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SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA INDEPENDENTE – STBI SP

CURSO DE FORMAÇÃO PLENA

Adriana G. Carnier

TEOLOGIA BÍBLICA DO LIVRO DE HEBREUS

São Paulo
2021
SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA INDEPENDENTE – STBI SP
CURSO DE FORMAÇÃO PLENA

Adriana G. Carnier

TEOLOGIA BÍBLICA DO LIVRO DE HEBREUS

Trabalho de conclusão de módulo sobre a Teologia


Bíblica de Hebreus, apresentado no módulo de
Teologia Bíblica do Novo Testamento, para
composição de nota, sobre a orientação do Professor
Leandro Silva.

São Paulo
2021

Introdução

A carta aos Hebreus é uma das epístolas mais bem elaboradas do Novo Testamento.
Desconsiderando as questões de autoria, que ainda geram inúmeros debates em relação a ser Paulo seu
autor ou não, a leitura e o estudo da carta inspiram uma infinidade de estudos bíblicos sobre seu
conteúdo baseando-se em seu gênero. Ela aparentemente é endereçada para uma comunidade de
cristãos judeus que diante das perseguições estavam retornando aos costumes judaísmo e se afastando
de Cristo. Tal como no caso de outras epístolas do Novo Testamento, Hebreus termina com alusões
pessoais, mas, divergentemente de outras epístolas, ela não conta com saudações introdutórias. O
estilo de oratória e observações como “Certamente me faltará o tempo necessário para referir...”
(11:32), parecem indicar mais um sermão do que um tratado. Porém, a assertiva: “...vos escrevi
resumidamente” (13:22), requer que pensemos que o livro de Hebreus é uma epístola endereçada aos
cristãos hebreus, embora escrita segundo o estilo de um sermão, o que não altera seu gênero, mas
modifica seu conteúdo. O principal propósito doutrinário do escritor é mostrar a glória transcendente
da era cristã em comparação com a do AT.

Tema e Argumentação

Há um duplo dualismo em Hebreus: um dualismo do superior e do inferior — o verdadeiro


mundo celestial e o transitório mundo terreno; e há um dualismo escatológico: o século presente
versus o mundo vindouro. Hebreus descortina diante de nós a glória da nova aliança em contraposição
à antiga, e resume a magnitude do sacrifício de Jesus que sobrepuja a tudo, em contraposição a todos
os sacrifícios do AT, por meio da palavra “quanto mais” (Hb 9.14). De forma muito singular ela
enfatiza o caráter único da ação redentora do Senhor. O apóstolo desenvolve essa glória extraordinária
da revelação de Deus na nova aliança por meio de três grandes ideias. Na primeira seção da carta (Hb
1.1-5.10) ele fala da majestade da pessoa de Jesus, o Filho de Deus, que é superior aos poderes
celestiais, aos mundos angelicais, mas de igual maneira aos grandes personagens da antiga aliança,
Moisés, Josué e Arão. Na segunda seção da carta (Hb 7.1-10.18) ele coloca a obra de Jesus ao lado
desse pensamento e nos mostra o nosso Senhor como o Sumo Sacerdote eterno e misericordioso. Na
terceira seção (Hb 11.1-12.29) ele fala de como o encontro vivo com a pessoa de Jesus e a experiência
pessoal de sua obra de salvação devem tornar-se eficazes na vida das pessoas, a saber, na fé e na
santificação. O alvo prático da carta são as exortações, que sucedem a cada uma das seções principais.
É evidente que todas as suas reflexões teológicas não são um fim em si próprias, mas apontam para
aqueles breves trechos em que, com palavras sérias, o autor chama a atenção dos fiéis que
experimentaram Cristo em sua vida, para o alcance imenso de sua responsabilidade.
O apóstolo coloca diante de seus leitores a magnitude da pessoa de Jesus, a fim de preveni-los
de apostatarem de Cristo (Hb 5.11 - 6.20). No seguimento à segunda seção, na qual ele expõe a
superioridade do sumo sacerdócio de Jesus sobre o sacerdócio, o santuário e os sacrifícios do AT, ele
adverte novamente para o pecado proposital e exorta os fiéis a perseverarem firmemente na tribulação
(Hb 10.19-39). Finalmente ele acrescenta à terceira seção, na qual fala da fé e da santificação (Hb
11,12), exortações práticas sobre seguir a Jesus com fé (Hb 13). A estrutura da carta nos revela que a
descrição do sumo sacerdócio eterno de Jesus (Hb 7.1 - 10.18) constitui a peça central da carta. Na
exposição, a posição de Mediador ocupada pelo Sumo Sacerdote não é apenas importante para o
apóstolo. Muito antes a “intercessio”, a oração da intercessão do Sumo Sacerdote eterno perante Deus
em favor de sua igreja, significa para ele o auxílio decisivo no sofrimento, bem como o penhor de que
os fiéis alcançarão o alvo da glória.
O serviço de sumo sacerdote de Cristo, enfim, não se realiza na terra, mas no céu. Por meio de
ilustrações terrenas ele concretiza uma realidade celestial. Assim, o apóstolo convoca os cristãos a
“levantarem o olhar” (Hb 12.2) para aquele que não conseguem ver com os seus olhos físicos, ou
também a se apegarem como Moisés ao invisível como se o vissem (Hb 11.27). Por meio de Cristo os
fiéis estão ligados ao mundo celestial, são participantes da “vocação celestial”, seu caminho é o
caminho da fé. Isso constitui a renúncia consciente a apresentar a salvação de maneira visível em
nosso tempo, mas a certeza de sua realização definitiva no mundo vindouro.

