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Sumário

Introdução.................................................................................................................................1

1 Estudo Contextual..................................................................................................................2

1.1 Contexto Histórico da Passagem....................................................................................2

1.2 Contexto Literário da Passagem.....................................................................................4

1.2.1 Contexto Remoto......................................................................................................4

1.2.2 Contexto Próximo.....................................................................................................5

1.2.3 Estrutura do Contexto...............................................................................................6

1.3 Contexto Canônico..........................................................................................................7

2 Estudo Textual.......................................................................................................................8

2.1 Tradução do Texto..........................................................................................................8

2.1.1 Texto em Grego........................................................................................................8

2.1.2 Quadro de tradução..................................................................................................8

2.1.3 Sugestão de tradução.............................................................................................11

2.1.4 Comparação de versões.........................................................................................12

2.2 Estrutura do Texto.........................................................................................................17

2.3 Comentário....................................................................................................................19

2.4 Mensagem para a Época da Escrita.............................................................................35

2.5 Mensagem para todas as épocas.................................................................................36

2.6 Teologia do Texto.............................................................................................................37

2.6.1 Implicações para a Teologia Bíblica.......................................................................37

2.6.2 Implicações para a Teologia Sistemática...............................................................37

2.6.3 Implicações para a Teologia Prática......................................................................38

3 Sermão................................................................................................................................40

Conclusão...............................................................................................................................42

Referências Bibliográficas......................................................................................................43
Introdução
A intenção deste trabalho é fornecer uma compreensão correta e mais aprofundada
da perícope localizada em Romanos 5.1-11. Para tanto, serão abordados detalhes do
contexto histórico da passagem que ajudam no entendimento do texto. Nesta seção será
apresentado um material sobre os seguintes assuntos: judeus em Roma, perseguição aos
judeus e cristãos, cartas e amanuenses no mundo greco-romano, o paganismo em Roma, e
a data e local da escrita da carta.
A próxima seção será a do contexto literário da passagem. Neste ponto será tratado
o contexto remoto, próximo e canônico da passagem. Será demonstrado como as demais
passagens ao redor da perícope em estudo se relacionam com ela e ajudam na sua
interpretação. Além disso, passagens de outros livros da Escritura que estejam relacionadas
ao texto em análise também serão consideradas.
Em seguida vem o estudo textual da passagem, onde o texto grego será analisado e
traduzido, e a tradução será comparada com as seguintes versões em português: ARA,
ACF, NVI, BJ, BP. Além disso, o leitor se deparará com um gráfico da estrutura da perícope
que o ajudará a perceber como as partes do texto se relacionam entre si e como ele é
delimitado. A parte mais importante do trabalho, o comentário do texto grego, também será
tratada nesta seção. Nesta fase do trabalho todos os elementos da exegese se unem para
gerar uma compreensão correta da mensagem da perícope.
Ainda no estudo textual da passagem, será proposta a mensagem para a época da
escrita e para todas as épocas, além das implicações para a teologia bíblica, sistemática e
prática. Concluindo o trabalho, o leitor se deparará com um esboço de sermão que o fará
compreender mais claramente como o estudo exegético de Romanos 5.1-11 se aplica à sua
vida. A mensagem para a época da escrita, as implicações para a teologia bíblica,
sistemática e prática e o sermão conduzirão à apresentação do resultado desta pesquisa
exegética. Este trabalho pretende demonstrar que a mensagem de Romanos 5.1-11 é que a
esperança da glória está baseada na obra salvadora de Deus e no sacrifício expiatório de
Cristo.

