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sábado, 8 de janeiro de 2011

O Enfoque Missiológico de Paulo

Introdução
Ao ensejo da necessidade de preparar um trabalho monográfico para atender a disciplina
Teologia Paulina de Missões, optamos em apresentá-lo conforme se verá a seguir, por
entender que uma leitura daquilo que o apóstolo aos gentios acreditava, produzira e
vivenciava, é de extrema importância para a Igreja da atualidade, tão descaracterizada em
sua teologia e práticas ministeriais, seguindo ensinamentos não fundamentados nas
Sagradas Escrituras mas oriundos da mente de homens, muitos deles com objetivos não
compatíveis com a pureza do Evangelho.
Diante do exposto, pretendemos com a graça de Deus, fazer ver ao leitor como Paulo encarava a questão
missionária e a ênfase que se descobre numa leitura de seus escritos. Isto posto, trataremos primeiramente
sobre a Escritura que o apóstolo lia, acreditava e pregava. Essa Escritura, que era a escritura dos hebreus,
a primeira parte de nossa Bíblia - o Antigo Testamento, era a parte inicial da revelação divina, tida por
Paulo como escritura verídica, autoritária e canônica. Em seguida, examinaremos o assunto das Escrituras
produzidas por Paulo, ou seja, o grupo de treze cartas, escritas pelo apóstolo sob inspiração divina, que
fazem parte do cânon do Novo Testamento, que legisla sobre quase todos os assuntos ligados à igreja do
Senhor, inclusive sobre a obra missionária. Na terceira divisão do trabalho, enfatizaremos a mensagem
pregada por Paulo no cotidiano do seu ministério, a mensagem do Evangelho, que tem como pilares a
morte e a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, mensagem essa que para aquele apóstolo era o poder
de Deus para a salvação de todo aquele que crê. No quarto momento deste trabalho, trataremos da questão
do crescimento harmonioso e sadio das comunidades evangélicas fundadas por Paulo ou por outros,
mostrando a sua preocupação para com a igreja do Senhor que ele, como apóstolo, entendia que era
responsabilidade sua. Por fim, trataremos da questão social segundo a ótica paulina, através da qual
faremos referência a temas como a escravidão, as relações de trabalho, a obediência às autoridades
constituídas, os tributos e a ação social da igreja na área da beneficência.
Neste trabalho, faremos menção constante das Escrituras principalmente das cartas escritas
por Paulo e do livro de Atos dos Apóstolos, no qual encontramos alguns sermões daquele
que foi o apóstolo dos gentios.
Objetivamos com isto mostrar a atualidade de Paulo bem como a necessidade de uma
releitura de suas cartas, para promover uma mudança na postura ministerial de muitos
obreiros do Senhor bem como das comunidades que têm o privilégio de dirigir.
Evidentemente que este trabalho tem as suas limitações, pois não pretendemos fazer um
minucioso estudo sobre a teologia paulina, o que caberia na atualidade, mas apenas enfocar
alguns temas que achamos importantes para a Igreja do século XXI que tem uma forte
preocupação missionária.
Um aprofundamento da questão paulina deve ser buscado nos abundantes livros já
produzidos, principalmente, naqueles ligados à teologia do Novo Testamento ou mesmo à
teologia paulina.
I - As Escrituras que Paulo lia
Quando o apóstolo Paulo surgiu no cenário cristão, as escrituras hebraicas, a primeira parte
da revelação divina do Cânon Sagrado, já era uma realidade histórica de mais de
quatrocentos anos.
As escrituras hebraicas compostas dos livros da lei (Torá), dos Escritos e dos Profetas na
classificação do judaísmo, que fora compilada pelo sacerdote-escriba Esdras, no período de
464 - 424 a . C., era a única escritura aceita pelos judeus como canônica na época de Paulo,
bem como até ao dia de hoje.
Devido a cultura grega ter dominado o mundo antigo, surgiu a necessidade dessa Escritura
ser traduzida das línguas originais (hebraico e aramaico) para o grego, o que foi feito entre os
anos de 284 - 247 a . C. em Alexandria no Egito, por setenta anciãos de Israel, segundo a
tradição judaica. Essa versão conhecida pelo nome de Septuaginta, era a escritura usada
livremente pelo povo da época ao contrário do texto em hebraico/aramaico, que tinha o seu
uso circunscrito aos serviços religiosos da Sinagoga e do Santuário.
A Septuaginta distribuiu os livros por assunto, arrumando-os diferentemente da compilação
feita por Esdras, em livros da Lei, livros Históricos, livros Poéticos e livros Proféticos, mas
mantendo-se fiel aos escritos originais.
Paulo, como judeu-romano que era, poliglota, conhecia as Escrituras Hebraicas bem como a
sua tradução para o grego, a Septuaginta. Na escola onde Paulo estudou, a de Gamaliel,
neto do famoso rabino Hillel, fundador da escola liberal de interpretação das Escrituras,
aprendeu os Escritos Sagrados, segundo o seu próprio testemunho: “Eu sou judeu, nasci em
Tarso da Cilícia, mas criei-me aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos
antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós sois no dia de hoje”. At
22.3. Certamente as duas versões das Escrituras eram trabalhadas em sala de aula, na
escola de Gamaliel.
