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O APOCALIPSE

EXPLICADO VERSÍCULO POR


VERSÍCULO
(VOLUME I: CAPS.1-5)

POR PEDRO OVÍDIO (BEL.TH TH.M)

pedroovi510@gmail.com
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AUTOR DOS LIVROS (AINDA NÃO PUBLICADOS): APOCALIPSE ANOTADO
VERSÍCULO POR VERSÍCULO; DICIONÁRIO DO APOCALIPSE – A
Revelação de A a Z e DANIEL ANOTADO VERSÍCULO POR VERSÍCULO.

PREFÁCIO: Pb. Carlos Antonio da Silva da IEADPE de Palmares-Pe (Bel. Th


e Pós-Graduado em Ciências da Religião)
ÍNDICE

Apresentação
Prefácio
I A Visão do Cristo Glorificado
II Cartas às Sete Igrejas
III Cartas às Sete Igrejas (Parte 2)
IV A Visão Gloriosa do Trono e daquEle que nele
Se Assenta
V A Visão de um Livro de Todo Selado com Sete
Selos
APRESENTAÇÃO

Apesar de ter escrito Apocalipse Anotado Versículo por Versículo, eu não


estou repetindo suas notas de estudo na presente obra. Tudo o que está
escrito aqui é inédito em relação à referida obra. Escrevi-a, primeiramente,
com o fim de denotar o meu amor pelo glorioso Apocalipse de João. Em
segundo, porque queria ter uma obra sobre o Apocalipse um pouco
diferenciada da primeira: 1) só com notas de estudo minhas (não que na
primeira não haja; 75% dessa é de minha pena); e 2) sem nenhuma citação
de obras.
Mesmo sendo o autor de ambos os apocalipses, trago nesta presente obra
estudos inéditos concernentes às profecias do Apocalipse. Estudar as duas
obras, portanto, não significa estudar a mesma coisa. Isso é possível ao
Apocalipse porque este livro é rico bíblica e teologicamente. A título de
comparação, em meu Dicionário do Apocalipse – A Revelação de A a Z, há
mais itens de estudo do que o número de versículos.
Tal característica bíblico-teológica é própria da literatura apocalíptica. Em
meu Daniel Anotado Versículo por Versículo pude perceber o mesmo.
Enfim, meu principal propósito é passar ao leitor não somente o desejoso
conhecimento do livro do Apocalipse, mas, também, leva-lo a ter a mesma
afetividade de que tenho por esse maravilhoso livro. Se quiser ama-lo mais,
fique à sua disposição!!

PEDRO OVÍDIO, 21,03,2023


PREFÁCIO

Ao receber o convite para prefaciar esse compêndio teológico por parte do autor, que é
obreiro da seara do Mestre e amigo de longas datas, quão foi minha alegria para tal,
bem como vê-lo evoluído teologicamente e maturo pessoalmente. Geralmente seus
escritos têm na sua própria pessoa o prefaciador e ao me conceder a oportunidade de
apresentar seu mais recente trabalho, senti-me deveras honrado. Mantemos conversas
saudáveis e por muitas vezes críticas; é claro que tudo no campo da boa construtividade.
Assim, acredito que o nobre amigo literato sabe que farei uma apresentação fidedigna
ao conteúdo que li e sem devaneios ou demasiada louvação.

O Apocalipse Explicado Versículo por Versículo, de autoria do nosso irmão Pedro Ovídio,
é uma valorosa obra literária. Pois, como o próprio título diz, traz comentários
esclarecedores sobre todos os versículos que compõem o último livro da Bíblia Sagrada.
Alguns versículos têm até três notas explicativas, fazendo com que a presente obra se
destaque das demais que têm o mesmo objetivo, ou seja, o de oferecer elucidação sobre
um dos Escritos Sagrados mais emblemáticos da literatura cristã. Além de Bacharel em
teologia, o irmão Ovídio também acumula o título de Mestre dentro dessa mesma área,
o que o qualifica para uma empreitada de tão grosso calibre.

Ao ler o seu opúsculo, é possível perceber a paixão com que escreve sobre esse assunto
tão caro aos cristãos. Cada nota é escrita com bastante reflexão, esmero e sem nenhuma
precipitação. Diferente de algumas outras obras, O Apocalipse Explicado Versículo por
Versículo não interpreta a visão dada ao apóstolo João como se já houvesse acontecido,
nem tenta espiritualizar os eventos escatológicos, mas, atém-se fielmente àquilo que foi
revelado ao prisioneiro da ilha de Patmos. Quem lê essa obra acrescentará à sua própria
cosmovisão detalhes ainda não percebidos sobre o livro das revelações. Ter em sua
biblioteca o resultado de muitas pesquisas feitas pelo teólogo Pedro Ovídio, no que
tange aos eventos que darão início a última semana da visão dada ao profeta Daniel, sê-
lo-á mais seguro defender a visão Pré-Tribulacionista, cuja a mesma é parte integrante
do Credo de Fé das Assembleias de Deus no Brasil.

O autor possui ainda outras obras de igual modo não publicadas, inclusive uma com um
título parecido com esta, a saber, O Apocalipse Anotado Versículo por Versículo. Esta
última, não limitada apenas aos cinco primeiros capítulos, mas contemplando todo o
livro apocalíptico. Citei essa obra gêmea do autor para fazer ciente ao nobre leitor que,
embora ambas tenham sido escritas pela mesma pessoa, as notas explicativas
diferenciam-se entre si, parecendo terem sido escritas por autores diferentes. Leia-a até
à última página e seja enriquecido espiritual e teologicamente.

Carlos Antonio da Silva, Presbítero da IEADPE (Bel. em Teologia e Pós-graduado em


Ciências da Religião).
A VISÃO DO CRISTO
GLORIFICADO

INTRODUÇÃO AO LIVRO
1) REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO, QUE DEUS LHE DEU PARA MOSTRAR AOS SEUS SER-
VOS (1:1). A missão de mostrar o Apocalipse aos seus servos não foi dada primeiramente
a João, nem a um anjo (fosse quem fosse), e, sim, a Jesus Cristo. Isso porque o Apocalipse
é de origem divina, compreendendo 1) Deus, 2) Jesus Cristo e 3) os Sete Espíritos (cf.
1:4-6). De mais a mais, tendo em vista que o Apocalipse foi dado a Jesus Cristo e não
mostrado a Ele, isso significa dizer que o conteúdo do livro já era do Seu conhecimento.
Com Deus, o Pai, Jesus Cristo compartilha o mesmo poder onisciente (2:23), bem como
o Espírito Santo (ICo 2:10).
Os servos que aparecem neste verso se referem aos ouvintes originais do Apocalipse e
que mais adiante são identificados como membros das sete igrejas locais listadas no
livro (cf. 1:4,11; 22:6); no Apocalipse, o termo ocorre maiormente no plural, e, com isso,
à exceção de 13:16 e 19:18, alude aos servos de Jesus Cristo ou do próprio Deus (aqui;
2:20; 7:3; 10:7; 11:18; 19:2; 22:3,6). Quando no singular, o termo se refere especi-
ficamente a João (1:1c) e a Moisés (15:3). Ainda no singular, o termo também ocorre
como sinônimo de “escravo” (6:15).
Posto isso, o Apocalipse foi mostrado somente aos servos de Jesus Cristo, a princípio, a
João (cf. 10:11), porque por intermédio destes o livro seria propalado, o que se daria
sob a poderosa ação do Espírito Santo (cf. 22:17).
2) AS COISAS QUE EM BREVE DEVEM ACONTECER (1:1). Esta expressão especifica qual
parte do Apocalipse é que seria mostrada aos servos de Jesus Cristo – aquela que
contém visões futurísticas, compreendendo os capítulos de 4 a 22. O Apocalipse pro-
priamente dito é, portanto, visionário. E mais: futurístico porque ainda não teve
cumprimento real. À luz de 1:19, as coisas que em breve devem acontecer corres-
pondem à terceira divisão divina do livro.
Outros pontos de vista interpretam o Apocalipse como já cumprido, baseando-se em
eventos ocorridos entre os séculos I–IV (preterista), ou cumprindo-se ao longo da
História, baseando-se em eventos importantes, bem como em personagens históricos
(historicista). Há ainda os espiritualistas ou idealistas que não usam nenhum desses
meios interpretativos, mas aplicam o livro sob pontos de vista práticos ou espirituais.
3) ENVIANDO POR INTERMÉDIO DO SEU ANJO (1:1). Além dos servos, os anjos são tam-
bém propriedades de Jesus Cristo. No Apocalipse, alude-se ainda aos anjos de Miguel e
aos anjos do Grande Dragão (12:7), mas não como propriedades suas, visto que não
foram criados por eles, e, sim, como subalternos seus. Os anjos são propriedades de
Jesus Cristo porque Ele os criou para Si (Cl 1:15,16).
A intermediação do Apocalipse é uma das funções angélicas; ao longo do livro, os anjos
são incumbidos de mostrar as visões apocalípticas a João, bem como de interpretá-las.
Tais funções diferenciam-nos dos anjos que participam diretamente da revelação, como
aqueles que executam os juízos das trombetas e das taças, dentre outros.
Por que o Apocalipse precisou de um intermediário angélico? Porque a presença de
anjos ou sua interação com o visionário é uma das características específicas da
literatura apocalíptica. Eis porque a presença angélica é muito comum ao longo do livro.
São mais de 70 menções a eles; dos vinte e dois capítulos, em apenas 3 desses é que o
termo não aparece (cf. 4,6 e 13). Tanto mostrando-os como intérpretes como também
expondo-os como participantes das visões apocalípticas; com isso, a presença angélica
é de todo indispensável.
4) JOÃO (1:1). O nome significa “Deus é gracioso”, contrastando com o nome “Boa-
nerges”, “filhos do trovão” (cf. Jo 3:17), que também foi dado a seu irmão, Tiago; ocorre
por quatro vezes no Apocalipse (aqui e nos versos 4 e 9 do mesmo capítulo, bem como
em 22:8). Em duas dessas passagens, o autor usou o pronome pessoal “eu”, e, em
seguida, seu nome próprio (cf. 1:9; 22:8). Qualquer pessoa que se identifica dessa
maneira é porque goza de popularidade, e não pouca, visto que João se dirigiu a várias
igrejas da região asiática, a partir de Éfeso. Embora o nome de “João” fosse muito
comum no primeiro século, nenhum tal de João se identificaria assim a ponto de ser
reconhecido de maneira ampla.

5) O QUAL ATESTOU A PALAVRA DE DEUS E O TESTEMUNHO DE JESUS CRISTO (1:2). Do


ponto de vista do Apocalipse, atestar a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo
ou era sinônimo de perseguição ou o era de martírio (cf. 1:9; 6:9; 12:11,17; 20:4). Nos
dias dos imperadores romanos, não havia descanso para quem aceitasse tal desafio.
Também não haverá descanso para os servos de Deus que o fizerem no tempo do fim,
conforme previsto em 6:9; 12:11,17; 20:4.
4) QUANTO A TUDO O QUE VIU (1:2). Provável alusão ao discipulado de João, o qual o
possibilitou a ser um dos Doze (vide At 1:15ss). Por ser um dos discípulos mais íntimos
do Senhor (Mt 17:1; Mc 9:2; 14:33; Lc 8:51; 9:28), João viu muitas coisas a ponto de não
as poder registrar uma a uma (cf. Jo 21:25). Estaria ele se identificando indiretamente
como apóstolo de Jesus Cristo na presente expressão? Indubitavelmente, sim!
5) BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE LEEM E AQUELES QUE OUVEM AS PALAVRAS DA
PROFECIA E GUARDAM AS COISAS NELA ESCRITAS (1:3). A primeira bem-aventurança
do Apocalipse está relacionada àqueles que tem algum relacionamento com as palavras
da profecia, quer pela leitura (“leem”), quer pela audição (“ouvem”), quer pela manu-
tenção (“guardam”). Ou seja, nenhuma forma de relacionamentos com as palavras da
profecia deve ser dispensável. Quem são aqueles que leem? Os pastores das igrejas
locais; eles eram incumbidos de lerem as Escrituras Sagradas em alto e bom som. Quem
são aqueles que ouvem? Os membros das igrejas locais; eles ouviam as Escrituras
Sagradas sob o cuidado de não altera-las. E, finalmente, quem são aqueles que guar-
dam? Tanto os pastores quanto os membros das igrejas locais; o exercício de manter as
palavras da profecia, no sentido de conserva-las intactas, servem para os dois (cf.
22:18,19).
6) POIS O TEMPO ESTÁ PRÓXIMO (1:3). O urgente relacionamento que todos devem ter
com as palavras da profecia é, antes de tudo, porque o tempo está próximo.
Que tempo está próximo? 1) O tempo de cumprimento das palavras da profecia ou 2) o
tempo de duração dos eventos das palavras da profecia? À luz do ponto de vista
futurista, é o período de tempo dos eventos das palavras da profecia que responde a
esta questão, visto que em nenhum momento próximo, em relação ao autor, elas
tiveram cumprimento. Assim sendo, tempo... próximo se refere ao todo do
cumprimento das palavras da profecia, o qual ocorrerá em “pouco tempo” (cf. 6:11;
12:12; 17:10; 20:3).
SAUDAÇÃO ÀS IGREJAS DA ÁSIA
7) JOÃO, ÀS SETE IGREJAS QUE SE ENCONTRAM NA ÁSIA (1:4). Que João enviaria cartas
a igrejas locais que compreendiam uma região se não fosse o “João” mais popular de
todos? Vide nota 4. A despeito de o Apocalipse fazer menção a sete igrejas locais da
pequena Ásia, nessa região havia bem mais que sete. Mas por que somente sete igrejas
locais da pequena Ásia e não todas as igrejas locais dessa região? Provavelmente porque
apenas os erros e acertos de sete igrejas locais é que serviriam de exemplo positivo ou
negativo para a Igreja de todos os tempos.
8) GRAÇA E PAZ (1:4). Era a saudação universal da Igreja da época, visto que com-
preendia 1) gentios (“graça”) e 2) judeus (“paz”). A bem da verdade, essa é a secular
constituição da Igreja. No Apocalipse, a Grande Multidão (7:9-17), gentios convertidos,
e os Restantes da Descendência da Mulher (12:17), judeus convertidos, darão con-
tinuidade à mesma constituição. Diante disso, a Salvação pelo sangue de Jesus (cf. 7:14)
não cessará após o Arrebatamento da Igreja, mas continuará até ao final do período
tribulacional.
9) DA PARTE DAQUELE QUE É, QUE ERA E QUE HÁ DE VIR (1:4). Expressão titular do
Deus-Pai. Ela aponta para a plenitude do Seu plano salvífico e pleno. Diante disso, em
nenhum tempo ou época Deus deixou de salvar o homem, tanto que culminou, de uma
vez por todas em Jesus Cristo, consumando quando de Sua Vinda escatológica. Eis
porque inevitavelmente Ele há de vir.
10) DA PARTE DOS SETE ESPÍRITOS QUE SE ACHAM DIANTE DO SEU TRONO (1:4). No
Apocalipse, o Espírito Santo é intitulado de sete Espíritos em alusão à Sua Onipresença
(cf. 5:6). À luz de Isaías 11:2, o título também tem a ver com capacidades espirituais
outorgadas aos crentes. O Espírito Santo aparece em segundo lugar na saudação do
Apocalipse porque Ele é o Cabeça nesta Presente Dispensação. De mais a mais, o Espírito
Santo, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, Se encontra diante do trono de Deus,
mas, ao mesmo tempo, Ele é os “sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra” (5:6;
Zc 4:10).
11) E DA PARTE DE JESUS CRISTO, A FIEL TESTEMUNHA, O PRIMOGÊNITO DOS MOR-
TOS E O SOBERANO DOS REIS DA TERRA (1:5). Estes títulos que seguem o Nome de
Jesus Cristo apontam para as seguintes etapas: 1) como fiel testemunha, Jesus Cristo
exerceu o Seu Ministério Terreno (cf. Jo 8:38,40,45,46); 2) como primogênito dos
mortos, Jesus Cristo ressuscitou ao Terceiro Dia, vindo a ser “as primícias dos que dor-
mem” (ICo 15:20); e como soberano dos reis da terra, Jesus Cristo virá pela segunda vez
como REIS DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES (17:14; 19:16).

12) ÀQUELE QUE NOS AMOU, E, PELO SEU SANGUE, NOS LIBERTOU DOS NOSSOS PECA-
DOS (1:5). Se um cristão fosse interrogado da seguinte forma: “Quem foi aquele que nos
amou?”, ele logo responderia que foi Deus, o Pai, reportando João 3:16. Ao dizer isso, o
tal cristão não responderia errado à referida pergunta. Mas, aqui, também está escrito
que Jesus Cristo do mesmo modo nos amou, significando dizer que Ele não derramou o
seu sangue para simplesmente representar o amor de Deus, mas, também, o próprio
amor (cf. Jo 10:11). Eis, por isso, um Pai que, por Seu infinito amor, deu o Único Filho
para salvar o mundo e um Filho que, por Seu infinito amor, verteu o seu sangue para
nos libertar dos nossos pecados. Qual a diferença de ambos os Amantes e ambos os
amores? Absolutamente, nenhuma! Tanto o Pai quanto o Filho expressam, em Pessoa,
o verdadeiro Amor!

