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I – COMO LER O APOCALIPSE

Entre sessenta e seis livros da Bíblia, o Apocalipse é o único que promete uma
benção a quem o lê:

“Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da


profecia e aguardam as coisas nela escritas...”
Apocalipse 1:3

É de grande proveito, portanto, a leitura e o estudo deste livro.

REVELAÇÃO

“Apocalipse” é a tradução da palavra grega APOKALYPSIS, que significa


“revelação”. Popularmente conhecidas como “a revelação de Jesus Cristo”, as
visões deste livro chegaram ao apóstolo João da seguinte maneira, conforme
informa o próprio texto:

“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar que em breve
devem acontecer, e que ele, enviando por intermédio de seu anjo, notificou ao
seu servo João”
Apocalipse 1:1

Destas palavras que abrem o livro aprendemos três fatos importantes:

a) Este livro não foi uma revelação feita a Jesus, e sim uma revelação sobre
Ele. Como está escrito: revelação de Jesus Cristo.

b) Os eventos revelados a João por intermédio de um anjo referem-se a coisas


que “em breve devem acontecer”. Mas cuidado! Esta expressão “em breve”
não dever ser interpretada como sendo “daqui a dois mil anos”.

c) A chave de interpretação se encontra logo no primeiro versículo do livro: o


anjo “notificou” ao seu servo, João. No grego, esta palavra traduzida em
português como “notificou” é “significou”. Isto quer dizer que o método de
transmitir as visões foi por sinais e símbolos. É de suma importância este
fato.
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INTERPRETAÇÃO

Este tem sido considerado o livro mais difícil de entender, em todas as


escrituras sagradas, sendo por esta razão menos lido. A origem da dificuldade
está no fato de que Apocalipse não se explica a si mesmo. Propositadamente
ele foi escrito em código, a fim de que os inimigos do Evangelho não
entendessem seu significado.

Quem não possui a chave da interpretação vai deparar-se com imagens


estranhas e incompreensíveis, tais como animais com dez cabeças, cidades
que flutuam no espaço e rios de sangue, entre outras. Este livro poderá ser
compreendido tão-somente à luz de toda a escritura sagrada, principalmente o
Velho Testamento, do qual João registra nada menos que duzentas citações e
referências.

Eis, portanto, a chave de interpretação: deixar a Bíblia explicar a Bíblia, sem


impor sobre ela uma teoria preconcebida, ou obrigá-la a dizer o que realmente
não diz. O que está escrito no Apocalipse é coerente com as demais
revelações da Bíblia.

SIMBOLISMO

Há muitas maneiras de interpretar o Apocalipse. As duas mais comuns são


“literalmente” e “simbolicamente”, cada qual representando uma escola com
muitos seguidores.

Uma das regras importantes na interpretação bíblica é aceitar tanto quanto


possível o sentido mais literal e óbvio das palavras. Neste livro, seguiremos o
método literal sempre que a linguagem for objetiva e simples. O autor, por
exemplo, fala de si mesmo. João é o apóstolo do Senhor, e não “representa”
qualquer outra pessoa. As sete igrejas, bem identificadas, não “representam”
por sua vez outra coisa senão sete grupos de seguidores de cristo, os quais
passam por grandes perigos internamente, e uma grande tribulação vinda de
fora.

Rejeitamos, entretanto, a interpretação literal generalizada do Apocalipse, para


não cairmos no ridículo de afirmar que Jesus apresenta uma espada saindo da
sua boca, ou que satanás tem dez cabeças. Creio que firmemente que o

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método correto de interpretação através da ilustração deste livro é pelo seu rico
simbolismo.

São mais de trezentos os símbolos encontrados no Apocalipse. Obviamente


Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, não é um animal que produz lã. Cada
símbolo representa um personagem ou acontecimento decisivo no panorama
completo dos eventos passados, presentes e futuros, aqui registrado.

Recomendo, portanto, que o leitor se aproxime destes estudos de coração


aberto, afastando tudo que possa impedir que o Espirito Santo lhe fale através
do simbolismo bíblico, preciso e explicativo desta revelação estupenda.

