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ENSAIO EXÉGETICO: ROMANOS7:1-6

Leandro Gonçalves de Sousa 1


Samuel rodrigues da silva Teixeira Barros2

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise exegética mais aprofundada
do texto de Romanos 7:1-6, visando compreender de forma mais precisa a mensagem
transmitida pelo apóstolo Paulo. Nesta passagem bíblica, é discutida a libertação do poder da
lei, e é feita uma analogia do casamento para ilustrar a relação entre os cônjuges mediante a
lei do matrimônio.
A pesquisa será desenvolvida por meio de uma abordagem que contempla o contexto
histórico e cultural no qual o livro de Romanos foi escrito, a estrutura e os principais
elementos do texto, bem como as principais interpretações e debates teológicos relacionados a
este tema.
Além disso, serão apresentadas reflexões sobre a aplicabilidade dos ensinamentos
contidos em Romanos 7:1-6 na contemporaneidade, visando compreender de que forma esta
passagem pode ser relevante para a vida e espiritualidade dos cristãos.Espera-se, com isso,
contribuir para o avanço do conhecimento sobre este importante trecho da Bíblia, e para a
compreensão mais profunda dos ensinamentos do apóstolo Paulo acerca da lei, da liberdade e
do amor divino.
Cléber Eduardo dos Santos, em seu livro "A Lei em Romanos: Uma análise da
estrutura e função do conceito de lei no pensamento de Paulo" destaca que "o
domínio da lei é um tema recorrente no livro de Romanos e é fundamental para
compreender a mensagem do apóstolo Paulo. Ele inicia sua carta explicando a
necessidade da justiça de Deus e como a lei não pode produzi-la, mas sim revelar o
pecado do ser humano" (SANTOS, 2017, p. 29).

No Segundo tópico, apresentamos de forma sucinta um esboço da passagem e suas


principais ideias. No terceiro tópico, realizaremos um breve levantamento dos contextos
históricos e literários, a fim de proporcionar uma melhor compreensão do livro de Romanos e,
mais especificamente, desta perícope. No quarto tópico, procederemos à análise da passagem,
1
Graduando em teologia pelo SALT-UNIAENE, Cachoeira-BA. 65 Matutino.
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Graduando em teologia pelo SALT-UNIAENE, Cachoeira-BA. 65 Matutino.
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versículo por versículo. Por fim, no quinto tópico, apresentaremos as conclusões e aplicações
do material estudado.

2 IDEIA PRINCIPAL E ESBOÇO

Criamos um esboço de romanos 7:1- 6 com as principais ideias que serão analisadas:

1 O você não sabe irmãos pois falo aos que conhecem a lei.

2 A lei tem domínio sobre uma pessoa apenas enquanto ela está viva.

3 Morreram para a lei

4 Estará livre da lei se o marido morrer.

5 Está Livres da lei

3 CONTEXTO (HISTÓRICO E LITERÁRIO

A passagem que está sendo objeto de estudo encontra-se no livro de Romanos. A fim
de compreendê-la adequadamente, torna-se imprescindível adquirir conhecimentos acerca
de aspectos históricos e literários que se relacionam com esta obra.

CONTEXTO HISTÓRICO

De acordo com o primeiro versículo de Romanos, o autor é o apóstolo Paulo, e a carta