13) E NOS CONSTITUIU REINO, SACERDOTES PARA O SEU DEUS E PAI (1:6). Israel foi
substituído pela Igreja como povo real e sacerdotal dada à sua incredulidade messiânica
(Jo 1:11-13; cf. Mt 21:33-44 e paralelos; Mt 22:1-14; Rm 9–11). Tais constituições, por
conseguinte, tornaram a Igreja um povo (que dantes não era, Rm 9:19) da mesma forma
que Israel se tornou um povo ao ser constituído reino e sacerdotes (cf. Êx 19:6; cf. Rm
9:25). O próprio Jesus que foi ignorado pelos judeus como Messias é que constituiu a
Igreja como povo real e sacerdotal para o seu Deus e Pai. Israel, com isso, deixou de ser
povo de Deus? Respondendo a isso, Paulo escreveu aos crentes de Roma: “Eles [os
judeus], se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é
poderoso para os enxertar de novo. [...] E, assim, todo o Israel será salvo, como está
escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha
aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados” (Rm 11:23, 26,27). Tal retomada de
Israel como povo dar-se-á no final do período tribulacional ou às vésperas da segunda
Vinda Visível de Cristo.
14) A ELE A GLÓRIA E O DOMÍNIO PELOS SÉCULOS DOS SÉCULOS. AMÉM! (1:6). É a Cris-
to que João prestou estas prerrogativas. A mesma glória e Reino Eterno que são pres-
tados a Deus, o Pai, também o são a Deus, o Filho (4:9,11; 5:12,13; 7:12; 11:13; 14:7;
19:1,7).
15) EIS QUE VEM COM AS NUVENS, E TODO OLHO O VERÁ (1:7). Nos dias de João, o
cumprimento literal desta profecia, bem como sua compreensão, era grandemente
impossível! Outros eventos globais do Apocalipse também o eram (cf. 11:9,10; 13:
8,12,13,14,16). O Apocalipse, por isso, não poderia se cumprir no primeiro século, nem
em séculos mais recentes. Do século XX em diante, a situação vem sendo outra. A partir
deste, quaisquer notícias mundiais começaram a ser espalhadas de forma rápida e
concomitante. As redes sociais passaram a ser o principal meio que possibilitam essas
coisas. Quem não se lembra do atentado às Torres Gêmeas ou WTC de Nova Iorque,
EUA? Em 2001, ano da tragédia, o sinal de internet ainda não era disponível à grande
massa, sem falar também de sua velocidade muitissimamente baixa. Para tanto, as
notícias ainda dependiam da mídia tradicional (ou grande mídia); foi por meio desta que
o acontecimento circulou pelo mundo. Não será assim quando do evento da Segunda
Vinda Visível de Cristo! Este será visto, veloz e concomitantemente, por populares de
todas as partes do mundo – todo olho o verá!
16) ATÉ QUANTO O TRASPASSARAM (1:7). Possível alusão à descendência das auto-
ridades judaicas ou dos próprios judeus que crucificaram Jesus (Jo 19:37; At 2:23; 7:52).
17) E TODAS AS TRIBOS DA TERRA SE LAMENTARÃO SOBRE ELE. CERTAMENTE. A-
MÉM! (1:7). O termo tribo não alude, no presente verso, às doze tribos dos filhos de Is-
rael, e, sim, às nações da terra, em especial, às nações inimigas do povo de Deus, Israel,
quando do Armagedom (cf. 16:12ss). Elas lamentarão a própria derrota diante do Cristo
da Segunda Vinda Visível.
18) EU SOU O ALFA E O ÔMEGA, DIZ O SENHOR DEUS, AQUELE QUE É, QUE ERA E QUE
HÁ DE VIR, O TODO-PODEROSO (1:8). Este título divino, o Alfa e o Ômega, é um dos
que aparecem no Apocalipse que Cristo também reivindica para Si (22:13; cf. 1:17). Ora,
se Cristo é o Alfa e o Ômega, Ele também é o Senhor Deus, aquele que é, que era e que
há de vir, o Todo-Poderoso, já que foi sob a mesma reivindicação que o Pai disse ser o
Alfa e o Ômega.
Em 21:6, o Senhor Deus volta a Se auto intitular de o Alfa e o Ômega. À semelhança de
outros títulos paralelos, como, por exemplo, “o primeiro e o último” (2:8), “o princípio
e o fim” (22:13), “o primeiro e o derradeiro” (22:13), o Alfa e ômega corresponde a um
título com duas identificações divinas. Dizer-se: “Eu sou o Alfa”, é o mesmo que dizer
que é “o princípio” ou “o primeiro”, já que “alfa” é a primeira letra do alfabeto grego; o
mesmo sucede à letra “ômega”, a última do mesmo alfabeto, significando “último, “fim”
ou “derradeiro”.
Que quer dizer o título em apreço? Quer dizer duas coisas importantíssimas acerca de
Deus: 1) que Ele é o único Deus, ou seja, que desde o princípio de todas as coisas criadas
até ao fim de todas elas não houve e não haverá Deus semelhante. E 2) que Ele, no que
tange à Primeira Terra e ao Primeiro Céu, é o Princípio e o Fim de ambas as coisas.
Quanto à Nova Terra e ao Novo Céu, não se pode dizer o mesmo, ou seja, que o Senhor
Deus é o Alfa e o Ômega, mas que Ele é somente o Alfa, já que ambas as criações não
terão fim.
Além de o Alfa e o Ômega, João seguiu intitulando-O como 1) aquele que é, que era e
que há de vir ou de 2) o Todo-Poderoso. Quanto ao primeiro, João já O havia intitulado
como tal no verso 4 e depois em 4:8; em 11:17, o título reaparece na forma reduzida;
contudo, quanto ao segundo, aqui e em 4.8; 11.17; 15.3; 16.7,14; 19.6,15; 21.22. Que
quer dizer o primeiro título? Quer dizer que o Senhor Deus é ininterruptamente atuante
ao longo da História Humana, ou seja, do passado mais remoto ao futuro mais distante.
O título diverge da teoria do dualismo, o qual ensina que o Senhor Deus esqueceu a Sua
Criação, mas é consonante à doutrina teológica da Imanência Divina. E que dizer do
segundo título? Quer dizer que o Senhor Deus detém todo o poder realizador de sinais,
milagres e maravilhas (cf. 15:3). Enfim, foi reivindicando ambos os títulos para Si mesmo
que o Senhor Deus Se apresentou aos primeiros leitores do Apocalipse (V.4).
O AUTOR DO LIVRO

19) EU, JOÃO, IRMÃO VOSSO E COMPANHEIRO NA TRIBULAÇÃO (1:9). É a partir deste
verso que o leitor do Apocalipse conhece o fundo histórico do livro. Este consiste no
exílio do apóstolo João para a ilha de Patmos. O imperador Domiciano (51-96 d. C.) foi
quem o levou para lá; de acordo com a tradição, o servo de Deus ficou na ilha de Patmos
até à morte de Domiciano (por assassinato), já que, seu sucessor, a saber, Nerva (96-98
d. C.), foi quem o autorizou voltar para Éfeso.
Embora apóstolo, bem como pastor presidente das igrejas asiáticas, João era com-
panheiro na tribulação. Ele não disse: “Companheiro no ministério”, referindo-se aos
demais pastores, e, sim, “companheiro na tribulação”, referindo-se a todos os crentes
da pequena Ásia. Tantos os pastores como os crentes em geral estavam submetidos à
mesma situação. Nenhum estava livre da tribulação, desde que propalasse a sua fé em
Jesus Cristo, bem como guardasse a Sua Palavra.
20) ACHEI-ME NA ILHA CHAMADA PATMOS, POR CAUSA DA PALAVRA DE DEUS E DO
TESTEMUNHO DE JESUS (1:9). João se encontrava na ilha chamada Patmos ou cerca de
80 quilômetros de Éfeso, sua sede pastoral. Não por escolha própria, mas por causa da
palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo. Era terminantemente proibido, nos
dias apostólicos, a pregação da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo. O
Império Romano temia que a Igreja se tornasse um grande povo, e, com isso, incidisse
uma grande revolta contra ele. O crescimento dos crentes era visto como uma ameaça
à sua segurança.
A bem da verdade, não somente João precisou sair forçadamente da cidade em que
vivia. Por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo muitos crentes
também precisaram sair de seus lares como fugitivos. Não se podia professar publi-
camente a nova Fé. Todos, à uma, eram proibidos de fazê-lo. As perseguições romanas
eram constantes justamente pelo fato de eles resistirem às ordens imperiais quando
estas os proibiam testificar Jesus Cristo. É óbvio que nem todos os crentes resistiram a
tamanha pressão; muitos deles abandonaram a Fé, professando que “César é Senhor”.
Enfim, nunca foi fácil ser cristão verdadeiro, mas algumas épocas da História Eclesiástica
tornaram a Fé ainda mais difícil. E que dizer do tempo do fim, quando o grande
perseguidor da Fé Cristã será o próprio Anticristo?
A VISÃO DO CRISTO GLORIFICADO
21) ACHEI-ME, EM ESPÍRITO, NO DIA DO SENHOR (1:10). Foi num domingo que Cristo
ressuscitou com um corpo glorificado; também foi num domingo – dia do Senhor – que
João reviu Seu Mestre com um corpo glorificado. Que belo reencontro! Para isso, o servo
de Deus foi achado em espírito. Jesus permitiu que as testemunhas da Ressurreição
também O vissem com um corpo glorificado. Até ao verso 16, o apóstolo vidente
descreveu as vestes e a glória do Cristo Ressurreto. Ele apareceu vestido com Seu traje
eterno, ao passo que, quando de Sua Segunda Vinda Visível, em 19:11ss, o Mesmo
reaparecerá com Seu traje messiânico.
22) OUVI, POR DETRÁS DE MIM, GRANDE VOZ, COMO DE TROMBETA (1:10). Da entra-
da da caverna, João ouviu, por detrás dele, grande voz, como de trombeta. A voz do
Cristo glorificado é descrita como de trombeta porque, provavelmente, Ele Se en-
contrava a certa distância do apóstolo. Pela mesma razão, do Céu, o Cristo glorificado
também falou a João com voz como de trombeta (4:1). Ela soou como voz de auto-
falante, ou seja, extensiva, quilométrica, fácil de ser ouvida, compreendida.
23) DIZENDO: O QUE VÊS ESCREVE EM LIVRO (1:11). A presente ordem incumbiu João
escrever tudo o que lhe fosse mostrado. O servo de Deus também escreveria vozes (cf.
1:10; 4:1; 5:11,13; 6:1,3,5,6,7; 7:4; 8:13; 9:13; 10:4,8; 12:10; 14:2 [duas vezes],13; 16:
1,5,7; 18:4; 19:1,6; 21:3; 22:8 [duas vezes]), mas, quanto a estas, ele foi proibido de es-
crever as vozes dos Sete Trovões (10:4). Contudo, nenhuma das visões que lhe foi
mostrada passou pela mesma restrição (cf. 1:10,12 [duas vezes],17,19,20; 5:1,2,6,11;
6:1,2,5,8 [“olhei”],9,12; 7:1,2,9; 8:2,13; 9:1; 10:1,5; 12:1,3; 13:1,2,3,11; 14:1 [“o-
lhei”],6,14 [“olhei”]; 15:1,2,5 [“olhei”]; 16: 13; 17:6 [duas vezes]; 18:1; 19:11,17,19;
20:1,4 [duas vezes],11,12; 21:1,2,22; 22:8 [duas vezes]).
24) MANDA ÀS SETE IGREJAS: ÉFESO, ESMIRNA, PÉRGAMO, TIATIRA, SARDES, FILA-
DÉLFIA E LAODICÉIA (1:11). Todas estas igrejas locais, conhecidas pelos nomes de suas
cidades, estavam situadas na pequena Ásia (atual Turquia). Havia bem mais igrejas locais
ou cidades nessa região; assim sendo, a liderança pastoral de João compreendia um
número bem maior de igrejas locais. Foram elas, portanto, os primeiros ouvintes do
Apocalipse, bem como o exemplo perfeito de erros e acertos que serviriam para os
crentes de todas as épocas. Daí o número sete!

A lista de igrejas locais começa geograficamente com Éfeso, a “desejada”, mas, encerra-
se, profeticamente, com a igreja local de Laodiceia, a “dominada pelo povo”.

25) VOLTEI-ME PARA VER QUEM FALAVA COMIGO E, VOLTADO, VI SETE CANDEEIROS
DE OURO (1:12). A voz como de trombeta ou sobrenatural do Cristo glorificado não
permitiu que João reconhecesse o seu amado Mestre. Há algumas décadas, Sua voz era
humana como a voz de todos os homens; embora isso, nunca e jamais se ouviu uma voz
tão doce, meiga, como a de Jesus. Ao voltar-se para ver quem falava consigo, João viu a
Igreja glorificada e o Cristo glorificado no meio dela. Não foram vistas igrejas locais
divididas, geograficamente, mas igrejas locais unidas entre si fazendo uma só Igreja. O
utensílio simbólico é de ouro, representando incorruptibilidade; contém sete hastes, re-
presentando plenitude. Não se diz que suas pontas estão acesas porque a peça tem um
aspecto glorioso. Não era, portanto, uma visão histórica de igrejas locais daquela época,
e, sim, uma visão escatológica da Igreja na sua incorruptibilidade e plenitude eternas.
As sete igrejas locais do Apocalipse foram, por isso, selecionadas a dedo tais quais os
apóstolos que também tinham erros e acertos. Por que não a igreja local de Mileto, mais
próxima da ilha de Patmos? E por que não a de Colossos, a de Hierápolis etc. etc. que
também se encontravam na mesma região? É que Jesus tinha uma mensagem final que
se baseava nas experiências morais e espirituais de algumas igrejas locais, mas, para
isso, Ele seletou, esboçadamente, sete igrejas ou sete exemplos. Significando que, nem
todas as igrejas locais Lhe serviram para o mesmo fim. E que dizer do simbolismo do
número sete, bem como do ouro? Ambos apontam para o objetivo da mensagem final
do Cristo glorificado, a saber, preparar uma Igreja para receber a plenitude e incorrup-
tibilidade eternas.
26) E, NO MEIO DOS CANDEEIROS, UM SEMELHANTE A FILHO DE HOMEM (1:13). A
visão do Cristo glorificado foi real, pessoal, tal qual a visão de um anjo que também era
“semelhante a filho de homem” (cf. 14:14). A bem da verdade, Cristo foi visto, bem
como descrito, da cabeça aos pés como um ser pessoal tal quais os humanos, ou seja,
com os mesmos membros humanos, a saber: peito (V.13), cabeça (V.14), cabelos (V.14),
olhos (V.14), pés (V.15,17), mãos (V. 16,17), boca (V.16). Segue-se a mesma descrição
em 19:11ss, acrescentando “sua coxa” (19:16). Não bastando isso, o Cristo glorificado
estava vestido com vestes comuns entre os judeus (1:13b), sendo que as dEle eram
sacerdotais. No livro de Daniel os seres celestiais são também descritos com formas
humanas (cf. Dn 8:15; 9:2; 10:5,18: 12:6,7).
27) COM VESTES TALARES E CINGIDO, À ALTURA DO PEITO COM UMA CINTA DE OURO
(1:13). Estas vestes são sacerdotais porque Cristo é o Sacerdote Eterno e, como tal, é
assim que Ele Se encontra vestido no Céu (Sl 110:4; Hb 6:20). Seu sacerdócio é eterno
porque Cristo não provem da tribo de Levi, e, sim, de Judá, cujo trono messiânico
também é eterno (Hb 7:11ss). Nesta presente Dispensação, Ele é o Sumo Sacerdote que
Se compadece dos crentes (Hb 4:15,16). Mas, antes, “...mediante o maior e mais per-
feito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação” (Hb 9:11), ofereceu
auto sacrifício, ou seja, “não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu
próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna
redenção” (Hb 9:12).
28) A SUA CABEÇA E CABELOS ERAM BRANCOS COMO ALVA LÃ, COMO NEVE (1:14). A
cabeça e cabelos do Cristo glorificado são igualmente brancos como alva lã, como neve.
Ao vê-Lo, João logo reportou à Transfiguração de Jesus (Mt 17:1-9, Mc 9:2-8 e Lc 9:28-
36); o aspecto glorioso era o mesmo, porquanto “seu rosto resplandecia como o sol, e
suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mt 17:2); Marcos descreveu apenas as
vestes de Jesus: “...tornaram-se resplandecentes e sobremodo brancas, como nenhum
lavandeiro na terra as poderia alvejar” (Mc 9:7); do mesmo modo que Mateus, Lucas
descreveu tanto o Cristo quanto Suas vestes: “E aconteceu que, enquanto ele orava, a
aparência do seu rosto se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura” (Lc
9:29). O que João viu na pedregosa ilha de Patmos foi exatamente a mesma glorificação;
daí porque ele, ao invés de surpreso, demonstrou respeito, submissão (1:17).
29) OS OLHOS, COMO CHAMA DE FOGO (1:14). João viu os olhos do Cristo glorificado
quais faróis muito acesos a ponto de clarear todas as coisas aos seu redor. O Salmo
139:1ss de Davi define muito bem o significado desse simbolismo: “SENHOR, tu me
sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe
penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces
todos os meus caminhos. [...] Tu me cercas por trás e por diante... [...] Para onde me
ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estas; se
faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da
alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão...
Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite,
até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa”.
30) OS PÉS, SEMELHANTES AO BROZE POLIDO, COMO REFINADO NUMA FORNALHA
(1:15). Enquanto os cabelos e cabeça do Cristo glorificado são brancos como alva lã,
como neve (1:14; 2:18), os pés são semelhantes ao bronze polido, como refinado numa
fornalha. Há algum contraste nisso? Absolutamente, não! Porquanto ambas as des-
crições apontam para o mesmo alvo, a saber, descrever a gloria do Cristo glorificado, ou
seja, enquanto o branco da Sua glória expressa o aspecto luminar, o fogo, a extensão
luminar, tornando-O uma lâmpada. Essa dupla definição da glória do Cristo glorificado
combina com a passagem de 21:25, que diz: “A cidade não precisa de sol, nem da lua,
para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada”
(itálicos do autor; cf. 1:16c).
31) A VOZ, COMO VOZ DE MUITAS ÁGUAS (1:15). O Cristo glorificado não volta a falar
com voz de trombeta (1:10), e, sim, com voz de muitas águas. Essa descrição de voz só
volta a ocorrer em 19:6, onde ela também descreve a voz como de numerosa multidão
ou como de fortes trovões. Está claro, ali, que tal voz se dirige a milhares de anjos, no
Céu; daí porque há uma tripla descrição vocal, significando que tal voz soou qual muitas
águas agitadas, assemelhando-se, também, à voz como de uma numerosa multidão
eufórica ou como de fortes trovões. Diferentemente disso, o Cristo glorificado falou
somente a João e no interior de uma pequena gruta. Ele, por isso, não falaria aos ouvidos
de Seu servo com voz de muitas águas agitadas, e, sim, expressamente tranquilas,
dizendo-lhe: “Não temas; eu sou o primeiro e o último” (1:17b).
32) TINHA NA MÃO DIREITA SETE ESTRELAS (1:16). No verso 13, o Cristo glorificado está
no meio dos Sete Candeeiros, e, em 2:1, Ele anda no meio deles. Ou seja, o Cristo glo-
rificado tanto habita como Se movimenta no meio da Igreja. Sua presença é claramente
indispensável – algo que os crentes laodicenses não levaram em conta (3:20). Por outro
lado, o Cristo glorificado tem na mão direita sete estrelas (cf. 2:1). Estas simbolizam os
pastores das igrejas locais da pequena Ásia. Por serem vistos na mão direita do Cristo
glorificado, pode-se dizer que eles (os pastores) são dotados de autoridade divina para
atuarem como tais. Não são, portanto, simples homens, mas homens divinamente
chamados para o exercício do cargo.
Em 5:6, o Cristo-Cordeiro também tem os Sete Espíritos de Deus; mas não se diz que
Estes Se encontram na mão direita, dando a impressão de que o Espírito Santo só estaria
disponível aos pastores das Sete Igrejas asiáticas, reportando à restrição da Terceira
Pessoa no Antigo Testamento. A passagem, na verdade, diz que o Cristo glorificado
simplesmente Os tem, significando disponibilidade total, plena, do Espírito Santo, ou
seja, tanto para crentes quanto para pastores. Eis porque Ele, como Sete Espíritos, foi
enviado por toda a terra (5:6c), isto é, por onde quer que haja um crente.

33) DA BOCA SAIA-LHE UMA AFIADA ESPADA DE DOIS GUMES (1:16). Esta descrição do
Cristo glorificado é tanto eclesiológica (2:12,16) como escatológica (19:15). 1) Como
eclesiológica, Ele repreende, corrige e educa na justiça (cf. IITm 3:16); e 2) como esca-
tológica, Ele ferirá fatalmente os inimigos de Seu povo, Israel, na guerra de Armagedom
(cf. 19:15ss e paralelos).
34) O SEU ROSTO BRILHAVA COMO O SOL NA SUA FORÇA (1:16). Na Nova Jerusalém, a
Cidade Santa, o Cristo glorificado refletirá a Sua luz como o sol na sua força, servindo-
lhe de “lâmpada” (21:23). Por duas vezes, Paulo descreveu a mesma glória divina
definindo-a como “luz” (At 9:3; 22:6).
35) QUANDO O VI, CAÍ A SEUS PÉS COMO MORTO (1:17). Só após descrever o Cristo
glorificado que João disse que O viu e caiu a seus pés como morto, denotando o
momento exato da visão. Esse estilo de narrativa é típico do autor e ocorre em outros
eventos do livro. Ele, porém, varia a forma, ou seja, ora adianta que viu algo (não é o
caso aqui), ora diz ter visto algo depois, mas que já o tem descrito (é o caso aqui). Em
8:2, João disse ter visto “os sete anjos que tinham as sete trombetas”, mas que só foram
vistos, de fato, após o evento dos VV.1-5 (cf. V.6). O mesmo ocorre no capítulo 12, onde
a perseguição do Dragão ante a Mulher vestida do Sol é introduzida nos primeiros 6
versículos, mas que o fato só ocorre a partir do verso 7 em diante. Em 21:1, João disse
ter visto a Nova Jerusalém, dentre outros detalhes relacionados a ela, mas é só no verso
9 que “um dos sete anjos que têm as sete taças” passa a mostra-la ao mesmo.
“Caí” diante de um ser angélico ou divino não era sinal de adoração, e, sim, de temor da
morte, “porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” (Êx 33: 20; Jz 13:20-23;
cf. 1:20; 3:23; 43:3; 44:4; 8:17,18; 10:9; Lc 1:13,30; At 22:7).
36) PORÉM, ELE PÔS SOBRE MIM A MÃO DIREITA, DIZENDO: NÃO TEMAS (1:17). A mão
direita que simboliza, contextualmente, a autoridade ministerial (cf. V.16), é a mesma
que consola João. Deus não chama Seus servos e os deixa sós em plena tribulação; Ele é
o mesmo que diz: “...eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos
séculos” (Mt 28:20). E continuará assim na Eternidade (21:3).