De maneira que, podemos concluir que Paulo conhecia as Escrituras hebraicas e a sua
versão grega e as considerava como a revelação divina, autoritária, verídica e que continha
todo o plano de Deus revelado até então.
Paulo entendia que as Escrituras proféticas tinham o seu cumprimento na pessoa e obra de
Jesus Cristo nosso Senhor, e na sua argumentação para convencer tanto os judeus
apegados ao texto hebraico como aos judeus helenizados, ele fazia uso da mesma de forma
abundante. A mensagem de Paulo tinha uma base escriturística muito forte, isto é o que
entendemos da leitura de textos como os a seguir identificados: “Saulo, porém, mais e mais
se fortalecia e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o
Cristo”. At 9.22. “Mas, alcançando socorro de Deus, permaneço até ao dia de hoje, dando
testemunho, tanto a pequenos como a grandes, nada dizendo, senão o que os profetas e
Moisés disseram haver de acontecer, isto é, que o Cristo devia padecer e, sendo o primeiro
da ressurreição dos mortos, anunciaria a luz ao povo e aos gentios”. At 26.22,23. “Havendo-
lhe eles marcado um dia, vieram em grande número ao encontro de Paulo na sua residência.
Então, desde a manhã até a tarde, lhes fez uma exposição em testemunho do reino de Deus,
procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas”.
At 28.23.
No poderoso sermão pregado na sinagoga de Antioquia, registrado em Atos 13.16-41, Paulo
usou abundantemente as Sagradas Escrituras para provar que o Senhor Jesus Cristo era o
Salvador e que todos os que cressem nele seriam justificados diante de Deus.
Em Tessalônica, Paulo ao pregar o Evangelho fê-lo argumentando em cima das Escrituras:
“Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los, e por três sábados, arrazoou com eles
acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse
e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio”. At
17.2,3. Em Beréia, a argumentação escriturística fora atentamente acompanhada pelos
bereanos, resultando na conversão de muitos deles. No sermão, no areópago em Atenas,
registrado em At 17.22-31, perante uma seleta platéia gentia, Paulo usa as Escrituras para
testificar àqueles homens a graça divina, inclusive fazendo uma incursão na própria cultura
grega, citando um de seus poetas. Em Corinto, na sinagoga que existia naquela cidade,
Paulo testemunha aos judeus, baseado nas Escrituras, que Jesus era o Cristo, o Messias
esperado (At 18.1-5). Em Éfeso (At 19.8), o apóstolo Paulo prega na sinagoga e o livro texto
de seu sermão era as Sagradas Escrituras que chamamos de Antigo Testamento.
Também em seu testemunho pessoal sobre a conversão a Cristo Jesus, Paulo faz alusão ao
antigo texto sagrado.
Diante do exposto, concluímos este assunto, realçando que Paulo era um profundo
conhecedor das Escrituras hebraicas, e que a interpretava corretamente, e que fazia a sua
aplicação de forma contextualizada em suas pregações e ensino ao longo de seu ministério
apostólico.
Essa postura de Paulo acerca da valoração das Escrituras do Antigo Testamento nos faz
refletir sobre a importância dessa parte do Cânon Sagrado bem como do teor das mensagens
pregadas hoje nos púlpitos das igrejas evangélicas e nos campos missionários, muitas delas
fugindo da real veracidade do texto bíblico, bem como de sua aplicação correta.
II - As Escrituras produzidas por Paulo
Deus, segundo o beneplácido de Sua soberana vontade, escolheu o apóstolo Paulo para ser
um dos instrumentos de Sua revelação especial. Paulo, pela graça de Deus, além de ter sido
um eficaz pregador foi também um exímio escritor. Ele produziu sob inspiração divina, treze
dos vinte e sete livros do Novo Testamento. Dentre as suas cartas, nove foram destinadas a
Igrejas organizadas, e quatro a obreiros e colaboradores seus.
Paulo em suas epístolas tratou, praticamente, de todos os grandes assuntos da fé cristã, e
esses ensinamentos consolidaram o corpo doutrinário como nós o conhecemos hoje. A seguir
veremos sucintamente o conteúdo de cada escrito do apóstolo aos gentios:
Carta aos Romanos - A mais formal das cartas escritas por Paulo. A epístola aos
Romanos apresenta, de maneira sistemática, a doutrina da justificação pela fé e suas
ramificações. O tema da epístola é a justiça de Deus (1.16,17). Um bom número de doutrinas
fundamentais da fé cristã é discutido: a revelação natural (1.19,20), a universalidade do
pecado (3.9-20), a justificação pela fé (3.24), a propiciação através do sangue de Jesus
(3.25), a fé (cap. 4), o pecado original (5.12), a união com Cristo (cap. 6), a eleição e rejeição
de Israel (Cap 9-11), os dons espirituais (12.3-8) e o respeito às autoridades (13.1-7).
Carta aos Coríntios (Primeira) - Essa carta é predominantemente prática em sua ênfase,
tratando de problemas espirituais e morais. É um manual prático de teologia pastoral.
