus, o

1 Muito distinto; notável, célebre, assinalado.


2 Que pode ser feito; fazível, exeqüível.
3 Gastou; consumiu.
4 Subida, elevação.
5 De agora em diante; para o futuro.

108
doutor de Hipona iria ampliar ainda mais os conceitos de Ticônio.
Quanto aos eventos futuros, Agostinho mostrou-se preterista,
amilenista e simbolista.
Na leitura das obras do grande teólogo, há que se
levar em conta ter sido ele sempre marcado por um forte
existencialismo.
Acredita-se que Agostinho haja sido milenista
no início de sua fé. Se realmente o foi,
mudou de idéia com o passar dos tempos. Lendo
Apocalipse 20.5, aplicou de imediato o texto à Igreja. Na Cidade de
Deus, mostra que o Milênio referia-se à Igreja Cristã.
Tal interpretação condicionou os fiéis a pensarem que
o mundo acabaria no ano mil. Ao chegar o ano mil, nada
aconteceu.
Forçando um casuísmo1 e tratando a
Escatologia Bíblica de maneira artificiosa, as autoridades
eclesiásticas resolveram alterar os cálculos. Tomando por base,
agora, não o nascimento, mas a crucificação do Cristo, concluíram
que o mundo acabaria em 1030. Como nada acontecesse
novamente, acharam por bem dar uma interpretação mais
alegórica aos versículos que tratam do reinado do Messias.
Por causa desse falso anúncio, muita gente
deixou-se prostrar. Não foram poucos os que doaram suas
propriedades à Igreja de Roma, tornando-a ainda mais rica e
poderosa. Enquanto isso, o povo mantinha-se na miséria e já em
densas trevas espirituais.

A Visão Escatológica dos Reformadores


Alguém já disse que a Reforma Protestante foi
marcada por duas importantes descobertas: a de Cristo e a do
anticristo. Este foi identificado como o Papa que, divorciando-se
das Sagradas Escrituras, apostatara da fé. Não eram poucos os
teólogos que identificavam a Igreja Católica como a Babilônia do
Apocalipse.
Apesar de sua firme posição a respeito da
1 Aceitação passiva de idéias, doutrinas ou princípios.

109
justificação pela fé, Martinho Lutero deixa-se influenciar por
Agostinho. Ele chegou, inclusive, a
acreditar que o mundo teria uma duração de seis mil anos. Logo,
já estavam vivendo o início do fim. Foi por causa dessa
interpretação de Lutero que a igreja evangélica pouco avançou nas
missões.
O reformador sugeria que, como Cristo estava às
portas, não havia porquê dedicar-se à salvação das almas. Iam os
católicos, enquanto isto, conquistando os mais distantes lugares:
dominaram o Novo Mundo, chegaram ao Oriente Longínquo 1, e
ainda barraram a Reforma no Sul da Europa.
Os reformadores, de um modo geral, acreditavam ser
a Igreja Católica a Babilônia do Apocalipse, e o Papa, o homem do
pecado referido por
Paulo. Todos pareciam estar de acordo: Tyndale, Bulinger, Knox,
Melanchton, Zwínglio, Calvino etc.
Eles achavam ainda que as
agitações decorrentes da Reforma fossem os feitos da
soltura de Satanás de que falara o Apocalipse. Ou seja: o Milênio
da Igreja terminara, e todos deveriam suportar o diabo até que
fosse definitivamente lançado às trevas exteriores.

1 Remoto; afastado, distante.

110
0 Juízo Final

"E vi um grande trono branco, e o que estava


assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e
não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e
pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e
abriu-se outro livro, que é da vida: e os mortos foram julgados
pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas
obras" (Ap
20.11,12).
O Grande Trono Branco foi visto por João. O trono é
grande, porque representa o poder infinito de Deus. É branco,
porque representa a justiça perfeita e completa de Deus.

