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DA IGREJA
John Stott
UNITED
PRESS
Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................. 6
Carta à igreja de Éfeso: ............................................................. 16
Carta à igreja de Esmirna: ......................................................... 27
Carta à igreja de Pérgamo: ........................................................ 39
Carta à igreja de Tiatira: ............................................................ 53
Carta à igreja de Sardes: ............................................................ 65
Carta à igreja de Filadélfia: ....................................................... 78
Carta à igreja de Laodicéia:....................................................... 90
CONCLUSÃO ........................................................................... 101
Prefácio
O que Cristo pensa da igreja é uma questão de grande interesse para
todos os cristãos. O que nós mesmos pensamos dela, de uma perspectiva
interna, e o que outros que estão fora dela pensam dela, são opiniões
igualmente importantes. Porém, muito significativa é a visão do próprio
Jesus Cristo, uma vez que Ele é o fundador, cabeça e julgador da igreja.
A igreja é, sob todos os pontos de vista, um fenômeno extraordinário.
Desde seu humilde começo na Palestina, ela se desenvolveu ao longo dos
séculos em uma comunidade única, multirracial, multinacional e
multicultural. Outras religiões são corretamente denominadas “étnicas”,
porque são geralmente limitadas a povos particulares; somente o
cristianismo pode realmente ser considerado universal, pois Jesus Cristo
conquistou adeptos de todas as raças, classes sociais e religiões. Além disto,
a comunidade cristã continua a crescer, em muitos lugares rapidamente,
embora algumas vezes esse crescimento não tenha profundidade.
Assim, o que Cristo pensa de Sua igreja? Felizmente não nos falta
meios para responder a esta pergunta, porquanto o Novo Testamento contém
muitas informações sobre os propósitos de Cristo para Seu povo. De Suas
próprias palavras registradas nos Evangelhos, do retrato da Igreja Primitiva
pintado por Lucas, no livro de Atos, e das instruções pormenorizadas dos
apóstolos em suas cartas podemos colher muita coisa sobre a natureza e
funções da igreja.
Mas há outro recurso à nossa disposição, que tende a ser
negligenciado, ou seja, o livro do Apocalipse. Seus capítulos dois e três
contêm sete cartas, cada uma delas endereçada a uma comunidade cristã
particular do primeiro século, na província romana da Ásia. Embora essas
cartas tenham sido escritas por João, afirma-se que foram transmitidas a ele
diretamente pelo Cristo ressurreto e glorificado. Apesar de sua mensagem
referir-se às situações específicas daquelas igrejas, ela expressa
preocupações que se aplicam a todas igrejas. Por meio de aprovação e
censura, advertência e exortação, Cristo revela desejar que Sua igreja seja
igual em todos os lugares e em todos os tempos.
O conteúdo deste livro foi usado primeiramente de forma embrionário
como uma série de sermões expositivos na All Souls Church, Langham
Place, Londres, em 1957. Ele foi em seguida elaborado e publicado no ano
seguinte. Porém agora, passados 30 anos, foi inteiramente revisado, e o texto
bíblico exposto foi mudado para a Nova Versão Internacional.
Minha oração, ao entregar esta nova edição ilustrada, é que ela possa
ajudar os líderes da igreja a perceber onde se fundamentam as prioridades de
Cristo. Há muito neste texto para chamar-nos a arrependimento e à
renovação, muito para humilhar-nos e envergonhar-nos, muito para
acautelar-nos da malícia de nosso inimigo, e muito para incitar-nos à firmeza
e à perseverança. Possa Cristo falar novamente a nossas igrejas as verdades
que expôs às igrejas da Ásia há séculos, e possam nossos ouvidos abrir-se
para ouvir o “que o Espírito está dizendo às igrejas”.
John R. W. Stott
Fevereiro de 1990
Revelação de Jesus Cristo...
Apocalipse 1:1
INTRODUÇÃO
Um mundo estranho
Apocalipse 1:1-20
Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos
o que em breve há de acontecer. Ele a tornou conhecida enviando o seu anjo
ao seu servo João, 2que dá testemunho de tudo o que viu — isto é, a palavra
de Deus e o testemunho de Jesus Cristo. 3Bem-aventurado aquele que lê as
palavras desta profecia e aqueles que ouvem e guardam o que nela está
escrito, porque o tempo está próximo.
Saudação e Doxologia
7
eram como chama de fogo. 15Seus pés eram como o bronze numa fornalha
ardente e sua voz como o som de muitas águas. 16Tinha em sua mão direita
sete estrelas, e da sua boca saía uma espada afiada de dois gumes. Sua face
era como o sol brilhando em todo o seu fulgor. 17Quando o vi, caí aos seus
pés como morto. Então, ele colocou sua mão direita sobre mim e disse: "Não
tenha medo. Eu sou o primeiro e o último. 18Sou aquele que vive; estive
morto mas agora estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte
e do Hades. 19"Escreva, pois, as coisas que você viu, tanto aos presentes
como as que estão por vir. 20Este é o mistério das sete estrelas que você viu
em minha mão direita e dos sete candelabros: as sete estrelas são os anjos
das sete igrejas, e os sete candelabros são as sete igrejas."
As sete cidades
8
Este contexto histórico para o livro do Apocalipse, entretanto, não
pode limitar sua importância. Assim como as cartas de Paulo (por exemplo)
aos Coríntios e Tessalonicenses transmitem a palavra de Deus aos crentes de
Corinto e Tessalônica tanto quanto aos crentes de hoje, em Londres, Nova
Iorque ou Cairo, assim também as cartas de Cristo por meio de João para as
comunidades cristãs do primeiro século têm um valor permanente e uma
mensagem universal. Os comentaristas não deixam de observar que as
igrejas asiáticas somavam sete, um número que indica perfeição e
integralidade, em um livro cujos números são quase sempre simbólicos. As
sete igrejas da Ásia, embora históricas, representam as igrejas locais de todas
as épocas e de todas as nações.
Perseguição sistemática
9
primeiramente por Nero. As perseguições de Nero tinham sido esporádicas;
as de Domiciano parecem ter sido mais sistemáticas. Os efeitos do
antagonismo de Nero foram sentidos somente em Roma, ao passo que sob
Domiciano, que era ávido por honras divinas, a perseguição espalhou-se pela
Ásia. Os cristãos que adoravam a Jesus Cristo como Senhor estavam sendo
convidados a adorar a César como Senhor. A batalha estava começando. O
coração do povo cristão estava cheio de sobressalto. Alguns de sua
comunidade estavam recebendo insultos pessoais. Outros estavam sendo
boicotados nos negócios. Um ou dois tinham até mesmo perdido a vida.
Poderia a Igreja sobreviver à tormenta que parecia prestes a eclodir?
A perseguição não era o único perigo ao qual as igrejas da Ásia
estavam expostas. Era preciso também combater os desvios doutrinários e
vencer o mal. Falsos profetas andavam à espreita, tramando para enganar até
mesmo os cristãos firmes através de suas filosofias heréticas. Homens e
mulheres imorais estavam também contaminando a Igreja com sua
influência, e os padrões de conduta estavam sendo degradados.
As táticas do diabo
10
O Apocalipse começa a tornar-se compreensível somente quando é
visto como a palavra de Deus para seus servos neste contexto. É uma
mensagem à Igreja no mundo. É um chamado a nós para suportar a
tribulação, apegar-nos à verdade, resistir às adulações do diabo e obedecer
aos mandamentos de Deus.
11
domínio sobre Ele. Uma Igreja perseguida, diante da possibilidade de
martírio necessita urgentemente desta certeza.
Em terceiro lugar, Ele é o soberano dos reis da terra (versículo 5). Os
reis terrenos podem procurar destruir a Igreja, mas Jesus Cristo é o Rei dos
reis. Os senhores humanos podem tentar dominar a vida dos cristãos, mas
Cristo é o Senhor dos senhores. Ele dirige os negócios e os destinos das
nações. Ele governa sobre os reis da terra. Seu império é mais amplo que o
poder de Roma. Seu domínio é universal.
Uma doxologia
Sete candelabros
Quem é João?
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Seu relacionamento com elas tornou-se mais íntimo por causa de seus
sofrimentos. Eu, João, escreve ele, sou irmão e companheiro de vocês no
sofrimento e na perseverança em Jesus (versículo 9). Ele está na ilha de
Patmos, não como visitante nem como missionário, mas como exilado. Foi
para essa “ilha estéril, rochosa, com cerca de 16 quilômetros de comprimento
e oito de largura” (R. H. Charles) que ele foi banido por causa da palavra
de Deus e de seu testemunho sobre Jesus. Ele tinha sido ousado em sua
pregação e fiel em seu testemunho, por isso teve de sofrer. Ele não escapou
da tribulação que estava sufocando as igrejas da Ásia. Mas se ele
compartilhou do sofrimento, compartilhou também da glória. Ele já se
reconhece como membro do reino de Cristo, assim como elas são, e está
aprendendo a mesma constância e coragem em sua aprovação, a qual ele
deseja sinceramente para as igrejas.
É a tal homem, chamado, escolhido e fiel, um participante dos
sofrimentos, do reino e da paciência de Cristo, que esta revelação
maravilhosa é dada. É uma manifestação de Cristo às igrejas por intermédio
de Seu servo João.
O que Cristo pensa de Sua igreja e o que Ele diz a ela será revelado
em pormenores nos próximos capítulos. Ele tem o direito de pensar e dizer
o que lhe apraz. Em primeiro lugar, ele é Sua igreja. Ele a edificou sobre a
pedra e prometeu que as portas do Hades [inferno] não poderão vencê-la
(Mateus 16:18). Ele é a sua cabeça e a fonte de sua vida. Em segundo lugar,
Ele a conhece intimamente. Em cada uma das sete cartas Ele começa dizendo
“conheço” ou “sei. Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua
perseverança”, diz Ele. “Conheço as suas aflições e a sua pobreza. Sei onde
você vive. Conheço as suas obras, o seu amor e fé, o seu serviço e
perseverança” (2:2,9,13,19). Ele anda entre os candelabros, rodando e
supervisionando Suas igrejas. Ele é o pastor líder de Seu povo.
Qual é, pois, Sua visão da igreja? Em cada uma das cartas que se
seguem, o Senhor redivivo coloca ênfase, quer ao repreender, quer ao
elogiar, sobre um aspecto particular de uma igreja ideal. Juntas, estas
características constituem as sete marcas de uma igreja verdadeira e ativa.
Elas nos dizem o que Cristo pensa de Sua igreja, tanto como ela é quanto
como deveria ser.
15
Você abandonou o seu primeiro amor.
Apocalipse 2:4
Amor
Apocalipse 2:1-7
Éfeso
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Paulo e Éfeso
Timóteo e João
Um elogio
As obras da igreja
A persistência da igreja
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templo e seus recursos investidos levaram-nos a opor-se violentamente a
Paulo (veja Atos 19).
Paulo já havia deixado Éfeso e morrido há muito tempo, mas a
impopularidade do cristianismo ainda perdurava. Os crentes sabiam o
que era ser odiados, desprezados em público e caluniados em sua
vida privada.
Alguns encontravam dificuldades em seus negócios, uma vez que
estavam perdendo compradores. Outros tinham problemas para
comprar, pois muitos comerciantes não lhes vendiam seus produtos.
João escreveria mais tarde em seu livro como, pela influência do
"falso profeta" (ou a "besta da terra"), ninguém
podia comprar ou vender a menos que tivesse a marca da besta (Apocalipse
3:17). Isto significava provavelmente que aqueles que
não aderissem à adoração popular do imperador (ou talvez de Diana) eram
boicotados. Teria havido talvez até mesmo violência física intolerável, bem
como discriminação social.
Todavia, a despeito de toda essa tributação, os
efésios não tinham negado a Cristo. Eles estavam firmes e inabaláveis
em sua fidelidade a Ele. Conheço... a sua perseverança (versículo 2), dizia-
lhes. Esta era sua segunda característica.
A ortodoxia da igreja
19
a Pérgamo, na qual consideraremos seu ensino com mais pormenores, e
provavelmente também por sua implicação nas cartas a Tiatira e Sardes.