Ênfases importantes incluem: o tribunal de Cristo (3.11-15), a habitação do Espírito (6.19,20),
a glória de Deus (10.31), a ceia do Senhor (11.23-34), o amor (Cap. 13), o exercício dos dons
espirituais (cap 12-14) e a ressurreição do corpo (cap 15).
Carta aos Coríntios (Segunda) - Contém detalhes pessoais e autobiográficos da vida de
Paulo (4.8-18; 11.22-33). O tratamento mais importante da contribuição cristã, no Novo
Testamento, é encontrado nos capítulos 8 e 9.
Carta aos Gálatas - O tema justificação pela fé é defendido, explicado e aplicado. Outros
assuntos significativos são a estada de Paulo na Arábia por três anos (1.17), sua repreensão
a Pedro (2.11), a lei como aio ou pedagogo (3.24) e o fruto do Espírito (5.22,23).
Carta aos Efésios - O grande tema dessa carta é o propósito eterno de Deus de estabelecer e
completar o Seu povo, a Igreja de Cristo. Ao desenvolver este tema, Paulo trata da
predestinação (1.3-14), a liderança de Cristo sobre o corpo, como cabeça (1.22,23; 4.15,16),
a Igreja como edifício e templo de Deus (2.21,22), o mistério de Cristo (3.1-21), dons
espirituais (4.7-16), e a Igreja como noiva de Cristo.
Carta aos Filipenses - Uma das mais importantes passagens doutrinárias do Novo
Testamento é Filipenses 2.5-8; nela Paulo apresenta a doutrina da kenosis - a auto-
humilhação ou auto-esvaziamento de Cristo. É enfatizada a oração (4.6,7). Um retrato
autobiográfico significativo aparece em 3.4-14.
Carta aos Colossenses - O tema é a supremacia e plena suficiência de Cristo. Assuntos
importantes incluem a pessoa e obra de Cristo (1.15-23), heresia (2.8-23) e a união do crente
com Cristo (3.1-4).
Carta aos Tessalonicenses (Primeira) - As passagens chaves desta epístola são
escatológicas, ou seja, relacionadas aos acontecimentos dos últimos dias, como o
arrebatamento da Igreja (4.13-18) e o dia do Senhor (5.1-11).
Carta aos Tessalonicenses (Segunda) - A divisão principal sobre o homem do pecado (2.1-
12) deve ser comparada com outras passagens na Bíblia que falam desse anticristo (Dn 9.27;
Mt 24.15; Ap 11.7; 13.1-10).
Carta a Timóteo (Primeira) - Em relação a Timóteo pessoalmente, o tema da carta é
“combater o bom combate” (1.18). Em relação à Igreja como um corpo, o tema é “a conduta
na casa de Deus” (3.15). Assuntos importantes na epístola incluem a lei (1.7-11), oração (2.1-
8), traje e atividades das mulheres (2.9-15), qualificações para bispos ou presbíteros e
diáconos (3.1-13), os últimos dias (4.1-3), o cuidado para com as viúvas (5.3-16), e o uso do
dinheiro (6.6-19).
Carta a Timóteo (Segunda) - O tema pode ser derivado de 2.3, “um bom soldado de Cristo
Jesus”. Assuntos importantes na carta incluem a apostasia dos últimos dias (3.1-9; cf. 1 Tm
4.1-3), a inspiração das Escrituras (3.16), e a coroa da justiça (4.8).
Carta a Tito - Tópicos importantes discutidos nesta carta incluem as qualificações para o
presbiterato (1.5-9), instruções a várias faixas etárias na Igreja (2.1-8), relação entre a
regeneração, as obras humanas e o Espírito (3.5).
Carta a Filemom - É a mais pessoal das cartas de Paulo. O apóstolo Paulo intercede por um
escravo que se tornara cristão.
Em algumas dessas cartas, observa-se o grande interesse de Paulo em consolidar e
estruturar as Igrejas conforme os textos encontrados em 2 Co 11.2,3; 1 Co 4.17; Gl
4.19,20; ...
Paulo com os seus escritos deu uma contribuição extraordinária à obra missionária,
considerando que fazer missões é muito mais do que pregar o Evangelho, mas também
edificar igrejas autóctones, sadias, equilibradas. Os ensinos de Paulo em suas cartas têm a
finalidade de atender essa necessidade, ou seja, fornecer um padrão estabelecido por Deus
para a obra missionária, padrão esse que é o paradigma nessa área em todas as épocas.
III - A mensagem do Evangelho pregada por Paulo
A mensagem pregada por Paulo em seus sermões e escritos tinha como pontos centrais a
morte e a ressurreição do Senhor Jesus Cristo, conforme os textos a seguir identificados: “e,
embora não achassem nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto.
Depois de cumprirem tudo o que a respeito dele estava escrito, tirando-o do madeiro,
puseram-no em um túmulo. Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos”. (At 13.28-30).
“expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre
os mortos, e que este é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio”. At 17.3. “Porquanto
estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça por meio de um varão que
destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. At 17.31.