Considerações Sobre o Juízo


Os ímpios falecidos haverão de ressuscitar
nessa ocasião para serem julgados. A ressurreição será literal (Ap
20.11-15; Mt 10.28; Dn 12.2).
"£ deu o mar os mortos que nele havia" (Ap 20.13).
Os mortos do dilúvio (Gn 7.23). Todos aqueles que morreram no
mar e seus corpos não foram encontrados (Ex: Faraó e seu
exército (Êx 14) - os grandes naufrágios).
"E vi os mortos, grandes e pequenos". O texto
no sentido do seu original refere-se a ricos e pobres, famosos e
infames1. Portanto não se refere o tamanho físico e sim a
prestígio e influência (Mt 10.42; Ap 11.18;
13.16).
O Juiz será o Senhor Jesus Cristo (Jo 5.22,2729).
Está predito (At 17.31). Deus determinou e deu certeza a todos,
que há de julgar o mundo.
"Fugiu a terra e o céu" (Ap 20.11). A glória de Jesus
em seu aspecto mais maravilhoso fará recuar a terra e o céu
(2Pe 3.10,12).

1 Que tem má fama. Que pratica atos vis, abjetos; torpe, baixo. Próprio de indivíduo
infame; odioso, indigno.
Os Livros Presentes no Julgamento
A Bíblia (Jo 12.47,48; Dt 18.19);
O Livro das Obras dos Homens (Dn 7.10; Ap 20.12);
O Livro da Vida (Ap 20.12; SI 69.28; Dn 12.1; Fp 4.3).

A Renovação dos Céus e da Terra


Satanás poluiu o espaço sideral tendo ali,
estabelecido sua sede de atividade e a terra como campo de
ação (Ef 2.2).
Deus operará a renovação dos céus e da terra para
extinguir por completo o pecado do mundo (Jo 1.29).
O apóstolo Pedro falou profeticamente a esse
respeito (2Pe 3.7,10-13). Nesse tempo haverá perfeita harmonia
entre o céu e a terra (Cl 1.20).

Sete Coisas Novas


1. O novo céu (Ap 21.1; 2Pe 3.13; Is 14.14);
2. A nova terra (Mt 24.35; lJo 2.17);
3. A nova cidade (Ef 2.18-20; Jo 14.2);
4. O novo povo (Ap 21.3-4; 21.9; 22.5);
5. O novo nome (Ap 3.12; 62.2);
6. A nova luz (Ap 21.22-26);
7. O novo paraíso (Ap 22.1-5).
0 Eterno e Perfeito Estado
Todos os crentes aguardam, com ansiedade,
os benefícios espirituais de nosso Senhor na eternidade de glória.
A história se findará para o início do "dia
eterno" ou "dia da eternidade" conforme falou o apóstolo Pedro
profeticamente (2Pe 3.18).
O Apocalipse nos capítulos 21 e 22 nos dão a visão
real do estado eterno. Todas as coisas serão restauradas (At
3.21), e a Igreja, em estado de glória governará a terra sob o
Senhorio de Cristo (Dn 7.18,28).
As Sete Glórias dos Remidos (Ap 22.3-5)
1. Não haverá mais maldição (Ap 22.3). Todas as coisas que
vieram com o pecado, como as tristezas, os sofrimentos e
doenças serão removidos. Os salvos terão uma santidade
perfeita;
2. O trono de Deus e o Cordeiro estarão ali (Ap
22.3) . Será um governo perfeito, sem desordem e anarquia;
3. Os seus servos o servirão com perfeição (Ap
22.3) ;
4. Será dada uma visão eterna e perfeita (Ap 22.4);
5. Haverá possessão eterna (Ap 22.5). Haverá uma profunda
identificação entre Deus e os seus remidos;
6. O dia será eterno (Ap 22.5). Não haverá noite, Cristo os
iluminará, ele será a nossa luz, nada nos atemorizará;
7. O reino será eterno (Ap 22.5). Juntos, inseparavelmente com
nosso Senhor.
O Grande Trono Branco
O juiz será nosso Senhor Jesus Cristo (At 17.31) . A
Igreja estará presente com Cristo e com Ele cooperará no
governo.
Cremos que no Milênio os crentes farão o papel hoje
reservado aos anjos (ICo 6.2,3) e no Grande Trono Branco a
Igreja marcará presença, principalmente no setor de
julgamentos dos anjos.
Para efeito de realização do Grande Trono Branco,
haverá a segunda e última ressurreição, quando os últimos
habitantes da terra, de qualquer época da história, que haviam
morrido, ressuscitarão a fim de comparecerem perante a face do
Senhor (Ap 20.13; Jo
5.29).