Paulo havia advertido os presbíteros da Igreja em Éfeso
que tal invasão por mestres heréticos aconteceria. Durante sua
presença na Palestina, no final da terceira viagem missionária, seu navio
aportou em Mileto, cerca de 60 quilômetros distante, e ele mandou chamá-
los. Em sua exortação a eles, disse: "Sei que, depois da minha partida, lobos
ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre
vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade a fim de atrair
os discípulos para si” (Atos 20:29-30). Agora os lobos haviam chegado.
Feras devoradoras tinham se infiltrado no aprisco. Falsos profetas estavam
disseminando suas doutrinas obscuras e perigosas no meio do povo de Deus.
O que fizeram os cristãos efésios naquela situação? De início,
ouviram. Eles não podiam discernir se o ensino dos nicolaítas tinha vindo de
uma fonte humana, de Satanás, ou de Deus, até que recebessem uma
explicação satisfatória. Mas, depois de ouvir, eles a examinaram
criteriosamente. “Examinaram os espíritos” para ver se eram procedentes de
Deus (1 João 4:1). Estavam determinados a "pô-la à prova", a fim de que
pudessem reter o que era bom e evitar "toda forma de mal" (1
Tessalonicenses 5:21-22). Certamente pensaram, oraram e discutiram. Eles
também examinaram as Escrituras e compararam o ensino daqueles
apóstolos jactanciosos com a mensagem apostólica original que tinham
recebido. Em seguida, após um interrogatório honesto e um exame
meticuloso rejeitaram definitivamente o que os nicolaítas ensinavam.
Eles puseram à prova os que dizem ser apóstolos mas não são e
descobriram que eles eram impostores (versículo 2). Não somente a crença
dos nicolaítas era censurável, mas também seu comportamento. O próprio
Jesus tinha dito que um profeta podia ser reconhecido pelas suas obras, assim
como uma árvore se conhece pelos seus frutos. Assim, os efésios
examinaram as obras dos nicolaítas e passaram a detestá-los. Contudo você
tem isto a seu favor, disse o Jesus ressurreto em sua avaliação, você odeia
as práticas dos nicolaítas, as quais eu também odeio (versículo 6).
Os efésios não tinham sido enganados. Eles possuíam um raro dom de
discernimento. Eram perspicazes. Sua ortodoxia não estava enfraquecida.
Eles não foram tão estúpidos a ponto de supor que a cordialidade cristã pode
tolerar falsos apóstolos. O verdadeiro amor não comunga com o erro nem
com o mal. Acredito que eles não odiaram os nicolaítas; mas odiaram suas
obras e as repudiaram terminantemente.
20
Uma igreja pura
Poucos anos depois esta igreja era ainda reputada pela pureza de sua
doutrina. O bispo Inácio de Antioquia escreveu a seus membros no início do
segundo século: "Todos vocês vivem de acordo com a verdade, e nenhuma
heresia existe entre vocês; certamente vocês nem mesmo ouvem alguém que
fala de qualquer coisa que não diga respeito a Jesus Cristo."
Que igreja esplêndida a comunidade cristã em Éfeso parecia ser!
Parecia ser um modelo de igreja em todos os aspectos. Seus membros eram
ocupados em seu serviço, pacientes em seus sofrimentos e ortodoxos cm sua
crença. O que mais podia ser requerido deles? Somente uma coisa estava
faltando, e Jesus Cristo pôs seu dedo suavemente sobre ela. Assim fazendo,
Ele se obrigava a passar do elogio à censura.
Uma censura
Noiva de Deus
Deus muitas vezes comparou Israel à sua noiva e Ele mesmo ao seu
noivo ou esposo. Ele fixou nela o seu amor. Quando ela estava "em tempos
de amores" (Ezequiel 16:8), Ele a tomou como sua. Ele lhe fizera juramento
e entrou em aliança com ela. Mas ela começou a flertar com outros amantes,
os deuses cananeus. Ela procedeu como uma prostituta com eles. Ela se
tornou infiel e abandonou seu verdadeiro marido. Assim Jeremias proclamou
a palavra do Senhor aos ouvidos dos habitantes de Jerusalém: "Lembro-me
de ti, da tua afeição quando eras jovem, e do teu amor quando noiva, e de
como me seguias no deserto, numa terra em que se não semeia" (Jeremias
2:2).
21
No Novo Testamento, o novo Israel de Deus (a Igreja)
semelhantemente representado como desposado com Cristo, exatamente
como o velho Israel era desposado com Jeová. "Eu os prometi a um único
marido, Cristo", Paulo escreveu aos coríntios, "querendo apresentá-los a Ele
como uma virgem pura. O que receio, e quero evitar, é que assim como a
serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se
desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo" (2 Coríntios 11:2-3). Foi esta
mesma tendência que estava evidente em Éfeso, e o Noivo Celestial tinha de
se queixar disto. Aquela primeira sensação de enlevo e êxtase tinha passado.
Sua antiga devoção a Cristo havia esfriado. Eles tinham amado
verdadeiramente a Cristo, mas agora arrefeceram esse amor.
Primeiro amor
Por isso o Noivo procura cortejar sua noiva para voltar ao seu primeiro
amor, Com a mesma ternura que Jeová mostrou à volúvel e adultera Israel,
o Senhor Jesus apela à sua Igreja para que volte para Ele. O profeta Oséias,
que tinha aprendido por meio da agonia da infidelidade de sua própria esposa
quão inextinguível é o amor de Deus, transmitiu a palavra de Deus a Israel:
"Eis que eu a atrairei, e levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração... será
ela obsequiosa como nos dias da sua mocidade e como no dia em que subiu
da terra do Egito. Naquele dia... Ela me chamará: 'Meu marido’...’
Novamente "desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em
justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias: desposar-te-ei
comigo em fidelidade, e conhecerás ao Senhor" (Oséias 2:14-16; 19-20).
O Amante Divino ainda se entristece quando seu amor não é
correspondido, e suspira por nossa adoração contínua, profunda e
amadurecida. O amor, portanto, é a primeira marca de uma igreja verdadeira
e viva. Com certeza, ela de modo algum é uma igreja viva, a menos que seja
uma igreja amorosa. A vida cristã é essencialmente uma relação de amor
com Jesus Cristo. "Jesus capturou-me", escreveu Wilson Carlile, fundador e
"comandante" da Igreja do Exército. "Fará mim, conhecer Jesus é ter um
caso de amor."
Amor imortal
Arrependa-se
Retorne
26
Conheço as suas aflições... Não tenha medo do que você
está prestes a sofrer.
Apocalipse 2:9-10
SOFRIMENTO
Apocalipse 2:8-11
8
Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas são as palavras daquele que
é o Primeiro e o Último, que morreu e tornou a viver. 9Conheço as suas
aflições e a sua pobreza — mas você é rico! Conheço a blasfêmia dos que se
dizem judeus mas não são, sendo antes sinagoga de Satanás. 10Não tenha
medo do que você está prestes a sofrer. Eu lhe digo: o diabo lançará alguns
de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez
dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida. 11Aquele que tem
ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum
sofrerá a segunda morte.
27
uma antiga tradição afirme que o apóstolo Paulo visitou a cidade em seu
caminho para Éfeso no início de sua terceira viagem missionária.
Qual era a mensagem do Senhor ressurreto para Seus servos em
Esmirna?
Cristo e César
28
Oposição dos judeus
• Pobreza
29
necessidades que eles próprios se tornaram pobres. Mas nenhum desses
fatores explica por que sua pobreza era parte de sua aflição.
Parece provável que, em sua decisão de agir
corretamente nos negócios, os cristãos haviam renunciado aos métodos
suspeitos e, por causa disso, perderam alguns dos lucros fáceis, que foram
para as mãos de outros menos escrupulosos do que eles. Ou de novo judeus
e pagãos podem ter-se negado a fazer comércio com eles. Pode não ter sido
fácil para eles encontrar emprego. É mesmo possível que alguns dos cristãos
de Esmirna tivessem tido seus lares saqueados. Talvez possa ter sido escrito
para eles: "Vocês... aceitaram alegremente o confisco dos próprios bens, pois
sabiam que possuíam bens superiores e permanentes" (Hebreus 10:34).
Ainda hoje nem sempre é gratificante ser cristão. E a honestidade a qualquer
preço nem sempre é o melhor procedimento, se o ganho material é nossa
ambição. A pobreza tem frequentemente sido parte do custo do discipulado
cristão.
• Difamação
Conheço a blasfêmia dos que se dizem judeus, mas não são (versículo
9). Os judeus estavam espalhando falsos rumores sobre os cristãos. As
mentes estavam sendo envenenadas. Verdadeiramente ninguém pode domar
a língua; ela é cheia de veneno mortífero (Tiago 3:8). E a calúnia nunca é
fácil de tolerar. Os inimigos de Cristo estavam caluniando seu povo,
"blasfemando" contra eles (é esse o significado dessa palavra grega). Cristo
chama-os de sinagoga não do Senhor, mas de Satanás (versículo 9 compare
com 3:9). Pois eles tinham aprendido as táticas de seu mestre que é mais
tarde chamado o diabo (versículo 10), que significa "o acusador", "o
caluniador". Jesus o tinha chamado de "mentiroso e pai da mentira" (João
8:44), cujos seguidores compartilham sua aversão pela verdade.
A maledicência exerce uma estranha fascinação sobre todos nós.
Como diz o livro de Provérbios: "As palavras do maldizente são comida fina,
que desce para o mais interior do ventre" (Provérbios 26:22). E os descrentes
de Esmirna nutriam-se exageradamente dessas suculentas iguarias. Mas os
cristãos foram profundamente feridos por causa desse abuso. Era doloroso
ser mal interpretado e difamado. Entretanto, não é de duvidar que eles
seguiam os passos de seu humilde Mestre, de quem está escrito: "Quando
insultado, não revidava, quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se
àquele que julga com justiça" (1 Pedro 2:23).
A pobreza e a difamação eram as duas experiências de provação que
a igreja de Esmirna já estava suportando. Mas havia coisas piores pela frente.
30
A isto Cristo agora se refere: Não tenha medo do que você está prestes a
sofrer (versículo 10).
• Prisão
Bem-amado de minh'alma,
Aqui estou a sós contigo;
E minha prisão é um céu,
Desde que estejas comigo.
• Morte
A morte de Policarpo
Destinados a sofrer
Compromisso
33
e incitam a oposição humana. Assim, os pregadores são tentados a silenciá-
las, "para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo" (Gaiatas 6:12).
Os padrões morais de Cristo são também impopulares — honestidade
nos negócios, castidade antes do casamento e fidelidade depois dele,
contentamento em lugar de cobiça, autocontrole e auto sacrifício. Se a Igreja
tivesse de manter tais padrões, ela se encontraria onde realmente é o seu lugar
apropriado — fora dos portões e no deserto. Mas o temor do mundo tem-nos
enlaçado. Nossa tendência é diluir o Evangelho e abaixar nossos padrões, a
fim de não provocar oposição. Amamos o louvor de nossos semelhantes mais
do que o louvor de Deus.
Não estou recomendando que desenvolvamos um complexo de mártir
ou que busquemos provocar oposição. Estou apenas dizendo que, se
fizéssemos menos concessão, indubitavelmente sofreríamos mais. Esmirna
foi uma igreja sofredora porque era uma igreja destemida.
É bom notar que a carta que Cristo dirigiu a Esmirna não era apenas
uma advertência austera de oposição. Com o chamado para sofrer houve a
promessa de graça simultânea. Se Cristo raramente faz oferecimentos sem
exigências, Ele também raramente faz exigências sem oferecimentos. Ele
oferece sua força para capacitar-nos a satisfazer às suas exigências. Assim,
esta carta, que é cheia de sofrimento, está também repleta de conforto e
consolação.
• Ele é eterno
• Ele é vitorioso
Ele diz: conheço as suas aflições (versículo 9). Este fato é fonte de
muito conforto. Uma de nossas grandes necessidades nas tributações é
alguém com quem partilhá-las. Ansiamos por desabafar com alguém que nos
compreende. Pois bem, Jesus Cristo é o maior confidente do mundo.
35
Nenhum confessor, seja ele pai ou amigo, pode trazer-nos a paz e o alívio
que Ele proporciona. Podemos então cantar como os escravos nas amigas
plantações:
• Ele é equilibrado
37
(Tiago 1:2-4; 1 Pedro 1:7). Precisamos, pois, olhar além da provação, para o
propósito, e além da dor do castigo, para seu benefício.
• Ele é generoso
38
Você permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua
fé em mim...
