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HEBREUS

Autoria

Como muitos escritos neotestamentários, Hebreus é anônimo e


todas as tentativas de identificar o autor são em vão.

Antes de Hebreus ser aceita amplamente como parte das


Escrituras canônicas, entre o século II e IV, a Igreja do Oriente
estava convencida de que o autor era Paulo.
Mas para muitos cristãos daquele tempo era óbvio pelo
estilo, pelo vocabulário e pela teologia que este sermão
não tinha sido escrito por Paulo.

No início do século III, Orígenes examinou a questão e


concluiu: “Só Deus sabe quem realmente escreveu a carta”.
A especulação antiga tendia a concentrar-se em Lucas
ou Barnabé, o missionário companheiro de Paulo
segundo os Atos dos Apóstolos, ou Clemente de Roma.

Autores mais tardios, a começar por Martinho Lutero,


no século XVI, sugeriam o nome de Apolo, outro
companheiro de Paulo, como possível escritor da
mesma.
Em relação aos destinatários não temos claro a quem
este sermão foi dirigido.

A própria designação antiga “Hebreus” não é muita


clara, mas provavelmente refere-se a cristãos de
origem judaica.
Por Hebreus usar o Antigo Testamento tão
extensivamente, na Antiguidade e também na época
atual, muitos intérpretes julgaram que ela era dirigida a
antigos judeus que estavam correndo o perigo de
perder a esperança em Cristo e voltar ao judaísmo.

Essa situação é possível, mas nada fácil de comprovar.


Não há nada em Hebreus que surgira claramente o
perigo de uma volta ao judaísmo. Assim, é
provavelmente melhor presumir que o sermão é dirigido
aos cristãos em geral e não apenas a antigos judeus.

Devido à semelhança de seu pensamento ao judaísmo


alexandrino, Alexandria foi cogitada como seu lugar de
origem.
Há quem especule que Hebreus compartilha uma
espécie de teologia romana e neste caso Roma seria o
lugar de sua redação.

Data

O próprio sermão dá a entender que foi escrita um


pouco depois da primeira geração do anúncio cristão,
após 70 d.C.
A “epístola” aos Hebreus teve sua autenticidade posta em dúvida
desde a antiguidade.

Raramente se contestou sua canonicidade, mas a Igreja do


Ocidente, até o fim do século IV, recusou-se a atribuí-la a São
Paulo;

A do Oriente aceitou esta atribuição, porém não sem fazer às vezes


certas reservas no tocante à sua forma literária (Clemente de
Alexandria, Orígenes).
A linguagem e o estilo deste escrito são de uma pureza
elegante, que não pertence a são Paulo.

A maneira de citar e de utilizar o AT também não é sua.

Faltam aí o endereço e o preâmbulo, com os quais ele


costuma iniciar suas cartas.
Um "bilhete" final cita Timóteo, e a linguagem desse
escrito relembra as epístolas pastorais e as do cativeiro.

Essas considerações levaram muitos críticos católicos e


protestantes a admitir um redator que se inscreve na
ambiência paulina, mas não há acordo quando se trata de
identificar o autor anônimo.
Este documento, é uma das melhores obras escritas do
cristianismo primitivo, e a sua origem envolvida de
muito mistério.

Os biblistas modernos concordam que a obra não é uma


carta, não foi escrita por Paulo, nem dirigidas aos
“hebreus”.
Sermão literário

Hebreus não é uma carta. Não tem saudação epistolar e


não é dirigida a nenhuma Igreja ou indivíduo em
particular. Podemos classifica-la como um sermão
literário.
Combina explicações teológicas, em grande parte
baseadas na interpretação da Bíblia, do Antigo
Testamento, como exortações à perseverança na
esperança e na fé.

O fato de Hebreus ser um sermão ajuda-nos a entender


um de seus clássicos problemas para o intérprete.
Tem suas raízes no pensamento grego popular
interpretado por pensadores como o judeu Filon de
Alexandria, do início do século I d.C.

• Nessa concepção, as promessas de Deus já se


cumpriram no céu.

• A obra salvífica de Cristo já se realizou ali e a fé


é discernimento de sua realidade.
Hebreus faz mais sentido quando presumimos que os
ouvintes orientam-se para o pensamento apocalíptico
tradicional e o autor busca reforçar essa orientação com
a garantia de que a esperança futura já está estabelecida
no presente.
Alguns intérpretes entenderam que a carta se refere ao culto
contemporâneo no templo judaico, pois usa o tempo
presente para descrever sacrifícios judaicos.

Mas não reconhecem que Hebreus é, em essência, um


comentário bíblico, que usa os relatos do Pentateuco, do
antigo culto israelita no tabernáculo ou tenda do deserto
para interpretar o supremo sacrifício de Cristo.
De fato, Hebreus nunca menciona o templo herodiano, nem
seu ritual. Esse templo foi destruído pelo exército romano
em 70 d.C. e não há provas de que Hebreus tenha sido
escrito antes ou depois da destruição.