Na apresentação da essência do Evangelho, quando escrevia aos Romanos e aos
Corintios, Paulo disse: “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa
justificação”. Rm 4.25. “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho
anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis pelo qual também
sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão.
Porque primeiro vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados,
segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras”. 1 Co 15.1-4.
O Evangelho de Cristo que significa boas novas de salvação em Jesus Cristo, que
segundo Paulo é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16,17), é a
mensagem redentora proporcionada pela morte de Jesus Cristo que, de acordo com o
apóstolo, tinha as seguintes características teológicas:
1) Uma morte expiatória - A expiação é a anulação da culpa ou a remoção do pecado por
meio de alguma interposição meritória. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em
madeiro”. Paulo vê a morte do Senhor Jesus Cristo como uma morte expiatória. Em várias
referências, ele associa distintamente a morte de Cristo com o ritual e conceito de sacrifício
do Antigo Testamento. Em Romanos 3.25, Paulo faz uma alusão direta a oferenda de pecado
que era apresentada pelo sumo sacerdote no grande Dia da Expiação. Ele descreve a morte
de Cristo como oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. (Ef 5.2). O aspecto expiatório da
morte de Cristo é visto nas freqüentes referências ao Seu sangue, conforme Rm 3.25; 5.9; Ef
1.7; 2.13 e Cl 1.20.
2) Um sacrifício pelos pecados - a morte de Cristo foi um sacrifício eficaz a favor do pecado
do mundo inteiro. Por conseguinte, cada membro da raça humana nasce sobre a sombra
protetora da cruz. Assim como a culpa do pecado de Adão é atribuída a posteridade do
mesmo, sem a ratificação ou repudio pessoal dessa posteridade, assim sua posteridade se
torna compartilhadora do mérito da ação obediente de Cristo na redenção, no que se refere a
culpa devida pelo pecado de Adão, a despeito de sua aprovação ou desaprovação pessoal. A
morte de Jesus Cristo é, potencial e provisionalmente, um sacrifício em favor dos pecados do
mundo. Nesse sentido, Ele provou a morte a favor de todo homem e a si mesmo se deu em
resgate por todos, e é o Salvador de todos os homens. “Lançai fora o velho fermento, para
que sejais nova massa, como sois de fato sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro
Pascoal, foi imolado”. 1 Co 5.7
3) Uma morte vicária - A morte de Cristo não foi acidental, nem foi um martírio, nem foi
motivada porque a merecesse, mas foi uma morte em favor de outros, e não foi por sua
própria causa que ele morreu. “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras”. 1
Co 15.3. A idéia aqui apresentada é de que o sacrifício de Cristo foi um sacrifício vicário, isto
é, em favor de outros. Cristo não morreu pelos seus próprios pecados porque não os tinha. A
sua morte não foi um acidente, nem foi a morte de um mártir, mas sim uma morte em favor
dos outros. Essa é a idéia transmitida por Paulo apreendida da leitura dos textos encontrados
em: 1 Ts 5.10; Rm 5.8; 8.32; Ef 5.2 e Gl 3.13.
4) Uma morte redentora - O termo resgate pressupõe o livramento por meio de um substituto,
de um cativo ou devedor incapacitado de efetuar seu próprio livramento. Segue-se,
naturalmente, que a emancipação e a restauração resultam do pagamento do resgate. Cristo
remiu-nos da maldição imposta por uma lei desobedecida, ao fazer-se maldição em nosso
lugar. Sua morte foi o preço do resgate que foi pago. “Vindo, porém, a plenitude do tempo,
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam
sob a lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”. Gl 4.4,5. O homem, segundo Paulo, está
sob o controle do pecado, sendo seu escravo. A morte redentora de Cristo o libertou da
escravidão do pecado, do império das trevas e o transportou para o reino do Filho do seu
amor (Cl 1.13). A idéia geral é que essa redenção foi possível graças ao preço pago por ela,
a morte de Jesus. Os textos de Paulo que consolidam o assunto, são: Tt 2.14; 1 Tm 2.6; Rm
3.24,25; Ef 1.7; l Co 6.19,20; 1 Co 7.22,23; Gl 3.13; 4.4;5.
5) Uma morte propiciatória - O caráter propiciatório da morte de Jesus é adiante apoiado pelo
texto de Rm 3.25,26. A morte de Cristo foi um ato de justiça, uma demonstração de que Deus
era de fato um Deus justo. A ira de Deus contra o pecador fora aplacada pela morte de Seu
filho. Uma propiciação foi concedida, para livrar os homens da ira de Deus, que é revelada
nos céus contra toda sorte de impiedade e injustiça dos homens (Rm 1.18).
6) Uma morte substitutiva - O nosso Senhor sendo inocente (2 Co 5.21) não tinha porque
morrer como morreu. Sua morte não foi o resultado de seu próprio pecado ou culpa; ela foi
sofrida no lugar de outros, que eram culpados e mereciam morrer. Por causa de sua morte
não merecida, os pecadores são libertados da condenação à morte e da experiência da ira de
Deus que eles grandemente mereciam. Os textos de Paulo sobre o assunto encontram-se
em: Gl 2.20; 1 Tm 2.6; 2 Co 5.15; Gl 3.13.