Apocalipse 2:13
VERDADE
Apocalipse 2:12-17
Cristo inicia Sua carta à igreja de Pérgamo com a afirmação Sei onde
você vive (versículo 13). Seu conhecimento das igrejas depende de sua
presença no meio delas. Ele as conhece porque anda no meio delas.
Certamente, seu íntimo conhecimento delas estende-se além de suas obras
(como em Éfeso) e sua tribulação (como em Esmirna) até o ambiente em que
viviam. Sei onde você vive, diz Ele. Ele está ciente de que seu povo está
rodeado de uma sociedade não-cristã e exposto de todos os lados à pressão
dos padrões e valores do mundo. Seu pequeno barco é fustigado pelos ventos
e ondas de doutrinas estranhas. Sua fortaleza bombardeada pelo fogo da
artilharia de seitas estrangeiras. Os cristãos sentem-se sitiados.
39
Pérgamo
O culto imperial
40
Preocupação de Cristo pela verdade
Amor e verdade
A verdade importa?
Antipas, o mártir
Nicolaítas e balaamitas
Caricatura da verdade
A destruição de Satanás
Mas Satanás e suas forças têm sido derrotados. Cristo viu Satanás
caindo do céu como relâmpago, e João mais tarde, no Apocalipse, retrata
como o dragão e seus anjos, após serem vencidos por Miguel e seus anjos,
foram "lançados fora". Na cruz Jesus enfrentou e venceu todos os poderes
do mal. Quando o oprimiam, Ele despojou-os de seus poderes e autoridades,
como se fossem uma veste imunda, e "fez deles um espetáculo público,
triunfando sobre eles na cruz". Ali a cabeça de Satanás foi esmagada, embora
ao fazê-lo o calcanhar de Cristo tenha sido ferido (Lucas 10:18; Apocalipse
12:7-12; Colossenses2:15; Gênesis 3:15).
A despeito de sua derrota, os poderes das trevas não a reconheceram;
eles continuam a lutar pela posse de cada centímetro de seu território. O reino
de Satanás retrocede somente quando o reino de Deus avança. Em alguns
lugares ele mantém domínio incontestável. Pérgamo era um desses
lugares. Sei onde você vive, disse Jesus à igreja, você vive... onde Satanás
habita (versículo 13). Seus numerosos templos, santuários e altares, seu
labirinto de filosofias anticristãs, sua tolerância para com os contraditórios
nicolaítas e balaamitas, todos ostentam um testemunho eloquente em favor
do domínio maligno. Talvez ao mencionar Satanás como a antiga
serpente (Apocalipse 12:9), Cristo esteja fazendo uma alusão velada ao culto
de Esculápio, cujo símbolo era uma serpente. É provável também que
o trono de Satanás se refira ao imenso altar a Zeus. O Salvador "que parecia
dominar o lugar de sua plataforma encravada na rocha da acrópole" (Swete).
Mas a principal ameaça de Satanás apoia-se nas pretensões da religião
imperial. Foi por causa de uma recusa de tomar parte nisso que Antipas
perdeu a vida. Era aqui que a autoridade do dragão era vista mais claramente.
47
Um lugar sombrio
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A espada de dois gumes
A mensagem de julgamento
O maná escondido
A pedra branca
(*) Objetos que serviam de senha entre os primeiros cristãos. Também cubo ou tablete de
madeira, osso ou marfim usado pelos antigos romanos e que servia, entre outras coisas,
como senha ou identificação.
O novo nome
Seja qual for a pedra, o novo nome a ser gravado sobre ela é
indubitavelmente o nome de Cristo, que diz mais adiante em sua carta à
igreja de Filadélfia: "...escreverei sobre ela o meu novo nome" (Apocalipse
3:12). O nome é secreto, exatamente como o maná que está escondido, pois
ele será revelado somente àquele que o recebe. O que será escrito na pedra
branca será um novo nome... conhecido apenas por aquele que o
recebe (capítulo 2:17). A revelação íntima prometida por Cristo ao crente no
paraíso será secreta e pessoal. O céu será certamente uma comunidade, mas
isto não significa que seremos um rebanho de gado indiscriminado.
Manteremos nossa individualidade e nosso relacionamento com Cristo.
51
O que são, pois, a promessa do maná e o nome gravado na pedra? São
a garantia de uma revelação mais plena àqueles que recebem a revelação já
concedida. O maná escondido é Cristo. O novo nome é Cristo. Vamos nos
deliciar com o maná e compreender o nome. Esta é a visão beatífica. Ela
deverá receber tal manifestação de Cristo, capaz de satisfazer completamente
tanto o coração como a mente. Aqueles que retêm firmemente o nome de
Cristo receberão uma revelação mais profunda dela, um novo nome. Aqueles
que não negam a fé em Cristo irão se fartar com o maná escondido. Aqueles
que conhecem em parte conhecerão também plenamente, como são
conhecidos. Aqueles que veem agora como em um espelho, indistintamente,
o verão face a face.
Portanto, reconhecendo a inquietação de Cristo pelo triunfo da
verdade e a atividade de Satanás na propagação de mentiras, somos
chamados a guardar o que tem sido confiado a nós e batalhar "pela fé uma
vez por todas confiada aos santos" (1 Timóteo 6:20; Judas 3). E devemos
seguir a verdade em amor.
52
Contra você tenho isto: você tolera aquela mulher
Jezabel... Apocalipse 2:20
SANTIDADE
Apocalipse 2:18-29
53
Tiatira
Se Tiatira se destacou em alguma coisa, foi por sua atividade
comercial e não política. Certamente ela foi em sua época um próspero
centro de negócios. As inscrições descobertas pelos arqueólogos revelam o
fato interessante de que Tiatira se orgulhava de numerosas associações
profissionais. Havia, por exemplo, associações de padeiros, de artífices de
bronze, comerciantes de tecidos e sapateiros, tecelões, curtidores, tintureiros
e oleiros. Foi de Tiatira que Lídia, uma das convertidas mais notáveis de
Filipos, tinha vindo. Ela negociava com materiais tratados com corante de
púrpura vindo de Tiatira e é retratada por Lucas como "vendedora de tecidos"
(Atos 16:14). Lídia tinha evidentemente emigrado (provavelmente por
razões comerciais) para Filipos, na Macedônia, da qual Tiatira era colônia, e
ali ela ouviu a pregação de Paulo sobre o Evangelho. O Senhor abriu seu
coração para ouvir a mensagem. Ela creu e foi batizada.
Talvez Lídia, recém-nascida em Cristo, tenha retornado ao seu lar em
Tiatira e servido como um meio para se plantar a Igreja cristã ali. Não
sabemos. Certamente, quando o Apocalipse foi escrito, esta progressista
cidade possuía uma igreja próspera. Jesus Cristo se refere a isso com palavras
de fervorosa apreciação. Conheço as suas obras, o seu amor, o seu serviço e
perseverança (versículo 19). Sem dúvida, vemos aqui quatro excelentes
qualidades cristãs. Tiatira não apenas rivalizava com Éfeso nas atividades do
serviço cristão, como também demonstrou o amor que faltava em Éfeso,
preservou a fé, que estava em perigo em Pérgamo, e compartilhava com
Esmirna a virtude da resistência paciente na tribulação.
Um bonito jardim
Inegavelmente, a igreja de Tiatira era como um bonito jardim em que
floresciam as mais belas graças: de um lado um humilde ministério, e de
outro, aquela trindade tão frequentemente citada por Paulo: fé, esperança e
amor. Fé e amor são mencionados pelo nome, e o que é perseverança senão
fruto da esperança? Recordamo-nos de imediato da aprovação de Paulo aos
crentes tessalonicenses — "Lembramo-nos continuamente, diante de nosso
Deus e Pai, o que vocês têm demonstrado: o trabalho que resulta da fé, o
esforço motivado pelo amor e a perseverança proveniente da esperança em
nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Tessalonicenses 1:3). Aqui também em Tiatira
havia um amor prático que resultava em serviço, juntamente mm uma fé e
esperança viris que tendiam a perdurar.
Mas o catálogo de virtudes de Tiatira ainda não se esgotou. Conheço
as suas obras, diz Cristo, e acrescenta: e sei que você está fazendo mais
agora do que no princípio (versículo 19). A igreja de Tiatira compreendeu
54
que a vida cristã é uma vida de crescimento, de progresso, de
desenvolvimento. Éfeso estava apostatando; Tiatira estava caminhando para
frente. A igreja de Éfeso tinha abandonado o amor que tivera no começo; a
igreja de Tiatira estava excedendo as obras que fazia nos primeiros tempos.
Crescimento cristão
55
Santidade cristã
Jezabel
56
divórcio entre religião e moralidade, pois ele mesmo incentivava uma
grosseira imoralidade sexual sob a capa de piedade. Etimologicamente,
"Jezabel" significa "pura" ou "casta"; mas Jezabel contradisse seu nome em
razão de seu caráter e de sua conduta.
Quando Jezabel se casou com Acabe, ela procurou difundir ativamente
suas revoltantes doutrinas em Israel. É possível que ela mesma tenha sido
sacerdotisa de Astarote. Ela persuadiu Acabe a construir um templo e um
altar para Astarote na capital, Samaria. Ela sustentou 850 profetas de seu
culto imoral e eliminou todos os profetas do justo Yahweh que estivessem
ao seu alcance. Jezabel ficou famosa pelo que Jeú mais tarde chamou de sua
"idolatria e feitiçaria” (1 Reis 16:30-32; 18:4,19; 21:25; 2 Reis 9:22). Ela
procurou, contaminar Israel, como Balaão tinha feito antes dela e, Acabe não
teve convicção moral ou força para impedi-la.
A segunda Jezabel
A primeira Jezabel tinha sido morta cerca de mil anos atrás. Ela
encontrou um fim terrível. Mas sua malignidade havia, por assim dizer,
reaparecido em uma profetisa do primeiro século d.C., cuja religião tinha tão
pouca conexão com a moralidade como aquela de sua homônima.
Reivindicando inspiração divina, ela estava sendo bem-sucedida em
persuadir os servos de Cristo a ceder às práticas imorais. R. H. Charles
supunha que ela estava incentivando os cristãos de Tiatira para comparecer
às cerimônias e festas das associações comerciais, que eram "dedicadas sem
dúvida a alguma deidade pagã" e "também frequentemente terminavam em
licenciosidade desenfreada".
A nova Jezabel e seus seguidores provavelmente orgulhavam-se de
sua amadurecida experiência de vida. Como os futuros gnósticos, eles
estavam sondando os mistérios secretos e vangloriando-se de uma revelação
particular, esotérica, negada à maioria dos cristãos. Eles se enxergavam
como uma aristocracia espiritual, uma elite favorecida. Orgulhavam-se de
terem perscrutado "as coisas profundas". Talvez tenham emprestado esta
frase de Paulo, que mencionou várias vezes em suas cartas "as coisas
profundas de Deus" — as profundezas de sua sabedoria e amor que os seres
humanos podem conhecer somente porque o Espírito Santo as descobre e
revela (Romanos 11:33; Efésios 3:18; 1 Coríntios 2:10). Se os gnósticos
tomaram emprestada a frase de Paulo, então eles a perverteram. Com sua
teoria diabólica de que, uma vez que a questão era o mal, os pecados da carne
podiam ser livremente tolerados sem prejuízo para o espírito, eles
mergulharam sem restrição nos assim chamados profundos segredos de
Satanás (versículo 24).
57
Tolerando o pecado
Parece, pois, que os seguidores de Jezabel eram semelhantes, senão
idênticos aos nicolaítas e balaamitas. Suas práticas que levavam à
imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos (versículo
20) são mencionadas tanto nesta carta a Tiatira como na carta anterior a
Pérgamo (versículo 14). Aqui, entretanto, a ênfase parece ser sobre o pecado
deles em vez de ser sobre seu erro, uma questão de ética e não de doutrina.
A igreja estava permitindo a Jezabel e a seus seguidores que continuassem
livremente suas práticas. Éfeso "odiava" as práticas dos nicolaítas e não
podia tolerá-las (versículo 2, 6); Pérgamo possuía alguns membros que
seguiam OS ensinamentos de Balaão e dos nicolaítas (versículos 14, 15); mas
Tiatira realmente tolerava-os (versículo 20). Os cristãos de Tiatira parece
que tiveram ou uma consciência muito fraca ou uma coragem muito frágil.