Cristologia

O centro teológico da Epístola aos Hebreus pode ser resumido em uma palavra: Cristologia.
Nenhum documento bíblico fora dos quatro evangelhos se concentraliza tão totalmente e com tanta
força sobre a pessoa e a conquista redentora de Jesus. Este é fator que mais do que qualquer outro,
assegurou o seu lugar de destaque no cânon da Igreja primitiva nas Escrituras, apesar das dúvidas
quanto à sua origem apostólica no Ocidente (Cartago e Roma), antes do século IV. A Cristandade
oriental parece a ter considerado como Paulina desde o começo.
O prefácio (1:1-3) define o palco com um resumo do exercício do Seu Filho divino na
liderança universal. Em meio a uma variedade de alusões a Sua divindade, Jesus é declarado ter
cumprido as três ordens divinas dos ofícios do Antigo Testamento, de profeta, rei e sacerdote. O
elemento profético aparece nos versículos 1-2, onde é declarado o Filho através do qual Deus falou a
Sua palavra final ao Redentor. Em seguida, a sua entronização régia universal é descrita na primeira
parte do versículo 3: “Ele sentou-se à direita da Majestade nos céus”. Esta posição é exaltada como o
resultado direto de sua realização sacerdotal: “Após ter realizado a purificação dos pecados.” É este
aspecto sacerdotal da pessoa e ministério de Jesus que toma o centro do palco ao passo que a
mensagem de Hebreus se desenrola.

Para fins de análise da epístola, ela pode ser dividida em duas seções principais. Em 1:1-10:18,
o tema principal é a superioridade de Cristo como sumo sacerdote eterno. Ele é declarado em última
instância superior às instituições mais prezadas da antiga fé hebraica. Ele é superior à palavra de Deus
falada através dos profetas visto que Ele próprio é a palavra final do Deus Redentor. Ele é superior às
hostes angelicais, porque nenhum anjo pode se orgulhar de ser o Filho de Deus, plenamente divino
(1:4-14), e ainda completamente humano (2:5-18). Esses dois fatores qualificam-no unicamente como
sendo o único fiel e capaz de levar os pecados de Seu povo. Com base na mesma singularidade do seu
Ser, Ele é tão superior a Moisés, o grande Legislador de Israel (3:1-6), como o Criador é sobre o
criado. O descanso espiritual das obras mortas, oferecida por Jesus, é superior ao temporal
representado em Moisés e Josué, através da ocupação da terra prometida (4:1-11; esp. Vv. 9-10).
Começando com o capítulo 5, a preocupação central teológica da epístola surge: o sacerdócio
espiritual eterno assumido por Jesus através da oferta de Si mesmo como de um sacrifício feito de uma
vez por todas pelos nossos pecados. É infinitamente superior ao ministério temporal e terreno exercido
por Arão e seus descendentes (4:14-5:11; 7:1-10:18).
Aqui, a cristologia de Hebreus atinge o seu pico mais elevado, com Jesus, o sacerdote eterno,
que entra no santuário interior do universo onde Ele oferece o Seu próprio corpo e sangue na
submissão voluntária a Deus como um sacrifício pelos pecados de uma só vez, para sempre, em nome
de toda a humanidade. Ele é sacerdote e vítima, ofertante e o oferecido!
Em 10:19-13:25 a criptológica do argumento formal enfatiza a aplicação prática. O tema agora
assume a forma de um apelo urgente para que os leitores pudessem depositar sua confiança inabalável
na suficiência de Jesus como Sumo Sacerdote eterno (10:19-39), motivados pelo exemplo supremo de
fé e resistência, Ele demonstrou durante os dias de sua carne (12:1-4). Ele aparece como o último, e de
longe o maior de todos, na longa linha de heróis e heroínas da fé convocados para o banco das
testemunhas no famoso capítulo 11. É Ele, e Ele apenas, a quem os leitores são convocados a centrar a
sua atenção concentrada, se desejam ser bem-sucedidos em correr a corrida da vida. Quatro avisos em
forma de “seções” (2:1-4; 3:7-19; 4:11-13; 5:11-6:20) destacam a intensa preocupação pastoral
sustentado em toda a epístola.