O segundo ponto sobre o qual a mensagem do Evangelho está fundamentada, segundo a
ótica paulina, é a ressurreição de Cristo. No entendimento de Paulo, a ressurreição de Cristo
autenticou a eficácia da obra redentora realizada na cruz do Calvário. A ressurreição de
Cristo está tão intimamente ligada a Sua morte que os apóstolos dentre eles, Paulo,
entendiam que uma não podia existir sem a outra. Eles diziam que era impossível que Jesus
fosse retido pela morte (At 2.24) ou que era necessário que assim acontecesse, pois, estava
escrito que o Cristo deveria morrer e que ressuscitaria no terceiro dia. (At 2.25-31).
O apóstolo Paulo que ministrou sob a direção e inspiração do mesmo Espírito que operara
nos outros apóstolos, estava alinhado com a idéia da importância crucial da ressurreição de
Jesus no programa redentor de Deus. Nas suas pregações, Paulo fazia referência à
ressurreição do Senhor tanto quanto à Sua morte ignominiosa. “Depois de cumprir tudo o que
a respeito dele estava escrito, tirando-o do madeiro, puseram-no em um túmulo. Mas Deus o
ressuscitou dentre os mortos”. At 13.29,30. “Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e,
por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido
necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos”. At 17.2,3. “Porquanto
estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que
destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. At 17.31.
Segundo Paulo, esse ponto era de fundamental importância para a redenção do pecador. Na
sua argumentação acerca da ressurreição do salvo, no capítulo 15 de sua primeira carta aos
Coríntios, embasando o assunto, fazendo referência a ressurreição de Cristo ele nos revelou
a importância dela na mensagem do Evangelho, conforme registros encontrados a seguir:
a) Quanto à confiabilidade do Evangelho - “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa
pregação ...” 1 Co 15.14;
b) Quanto à validade da fé salvadora - “E, se Cristo não ressuscitou ... também é vã a vossa
fé”. 1 Co 15.14.
c) Quanto à justificação do crente - “O qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou
para nossa justificação”. Rm 4.25.
d) Quanto à salvação eterna da pessoa - “A saber: se com a tua boca confessares ao Senhor
Jesus e, em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos serás salvo”. Rm 10.9. “E,
se Cristo não ressuscitou ... os que dormiram em Cristo estão perdidos”. 1 Co 15.17,18.
e) Quanto à ressurreição do salvo - “Mas, agora, Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito as
primícias dos que dormem”. 1 Co 15.20. “Mas cada um por sua ordem: Cristo, as primícias;
depois os que são de Cristo na sua vinda”. 1 Co 15.23.
Concluímos este ponto do trabalho, enfatizando que a mensagem pregada por Paulo e pelos
seus colegas apóstolos era a pura mensagem do Evangelho de Cristo, que de forma
autoritária dizia que as boas novas para redenção do homem fora possível graças à morte e à
ressurreição do Senhor. “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei; o qual
recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra
tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que
também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi
sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. 1 Co 15.1-4.
Contextualizando o assunto, entendemos que a Igreja da atualidade deve se espelhar em
Paulo e voltar a pregar a verdadeira mensagem do Evangelho, fazendo ver a todos que Cristo
morreu pelos pecados e ressuscitou para a justificação do homem, conforme o apóstolo
escreveu em Romanos 4.25.
IV - O ensino Paulino visando o crescimento harmonioso da obra missionária.
No entendimento de Paulo, a obra missionária não se restringia apenas à pregação do
Evangelho, mas também arregimentar os salvos, organizando-os em ekklesias e
estruturando-os para que pudessem se edificar mutuamente, visando um crescimento
espiritual sadio.
Paulo não entendia a obra missionária apenas como campanhas evangelísticas itinerantes,
mas como um profundo trabalho local, autóctone. Na sua vida como ministro do Evangelho se
percebia isso de forma clara. No livro de Atos dos Apóstolos (14.23), na sua primeira viagem
missionária, encontramo-lo promovendo a eleição de liderança para que o trabalho tivesse a
sua forma adequada conforme o propósito de Deus. “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a
eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em que
haviam crido”. Essa era a sua prática: Pregava o Evangelho, as pessoas se convertiam e, à
medida que o grupo crescia, Paulo tratava logo de organizar uma igreja, instituindo sua
liderança - os Presbíteros, que haveriam de tomar conta do trabalho dali por diante.
Em suas instruções a Timóteo e a Tito, dois ministros do Evangelho, seus colegas, Paulo
trata da questão. Na carta a Timóteo ele traça o perfil dessa liderança presbiterial bem como
da liderança diaconal, que haveriam de gerir os negócios da Igreja cada um na sua área
específica de atuação (1 Tm 3.1-13). Na carta a Tito, Paulo orienta aquele ministro a,
democraticamente, escolher com os membros da Igreja os Presbíteros, traçando também o
perfil dos mesmos (Tt 1.5-9).