Eles foram tão fracos e sem força moral em relação a nova Jezabel como
Acabe tinha sido para com a antiga. Cristo censurou o fato de ela ter
planejado levar seus servos a pecar. É como se Ele dissesse: "Meus servos
(versículo 20) estão empenhados em obedecer a mim, não a Jezabel. Servir
a ela é a liberdade que leva à escravidão; seguir-me é a dedicação que leva à
liberdade."
Que mensagem tem o Cristo ressurreto para uma igreja nesta
condição?
58
Olhos dardejantes
Os olhos de Jesus devem ter fascinado as pessoas quando Ele estava
na terra. Os fariseus pareciam encolher-se de vergonha quando Ele "irado,
olhou para os que estavam à sua volta e, profundamente entristecido por
causa dos seus corações endurecidos", e Simão Pedro nunca pôde apagar da
sua imaginação a fixação sobre ele daqueles olhos suaves, amorosos,
desapontados quando Jesus "voltou-se e olhou diretamente para Pedro" no
palácio do sumo sacerdote, logo depois de o galo cantar (Marcos 3:5; Lucas
22:60, 61).
Nesta mesma carta Jesus intitula-se aquele que sonda mentes e
corações (versículo 23). Este conhecimento peculiar dos pensamentos e
motivos secretos das pessoas é uma faculdade divi na, frequentemente
mencionada no Antigo Testamento, que o Filho de Deus (versículo 18)
conscientemente alega possuir, Jeremias, o profeta a quem foi revelado
talvez mais claramente do que a outros a natureza interna da religião e a
importância do coração, registra a palavra de Deus que Cristo cita aqui: "Eu,
o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a
cada um segundo seu proceder, segundo o fruto das suas ações." Jeremias
alude a esta prerrogativa divina quando ora: "Ó Senhor dos exércitos, justo
Juiz, que provas o mais íntimo do coração..." Assim também no livro de Atos
Deus recebe duas vezes um nome que em grego é um substantivo simples,
kardiognõstes, que significa "conhecedor do coração" (Jeremias 17:10;
11:20; compare com 20:12 e Salmo 7:9; Atos 1:24; 15:8).
Discernimento divino
Arrependa-se!
Jesus Cristo não nos quer forçar a ceder, não quer violentar a teimosia
de nossa vontade. Ele ainda nos diz, como fez anos antes à impenitente
Jerusalém: "Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne
os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas não quiseste" (Mateus 23:37).
Se, entretanto, Jezabel não se arrepender, ainda há um vislumbre de
esperança para seus seguidores: aqueles que cometem adultério com ela
serão seguramente castigados a não ser que se arrependam das obras que
ela pratica (versículo 22). A porta do arrependimento ainda estava aberta.
Ainda havia tempo. Mas a oportunidade não duraria para sempre. Um dia,
provavelmente logo, acabaria.
Se esta advertência final não fosse atendida, o passo seguinte seria o
julgamento. Todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda mentes e
corações e retribuirei a cada um de vocês de acordo com as suas obras
(versículo 23). Aquele cujos olhos são como chama de fogo também tem pés
60
como bronze reluzente (versículo 18). Os olhos que veem as profundezas
ocultas de nosso coração podem também arder com justa ira, e seus pés
podem esmagar-nos até o pó. A natureza do julgamento vindouro dos
partidários de Jezabel é expressa em termos dramáticos e parcialmente
simbólicos. Mas o simbolismo não deve ocultar-nos a realidade. Por isso,
vou fazê-la [Jezabel] adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem
adultério com ela... Matarei os filhos dessa mulher (versículos 22, 23).
Julgamento
Seu castigo corresponderá ao seu crime. O cenário de sua impiedade
será o cenário de seu julgamento. Seu leito de pecado se transformar em leito
de sofrimento. Os prazeres de pecado darão às dores de aflição, e sua
descendência espiritual, profundamente manchada com sua maldade para
poder ser purificada, será morta. Como os filhos de Acabe e Jezabel, eles
também estão condenados. É bem provável que tais punições literais de
doença e morte podem ter atingido a imoral Jezabel. Essa era a época em que
Ananias e Safira caíram mortos por causa de sua mentira e na qual alguns
cristãos coríntios ficaram doentes, enquanto outros morreram por terem
maculado a Ceia do Senhor com sua ganância e irreverência (At 5:1-11; 1
Coríntios 11:17-32). Em nossos dias, transgressores como esses podem não
sofrer um julgamento físico imediato, mas os olhos de Cristo são ainda como
uma chama de fogo e seus pés tão forte como bronze lustroso, e “os perversos
não herdarão o Reino de Deus" (1 Coríntios 6:9).
Gloriosa liberdade
Uma importante lição está oculta nestas frases, que faremos bem em
aprender. Considere isto com atenção: Uma nova imoralidade não deve
levar-nos a um novo ascetismo. Não devemos reagir a uma extrema
frouxidão ao nosso redor desenvolvendo uma extrema rigidez em nossas
atitudes. Cristo não tem um novo fardo para aqueles que vivem em um
ambiente em que os padrões são baixos. Simplesmente apeguemo-nos ao que
já temos, ou seja, aquilo que nos foi legado em sua palavra escrita. O que é
isto? Isto é a justiça equilibrada, alegre, esfuziante da Bíblia, a gloriosa
liberdade da lei régia. É a mesma moralidade que considera o uso correto do
sexo como belo e sagrado, e seu uso desvirtuado como feio e sórdido. Este é
o ensino que diz: "O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal,
conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros" (Hebreus
13:4).
Os mandamentos de Deus não são pesados. O jugo de Cristo é suave
e o seu fardo é leve (1 João 5:3; Mateus 11:30). Não devemos lançar sobre
nós mesmos ou sobre outros, qualquer outro fardo além do que Ele nos
impôs. Este é precisamente o equívoco que os escribas e fariseus cometeram.
Eles acrescentaram suas próprias tradições aos mandamentos de Deus.
"Atam tardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens" (Marcos
7:8-13; Mateus 23:4). Mas o cristão não deve imitar os fariseus. Devemos
simplesmente apegar-nos ao que já temos, isto é, o que nos foi dado pelo
ensino dos apóstolos e se encontra agora registrado nas Escrituras. Muitas
vezes os apóstolos dizem-nos para fazer apenas isto — "Cuidem para que
aquilo que ouviram desde o princípio permaneça em vocês", e "Permaneçam
firmes e apeguem-se às tradições que lhes foram ensinadas, quer de viva voz,
quer por carta nossa" (1 João 2:24; 2 Tessalonicenses 2:15).
As Escrituras Sagradas são em si um "cânon", um padrão pelo qual
medir e um critério pelo qual testar. Elas são uma orientação e uma regra
62
suficiente tanto da fé como da vida. Nossa responsabilidade é preservar seu
ensino e nada lhe acrescentar.
Duas promessas
Àqueles que vencerem na luta por manter as obras de Cristo firmes até
o fim, Ele faz duas promessas maravilhosas. Aqui estão elas na íntegra.
Àquele que vencer e fizer a minha vontade até o fim darei autoridade sobre
as nações — Ele as governará com um cetro de ferro e as despedaçará como
barro — assim como eu recebi autoridade de meu Pai. Também lhe darei a
estrela da manhã (versículos 26-28). A palavra "darei" ocorre duas vezes
(versículos 26, 28), e ecoa a mesma ideia do versículo 23. Se Cristo vai dar
ao pecador o que suas obras merecerem, Ele também dará ao vencedor muito
além do que suas obras poderiam começar a merecer. Ele promete dar ao que
vencer autoridade sobre as nações e a estrela da manhã, expressões estas
que transmitem os conceitos de autoridade e revelação.
A primeira promessa toma emprestada a imagem do Salmo 2:8-9, onde
a futura soberania do Messias sobre as nações é extraordinariamente predita:
"Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por
tua possessão. Com vara de ferro as regerás, e as despedaçarás como um vaso
de oleiro" (compare com Apocalipse 12:5; 19:15). Esta autoridade de Cristo
é agora dividida com seu povo fiel e vitorioso. Assim como eu recebi
autoridade de meu Pai (versículo 28), Ele diz, "também te darei autoridade".
A citação do Salmo 2 está ligeiramente modificada e adaptada. A palavra
grega para "governará" no versículo 27 significa literalmente "cuidará". O
oleiro tornou-se um pastor, e as nações não serão somente vaso a ser
despedaçado, mas ovelha a ser conduzida e disciplinada com justiça.
63
Partilhando o reinado de Cristo
64
Você tem fama de estar vivo, mas está morto.
Apocalipse 3:1
REALIDADE
Apocalipse 3:1-6
Sardes na História
Mais tarde, Sardes destacou-se por ter sido conquistada tanto por
Alexandre, o grande, como por Antíoco, o Grande. Mas ela gradualmente
entrou em declínio e perdeu sua antiga fama, até que em 17 d.C. foi devastada
por um terremoto. Graças à generosidade do imperador Tibério, que
suspendeu por cinco anos os impostos devidos a Roma, a cidade foi
65
reconstruída e floresceu novamente ao ponto de o antigo historiador Estrabo
poder chamá-la "uma grande cidade", embora nunca tenha readquirido sua
antiga glória.
Nada se conhece das origens da igreja em Sardes, nem de seu
crescimento anterior, além do que podemos inferir desta carta.
Um cemitério espiritual
Morte espiritual
Esta carta fornece outra pista para indicar que espécie de morte
espiritual havia atingido Sardes. É a seguinte: os poucos que não se
envolveram na estagnação geral são descritos como uns poucos que não
contaminaram as suas vestes (versículo 4). Por conseguinte, esta morte era
a corrupção. O pecado tinha se infiltrado na igreja. Embora fosse menos
aberto do que no caso dos partidários de Jezabel em Tiatira, Jesus Cristo o
havia detectado. Por baixo do piedoso exterior daquela respeitável
congregação havia impureza escondida.
De acordo com o historiador grego Heródoto, os habitantes de Sardes,
no correr dos anos, tinham adquirido uma reputação respaldada em padrões
morais frouxos e até mesmo licenciosidade ostensiva. Talvez a igreja de
Sardes tenha esquecido a recomendação de Paulo: "Não se amoldem ao
padrão deste mundo", ou de João: "Não amem o mundo nem o que nele há"
(Romanos 12:2; 1 João 2:15). Pode ser que gradualmente, e até mesmo
imperceptivelmente, o fermento do mundanismo tenha se espalhado na
massa, até que toda ela tenha ficado contaminada.
67
Fé nominal
Hipócritas!
O que poderia fazer uma igreja morta como aquela de Sardes? O Jesus
ressurreto dirige a ela uma série de ordens imediatas. Esteja atento!
Fortaleça o que resta e que estava para morrer... Lembre-se, portanto, do
que você recebeu e ouviu; obedeça e arrependa-se (versículos 2-3). Aqui
estão cinco imperativos breves e secos: Esteja atento! Fortaleça o que resta!
Lembre-se! Obedeça! Arrependa-se! Estas ordens dividem-se em duas
partes. A igreja de Sardes é primeiro instruída a estar atenta e fortalecer o
que resta, e em seguida a lembrar se de sua herança, obedecer e arrepender-
se.
Primeiro: Esteja atento! Fortaleça o que resta e que estava para
morrer (versículo 2). É estimulante notar que mesmo na Sardes morta ou
moribunda havia alguns cristãos que não estavam sofrendo do declínio geral.
69
Por isso Cristo continua: No entanto, você tem aí em Sardes uns poucos que
não contaminaram as suas vestes (versículo 4). No torpor religioso sufocante
da igreja pode sentir-se um alento do ar vivificante do Espírito Santo. Dentro
daquela congregação mundana permaneceu um remanescente de pessoas
devotadas.
O remanescente devotado
70
Um pequeno rebanho
O julgamento vindouro
Se você não estiver atento, virei como um ladrão e você não saberá a
que hora virei contra você (versículo 3). Jesus havia algumas vezes feito a
advertência de que sua segunda vinda seria tão inesperada quanto a de um
ladrão. Esta vinda especial, para o julgamento de uma igreja individual,
também não será anunciada. Como os ladrões que espreitavam nas grutas
das montanhas que rodeavam Sardes e repentinamente se lançavam sobre os
incautos, assim virá Cristo. O candelabro da igreja será removido; sua vida
será suprimida; sua luz finalmente extinta.
