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CARTA AOS

ROMANOS
1.- INTRODUCÃO

A maioria dos acontecimentos data a epístola aos Romanos


dos anos 57/58. Mais precisamente, no começo de 58,
quando Paulo permaneceu por três meses em Corinto.

Paulo terminava, então sua terceira viagem missionária,


começada em 54, a qual tinha levado o apostolo de
Antioquia (Síria) a Éfeso, onde permanecera por cerca de
três anos (At 20,31).
Decidiu escrever aos cristãos de Roma uma carta que foi
levada pela diaconisa Febe (Rm 16,1).

Nesta carta expõe as grandes linhas do seu Evangelho.


Leitura: Rm 1, 16-17

O Evangelho até então tinha sido anunciado de Jerusalém


até o Ocidente (Rm 15,19). Um novo futuro abria-se com
perspectiva de ir até a Espanha (Rm 15,24.28). Roma iria
exercer no Ocidente o mesmo papel exercido por Antioquia
no Oriente.
A carta aos Romanos exprime a maturidade do pensamento
de Paulo, trata-se do tratado teológico de Paulo.

O seu tema é o Evangelho como força de salvação para


todo aquele que crê em Jesus Cristo. Ele mostra a situação
de pecado, e a força da salvação que vem por Cristo.

Esta é a dialética desenvolvida progressivamente: o


pecado, a força do Espírito.
1.1.- O autor

Sem dúvida a Carta aos Romanos e de autoria do


apóstolo Paulo. É a carta mais longa dos escritos
paulinos.

Trata-se de um texto bem estruturado onde Paulo


desenvolve seu pensamento teológico.
1.2.- Onde foi escrita

Em Corinto, Paulo se hospedou na casa de Gaio (Rm


16,23), na qual se reunia a comunidade cristã.

Roma foi fundada pelos descendentes de Enea,


Rômulo e Remo em 753 a.C. Nasce da união dos
latinos e dos sabinos e era a princípio uma vila de
Pastores.
A comunidade cristã de Roma teria sido fundada
por Hebreus que lá habitavam presentes em
Jerusalém durante a festa de Pentecostes e
convertidos a fé em Jesus pela pregação de
Pedro.
2.- A cidade de Roma - a capital do Império

Capital de extraordinário prestígio, Roma era um centro


para onde convergiam as riquezas de todos os pontos do
Império.

Na ocasião da escrita da carta aos Romanos, vivia-se a


época do imperador Nero.
2.1.2.- Como funcionava a religião

Era utilizada como uma forma de manter a dominação.

a) Culto ao Imperador: César é o Senhor. Reverenciado


em todo o Império.

b) Culto aos deuses da cidade: Roma cultuava seus


deuses e a eles pedia proteção.
c) Culto aos deuses do Lar: cada família possuía devoções
particulares a deuses familiares. A família se encontrava unida
ao redor do culto aos seus deuses. O pai de família era o
sacerdote desse culto.

d) Culto dos mistérios: eram os cultos orientais muito


espalhados por todo o império.

e) Culto do conhecimento: procuravam dar sentido para a


vida através do conhecimento.
2.1.3.- Como funcionava a economia

A economia baseava-se na produção rural:


agricultura e pecuária.
2.1.4.- Como funcionava a vida social

A sociedade estava organizada em pirâmide.

Poderíamos assim elencar:


1. Cidadão romano: homem livre, privilegiado por
ser membro da cidade-capital. Esse título
podia ser ganho como recompensa ou
comprado por dinheiro da parte de quem não
pertencia as grandes famílias romanas. O título
passava de pai para filho, por isso, muitos
eram cidadãos;
2. Cidadão: homem livre das grandes cidades do
império. Ele participava da assembléia da
cidade e elegia os administradores. Podia
também ser leito para cargos públicos;
3. Estrangeiro: era aquele que vivia em uma
cidade em que não era cidadão, e por isso não
tinha os direitos e privilégios que tinham os
cidadãos;
4. Escravos: eram considerados mercadorias. Na
lista dos bens eram mencionados depois do
gado. Dependiam totalmente de seus donos.

Era sobre eles que repousava a maior parte da


produção. Em algumas cidades chegavam à
forma 1/3 e, vez por outra, quase a metade da
população.
3.1.- A situação social

A comunidade de Roma formou-se muito antes da


visita de Paulo (At 28,14-15). O cristianismo aí
penetrou levado pelas correntes do comércio,
mediante a grande expansão da Diáspora judaica.
A TEOLOGIA DA
EPÍSTOLA AOS
ROMANOS
O PARENTESCO ENTRE OS TEMAS DE GÁLATAS E DE ROMANOS