foi escrita para os cristãos de Roma. Não é possível dizer que a carta foi dirigida a uma
comunidade ou grupo especifico. Ela seguia o padrão já demostrada por Paulo em outras
epístolas, No entanto, deve-se notar que o conteúdo indica que a epístola pretendia alcançar
judeus e gentios (Rm 1:13; 11:13-24). Quando Paulo escreveu a igreja de Roma, ele não tinha
estado presencialmente nela, Segundo Souza (2006, p.77), quando o apóstolo visitou aquela
igreja, seu principal objetivo era divulgar as boas novas da graça. Nero era o governante de
Roma na época.
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Houve uma versão do livro de Romanos escrita por Marcion, um herege da época, que
circulou no século II, colocando em risco a integridade do texto e a data da epístola.  Essa
dificuldade é verificada pelas muitas doxologias apresentadas nos capítulos 14, 15 e 16.
De acordo com Kummel (1982), é muito provável que a epístola aos Romanos tenha
sido escrita por Paulo em Corinto, durante sua última estada de três meses nesta cidade, na
primavera de 55 ou 56 d.C., ou no inverno de 57/58 d.C., antes de sua viagem a Jerusalém
com a coleta. (p. 403) Essas informações são importantes para contextualizar o período em
que a carta foi escrita e a sua possível localização geográfica.
Segundo a Bíblia de estudo Andrews (2015, p. 1455), Mesmo diante de falsificação,
todos os líderes do século II reconheceram Paulo como o autor da Epístola aos Romanos .
Estes chegaram a mencioná-lo, demonstrando sua aceitação do fato de que as epístolas de
Paulo nunca enfrentaram críticas bem fundamentadas e apoiadas em evidências totalmente
confiáveis.
Tendo completado três extensas expedições missionárias, Paulo já havia percorrido as
regiões de Gálatas e Coríntios (Atos 13-14, 15: 36 -18: 22; Atos 18:23-20). Ao se dirigir à
comunidade cristã em Roma, ele abordou a questão contenciosa dos judeus impondo suas leis
aos gentios como forma de demonstrar justiça, a exemplo, o caso da circuncisão e consumo de
alimentos que dividiu o grupo em: considerados fortes e outros considerados fracos (Rm 2:
25; 14-15). Além disso, ele abordou a situação do povo judeu que lutou para encontrar
aceitação na igreja depois de ser usurpados devido a circunstância de expulsão de Roma,
líderes gentios dirigiram as sinagogas e ao retornarem os judeus, não foram bem vindos.
Apesar disso, o amor de Deus pelos judeus persistiu, e Paulo escreveu para defender e
enfatizar sua importância nos primeiros atos para salvar a humanidade (Rm 11: 28).
O ambiente social em que a mensagem foi transmitida destaca certos traços da própria
mensagem. Um desses aspectos é que a fé em Jesus Cristo, em vez da adesão à lei, é a chave
para a justificação. A lei de Deus deve ser observada pelo cristão, de acordo com (Romanos 7:
12), que afirma que a lei é santa, justa e boa. O apóstolo Paulo escreve que ele próprio deseja
obedecer à lei de Deus (Rm 7: 22), mas enfrenta a luta contra o pecado em sua natureza
humana (Rm 7: 7,19). Paulo expressa a importância de se submeter à lei de Deus, mas
também reconhece que nunca poderíamos obedecer completamente a ela sem a ajuda de
Deus.
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CONTEXTO LITERÁRIO

A Carta aos Romanos é uma das epístolas escritas por Paulo, o apóstolo, para a igreja
em Roma. A Carta aos Romanos é considerada uma das mais importantes e influentes cartas
escritas por Paulo, pois trata de questões teológicas centrais do cristianismo, como a salvação
pela fé em Jesus Cristo, a justificação, a santificação e a vida cristã. Paulo escreveu essa carta
para uma comunidade cristã que ele não havia fundado pessoalmente e que ele ainda não
havia visitado, mas que ele esperava visitar em breve. A carta é dividida em duas partes
principais: a primeira parte (capítulos 1 a 11) trata da doutrina cristã e da salvação pela fé em
Jesus Cristo, enquanto a segunda parte (capítulos 12 a 16) aborda as implicações práticas da
vida cristã. Paulo escreveu a carta em meio a uma série de eventos históricos importantes,
incluindo a expansão do cristianismo na Europa e o crescente conflito entre judeus e gentios
na igreja primitiva.
Além disso, a carta aos Romanos reflete a teologia de Paulo, que enfatiza a salvação
pela fé em Jesus Cristo como o único caminho para a salvação e a necessidade de viver de
acordo com os mandamentos de Deus. Paulo também usa uma variedade de recursos
literários, incluindo citações do Antigo Testamento e argumentos retóricos convincentes, para
reforçar sua mensagem.o contexto literário da carta aos Romanos é complexo e multifacetado,
incluindo elementos históricos, teológicos e literários que ajudam a entender a mensagem
central de Paulo e a importância duradoura dessa epístola para o cristianismo.