37) EU SOU O PRIMEIRO E O ÚLTIMO (1:17). O Cristo glorificado voltou a reivindicar o


mesmo título em 2:8 e, em 22:13, despediu-Se de João. No presente verso, porém, Ele
Se apresentou ao Seu servo. À luz de 22:13, o título é uma variante de “o Alfa e o Ômega”
e “o Princípio e o Fim”, visto que um explica o outro. Como Criador e Soberano, Deus
reivindicou para Si o mesmo título por três vezes no livro de Isaías (cf. Is 41:4; 44:6;
48:12). Por três vezes no Apocalipse, o Cristo glorificado também reivindicou para Si o
título de “o Primeiro e o Último”. Ele, por isso, é também Criador e Soberano (Jo 1; Cl
1).
38) AQUELE QUE VIVE (1:18). Esta expressão titular reivindicada pelo Cristo glorificado
é uma variante dos títulos divinos veterotestamentários “Eu vivo” (Nm 14:21,28; Dt
32:40; Is 49:18; Jr 22:24; 46:18; Ez 5:11; 14:16,18,20; 16:48; 17:16,19; 18:3; 20:3,31,33;
33:11,27; 34:8; 35:6,11; Sf 2:9) e adotado no Novo Testamento (Jo 6:57; 14:19 [Jesus
dizendo sobre Si mesmo]; e “Deus vivo” (Js 3:10; ISm 17:26,36; IIRs 19:4,16; Sl 42:2; 84:2;
Is 37:4,17; Jr 10:10; 23:36; Dn 6:20,26; Os 1:10), também adotado no Novo Testamento
(Mt 16:16; 26:63; At 14:15; Rm 9:26; IICo 3:3; ITs 1:9; ITm 3:15; 4:10; Hb 3:12; 9:14; Ap
7:2).

Ao contrário das modernas seitas arianas, o Cristo glorificado não é meramente elogiado
ou respeitado, e, sim, adorado por ações cultuais e por meio de palavras doxológicas,
bem como divinizado pelo auto uso de nomes e títulos que só Deus os usa. Negar esses
fatos sob o pretexto de não haver evidências bíblico-cristológicas simplesmente denota
o mau-caratismo das seitas. É o que não falta no meio delas!
39) EIS QUE ESTOU VIVO PELOS SÉCULOS DOS SÉCULOS (1:18). O Cristo glorificado
ressuscitou para não mais morrer, noutros termos, para não mais nascer ou reaparecer
como homem, como o fazem os falsos cristos. Após ressuscitar, Ele deu continuidade à
Sua auto existência. Nenhuma criatura humana reivindicaria o mesmo tipo de vida ao
receber a bênção da ressurreição; doutro modo, o Cristo glorificado não passou a ser
auto existente após ressuscitar, mas que a Sua Ressurreição é prova de Sua auto
existência ou de vida própria.

40) TENHO AS CHAVES DA MORTE E DO INFERNO (1:18). O Cristo glorificado precisou


morrer, e, em seguida, ressuscitar para provar que as chaves da morte e do inferno
pertencem a Ele. Diante disso, nenhum mortal arriscaria sequer um desmaio para provar
quaisquer dessas autoridades. O Cristo glorificado também foi morto e reviveu para
abrir o livro selado (5:5ss), feito esse que ninguém foi digno de fazê-lo. Mais uma vez,
somente aquEle que vive pelos séculos dos séculos e que tem as chaves da morte e do
inferno é que foi digno de fazer o que homens e até anjos não o fizeram. Erram,
portanto, as atuais seitas de origem ariana ao negarem a divindade do Filho de Deus por
não admitir a Sua transcendência diante de toda ou quaisquer criaturas.
A MISSÃO DE ESCREVER O LIVRO
41) ESCREVE, POIS, AS COISAS QUE VISTE (1:19). A visão do Cristo glorificado compre-
ende o tempo passado do Apocalipse ou a primeira divisão do livro (cap. 1). Ela deveria
ser escrita da mesma forma que as demais divisões. Sua mensagem é clara: Cristo é o
Seu Autor Divino e que a transmite para o autor humano por intermédio de Seu anjo
(V.1). Ela é, portanto, a menor divisão do livro.

42) AS QUE SÃO (1:19). Quando João recebeu a ordem de escrever as coisas que viste,
estas já haviam ocorrido, evidentemente. E, por isso, compreendem o passado do livro.
A missão de escrever não havia cessado, daí a segunda parte, a saber, as que são. O
presente do livro, portanto, vem logo a seguir, compreendendo os capítulos 2 e 3. Não
obstante, nenhuma visão seria mostrada ao servo de Deus, quer não palavras de elogios
ou de reprovações dirigidas às sete igrejas locais da pequena Ásia. Apenas duas igrejas
locais (Esmirna e Filadélfia) é que passariam pelo crivo divino. A maioria (cinco ao todo)
seria reprovada!
Quanto às igrejas locais aprovadas pelo Cristo glorificado, a primeira (Esmirna) repre-
senta os crentes mártires de todos os tempos e a segunda (Filadélfia) os crentes mis-
sionários de todos os lugares. Ou seja, enquanto uns morrem por pregar a Palavra de
Deus, outros vivem pregando a mesma Palavra! A Igreja aprovada pelo Senhor Jesus
Cristo também não tem onde descansar a cabeça (Mt 8:20).

43) AS QUE HÃO DE ACONTECER DEPOIS DESTAS (1:19). Finalmente o Apocalipse se


completa quanto às suas divisões (são três ao todo ou tríplice); o próprio livro é que se
responsabiliza por elas. O passado e o presente já foram estudados em notas acima, eis,
portanto, o futuro, compreendendo maior parte dos capítulos (4–22).
Embora o futurismo do Apocalipse seja defendido várias vezes ao longo do livro (1:1 e
aqui; 4:1; 22:6), há quem vê-lo como já cumprido ou cumprindo-se ao longo da História.
O Apocalipse não pode já ter-se cumprido ou estar-se cumprindo, porque seus eventos
terão cumprimento num pequeno espaço de tempo equivalente a sete anos precisos
em diante (Dn 9:27). Quanto às suas partes, elas são definidas como: “quarenta e dois
meses” (11:2); “mil duzentos e sessenta dias” (11:3; 12:6); “um tempo, tempos e metade
de um tempo” (12:14). De mais a mais, ainda por duas vezes o Apocalipse se refere a
eventos ocorrendo ao longo de “pouco tempo” (6:11; 12:12; 17:10; 20:3). Diante disso,
tanto o preterismo quanto o historicismo erram ao interpretar o Apocalipse estendendo
o cumprimento de suas profecias desde os tempos neotestamentários.
44) QUANTO AO MISTÉRIO DAS SETE ESTRELAS QUE VISTE NA MINHA MÃO DIREITA E
AOS SETE CANDEEIROS DE OURO, AS SETE ESTRELAS SÃO OS ANJOS DAS SETE IGREJAS,
E OS SETE CANDEEIROS SÃO AS SETE IGREJAS (1:20). Embora sendo o profeta do
Apocalipse (10:11), João não conhecia o significado de seus símbolos. Mais adiante, um
anjo é quem passaria a interpreta-los (17:7ss). Profetas do Antigo Testamento também
não conheciam o significado de suas profecias. Quanto às suas visões escatológico-
apocalípticos, Daniel também não as podia conhecer (cf. 7:15,16,19,20; 8:15, 16,19;
9:22; 10:14,21). Isso ocorria porque entre o evento profetizado e o seu cumprimento
havia, muitas vezes, um espaço de tempo muito amplo. As profecias do Apocalipse
também têm a mesma distância temporal.
Enfim, são sete pastores para sete igrejas locais porque nenhum rebanho de ovelhas
pode ficar sem a presença de seu pastor; onde quer que haja um rebanho de ovelhas
também haverá um pastor. Do contrário, as consequências são mui terríveis (cf. IICr
18:16; Mt 9:36; Mc 6:34).
CARTAS ÀS SETE IGREJAS

ÉFESO – A Igreja Desejada

45) AO ANJO DA IGREJA EM ÉFESO (2:1). João era o pastor presidente das igrejas
asiáticas, tendo como sede a igreja local de Éfeso, mas é possível que ele tivesse um vice
como nas grandes igrejas atuais. Quem seria esse? Policarpo? Embora discípulo direto
de João, ele foi pastor de Esmirna, a qual ficava a 65 quilômetros de Éfeso. Papias?
Embora discípulo de Policarpo, Papias era, segundo Eusébio de Cesaréia, pastor de
Hierápolis, na Frígia, que ficava a 22 Km de Laodicéia, bem distante de Éfeso. Quem
seria, então, o substituto de João enquanto exilado?
46) ESTAS COISAS DIZ AQUELE QUE CONSERVA NA MÃO DIREITA AS SETE ESTRELAS E
QUE ANDA NO MEIO DOS SETE CANDEEIROS DE OURO (2:1). É a partir de Éfeso, sede
das igrejas locais da pequena Ásia, que Jesus disse conservar na mão direita as sete
estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros. Essas maravilhosas palavras,
recheadas de consolo, ânimo, foram faladas em meio a grandes perseguições. Noutras
palavras, nem os ministros das igrejas locais, bem como estas, não estavam sós. Cristo
estava bem perto deles, ou conservando uns, ou andando no meio de outros qual pastor
que cuida de suas ovelhas.
47) CONHEÇO (2:2). Do grego oida (“eu sei”). O Cristo que anda no meio de suas igrejas
locais geralmente introduz Suas cartas dizendo que as conhece. Ao fazê-lo, Ele intenta
dizer que não precisa de terceiros para saber o que se passa com o Seu povo. Não era
assim quando Paulo ou outro autor epistolário escrevia cartas a igrejas locais ou a
indivíduos (cf. ICo 1:1; Cl 1:4,9).
O conhecimento de Cristo compreende maiormente às obras das igrejas locais, as quais
não significam necessariamente ações elogiáveis; haja vista que Jesus disse aos crentes
de Sardes “que tens nome de que vives e estás morto” (3:1), bem como aos de Laodicéia
de “que nem és frio nem quente” (3:15). À exceção dessas igrejas locais, o termo “obras”
(gr. erga) se refere às mais variadas ações elogiáveis (cf. aqui; 2:19; 3:8); quanto às obras
da igreja local de Filadéfia, não há especificação ou lista de obras alguma. Mas, quanto
às de Tiatira, além das primeiras obras (amor, fé, serviço, perseverança), as últimas
ainda eram maiores.
Cristo também conhece as tribulações sobrevindas aos seus servos, bem como à sua
pobreza material como resultado destas (2:9); “a blasfêmia dos que a si mesmos se
declaram judeus e não são”, prováveis responsáveis por tais tribulações, também era
conhecida pelo Cristo onisciente. O lugar geográfico que estava o trono de Satanás, a
saber, Pérgamo, também era do conhecimento divino (2:13). Enfim, todas as igrejas
locais da pequena Ásia (atual Turquia) ficaram sabendo que o Filho de Deus, “que tem
os olhos como chama de fogo” (2:18) é “aquele que sonda mentes e corações” (2:23).
48) NÃO PODES SUPORTAR HOMENS MAUS, E QUE PUSESTES À PROVA OS QUE A SI
MESMOS SE DECLARAM APÓSTOLOS E NÃO SÃO, E OS ACHASTE MENTIROSOS (2:2).
Dois grupos de falsos crentes tentaram se infiltrar no meio dos crentes efésios: 1)
homens maus e 2) os que a si mesmo se declaram apóstolos. Quanto ao primeiro grupo
de falsos crentes, estes eram imorais. Os crentes de Éfeso não tinham paciência com tal
grupo de falsos crentes, ou seja, não tinham, de nenhuma forma, como suporta-los (gr.
bastasai, “levantar”, “carregar”). Quanto ao segundo grupo, a igreja local de Éfeso, uma
vez preparada, teologicamente, testou os pontos de vista dos que a si mesmo se de-
claram apóstolos e não são, o que os levou à total reprovação. Os tais estavam tentando
pregar um evangelho que ia além daquele que há muito tinha sido pregado por Paulo e
pelos demais apóstolos que passaram por Éfeso (cf. Gl 1:8,9). Escrevendo aos coríntios,
Paulo também disse: “Mas o que faço e farei para cortar ocasião àqueles que a buscam
com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam. Porque os
tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de
Cristo” (IICo 11:12,13).

49) E TENS PERSEVERANÇA, SUPORTASTE PROVAS POR CAUSA DO MEU NOME, E NÃO
TE DEIXASTE ESMORECER (2:3). Mais uma vez a igreja local de Éfeso é elogiada pela sua
perseverança (cf. 1:2). Mas agora não mais nos trabalhos, possivelmente missionários,
evangelísticos, e, sim, nas provas por causa do meu nome. E mais: não te deixaste
esmorecer. O verbo grego kekopiakes traduzido por “esmorecer” descreve os crentes
efésios como admiravelmente incansáveis ainda em meio a constantes provas. A bem
da verdade, tanto na prática das boas obras como na resistência às provas, a igreja local
de Éfeso era perseverante e incansável.
50) TENHO, PORÉM, CONTRA TI QUE ABANDONASTE O TEU PRIMEIRO AMOR (2:4).
Que quer dizer estas palavras tão negativas logo após uma lista de palavras tão elo-
giosas? Duas condições podem ser notadas aqui: ou a igreja local de Éfeso estava
fazendo a obra de Deus com o fim de manter seu status de igreja-mãe, igreja-histórica,
igreja-tradicional, ou as obras dessa igreja local já não eram mais numerosas do que as
primeiras (cf. 2:19). Quanto à essa segunda, apesar de todas as coisas boas numeradas
nos versos 2 e 3, Cristo queria ainda mais, principalmente de uma igreja local que servia
de exemplo para as outras.
A igreja local de Éfeso, a bem da verdade, não havia-se esvaziado de amor, e, sim, do
primeiro amor. Ou seja: os crentes efésios já não amavam a Cristo como da primeira
vez, e, por isso, transgrediam o Primeiro dos Dois Grandes Mandamentos, que diz:
“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento” (Mt 22:37; itálicos do autor). O Evangelho de Marcos ainda acrescenta:
“...e de toda a tua força” (Mc 12:30; itálicos do autor). Não era mais de maneira tão
intensa que o amor a Deus era praticado pela primeira igreja local do Apocalipse. E, por
isso, suas obras não se multiplicavam mais, nem tinham a mesma perfeição. Quem sabe
que essas coisas tinham a ver com uma igreja não mais completa em obras por se
encontrar desarmônica ou parcial. As grandes obras deixadas por Paulo e sucessores
não eram, portanto, mais as mesmas!
51) LEMBRA-TE, POIS, DE ONDE CAÍSTE (2:5). A igreja local de Sardes é também levada
à memória do seu pecado (3:3). Quanto à presente igreja local, esta também deveria
reportar ao tempo até chegar ao local de sua queda. Eles não deveriam errar o alvo, ou
seja, tratar de forma errada o seu grande problema. Noutros termos, não deveriam
negar que tal grande problema não estivesse ocorrendo. Cristo colocou todos sob auto
avaliação. Assim sendo, o pecado que os fazia reprovado pertencia à geração da atual
congregação. Não era, portanto, o pecado de gerações passadas que contaminou os
crentes da atual igreja local de Éfeso.
Enfim, não é fácil reconhecer que o problema existente é a falta de amor, porquanto
essa é a única forma de revelar que o relacionamento não existe mais. Tal confissão é
muito forte! É o mesmo que dizer que tudo acabou ou que tudo não passa de aparência.
Esperar tal coisa de uma igreja local referencial como a de Éfeso não era tarefa fácil. Mas
era justamente isso que mesma deveria fazer. Custasse o que custasse!
52) ARREPENDE-TE E VOLTA À PRÁTICA DAS PRIMEIRAS OBRAS (2:5). O convite ao
arrependimento é dado, em especial, às igrejas locais que não passaram pelo crivo
divino. Ao contrário destas, as igrejas locais que passaram pelo crivo divino (Esmirna e
Filadélfia) não são convidadas a voltarem atrás (arrependerem-se), e, sim, a pros-
seguirem ou irem adiante. Aprende-se, com isso, que o pecado sempre faz as pessoas
voltarem atrás, nunca irem adiante. É que o andar no pecado não é progressivo, mas
destrutivo. Visto isso, é necessário voltar-se atras com o fim de reconstruir tudo o que
foi destruído, praticando as primeiras obras.
As primeiras obras, por conseguinte, são a perfeição e a plenitude de tudo o que se faz
para Deus; são a prova do verdadeiro amor. Cristo sentia falta delas. O que estava sendo
praticado, até então, não era perfeito, nem pleno. Não foi sob esse amor limitado,
desfalcado, que Jesus amou a presente igreja local!
53) SE NÃO, VENHO A TI E REMOVEREI DO SEU LUGAR O TEU CANDEEIRO, CASO NÃO
TE ARREPENDAS (2:5). Os Sete Candeeiros simbolizam as Sete Igrejas locais no todo
(1:20), significando dizer que um candeeiro simboliza somente uma igreja local. Remo-
ver um candeeiro significa tira-lo, com grande força, de entre os demais candeeiros.
Espiritualmente falando, significa “exclusão”, “eliminação”. Foi esse tipo de ameaças
que Jesus fez aos crentes de Éfeso, caso não te arrependas.
54) TENS, CONTUDO, A TEU FAVOR QUE ODEIAS AS OBRAS DOS NICOLAITAS (2:6). Ao
voltar a elogiar a igreja local de Éfeso, Cristo tinha a intensão de dizer que ela podia
preencher seu vácuo afetivo. Afinal de contas, tal igreja local era o tipo que não sim-
plesmente reprovava o erro, mas que ora não o suportava (2:2), ora o odiava (conforme
aqui). E que dizer da falta do “primeiro amor” ou das “primeiras obras”? Que tal não
suportar mais essa situação ou, em última instância, odiá-la? Os crentes efésios estavam
sendo incitados a fazerem o mesmo ao serem descritos quanto àquilo que eles ora não
suportavam, ora odiavam.
A igreja local de Éfeso achava que as coisas boas que fazia eram suficientes, e, que, por
isso, era uma prova de amor. Muitas vezes, a obediência não passa uma regra. Quando
a fé se resume nisso, a superficialidade vem à tona. Ou seja: há somente confissão de
credos ou práticas litúrgicas. Isso não é vida espiritual, e, sim, religiosa. Deus não é
alcançado por práticas superficiais, efêmeras.
55) QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS (2:7). Quanto aos
ouvintes do Espírito Santo, dois grupos podem ser notados aqui: 1) Aqueles que são
representados pelo pronome “quem”, significando dizer qualquer um, sem exceção,
bastando ter “ouvidos” espirituais; e 2) aqueles que fazem a Igreja. Tem-se, com isso,
ouvintes indiretos do Espírito Santo, aqueles que O ouvem por intermédio da Igreja, e
os ouvintes diretos do Espírito Santo, aqueles que O ouvem pessoalmente. A igreja é,
portanto, o canal da voz do Espírito Santo porque somente a ela é que Ele fala (cf. 22:17).
Jesus disse a esse respeito: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim
de que esteja para sempre convosco, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode
receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco
e estará em vós” (Jo 14:16,17).
56) AO VENCEDOR, DAR-LHE-EI QUE SE ALIMENTE DA ÁRVORE DA VIDA QUE SE EN-
CONTRA NO PARAÍSO DE DEUS (2:7). Enquanto, por um lado, a Antiga Serpente, Sata-
nás, o Diabo, ofereceu ao primeiro casal a árvore da morte espiritual e eterna, por outro,
Jesus oferece ao vencedor a árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus. Ao
contrário do paraíso de Deus, o paraíso edênico tinha duas árvores que garantiam o
destino eterno da humanidade, o que apontava para a existência de um tentador ou de
um possível pecado (Gn 3:1ss). Quanto ao paraíso de Deus, haverá somente uma árvore
que selará a vida eterna dos salvos, apontando, não obstante, para a inexistência de um
tentador ou de um possível pecado. No que se refere ao seu destino eterno, eis o que
sucederá a ele: “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e
enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão
atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos” (20:10).
ESMIRNA – A Igreja Mártir
57) AO ANJO DA IGREJA EM ESMIRNA (2:8). Tertuliano, teólogo cristão do século III,
admitiu que João ordenou Policarpo a bispo de Esmirna (atual Izmir). Este, possivel-
mente, era o então anjo (pastor) da referida cidade. Policarpo viveu entre os anos 70 e
162 d.C. e teve como discípulos famosos Papias e Irineu. Ficou muito conhecido pelo seu
martírio que ocorreu durante a quarta perseguição geral da Igreja sob o imperador
romano Marco Aurélio Antonino.
58) ESTAS COISAS DIZ O PRIMEIRO E O ÚLTIMO, QUE ESTEVE MORTO E TORNOU A
VIVER (2:8). Sob o contexto do primeiro capítulo (1:17,18), estas palavras de apre-
sentação são de natureza consoladora. O Cristo glorificado as falou ao Seu servo quando
o mesmo se via atemorizado. Como representante da Igreja mártir, os crentes esmir-
neanos se viu diante de dois senhores: 1) Cristo e 2) César. Quanto a isso, Cristo disse
para eles: “Eu sou o Primeiro e o Último”. Não pode, portanto, haver outro “senhor”.
Eles não deveriam ter dúvida quanto a isso e por isso teriam forças para resistir os
inimigos. De mais a mais, para uma igreja local que tinha a morte como seu maior
inimigo, Jesus também disse “que esteve morto e tornou a viver”. Estas palavras ga-
rantem a Igreja mártir que o martírio é um ingresso para a Vida Eterna. Paulo fora muito
além ao escrever aos coríntios sobre a Ressurreição de Cristo (vide ICo 15). Glorioso esse
capítulo!
59) CONHEÇO A TUA TRIBULAÇÃO, A TUA POBREZA (MAS TU ÉS RICO) (2:9). A tribu-
lação física da igreja local de Esmirna levou à sua pobreza material. Por não se submeter
à adoração ao imperador romano, a primeira coisa que os crentes perdiam era o próprio
lar; este era confiscado. E para onde iam os servos de Deus? A fim de não serem
alcançados pelos seus inimigos, ou vistos por eles, escondiam-se em cavernas, túmulos
etc. (cf. Mt 10:23). Viviam uma vida, muitas vezes, difícil, impossível, desestabilizando a
própria família (cf. Mt 10:34-36). O crente era sempre o alvo por ser tido como azarado,
ateu etc.
60) E A BLASFÊMIA DOS QUE A SI MESMOS SE DECLARAM JUDEUS E NÃO SÃO, SENDO
ANTES, SINAGOGA DE SATANÁS (2:9). Após perder o posto de povo de Deus, negando
Jesus, o Nazareno (Mt 2:23; 26:71; Mc 1:24; 14:67; 16:6; Lc 4:34; 18:37; 24:19; Jo 18:5;
19:19; At 2:22; 3:6; 4:10; 6:14; 22:8; 26:9), o Galileu (Mt 26:69), como Messias, a Igreja
passou a ser o então povo de Deus. Por continuarem como tal, ao perseguirem a Igreja,
os judeus se tornariam falsos judeus por esse motivo e, assim, sinagoga de Satanás.
(Este estudo não tem a intensão de dizer que os judeus deixaram de ser o povo de Deus,
mas, enquanto nesta dispensação, a Igreja é o povo que Deus lida diretamente, porque
Jesus a comprou para Ele, cf. 1:5,6.)
61) NÃO TEMAS AS COISAS QUE TENS DE SOFRER (2:10). O sofrimento que adviria aos
crentes de Esmirna (a bem da verdade, a “alguns dentre vós”) seria inevitável. É o que
dizem estas palavras consoladoras que previam as coisas que tem de sofrer. Quanto à
igreja local de Filadélfia, ela estará livre da “hora da provação que há de vir sobre o
mundo inteiro” (3:10). Nenhum tipo de sofrimento escatológico sobreviria a ela porque
ela representa a Igreja desta Presente Dispensação porque será arrebatada. Por isso,
nenhum sofrimento ou tribulação estar previsto para a Igreja, no tempo do fim. Paulo
escreveu aos crentes tessalonicenses, referindo-se a isso: “porque Deus não nos
destinou para a ira [escatológica]” (ITs 5:9a).