Em nosso estudo sobre a carta aos gálatas o parentesco entre a


epístola aos Gálatas e a epístola aos Romanos (cf. Introdução aos
Gálatas).
Muitos temas importantes a se encontram duas cartas: natureza
do Evangelho (Gl 1,6-10 e Rm 1,16-17); justificação pela fé e não
pelas obras da Lei (Gl 3,16 e Rm 3, 20-28); exemplo tirado do
caso de Abraão (Gl 3,6 e Rm 4, 1ss); conflito entre carne e o
Espírito (Gl 6,19-25 e Rm 7,14-25; 8, 2-9); valor redentor da
morte de Cristo (Gl 1,4; 3,13; 4,5; 2,20 e Rm 3,24; 5,8; 8,31-39);
papel do batismo (Gl 3,27 e Rm 6,3-5); vida cristã entendida
como participação na morte e na ressurreição de Cristo (Gl 2,19;
5,24; 6,15 e Rm 6,4-5).
A HUMANIDADE PECADORA SOB A IRA DE DEUS
(Rm 1, 18—3, 20)

Paulo pinta aí um quadro pessimista da situação da humanidade, toda


ela pecadora (judeus e gentios) e, por isso, sob a ira de Deus.
A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

Em Rm, o verbo justificar, o adjetivo justo e os substantivos


justiça e justificação não aparecem menos de 40 vezes.

O termo justiça é usada comumente para designar a virtude que


manda dar a cada um que lhe é devido. Não é este sentido
próprio quando se fala da "justiça de Deus".
Na linguagem bíblica, a "justiça DE Deus" é essencialmente a
fidelidade de Deus as suas promessas.

Dizer que Deus é justo é afirmar, de um lado, que ele quer o bem
do homem e, do outro, que ele é fiel assim mesmo e aos seus
ensinamentos, particularmente à Abraão (Gn 12, 2-3).

Deus se revelou justo em plenitude quando realizou em Jesus


Cristo a salvação da humanidade, em conformidade com seu
desígnio de amor.
É nesta linha que deve ser entendido o verbo justificar. Dizer que
Deus justifica o homem não significa que ele lhe dá razão, que
reconhece a sua inocência ou seus méritos pessoais, que
proclama seu "pleno direito".

Significa que, livremente e por fidelidade assim mesmo, Deus


pronuncia sobre o homem veredicto de graça, que o salva do
pecado e lhe dá, de modo totalmente gratuito, acesso aos bens
da promessa.
A justificação, da qual fala muitas vezes a epístola aos Romanos,
é a situação nova na qual se encontra daí para frente o homem
"agraciado", isto é, objeto da graça.

O homem é recriado em Jesus Cristo e o Novo testamento não


hesita em falar de nova criação (Gl 6,15) e de ressurreição (Rm
6, 3-11).

Leitura: Rm 3, 21-31 / Rm 5, 1-11


A FÉ

É pela fé que homem tem acesso à justificação.

A fé da qual se trata não é, em primeiro lugar, adesão intelectual


a uma lista de verdades, mas uma entrega total a Deus,
considerando como o único que pode salvar.
É importante notar que Paulo nunca disse que a fé justifica
(como se o crente, pela sua fé, fosse o autor da sua justiça).

Ele afirma sempre que é Deus quem justifica "pela" fé ou que o


homem é justificado (submetido, por Deus) "pela", "mediante" a
fé.
CRISTO, SEGUNDO ADÃO

Ausente da epístola aos Gálatas, tratado em alguns versículos da


1Cor (15, 21-22.45-49), o tema de Cristo, segundo Adão, é
objeto de reflexão aprofundada em Rm 5, 12-21 (Leitura).

Paulo procura menos estabelecer um paralelo de estreita


semelhança entre os dois Adãos do que mostrar a superioridade
do segundo sobre o primeiro.
O BATISMO

Em Gl, Paulo faz uma alusão rápida ao batismo (Gl 3,27). Em Rm,
ao contrário, ele desenvolve a teologia, a mística e as exigências
concretas do batismo.

Para ele, a imersão batismal simboliza o sepultamento de Cristo e


sua ressurreição gloriosa na manhã da Páscoa.

Leitura: Rm 6, 1-14
Mas há no batismo mais do que um símbolo: o gesto batismal
realiza uma verdadeira Páscoa na pessoa do batizado.

Daí por diante, está radicalmente morto pelo pecado e vive da


vida do ressuscitado.

Por isso, em seu comportamento, ele deve tornar-se o que ele


se tornou fundamentalmente em seu batismo (é este
fundamento da ética paulina: tornar-se o que se é).
A LEI

A posição de Paulo em relação à Lei não difere da que ele tinha


exposto na epístola ao Gálatas. Está sempre entendido que o
homem "é justificado pela fé, sem as obras da lei" (Rm 3,28).
O MISTÉRIO DE ISRAEL

Paulo trata de um problema angustiante: como foi possível que


o povo de Israel, em seu todo e em seus responsáveis oficiais,
não aceitassem a mensagem cristã, que, não obstante, se
apresentavam como o cumprimento das promessas feitas por
Deus a Abraão e retomadas pelas grandes vozes proféticas do
passado?
Em Rm 9--11, Paulo mostra que o plano de Deus foi
frustrado. Apoiando-se na escritura, encontra ele, na
situação de Israel do sec. I, as constantes da ação de
Deus: gratuidade da eleição, liberdade soberana, e
promoção de um "pequeno resto", que será único a
entrar na posse da herança.
A resposta dos crentes
(Rm 12—15, 13)

Epílogo conclusivo
Rm 15, 14—16, 27
A VIDA NO ESPÍRITO

Este tema tem valor de extrema importância na carta aos


Romanos.