4 EXPLICAÇÃO DA PASSAGEM

7:1 ἤ ἀγνοεῖτε, ἀδελφοί, γινώσκουσιν γὰρ νόμον λαλῶ “Porventura, ignorais, irmãos
(pois falo aos que conhecem a lei” Em 6:3 encontramos o motivo dessa afirmação. O autor

espera que os destinatários retenham o ensinamento previamente transmitido acerca do


assunto em questão. Ademais, a utilização da expressão "ἀδελφοί" pela segunda vez indica a
conexão espiritual que Paulo sente com seus leitores. Paulo está se dirigindo aos cristãos que
conheciam a lei a qual era central para a vida religiosa e moral do povo. Ele está
argumentando que a lei de Moisés tinha autoridade sobre uma pessoa durante toda a sua vida,
e que ela só deixava de ter esse domínio sobre uma pessoa quando essa pessoa morria. Esse
verso é o início de um importante discurso de Paulo sobre a lei, a pecaminosidade da natureza
humana e a necessidade da graça de Deus para a salvação.
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a expressão "ἀγνοεῖτε, ἀδελφοί" é uma pergunta retórica, que serve para chamar a
atenção dos leitores e prepará-los para o argumento de Paulo sobre a lei. A palavra "κυριεύει"
significa "tem domínio" ou "exerce controle". Isso indica que Paulo está argumentando que a
lei exerce um controle sobre a vida das pessoas, e que esse controle só acaba quando a pessoa
morre. Essa ideia é central para o argumento de Paulo sobre a natureza da lei e sua relação
com o pecado e a salvação.Essas duas palavras indicam a relação da lei com a vida cristão

Além de abordar os resultados da morte para o pecado e as implicações da escravidão