62) EIS QUE O DIABO ESTÁ PARA LANÇAR EM PRISÃO ALGUNS DE VÓS, PARA SERDES
POSTOS À PROVA, E TEREIS TRIBULAÇÃO DE DEZ DIAS (2:10). Ante a presença de Deus,
Satanás lançou acusações contra todos os servos de Deus, mas ao se deparar com a
pergunta divina: “Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante
a ele, homem íntegro e reto...?” (Jó 1:7; 2:3), ele percebeu que Deus não lhe deu a
mínima. Apesar de ter rodeado a Terra e passeado por ela com o fim de apresentar,
diante de Deus, uma lista infindável de acusações, a vida íntegra e reta de Jó tornou tudo
isso vão. Por não poder dizer nada contra Jó, Satanás o acusou de mercenário e de outras
coisas.

Vendo por essa ótica a provação que Satanás estava para submeter a igreja local de
Esmirna, é possível que, para isso, o Acusador apontou as demais igrejas locais repro-
váveis a fim de que Deus também desistisse da minoria que foi aprovada por Cristo. Em
contrapartida, foi-lhe apresentadas as igrejas locais de Esmirna e de Filadelfia, as quais
não tinham falhas. Eis o porquê desta prova infligida aos esmirneanos, a qual tinha como
fim provar que a sua fidelidade a Deus era mercenária tal qual a de Jó.
Por fim, a maioria ou minoria das igrejas locais podem até estarem espiritualmente
cambaleando, mas, dentre elas, sim, dentre elas, ainda existe igrejas locais que são fiéis.
Estas sempre existiram! (Cf. Ef 5:27; ITm 6:14.) E sempre existirão! São remanescentes!
63) SÊ FIEL ATÉ À MORTE, E DAR-TE-EI A COROA DA VIDA (2:10). A morte era o destino
certo, irremediável, para “alguns dentre vós” que congregavam na cidade de Esmirna;
Cristo já os havia entregue. Há vezes que Deus não permite a morte de Seus servos,
como no caso de Jó (Jó 1:12; 2:6), dentre outros, mas, há vezes que Ele permite. A coroa
da vida será a recompensa dos mártires porque ela será a sua marca na Eternidade. O
apóstolo Paulo se referiu a ela como “coroa da justiça” (IITm 4:8); ele a chamou assim
porque ela simboliza a justiça dos mártires em contraste com a injustiça de seus inimigos
(cf. 6:10; 12:11).
64) QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS (2:11). Não era a
voz das autoridades romanas que a Igreja mártir dava ouvidos, e, sim, a do Espírito Santo
que a encorajava a dizer: “Jesus é o Senhor” (cf. ICo 12:3). Isso ocorria quando o pro-
cônsul romano apelava, dizendo: “Confesse que Cesar é Senhor e não Cristo!”. Ao dizer
essas coisas aos cristãos mártires, parecia que eles ouviam o contrário e, por isso,
confessavam, publicamente, que “Jesus é Senhor!!!”.
65) O VENCEDOR DE NENHUM MODO SOFRERÁ DANO DA SEGUNDA MORTE (2:11).
Ainda sob o contexto da presente igreja local, a saber, Esmirna, esta promessa garante
total isenção da segunda morte a todos os que morrerem pela causa de Cristo. A
expressão segunda morte é outro nome que se dá à condenação eterna dos perdidos,
que é o “lago que arde com fogo e enxofre” (21:8). Noutra passagem apocalíptica, os
bem-aventurados e santos terão parte na Primeira Ressurreição e, com isso, serão
vitoriosos sobre a segunda morte (20:6). Viva o Cristo Ressurrecto!!!
PÉRGAMO – A Igreja Elevada no Paganismo
66) AO ANJO DA IGREJA EM PÉRGAMO (2:12). Esta epístola aos pergamitas é a única
que tem o nome de um verdadeiro cristão. Algumas outras trazem nomes ou pseu-
dônimos de pessoas que no passado não pertenciam ao povo de Deus, Israel, e que, por
isso, são símbolos de infidelidade ou impiedade. Seria Antipas o pastor da presente
igreja local? Ou o mesmo só foi mencionado por ter sido um mártir? Essa segunda
pergunta ajuda a responder, positivamente, à primeira, já que Antipas não foi o único a
ser mártir em Pérgamo. É, portanto, provável que a menção a Antipas vá além do seu
ignominioso martírio, tendo a ver, sim, com o seu ministério pastoral na cidade de
Pérgamo
67) ESTAS COISAS DIZ AQUELE QUE TEM A ESPADA AFIADA DE DOIS GUMES (2:12). Ao
Se apresentar aos crentes pergamitas como aquele quele que tem a espada de dois
gumes, Cristo demonstra grande ira para com eles. Afinal de contas, na cidade de Pér-
gamo estava o trono de Satanás (2:13), e, não bastando isso, havia também quem
defendesse as doutrinas de Balaão e nicolaítas (2:14,15). A igreja local de Pérgamo era
a única, dentre as sete, que sustentava ambas as doutrinas. Em 2:6, Cristo diz odiar a
doutrina dos nicolaítas, e, consequentemente, a de Balaão, visto que continham o
mesmo credo e ritos pagãos.
Com o fim de guerrear contra o reino das trevas, cujo rei era Satanás, Cristo Se apre-
sentou com a espada afiada de dois gumes. Diferente da “espada afiada” que Ele usará
contra os exércitos da Besta (19:15), a presente espada afiada de dois gumes é aquela
que combate fatalmente o reino espiritual (cf. Ef 6:17; Hb 4:12), bem como as doutrinas
falsas.
68) CONHEÇO O LUGAR EM QUE HABITAS, ONDE ESTÁ O TRONO DE SATANÁS (2:13). A
cidade de Pérgamo era grandemente pagã. Não há outra definição para ela, quer não
essa. Ali foi construído um altar que foi dedicado a Zeus (rei dos deuses), o que justifica
a expressão trono de Satanás. Por intermédio de Zeus, Satanás era adorado como rei
naquela cidade. Além disso, o referido altar simbolizava a vitória de Átalo I sobre os
gálatas em cujos frisos havia uma descrição alusiva à vitória dos deuses gregos sobre os
gigantes da terra. Foi, portanto, por essa razão que Jesus saiu com Sua espada afiada de
dois gumes (2:12), e, que, manuseando-a, viria em combate “contra eles” (2:16); o
problema advindo à presente igreja local era de natureza espiritual; Satanás guerreava
contra ela, mas aquEle que tem a espada afiada de dois gumes saiu em defesa dela.
69) CONSERVASTE O MEU NOME E NÃO NEGASTE A MINHA FÉ, AINDA NOS DIAS DE
ANTIPAS, MINHA TESTEMUNHA, MEU FIEL, O QUAL FOI MORTO ENTRE VÓS, ONDE
SATANÁS HABITA (2:13). A expressão ainda nos dias de Antipas significa que os seus
“dias” foram os mais difíceis para a igreja local de Pérgamo. Antipas, por isso, veio a ser
símbolo de fidelidade para a referida igreja local. Seu nome significa “contra tudo”, o
que tem a ver com a sua pureza e espiritualidade. O mundanismo pagão não conseguiu
vencê-lo mesmo sob a ameaça de ser cozido vivo. No tocante a indivíduos, raramente
Deus Se refere a eles como sendo propriedade Sua (“meu”, “minha”); todavia, e que
dizer de certo Antipas, minha testemunha, meu fiel? Muitos homens e algumas
mulheres que ocuparam capítulos inteiros na Bíblia não foram tratados assim; eram
fiéis, perseverantes, mas nem por isso desfrutaram do mesmo carinho divino. Um
versículo ou uma única citação foi suficiente para Antipas! O que se deve fazer, nos dias
de hoje, para que um crente venha a ser o “meu” ou “minha” de Deus?!
70) TENHO, TODAVIA, CONTRA TI ALGUMAS COISAS, POIS QUE TENS AÍ OS QUE SUS-
TENTAM A DOUTRINA DE BALAÃO (2:14). Os crentes de Pérgamo estavam divididos
entre fiéis e infiéis. Quanto aos fiéis, Antipas era um deles ou o mais fiel dentre eles. Não
há nome para o crente mais infiel, em Pérgamo; quanto ao mais infiel de Tiatira, Cristo
destacou uma irmã, profetiza, chamando-a pelo pseudônimo de Jezabel. Tais crentes
infiéis haviam apostatado sua fé ao sustentar (acolher para si) a doutrina de Balaão,
possivelmente temendo a morte quando dos dias de Antipas. A igreja local de Tiatira
também estava dividida entre os que seguiam a falsa profetiza, Jezabel, e os que não a
seguiam.
Cristo chama a atenção da presente igreja local com o fim de conservar os fiéis ou de
livra-los de contaminar-se com tal doutrina. Seu cuidado também compreendia os
crentes infiéis, pois, ao ditar esta carta a João, Ele tinha como fim incita-los ao arre-
pendimento (cf. 2:16).
Enfim, mesmo tendo um pastor tal qual Antipas, fiel a Deus, Pérgamo não conseguiu se
totalizar como igreja local fiel, muito menos Tiatira que tinha ninguém mais, ninguém
menos que Jezabel.
71) COMEREM COISAS SACRIFICADAS AOS ÍDOLOS E PRATICAREM A PROSTITUIÇÃO
(2:14). As práticas litúrgicas que embasavam a doutrina de Balaão eram a comida de
carnes sacrificadas em altares pagãos e a prática de sexo ilícito. Era dessa forma que os
deuses pagãos recebiam adoração em toda a região da pequena Ásia (atual Turquia).
Por causa disso, algumas igrejas locais foram afetadas por tais práticas. A doutrina dos
nicolaítas também conservava os mesmos ritos; só variava no nome. A falsa profetiza,
Jezabel, também seduzia “os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem
coisas sacrificadas aos ídolos” (2:20b).
72) OUTROSSIM, TAMBÉM TU TENS OS QUE DA MESMA FORMA SUSTENTA A DOU-
TRINA DOS NICOLAÍTAS (2:15). Não bastando a doutrina de Balaão, a doutrina dos
nicolaítas também era sustentada pelo grupo de crentes infiéis que estavam em
Pérgamo. Conforme estudado na nota acima, a doutrina dos nicolaítas era apenas um
nome diferente dado às mesmas práticas. Estas só variavam no nome tais quais as seitas
atuais que só variam no nome, mas que refletem os credos do passado. Visto que eram
preparadas bíblica e teologicamente, a igreja local de Éfeso combateu com sucesso as
obras dos nicolaítas, as quais ela odiava (2:6).

73) PORTANTO, ARREPENDE-TE; E, SE NÃO, VENHO A TI SEM DEMORA E CONTRA ELES


PELEJAREI COM A ESPADA DA MINHA BOCA (2:16). Este convite ao arrependimento foi
dado aos que sustentavam a doutrina de Balaão ou Nicolaíta (2:14,15); os crentes fiéis
estavam fora dessa situação (2:13). AquEle que tem a espada afiada de dois gumes
ameaçava vir, caso não arrependessem, aos sustentadores do balaanismo ou nico-
laísmo. A fim de evitar tal visita mui desagradável, os crentes infiéis teriam de
arrepender-se das práticas pagãs. Do contrário, a espada afiada de dois gumes passaria
por eles, eliminando-os, de uma vez por todas, dentre os demais.
74) QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS (2:17). O Espírito
Santo continuava falando à igreja local de Pérgamo por intermédio dos crentes fiéis; só
por meio destes, humanamente falando, é que os crentes infiéis poderiam obter a
verdadeira conversão, abandonando, de uma vez por todas, a falsa identidade espiritual.
Embora isso, só quem tem ouvidos espirituais é que poderia ouvir a voz doce e suave do
Espírito Santo.
75) AO VENCEDOR DAR-LHE-EI DO MANÁ ESCONDIDO (2:17). Por que maná escondido?
Porque ele é celestial! Paulo escreveu: “Mas, como está escrito: As coisas que o olho
não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus
preparou para os que o amam” (ICo 2:9; Almeida Corrigida Clássica; itálicos do autor).
Esse verso paulino é uma alusão clara à fé quanto às conquistas eternas; definindo o
termo, o autor aos Hebreus escreveu: “a fé é a... convicção de fatos que se não veem”
(Hb 11:1). “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que
aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que
o buscam” (Hb 11:6; itálico do autor). Os incrédulos, com efeito, não provarão do maná
escondido porque precisam crer para vê-lo, nem, muito menos, os covardes, porque
precisam vencer para alcança-lo (21:8). Nenhuma dessas coisas são possíveis aos tais!
Dai porque ambos os grupos de pecadores não entrarão na Nova Jerusalém, a Cidade
Santa (cf. 21:8).
76) LHE DAREI UMA PEDRINHA BRANCA, E SOBRE ESSA PEDRINHA ESCRITO UM NOME
NOVO, O QUAL NINGUÉM CONHECE, EXCETO AQUELE QUE O RECEBE (2:17). O vence-
dor também ganhará uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um novo
nome, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe. É provável que o não
conhecimento mútuo desse nome novo terá lugar somente no momento em que ele for
dado a cada vencedor. Em seguida, ao se apresentarem mutuamente com o nome novo,
todos ficarão conhecidos pelo nome novo. Não se diz que somente Deus o conhece, o
que significaria um nome à parte, ou um segundo nome, o qual somente Deus o usaria
para Se comunicar com cada vencedor (cf. Sl 147:4). De modo semelhante, quando do
momento da aparição gloriosa de Cristo, Ele trará consigo “um nome escrito que
ninguém conhece, senão ele mesmo” (19:12b), mas que no decorrer do evento, o tal
nome desconhecido passa a ser conhecido de todos (cf. 19:16).