DIVISÕES

As divisões do Apocalipse são facilmente determinadas pelos parâmetros das


sete visões:

1.ª visão – capítulos 1 a 5


Cristo e a igreja no mundo e no céu.
2.ª visão – capítulos 6 e 7
Os sete selos.
3.ª visão – capítulos 8 a 11
As sete trombetas.
4.ª visão – capítulos 12 e 13
A luta contra a trindade satânica.
5.ª visão – capítulos 14 a 16
Os sete flagelos
6.ª visão – capítulos 17 a 19
A destruição do mal.
7.ª visão – capítulos 20 a 22
Julgamento e vitória final.

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VISÕES

Cada uma destas visões é completa em si. Elas não são lineares; não segue,
uma cronologia ou sequência. O estudioso do Apocalipse cai em sérios
problemas de interpretação quando atribui uma visão a um período exclusivo
da história. Dizer, por exemplo, que por vivermos nos últimos dias desta
dispensação da graça de Deus estamos na “época da Igreja Laodicéia” (a
última das sete igrejas mencionadas nos capítulos dois e três), é uma ofensa
frontal a todos os crentes autênticos que hoje servem a Deus com fé e
obediência, condição que os membros da igreja em Laodicéia jamais
conseguiram alcançar.

Cada uma das sete visões do Apocalipse descreve o panorama histórico entre
os dois adventos, ou seja – o nascimento de Jesus, e a segunda vinda. Além
disto, em algumas das visões há o registro de eventos que ocorreram antes de
Cristo, e outras que acontecerão após a sua segunda vinda.

Verificaremos, porém, que o assunto tratado em cada uma das setes visões é o
mesmo, mas revelado através de ângulos diferentes e com ênfase diferente,
constituindo-se no final a revelação paralela do recado único do Apocalipse: o
triunfo final de Jesus Cristo.

NATUREZA

O Apocalipse é uma carta, escrita por um homem chamado João e enviada a


sete grupo de crentes. Trata ela de situações históricas e espirituais. Ninguém
poderá entender o seu significado extraordinário sem estar de posse da
resposta a estas quatro perguntas:

1) Quem é o autor da carta?


2) A quem foi ela enviada?
3) Por quem ela foi escrita?
4) Qual era o seu contexto histórico?

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JOÃO

Foi o apóstolo João, autor do quarto Evangelho e de três Epístolas, quem


escreveu o Apocalipse. O mais jovem dos doze discípulos de Jesus, é agora o
único sobrevivente e conta mais de oitenta e cinco anos de idade.

Desterrado para a ilha de Patmos por causa do seu testemunho público de


Jesus seu único Senhor, trabalhava nas minas de mármore, acorrentado nas
pernas, dormindo numa caverna e sofrendo os maus tratos reservados aos
inimigos do regime militar romano.

João era bastante conhecido entre os membros das sete igrejas, tendo-se
definido como seu companheiro na tribulação”. É bem possível que exercesse
sobre elas uma supervisão espiritual.

AS SETE IGREJAS

O Apocalipse foi escrito e enviado a sete igrejas identificadas pelos nomes das
cidades em que estavam situadas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia e Laodiceia.

Havia outras igrejas já estabelecidas no primeiro século, assim como colossos,


Trôade, Mileto, e etc. Por se encontrarem as sete igrejas em cidades
estratégicas que funcionavam como centros de comunicação na época é que
foram elas escolhidas para receberem esta carta.

Não há qualquer evidência de serem estas sete igrejas símbolo de outras, ou


de representarem épocas diversas da história.

Tal representação não tem fundamento bíblico. Elas eram simplesmente o que
a bíblia nos informa: sete grupos de cristãos vivendo uma grande tribulação.

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A RAZÃO DA CARTA

Nos capítulos dois e três descobrimos ser este livro/carta uma forte advertência
do Espirito Santo contra os males que existiam nas igrejas, com
recomendações igualmente fortes a que voltassem ao seu primeiro amor,
arrependendo-se e vivendo em humildade.