decorrente da desobediência à lei (6.19), Paulo se dirige de forma afetuosa aos seus
destinatários, questionando-os acerca do conhecimento sobre os limites da jurisdição da lei. O
tema principal deste trecho é a "Libertação da lei", mencionado três vezes (2, 3, 6),
provavelmente por já serem cientes dessa verdade. O tema em pauta é delicado e requer a
confiança e atenção do público, (1:13) Ele está enfatizando que seu argumento se baseia nessa
lei.
ὃτι ὁ νόμος κυριεύει τοῦ ἀνθρώπου ἐφʼ ὃσον χρόνον ζῇ “que a lei exerce domínio sobre
o homem toda a sua vida ” O Apóstolo Paulo afirma que a lei foi estabelecida para regular a
conduta humana na vida atual, Romanos 7 é um dos textos mais complexos e controversos do
Novo Testamento. De acordo com John Murray (1968, p. 247), o substantivo "νόμος" neste
versículo significa um princípio geral e que o apóstolo não está se referindo especificamente à
lei do casamento mencionada nos versículos 2 e 3. A interpretação comum é que a lei
mencionada é uma norma moral divina que expõe a pecaminosidade humana e mostra a
necessidade de salvação em Jesus Cristo. John Stott, (2002, p. 117) enfatiza que a lei é uma
expressão do caráter de Deus e uma orientação para a vida humana, mas que a fé em Jesus
Cristo é necessária para a salvação. Douglas Moo, (1996, P. 200) destaca que a lei exige
obediência, mas é incapaz de fornecer poder para obedecer e que a lei revela o pecado, mas
não pode livrar a pessoa do poder do pecado. Ele afirma que a lei mencionada em Romanos 7
é uma lei que, mesmo sendo boa e santa, não pode trazer vida nem poder para obedecê-la. O
versículo 4 esclarece que "a lei" se refere à Torá. Paulo recorre um princípio fundamental da
lei: quem vive está sujeito a ela. O termo " senhorio" é utilizado de forma similar a 6:9 e 14,
onde descreve o reino do pecado e da morte, Dado o contexto de 5:20, não é surpreendente
que a mesma linguagem é usada para descrever a lei, o argumento de Paulo reitera o ponto de
vista apresentado no Capítulo 6: um indivíduo permanece sob o domínio do pecado, da morte
e da lei, desde que não tenha perecido. A morte de Cristo, conforme as escrituras (6:9-10), foi
um evento único que nos libertou do controle do pecado, da morte e da lei.
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7:2 e 3 ἡ γαρ ὓπανδρος γυνὴ τῷ ζῶντι ἀνδρὶ δέδεται νόμῳ· ἐὰν δὲ ἀποθάνη ὁ
ἀνήρ,κατήργηται ἀπὸ τοῦ νόμου τοῦ ἀνδρός “Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao
marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal”.
Paulo aplica a analogia do casamento, dizendo que os cristãos morreram para a lei e agora
pertencem a Cristo, assim como uma mulher fica livre da lei do casamento se o marido
morrer. o comentarista William Sanday destaca que "Paulo, ao falar aqui, adere à lei judaica,
que era bem conhecida dos seus ouvintes judeus, mas que pode parecer estranha aos cristãos
gentios" (SANDAY, 2014, p. 201). Segundo a lei judaica, a mulher estava vinculada ao
marido enquanto este estivesse vivo, e se casasse novamente enquanto o marido estivesse
vivo, ela seria considerada adúltera (Deuteronômio 24:4).
Neste versículo, a palavra "δεδέσθαι" (dedesthai) é usada para descrever a ligação que a