TIATIRA – A Igreja Apóstata


77) AO ANJO DA IGREJA EM TIATIRA (2:18). No que tange ao anjo (pastor) da igreja local
de Tiatira é impossível saber quem o era. O único personagem bíblico natural dessa
cidade foi uma mulher, a qual, possivelmente, era conhecida pelo nome da região
asiática onde Tiatira ficava, a saber, Lídia (cf. Ar 16:11-15,40. Tal mulher morava em
Filipos quando se converteu ao Evangelho, em 53 d.C., por intermédio de Paulo durante
sua segunda viagem missionária (At 16:14). Visto que o Apocalipse foi escrito por volta
de 96 d.C., é quase impossível vê-la como líder da presente igreja local. Afinal de contas,
nenhuma mulher foi vista como líder de uma igreja local, quer não como anunciadora
do Evangelho.
78) ESSAS COISAS DIZ O FILHO DE DEUS (2:18). Ao contrário do termo “Pai”, que ocorre
por cinco vezes no Apocalipse, comumente intitulando Deus (cf. 1:6; 2:27; 3:5; 3:21;
14:1), o título Filho de Deus ocorre somente aqui. Jesus é o Filho de Deus porque Ele
tem, em Si, a mesma natureza divina do Pai (cf. Jo 8:28,58); tanto que, ao Se auto
intitular de Filho de Deus, as autoridades judaicas acusaram-No de blasfêmia (Mt 26:63-
65; Mc 14:61-64). Os testemunhos da filiação divina de Cristo não vieram apenas dEle;
o próprio Deus O chamou de Filho (Mt 2:15; 3:15,17; 17:5; Mc 1:11; 9:7; Lc 3:22; 9:35);
o anjo Gabriel (Lc 1:32,35); João Batista (Jo 1:34); os discípulos no todo e individu-
almente (Mt 14:33; 16:16; Jo 1:49); os demônios, mas não da forma que Satanás o fizera,
duvidando de tal testemunho (Mt 8:29; Mc 3:11; 5:7; Lc 4:41; 8:28; cf. Mt 4:3,6; Lc 4:3,9);
um centurião romano (Mc 15:39). E assim por diante até a esta confissão do próprio
Cristo, o Filho de Deus.
De mais a mais, era costume o Remetente Divino Se auto identificar ao longo das cartas
apocalípticas, utilizando-Se de descrições ou palavras do capítulo 1; não é o caso aqui,
nem em 3:7,14.
79) CONHEÇO AS TUAS OBRAS, O TEU AMOR, A TUA FÉ, O TEU SERVIÇO, A TUA PER-
SEVERANÇA E AS TUAS ÚLTIMAS OBRAS MAIS NUMEROSAS DO QUE AS PRIMEIRAS
(2:19). Este verso começa e termina referindo-se às obras dos crentes de Tiatira. Estes,
de fato, não gostavam de ficar parados. Em contrapartida, apenas um grupo de crentes
tiatirenses é que as praticavam; enquanto isso, outros se encontravam envolvidos com
ensinamentos estranhos. A presente carta se ocupa maiormente com os tais (2:20-23).
O assunto relacionado aos crentes deste verso só volta no final da carta, em dois outros
versos (2:24,25). Nestes, o Filho de Deus os exorta a permanecerem crescendo em obras
e a ficarem distantes da misteriosa “doutrina” (2:24).
A presente lista de obras que sempre se multiplicavam não serviu de exemplo para os
demais crentes terrivelmente carnais. Eles preferiram a situação que se encontravam. À
semelhança dos crentes infiéis de Pérgamo, congregavam com outros crentes fiéis como
se nada estivesse acontecendo. Pareciam com os fiéis porque adoravam, entoavam
cânticos de louvor a Deus, etc. etc. no mesmo pé de igualdade que os fiéis. Mas só
pareciam! Outra semelhança que eles tinham com os pergamitas é que os crentes não
envolvidos com o então pecado (que, por sinal, era o mesmo) não fizeram nada para
combate-lo. Nisso, os crentes efésios, embora também reprovados, eram diferentes
deles, porquanto não suportavam homens maus e colocavam à prova os falsos após-
tolos; eles também abominavam as obras dos nicolaítas (2:2,6). Seria pelo despreparo
teológico dos crentes pergamitas e tiatirenses? Nisso, os crentes efésios também
diferenciavam de ambos.

80) TENHO, PORÉM, CONTRA TI O TOLERARES QUE ESTA MULHER, JEZABEL, QUE A SI
MESMA SE DECLARA PROFETISA (2:20). As igrejas locais da pequena Ásia estavam
cheias de pessoas que se auto intitulavam alguma coisa: entre os efésios haviam “os que
a si mesmos se declaram apóstolos” (2:2); entre os esmirneanos e filadelfenos, “os que
a si mesmos se declaram judeus” (2:9; 3:9); e entre os tiatirenses, portanto, esta mulher,
Jezabel, que a si mesma se declara profetiza.
Exceto esta tal mulher, Jezabel, nenhum daqueles obteve tanto êxito. Por causa disso,
a igreja local de Tiatira foi apontada como tolerante. Enquanto os falsos apóstolos e
falsos judeus não se viam tão à vontade nas igrejas locais em que iam, tal mulher,
Jezabel, parecia sentir-se em casa. Os crentes tiatirenses investiram grandemente em
obras, mas nunca em teologia, apologia. Em linguagem atual, eles nem sabiam o que era
um seminário teológico. Consequentemente a isso, os ensinos heréticos soavam como
bíblicos. Hoje em dia a situação não é diferente: investe-se muito em tudo, menos no
conhecimento de Deus (cf. Os 4:6).
Se esta igreja local, Tiatira, era tolerante por suportar uma única falsa profetiza, e que
dizer hoje em dia, onde, para muitos pregadores modernos, qualquer um pode pro-
fetizar – é só abrir a boca! Qual adjetivo o Senhor usaria para qualificar muitas igrejas
atuais que, na maioria das vezes, há muito não estão pregando o Evangelho Bíblico. Em
troca deste, preferem abusar dos dons espirituais (profecia, revelação, etc.) com a
finalidade clara de chamar a atenção de muitos. Daí as consequências trágicas que
ocorrem igreja local a fora, como, por exemplo, apostasia nas mais variadas formas,
heresias, falsas conversões, falsos avivamentos, falso isso, falso aquilo... Estão solapan-
do as Escrituras dos púlpitos!
81) NÃO SOMENTE ENSINE, MAS AINDA SEDUZA OS MEUS SERVOS A PRATICAREM A
PROSTITUIÇÃO E A COMEREM COISAS SACRIFICADAS AOS ÍDOLOS (2:20). Tal mulher,
Jezabel, seguia a mesma doutrina de Balaão ou Nicolaíta (cf. 2:14,15). Ela não se satis-
fazia em somente ensinar tal doutrina pagã aos servos de Deus, mas, também, os
seduzia quanto à sua prática. Os mestres do nicolaísmo não foram simplesmente con-
trariados pelos crentes de Éfeso, provavelmente os mais preparados teologicamente,
mas, também, odiado por eles (2:6). Este tipo de ódio é gerado pelo verdadeiro
conhecimento (cf. ITm 1:20). A aceitação de tal ensino sinalizava o quanto alguns de
Tiatira não tinham conhecimento bíblico. Daí o porquê de tantos crentes ainda
supersticiosos, idólatras, duvidosos etc.
82) DEI-LHE TEMPO PARA QUE SE ARREPEMDESSE; ELA, TODAVIA, NÃO QUER ARRE-
PENDER-SE DA SUA PROSTITUIÇÃO (2:21). O tempo de oportunidade para o arrepen-
dimento não significa tolerância ou conivência divina para com o pecador, e, sim,
paciência, longanimidade, para com ele. O termo grego traduzido por “tempo”, neste
verso, é chronon e não kairos. O primeiro define um tempo humanamente determinado
(dia, mês, ano), ao passo que o segundo, indeterminado (tanto no sentido ocasional
como extensivo); é interpretado como sendo o tempo que Deus age. À falsa profetiza
dos crentes tiatirenses foi dado um tempo humanamente determinado; embora isso,
não se sabe a sua duração, ou seja, não se diz que foi durante dias, meses ou anos. Seja
como for, o tempo que foi dado a ela havia-se finalmente terminado.
Ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. Mesmo completado o tempo
de sua prestação de contas, tal mulher, Jezabel, parecia insaciável, não farta. Estava, por
efeito, a ano-luz de arrepender-se da sua prostituição.
83) EIS QUE A PROSTO DE CAMA, BEM COMO EM GRANDE TRIBULAÇÃO OS QUE COM
ELA ADULTERAM, CASO NÃO SE ARREPENDAM DAS OBRAS QUE ELA INCITA (2:22). O
verso em foco ratifica o que foi dito sobre a mulher, Jezabel, no verso acima, a saber:
“[...] Ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição”. Sua tão categórica
impenitência resultaria num obscuro leito de hospital. Não se diz que a falsa profetiza
morreria. Haveria mais um tempo determinado “para que [ela] se arrependesse”?
Possivelmente que sim! De outra forma, as palavras de decreto seriam outras (como,
por exemplo, 2:23). Ela, dessa vez, se arrependeria da sua prostituição? Possivelmente
que sim!
Um segundo convite de arrependimento foi dado à igreja local de Tiatira. A bem da ver-
dade, nenhuma outra igreja local é tão convidada para o mesmo fim. Dessa vez, os
convidados são os que com ela adulteram, ou seja, seus filhos espirituais (cf. 2:23). No
que diz respeito a estes, grande tribulação lhes sobreviria, caso não se arrependam das
obras que ela incita. A finalidade seria a mesma: instiga-los ao arrependimento.
84) MATAREI OS SEUS FILHOS, E TODAS AS IGREJAS CONHECERÃO QUE EU SOU AQUE-
LE QUE SONDA MENTES E CORAÇÕES (2:23). Do mesmo modo que a grande tribulação
advinda aos filhos de Jezabel não seria de natureza espiritual (2:22), a morte deles
também não poderia sê-lo. Caso o fosse, qual o porquê de tão grande repercussão em
todas as igrejas, as quais, provavelmente, abrangem não somente as setes igrejas do
Apocalipse, como, também, as demais que se encontravam na mesma região.
Assim sendo, toda a Ásia Menor conheceria que eu sou aquele que sonda mentes e
corações. Embora a expressão mentes e corações tenha significado abrangente, aquEle
que tem os olhos como chama de fogo queria dizer, contextualmente, a seguinte men-
sagem: “Eu conheço o verdadeiro arrependimento!”
85) E VOS DAREI A CADA UM SEGUNDO AS VOSSAS OBRAS (2:23). Jesus usa uma
linguagem técnica, referindo-Se ao Juízo Final, no qual Ele mesmo o encabeçará como
Juiz (cf. 20:12,13). O decreto de morte eterna foi-lhes dado, ou seja, aos filhos espirituais
de Jezabel.
86) DIGO, TODAVIA, A VÓS OUTROS, OS DEMAIS DE TIATIRA, A TANTOS QUANTO NÃO
TÊM ESSA DOUTRINA E NÃO A CONHECERAM, COMO ELES DIZEM, AS COISAS PRO-
FUNDAS DE SATANÁS: OUTRA CARGA NÃO JOGAREI SOBRE VÓS (2:24). O Filho de Deus
seguiu o conteúdo da carta, voltando-Se aos demais de Tiatira ou aos tantos quantos
não têm essa doutrina. Embora não a tivessem ou não a conhecessem, mesmo assim
eram tolerantes quanto a ela (2:20). Não no sentido de aceitar essa doutrina, mas de
não a combater. Possivelmente por terem dúvida sobre a sua origem espiritual, já que,
conforme acima, eles não tinham preparo teológico-bíblico para isso (vide notas 79-81).
Eram, em consequência disso, omissos.
Ao ser interrogada sobre essa doutrina, a falsa profetiza, Jezabel, já tinha a resposta na
ponta da língua: “Coisas profundas de Satanás”. O que ela queria dizer com isso? Estaria
dizendo que a prática do pecado pode levar o crente a conhecer melhor o seu adversário
espiritual? Ou que o crente teria de entrar no seu quartel general, fingindo-se ser mais
um soldado, mas que, na verdade, é um espia? Se para conhecer melhor o adversário
espiritual é necessário tornar-se igual a ele, e que dizer de Efésio 6:11ss? Quanto a essa
passagem paulina, os crentes tiatirenses já dispunham dela por algumas décadas!

87) TÃO SOMENTE CONSERVAI O QUE TENDES, ATÉ QUE EU VENHA (2:25). Que vinda
seria esta? Local, ou seja, para “os demais de Tiatira” (2:24), ou escatológica, ou seja,
para a Igreja do Arrebatamento? Provavelmente, para “os demais de Tiatira”, já que, ao
vir contra a falsa profetiza e seus filhos espirituais, o Filho de Deus garante não jogar
outra carga... sobre vós. Para isso, a advertência era tão somente conservai o que
tendes, até que eu venha a eles. Os crentes remanescentes de Tiatira só teriam de
permanecer os mesmos. Não deveriam mudar seu posicionamento espiritual. Era, por-
tanto, uma vinda histórica ou local.
89) AO VENCEDOR, QUE GUARDAR ATÉ AO FIM AS MINHAS OBRAS, EU LHE DAREI AU-
TORIDADE SOBRE AS NAÇÕES (2:26). Ao dizer: “Ao vencedor”, Jesus não se referiu ao
membro de uma igreja local, mas ao membro de Seu corpo, ou seja, à Igreja em geral
(cf. Rm 12:4,5; ICo 12:12-27; Ef 5:30; Cl 1:18). Diante disso, tais promessas ao vencedor
são claramente individuais ou para cada membro do corpo de Cristo; a finalidade é fazer
funcionar todos os membros desse corpo, e, com isso, evitar doenças espirituais locais.
O principal indício do vencedor é guardar até ao fim as minhas obras. Nenhum clube
de futebol ganha um campeonato se não chegar até ao fim; ele pode até perder algumas
partidas, mas tem de chegar vitorioso no final. O prêmio dessa vez não é de atleta (cf.
2:10c), mas de príncipe! A Igreja terá autoridade [domínio real] sobre as nações.
90) E COM CETRO DE FERRO AS REGERÁ E AS REDUZIRÁ A PEDAÇOS COMO SE FOSSEM
OBJETOS DE BARRO (2:27). A título de cronologia escatológica, quando esta promessa
tiver lugar, Cristo já terá vencido as nações inimigas de Seu povo, Israel, na guerra de
Armagedom (19:11ss), seguindo com o Milênio (cf. Sl 2:1-3). “Porque convém que ele
[Jesus] reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés” (ICo 15:25). Em
havendo o cumprimento dessas coisas, o Reino de Cristo será, de todo, pacífico!
91) ASSIM COMO TAMBÉM EU RECEBI DE MEU PAI, DAR-LHE-EI AINDA A ESTRELA DA
MANHÃ (2:28). Em 22:16, Cristo mencionou para Si o mesmo título messiânico; mas,
agora, foi o Pai Quem Lhe deu. À luz do presente verso, esse título tem como contexto
o reino milenar; daí porque o Pai O intitulou como tal. Já que a Igreja compartilhará da
mesma realeza milenar (2:26,27), Cristo prometeu dar o mesmo presente a ela. Tanto
Cristo como a Igreja aparecerão, na Parousía, sob o título de estrela da manhã.
92) QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS (2: 29). Indepen-
dentemente da igreja local reprovada ou aprovada pelo Cristo glorificado, essa ou
aquela igreja local ouvirá a voz suave de reprovação ou de aprovação da parte do
Espírito. Lembrando que primeiro o Espírito tem como fim falar a quem quer que seja
com a missão de convence-lo, tendo como canal a Igreja – e somente ela!
CARTAS ÀS SETE IGREJAS
(parte 2)

SARDES – A Igreja Negligente


93) AO ANJO DA IGREJA EM SARDES (3:1). A Igreja de Sardes só veio a ter um anjo
(pastor) de renome no final do século II; seu nome era Melito de Sardes ou Melitão, o
Eunuco. Sua importância apologética era de grande reconhecimento. Ao mencionar
uma carta de Polícrates a Vitor I, décimo quarto papa, segundo a Igreja Católica Romana,
Eusébio de Cesaréia diz que Melito foi enterrado em Sardes em sua História Eclesiástica,
94) ESTAS COISAS DIZ AQUELE QUE TEM OS SETE ESPÍRITOS DE DEUS E AS SETE ESTRE-
LAS (3:1). Para uma igreja que tinha nome (fama) de que vivia e estava morta, Cristo
tinha para ela os sete Espíritos de Deus. A morte espiritual da maioria dos crentes
sardenses era consideravelmente plena; não havia restado nada de espiritual neles. Ao
demais, quanto ao seu pastor, Cristo ainda o tinha em Sua mão, significando que Ele
ainda conservava o seu ministério, o que garantia a este restauração, renovo. Por essa
razão, ao ditar as sete cartas apocalípticas a João, Jesus não tinha interesse algum de
abandonar igrejas ou ministérios, e, sim, de restaura-los, renova-los. Eis o porquê de a
grande premissa ser sempre a mesma: arrependimento de obras.
95) CONHEÇO AS TUAS OBRAS, QUE TENS NOMES DE QUE VIVES E ESTAS MORTO (3:1).
A igreja local de Sardes, pelo menos a maioria de seus membros, tinha a fama de
espiritual, mas que, na verdade, era carnal. A razão disso não era a presença de dou-
trinas pagãs nem da presença de algum falso mestre, e sim, a negligência pastoral. É o
que será estudado ao longo da presente carta.
As obras dos crentes de Sardes, por isso, foram reprovadas. Elas não foram descritas
como as dos crentes pergamitas e tiatirenses. Mas, de qualquer forma, deveriam
parecer com as do seu pastor, a saber: 1) falta de vigilância (3:2,3) e 2) abandono às
coisas de que tinha “recebido e ouvido” (3:3). Assim sendo, a presente igreja local era
tão morta quanto o seu pastor.

96) SÊ VIGILANTE E CONSOLIDA O RESTO QUE ESTAVA PARA MORRER (2:2). O pastor
foi incumbido a consolidar (fortalecer, erguer) o resto que estava para morrer. A falta
de alimento espiritual deveria ser a causa de tal fraqueza espiritual, pois o próprio pastor
já o havia abandonado (3:3a). Uma igreja que não tem a Palavra de Deus pode até achar
que tem vida espiritual, mas, na verdade, é espiritualmente morta (3:1). Ouve-se muitos
crentes dizendo que tal culto foi uma bênção mesmo sem haver o ensino ou a pregação
da Palavra de Deus. É o mesmo que dizer que a comemoração de alguma coisa foi
animada, alegre, mesmo sem haver comida ou bebida. O resultado disso é o enfraque-
cimento espiritual, o que pode resultar em morte espiritual. Não pode, portanto, haver
culto abençoado quando o saldo de crentes espirituais são “umas poucas pessoas” (cf.
3:4a).
O resto que estava para morrer é, na verdade, o segundo grupo de crentes sardenses.
O primeiro é dos que já estavam mortos (3:1c); o segundo, dos que estavam para morrer
(porque estavam doentes espiritualmente, conforme aqui); e o terceiro, dos que não
estavam em ambas as situações, mas saudáveis espiritualmente (3:4). A fim de não
afetar este terceiro grupo de crentes, bem como de restaurar os dois primeiros, é que o
Senhor, urgentemente, ditou esta carta a João.
97) NÃO TENHO ACHADO ÍNTEGRAS AS TUAS OBRAS NA PRESENÇA DO MEU DEUS (3:
2). Não só a santidade é que coloca o crente ou pastor na presença do meu Deus, mas,
também, o pecado. A diferença é que este o coloca em condição reprovável. Era assim
que o pastor e crentes sardenses se viam na presença do meu Deus. As obras de ambos,
a começar pelo pastor, não eram íntegras, ou seja, perfeitas, completas. No que se
refere à santidade, esta coloca o crente sob aprovação diante do Senhor.
98) LEMBRA-TE, POIS, DO QUE TENS RECEBIDO E OUVIDO, GUARDA-O E ARREPENDE-
TE (3:3). Após reprovar o pastor e um “resto” que estava para morrer, eis aqui a razão
do problema da presente igreja local. Não se sabe por quanto tempo perdurou tal
situação, mas, independentemente disso, a consequência foi terrível, irreparável.
É importante ressaltar que o tal pastor sardense havia recebido algo da parte de Deus.
E que deveria lembrar-se disso! Recebido o quê? O verbo tem a ver, contextualmente
falando, com os ensinamentos apostólicos, como a Ressurreição de Cristo e o Man-
damento de Deus (cf. ICo 15:3; ITs 2:13; Hb 10:26; IIJo V.4). O então pastor já os havia
esquecido; não se sabe por quanto tempo, mas provavelmente por um longo tempo,
tendo em vista a condição espiritual dos crentes sardenses. Para complicar mais ainda a
situação de seu ministério, ele também havia esquecido o que tinha ouvido. Ouvido de
quem? Do próprio Espírito Santo que faz lembrar todos os crentes as coisas que Jesus
falou (Jo 14:26; cf. 2:7,11,17,29; 3:6,13,22). É provável que “umas poucas pessoas que
não contaminaram as suas vestiduras” (3:4) foram usadas pelo Espírito Santo para cha-
ma-lo à atenção. Visto que ele nada fez para mudar a situação, eis que esta carta veio a
ser o seu último aviso.
99) SE NÃO VIGIARES, VIREI COMO LADRÃO, E NÃO CONHECERÁS DE MODO ALGUM
EM QUE HORA VIREI CONTRA TI (3:3). Cristo convida o pastor de Sardes a retomar à
comunhão com Ele. Foi justamente a falta de vigilância que o distanciou de Cristo. O
aviso foi dado, a saber: “Se não vigiares, virei como ladrão”. Dizer que vem como ladrão
significa colocar a pessoa sob atenção contínua e plena. Não havendo, em hipótese
alguma, vacilo ou brechas. Por algum tempo o pastor estava destreinado quanto à
prática dessas coisas, mas, de qualquer forma, ele teria de exercitá-las.
À semelhança das outras cartas de reprimenda, esta não responde à questão sobre a
decisão tomada pelo pastor ou por aqueles que foram responsabilizados de terem
praticado algum pecado. Seja como for, a única coisa que convencia Cristo de voltar
atrás era o indispensável arrependimento. Ele não mudou! Só o arrependimento é que
O faz voltar atrás dos Seus juízos contra os irmãos impenitentes.
100) TENS, CONTUDO, EM SARDES, UMAS POUCAS PESSOAS QUE NÃO CONTAMI-
NARAM AS SUAS VESTIDURAS (3:4). Conforme acima (vide nota 96), a igreja local de
Sardes estava triplamente dividida, a saber: 1) crentes espiritualmente mortos (3:1), 2)
“o resto que estava para morrer” (3:2) e 3) umas poucas pessoas que não conta-
minaram as suas vestes. A menção a estas servia como impulso para que o pastor
fizesse algo pela sua igreja, ou seja, arrepender-se e fazer a coisa certa (3:3). A presente
igreja local não estava de todo morrendo, e, por esse motivo, seu líder deveria rever
suas atitudes negligentes. À luz do verso 3, não foi dado a ele um tempo (curto ou longo)
de arrependimento – tal decisão, portanto, deveria ser urgente! Afinal de contas, Cristo
estava por vir, contra ele, a qualquer momento.
Umas poucas pessoas não contaminaram as suas vestes. O termo grego traduzido por
“poucas” aponta para um número muito insignificante de pessoas, ou seja, só algumas
unidades ou pouco mais de uma dezena de pessoas é que não haviam contaminado as
suas vestiduras.
101) ANDARÃO DE BRANCO JUNTO COMIGO, POIS SÃO DIGNAS (3:4). Andarão de
branco não significa simplesmente andar com vestiduras brancas (cf. 6:11; 7:13);
contextualmente falando, a expressão se refere a uma vida espiritualmente pura, sem
contaminação. Em muitos casos, a situação espiritual se encontra tão reprovada que
nem um tipo de vestes é usada, porque se encontra nu. Seria o caso dos crentes de
Laodicéia (cf. 3:17,18)?