O segundo conjunto de ordens divinas para a igreja em Sardes era:
Lembre-se, portanto, do que você recebeu e ouviu; obedeça e arrependa-se
(versículo 3). O Senhor ressurreto tinha dito à igreja de Éfeso que se
lembrasse (Apocalipse 2:5). A igreja de Sardes é também ordenada a
lembrar-se. A lembrança é uma dádiva preciosa e bendita. Nada pode
penetrar a consciência com tanta agudeza como as lembranças do passado.
A estrada mais curta para o arrependimento é a lembrança. Fazer com que
alguém relembre o que costumava ser e reflita sobre o que, pela graça de
72
Deus, poderia ser, certamente levará ao arrependimento, abandonando o
pecado e aceitando seu Salvador.
Além disso, o que é verdadeiro no caso do cristão individualmente é
verdadeiro no caso da igreja local como um todo. Algumas igrejas que hoje
estão mortas ou morrendo podem reviver pela memória sua longa e gloriosa
história. Os membros mais velhos podem trazer à lembrança os tempos
antigos, quando a congregação era uma comunidade viva de obreiros ativos
e quando as pessoas estavam sendo regularmente acrescentadas ao seu rol.
Deixemos que a história passada nos desafie para o presente esforço!
Mas devemos ser um pouco mais precisos. Lembre-se, portanto, do
que você recebeu e ouviu; obedeça... (versículo 3). O que é que eles
receberam e ouviram, e o que deviam lembrar? Era simplesmente a palavra
de Deus, o evangelho? Penso que não. A sã doutrina por si não pode resgatar
uma igreja da morte. A ortodoxia em si mesma pode algumas vezes ser
morta. Eles haviam recebido mais do que o Evangelho. Tinham recebido o
Espírito Santo. Ele é o dom característico que todos recebemos quando
abraçamos o Evangelho com arrependimento e fé. “Arrependam-se e cada
um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus
pecados”, exclamou Pedro no Dia do Pentecostes, e acrescentou: “E, se
alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo” (Atos 2:38;
Romanos 8:9).
O dom do Espírito
Sete espíritos
Sete estrelas
Notamos que o Cristo que tem os sete espíritos tem também as sete
estrelas. Certamente, "'os espíritos" são sete porque as igrejas em que eles
operam são sete" (Swete). As sete estrelas, sendo de algum modo
responsáveis pelas igrejas, estão em sua mão direita (Apocalipse 1:16,20).
Estão os sete espíritos em sua mão esquerda? Pudesse Ele trazer juntas suas
mãos! Pudesse o Espírito encher a Igreja! É o que Cristo está desejando. Ele
não derramou seu Espírito sobre a Igreja no Dia do Pentecoste? O Espírito
Santo foi dado à Igreja uma vez por todas, e é adequado a todas as
necessidades da Igreja. Ele nunca pode ser "derramado" novamente, porque
não pode haver nenhuma repetição do Dia do Pentecoste. Quando Ele veio,
veio para permanecer conosco para sempre (João 14:16). Mas, embora Ele
nunca retire totalmente sua presença, Ele pode ser "entristecido" e mesmo
"apagado" (Efésios 4:30; 1 Tessalonicenses 5:19).
Talvez não haja mensagem mais imperativa para os cristãos do fim
deste século do que o comando: "Encham-se do Espírito" (Efésios 5:18). Ele
habita em nós; mas, Ele nos enche? Nós o possuímos; mas, Ele nos possui?
Se apenas nos submetêssemos à autoridade do Espírito — "andemos também
pelo Espírito" (Gaiatas 5 -.25) — e continuamente buscássemos a plenitude
do Espírito, nossa vida cristã seria transformada e a vida de nossa igreja,
revolucionada. Na ordem de Paulo para nos enchermos, o verbo está no
tempo imperativo afirmativo e tem o sentido de continuidade, significando
"continuem a ser cheios", ou "estejam em condição de ser cheios". Somente
quando a Igreja de Cristo estiver cheia com o Espírito de Cristo a morte
espiritual poderá ser banida.
Vestes brancas
O livro de Deus
76
Um dia os livros serão abertos e os mortos serão julgados com base no
que estiver escrito nos livros. Todos aqueles cujo nome não estiver escrito
no livro serão lançados "para dentro do lago de fogo"(Apocalipse 20:11-25).
É digno de nota o fato de podermos ter uma reputação de estar vivos
(como a igreja de Sardes) e, entretanto, não haver nenhum registro nosso no
livro dos vivos de Deus. Nosso nome pode constar do registro de uma igreja
sem estar no registro de Deus. Jesus disse aos seus discípulos para que se
regozijassem por estarem seus nomes "escritos nos céus" (Lucas 10:20;
compare com Hebreus 12:23).
A graciosa promessa de Cristo ao vencedor cristão em Sardes é que
Ele não apagará seu nome do livro da vida. A sentença, no grego, tem uma
dupla negativa com ênfase, como se Jesus dissesse: "Nunca, de modo algum,
apagarei seu nome." Com certeza, longe de remover o nome do vencedor do
registro celestial, Cristo promete confessá-lo perante seu Pai e os anjos. Esta
é uma repetição do que Ele disse durante seu ministério. "Quem, pois, me
confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu Pai
que está nos céus" e "diante dos anjos de Deus" (Mateus 10:32; Lucas 12:8).
Assim chegamos ao fim desta carta. Podemos apenas esperar que a
igreja de Sardes tenha dado atenção à mensagem de Cristo. Mesmo que ela
não tenha feito isso, nós precisamos estar atentos a estas palavras. As
consequências são muito sérias para agirmos como hipócritas. As
necessidades do mundo são tamanhas que não podemos permitir-nos tratar
com leviandade a religião ou zombarmos de Deus. Ter apenas a reputação
de estar vivo é insuficiente; devemos possuir uma realidade e pureza interior
que sejam conhecidas de Deus e agradáveis a Ele. Nunca devemos
contaminar nossas vestes nem trair nosso nome. Cheios do Espírito vivo de
Cristo, podemos vencer. Depois, por fim, usaremos as vestes brancas e
andaremos com Cristo no céu; e nossos nomes, indelevelmente inscritos no
livro da vida, serão reconhecidos diante de Deus e dos anjos.
77
Eis que coloquei diante de você uma porta aberta.
Apocalipse 3:8
OPORTUNIDADE
Apocalipse 3:7-13
Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve:
Estas são as palavras daquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de
Davi. O que ele abre ninguém pode fechar, o que ele fecha ninguém pode
abrir. 8Conheço as suas obras. Eis que coloquei diante de você uma porta
aberta que ninguém pode fechar. Sei que você tem pouca força, mas guardou
a minha palavra e não negou o meu nome. 9Farei que aqueles que são
sinagoga de Satanás, que se dizem judeus e não são, sendo antes mentirosos
— farei que venham a se prostrar aos seus pés e reconheçam que eu o amei.
10
Visto que você guardou a minha exortação à perseverança, eu também o
guardarei da hora da provação que está para sobrevir a todo o mundo, para
pôr à prova os que habitam na terra. 11Venho em breve! Retenha o que você
tem, para que ninguém tome a sua coroa. 12Farei do vencedor uma coluna
no santuário do meu Deus, e dali ele jamais sairá. Escreverei sobre ele o
nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que
desce do céu da parte de Deus; e também escreverei sobre ele o meu novo
nome. 13Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.
A igreja de Filadélfia
A oportunidade de salvação
A primeira porta aberta é a oportunidade da salvação. Alguns
comentários afirmam que este é o significado na carta a Filadélfia. O
contexto torna esta sugestão improvável. Entretanto, a imagem é tão clara
em outras partes da Bíblia que dificilmente podemos deixar de considerá-la.
O próprio Jesus usou duas vezes esta linguagem. Durante o Sermão do
Monte Ele disse: "Entrem pela porta estreita. Pois larga é a porta e amplo o
caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ela. Como é
estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! Poucos são os que a
encontram". (Mateus 7:13-14).
79
Vemos aqui duas portas, e ambas estão abertas. Uma abre sobre uma
rua larga e apinhada de gente, inclina-se suavemente e termina em
destruição, chamada inferno. A outra porta abre-se para um caminho estreito
e escassamente povoado, que sobe em caracol em terreno íngreme e leva à
vida eterna.
O ensino de Jesus é claro, mas inadequado. Ele contrasta não somente
dois caminhos e dois fins, mas duas portas. Ambas estão abertas e
convidando, embora uma seja larga e a outra estreita. A porta larga é tão
espaçosa que é fácil às pessoas despreocupadas se acumularem em grande
número através dela. Mas a outra porta é tão baixa que temos de nos curvar
humildemente para atravessá-la, e tão estreita que podemos passar somente
apertado, e um de cada vez. Não há espaço para carregar alguma coisa
conosco. Nossos pecados e egoísmo têm de ser deixados para trás.
Assim, embora uma porta seja larga e a outra baixa e estreita, e embora
muitos estejam se aglomerando através de uma, enquanto somente uns
poucos se espremem sem atropelo através da outra, ambas as portas ficam
abertas convidando as pessoas a entrar.
A oportunidade de servir
O segundo tipo de porta aberta é a oportunidade de servir. É
importante acrescentar isto. Por outro lado, damos a impressão de que
estamos interessados somente em nossa própria salvação. Mark Guy Pearce
proferiu palavras sábias e verdadeiras quando disse: “A menos que nossa fé
nos livre do egoísmo em servir, ela certamente nunca nos salvará do inferno
para o céu." Os crentes cristãos que receberam a salvação como dom
gracioso de Deus por meio de Jesus Cristo estão profundamente preocupados
quanto ao bem-estar material e espiritual dos seres humanos, seus
companheiros. Tendo passado pela porta da salvação, eles se apressarão em
direção à porta do serviço para esperar pelos outros e (nas palavras de Jesus)
"compeli-los a entrar".
Parece certo que a porta que ficou aberta diante da igreja de Filadélfia
era a porta da oportunidade. Aberturas para espalhar o Evangelho foram
muitas e grandes no Império Romano no primeiro século desta era. A Paz
Romana permitiu aos evangelistas cristãos empreender sua tarefa com
relativa liberdade, falando a língua grega comum, caminhando sobre as boas
estradas romanas e usando como texto bíblico a versão grega do Antigo
Testamento (Septuaginta). Além disso, aonde quer que fossem, encontravam
mentes inquietas e corações famintos. As velhas superstições pagas estavam
sendo abandonadas. O Espírito Santo estava incitando as ideias e desejos de
80
homens e mulheres comuns. Muitas almas sedentas estavam suspirando pela
água da vida. Paulo encontrou isto em toda parte.
Na terceira de suas famosas viagens missionárias, o apóstolo, passou
três anos em Éfeso, pronunciando palestras públicas em uma sala alugada e
visitando as pessoas em seus próprios lares. Noite dia ele estava ocupado
pregando o Evangelho. Deste período ele escreveu — "se abriu para mim
uma porta ampla e promissora" 1 Coríntios 16:9). Quando mais tarde ele
chegou a Roma, a capital do mundo conhecido, e foi por dois anos mantido
sob prisão domiciliar, ele ainda falou de Cristo a todos que o visitavam —
judeus, soldados romanos e um escravo fugitivo chamado Onésimo. Apesar
disso tudo, estas oportunidades não foram suficientes para ele. "Orem
também por nós", escreveu ele aos seus amigos cristãos em Colossos, "para
que Deus abra uma porta para a nossa mensagem, a fim de que possamos
proclamar o mistério de Cristo, pelo qual estou preso. Orem para que eu
possa manifestá-lo abertamente, como me cumpre fazê-lo" (Colossenses 4:3-
4; compare com 2 Coríntios 2:12).
Oposição feroz
Em Filadélfia uma porta também tinha sido aberta por Cristo. Apesar
disso, tanto em Éfeso como em Filadélfia, além da porta aberta houve muitos
problemas (veja 1 Coríntios 16:9). Três são subentendidos. Por um lado, a
igreja de Filadélfia era pateticamente fraca. Sei que você tem pouca força
(versículo 8), diz Cristo. Talvez a congregação fosse pequena, ou talvez fosse
composta predominantemente das classes mais baixas da sociedade romana,
o que fazia que ela tivesse pouca influência sobre a cidade. Isto, porém, não
devia detê-la em seu evangelismo. Segundo, havia oposição que, como em
Esmirna (Apocalipse 2:9), parece ter vindo da população judaica da cidade.