Esse posicionamento de Paulo, dirigido pelo Espírito Santo, consolidava a obra missionária,
porque a tendência natural da igreja organizada era crescer e avançar na pregação do
Evangelho. “Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor não só na Macedônia e Acaia,
mas também por toda a parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não
termos necessidade de acrescentar coisa alguma”. 1 Ts 1.8. “Desde que ouvimos da vossa fé
em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos; por causa da esperança
que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do
evangelho, que chegou até vós: como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e
crescendo, tal qual acontece entre vós, ...”. Cl 1.4-6.
Sabia Paulo que, uma coisa era uma pessoa sozinha pregar o Evangelho, ou mesmo fazer
isso acompanhado de outra pessoa, mas outra era o esforço feito na pregação do Evangelho
por uma igreja organizada, contando com a colaboração de seus membros e congregados,
todos imbuídos de um só propósito de fazer o reino de Deus avançar neste mundo. Paulo
tinha conhecimento de que esse esforço organizado pela comunidade eclesial produzia o
crescimento numérico da mesma para a glória de Deus.
Além disso, preocupava-se o apóstolo do Senhor com o crescimento espiritual (qualitativo),
através dos dons espirituais distribuídos por Deus a Igreja, conforme os registros encontrados
em suas cartas destinadas aos Romanos (Rm 12.6-8), aos Coríntios (1 Co 12.4-11) e aos
Efésios (Ef 4.10-16).
Na compreensão de Paulo, os dons espirituais de diversas naturezas, principalmente os dons
de liderança, foram dados visando o crescimento harmonioso do corpo de Cristo. “E ele
mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros
para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do
seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e
do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da
plenitude de Cristo”. Ef 4.11-13.
Hoje, temos a tendência de exaltar o ministério pastoral como completo em si mesmo e capaz
de atender a todas as áreas da Igreja. Paulo não pensava assim. No seu entendimento, os
dons eram diversos, inclusive os de liderança, e dados a pessoas diferentes, com a finalidade
como já dissemos, de promover o crescimento espiritual da Igreja do Senhor. “Os dons são
diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é
o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em
todos”. 1 Co 12.4-6. “Mas um só e o mesmo Espírito, realiza todas estas coisas, distribuindo-
as, como lhe apraz, a cada um individualmente”. 1 Co 12.11.
Não havia, na ótica paulina, um ministério só que concentrasse todos os dons do Espírito que
seriam usados na edificação da Igreja, e sim uma multiplicidade de ministérios, todos úteis
para o crescimento tanto quantitativo como qualitativo do corpo místico de Cristo - a Igreja.
Paulo compreendia também que a Igreja fora instituída para cumprir diversas funções neste
mundo, sendo as mais importantes a adoração (1 Co 14.1-40), a edificação (Ef 4.11-16), a
evangelização (Rm 1.16,17; 1 Co 9.16) e a beneficência (2 Co 8, 9; Gl 6.9,10; 2 Ts 3.13).
V - O Ensino Paulino enfocando a questão social
O apóstolo Paulo, o instrumento de Deus, usado para a produção da maior parte dos escritos
do Novo Testamento, não deixou escapar esse assunto de tão relevância na vida da Igreja
aqui neste mundo. Paulo não somente trabalhou a questão espiritual em todas as áreas, mas
dedicou uma boa parte de seus escritos para trabalhar essa questão que muitos acham que
não merece atenção. Ele tinha uma visão holística da Igreja, ou seja, via a Igreja em todas as
áreas, tanto no plano espiritual quanto no plano do cotidiano da vida social da mesma, e
assim, movido pelo Espírito e pela visão que tinha, feriu esse assunto para servir de regras
ou normas para obediência da comunidade eclesial, principalmente no que se refere ao seu
testemunho.
Paulo entendia que a pessoa mesmo se tornando crente pela graça de Deus, regenerada,
cidadã do Céu, assentada nos lugares celestiais em Cristo Jesus, possuidora da vida eterna,
herdeira de Deus, continuaria a viver na sociedade durante um tempo determinado por Deus.
Enquanto vivessem no mundo, essas pessoas estavam inseridas dentro de um contexto
social do qual eram participantes ativos. Não há no ensino paulino aquela idéia de
isolamento, de reclusão visando uma busca de uma vida santificada, afastada das pessoas
que vivem no mundo. O que Paulo ensinava era que os crentes vivessem dentro do contexto
social, com uma vida ilibada, santa, deixando transparecer neles a glória de Cristo.
Assim sendo, investiguemos nos escritos de Paulo, os assuntos sociais a seguir identificados:
1) A Escravidão - Esse assunto que para nós do século XXI é um anátema, era para o mundo
antigo uma realidade aceita e vivenciada, inclusive nos dias de Paulo. Interessante observar
que Paulo sendo um homem capacitado por Deus, com uma ética cristã refinada, não pregou
nenhuma rebelião armada ou de qualquer outra maneira nem fomentando uma revolução dos
escravos, visando a liberdade. Quando feriu o assunto, ele o fez de forma sutil,
principalmente, no que tange as comunidades evangélicas das quais sentia-se responsável
como apóstolo diante de Deus. Isso é o que entendemos analisando os seus escritos. “Foste
chamado, sendo escravo? Não te preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre,
aproveita a oportunidade. Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do
Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo”. 1 Co
7.21,22. Observem no texto citado, que Paulo alertava os crentes escravos a que se
aparecesse a oportunidade de se tornarem livres, deveriam aproveitá-la.