A palavra pneuma e seus derivados aparecem 21 vezes em


Romanos 8.

Para Paulo não existe mais condenação para aqueles que estão
em Cristo, uma vez que a Lei do Espírito trás libertação.
Em Rm 8, 1-27 Paulo usa 22 vezes o vocábulo πνεῡμα,
sendo que 5 delas possuem significado antropológico ao
referir-se ao espírito
humano (8:10, 15 3x, 16) e 17 com sentido teológico se
referindo ao Espírito Santo (8:2, 4, 5 2x, 6, 9 3x, 11 2x,
13, 14, 16, 23, 26 2x, 27).

Leitura: Rm 8
Romanos 7 e 8 formam o verso e o reverso da mesma
moeda: da libertação a vida do Espírito.

A partir da mudança do regime dalei do pecado para o


Espírito da vida, se opera a mudança do pecado para a
salvação, da morte para a vida.

O termo Espírito significa vida nova conquista pela


ressurreição de Jesus.
O Espírito é a ponte de comunicação entre graça e fé,
homem e Deus.

O termo carne designa a tendência pessoal de


resistência a Deus que arrasta para a morte; o espírito é
o novo princípio de ação que visa a vida.

Em Gl 3, 26 Paulo escreve: “porque todos vós sois filhos


de Deus pela fé em Cristo Jesus”. Os fiéis são tidos como
filhos em relação ao Pai.
O cristão recebeu um espírito de adoção filial. A palavra adoção é
extraída da linguagem jurídica helenista, por ser desconhecida da
Escritura é pouco utilizada no NT. No mundo grego este vocábulo
significa aceitação como filho.

Dentro da teologia paulina, a concepção de Deus que mais se


salienta é a de Pai. Na literatura paulina, a paternidade de Deus é
vista de três modos: Deus é o Pai de Jesus (1Cor 1, 9); o Pai dos
cristãos (2Cor 1, 2) e é o Pai de toda criação.

A paternidade de Deus significa para aquele que crê, fonte de vida


espiritual e certeza de seu amor.
Como na carta aos Gálatas todos aqueles que são conduzidos pelo
Espírito são filhos de Deus.

O dom do Espírito nesta terra faz parte da adoção futura


começada e constitui na sua plena efusão a filiação divina
perfeita. Ser filhos de Deus é estar sob a moção do Espírito Santo.

A filiação é base antecipada da nova vida das criaturas, de filhos


de Deus. Em suma a filiação nos faz participar dos sofrimentos de
Cristo para sermos com Ele glorificados, herdeiros de Deus e co-
herdeiros de Cristo.
Os cristãos são chamados de co-herdeiros de Cristo, porque
receberam por meio dele a graça de serem filhos e herdeiros.
Antropológico

1, 9Deus, a quem sirvo em meu espírito, anunciando


o evangelho do seu Filho, é testemunha de como me
lembro

2, 29 mas é judeu aquele que o é no interior e a


verdadeira circuncisão é a do coração,
segundo o espírito e não segundo a letra: aí está quem
recebe louvor, não dos homens, mas de Deus.
7, 6 Agora, porém, estamos livres da Lei, tendo
morrido para o que nos mantinha cativos, e assim
podermos servir em novidade de espírito e não na
caducidade da letra.

11, 8Como está escrito: Deu-lhes Deus um espírito de


torpor, olhos para não verem, ouvidos para
não ouvirem, até o dia de hoje
12, 11Sede diligentes, sem preguiça, fervorosos de
espírito, servindo ao
Senhor,
Teológico

1, 4 estabelecido Filho de Deus com poder por sua


ressurreição dos mortos, segundo o Espírito de
santidade, Jesus Cristo nosso Senhor (base da
pneumatologia da carta).

5, 5 E a esperança não decepciona, porque o amor de


Deus foi derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado.
9, 1 Digo a verdade em Cristo, não minto, e disto me dá
testemunho a minha
consciência no Espírito Santo:

14, 17 porquanto o Reino de Deus não


consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria
no Espírito Santo.

.
15, 13 Que o Deus da esperança vos cumule de toda
alegria e paz em vossa fé, a fim de que pela ação do
Espírito Santo a vossa esperança transborde.

15, 16 de ser o ministro de Cristo Jesus para os gentios, a


serviço do evangelho" de Deus, a fim de que
a oblação dos gentios se torne agradável, santificada pelo
Espírito Santo.
15, 19 pela força de
sinais e prodígios, na força do Espírito de Deus: como,
desde Jerusalém e arredores até a Ilíria, eu levei a
termo o anúncio do Evangelho de Cristo

15, 30 Contudo, eu vos


peço, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo, e pelo amor
do Espírito, que luteis comigo, nas orações que
fazeis a Deus por mim,

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