Tão fanática era sua resistência ao Evangelho do Messias que foram
novamente chamados uma sinagoga não de Deus, mas de Satanás, que se
dizem judeus e não são, sendo antes mentirosos (versículo 9).
Essa oposição era tão feroz que provavelmente impeliu os cristãos de
Filadélfia a assegurar a paz e ocupar-se de suas próprias coisas. Talvez
alguns membros da igreja aconselharam que a prudência era a melhor parte
da coragem e que os cristãos não deveriam provocar encrencas. Mas Cristo
era de outra opinião. Foi nesta mesma cidade, onde o antagonismo judaico
era tão forte, que Ele abriu uma porta para o Evangelho. Na verdade, Ele
deixou claro que, se seu povo apenas agisse corajosamente divulgando as
boas novas, alguns daqueles que a receberiam seriam judeus! Farei que
aqueles que são sinagoga de Satanás ... venham a se prostrar aos seus pés e
reconheçam que amei (versículo 9).
Os judeus convertidos são aqui retratados como prisioneiros D campo
de batalha. Eles próprios estavam familiarizados com esta imagem. Tinha
81
sido profetizado a respeito deles, anos antes, que "virão a ti, inclinando-se,
os filhos dos que te oprimiram, prostrar-se-ão os que te desdenharam" (Isaías
60:14). Mas agora a situação se inverteu. Em vez de gentios ajoelhando-se
aos pés dos judeus, os judeus se inclinariam diante dos cristãos — não
certamente para adorá-los, mas humildes em reconhecer a comunidade de
Jesus com o novo e verdadeiro Israel sobre o qual Deus estabeleceu seu
amor.
A ameaça de perseguição
O terceiro obstáculo no caminho dos cristãos de Filadélfia era a
ameaça de futura tribulação. As nuvens trovejantes da perseguição
ajuntavam-se. A qualquer momento a tempestade poderia eclodir. Seria
aquele momento apropriado para o evangelismo? Não seria tempo para
retrair-se e manter-se seguro, em vez de avançar? Novamente, Cristo tem
ideias diferentes. Com um alento Ele os adverte da provação vindoura e
incentiva-os a cruzar a porta aberta sem medo. Além disso, Ele promete —
eu... o guardarei da hora dá provação que está para sobrevir a todo o
mundo, para pôr à prova os que habitam na terra (versículo 10). Tinham
eles guardado sua palavra? Então Ele os guardaria do mal. Ele não os
pouparia de sofrimento, mas os sustentaria durante a provação.
Em contraste com os crentes de Filadélfia, quão facilmente os
modernos cristãos se entregam! Sutis e ilusórias são as desculpas que damos
para evitar o desafio do evangelismo. Nossas forças são pequenas e frágeis,
dizemos. A oposição é grande e o perigo de causar desagrado é real. Não
vamos fazer as coisas de maneira precipitada ou imprudente; esperemos um
pouco até que as circunstâncias se tornem favoráveis, argumentamos. Não é
a própria Bíblia que diz: "Há tempo de estar calado e tempo de falar"
(Eclesiastes 3:7)? Sim, certamente, mas o próprio diabo é adepto de citar
erroneamente a Escritura e distorcê-la. Nem a fraqueza da igreja e nem a
presente ou futura oposição deve silenciar-nos. A igreja de Filadélfia tinha
todos estes obstáculos; entretanto foi diante desta igreja que Jesus Cristo
abriu a porta para o serviço.
Ele já podia dizer-lhes: [vocês] guardaram a minha palavra e não
negaram o meu nome (versículo 8). Mas estas posturas negativas não eram
substitutas para o testemunho evangelístico positivo! Tinham os crentes de
Filadélfia guardado a palavra de Cristo? Então que comecem a propagá-la!
Tinham eles se recusado a negar o nome de Cristo? Então proclamem-no
agora ativamente!
82
Uma localização estratégica
Não podemos dizer com certeza em que sentido Cristo tinha aberto
uma porta para o Evangelho em Filadélfia. Mas talvez, como alguns
estudiosos sugeriram, as oportunidades incomuns da igreja eram devidas à
localização geográfica da cidade. De acordo com Sir William Ramsay, a
intenção do fundador da cidade, no segundo século antes de Cristo, tinha sido
"fazer dela um centro da civilização greco-asiática e um meio de propagar a
língua e os hábitos gregos nas partes orientais da Lídia e da Frígia. Ela cia
uma cidade missionária desde o começo..." O que a cidade tinha sido para a
cultura grega era agora para o Evangelho cristão. Ela foi construída junto às
grandes estradas romanas que projetavam seu caminho como uma flecha ao
coração do interior. Filadélfia situava-se junto às fronteiras da Mísia, Lídia
e Frígia, e Ramsay assinala-a como sendo "o porteiro das portas" para o
planalto central e "no limiar do país oriental". A igreja de Filadélfia parecia
ter tido a oportunidade de propagar amplamente as boas novas da graça e do
reino de Deus. A porta estava aberta. Ninguém poderia fechá-la. Que eles
sigam em frente!
Portas abertas
A mesma situação se aplica para a Igreja cristã em muitas partes do
mundo atual. Naturalmente, algumas portas estão fechadas; porém muitas
delas estão abertas. Há mais lacunas do que se pode preencher e mais
oportunidades do que aquelas a serem aproveitadas. Há carência de pessoas
com as qualidades certas. Há falta de homens e mulheres que sejam bem
treinados e competentes, e ao mesmo tempo totalmente devotados a Cristo.
A Igreja precisa urgentemente de cristãos com um zelo apostólico tal que
considerem todas as coisas como escória por amor de Cristo, e empenhem
vida, conforto, carreira e reputação por Ele. As portas abertas são muitas,
mas há poucos para cruzá-las.
Aqui está, pois, o balanço da vida cristã. É uma vida de dar e receber.
"Vocês receberam de graça", disse Jesus, "deem também de graça." Primeiro
recebemos com gratidão o que Ele oferece; em seguida damos alegremente
o que Ele pede. Ele põe diante de nós as portas abertas da salvação e do
serviço. Convida-nos a passar por uma para receber a salvação, e em seguida
pela outra para prestar serviço. Não é possível passar pela segunda antes de
passar pela primeira. Como disse Jesus: "Eu sou a porta; quem entra por mim
será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem" (João 10:9).
83
Cristo e a chave de Davi
Antes de falar à igreja de Filadélfia sobre a porta aberta que colocou
diante deles Jesus comera sua carta com estas afirmações sugestivas: Estas
são as palavras daquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi.
O que ele abre ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém pode abrir
(versículo 7). Para começar, Ele considera a si mesmo divino. "O Santo" é
um título que Yahweh deu a si mesmo no Antigo Testamento (veja, por
exemplo, Isaías 40:25). Jesus assume-o agora naturalmente e sem qualquer
estardalhaço. Ele não é apenas santo; Ele é verdadeiro. Ele abomina todo o
mal e engano. Ele é a perfeição da justiça e o cumprimento de toda a profecia.
E uma das profecias obscuras do Antigo Testamento cumprida por Ele é
mencionada aqui. Ela refere-se à chave de Davi que Ele afirma possuir.
Voltemos em pensamento da porta aberta para a chave que a abre. A razão
por que a porta permanece aberta diante da igreja é que sua chave está na
mão de Cristo.
A chave de Davi
A expressão é tirada de Isaías 22, onde é usada por um homem
chamado Eliaquim. Ele foi um dos três delegados escolhidos para negociar
pelo reino de Judá com o assírio Rabsaqué. Isto ocorreu indubitavelmente
por causa da honrosa posição que ele ocupava no palácio. Ele tinha sido
nomeado administrador dos negócios do rei Ezequias. Deus concedeu-lhe
autoridade, chamando-o "pai para os moradores de Jerusalém", e
acrescentou: "Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi; ele abrirá, e
ninguém fechará, fechará e ninguém abrira" (2 Reis 18:17-18; Isaías 22:21-
22).
Não é muito difícil ver que Eliaquim prefigurou ou prenunciou Jesus
Cristo; pois Cristo é o cabeça da família de Deus, a Igreja. Ele é o
"verdadeiro" administrador, do qual Eliaquim foi o protótipo, e Ele é "fiel...
sobre a casa de Deus". A Ele Deus havia dado "toda a autoridade... no céu e
na terra" (Hebreus 3:6; Mateus 28:18). Ele, portanto, é quem tem as chaves,
não somente "da morte e do inferno" (Apocalipse 1:18), mas também da
salvação e do serviço. Ninguém pode entrar até que Cristo tenha aberto a
porta. Nem pode alguém entrar quando Ele a fecha. Ele diz de si mesmo,
como Deus disse de Eliaquim, que o que ele abre ninguém pode fechar, e o
que ele fecha ninguém pode abrir (versículo 7). Portanto, se a porta é o
símbolo da oportunidade da igreja, a chave é o símbolo da autoridade de
Cristo.
84
A chave da salvação
Em primeiro lugar, Cristo tem a chave da porta da salvação. Você
deseja entrar pela porta estreita e andar pelo caminho estreito que leva à vida?
Jesus Cristo tem a chave. Ninguém senão Ele pode abrir essa porta. Notemos
de passagem que a chave está na mão de Cristo, e não na mão de Pedro. Jesus
na verdade disse a Pedro: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus" (Mateus
16:19). E Pedro usou-as. Foi por meio de sua proclamação do Evangelho que
os primeiros judeus foram convertidos no dia de Pentecoste; mediante a
imposição das suas mãos (com João) que o Espírito Santo foi dado aos
primeiros crentes samaritanos; e através de seu ministério, os primeiros
gentios — Cornélio, o centurião romano, e sua família — ouviram o
Evangelho, creram e foram batizados. Pelo uso das chaves confiadas a ele,
Pedro de fato abriu o reino do céu para os primeiros judeus, os primeiros
samaritanos e os primeiros gentios (Atos 2:14-41; 8:14-17; 10:44-48). Mas
agora as chaves estão de volta para as mãos de Cristo, e se os seres humanos
as usarem hoje é somente no sentido secundário, ou seja, que são
privilegiados ao pregar o Evangelho, por meio do qual os pecadores creem e
são salvos.
A chave da salvação está na mão de Cristo. Na verdade, Ele "abriu a
porta do céu a todos os crentes". Eis que coloquei diante de você uma porta
aberta (versículo 8), diz Ele. O tempo do verbo é pretérito, pois Ele abriu-a
uma vez por longo tempo, e ela ainda continua aberta hoje. Como pode ser
isso? É porque no limiar da porta estreita está posta uma cruz. Sobre ela
nosso Salvador morreu por nós. Ele em si não tinha nenhum pecado, mas
levou nossos pecados em seu próprio corpo. Ele não merecia morrer; mas
recebeu nosso castigo. Ele aceitou em sua própria pessoa inocente o juízo
que nossos pecados tinham justamente merecido. Eis porque a porta está
aberta. Qualquer pecador pode agora entrar no santuário do Altíssimo, o
Santo dos Santos da presença de Deus, e fazê-lo com confiança, "pelo sangue
de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu,
isto é, do seu corpo" (Hebreus 10:19-20).
Podemos ter perambulado durante muitos cansativos anos pelos
caminhos da incerteza. Mas agora podemos pôr nosso pé sobre a estrada que
leva à glória! Cristo é aquele que vive, que morreu e ressuscitou, e tem as
chaves da morte. Ele diz — coloquei diante de você uma porta aberta que
ninguém pode fechar (versículo 8). Mas um dia ela será fechada. O próprio
Cristo a fechará. Porque a chave que a abriu irá fechá-la novamente. E
quando Ele fechá-la ninguém poderá abri-la. Tanto a admissão como a
exclusão estão unicamente em seu poder.
85
Uma porta fechada
Muitas pessoas acham difícil aceitar que alguém seja excluído. Elas
precisam ouvir as palavras do próprio Cristo: "Esforcem-se para entrar pela
porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não
conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês
ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: 'Senhor, abre-nos a porta.'
Ele, porém, responderá: 'Não os conheço, nem sei de onde são vocês.'
Então vocês dirão: 'Nós comemos e bebemos contigo, e tu ensinaste
em nossas ruas.'