Noutra escritura, na carta a Filemon, Paulo fez uma calorosa petição a um crente identificado pelo
nome de Filemon em favor de um escravo foragido chamado Onésimo, que o apóstolo ganhara para
Cristo quando ambos estavam na prisão em Roma. Nessa carta, Paulo nivela em Cristo a diferença
social existente na época, conclamando a Filemom a receber Onésimo não mais como escravo mas
como irmão caríssimo no Senhor. “Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões; o
qual noutro tempo te foi inútil, mas agora a ti e a mim muito útil; eu to tornei a enviar. E tu tornas a
recebê-lo como às minhas entranhas ... não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão
amado, particularmente de mim: e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor? Assim pois, se
me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo”. Fm 10-17.
2) As Relações Trabalhistas - Outro tema abordado por Paulo, dentro da questão macro
social, foi o tema das relações trabalhistas, ou seja, a relação entre patrão e servo, entre
servo e patrão, no que se refere a execução dos trabalhos e na retribuição pertinente. Paulo,
se revelou através de suas instruções como expert em gerência de recursos humanos,
quanto tratou da questão. Sabia ele das tensões nessa área, por isso visando sempre a glória
de Deus e as relações harmoniosas dentro da comunidade evangélica, legislou sobre o
assunto em três de suas cartas.
Na carta aos Efésios, o grande apóstolo escreveu dirigindo-se aos empregados ou servos
nestes termos: “Quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne com
temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como
para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus;
servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens, certos de que cada um, se
fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor, quer seja servo, quer livre”. Ef
6.5-8. E aos patrões, assim: “E vós, senhores, de igual modo procedei para com eles,
deixando as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está nos céus e que
para com ele não há acepção de pessoas”. Ef 6.9.
Na carta aos Colossenses, Paulo escreveu dirigindo-se aos servos nestes termos:
“Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob
vigilância, visando tão somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao
Senhor. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, temendo ao Senhor. Tudo quanto
fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que
recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, Senhor, é que estais servindo; pois
aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de
pessoas”. Cl 3.22-25. Dirigindo-se aos patrões, Paulo disse: “Senhores, tratai os servos com
justiça e com equidade, certos de que também vós tendes Senhor no céu”. Cl 4.1.
Na primeira carta a Timóteo, Paulo também trata dessa questão, geralmente
tempestuosa: “Todos os servos que estão debaixo de jugo estimem a seus senhores por
dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados. E os
que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes os sirvam melhor,
porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados, Isto ensina e exorta”. 1 Tm
6.1,2.
Os crentes da atualidade também devem se pautar por essas instruções de Paulo,
porque foram inspiradas pelo Espírito Santo e entregue a Igreja para obediência. Nessa
relação, que muitas vezes torna-se tempestuosa e angustiante, os servos de Deus, tanto no
seu papel de senhor como no papel de servo, devem se portar convenientemente para que o
nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados.
3) A Obediência às Autoridades - No entendimento de Paulo, a sociedade organizada, com
as suas autoridades constituídas eram dádivas de Deus, para possibilitar o funcionamento
ordeiro da vida social da mesma. Paulo compreendia e ensinava que toda a autoridade era
constituída por Deus, e por isso a obediência a ela se fazia necessária e quem resistisse as
autoridades, estava resistindo a Deus. “Todo o homem esteja sujeito as autoridades
superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que
existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste a
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmo condenação”. Rm 12.1,2. É
interessante observar que a carta de Paulo que trata com mais profundidade a questão da
obediência às autoridades, aos Romanos, foi escrita a uma Igreja que estava sob a jurisdição
política, econômica e social, daquilo que era considerado o centro do império romano - a
cidade de Roma, governada, na época, por um dos seus mais cruéis e desajustados
governantes, Nero. Escrevendo a Tito (3.1), o apóstolo orientou aquele ministro do Evangelho
a instruir a igreja que pastoreava a que se sujeitasse as autoridades e as obedecesse.
Paulo ensinava também que os crentes orassem pelas autoridades constituídas para que
a comunidade tivesse uma vida quieta e sossegada. “Admoesto-te pois, antes de tudo, que
se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens; pelos
reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e
sossegada, em toda a piedade e honestidade. Porque isto é bom e agradável diante de Deus
nosso Salvador”. 1 Tm 2.1-3.
Evidentemente, que quando Paulo levava os crentes nessa direção, ele o fazia com
critério, porque sabia que a obediência às autoridades não era de uma forma incondicional e
que deveria ser feita desde que as leis humanas não colidissem com a lei maior que é a
Palavra de Deus. Muitas coisas ruins, comprometedoras e nocivas à fé eram legisladas no
império romano como, por exemplo, o culto ao imperador. É claro que a obediência nesse
caso não era obrigatória aos olhos de Deus, pois a Bíblia diz que só Deus deve ser adorado.
“... Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto”. Mt 4.10.
