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APOCALIPSE

O SIGNIFICADO DO TERMO “APOKALIPSIS”

O termo grego “apokalipsis” significa “revelação” em português.

Além de designar o último livro do cânon bíblico cristão, constitui-se


como a nomenclatura de duas outras coisas:

primeiro, uma visão de mundo;


segundo, um gênero literário.
O GÊNERO LITERÁRIO APOCALÍPTICO

O gênero literário apocalítico designa um estilo narrativo


no qual uma revelação é transmitida a um destinatário
humano por meio de um ser sobrenatural, mediante
um conjunto de metáforas, imagens e visões.
Trata-se, deste modo, de uma forma de escrever que
utiliza muito a linguagem simbólica.

Geralmente, a mensagem é passada de forma que


apenas os receptores conseguem, de maneira mais
efetiva, decodificá-la.
Neste gênero, forças políticas, personagens históricos e
conflitos reais são transformados em símbolos, dentro de
um esquema narrativo complexo, cuja mensagem viva
pode ser aplicada, por ter estas características poéticas,
em diversos momentos da história.
Novas realidades históricas são enquadradas aos
símbolos. Isso faz do texto apocalíptico um texto versátil,
podendo se remeter aos fatos do passado, do presente e,
até mesmo, do futuro.

Entretanto, não constitui-se como um texto profético,


que é mais direto na crítica, na denúncia e no anúncio.
Este gênero literário influenciou a cultura israelita antiga
durante um período de quatro séculos, com o início em
200 a.C. e o final por volta de 200 d.C.,
aproximadamente.

Diversos textos foram elaborados no decorrer de todo


este tempo em entre os judeus e os cristãos primitivos.
Alguns exemplos de escritos dentro do ambiente judaico
são: o livro de Daniel, os capítulos Is 24-27 e outros
livros apócrifos como o Livro de Henoc e 4Esdras.

Já no cristão: o Apocalipse de João (o que está na Bíblia),


os apócrifos Apocalipse de Pedro e o Pastor de Hermas.
Por ter todas estas características, o Livro do Apocalipse
de João não pode ser lido sem que se leve em
consideração estas informações, senão há o perigo de
interpretá-lo de modo fundamentalista, gerando
confusões.
A VISÃO DE MUNDO APOCALÍPTICA

Também é conhecido pelo termo “apocalíptica” uma


visão de mundo, de ser humano e de história muito
peculiares.
De modo geral, os propagadores desta concepção criam
que existia uma luta entre o bem e o mal, a luz e as
trevas, os anjos e os demônios e no final de um ciclo de
eras, Deus – ou o seu Messias – viria à terra para libertar
as pessoas que viveram segundo Sua vontade. Estes
justos seriam arrebatados e levados para outro mundo,
eterno e incorruptível.
A visão apocalíptica chegou ao território israelita quando o império
persa estabeleceu o seu domínio na região, entre 400 a.C. até 200
a.C., aproximadamente, levando sua religião: o zoroastrismo.

Com a dominação helênica sobre os israelitas, iniciada no segundo


século antes de Cristo, a perda da liberdade religiosa e a intensa
opressão, o povo judeu buscou, na linguagem apocalíptica, a
resposta para os seus dramas.
Pelo fato de que o povo judeu tinha perdido a posse da
terra e muitos estavam morrendo na resistência contra
os gregos, inferiram: Deus dará vida eterna a todos
aqueles que lutarem pela libertação e permanecerem
fiéis aos mandamentos, após um julgamento no final
dos tempos.
Esta concepção oriunda do zoroastrismo marcou as
teologias israelita e cristã primitiva, misturando-se a
toda tradição que até então já existia na religião dos
hebreus e, posteriormente, em consequência, na
teologia da Igreja dos inícios.
O CONTEXTO HISTÓRICO E DATA DA REDAÇÃO DO
APOCALIPSE DE JOÃO

Santo Irineu de Lyon afirmou, em sua obra “Contra as


Heresias” (5.30.3), baseando-se em fontes mais antigas,
que o livro do Apocalipse foi escrito na época do
término do governo do imperador romano Domiciano,
por volta de 96 d.C.
Alguns pesquisadores, por outro lado, estabelecem que
a data de composição do livro pode ter sido no período
do imperador Nero, em torno de 54-68 d.C., antes da
destruição de Jerusalém, pelos romanos, em 70 d.C.