Ele então responderá: 'Não os conheço, nem sei de onde são vocês.
Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam a iniquidade!"
Ali haverá choro e ranger de dentes, quando vocês virem Abraão,
Isaque e Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, mas vocês excluídos"
(Lucas 13:24-28).
Aqueles de nós que somos frequentadores de igreja precisamos, em
particular, atentar para estas palavras solenes de Jesus. Porque no último dia
podemos estar batendo à porta que é mantida fechada para nós, enquanto
Jesus diz: "Não os conheço." Podemos responder indignados: "Mas nós
comemos e bebemos em tua presença; comemos o pão e bebemos o vinho
na santa comunhão. O Senhor também nos ensinou. Sentamo-nos nos bancos
e ouvimos tua palavra." Porém Ele pode dizer novamente: "Não os conheço,
nem sei de onde são vocês." Em outras palavras, é possível ser batizado,
participar da comunhão e assim mesmo ficar de fora da porta da salvação.
Temos de ir a Jesus e dizer:
Assim como estou, sem desculpa, mas por teres morrido por mim, ao
teu doce convite 'Vem a mim!' O Cordeiro de Deus, eu irei.
A chave do serviço
Em segundo lugar, Cristo tem a chave da porta para servir. Há pouca
dúvida de que homens e mulheres da Bíblia tiveram um sentido mais
aguçado do que temos hoje da soberania de Deus no mundo. Eles não
acreditavam que os seres humanos tivessem o direito de forçar portas
fechadas e penetrar por elas. Isto é claro tanto no Antigo como no Novo
Testamento. Era este o problema da carreira militar do conquistador persa
Ciro? "Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão
direita, para abater as nações ante a sua face; e descingir os lombos dos reis,
para abrir diante dele as portas, que não se fecharão. Eu irei adiante de ti,
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endireitarei os caminhos tortuosos, quebrarei as portas de bronze, e
despedaçarei as trancas de ferro." Ou foi o livramento miraculoso do
apóstolo Pedro da prisão de Herodes em resposta às orações da Igreja, de
sorte que suas cadeias se soltaram de suas mãos? Então, levado por um anjo
passou pela primeira e pela segunda sentinela, o "portão de ferro que dava
para a cidade... se lhes abriu automaticamente". Outro caso: Paulo e Barnabé
em sua primeira expedição missionária viajaram por terra e mar, colinas e
vales, montanhas e pântanos? Foram eles maltratados, odiados e apedrejados
e, apesar disto, receberam graça para conquistar muitos para Cristo? Mais
tarde eles tiveram uma explicação. Em seu retorno a Antioquia, "reunida a
igreja, relataram quantas coisas fizera Deus com eles, e como abrira aos
gentios a porta da fé" (Isaías 45:1-2; Atos 12:1-11; 14:27).
Cristo tem as chaves. Ele abre as portas. Não há nenhum sentido em
tentar forçar nosso caminho rudemente através de portas que ainda estão
fechadas. Temos de esperar que Ele venha abrir para nós. Prejuízos estão
constantemente sendo trazidos à causa de Cristo por causa de um testemunho
impetuoso e grosseiro. É certamente correto procurar ganhar para Cristo
nossos amigos, parentes, vizinhos e colegas. Mas estamos às vezes com mais
pressa do que Deus. Em vez disso, precisamos ser pacientes, orar
intensamente e amar muito, e depois aguardar esperançosamente a
oportunidade dada por Deus para testemunhar.
O mesmo princípio aplica-se a qualquer incerteza que possamos ter
sobre a vontade de Deus para nosso futuro. Provavelmente mais erros são
cometidos pela rapidez do que pela lentidão, pela impaciência do que pela
demora. Os propósitos de Deus frequentemente amadurecem
vagarosamente. Se a porta está fechada, é insensatez forçá-la. Devemos
esperar até que Cristo pegue a chave e abra-a.
87
participar. Esta foi a mensagem de Cristo à igreja de Filadélfia. Suas palavras
não foram dirigidas a um indivíduo nem ao pastor ou a outros líderes, nem
tampouco a um círculo seleto dentro da comunidade, mas a toda a igreja. Foi
perante a igreja inteira de Filadélfia que Ele tinha aberto uma porta. O
evangelismo não é prerrogativa de pastores ou de outros profissionais. Não
é passatempo de uns poucos fanáticos. E um dever que pesa sobre toda a
congregação e sobre todos os seus membros.
Não apenas cada cristão individualmente é chamado para ser uma
testemunha, mas cada cristão da comunidade local é chamado para mobilizar
os membros dessa comunidade para a missão. Isto envolve um cuidadoso
programa de treinamento, visitação regular de toda a vizinhança,
desenvolvimento do evangelismo nos lares e programação de eventos
especiais em que o Evangelho seja divulgado. Estas são algumas das portas
que Cristo tem aberto. Devemos estar seguros de cruzá-las. A chave pertence
a Cristo; mas a escolha é nossa.
Ser um peregrino
Se, pois, nos tornarmos peregrinos nesta vida, seremos uma coluna na
próxima. Se decidirmos entrar pela porta do serviço, nunca perderemos a
segurança do paraíso. Se apagarmos nosso nome neste mundo por amor de
Cristo, então no próximo, sobre a coluna, serão gravados para sempre três
nomes. O primeiro será o nome de Deus. O segundo o nome da Nova
Jerusalém (a Igreja triunfante), e o terceiro será o próprio novo nome de
88
Cristo. Isto quer dizer (desde que o nome corresponda ao nomeado), que
pertenceremos para sempre a Deus, a Cristo e ao seu povo, e cresceremos
continuamente em nosso conhecimento sobre eles. Esta é a perspectiva que
se apresenta diante de todos aqueles que cruzarem destemidamente as portas
abertas, travarem guerra contra os poderes do mal e vencerem na luta. Esta
é a promessa de Cristo; ela é verdadeira.
Ao concluir nosso estudo desta sexta carta, reconhecemos a sua
relevância para nosso próprio tempo. A porta aberta representa a
oportunidade da Igreja; a chave de Davi, a autoridade de Cristo; e a coluna
do templo de Deus, a segurança do vencedor. Cristo tem as chaves. Cristo
abriu as portas. Cristo promete fazer-nos seguros como as sólidas colunas do
templo de Deus. Agora é conosco. As portas ainda permanecem abertas.
Cristo convida-nos primeiramente a entrar pela porta da salvação, e em
seguida pela porta do serviço.
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Você é morno, nem frio nem quente.
Apocalipse 3:16
FERVOR
Apocalipse 3:14-22
14
Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve:
Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano
da criação de Deus. 15Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem
quente. Quem dera você fosse frio ou quente! 16Assim, porque você é morno,
nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca. 17Você diz:
Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém,
que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e nu. 18Eu o aconselho a
comprar de mim ouro refinado no fogo, para que se torne rico, e roupas
brancas para vestir, para cobrir a sua vergonhosa nudez, e colírio para
ungir os seus olhos, a fim de que você veja. "Repreendo e disciplino aqueles
que amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se. 20Eis que estou à porta e
bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele,
e ele comigo. 21Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu
trono, assim como eu também venci e sentei com meu Pai em seu
trono. 22Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Em cada uma das sete cartas Jesus Cristo enfatiza uma marca diferente
que deve caracterizar uma igreja verdadeira e pujante. Os cristãos efésios são
incentivados a voltar ao seu primeiro e sincero amor por Ele, enquanto os
crentes de Esmirna são advertidos de que, se não se renovarem, certamente
sofrerão. A igreja de Pérgamo deve promover a verdade diante do pecado, e
a igreja de Tiatira deve proclamar a retidão diante do mal. Os crentes de
Sardes precisam de vida interior por trás da aparência exterior da igreja.
Diante da igreja de Filadélfia o Senhor ressurreto coloca uma porta aberta de
oportunidade para a propagação do Evangelho, e Ele a convida a cruzá-la,
corajosamente. A sétima carta é dirigida à igreja em Laodicéia; ela associa
uma denúncia feroz de complacência com um suave apelo ao fervor.
Laodicéia
Cerca de 65 quilômetros a sudeste de Filadélfia, três cidades famosas
agrupavam-se no vale do rio Lico. Ao norte do rio estava Hierápolis,
90
enquanto em sua margem ao sul situavam-se Laodicéia e Colossos, distantes
aproximadamente 16 quilômetros entre si. Laodicéia era, portanto, a mais
meridional das sete igrejas às quais estas cartas foram dirigidas, estabelecida
quase em linha reta em relação a Éfeso.
Embora Laodicéia fosse a cidade principal da região sul da Frígia e
gozasse de algum prestígio, ninguém sabe quando a semente do Evangelho
foi lançada ali ou como a igreja criou raízes. O apóstolo Paulo provavelmente
nunca visitou as cidades do vale do Lico, mas ele escreveu uma carta à igreja
de Laodicéia ao mesmo tempo que escreveu a carta aos Colossenses. Por
outro lado, muitos estudiosos opinam que à carta a Laodicéia não é outra
senão a nossa assim chamada "Carta aos Efésios", pois três dos melhores e
mais antigos manuscritos desta carta omitem no começo as palavras "aos
efésios". É possível também que tenha sido uma carta circular, que foi
enviada primeiramente a Laodicéia. Além disso, a dupla menção de Epafras
na Carta aos Colossenses indica tanto que ele havia evangelizado Colossos
como também tinha vínculo com Laodicéia. Portanto, talvez tenha sido ele
quem fundou a igreja de Laodicéia (Colossenses l:7; 2:1; 4:12-16).
91
ou frios ou quentes. Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem
quente. Quem dera você fosse frio ou quente! (Versículo 15). As palavras
gregas são específicas, não deixando dúvida alguma sobre seu sentido. "Frio"
significa gelado e "quente" significa fervente. Jesus Cristo nos preferiria
fervendo ou congelando, em vez do meio-termo do mornidão insípido. Paulo
disse aos cristãos romanos que fossem como o jovem Apoio, considerado
por ele "fervendo em espírito" (versão inglesa King James) — ou no ponto
de fervura espiritual. Devemos "manter o ardor espiritual", como Moffatt
traduziu esta exortação, e "atiçar até flamejar" o dom de Deus que está em
nós. Nosso fogo espiritual íntimo está em constante perigo de enfraquecer e
morrer. O braseiro deve ser cutucado, aumentado e soprado até incendiar
(Romanos 12:11; Atos 18:25; 2 Timóteo 1:6).
A ideia de estar em chamas por Cristo impressiona algumas pessoas
que temem um emocionalismo perigoso. "Naturalmente", dirão elas, "não
estaríamos pretendendo ir a extremos? Você não está pedindo que nos
tornemos uns avivados fanáticos?" Bem, depende do que você entende por
fanático. Se por "fanatismo" você na realidade quer dizer "fervoroso", então
o cristianismo é uma religião fanática e todo cristão deve ser um fanático.
Mas fervor não é o mesmo que fanatismo. Fanatismo é um fervor irracional
e estúpido. É um entrechoque do coração com a mente. No final de uma
declaração preparada para uma conferência sobre ciência, filosofia e religião
na Universidade de Princeton, em 1940, estavam estas palavras: "Dedicação
sem reflexão é fanatismo em ação; mas reflexão sem dedicação é a paralisia
de toda ação." O que Jesus Cristo deseja e merece é a reflexão que leva à
dedicação e a dedicação que nasce da reflexão. Este é o significado de fervor,
de estar inflamado por Deus.
Tempo de entusiasmo
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aderir a uma oposição ativa a Ele do que insultá-lo com um compromisso
indiferente que o repugna!
Na realidade, a Igreja cristã tem-se assustado muitas vezes com o
"entusiasmo". João Wesley e seus amigos tinham boas razões para entender
isso. Assim tiveram muitos outros quer antes deles ou depois. Mas o
entusiasmo é parte essencial do cristianismo. Cristo aprova calorosamente
isto, mesmo que a Igreja o desaprove. Sua mensagem para nós, em nossa
letargia indolente e insensibilidade é a mesma da sua mensagem a Laodicéia
há muitos séculos: seja diligente e arrependa-se (versículo 19). Diligência,
zelo, fervor, fogo, paixão — estas são as qualidades que nos faltam hoje e de
que necessitamos grandemente.