Paulo, ainda sobre o assunto, tratou da questão de pagamento de tributos, como uma
obrigação legal de todos, inclusive dos membros da Igreja. Escrevendo aos Romanos, disse
o apóstolo do Senhor: "Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de
Deus, atendendo, constantemente, a esse serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem
tributo, tributo; a quem imposto, imposto: ...". Rm 13.6,7.
A fraude e a sonegação fiscal estavam fora, na ótica paulina, da ética cristã vivenciada e
ensinada pelo apóstolo.
4) A Beneficência ou ação social da Igreja - Outra questão social trabalhada por Paulo em
suas cartas, foi a questão da beneficência. O apóstolo entendia e ensinava que os irmãos
mais abastados financeiramente deveriam ajudar aos irmãos carentes. A ênfase apostólica
era de que a ajuda fosse de individuo para individuo. "Por isso, enquanto tivermos
oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé". Gl 6.10.
Escrevendo a Timóteo, Paulo voltou a ferir a questão. "Se algum crente ou alguma crente tem
viúvas, socorro-as, e não se sobrecarregue a igreja ...". 1 Tm 5.16. Ainda nessa mesma carta,
quando fazia referência àqueles irmãos a quem Deus dera abastança, Paulo disse: "que
pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prestos a repartir; ..." 1 Tm
6.18.
Paulo entendia, ainda, que a responsabilidade social não era só do crente enquanto
indivíduo, mas de toda a comunidade cristã organizada. Isto percebemos da leitura dos
textos: "Se algum crente tem viúvas em sua família, socorro-as e não sobrecarregando a
igreja, para que esta possa socorrer as que são verdadeiramente viúvas". 1 Tm 5.16. Nessa
mesma carta, o apóstolo dá algumas diretrizes a Timóteo quanto ao cadastramento de
crentes carentes para receber a assistência social da Igreja. Na segunda carta aos Coríntios,
o apóstolo leva a Igreja a levantar uma oferta para atender aos santos necessitados de
Jerusalém. (2 Co 8.1-9.15).
É interessante observar que o apóstolo não fez nenhuma observação quanto a causa da
pobreza dos irmãos carentes, quer como comunidade quer como indivíduos. Paulo em
nenhum momento diz que a pobreza foi ocasionada por falta de profundidade na vida
espiritual, ou por pecado cometido. Nem tampouco ele diz que todos os crentes deveriam ser
ricos, abastados, cabeça e não pés. Ele não pregava a Teologia da Prosperidade. O seu
coração, cheio do amor de Deus, via apenas a necessidade dos amados do Senhor que
deveriam ser supridas, e usando de todo o seu prestígio e do poder que lhe dera o Senhor,
ele tenta mobilizar a Igreja para ocupar esse espaço tão importante aos olhos de Deus.
Essa preocupação social de Paulo visava, além de atender necessidades específicas, um
viver cristão digno do povo de Deus no meio de uma sociedade corrompida e perversa.

Conclusão
Vimos neste trabalho questões diversas atinentes a vida ministerial do apóstolo Paulo,
registradas no cânon do Novo Testamento. Procuramos mostrar que Paulo era um profundo
conhecedor das Escrituras do Antigo Testamento e as usava nas suas pregações e
argumentações teológicas. Vimos também que Paulo foi um exímio escritor, produzindo sob
inspiração divina treze dos vinte e sete livros do Novo Testamento e que essas escrituras
contribuíram para a consolidação do corpo doutrinário da Bíblia. Vimos ainda que Paulo
pregava a mensagem do Evangelho em sua essência, em sua pureza, fundamentando-a na
morte e na ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Trabalhamos também a questão do
crescimento da Igreja tanto no seu aspecto quantitativo como no seu aspecto qualitativo,
segundo a ótica paulina e por fim tratamos da questão social segundo fica subentendida da
leitura das cartas daquele servo de Deus.
Essas questões trazidas à luz, faz-nos refletir sobre o posicionamento das igrejas da
atualidade e da obra missionária em geral quanto aos assuntos tratados neste trabalho.
Pensamos que todos nós devemos fazer uma releitura dos escritos de Paulo e deixarmos que
eles nos pautem a vida, para que possamos viver de uma forma que realmente agrade a
Deus. Se assim fizermos, temos certeza de que as nossas vidas e as nossas comunidades
evangélicas viverão de maneira que o nome do Senhor Jesus será nelas glorificado e que
serão mais eficazes na realização da obra missionária.

Bibliografia

____________ Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida.


Revista e Corrigida no Brasil, com letras grandes. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do
Brasil, 1998.
____________ Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida.
Atualizada no Brasil, com letras grandes. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, com
letras grandes. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1998.
BANCROFT, Emery H. Teologia Elementar. Traduzido por João Marques Bentes. São
Paulo: Imprensa Batista Regular, 1966.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol 2 e 5. Traduzida por
João Marques Bentes. São Paulo: Editora e Distribuidora Candeia, 1991.
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Traduzido por Darci Dusilek e Jussara
Marindir Pinto Simões Árias. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações,
1985.

Postado por Rev. Eudes Lopes Cavalcanti às 10:54 0 comentários Links para esta postagem
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