Esta tese se fundamenta, em parte, na afirmação de que


Ap 11,1-2 seria uma profecia da queda do Templo.
Entretanto, a maior parte dos autores especializados no
Apocalipse assume a datação mais tardia, isto é, em torno
de 96 d.C. a partir da condição das igrejas retratadas nos
capítulos 1-2 como, por exemplo, os locais onde elas se
encontram, seria impossível aceitar um período de
redação durante o governo de Nero, em 64 d.C.
O Apocalipse foi escrito num contexto de perseguição ao
cristianismo, por parte do império romano.

Traços desta realidade aparecem no texto (cf. Ap 1,9; 2,9-10.22;


3,10; 7,14).

Desta maneira, os símbolos utilizados no livro dizem respeito às


realidades históricas do império romano, dos cristãos e da
perseguição. A Besta que aparece no apocalipse é Roma.
A ESTRUTURA DO LIVRO

O Apocalipse, que contém 404 versículos distribuídos


em 22 capítulos, narra uma batalha cósmica entre Deus
e o seu Cristo, por um lado, e Satã e seus aliados,
humanos ou demônios, por outro.
Neste conflito, embora Jesus, o Cordeiro de Deus, já
tenha vencido mediante sua morte e ressurreição, a
Igreja continua em batalha, sofrendo perseguições do
Dragão. Contudo, ela triunfa no final.
Esta narrativa simbólica, endereçada sobretudo às
igrejas situadas na região da Ásia Menor (cf. Ap 1,12-
3,22), cumpre o papel de dar esperança aos cristãos
perseguidos pelos romanos.
Assim, a Igreja, fortalecida pelo Senhor, supera todas as
dores causadas pela violência do império romano. O
Apocalipse não se constitui como um livro causador de
medo e terror que revela o que acorrerá no futuro. Ele
se caracteriza pela mensagem de esperança.
A divisão geral do livro é
esta:
Ap 1-3 Primeira parte – introdução

1,1-3: Título e resumo da obra

1,4-8: Saudação inicial – Jesus o centro da


história
1,9-20: Visão de abertura – O Senhor está
vivo no meio de sua Igreja
2-3: Cartas às sete igrejas
Ap 4-11 Segunda parte – mostra como foi a perseguição dos
últimos anos do governo de Nero, estimulando as
comunidades na perseverança, fundada na verdade de
que o Senhor está sempre presente

4: Visão do trono de Deus


5: Visão do Cordeiro e do livro com sete selos

6-7: Abertura dos primeiros seis selos


8-11: Abertura do sétimo selo e as sete trombetas
anunciadoras de um novo processo de libertação aos
moldes da teologia do êxodo
Ap 12,1-22,5 Terceira parte – mostra a perseguição no tempo em que
Domiciano era o imperador romano nos últimos
momentos de seu mandato (81-96 d.C.)

12: remetendo-se ao passado, o autor trata da


perseguição do Dragão à Mulher

13,1-14,5: remetendo-se ao presente, o autor mostra a


perseguição das Bestas contra o Cordeiro e suas
comunidades

14,6-20,15: remetendo-se ao futuro, o autor mostra o


julgamento e a condenação dos opressores

21,1-22,5: apresentação dos Novos Céus, da Nova Terra


e da Nova Jerusalém
PNEUMA NO APOCALIPSE

No Ap encontram-se 24 textos com pneuma: em dois


trata-se de demônios (16,13s; 18,2), em dois, da força
vital (11,11; 13,15); os demais textos estão
espalhados pelo livro de maneira muito desigual.
A presença e a atuação do Espírito não são
entendidas no sentido de um dom do Espírito a todos
os cristãos, mas de uma atuação do Espírito nos
profetas e na profecia (cf. 22,6; 19,10c).
O Espírito não se revela por si mesmo, ele aparece
relacionado com Jesus, comunicado por ele, intervém
junto às Igrejas -- à Igreja -- para adverti-las e conduzi-
las na verdade. É sem cessar para elas uma inspiração
de Jesus, uma aspiração ao Senhor Jesus: "O Espírito e
a Esposa dizem: Vem!" (Ap 22,17).
O Espírito não se revela por si mesmo, ele aparece
relacionado com Jesus, comunicado por ele, intervém
junto às Igrejas -- à Igreja -- para adverti-las e conduzi-
las na verdade. É sem cessar para elas uma inspiração
de Jesus, uma aspiração ao Senhor Jesus: "O Espírito e
a Esposa dizem: Vem!" (Ap 22,17).
As afirmações sobre o espírito no Apocalipse devem
ser lidas dentro da orientação profética que
caracteriza a obra em sua totalidade.