lei estabelece entre a mulher e seu marido. Essa palavra significa "estar atado" ou "ser
escravizado". Isso está relacionado com a ideia anterior de que a lei tem poder sobre os vivos.
O comentarista John Murray argumenta que "o propósito de Paulo é mostrar que a
analogia da mulher que se casa com outro homem após a morte do primeiro marido deve ser
aplicada ao cristão em relação à lei" (MURRAY, 1991, p. 300). Assim, a analogia usada por
Paulo serve para ilustrar como a morte de Cristo rompeu o vínculo entre a lei e os crentes.
A mulher casada representa a audiência que conhecia a lei antes da morte de Cristo. O
marido representa a lei, enquanto a morte do marido representa a morte de Cristo. O segundo
marido representa Cristo, que é aquele com quem os crentes estão livres para se casar após a
morte da lei. Para Jorge Nigth, em seu livro "Romans: Salvation for All", destaca que Paulo
está usando a analogia do casamento para ilustrar a relação dos cristãos com a lei de Deus. os
cristãos estão livres da lei de Deus somente após a morte de Cristo na cruz. Ele argumenta
que "a lei de Deus não pode ser mudada, abolida ou substituída"(Nighth, 2015, p. 80).
Corraborando com esta ideia john Stott, em seu livro "The Message of Romans", o versículo 3
de Romanos 7 indica que a lei não pode salvar, mas ainda é útil como uma revelação do
caráter de Deus. Stott argumenta que Paulo usa a analogia do casamento para mostrar que os
crentes estão mortos para a lei por meio da morte de Cristo e, portanto, não estão mais
debaixo da lei. Ele afirma que "Paulo não está falando sobre a lei do divórcio, mas sobre o
casamento entre Cristo e sua igreja" (Stott, 2001, p. 197). Stott ainda ressalta que, através
desta analogia, Paulo mostra que a lei de Moisés é impotente para salvar, mas ainda é útil para
revelar a santidade de Deus e a natureza do pecado.
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Portanto, serve para reforçar a ideia de que a lei não é capaz de salvar e que os crentes
estão livres da condenação por meio da morte de Cristo e que a lei, embora santa e boa, não
pode salvar o pecador. A analogia do casamento é uma representação da relação entre os
cristãos e a lei de Deus, e mostra que a lei ainda é importante como um guia para a vida cristã.
Mostra.
7:4 Paulo relaciona o corpo de Cristo com a expressão grega ἐθανατώθητε τῷ νόμῳ
(ethanatōthēte tō nomō), que pode ser traduzida como "vocês morreram para a lei". Essa
expressão indica que os cristãos morreram para a lei de Deus por meio da morte de Cristo na
cruz, e agora estão livres da condenação da lei e podem se casar com Cristo.
De acordo com o comentarista William Barclay, em seu livro "The Letter to the
Romans", a expressão "morremos para a lei" significa que "a lei não tem mais poder sobre
nós, nem pode mais nos condenar" (Barclay, 1975, p. 102). Barclay destaca que, em Cristo, os
cristãos são libertos da escravidão da lei e são capacitados a viver de acordo com o Espírito.
A justificação é explicada em capítulos anteriores de Romanos e a lei nunca foi meio de
justificação. O corpo de Cristo se relaciona com a expressão "morremos para a lei", indicando