Destinatários da Carta

A série de sermões que encontramos na carta aos Hebreus foi desenvolvida para pessoas que
estão familiarizadas com o AT. Elas conhecem as histórias de Moisés, da peregrinação no deserto, do
tabernáculo e do culto de sacrifícios. Elas ainda estão presas, em parte, a essa tradição. O que está no
AT não é Palavra revelada de Deus? O que aconteceu por meio da revelação de Deus em Jesus Cristo?
A antiga aliança está cancelada? No diálogo de hoje entre cristãos e judeus, essas questões são
atualíssimas. Que importância tem a vinda de Jesus Cristo para a história que Deus tinha para o seu
povo Israel?
A resposta da carta aos Hebreus é categórica: Jesus Cristo é a última palavra de Deus e,
portanto, a autoridade final. Ele é o padrão pelo qual se deve avaliar o que ainda vale do AT e o que
está ultrapassado. Depois da morte de Jesus Cristo na cruz já não precisamos de cultos com sacrifícios.
Estes pertencem ao passado. Mas o que continua valendo do AT são os testemunhos da fé. Estamos,
de certa forma, alicerçados neles, e podemos aprender deles o que é fidelidade. Permanece também a
advertência para não cairmos da fé em Jesus Cristo. A história de Israel fornece muitos exemplos das
consequências na vida daqueles que caem da fé.
Hebreus, portanto, nos desafia a nos ocuparmos com o AT. Ao mesmo tempo, Hebreus
oferece uma ajuda substancial para definirmos melhor a relação entre a revelação veterotestamentária
e a revelação em Jesus. Numa época em que o diálogo entre as religiões muitas vezes relativiza o
fundamento cristão, a carta aos Hebreus firma a Igreja de Jesus no seu verdadeiro alicerce: Jesus
Cristo é a última palavra e, portanto, autoridade final de Deus.

Conclusão

Como argumento legal em apoio de Cristo, a carta aos hebreus é uma obra-prima
incontestável, de elaboração perfeita e largamente documentada com provas das Escrituras Hebraicas.
Considera os vários aspectos da Lei mosaica — o pacto, o sangue, o mediador, a tenda de adoração, o
sacerdócio, as ofertas — e mostra que nada mais eram do que um padrão feito por Deus apontando
para coisas muito maiores por vir, todos eles culminando em Cristo Jesus e seu sacrifício, o
cumprimento da Lei. A Lei ‘que se torna obsoleta e fica velha está prestes a desaparecer’, disse Paulo.
Mas “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre”. (8:13; 13:8; 10:1). Mas, de que valor é isto
para nós hoje, em nossas circunstâncias diferentes? Visto que não estamos debaixo da Lei, podemos
encontrar algo de proveitoso nos argumentos apresentados no livro? Certamente que sim. Esboça-se
aqui o grande arranjo do novo pacto baseado na promessa feita a Abraão de que por meio de seu
Descendente todas as famílias da terra se abençoariam. Esta é a nossa esperança de vida, a nossa única
esperança, o cumprimento da antiga promessa de Deus de bênção por meio do Descendente de
Abraão, Jesus Cristo. Embora não estejamos sob a Lei, nascemos no pecado como prole de Adão, e
necessitamos de um sumo sacerdote misericordioso, que tenha uma oferta válida pelo pecado, que
possa entrar na própria presença de YHWH, no céu, e ali interceder por nós. Eis que o encontramos, o
Sumo Sacerdote que pode conduzir-nos à vida no novo sistema mundial de Deus, que pode
compadecer-se das nossas fraquezas, tendo sido “provado em todos os sentidos como nós mesmos”, e
que nos convida a ‘nos aproximarmos, com franqueza no falar, do trono da graça imerecida, para
obtermos misericórdia e acharmos graça imerecida para ajuda no tempo certo’. — 4:15, 16.
Bibliografia

BÍBLIA DE REFERÊNCIA THOMPSON: COM VERSÍCULOS EM CADEIA TEMÁTICA;


ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS / COMPILADO E REDIGIDO POR FRANK CHARLES
THOMPSON. Hebreus. Tradução de João Ferreira de Almeida – São Paulo: Editora Vida, 2010.

BIBLIOTECA BÍBLICA. Biblioteca Bíblica Servindo desde 2008, c2021. Disponível em:
https://bibliotecabiblica.blogspot.com/search/label/Carta%20aos%20Hebreus?max-results=5?&max-
results=7

LADD, George Eldon; TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO. Tradução Darci Dusilek, Jussara
Marindir Pinto Simões Árias. São Paulo: Hagnos, 2001.

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