Os Anjos Caídos Serão Julgados (Jd 6)


O Grande Trono Branco realizar-se-á em lugar que
está fora da área atualmente ocupada pelo céu e pela terra (Ap
20.11).
Abrir-se-ão os livros da Eternidade:
Livro dos pensamentos (Rm 2.15);
Livro da consciência (Rm 2.1s);
Livro das obras (2Co 5.10);
Livro das lágrimas (SI 56.8);
Livro da maldição (Zc 5.1,4);
Livro das palavras (Ml 3.16);
Livro do corpo (SI 139.15,16);

O Julgamento do Grande Trono Branco


Depois que Satanás é lançado no lago de fogo, um
imenso trono branco aparece - é branco porque
irradia a santidade, majestade e glória de
Deus (Ap 20.11). É o trono do julgamento final de Deus. Todavia,
aquele que se assenta no trono deve ser o glorificado Rei dos reis
e Senhor dos senhores, o nosso Senhor Jesus Cristo.
Idéias judaicas populares em vigor nos dias do NT
não concebiam que o Messias fosse o derradeiro Juiz do mundo,
embora realmente esperassem que Ele tivesse uma participação
ativa na destruição do mundo pagão (SI
2.8,9).
Não obstante, Jesus disse:"O Pai a ninguém julga,
mas deu ao Filho todo o juízo, para que todos honrem o Filho,
como honram o Pai" (Jo 5.22,23; cf. 5.27). Jesus, o Juiz
Lucas escreve em Atos 17.31, as palavras de Paulo
declarando que Deus "tem determinado um dia em que com
justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e
disso deu certeza a todos, ressuscitando o dos mortos".
Em Romanos 2.16, também lemos que "Deus há
de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo".
Jesus, entretanto, será o Mediador entre
Deus e a humanidade neste julgamento final, assim como hoje é
o Mediador em nossa redenção (lTm
2.5) e também foi o Mediador na criação (Jo 1.3).
O fato de Jesus ser o derradeiro Juiz, também
prova que Ele compartilha da majestade de Deus e que Ele é
mais que um Mestre entre outros mestres, mais que um Guia
entre outros guias.
O Julgamento dos Mortos
Em pé diante do trono estarão todos os mortos,
"grandes e pequenos", isto é, sem considerar seu status na vida
terrena (neste grupo,
não estão incluídos os mencionados em Apocalipse 20.4, pois já
foram ressuscitados com novos corpos que não podem mais
morrer ou definhar1).
Grandes e pequenos serão ressuscitados para serem
julgados. Visto que a ressurreição é corpórea, essas pessoas
terão algum tipo de corpo, mas não serácom crentes, pois os
descrentes, por causa de sua natureza pecaminosa, só podem
ceifar destruição (gr. Phthoran, "ruína", "corrupção").
Eles sairão dos túmulos (Dn 12.2; Jo 5.28,29) e
serão julgados pelas obras (anotadas em registros divinamente
mantidos, nos quais sem dúvida estará inclusa a sua rejeição a
Jesus e
submissão a Satanás, além de seus pecados públicos e
particulares).
Nessa ocasião, o Livro da Vida também será aberto,
provavelmente como prova de que seus nomes não estão ali.
Quer dizer, Jesus fará mais do que sentenciar os ímpios. Ele dará
respostas a questões no que respeita à qualidade da graça,
retidão, justiça, cuidado, paciência e amor de Deus, tudo em
contraste com a base da ira de Deus contra o pecado e o mal.
Como ressalta Charles Ryrie: "Este julgamento
não é para verificar se deverá ser o céu ou o inferno o destino
final daqueles que são julgados; é um julgamento para provar
que o inferno é o destino merecido".
Então, com o lançamento da morte e do inferno
no lago de fogo, a justiça de Deus finalmente triunfará e a justiça
e a paz serão estabelecidas para sempre no novo céu e na nova
terra.
Alguns consideram o julgamento pelas obras
contraditórias aos ensinamentos bíblicos sobre
a justificação pela fé. Mas, visto que somos salvos pelagra pelo
qualDeus olha para nós como se nunca tivéssemos pecado.