O vencedor andará junto comigo. Andará onde e para onde? Na Nova Jerusalém,
precisamente na praça da Cidade Santa, em direção à Água da Vida (7:17).

102) O VENCEDOR SERÁ ASSIM VESTIDO DE VESTIDURAS BRANCAS (3:5). As vestes


espirituais não contaminadas, enquanto aqui (cf. 7:14; 22:14), resultarão em vestiduras
brancas, quando ali (cf. 6:11; 7:13).

103) DE MODO ALGUM APAGAREI O SEU NOME DO LIVRO DA VIDA; PELO CONTRÁRIO,
CONFESSAREI O SEU NOME DIANTE DO MEU PAI (3:5). Se, por um lado, o livro da vida
será usado como prova de que o nome dos pecadores condenados foi riscado de sua
lista (20:12,15), por outro, ele será usado como prova de que o nome dos salvos não foi
riscado. É sabido que, enquanto aqui, Cristo não deixou nenhum texto escrito, mas, no
Céu, Ele escreve, em livros, as obras dos homens condenados ao Lago de Fogo (20:12),
e, no livro da vida, o nome dos salvos, cujo autor é o próprio Cristo, e Ele o faz diante
do meu Pai.
104) QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS (3:6). A voz do
Espírito não cessou de soar nas igrejas locais da pequena Ásia porque, mesmo quando
reprovadas, não lhes faltaram remanescentes. Estes, portanto, é que falavam, pelo
Espírito, aos demais crentes. As cartas escritas neste livro foram necessárias por causa
da resistência ao Espírito. Eram, por isso, os ultimatos divinos!
FILADÉLFIA – A Igreja do Amor Fraternal
105) AO ANJO DA IGREJA EM FILADÉLFIA (3:7). Não se pode identificar, ao certo, quem
era o anjo (pastor) da presente igreja local. O que se sabe é que, ao contrário do pastor
vizinho de Sardes, ele não negligenciou o seu ministério, mas apresentou a Cristo uma
igreja santa e verdadeira. Com a igreja local de Esmirna, a igreja local de Filadélfia faz a
pequena lista de igrejas locais aprovadas dentre as que foram listadas no Apocalipse.
106) ESTAS COISAS DIZ O SANTO, O VERDADEIRO (3:7). Além destes, Cristo Se utilizou
de alguns títulos que não são encontrados na saudação do Apocalipse (1:4,5) ou na Sua
respectiva descrição (1:10-16), os quais são: Filho de Deus (2:18); Amém (3:14) e
Princípio da Criação de Deus (3:14). As razões para isso não são conhecidas, exceto que
Cristo intentasse ser temático ou contextual ao utiliza-los.

AquEle que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém
abrirá Se apresenta como Santo e Verdadeiro para uma igreja local também santa e
verdadeira.
107) AQUELE QUE TEM A CHAVE DE DAVI, QUE ABRE, E NINGUÉM FECHARÁ, E QUE
FECHA, E NINGUÉM ABRIRÁ (3:8). Uma vez representando a Igreja do Arrebatamento
pré-tribulacionista (3:10), a igreja local de Filadélfia também representa a Igreja em seu
caráter messiânico. Quanto ao seu messianismo, nenhum povo ou nação fechará a porta
por meio da qual ela passará; a Igreja, definitivamente, reinará com Cristo porque Ele é
Quem abrirá para ela a porta do Seu reino com a chave de Davi (cf. 2:26-28). Isso
ocorrerá quando da inauguração do Reino milenar de Cristo, cuja porta ninguém fe-
chará, ou seja, nem mesmo Satanás conseguirá fechar a porta do Reino escatológico de
Cristo.

108) CONHEÇO AS TUAS OBRAS – EIS QUE TENHO POSTO DIANTE DE TI UMA PORTA
ABERTA, A QUAL NIGUÉM PODE FECHAR – QUE TENS POUCA FORÇA, ENTRETANTO
GUARDASTE A MINHA PALAVRA E NÃO NEGASTE O MEU NOME (3:8). Espiritualmente
falando, a igreja local de Filadélfia se sentia tão fraca, por consequência das grandes e
muitas perseguições, que sequer podia abrir a porta que daria a ela continuidade como
igreja guardiã da Palavra de Deus. Diante disso, Cristo não somente abriu uma porta
para ela como também pôs uma pedra para que ninguém a pudesse fechar. Com efeito,
os crentes filadelfenos não só se mantiveram como igreja aprovada em seus dias como
também posteriormente. Como prova disso, foi só no território de Filadélfia que o
Cristianismo sobreviveu por mais tempo. Seu nome atual é Alasehir, que significa
“Cidade de Deus”, cuja coluna que a sustentava (3:12) permanece até aos dias de hoje.
Noutros termos, nem mesmo os grandes e muitos terremotos, símbolos de suas grandes
e muitas perseguições, puderam derribar o seu maior símbolo espiritual.
Da igreja do “amor fraternal”, significado do nome Filadélfia, para a Igreja que morará
na “Cidade de Deus”, significado de seu nome atual, Alasehir.
109) EIS QUE EU FAREI QUE ALGUNS DOS QUE SÃO DA SINAGOGA DE SATANÁS, DESSES
QUE A SI MESMOS SE DECLARAM JUDEUS E NÃO SÃO, MAS MENTEM, EIS QUE OS
FAREI VIR E PROSTRAR-SE AOS TEUS PÉS E CONHECER QUE EU TE AMEI (3:9). Tanto a
negação a Cristo como a perseguição à Igreja extirparam a identidade judaica mesmo
daqueles que eram, de fato, judeus. Diante disso, ao se identificarem como judeus ou
descendentes de Abraão, isso não passaria de uma grande mentira. Nos dias em que
foram escritas as cartas do Apocalipse, muitos desses “judeus” perseguiram a Igreja por
causa do Nome de Jesus (3:8). A bem da verdade, desde há muito que tais perseguições
ocorriam em torno dela. Quanto a Paulo, de perseguidor, ele passou a ser perseguido,
inclusive por aqueles que se diziam judeus (cf. At 9:22,23; 13:45,50; 17:13 e outros).
Cristo, por fim, faria com que os falsos judeus reconhecessem que a Igreja era o Seu
povo porque Ele a amou. Esse verbo conjugado no pretérito perfeito é reminiscente à
Sua Morte de Cruz – evento que instituiu a Igreja como Seu povo. Do mesmo modo que
Cristo tinha a intenção de converter Paulo ao dizer a ele que a Igreja era o Seu povo, Ele
também intencionava converter falsos judeus ao fazer-lhes o mesmo.
110) PORQUE GUARDASTE A PALAVRA DA MINHA PERSEVERANÇA, TAMBÉM EU TE
GUARDAREI DA HORA DA PROVAÇÃO QUE HÁ DE VIR SOBRE O MUNDO INTEIRO
(3:10). O prêmio de guardar a palavra da minha perseverança (i.é., a Palavra de Deus,
3:8) é ser guardado da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro. À luz do
Salmo 119:11, não se guarda a Palavra de Deus dentro de um baú ou de uma caixa, e,
sim, “no coração”, onde ninguém a vê, exceto os frutos que ela produz. De forma
semelhante, a promessa de um arrebatamento pré-tribulacionista não consiste em
guardar a Igreja num lugar seguro, como o foi a Israel, durante as dez pragas, nem em
sela-la, como o será aos Cento e Quarenta e Quatro Mil, e, sim, de guardá-la do mundo
ou de qualquer parte dele, colocando-a no Céu para receber o Galardão e celebrar as
Bodas do Cordeiro.
O termo grego traduzido pela preposição “da” na expressão guardarei da hora não é
dia (“através de”, “por meio de”), que significaria dizer que a Igreja passaria pela Grande
Tribulação ou seria guardada ao passar por ela, e, sim, ek, que significa dizer que a Igreja
será guardada da Grande Tribulação ou dela. Além dessa preposição, o contexto dos
eventos apocalípticos não tem em vista a Igreja, senão os eventos pós-tribulacionais a
partir do capítulo 19.
111) VENHO SEM DEMORA (3:11). Este alerta não é direcionado a uma igreja local como
o foi em 2:16, e, sim, à Igreja em geral, conforme 22:7,12,20. Essas passagens, com a do
presente verso, fazem, portanto, quatro alertas apocalípticos acerca da vinda escato-
lógica de Cristo e sempre direcionados à Igreja. Vir sem demora significa a possibilidade
de vir logo não especificando época ou tempo, podendo-se dizer o mesmo nos dias de
hoje. O alerta é, por isso, incessante, contínuo, para qualquer época.
112) CONSERVA O QUE TENS, PARA QUE NINGUÉM TOME A TUA COROA (3:11). O pro-
nome indefinido ninguém não pode ter como referência qualquer espécie de inimigo
espiritual, como querem alguns expositores, já que a “coroa”, referida aqui, premiará
apenas os salvos ou àquele que (na competição espiritual) tomá-la (cf. IITm 4:7,8; Ap
2:10). O posicionamento divino aqui é que nenhum salvo se perca na corrida espiritual,
ao contrário dos jogos olímpicos em que apenas um é que ganhava; posto isso, na
corrida espiritual, a vitória é para todos os que perseverarem.
113) AO VENCEDOR, FÁ-LO-EI COLUNA NO SANTUÁRIO DO MEU DEUS, E DAÍ JAMAIS
SAIRÁ (3:12). Contextualmente, a promessa deste verso tem a ver com a Nova Jeru-
salém, a Cidade Santa. Já que nesta não haverá santuário, porque Deus é o seu próprio
santuário (21:22), e a Igreja, como coluna, fará com Deus o santuário da Nova Jeru-
salém, significando o culto mais espiritual e a comunhão mais íntima desde que Céu é
Céu.
114) GRAVAREI TAMBÉM SOBRE ELE O NOME DO MEU DEUS, O NOME DA CIDADE DO
MEU DEUS, A NOVA JERUSALÉM QUE DESCERÁ DO CÉU, VINDA DA PARTE DO MEU
DEUS, E O MEU NOVO NOME (3:12). Esta tripla promessa eclesiástica é superior às das
tribos dos filhos de Israel que só terão os seus nomes nas portas da muralha da Nova
Jerusalém, a Cidade Santa, bem como às dos doze apóstolos que só terão os seus nomes
nos fundamentos de sua muralha. O nome da própria Cidade Santa, é que estará
estampado sobre cada vencedor; não bastando isso, o próprio Nome de Deus, cujos
filhos de Israel sequer O mencionavam, bem como o Nome de Jesus, Nome acima de
todos os nomes, também estarão estampados sobre ele.
A Nova Jerusalém, portanto, será uma propriedade exclusiva da Igreja, cujo sangue que
a tornou povo espiritual não foi de animais, e, sim, do próprio Senhor Jesus – daí a supe-
rioridade de suas promessas em relação aos demais povos, inclusive, Israel.
115) QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS (3:13). Mais do
que nunca, o Espírito fala por intermédio da Igreja que será arrebatada e herdeira da
Nova Jerusalém, a Cidade Santa. É por ela e, somente por ela, que Ele fala! Amém!
Aleluia!

LAODICÉIA – A Igreja Dominada pelo Povo


116) AO ANJO DA IGREJA EM LAODICÉIA (3:14). Nos dias de Paulo, seu conservo Eprafas
não só havia fundado a igreja local de Colosso como também as igrejas locais de
Laodicéia e Hierápolis, cidades vizinhas daquela (cf. Cl 1:7,8; 4:12,13). Tendo em vista as
palavras elogiosas de Paulo dirigidas a Epafras (Cl 1:7; 4:12,13), bem como o tempo que
o separava da presente carta, mais ou menos trinta anos, não há a menor possibilidade
de ele ter sido o então pastor de Laodicéia. Enquanto pastor da igreja local de Colosso,
esta flutuava no Espírito; muito ao contrário da presente igreja local, cujo pastor a fazia
rastejar como pessoas que estão morrendo.
117) ESTAS COISAS DIZ O AMÉM, A TESTEMUNHA FIEL E VERDADEIRA, O PRINCÍPIO
DA CRIAÇÃO DE DEUS (3:14). Do ponto de vista dispensacionalista, Cristo é o Amém ou
o Fim da atual Dispensação, cuja igreja contextual é Laodicéia. Não coincidentemente,
ela é o retrato da atual Igreja que sofre com a Teologia da Prosperidade (um falso ensino)
e o neopentecostalismo (um falso movimento pentecostal). Daí, portanto, as bases da
maioria dos temas pregados ao longo dos púlpitos brasileiros e mundo afora. Com
efeito, tanto a verdadeira pregação da Palavra de Deus como a verdadeira atuação do
Espírito Santo são maiormente substituídas por ambas as fraudes espirituais. É muito
infeliz dizer que milhares de crentes defendem tais coisas como se fossem bíblicas.
Cristo é, ainda, o princípio da Criação de Deus ou, conforme Colossenses 1 e Jo 1, o
Originador (daí os títulos apocalípticos: o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim) da criação
de Deus. As Testemunhas de Jeová aberram ao destilar que Cristo, como deus-menor,
segundo eles, criou apenas “outras coisas”, significando dizer “algumas coisas”. Isso é
tão aberrante quanto blasfemo! Para isso é que servem os anticristos ou servos destes!
Quanto ao título testemunha fiel e verdadeira, vide nota 11.
118) CONHEÇO AS TUAS OBRAS, QUE NEM ÉS FRIO E NEM QUENTE. QUEM DERA FOS-
SES FRIO OU QUENTE! (3:15). A condição de nem... frio e nem quente significa, grosso
modo, falta de identidade espiritual ou dúvida sobre o que quer para si. Eis porque o
Senhor Jesus exclamou, dizendo: “[...] Quem dera fosses frio ou quente!” Noutros
termos, Cristo queria lidar com alguma situação espiritual como fizera a outras igrejas
reprovadas. Mas os crentes laodicenses não tinham identidade espiritual ou não sabiam
o que queriam para si; eram espiritualmente medianos. No seu dicionário não haviam
as palavras “sim” e “não” (cf. Mt 5:37). Uma outra situação é que eles poderiam querer
viver ambas as experiências espirituais, não sendo isso possível (cf. Mt 6:24).
118) ASSIM, PORQUE ÉS MORNO E NEM É QUENTE NEM FRIO, ESTOU A PONTO DE VO-
MITAR-TE DA MINHA BOCA (3:16). A água morna não pode oferecer um sabor agradável
quando se quer fazer uma bebida quente. Ela não é adequada ou apropriada para isso.
Era assim que o Senhor via os crentes de Laodicéia; estes não eram saborosos para o
paladar nem saudáveis para a digestão. Em geral, não convenciam! Seu sabor era incerto
porque não estava no ponto. A ameaça de vomitá-los pode aclarar uma situação que já
vinha de algum tempo; no que se refere a Jezabel, a situação era a mesma (2:21). Por
causa disso, Cristo já não os aturava mais – a situação estava acima do limite!
Enquanto aqui, Cristo questionava o tipo de sabor dos crentes laodicenses, em Mateus
5:13, Marcos 9:50 e Lucas 14:34, Ele o fazia quanto ao dissabor. Nenhuma dessas coisas
é agradável; tanto uma quanto a outra são passíveis de vômito. Os ingredientes que
fazem o caráter cristão devem vir da Palavra de Deus e não de posicionamentos huma-
nos para a auto satisfação. Era assim que fazia a última igreja do Apocalipse.
119) POIS DIZES: ESTOU RICO E ABASTADO E NÃO PRECISO DE COISA ALGUMA, E NEM
SABES QUE TU ÉS INFELIZ, SIM, MISERÁVEL, POBRE, CEGO E NU (3:17). Do ponto de vis-
ta dos crentes de Laodicéia (ou humano) tudo ia bem, pois estavam abastados
materialmente e, por isso, não precisavam de coisa alguma. Ou seja, eles dispunham de
toda a riqueza e o luxo que a cidade oferecia, menos da riqueza e o luxo que Cristo tinha
para oferecer (3:18). Sua auto estima resultou em ignorância espiritual – nem sabes.
Essa situação se repete nos dias de hoje entre os crentes que são dados à Teologia da
Prosperidade, visto que ignoram a verdadeira prosperidade. Todas as vezes que Jesus
dizia: “Bem-aventurados”, Ele Se referia à verdadeira prosperidade ou no que ela
consiste (Mt 5:1ss; cf. Mt 6:19-21). O Apocalipse lista sete bem-aventuranças, nenhuma
delas, portanto, está voltada às riquezas ou luxos materiais (cf. 14:13; 16:15; 19:9; 20:6;
22:7,14).
Enfim, o que estar por traz da falsa prosperidade espiritual é uma situação de extrema
pobreza material e física, a saber, um homem nu, cego, pobre e miserável. Quão infeliz
é esse homem!
120) ACONSELHO-TE QUE DE MIM COMPRES OURO REFINADO PELO FOGO PARA TE
ENRIQUECERES, VESTIDURAS BRANCAS PARA TE VESTI-RES... E COLÍRIO PARA UNGIRES
OS OLHOS, A FIM DE QUE VEJAS (3:18). Do ponto de vista divino, a igreja local de Lao-
dicéia estava completamente desprovida de todo ou qualquer bem espiritual. (Con-
trastava-se com a sua vida material.) O ouro que a enriquecia diante dos homens era o
mesmo que a empobrecia diante de Deus. As vestiduras que ela vestia para cobrir sua
vergonha diante dos homens eram as mesmas que a desnudavam diante de Deus. E que
dizer do colírio que lhe dava saúde visual para enxergar mais e mais as coisas materiais?
Ele, na verdade, a tornava cega diante de Deus!
Por conseguinte, o verso não diz que Jesus queria dar todas essas coisas aos crentes de
Laodicéia, e, sim, vende-las. Qual vendedor ambulante, Cristo oferecia a cada um deles
Seus itens de luxo, e quais consumidores, eles teriam de escolher o que quisessem.
Cristo tinha o melhor dos melhores!
121) EU REPREENDO E DISCIPLINO A QUANTOS AMO (3:19). À luz de Provérbios 3:12,
Cristo tratou os crentes de Laodicéia como filhos; apesar de nenhum exemplo aprovável
ou de nenhuma uma leve aprovação, foi assim que o Senhor os acolheu (cf. Hb 12:6,7).
Ao chama-los à atenção, Cristo apontava para o mal que estava acontecendo no meio
deles, e, ao disciplina-los, Ele apontava para a solução do referido mal. Apesar de todo
desprezo às coisas de Deus, foi com amor que Cristo lidou com a igreja local de Laodicéia.
O amor divino não depende da perfeição moral do homem para atuar (cf. Rm 5:8), nem
mesmo do seu amor para com Deus – ele já existe antes (IJo 4:19).
Contudo, a forma de confessar o amor por uma igreja santa é diferente de faze-lo a uma
igreja que não o é. Cristo disse para os crentes de Filadélfia que os amava e que provaria
o Seu amor por eles (3:9); contudo, no presente verso, ao declarar o Seu amor aos
crentes de Laodicéia, Ele o fez de forma indireta.
122) SÊ, POIS, ZELOSO E ARREPENDE-TE (3:19). Alguns podem até pensar que a sequên-
cia deste duplo imperativo está errada. Mas não é verdade. Ao dizer: “Sê, pois, zeloso”,
antes de dizer: “arrepende-te”, Cristo estava fazendo o mesmo que fizera aos crentes
de Éfeso, quando disse: “Lembra-te, pois, de onde caíste” (2:5), seguindo com o mesmo
imperativo “arrepende-te”. Foi justamente por causa da falta de zelo que os crentes de
Laodicéia caíram, e seria por causa disso que eles deveriam arrepender-se. (O mesmo
ocorreu a outras igrejas locais.) As cartas de reprimenda foram ditadas a João com o fim
de revelar os reais problemas das igrejas locais da pequena Ásia. É bem provável que
esses reais problemas ainda existissem pelo fato de eles não terem sido combatidos de
forma direta, exceto outros que resultavam deles.
123) EIS QUE ESTOU À PORTA E BATO; SE ALGUÉM OUVIR A MINHA VOZ E ABRIR A
PORTA, ENTRAREI EM SUA CASA E CEAREI COM ELE E ELE, COMIGO (3:20). Cristo res-
salta mais um problema de saúde espiritual aos crentes de Laodicéia, a saber, surdez.
Para a sua cura, eram necessárias duas ações: 1) passiva e 2) ativa. A passiva: “ouvir a
minha voz”. Havia algum tempo que a igreja local de Laodicéia não ouvia, de forma pura,
a Palavra de Deus. Quanto à ativa: “abrir a porta”. Também havia algum tempo que a
referida igreja local não tinha Jesus como seu morador espiritual. Apesar disso, o
momento não era de rejeição, exclusão, mas de reconciliação. Não bastando isso, ainda
havia um “se” a ser eliminado de uma vez por todas.
124) AO VENCEDOR, DAR-LHE-EI SENTAR-SE COMIGO NO MEU TRONO, ASSIM COMO
EU TAMBÉM VENCI E ME SENTEI COM MEU PAI NO SEU TRONO (3:21). Esta não é a úni-
ca alusão apocalíptica ao trono de Jesus, no Céu (cf. 12:5; 22:1,3), logo, Cristo não
prometeu à Igreja sentar-se num trono que não possuía. Veja outras passagens
neotestamentárias (cf. Mt 26:64; Mc 14:62; 16:19; Lc 22:69; At 7:55,56; Rm 8:34; Ef 1:
20).
Essa promessa de trono para a Igreja vencedora dá a impressão de que Cristo só sentou-
se num trono, à destra do Pai, depois de Sua Ascenção, por ter vencido o mundo e a
morte; mas, na verdade, não é bem isso. Davi, o grande rei de Israel, já O via sentado
num trono à direita de Deus (Mt 22:44; Mc 12:36; Lc 20:42); a tradição judaica também
já O via como tendo um trono e que o poderia dar a quem quisesse (cf. Mt 20:21; Mc
10:37). Cristo, por isso, é o Eterno Deus entronizado!
125) QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS (3:22). Mesmo
para uma igreja local desprovida de qualquer elogio, o Espírito fala. Ele deseja que todos
ouçam a Sua voz, não importando quem. A voz do Espírito é primeiramente falada à
Igreja a fim de que esta a retransmita para si, por meio de dons; depois ao pecador, por
meio da missão de evangelizar.
A VISÃO GLORIOSA DO
TRONO E DAQUELE QUE
NELE SE ASSENTA