Devemos considerar cuidadosamente o que Cristo diz sobre a
indiferença enquanto explica o que ela é, como vencê-la e a recompensa que
Ele promete ao fervoroso.
O diagnóstico de Cristo
Precisamos ouvir o que Jesus pensa da igreja de Laodicéia. Eis suas
palavras: Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não
reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e
nu (versículo 17). Este é o diagnóstico do Médico Perfeito. A pessoa morna
é aquela em que há um contraste evidente entre o que diz e o que pensa ser,
de um lado, e o que ela realmente é, de outro. A raiz da indiferença é a
complacência. Ser morno é ser cego à verdadeira condição de alguém.
93
O orgulho de Laodicéia era contagioso. Os cristãos contraíram a
epidemia. O espírito de complacência insinuou-se na igreja e corrompeu-a.
Os membros da igreja tornaram-se convencidos e vaidosos, e Jesus Cristo
precisou ser brusco ao expor essas características deles. Ele não suavizou
suas palavras. Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada.
Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e
nu (versículo 17). Eles achavam que estavam indo maravilhosamente bem
em sua vida religiosa. Mas Cristo teve de acusá-los de cegos e mendigos nus
— mendigos apesar de seus bancos, cegos apesar de seus pós frígios de sua
escola médica, e nus apesar de suas fábricas de tecidos. Não precisamos de
nada, diziam. Podiam certamente manter-se sem subsídio imperial; mas não
podiam manter-se sem a graça de Jesus Cristo.
O conselho de Cristo
Eu o aconselho... (versículo 18). Talvez possamos observar primeiro
o fato de que temos um Deus que se sente feliz em dar conselho às suas
criaturas. Não posso ler este versículo sem sentir-me estranhamente
emocionado. Ele é o grande Deus do amplo universo. Ele tem incontáveis
galáxias de estrelas na ponta de seu dedo. O céu e o céu dos céus não podem
contê-lo. Ele é o criador e sustentador de todas as coisas, o Senhor Deus
Todo-Poderoso. Ele tem o direito de emitir ordens para que lhes
obedeçamos. No entanto Ele prefere dar conselho ao qual não precisamos
obrigatoriamente atender. Ele poderia ordenar, mas prefere aconselhar. Ele
respeita a liberdade com que Ele nos dignificou.
94
Ao mesmo tempo Ele nos adverte das sérias consequências de nossa
tolerância. Seu propósito não é aterrorizar-nos para que sejamos submissos,
mas fazer-nos cônscios da seriedade de nossa escolha. Assim, porque você é
morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha
boca (versículo 16). É obviamente uma linguagem metafórica, mas isto não
esvazia a expressão de seu sentido. Líquidos mornos provocam náusea. Eles
não são apenas insossos, mas realmente desagradáveis. A enérgica expressão
de Cristo é de aversão. Ele repudiará totalmente aqueles cuja ligação com
Ele é puramente nominal e superficial. Somos lembrados da expressão da
atitude de Deus para com Israel no deserto, contida no Salmo 95: "Durante
quarenta anos estive desgostado [ou irritado] com essa geração" (versículo
10). O verbo usado é quase chocante. Não que a ira de Deus seja sempre
marcada por maldade, rancor ou vingança pessoal. Mas a palavra hebraica
neste texto corresponde a aversão e desgosto, e indica forte reação moral à
hipocrisia humana e ao pecado.
Desolação e devastação
Se a igreja de Laodicéia deu ou não atenção a esta advertência não
podemos afirmar. Certamente a cidade, uma vez próspera e complacente, é
agora uma miserável devastação. "Nada pode exceder a desolação e
melancólica aparência do local da antiga Laodicéia", diz um viajante do
século vinte. O arcebispo Trench retrata o cenário com cores vivas: "Tudo
agora pereceu. Aquele que removeu o candelabro de Éfeso rejeitou
Laodicéia com as palavras de sua boca. As ruínas de aquedutos e teatros
espalhadas sobre uma vasta extensão da região falam da antiga
magnificência desta cidade; mas da então famosa igreja nada restou."
Entretanto, não é somente pelo temor de julgamento que devemos
atentar para esta advertência divina, mas também por respeito Àquele que a
pronuncia. Veja como Ele se refere a si mesmo na introdução desta
carta: Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o
soberano da criação de Deus (versículo 14). Ele é o Amém. Esta palavra
hebraica é um advérbio de assentimento. Ela significa "certamente",
"verdadeiramente", e denota a confirmação de alguma coisa dita ou feita. É
a palavra empregada por Jesus em sua fórmula favorita: "Em verdade, em
verdade vos digo." Mas agora Ele não somente diz "Amém"; Ele é o Amém.
Seu ministério cumpre todas as promessas de Deus, "pois quantas foram as
promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o 'sim'" (2 Coríntios 1:20).
Assim, pois, suas palavras são de confiança por causa de seu caráter
inabalável. Ele não é inconstante. Nenhum capricho leviano leva-o a falar ou
agir. Ele nunca precisou desdizer-se ou modificar qualquer afirmação que
tenha feito. Ele é absolutamente consistente.
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Ainda mais, Ele é a testemunha fiel e verdadeira (versículo 14;
compare com Apocalipse 1:5). Por serem suas palavras verdadeiras, são elas
consequentemente fidedignas. "Falamos do que conhecemos", declarou Ele
em sua conversa com Nicodemos, "e testemunhamos do que vimos" (João
3:11). Portanto, este testemunho deve ser recebido. Ele é preciso e confiável.
Assim é Cristo, o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano
da criação de Deus. Como podemos ignorar o conselho de alguém assim?
Ele não pode mentir. Ele conhece e diz a verdade. Seria extrema loucura
desprezar seu conselho.
O mercador divino
De indigentes a príncipes
Se abrirmos a porta do nosso coração a Jesus Cristo e o deixarmos
entrar, Ele porá fim à nossa miséria. Ele nos transformará de indigentes em
príncipes. Ele nos limpará e nos vestirá. Ele ceara conosco e teremos
permissão para cear com Ele. Essa imagem ilustra as alegrias compartilhadas
da vida do cristão, o companheirismo recíproco que os crentes têm com seu
Salvador. Que Ele nos convide a vir e cear com Ele é demasiada honra; mas
que Ele deseje participar de nossa humilde mesa e cear conosco é tão
admirável que ultrapassa nossa compreensão finita.
Não somos dignos de que Ele fique embaixo de nosso teto, e Ele ainda
vai sentar-se à nossa mesa? A Ceia do Senhor é o sacramento exterior e
visível desta íntima refeição festiva. Comer o pão e beber o vinho é apenas
uma representação física do banquete espiritual com Cristo que seu povo tem
o privilégio de usufruir continuamente. Ajoelhar-se à sua mesa em uma
igreja demonstra publicamente nossa ceia pessoal com Ele em nosso
coração. E tanto o banquete íntimo como a ceia sacramental são o antegozo
daquele banquete celestial que no Apocalipse é chamado de "o banquete do
casamento do Cordeiro" (Apocalipse l9:9; compare com Lucas 22:30).
O senhor da casa
Mas não é simplesmente para cear que Cristo entra na alma humana.
É também para exercer sua soberania. Se Ele entra para proporcionar sua
salvação, entra também para receber nossa submissão. Sua entrada é uma
ocupação. Ele entra para assumir o controle. Nenhum compartimento pode
ser fechado a ele. Ele nos dominou. Ele é o senhor da casa. Sua bandeira
tremula em nosso telhado. É isto o que significa estar comprometido com
Cristo e submeter-se fervorosamente a Ele. E render-se incondicionalmente
ao seu domínio. É procurar conhecer sua vontade através da sua Palavra e
obedecer-lhe prontamente. Não é apenas assistir aos cultos religiosos duas
vezes aos domingos ou mesmo todos os dias, e muito menos nas grandes
ocasiões. Não é apenas levar uma vida decente ou crer em certos trechos do
credo. Não. É primeiro arrepender-nos, deixando com determinação tudo o
que sabemos ser errado, e então abrir a porta para Jesus Cristo, pedindo-lhe
que entre. É receber nosso ouro, nossas vestes e nosso colírio para os olhos,
oferecidos por Ele. E ser pessoal e incondicionalmente comprometido com
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Ele. É colocá-lo em primeiro lugar e procurar agradá-lo em cada aspecto da
vida, pública e privada. Nada menos que isto.
Ser quente, frio ou morno depende de abrir a porta de nossa
personalidade ao Senhor Jesus Cristo. E apenas o começo da vida cristã; mas
é um começo indispensável.
A perspectiva de Cristo
A grande escolha
Aqui está, pois, a grande alternativa que se oferece a cada pessoa séria.
Ser indiferente, tolerante e apenas ocasionalmente interessado nas coisas de
Deus é provar-se definitivamente não-cristão c ser tão relutante em relação
a Cristo é correr o risco de uma veemente rejeição. Mas ser fervoroso em
nossa devoção a Cristo, tendo aberto a porta e nos submetendo
incondicionalmente a Ele, é receber o privilégio tanto de cear com Ele na
terra como reinar com Ele no céu. Eis uma escolha que não podemos evitar.
O último versículo do capítulo diz: Aquele que tem ouvidos ouça o que
o Espírito diz às igrejas (versículo 22). Estas palavras são repetidas sem
alteração como pós-escrito de cada carta. Elas são a reiteração de uma
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expressão característica que Jesus usou durante seu ministério público:
"Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça" (veja, por exemplo, Marcos 4:9).
A frase no Apocalipse é quase idêntica e somente acrescenta o que o Espírito
diz às igrejas. As cartas são ditadas por Cristo, mas a mensagem é a palavra
do Espírito. Ele que falou por meio dos profetas nos tempos antigos e por
meio dos apóstolos na revelação do Novo Testamento é agora o agente da
mensagem do Filho às igrejas.
É digno de nota também que, embora cada carta seja endereçada a uma
igreja diferente, a fórmula conclusiva refere-se às igrejas. A mensagem
pessoal a cada uma é ainda um desafio geral a todos. A mensagem varia de
acordo com as circunstâncias de cada congregação, mas não de acordo com
o propósito do escritor divino. Sua vontade para sua Igreja é a mesma, para
cada congregação em cada época e lugar. Seria insensatez tapar os ouvidos
a esta mensagem premente. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito
diz às igrejas.
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Diante de mim estava um trono no céu.
Apocalipse 4:2
CONCLUSÃO
Apocalipse 4:1-2
Depois dessas coisas olhei, e diante de mim estava uma porta aberta no céu.
A voz que eu tinha ouvido no princípio, falando comigo como trombeta,
disse: "Suba para cá, e lhe mostrarei o que deve acontecer depois dessas
coisas." 2Imediatamente achei-me no Espírito, e diante de mim estava um
trono no céu e nele alguém assentado.
O trono imutável
Mas a história não termina aqui. Com o capítulo quatro do Apocalipse
passamos da Igreja sobre a terra à Igreja no céu, do Cristo entre os
candelabros tremeluzentes ao Cristo ao lado do imutável trono de Deus.
Depois dessas coisas olhei, escreve João, e diante de mim estava uma porta
aberta no céu (Apocalipse 4:1). Através desta porta de revelação ele olhou,
e seus olhos se iluminaram perante o símbolo da soberania de Deus. Diante
de mim estava um trono no céu e nele alguém assentado (4:2).
As igrejas da Ásia eram pequenas e lutadoras; o poder de Roma
parecia inesgotável. O que podiam fazer uns poucos cristãos indefesos, se
um simples edito imperial podia bani-los da face da terra? Os poderes das
trevas pareciam já estar fechando o cerco sobre elas. Os corações cristãos
começaram a tremer como as árvores da floresta vergastadas pelo vento.
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Apesar disso eles não precisam temer. No centro do universo está um
trono. Dele os planetas recebem suas ordens. Diante dele as galáxias
gigantescas prestam-lhe sua lealdade. Nele os organismos vivos mais
minúsculos encontram vida. Diante dele anjos e seres humanos e todas as
coisas criadas nos altos céus e embaixo na terra inclinam-se e adoram
humildemente. Circundando o trono está o arco-íris da aliança de Deus, e à
sua volta estão outros 24 tronos, ocupados por 24 anciãos, que
indubitavelmente representam as doze tribos do Antigo Testamento e os doze
apóstolos do Novo Testamento, portanto a Igreja completa e aperfeiçoada.
A segurança da igreja
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