que a morte de Cristo liberta os cristãos da condenação da lei. A expressão


"καρποφορήσωμεν τῷ θεῷ" no verso 4, é formada pelo verbo καρποφορέω, que significa
"produzir fruto" e pelo dativo τῷ θεῷ, que indica a quem esse fruto é produzido.,indicando
que os cristãos, por meio da morte de Cristo e da libertação da lei, agora têm a capacidade de
viver uma vida frutífera em obediência a Deus. C.K. Barrett argumenta que a frase indica a
ideia de que a vida cristã é uma vida de serviço a Deus, produzindo frutos para Ele. (Barrett,

1957, p. 102).
7:5 o termo "σάρξ" (sarx) refere-se à natureza pecaminosa da carne, ou seja, o lado
humano que tende a pecar e se rebelar contra Deus. Paulo usa a palavra "σάρξ" com
frequência em suas epístolas para descrever essa natureza humana caída que luta contra o
Espírito de Deus. Paulo afirma que a lei desperta o pecado em nós, mas agora os cristãos são
libertos dessa escravidão e podem viver para Deus.
No contexto do texto, Paulo está falando sobre a relação do crente com a lei de Deus e
como a morte de Cristo nos libertou da escravidão da lei e da morte. Ele enfatiza que agora
somos livres para servir a Deus por meio do Espírito Santo, mas que ainda lutamos contra a
nossa natureza pecaminosa. Aqui, a palavra "σάρξ" é usada em conexão com a ideia de que,
quando estávamos vivendo de acordo com a nossa natureza pecaminosa, a lei de Deus só
servia para aumentar o nosso desejo de pecar e levar-nos à morte espiritual.
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Assim, quando Paulo utiliza o termo "σάρξ" no verso 5, ele está mostrando como a lei
de Deus não podia libertar o homem da escravidão do pecado, mas que agora, por meio da
morte de Cristo, temos um novo caminho para viver segundo a vontade de Deus e ser libertos
da escravidão da carne.
De acordo com a expressão μέλεσιν ἡμῶν no verso 5 de Romanos 7, os τὰ παθήματα
τῶν ἁμαρτιῶν (os sofrimentos/sentimentos das paixões do pecado) operam em nossos
membros, ou seja, em nosso corpo físico. A palavra μέλεσιν significa "membros" ou "partes
do corpo", e é uma forma plural do substantivo μέλος. Já a expressão τὰ παθήματα τῶν
ἁμαρτιῶν pode ser traduzida como "os sofrimentos/sentimentos das paixões do pecado", que
são influências negativas e desejos pecaminosos que surgem em nossa natureza carnal. Esses
desejos são uma das formas pelas quais a natureza pecaminosa em nós opera, e eles podem
nos levar a cometer atos pecaminosos. De acordo com Gordon D. Fee (1995, p. 331) a
expressão "μέλεσιν ἡμῶν" se refere aos membros do corpo humano, e a frase "τὰ παθήματα
τῶν ἁμαρτιῶν" significa "as paixões do pecado". Fee explica que a natureza pecaminosa em
nós opera em nossos membros, manifestando-se através de desejos pecaminosos que podem
nos levar a cometer atos pecaminosos. O versículo 5 fala sobre as duas maneiras de viver que
são apresentadas no capítulo 7 de Romanos. A primeira maneira é viver sob o domínio da
carne, ou seja, a natureza pecaminosa. Nessa maneira de viver, as paixões pecaminosas são
despertadas e a pessoa produz frutos para a morte. Já a segunda maneira de viver é pelo
Espírito, em que a pessoa é liberta da lei do pecado e da morte e produz frutos para a vida. Em
6:12-14, Paulo exorta os cristãos a não deixarem o pecado reinar em seus corpos mortais, mas
sim a oferecerem-se a Deus como instrumentos de justiça. Ele afirma que agora somos "livres
do pecado" e "escravos da justiça", e que devemos usar nossos corpos para a glória de Deus.
7:6. “Mas agora fomos libertados da Lei, havendo morrido para aquilo em que
estávamos retidos, para servirmos em novidade de espírito, e não na velhice da letra". Paulo
resume seu argumento, dizendo que os cristãos agora servem a Deus em novidade de vida,
não mais na letra da lei, mas no Espírito.Essa passagem fala sobre a mudança que ocorre na
vida de uma pessoa quando ela aceita a Cristo e é justificada pela fé. O apóstolo Paulo fala
que agora somos libertos da Lei, não porque ela era ruim, mas porque não é mais a nossa
fonte de salvação.
Em vez disso, somos justificados pela graça de Deus através da fé em Cristo. Em outras
passagens do livro de Romanos, Paulo também explora a ideia de libertação da Lei, como em
Romanos 6:14-15. Nesse trecho, Paulo destaca que, por estarmos debaixo da graça, o pecado
não terá domínio sobre nós. Entretanto, essa liberdade não é uma licença para pecar, mas sim
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uma oportunidade de viver em santidade e obediência. Em Romanos 12:2, Paulo também


aborda a ideia de "novidade de espírito", exortando os crentes a se transformarem pela
renovação da mente, não se conformando com o mundo, mas sendo capacitados pelo Espírito
Santo a crescerem espiritualmente. Essas passagens complementam a reflexão sobre Romanos
7:6 e enfatizam a importância da santidade e da transformação contínua na vida do cristão.
(cf. Romanos 6:14-15; 12:2).
É de grande importância, pois ele nos lembra que nossa salvação não depende da nossa
capacidade de cumprir a lei, mas sim da graça de Deus manifestada em Cristo. Fomos libertos
da obrigação da lei para a salvação e agora pertencemos a Cristo. No entanto, essa liberdade
não significa que estamos livres para vivermos conforme a nossa própria vontade. Pelo
contrário, agora vivemos sob a lei de Cristo, que é o amor. Devemos buscar agradar a Deus e
viver em santidade, não como um meio para a salvação, mas como uma resposta ao amor de
Deus por nós.Obediência à lei de Cristo é uma evidência da nossa fé e do amor que temos por
Ele. Devemos buscar agradar a Deus e amar ao próximo, em vez de seguir nossos próprios
desejos egoístas.
Isso inclui obedecer a todos os mandamentos de Deus, incluindo os mandamentos do
sábado e da alimentação saudável. Em resumo, a vida cristã não é uma vida de legalismo ou
escravidão à lei, mas uma vida de liberdade em Cristo, vivida em amor e obediência a Ele.
Que possamos compreender e viver de acordo com essa verdade, buscando sempre agradar a
Deus em tudo o que fazemos.