Outra razão foi o conforto que o Espirito Santo Se empenhou em transmitir aos
crentes das sete igrejas que haviam passado por feroz perseguição. A vitória
final da igreja e o triunfo de Jesus Cristo foi a mensagem da carta, o que muito
animou os que perseveravam em meio a tanto sofrimento.

Esta carta foi toda escrita para as sete igrejas, não apenas os recados
registrados nos capítulos entre dois e três. Quem afirma o contrario tem a
obrigação de provar pelo próprio texto que os capítulos quatro em diante
descrevem somente eventos que ainda estavam por acontecer.

Acreditar nisto seria o mesmo que aceitar que eu lhe escrevesse uma carta,
reservando – lhe apenas o primeiro parágrafo, e dirigindo o restante de seu
conteúdo a alguém que nem sequer nasceu. É dessa maneira que muitas
pessoas explicam os dezenove dos vinte e dois capítulos desta carta escrita e
enviada as sete igrejas!

Sabemos, porém, que este livro/carta foi escrito tanto para as sete igrejas como
para todo o povo de Deus em todas as gerações. Visto que não há restrições
na promessa que diz: “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que
ouvem as palavras da profecia”.

O CONTEXTO HISTÓRICO

Sem dúvida nenhuma ajudará o leitor do Apocalipse informar uma das


condições políticas, sociais e religiosas no ano 96 A.D., quando as sete igrejas
receberam cópia desta carta. Isto porque alguns intérpretes afirmam que estas
sete visões eram revelações destinadas apenas ao povo do século vinte.

João escreveu esta carta no ano 96 após Cristo, no fim do reinado do


imperador romano Domiciano (80-96 A.D). Este César era um verdadeiro
demônio.

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Durante as conquistas romanas, desenvolveu-se um culto que uniria o império
Romano em meio as culturas diversas dos povos dominados, ou seja: o culto e
adoração do imperador, o César. Nem todos os imperadores faziam questão
disto, mas Domiciano era um fanático e exigia, ao pé da letra, o cumprimento
da lei romana com respeito à adoração a sua pessoa.

Uma vez por ano, portanto, cada cidadão nos países conquistados era
obrigado a ir à praça principal de sua cidade e ali jogar um pó numa fogueira
perante o grande ídolo do imperador, declarando: “César é o Senhor; César é
Deus”! Prestar culto a César não significava apenas uma atitude religiosa, mas
dever político cuja traição era punível até de morte.

Portanto, no ano 96 A.D, todos os crentes que consideravam Jesus Cristo


como seu único senhor, eram marginalizados. Nenhum crente daquela época
gozava de qualquer direito. Por sua intransigência religiosa, os membros das
sete igrejas perderam não só empregos, como propriedades, bem como a
proteção da polícia militar romana.

No ano 96 se adorava César ou a Cristo, nunca os dois. Ser membro da Igreja


de Jesus Cristo, portanto, significava a perda de tudo e a real possibilidade de
uma morte como mártir.

O apelo do Evangelho naquela época não se baseava em promessas de


felicidade e realização. Era, muito pelo contrário, um convite ao sofrimento e
até à morte. A tribulação do povo de Deus não era uma profecia, e sim uma
realidade do dia-a-dia. As sete igrejas entenderam perfeitamente a razão dos
ataques daquela “besta”. Os mortos debaixo do altar clamando “Até quando?”
não significava para elas uma figura profética ou poética. O povo do primeiro
século não tinha que esperar por uma grande tribulação. Ele já estava vivendo
uma grande tribulação.

Aquele povo sofrido do primeiro século não interessava a identidade do


anticristo, porque já estava vivendo debaixo do jugo de um lunático que
aspirava a tomar o lugar de Cristo (definição precisa do anticristo),o imperador
Domiciano. Muito do que para nós é obscuro no Apocalipse, para os membros
das sete igrejas era por demais evidente.

Este livro, portanto, falava-lhes diretamente à sua situação, e em meio à


perseguição anunciava a soberania de Deus em todos os eventos da história.
As igrejas não foram esquecidas pelo senhor. O Cordeiro estava no trono,

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reinando com poder e autoridade, mesmo com todas as aparências em
contrário.