UMA PORTA ABERTA NO CÉU


126) DEPOIS DESTAS COISAS, OLHEI (4:1). O presente capítulo dá início à terceira divisão
do Apocalipse compreendida em 1:19, a saber: “...as que hão de acontecer depois
destas”; a duas primeiras são: 1) as “coisas que viste” (capítulo 1) e 2) as “que são”
(capítulos 2–3). Logo, ao dizer: “Depois destas coisas, olhei”, João se referiu às duas
primeiras divisões do Apocalipse como precedentes a esta. E, com isso, seguindo com
mais uma, que é a terceira e última do livro.

João voltou a ter visões, mas, agora, sobre eventos apocalípticos; nos dois últimos
capítulos, ele descreveu o que ouvia da parte daquEle que conhece todas as coisas –
nenhuma visão lhe foi dada. Embora isso, ao dizer: “Depois destas coisas”, como em
outras passagens algures (cf. 7:1,9; 15:5; 18:1), o autor incluiu os referidos capítulos
dentro de suas experiências apocalípticas. No primeiro capítulo, João teve a visão do
próprio Cristo glorificado, reportando à Sua transfiguração (cf. Mt 17:1-13 e paralelos).
127) EIS... UMA PORTA ABERTA NO CÉU, COMO TAMBÉM PRIMEIRA VOZ QUE OUVI,
COMO DE TROMBETA A FALAR COMIGO (4:1). Uma porta aberta no céu é um evento
raro na Bíblia. Apenas Pedro disse ter visto uma porta aberta no céu, embora não tendo
passado por ela (At 10:11). Na dimensão espiritual há ainda outras portas, mas não
celestiais, como, por exemplo, as portas do inferno (Mt 18:16); ao mencionar as chaves
do Poço do Abismo (ou simplesmente Abismo), este lugar de prisão e de infortúnio
também tem uma porta (9:1,2; 20:1-3); a grande e alta muralha da Nova Jerusalém tem
doze portas (21:12), bem como a própria Nova Jerusalém (22:14).
Antes de João, o único a entrar pela porta celestial, mesmo sem tê-la mencionado, foi
Paulo, o grande apóstolo dos gentios (II Co 12:1ss). Em sonho, Jacó “viu uma escada cujo
topo atingia o céu, e os anjos de Deus subiam e desciam por ela” (Gn 28:12); mais
adiante, ele chamou o lugar em que estava de “casa de Deus, a porta dos céus”, porque
ali o Senhor estivera presente (Gn 28:16,17). Quando do batismo de Jesus, o Céu se abriu
para que o Espírito Santo, como pomba, descesse sobre Ele (Mt 3:16; Mc 1:10; Jo 1:32).
Prestes a morrer, Estevão não viu nenhuma porta, visto que o Céu já se encontrava
aberto para ele (At 7:56).
128) MOSTRAREI O QUE DEVE ACONTECER DEPOIS DESTAS COISAS (4:1). Foi justa-
mente com este fim, a saber, de “mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem
acontecer”, que Deus, o Pai, deu a revelação a Jesus Cristo, Seu Filho (cf. 1:1), cuja
missão também foi dada ao Seu anjo (cf. 22:6,16). Enfim, este verso termina com as
mesmas palavras que começou e sempre aludindo às divisões anteriores, ressaltando a
terceira e mais ampla do livro.
129) IMEDIATAMENTE, EU ME ACHEI EM ESPÍRITO (4:2). Tanto para ouvir uma voz
sobrenatural (1:10) como para ver visões sobrenaturais (aqui e 17:3; 21:9) foi necessário
que João fosse achado em espírito; de outra forma, essas coisas seriam humanamente
impossíveis para ele.
UM TRONO ARMADO NO CÉU E ALGUÉM SENTADO
130) EIS ARMADO NO CÉU UM TRONO, E, NO TRONO, ALGUÉM SENTADO (4:2). Embora
o trono divino seja abundantemente mencionado neste capítulo e no seguinte (aqui,
VV.2,3,4,6,9,10; 5:1,6,7,11,13), e ainda nos que se seguem (cf. 6:16; 7:9,10,11,15,17;
8:3; 14:3; 16:17; 19:4,5; 21:5; 22:1,3), em nenhum desses ele é minimamente descrito,
senão alguém sentado ou aquEle que nele Se assenta. O mesmo ocorre em I Reis 22:19
e II Crônicas 18:18. Na Bíblia, somente os profetas Ezequiel e Daniel ousaram descrevê-
lo (cf. Ez 1:26; 10:1; Dn 7:9). Nos Salmos, o trono de Deus é sinônimo de atributos
naturais e morais da divindade, tais como: Eternidade (Sl 45:6; 93:2); Santidade (Sl 47:8);
Justiça e Juízo (Sl 89:14; 97:2). Por fim, o profeta Isaías viu o trono divino estabelecido
num lugar alto e sublime (Is 6:1).
131) E ESSE QUE SE ACHA ASSENTADO É SEMELHANTE, NO ASPECTO, A PEDRA DE JAS-
PE E DE SARDÔNIO (4:3). Em 21:11, somente a pedra de jaspe é que serve para des-
crever a semelhança divina. Semelhante à pedra de jaspe, o sardônio é também uma
pedra avermelhada. É provavelmente por isso que, em 21:11, não foi necessária sua
menção para descrever a glória de Deus. No Apocalipse, o jaspe é, sem dúvida, a pedra
mais importante. Além da aparência divina, ainda três coisas são descritas por meio
dela: 1) a Nova Jerusalém (21:11); 2) a estrutura de sua muralha (21:18); e 3) o primeiro
de seus doze fundamentos (21:19). O sardônio volta a ser citado no livro, em 21:20, para
descrever o quinto fundamento da muralha da Nova Jerusalém, a Cidade Santa.
132) AO REDOR DO TRONO, HÁ UM ARCO-ÍRIS SEMELHANTE, NO ASPECTO, A ESME-
RALDA (4:3). Conforme estudado na nota acima, o Apocalipse não descreve a aparência
gloriosa do trono, mas somente as coisas que estão ao redor dele (cf. 1:4; 4:4,6; 5:6,11;
7:9,11,17; 8:3; 14:3; 19:5; 22:1; vide nota 130). O arco-íris é uma das coisas que se en-
contram ao redor do trono divino. Ele é semelhante, no aspecto, a esmeralda, cuja cor
é verde. Independentemente de sua cor, o arco-íris aparece pela primeira vez na Bíblia
como sinal de aliança divina com a humanidade (Gn 9:12-17). Sinal esse que tinha a ver
com a natureza e amplitude de um futuro juízo divino contra a humanidade, o qual
poderia se manifestar de várias maneiras, conforme visto no Apocalipse, menos em
forma de dilúvio.
Ao dizer: “o meu arco”, em Gênesis 9:13, ou: “o arco” (cf. Gn 9:14,16), Deus Se referia a
algo já conhecido por Ele, provavelmente o mesmo arco-íris que aparece na presente
visão. Desde há muito que o arco-íris se encontra ao redor do trono divino como prova
máxima de que Deus nunca deixará de cumprir a Sua Palavra (Jr 1:11,12; Is 55:11). Sua
Palavra é eterna!
VINTE E QUATRO ANCIÃOS SENTADOS EM TRONOS
133) AO REDOR DO TRONO, HÁ TAMBÉM VINTE E QUATRO TRONOS, E ASSENTADOS
NELES, VINTE E QUATRO ANCIÃOS VESTIDOS DE BRANCO, EM CUJAS CABEÇAS ESTÃO
COROAS DE OURO (4:4). Os vinte e quatro tronos dos vinte e quatro anciãos estão ao
redor do trono de Deus em forma de arco, ou seja, ao seu redor. Os vinte e quatro
anciãos são as primeiras criaturas celestiais a serem citadas no Apocalipse. Quem são
eles? À luz da descrição apocalíptica, eles estão longe de serem anjos. Primeiro, pela
numeração deles, a qual reporta à sua origem humana. Segundo, por estarem entro-
nizados. E terceiro, por se encontrarem coroados. Nenhuma dessas descrições tem a ver
com anjos, seja qual for a sua hierarquia.

Se não são anjos, os que eles são, de fato? Sem dúvida, a Igreja do Senhor Jesus Cristo,
comprada e lavada pelo Seu sangue. A começar pelo seu número, a saber, vinte e
quatro, os vinte e quatro anciãos são originários tanto das doze tribos dos filhos Israel
(judeus convertidos ao Cristianismo) como dos doze apóstolos do Senhor Jesus Cristo
(gentios convertidos ao Cristianismo). Ambas as origens nacionais fazem a constituição
da Igreja e, ao contrário dos anjos, tal número não tem a ver com eles, contextualmente
falando. Em seguida, eles são vistos entronizados. Não há uma única alusão, na Bíblia,
de anjos entronizados, seja qual for sua hierarquia. A promessa de trono ou a posição
de entronizado, no Céu, não foi conferida a eles, e, sim, à Igreja (3:21; cf. ICo 6:2,3; Ap
20:4). Por último, os vinte e quatro anciãos possuem coroas de ouro. O termo grego
traduzido por coroas, neste verso, não é díademas (“coroa real”, cf. 19:12), e, sim,
stephanos, referindo-se às coroas conquistadas nos jogos olímpicos. É importante
lembrar que o conquistador das promessas celestiais é intitulado de “vencedor”, tendo
muito a ver com as referidas coroas de ouro do presente verso.
134) DO TRONO SAEM RELÂMPAGOS, VOZES E TROVÕES (4:5). Estes fenômenos natu-
rais têm a ver com a atuação divina em relação aos juízos apocalípticos (cf. 8:5; 11:19;
16:18). Enfim, Deus é o grande e único responsável por eles, bem como o Cordeiro que,
do mesmo modo, está sentado no trono (cf. 6:16,17).
135) DIANTE DO TRONO ARDEM SETE TOCHAS DE FOGO, QUE SÃO OS SETE ESPÍRITOS
DE DEUS (4:5). Após cumprir Sua missão na Terra, o Espírito Santo continua o mesmo,
ou seja, ardendo em fogo (cf. At 2:3). Ele não mudou no que se refere à Sua ação
pentecostal; muitos crentes ainda estão em chamas e assim permanecerão até ao
Arrebatamento. O Espírito Santo desceu qual chama ardente e subirá do mesmo modo
com a Igreja. Este verso evidencia a infalibilidade da obra eclesiológica da Terceira
Pessoa da Santíssima Trindade na presente Dispensação. Fogo também tem a ver com
a Sua glória divina (cf. Êx 19:18,19; Lv 9:23,24; Dt 4:22).
136) HÁ DIANTE DO TRONO UM COMO QUE MAR DE VIDRO, SEMELHANTE AO CRISTAL
(4:6). João viu um mar de vidro diante do trono, o qual lembra o mar de bronze do
Tabernáculo (que ficava entre o altar e a porta daquele) e do Templo (que ficava entre
o altar do incenso e o santuário). O mar de bronze do Templo era circular e media quase
três metros de profundidade e quinze metros de circunferência; podia conter entre
cinquenta e noventa mil litros de água. Quanto ao do Tabernáculo, sua forma e tamanho
são desconhecidos, contudo, a finalidade de ambas as bacias de bronze, ou seja, tanto
a do Tabernáculo como a do Templo, era a mesma: purificação dos sacerdotes (lavagem
de mãos e pés) antes do seu ofício.
Em 15:2, este mar de vidro (é assim descrito porque é sólido), é um espaço de adoração
a Deus, pois ele, conforme aqui, se encontra diante do trono de Deus. Toda a adoração
celestial a Deus é oferecida diante do Seu trono. Não somente isso, seus ocupantes são
os vencedores da Besta e da sua imagem.

QUATRO SERES VIVENTES EM VOLTA DO TRONO


137) TAMBÉM, NO MEIO DO TRONO E À VOLTA DO TRONO, QUATRO SERES VIVENTES
CHEIOS DE OLHOS POR DIANTE E POR DETRÁS (4:6). Os quatro seres viventes aparecem
em vários eventos do Apocalipse (aqui e no verso 8; 5:6,8,14; 6:1,6; 7:11; 14:3; 15:7;
19:4). Eles atuam fixamente no meio e à volta do trono; têm seis asas e estas estão
cheias de olhos (4:8). Sua voz tem o som de trovão ao proferir ordens aos quatro
cavaleiros para que eles ajam (6:1); quanto a esses eventos, bem como à entrega das
sete taças (15:7), eles agirão individualmente, mas por ocasião da adoração àquEle que
está sentado no trono e ao Cordeiro, eles o farão (ou fazem, 4:8) de todo (5:8; 7:11;
19:4). Em 5:9,14, os quatro seres viventes iniciam e encerram adoração ou culto
celestial.
138) O PRIMEIRO SER VIVENTE É SEMELHANTE A LEÃO, O SEGUNDO, SEMELHANTE A
NOVILHO, O TERCEIRO TEM O ROSTO COMO DE HOMEM, E O QUARTO SER VIVENTE É
SEMELHANTE À ÁGUIA QUANDO ESTÁ VOANDO (4:7). Os Quatro Seres Viventes re-
presentam a mesma classe hierárquica de anjos, todavia, eles se diferenciam quanto à
sua aparência. O termo grego traduzido por semelhante a é homoion cujo significado
aponta para uma aparência real, ou seja, foi com tais semelhanças que João viu cada ser
vivente. Diante das mais variadas especulações ou significados conferidos à semelhança
dos Quatro Seres Viventes, o mais razoável é que eles representam a plenitude da
criação animada.
139) E OS QUATRO SERES VIVENTES, TENDO CADA UM DELES, RESPECTIVAMENTE, SEIS
ASAS, ESTÃO CHEIOS DE OLHOS, AO REDOR E POR DENTRO (4:8). Os autores costumam
interpretar o número de asas destes quatro seres viventes como representando rapidez,
velocidade, ao passo que os olhos que as rodeiam, vigilância, cuidado. Para este autor,
é mais plausível interpretar as semelhanças dos quatro seres viventes conforme a nota
acima, ou seja, representando as obras de Deus no que se refere à criação inanimada.
140) NÃO TEM DESCANSO, NEM DE DIA NEM DE NOITE, PROCLAMANDO: SANTO, SAN-
TO, SANTO É O SENHOR DEUS, O TODO-PODEROSO, AQUELE QUE ERA, QUE É E QUE
HÁ DE VIR (4:8). A expressão não tem descanso, nem de dia nem de noite é uma vez
mais usada em 14:11, onde o contexto é o tormento dos “adoradores da besta e da sua
imagem e quem quer que receba a marca do seu nome”. Diante disso, ela descreve, em
linguagem humana, a incansabilidade dos Quatro Seres Viventes ao proclamar, diante
daquEle que está sentado no trono, palavras doxológicas ou de adoração. Já, em 14:11,
descreve-se a eternidade do tormento dos adoradores da Besta e da sua imagem ou
daqueles que receberam a marca de seu nome (cf. 20:10). Noutras passagens do
Apocalipse, é comumente usada a segunda parte da expressão (cf. 7:15; 12:10; 20:10).
A despeito disso, o sentido é o mesmo.
A tripla proclamação de “Santo, santo, santo” é também executada pelos serafins de
Isaías, contudo não se diz que eles a fazem de maneira incessante; outro detalhe é que
eles não fazem tal proclamação em direção a Deus, mas “uns para os outros” (Is 6:3).
Quanto aos Quatro Seres Viventes, embora estes atuem diante de Deus, não se diz,
claramente, o seu posicionamento.
Enfim, só o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir é
triplamente santo.
141) QUANDO ESSES SERES VIVENTES DEREM GLÓRIA, HONRA E AÇÕES DE GRAÇAS AO
QUE SE ENCONTRA SENTADO O TRONO (4:9). O termo adverbial (“quando”) aponta
para o momento inicial do culto celestial que é responsabilizado aos seres viventes, os
quais também o encerram com o litúrgico “amém” (5:14).
142) AO QUE VIVE PELOS SÉCULOS DOS SÉCULOS (4:9). O título ainda ocorre no verso
seguinte e noutras passagens apocalípticas (cf. 4:10; 10:6; 15:6). Tem o mesmo signi-
ficado de aquEle que era, que é e que há de vir, o qual aparece, em número igual,
noutras passagens do livro (cf. 1:8; 4:8; 11:17; 16:5). Ambos falam da auto existência de
Deus, atributo que o Filho reivindica para Si, ao dizer: “...aquele que vive; estive morto,
mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do
inferno” (1:18; cf. Jo 5:26). Como as seitas cristológicas explicam isso?!