5 CONCLUSÃO (APLICAÇÃO)

Paulo reflete profundamente sobre a relação entre a lei, a morte e a vida em Cristo em
Romanos 7:1-6. Ele explica que os cristãos foram libertos da lei por meio da morte de Cristo e
agora pertencem a Ele. A analogia do casamento usada por Paulo é significativa, pois assim
como a mulher é libertada da lei do casamento quando seu marido morre, os cristãos foram
libertos da lei pela morte de Cristo e agora pertencem a Ele. Essa libertação é uma grande
bênção que deve ser celebrada pelos cristãos.
Versículos 1-3: Paulo está argumentando que os cristãos foram libertos da lei como um
meio de salvação, mas não da obrigação de obedecer à lei moral de Deus. A morte de Cristo
removeu a maldição da lei (Gl 3:13) e tornou possível a justificação pela fé (Rm 3:28), mas
isso não significa que a lei perdeu sua validade. Os cristãos agora pertencem a Cristo e são
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chamados a obedecer à lei de Deus como uma expressão de amor e gratidão pela salvação
recebida.
A analogia do casamento é usada para ilustrar que, assim como uma mulher é libertada
da lei do casamento quando seu marido morre, os cristãos foram libertos da lei como um meio
de salvação pela morte de Cristo. Eles morreram para a lei e agora pertencem a Cristo, mas
isso não significa que estão livres para viver de acordo com seus próprios desejos. Eles são
chamados a obedecer à lei de Deus como uma expressão de amor e gratidão.
Versículos 4-6: Paulo continua sua argumentação, enfatizando que a morte e
ressurreição de Cristo inauguraram uma nova vida para os cristãos. Eles foram ressuscitados
para uma nova vida em Cristo e agora vivem sob a graça de Deus, não sob a lei condenatória
(Rm 6:14). Isso significa que os cristãos não estão mais sob a condenação da lei, mas ainda
são chamados a obedecer à lei moral de Deus, que é expressa na lei de Cristo, que é o amor
(Jo 14:15). A obediência à lei de Cristo é uma expressão de amor e gratidão pela salvação
recebida.
É importante que os cristãos entendam que a salvação não é alcançada pela obediência à
lei, mas pela graça de Deus por meio da fé em Cristo. Embora a lei não seja mais obrigatória
para a salvação, ela ainda é relevante para a vida cristã. A lei de Cristo, que é o amor, é o
padrão pelo qual os cristãos devem viver suas vidas. Eles devem buscar agradar a Deus e
amar aos outros, em vez de buscar agradar a si mesmos ou seguir seus próprios desejos. A
aplicação desses ensinamentos é crucial para os cristãos de todos os tempos.

6 REFERÊNCIAS

BARCLAY, William. The Letter to the Romans. Westminster John Knox Press, 1975.

BARRETT, C. K. The Epistle to the Romans. London: Continuum, 2004.

BÍBLIA SAGRADA. Edição Revista e Atualizada. Tradução de João Ferreira de Almeida.


São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2021.

Bíblia de Estudo Andrews. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015.

FEE, G.D. "Epistle to the Romans". In: The New International Commentary on the New
Testament. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1995.

KUMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982.

MURRAY, John. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Eerdmans, 1991.
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NIGHTH, Jorge. Romans: Salvation for All. Nampa, ID: Pacific Press Publishing
Association, 2015.

SANDAY, William. A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans.
Peabody: Hendrickson, 201.

SANDAY, William. Outlines of the Life of Christ. London: Longmans, Green, and Co., 1905.

SANTOS, Raimundo Nonato C. A Lei em Romanos: Uma análise da estrutura e função do


conceito de lei no pensamento de Paulo. São Paulo: Fonte Editorial, 2017.

Souza, E. R. (2006). Introdução ao Novo Testamento. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova.

STOTT, John R. W. The Message of Romans. Leicester: InterVarsity Press, 2001.

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