O texto chave para a pneumatologia está em Ap 19,


10: Com efeito, o espírito da profecia é o testemunho
de Jesus.
O Jesus Cristo exaltado é a testemunha da revelação
que lhe foi entregue por Deus e que ele, por sua vez,
transfere para o vidente.

A profecia operada pelo espírito nasce a partir do


testemunho de Jesus e que é transmitida aqueles que
crêem, uma vez que as verdadeiras palavras de Deus
existem somente na autoridade do espírito que
procede do testemunho de Jesus.
As afirmações do Apocalipse de João sobre o espírito
caracterizam-se por uma conceituação fundamental: o
Cristo exaltado participa da realidade do espírito que
sai de Deus e possibilita assim o poderoso testemunho
do profeta João que é operado pelo espírito.
Ap 1, 4 João, às sete Igrejas que estão na Ásia: a vós
graça e paz da parte d' "Aquele-que-é, Aqueleque-era
e Aquele-que-vem", da parte dos sete Espíritos que
estão diante do seu trono,

1, 10 No dia do Senhor fui movido pelo Espírito, e ouvi


atrás de mim uma voz forte, como de trombeta,
ordenando:
Éfeso: 2, 7Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
Igrejas: ao vencedor, conceder-lhe-ei
comer da árvore da vida que está no paraíso de Deus.

Esmirna 2, 11Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito


diz às Igrejas: o vencedor de modo algum será lesado
pela segunda morte.
Pérgamo 2, 17 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às Igrejas: ao vencedordarei do maná escondido, e lhe
darei também uma pedrinha branca, uma pedrinha na
qual está escrito um nome novo, que ninguém conhece,
exceto aquele que o recebe.

Tiatira 2, 29 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz


às Igrejas.
Sardes 3, 1Ao Anjo da Igreja em Sardes, escreve: Assim
diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e
as sete estrelas.

3, 6 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às


Igrejas.

Filadelfia 3, 13Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito


diz às Igrejas.
Laodiceia 3, 22 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às Igrejas".

4, 2 Fui imediatamente movido pelo Espírito: eis que


havia um trono
no céu, e no trono, Alguém sentado...

Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões, e diante do


trono ardiam sete lâmpadas de fogo: são os sete Espíritos
de Deus.
5, 6 Com efeito, entre o trono com os quatro Seres vivos e os Anciãos, vi um
Cordeiro de pé, como que imolado. Tinha sete chifres e sete olhos, que são os
sete Espíritos
de Deus enviados por toda a terra.

11, 11 Contudo, depois dos três dias e meio, um sopro de vida, vindo de Deus,
penetrou-os, e
eles se puseram em pé.

13, 15Foi-lhe dado até mesmo infundir espírito à imagem da Besta, de modo
que a imagem pudesse falar e
fazer com que morressem todos os que não adorassem a imagem da Besta.
14, 13Ouvi então uma voz do céu, dizendo: "Escreve:
felizes os mortos, os que desde agora morrem no
Senhor. Sim, diz o Espírito, que descansem de suas
fadigas, pois suas obras os acompanham“

16, 13Nisto vi que da boca do Dragão, da boca da Besta e


da boca do falso profeta saíram três espíritos impuros,
como sapos.
16, 14 São, com efeito, espíritos de demônios: fazem
maravilhas e vão até aos reis de toda a terra, a fim de
reuni-los para a guerra do Grande Dia do Deus todo
poderoso.

17, 3Ele me transportou


então, em espírito, ao deserto, onde vi uma mulher
sentada sobre uma Besta escarlate cheia de títulos
blasfemos, com sete cabeças e dez chifres.
18, 2 Babilônia, a Grande! Tornou-se moradia de
demônios, abrigo de todo tipo de espíritos impuros,
abrigo de todo tipo de aves impuras e repelentes,

19, 10Caí então a seus pés para adorá-lo,


mas ele me disse: "Não! Não o faças! Sou servo como tu
e como teus irmãos que têm o testemunho de
Jesus. É a Deus que deves adorar!" Com efeito, o espírito
da profecia é o testemunho de Jesus.
21, 10Ele então me arrebatou
em espírito sobre um grande e alto monte, e mostrou-me
a Cidade santa, Jerusalém, que descia do céu, de
junto de Deus,

22, 6 Disse-me então: "Estas


palavras são fiéis e verdadeiras, pois o Senhor, o Deus dos
espíritos dos profetas, enviou o seu Anjo para
mostrar aos seus servos o que deve acontecer muito em
breve.
22, 17O Espírito e a Esposa" dizem: "Vem!" Que aquele
que ouve diga
também: "Vem!" Que o sedento venha, e quem o deseja
receba gratuitamente água da vida.

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