De fato, uma das lições marcantes do Apocalipse é esta: as coisas não são
como elas aparentam ser. Por trás de tudo que acontece há sempre um plano,
uma determinação divina, um propósito de Deus.

Foi isto que João escreveu às sete igrejas, e é este o recado similar que o
Espírito Santo envia a igreja ainda hoje.

NUMEROLOGIA

Para ler inteligentemente e compreender o recado do Apocalipse é necessário


saber algo sobre os números nele usados. Como já afirmei, a bíblia explica
este livro. Portanto, os números são coerentes com o significado de outros
mencionados nos demais livros Bíblicos.

Eis aqui alguns exemplos sobre os quais elaboraremos mais tarde:

NÚMERO DEFINIÇÃO EXEMPLOS


3 Deus A Santíssima Trindade
4 Inteireza Os quatro cantos do
mundo; os quatro
ventos
6 Homem Adão foi criado no sexto
dia da semana, ele
trabalhava seis dias na
semana. No velho
testamento o escravo
trabalhava seis anos
para ganhar sua
liberdade
7 Perfeição Há sete dias na semana;
sete igrejas no
Apocalipse, Sete braços
no candeeiro do
Tabernáculo
10 Totalidade O sistema básico de
enumerar é de 1 a 10; as
dez pragas do Egito; os
dez mandamentos
12 Igreja As doze tribos de Israel;
os doze apóstolos da
Igreja.

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Todos os números usados no Apocalipse (24, 1000, 144.000) são extensões
destas definições usadas em toda a Bíblia e reconhecidas por todas as escolas
de interpretação bíblica.

ESTILO LITERÁRIO

Reconhece-se a diferença entre uma novela e um documentário na televisão


por que uma e outro usam linguagem, estilo e formas diferentes para transmitir
sua mensagem.

O Apocalipse é diferente dos demais livros nas Escrituras Sagradas porque usa
todas as formas literárias para formar uma “ópera cósmica”. Nele encontramos
narrativa, dialogo, visões, drama, poesia, música, profecia e simbolismo. O livro
está cheio de movimento; repleto de cenários que mudam rapidamente.
Ouvimos nele muitas vozes, cânticos e trombetas. Mal terminamos de entender
o significado de um cenário, muda tudo radicalmente, mostrando algo
completamente novo e inesperado.

Muito importante é reconhecer que o âmago desta revelação não está nos
detalhes de cada visão – a identificação de cada olho e cada chifre – mas sim
na grandeza do panorama, sua música, seu espírito, a atmosfera e a emoção
do drama cósmico.

O RECADO

Há uma só mensagem que ocorre em todas as setes visões do Apocalipse: A


Igreja de Jesus Cristo, mesmo perseguida e atribulada, terminará vitoriosa; o
sistema deste mundo é condenado; satanás será destruído e Jesus Cristo é o
senhor pelos séculos dos séculos.

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RESUMO

São sete os pontos básicos do nosso estudo:

1. O Apocalipse trata de quatro pessoas/entidades:


a) Jesus Cristo
b) A igreja de Jesus Cristo
c) Satanás
d) O sistema deste mundo.

2. O livro compreende sete divisões, sete visões completas em si e


que descrevem os eventos entre a primeira e a segunda vinda de Jesus
Cristo.

3. O Apocalipse precisa ser lido à luz das condições históricas e


espirituais existentes no ano 96 A.D., quando foi escrito às sete igrejas na
Ásia.

4. O Apocalipse não se explica por si, mas é interpretado pelos


demais livros bíblicos, principalmente os do velho testamento.

5. Esta revelação de Jesus Cristo está cheia de símbolos, cada um


representando um personagem ou evento no panorama histórico.

6. Interpretar o Apocalipse de maneira literal é cair no ridículo. Os


seus personagens e eventos são representados por números, animais,
cidades, etc., e são identificados por outras citações na própria bíblia.

7. Há uma grande benção prometida a quem lê e ouve a mensagem


deste livro.

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