1 Consumir-se aos poucos; enfraquecer-se, abater-se.


Entretanto, os dons de Deus somente são verdadeiramente
nossos quando os tomamos e os colocamos em prática.
A fé deve agir ou se expressar através do amor (Gl
5.6), visto que não é real, a menos que seja demonstrada pela
ação. Se realmente crermos, estaremos nos importando com as
outras pessoas, comsuasnecessidad sofrimentos. Não
atenuaremos o que a Bíblia ensina "no intuito de torná-la menos
1

exigente". As nossas obras, então, tornam-se evidências da


realidade de nossa fé.
Também é verdade que os motivos são importantes
nesse processo de julgamento das obras. Alguns que nunca
foram condenados por qualquer crime pelos tribunais humanos
podem estar cheios de ódio, amargura, inveja ou orgulho
presunçoso e egocêntrico. E tudo será revelado "no dia em que
Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo"
(Rm 2.16).
"Nada há encoberto que não haja de ser
descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido" (Lc 12.2).
"Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa 2 que os homens
disserem hão de dar conta no Dia do Juízo" (Mt 12.36).
Naquele dia "todo joelho se dobrará diante de mim
(do Senhor), e toda língua confessará a Deus" e "cada um de nós
dará conta de si mesmo a Deus” (Rm
14.11,12).
Alguns especulam que aqueles que forem
salvos durante o Milênio (quer dizer, depois do
julgamento do Tribunal de Cristo) também podem ter de
comparecer diante do Grande Trono Branco para receber cada
uma a sua recompensa. Entretanto, a Bíblia não afirma isso em
nenhum lugar.
Parece provável que eles receberão a plenitude
da salvação, incluindo novos corpos, e se ajuntarão ao restante
dos santos glorificados assim que forem salvos e se
comprometerem com Jesus.

1 Reduzir a menos; diminuir, abater.


2 Supérfluo, desnecessário, inútil.
Outros Julgamentos
A Bíblia fala de outros julgamentos, mas sem
dar maior detalhes relacionados a tempo ou lugar. Paulo
mencionou que os santos (todos os verdadeiros crentes, pois eles
serão consagrados à adoração e ao serviço do Senhor) julgarão o
mundo e aos anjos, em contraste com o julgamento desta vida
(ICo 6.2,3). Pode ser que isso aconteça durante o Milênio.
Outros consideram Mateus 25.31-46 - a separação
dos povos "uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as
ovelhas" (Mt 25.32) - um julgamento especial das nações no
princípio do Milênio. Trata-se de um julgamento das obras, em
reconhecimento de que aquilo que é ou que deixa de ser feito
para os outros é ou deixa de ser feito para Jesus.
O que quer que façamos, estamos fazendo
como ao Senhor (Cl 3.23). A palavra "nações" significa povos, e
não estados nacionais - o conjunto dos poderes políticos de uma
nação.
As obras são aqueles feitos por indivíduos que
se importa com os irmãos (e irmãs) de Cristo ou que os
desprezam. O resultado é herança para aqueles que são benditos
e fogo eterno para os que não são, um fogo preparado para o
diabo e seus
anjos, ou seja, é o estado final, e não o Milênio, que está em
apreço nesta descrição.
James Oliver Buswell faz uma interessante sugestão.
Visto que a cena é "de uma vasta e cósmica perspectiva", pode
ser que Jesus tenha colocado tanto o julgamento do Tribunal de
Cristo quanto o do Grande Trono Branco em um só quadro, em
prol da lição de que "julgamento" significa separação uns dos
outros bem como separação de Deus. Então, assim como os
profetas do AT não mostraram a diferença de tempo entre a
primeira e a segunda vinda de Jesus, este, da mesma forma, não
indica a diferença de tempo entre os dois grandes julgamentos.
Os cristãos devem levar esses julgamentos a sério:
"Se o justo apenas se salva, onde aparecerá o ímpio e o
pecador?" (lPe 4.18).
"Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de
termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais
sacrifício pelos pecados, mas certa expectação 1 horrível de juízo
e ardor de fogo, que há de devorar os adversários. Quebrando
alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra
de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais
vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e
tiver por profano o sangue do testamento, com que foi
santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? Porque bem
conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a
recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu
povo. Horrenda coisa é cair nas mãos de Deus vivo" (Hb 10.26-
31).
Existe a possibilidade de que aqueles que uma
vez foram salvos se retirem para a perdição (Hb
10.39), embora o escritor de Hebreus nos encoraje a não
rejeitarmos a nossa confiança, a perseverarmos e continuarmos
firmes, sendo um daqueles que crêem e são salvos (Hb
10.35,36,38,39).

1 Esperança fundada em supostos direitos, probabilidades ou


promessas.
Apocalipse e Escatologia
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