A 1ª Epístola de Clemente de Roma que, em geral, se


considera ter sido escrita nos anos 90 do séc. I, contém
diversas passagens que parecem aludir a Hebreus.
Isso sugere que Hebreus já estava sendo difundida
naquela época. Nesse caso, mesmo Hebreus pode
datar do fim do século I.
Estrutura

O corpo principal do sermão (cap. 1—12) é mais bem


entendido como formando três partes, que constituem
as divisões principais da obra.
A primeira parte, 1,1—4,13, trata da palavra de Deus
expressa em seu Filho e exorta os ouvintes a prestar
mais atenção a esta palavra do que à palavra de Deus
comunicada pelos anjos ou por Moisés, isto é, a
palavra da lei mosaica.

A segunda parte, que é a principal, 4,14—10,31,


interpreta a morte salvífica de Jesus contra o pano de
fundo do sacerdócio israelita.
A terceira parte, 10,32—12,29, busca resguardar essa
esperança pelo conceito de fé como discernimento do
mundo celeste da realidade, onde a obra de Jesus se
realizou.

A obra termina (cap. 13) com algumas instruções


práticas e algumas características epistolares.
Em relação a importância de Hebreus

Primeiro, é uma teologia auto-suficiente da salvação de Cristo.

Segundo, o sermão é importante por nos mostrar, com mais


clareza que qualquer outro escrito do Novo Testamento, a
extensão do papel desempenhado pela interpretação do Antigo
Testamento no desenvolvimento do pensamento cristão
primitivo.
Podemos resumir a teologia de Hebreus em uma declaração
tríplice da atuação de Cristo, que corresponde às três divisões
principais do sermão.

Primeiro, Cristo é visto como a nova palavra de Deus, a


comunicação de Deus à humanidade em um novo estilo pessoal.

Leitura: Hb 1, 1-4
Segundo, Cristo atua como o sumo sacerdote único e eterno cujo
sacrifício na morte expia o pecado para sempre, estabelece uma
nova aliança e proporciona um novo acesso a Deus.
Leitura: Hb 4, 12-13 / Hb 5 / Hb 7, 20-28 / Hb 8--10

E, terceiro, o discernimento que Cristo tem do mundo celeste para


perseverar na esperança. É um notável perfil da fé cristã que se
encontra na pessoa e no papel do próprio Cristo.
Leitura: Hb 11
Em relação a Pneumatologia, na carta aos Hebreus também não
encontramos uma pneumatologia bem elaborada, mas o espírito é
inserido em argumentações centrais.

Fundamental nestes textos é a origem do espírito, o fato de que


vem de Deus que o distribui segundo a sua vontade (cf. Hb 2, 4). O
Espírito Santo aparece ainda no contexto do falar de Deus e
testemunha a atuação de deus que cria salvação.

O serviço reconciliador de Cristo na cruz realiza-se segundo Hb 9,


14 pelo espírito eterno.
Em Hebreus utiliza-se por 11 vezes o vocábulo πνεῡμα, das quais 3
possuem significado antropológico (4,12; 12, 9. 23) e 8 possuem
sentido teológico (1,14; 2,4; 3,7; 6,4; 9, 8. 14; 10, 15. 29)
Teológico
1, 14Porventura, não são to- dos eles espíritos servidores, enviados
ao serviço dos que devem herdar
a salvação?

2, 4 4testemunhando Deus juntamente com eles, por meio de


sinais, de prodígios e de vários milagres e por dons do Espírito
Santo, distribuídos segundo a sua vontade.

3, 7Eis por que assim declara o Espírito Santo: Hoje, se lhe ouvirdes
a voz,
6, 4 De fato, os que uma vez foram iluminados — que saborearam o
dom celeste, receberam o Espírito Santo,

9, 8 O Espírito Santo quis mostrar, com isso, que o caminho do


santuário não está aberto enquanto existir a
primeira tenda

9, 14quanto mais o sangue de Cristo que, por


um Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima
sem mancha, há de purificar a nossa consciência das obras mortas
para que prestemos um culto ao Deus vivo.
10, 15É isto o que também nos atesta o Espírito Santo, porque,
depois de ter dito

10, 29Podeis, então, imaginar que castigo mais severo ainda


merecerá aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o
sangue da aliança no qual foi santificado, e ultrajou o Espírito
da graça?
Antropológico

4, 12Pois a Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que


qualquer espada de dois gumes; penetra até dividir alma e espírito,
junturas e medulas. Ela julga as disposições e as intenções
do coração.
12, 9Nós tivemos os nossos pais segundo a carne como educadores,
e os respeitávamos. Não haveremos de ser muito mais submissos
ao Pai dos espíritos, a fim de vivermos?

12, 23e da assembléia dos primogênitos cujos nomes estão


inscritos nos céus, e de Deus, o Juiz de todos, e dos espíritos dos
justos que chegaram à perfeição,

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