143) OS VINTE E QUATRO ANCIÃOS PROSTRAR-SE-ÃO DIANTE DAQUELE QUE SE EN-


CONTRA NO TRONO... DEPOSITARÃO AS SUAS COROAS DIANTE DO TRONO (4:10). Num
ato claro de adoração, os vinte e quatro anciãos se prostram diante daquele que se
encontra no trono. Em seguida, eles depositam as suas coroas diante do trono; o termo
original traduzido por depositar significa que os vinte e quatro anciãos lançaram com
ímpeto as suas coroas diante do trono, dando a impressão de que eles quiseram
devolve-las a Deus num reconhecimento de que somente Ele é que merece ser coroado.
A ação de adorar a Deus está muito longe do que, muitas vezes, se prega e se canta hoje
em dia; seus temas não cessam de enaltecer os esforços humanos, suas qualidades etc.,
enquanto Deus só serve para abençoar ou dar vitória. “Antropolatria” é o nome que se
dá a isso! Ao contrário de muitos cultos hoje em dia, os vinte e quatro anciãos (repre-
sentantes da Igreja vitoriosa) devolveram a Deus o que Ele mesmo lhes dera, enquanto
aqui. A verdadeira exaltação adorativa a Deus é vangloriar-se em Deus e não em si
mesmo (vide nota 144).
144) TU ÉS DIGNO, SENHOR E DEUS NOSSO, DE RECEBER A GLÓRIA, A HONRA E O PO-
DER (4:11). Tu és digno, Senhor e Deus nosso, e não nós, meras criaturas fracas, inde-
fesas, de receber a glória, a honra e o poder. Traduzindo essa tripla doxologia: 1) glória
quer dizer “louvor”, “elogio”; 2) honra, “valor alto”, “preciosidade”; e 3) poder, “poder
milagroso, sobrenatural”, “energia”.
145) TODAS AS COISAS TU CRIASTE, SIM, POR CAUSA DA TUA VONTADE VIERAM A E-
XISTIR E FORAM CRIADAS (4:11). Nada existe neste mundo, nem no outro, que não seja
criatura de Deus – todas as coisas tu criaste (cf. Jo 1:3; Cl 1:16). Na Eternidade, todas as
coisas novas também serão criaturas Suas (cf. 21:5,6). Tanto como o Alfa (o Principiador
de todas as coisas) como o Ômega (o Consumador de todas as coisas), Deus é o mesmo
Deus Todo-Poderoso. Seu poder não mudou, não muda e nem mudará! Ele age segundo
a Sua vontade, a qual provém de uma determinação ou decreto perfeito, soberano,
movido por um desejo prazeroso e agradável. Como Criador de todas as coisas, Deus é
o Único como Ser Eterno. Jesus, Seu Filho amado, disse: “Em verdade, em verdade vos
digo que antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8:58; ACF).
A VISÃO DE UM LIVRO DE
TODO SELADO com
sete selos

A VISÃO UM LIVRO SELADO

146) VI, NA MÃO DIREITA DAQUELE QUE ESTAVA SENTADO NO TRONO, UM LIVRO
ESCRITO POR DENTRO E POR FORA, DE TODO SELADO COM SETE SELOS (5:1). O capítulo
quatro serve, claramente, de introdução para o evento do presente capítulo. De modo
que os principais agentes, aqui, são simplesmente apresentados ali, bem como des-
critos, a começar por aquele que está sentado no trono. Ao longo do Apocalipse, os
mesmos agentes voltam a ser mencionados sempre que um evento importante acon-
tece. Assim sendo, eles aparecem no livro ou para dar início a um evento ou para atuar
nos eventos.
A visão gloriosa daquele que está sentado no trono segue com a visão dramática de um
livro escrito por dentro e por fora, de todo selado com sete selos. Esse número de selos
não significa mera quantidade de ataduras que cerram o livro, e, sim, o número de vezes
que os juízos serão lançados na Terra; o mesmo ocorre ao número de “trombetas” e
“taças”.

A PROCAMAÇÃO DE UM ANJO FORTE


147) VI, TAMBÉM, UM ANJO FORTE, QUE PROCLAMAVA EM GRANDE VOZ: QUEM É
DÍGNO DE ABRIR O LIVRO E DE LHE DESATAR OS SELOS (5:2). Fica claro que a mudança
de eventos, ao longo deste capítulo, ocorre à proporção que João usou o verbo ver (cf.
VV.1, aqui, 6,11), e, no finalzinho, o verbo ouvir (VV.11,13). Nesta segunda visão do
capítulo, João viu um anjo forte proclamando em grande voz. A atuação do anjo forte,
no Apocalipse, é claramente escassa; além desta, há somente mais duas outras. No
segundo evento, ou seja, no capítulo dez, ele é descrito de maneira detalhada e também
gloriosa. Representa, por isso, uma hierarquia poderosa de anjos. Há mais de um anjo
forte, não se sabe quantos, visto que, em 10:1, João disse ter visto “outro anjo forte”.
Ao proclamar: “Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos”, o anjo forte a
si mesmo se apresentou como não sendo digno de abrir o livro e de desatar os selos. A
dignidade de abrir o livro não cabia a nenhum poder terreno, nem a nenhuma
hierarquia angélica, e, sim, única e exclusivamente ao Cordeiro vitorioso. Era, portanto,
uma dignidade divina.

148) ORA, NEM NO CÉU, NEM SOBRE A TERRA, NEM DEBAIXO DA TERRA, NINGUÉM
PODIA ABRIR O LIVRO, NEM MESMO OLHAR PARA ELE (5:3). Olhar para o livro selado
era o mesmo que se dispor a desata-lo. Daí o porquê de até os anjos que atuam rente
ao trono divino sequer ousaram fazê-lo. Nem mesmo os maiores poderes celestiais se
acharam dignos de abrir o livro, muito menos os da Terra. E que dizer do único arcanjo
celestial, a saber, Miguel?
Vale dizer que este momento não era hora de adoração nem de cânticos a Deus. Até
que alguém se achasse digno de abrir o livro, o Céu e a Terra ver-se-iam de todo silen-
ciosos e passivos. Enquanto o evento de 8:1-5 resultou num silêncio celestial de “cerca
de meia hora”, não se sabe por quanto tempo este silêncio universal durou.
A incapacidade de conhecimento porvir pode ser notada na espera de todos os
presentes. Nem anjos, nem homens viram-se capazes de prever seu respectivo futuro.
Amontoaram-se, à uma, aguardando aquEle que, de fato, conhece todas as coisas – o
Cordeiro que foi morte, mas reviveu!
149) E EU CHORAVA MUITO, PORQUE NINGUÉM FOI ACHADO DIGNO DE ABRIR O LI-
VRO, NEM MESMO DE OLHAR PARA ELE (5:4). Ao olhar para todas as criaturas angélicas
e humanas e perceber que ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de
olhar para ele, João não resistiu e pranteou copiosamente. Ele disse: “E eu chorava
muito...”. O servo de Deus viu-se triste ou decepcionado? As duas coisas: 1) triste porque
a revelação não aconteceria e 2) decepcionado porque todos os poderosos do Céu e da
Terra não eram dignos de abrir o livro. É que João ainda não sabia quais eram os
atributos que dignificavam aquele que podia abrir o livro, os quais não cabiam a nenhu-
ma criatura. Fosse quem fosse (cf. VV.5ss).
O CORDEIRO DIGNO DE ABRIR O LIVRO
150) TODAVIA, UM DOS ANCIÃOS ME DISSE: NÃO CHORES; EIS QUE O LEÃO DA TRIBO
DE JUDÁ, A RAIZ DE DAVI, VENCEU PARA ABRIR O LIVRO E OS SEUS SETE SELOS (5:5).
Um dos Vinte e Quatro anciãos se aproximou de João e rogou-lhe que não chorasse
mais. À luz do que já foi estudado alhures (no capítulo anterior, vide nota 133), os Vinte
e Quatro Anciãos representam a Igreja e não uma classe angélica, porquanto sua origem
terrena está relacionada com o número de anciãos, ou seja, tanto de judeus (das doze
tribos) como de gentios (dos Doze Apóstolos). Sua aparição individual, conforme aqui e
noutra passagem do Apocalipse (cf. 7:13), solidifica o ponto de vista de que eles não são
simbólicos, mas seres reais. A identificação de Cristo como Leão da tribo de Judá, a Raiz
de Davi, e a declaração de que Ele venceu para abrir o livro e os seus sete selos não
caberia a anjos (não que eles não soubessem dessas coisas), e, sim, a Igreja.
O livro e seus sete selos finalmente seriam abertos, porque o Leão da tribo de Judá ou
a Raiz de Davi venceu para abrir o livro e os seus sete selos. Fica claro, com isso, que
desde a pergunta do anjo forte, no verso 2, que um “palco” estava sendo armado para
que o Cristo-Cordeiro fosse apresentado como o único a ser digno de abrir o livro e os
seus sete selos – porque venceu! Venceu o que ninguém podia vencer e ser o que
ninguém poderia ser, a saber, o Leão da tribo de Judá ou a Raiz de Davi, segundo as
profecias messiânicas veterotestamentárias, mas, mais do que isso, o vencedor teria de
ser Deus, já que Sua vitória não foi contra homens, e, sim, contra o próprio Satanás.
151) ENTÃO, VI, NO MEIO DO TRONO E DOS QUATRO SERES VIVENTES E ENTRE OS
ANCIÃOS, DE PÉ, UM CORDEIRO COMO TENDO SIDO MORTO (5:6). João não viu um
“cordeiro mudo” (Is 53:7), mas um Cordeiro exaltado, glorificado. Este carregava consigo
as marcas que O levaram à morte, porque João O viu como tendo sido morto. Em
contrapartida, Ele não estava caído, mas, estava de pé, porque Ele mesmo disse: “[...]
estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da
morte e do inferno” (1:18b).

João viu o Cordeiro no meio de três coisas: 1) trono (cf. 7:17), 2) quatro seres viventes
e 3) anciãos. Nos capítulos 1 e 2, ele viu o Cristo glorificado no meio dos Sete Candeeiros
de ouro ou de Sua Igreja amada (1:13), e, não somente isso, Ele andava no meio dela
(2:1).
152) ELE TINHA SETE CHIFRES, BEM COMO SETE OLHOS, QUE SÃO OS SETE ESPÍRITOS
DE DEUS ENVIADOS POR TODA A TERRA (5:6). O Cordeiro tinha sete chifres ou “toda a
autoridade” (Mt 28:18), bem como os sete Espíritos de Deus que foram enviados por
toda a terra. Jesus rogou ao Pai para que Ele enviasse o Seu Espírito para a Terra (Jo
14:16), o Qual foi enviado de maneira plena ou irrestrita, ou seja, como sete Espíritos
de Deus e por toda a terra.
153) VEIO, POIS, E TOMOU O LIVRO DA MÃO DIREITA DAQUELE QUE ESTAVA SENTADO
NO TRONO (5:7). Por meio deste evento, a revelação futurística do Apocalipse final-
mente foi garantida. Até então, o Apocalipse era simplesmente passado e presente,
mas, a partir dessa ação do Cordeiro, o livro passou a ser futurístico, concretizando a
sua forma tripartida (1:19). O Cordeiro é Quem venceu para abrir o livro e os seus sete
selos (5:3). Ninguém sequer pôde olhar para ele! Tentar prognosticar o futuro é ir além
desse fato. Embora isso, “...muitos falsos profetas... enganarão a muitos” (Mt 24:11). O
surgimento de falsos profetas é, portanto, irremediável até à chegada do Falso Profeta,
a Segunda Besta (13:11-18).
A ADORAÇÃO AO CORDEIRO
153) E, QUANDO TOMOU O LIVRO, OS QUATRO SERES VIVENTES E OS VINTE E QUATRO
ANCIÃOS PROSTRARAM-SE DIANTE DO CORDEIRO (5:8). Ficou claro que a dignidade de
abrir o livro e de lhe desatar seus sete selos era exclusividade divina. Os quatro seres
viventes e os vinte e quatro anciãos literalmente caíram diante do Cordeiro para adora-
Lo. O mesmo verbo de adoração é empregado em 4:10, quando “os [os mesmos] vinte
e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentando no trono”.
O título de “Cordeiro”, que ocorre a partir daqui, deve a visão simbólica que João teve
do Cristo glorificado em 5:6. O mesmo título voltaria a ser usado por várias vezes ao
longo do Apocalipse (cf. 5:12,13; 6:1,7,12; 7:9,10,14,17; 8:1; 12:11; 13: 8,11; 14:1,4,10;
15:3; 17:14 [dv]; 19:7,9; 21:9,14,22,23,27; 22:1,3,14). A supremacia desse título cris-
tológico no Apocalipse provém do grego arnion, cujo significado difere de amnos; o
primeiro termo anuncia a majestade e a autoridade do Cristo glorificado ao passo que o
segundo Sua humanidade e sacrifício. Cristo é, portanto, o Cordeiro exaltado, que julga
e reina pelos séculos dos séculos.
154) TENDO CADA UM DELES UMA HARPA E TAÇAS DE OURO CHEIAS DE INCENSO, QUE
SÃO AS ORAÇÕES DOS SANTOS (5:8). A adoração prestada ao Cordeiro assemelha-se a
que mais adiante é dada àquEle que está sentado no trono, ou seja, com 1) harpas e 2)
incenso, que são as orações dos santos (cf. 8:3; 14:2,3; 15:2).
155) E ENTOAVAM NOVO CÂNTICO, DIZENDO: DIGNO ÉS DE TOMAR O LIVRO E DE
ABRIR-LHE OS SETE SELOS, PORQUE FOSTES MORTO E COM O TEU SANGUE COM-
PRASTE PARA DEUS OS QUE PROCEDEM DE TODA TRIBO, LÍNGUA, POVO E NAÇÃO
(5:9). Tanto João quanto os demais que não foram achados dignos de tomar o livro e de
abrir-lhe os sete selos não sabiam o porquê de não serem dignos de abrir o livro ou
sequer olhar para ele. Somente os entoadores deste novo cântico (os Quatro Seres
Vivente e os Vinte e Quatro Anciãos) e o anjo forte é que o sabiam.
Uma vez já apresentado o único ser digno de abrir o livro, a saber, o Cristo-Cordeiro, eis
então o que Ele fizera para que O tornasse digno: “...porque foste morto e com o teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda a tribo, língua, povo e nação”.
Não foi a forma de Sua Morte que O tornou digno de abrir o livro selado, já que outros
dois crucificados também tiveram a mesma sorte, bem como milhares de milhares,
tanto antes como depois dEle, mas Sua Morte. Só o Cristo-Cordeiro foi Quem comprou,
por meio de Sua Morte, homens para Deus, dando-Lhe de volta homens e mulheres
caídos no pecado.

156) E PARA O NOSSO DEUS OS CONSTITUÍSTE REINO E SACERDOTE; E REINARÃO SO-


BRE A TERRA (5:10). À luz de 1:6 e 2:26-28, é a Igreja que foi constituída como reino e
sacerdote para Deus porque reinará com o Cristo-Rei no glorioso Milênio (cf. IPe 2:5,9).
Sua origem é de “toda tribo, língua, povo e nação” (5:9b). Cristo a comprou por meio de
Sua Morte vicária e cruenta e a deu para Seu Deus e Pai.
157) VI E OUVI UMA VOZ DE MUITOS ANJOS AO REDOR DO TRONO... CUJO NÚMERO
ERA DE MILHÕES DE MILHÕES E MILHARES DE MILHARES (5:11). Finalmente os anjos
são mencionados como participantes dos eventos apocalípticos; à semelhança dos
Quatro Seres Viventes e dos Vinde e Quatro Anciãos, eles seguem adorando o Cordeiro,
fazendo o terceiro grupo de adoradores celestiais. O número deles é incontável, João
viu muitos anjos ou milhões de milhões e milhares de milhares, que, à uma, diziam algo
a respeito do Cordeiro. Eles estavam ao redor do trono. Pensar que só os anjos da alta
patente é que podem estar ao redor do trono ou diante dele não condiz com esta visão
celestial e apocalíptica.
158) PROCLAMANDO EM GRANDE VOZ: DIGNO É O CORDEIRO QUE FOI MORTO DE
RECEBER O PODER, E RIQUEZA, E SABEDORIA, E FORÇA, E HONRA, E GLÓRIA, E LOUVOR
(5:12). Dando sequência ao Novo Cântico, entoado pelos Quatro Seres Vivente e os Vinte
e Quatro Anciãos, os anjos adoraram o Cordeiro com palavras doxológicas. São pre-
cisamente sete palavras. Não bastando as referências mencionando o número sete, eis
que o Apocalipse ainda se refere a ele dessa forma. (Poder-se-ia acrescentar outros
exemplos ao longo do livro.)
159) ENTÃO, OUVI QUE TODA CRIATURA QUE HÁ NO CÉU E SOBRE A TERRA, DEBAIXO
DA TERRA E SOBRE O MAR, E TUDO O QUE NELES HÁ, ESTAVA DIZENDO: ÀQUELE QUE
ESTÁ SENTADO NO TRONO E AO COR-DEIRO, SEJA O LOUVOR, E A HONRA, E A GLÓRIA,
E O DOMÍNIO PELOS SÉCULOS DOS SÉCULOS (5:13). Eis o quarto grupo de adoradores
do Cordeiro e daquEle que Se assenta no trono. O primeiro grupo de adoradores é dos
Quatro Seres Viventes (5:8), o segundo, dos Vinte e Quatro Anciãos (5:8), o terceiro, dos
muitos anjos ou milhões de milhões de milhões e milhares de milhares (5:11) e, por
último, de toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar,
e tudo o que neles há.
A doutrina jeovaísta que ensina que Jesus é um deus pequeno é categoricamente
destruída neste verso, pois se Jesus é um deus pequeno, Ele não mereceria a adoração
de toda criatura, e, sim, de um pequeno número delas. Isso coincidiria com o que a
referida seita ensina. Mas, em contrapartida, o presente verso está de acordo com
outros versos que dizem que Jesus criou todas as coisas e que, por isso, Ele é merecedor
de ser adorado por toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e
sobre o mar, e tudo o que neles há (cf. Jo 1:3; Cl 1:16). É importante assegurar que essa
adoração não pode ser confundida com uma mera homenagem ao Cordeiro, porque
nenhuma homenagem tende a durar pelos séculos dos séculos – é adoração mesmo!
160) E OS QUATRO SERES VIVENTES RESPONDERAM: AMÉM! TAMBÉM OS ANCIÃOS
PROSTRARAM-SE E ADORARAM (5:14). Vale lembrar que foram os quatro seres viven-
tes que abriram o culto de adoração ao Cordeiro (5:8) e que agora eles o encerram com
o litúrgico “amém”. Os quatro seres viventes são provavelmente os dirigentes do culto
celestial, já que são eles que incessantemente proclamam diante daquEle que está
sentado no trono: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que
era que é e que há de vir” (4:8b).

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