1
1 Estudo Contextual
1.1 Contexto Histórico da Passagem
A população de Roma no primeiro século depois de Cristo passava de um milhão de
pessoas. A cidade era cosmopolita, como é de se esperar da capital de um império mundial.
Entre os estrangeiros que faziam parte dessa população estavam os judeus. Calcula-se que
no período apostólico a população de judeus em Roma estava entre 20000 a 30000. A
maioria desses judeus era descendente de escravos capturados nas guerras do império
romano.1
Não se sabe ao certo como a igreja romana foi fundada ou por quem. A teoria mais
provável é que o evangelho chegou a Roma por meio dos judeus que se converteram ao
cristianismo em Jerusalém no Pentecostes descrito em Atos 2. Na lista de povos presentes,
é dito que havia judeus de Roma.2 Contudo, em 49 d.C., os judeus foram expulsos de
Roma. O historiador romano Suetônio afirma que eles foram expulsos pelo imperador
Cláudio por causa de distúrbios estimulados por um certo Chrestus. Esse nome é uma
corruptela do nome Christus. Suetônio se referia a controvérsia messiânica entre líderes
cristãos e judeus.3 Contudo, após a morte de Cláudio, o seu decretou foi automaticamente
revogado. Com a volta dos judeus, a igreja voltou a ser composta de gentios e judeus.
Naturalmente, essa composição podia gerar algumas divisões na igreja. Um dos propósitos
de Paulo ao escrever esta carta é promover a união entre os crentes romanos.4
Foi somente a partir do imperador Nero, que reinou de 54-68 d.C., que houve uma
perseguição mais institucionalizada aos cristãos. Ainda assim, essa perseguição estatal era
motivada pela acusação de que os cristãos haviam incendiado Roma (o grande incêndio de
64 d.C.), e não por causa da fé cristã. A próxima perseguição estatal só aconteceu em 95
d.C., sob Domiciano.5 Contudo, como visto no parágrafo acima, pode-se afirmar que os
cristãos, gentios e judeus, sofriam constantemente por causa de sua fé.
No Novo Testamento, Roma se tornou aquilo que a Babilônia representava no Antigo
Testamento: a imagem do paganismo carnal e organizado.6 Isso envolvia conceitos errados
acerca de Deus, pois a religião pagã é centrada no que o homem faz para aplacar a
divindade ou conseguir dela benefícios. A doutrina da reconciliação, tão importante na
perícope em estudo, não aparece nas religiões pagãs antigas, pois elas não veem a relação
entre Deus e o homem como sendo pessoal. 7 Além disso, o paganismo promovia uma
moralidade totalmente contrária ao padrão moral divino (Rm 1.18-32). Ao escrever esta
1
TENNEY, Merrill C. (org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 5, p. 238.
2
KEENER, C. S. The IVP Bible background commentary: New Testament. Downers Grove: InterVarsity Press,
1993, p. 422.
3
BRUCE, F. F. Romanos: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1979, p. 10.
4
ARNOLD, C. Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary. Grand Rapids: Zondervan, 2002, v. 3, p. 8.
5
TENNEY, Merrill C. (org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 5, p. 239.
6
Ibidem, p. 236.
2
carta, Paulo corrige os resquícios de paganismo que podiam ainda estar na mente dos
crentes romanos.
O uso de cartas como meio de comunicação, que já era conhecido no antigo oriente
médio, se tornou popular no mundo greco-romano. As cartas greco-romanas eram
compostas de endereço, saudação, corpo e conclusão. As cartas do NT lembram o modelo
greco-romano, mas as semelhanças são genéricas. Os autores bíblicos foram bastante
criativos na confecção de suas cartas, sempre adequando-as aos seus propósitos
específicos.8
Paulo escreveu a carta aos Romanos no fim de sua terceira viagem missionária.
Nesta ocasião, ele tinha Roma como seu próximo destino, mas antes ele passaria em
Jerusalém (At 19.21; 20.16). Lucas conta que Paulo passou três meses na Grécia (20.3).
Mais especificamente, esses três meses foram passados na cidade de Corinto.9 Essa cidade
é o local mais provável da escrita da carta aos Romanos. Levando essas questões em
conta, é possível determinar a data da escrita da carta aos Romanos como sendo 57 d.C. 10
Na época de Paulo, era muito comum a contratação de escribas formados por
pessoas que queriam escrever alguma carta. Isso se dava por conta do alto custo do papiro
e pelo baixo índice de alfabetização da época. A carta aos Romanos é um exemplo disso.
Em 16.22 Tércio se identifica como o amanuense que escreveu a carta. Após a escrita da
carta, o autor que a estava ditando ao escriba acrescentava uma saudação de próprio
punho a fim de identificar a carta como de sua autoria. 11 Há uma questão no texto de Rm 5.1
que é explicada por muitos autores como sendo uma confusão feita pelo amanuense Tércio.
Há duas variantes para a expressão que foi traduzida neste trabalhado como “temos paz
com Deus”. A primeira é a mais atestada pelos manuscritos mais antigos: ἔχωμεν, um
subjuntivo que pode ser traduzido como “tenhamos”. A segunda é a que melhor se encaixa
no contexto e também é atestada por manuscritos antigos, ainda que menos do que a
primeira: ἔχομεν, um indicativo que foi traduzido como “temos”. Alguns autores explicam
essa questão dizendo que Tércio fez uma confusão entre o ómicron e o ômega, que na
época tinham pronúncia parecida. Por isso, ele colocou um subjuntivo no texto, quando
deveria ter colocado um indicativo.12 Contudo, essa teoria deve ser descartada pelo fato de
que o contratante do amanuense revisava o texto para ver se o conteúdo estava correto e
punha uma saudação ao fim da carta. É seguro afirmar que Paulo, como qualquer outra

7
CRANFIELD, C. E. B. A critical and exegetical commentary on the Epistle to the Romans. London: T&T Clark
International, 2004, p. 267.
8
CARSON, D. A.; MOO, D. J; MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Nova Vida, 1997, p. 263.
9
ARNOLD, C. Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary. Grand Rapids: Zondervan, 2002, v. 3, p. 5.
10
CARSON, D. A.; MOO, D. J; MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Nova Vida, 1997, p. 270.
11
Ibidem, p. 264.
12
WITHERINGTON III, B.; HYATT, D. Paul's letter to the Romans: A socio-rhetorical commentary. Grand Rapids:
Wm. B. Eerdmans Publishing Co, 2004, p. 133.
3
pessoa instruída, conferia a carta para ver se seu conteúdo refletia com precisão o seus
pensamentos.13
1.2 Contexto Literário da Passagem
1.2.1 Contexto Remoto
A carta aos Romanos é uma carta-tratado. Isso quer dizer que ela é menos
circunstancial que as demais cartas de Paulo como, por exemplo, 1Coríntios. O fluxo da
carta é mais determinado pela lógica interna do evangelho que o apóstolo está expondo, do
que por questões ocasionais.14
Para analisar o conteúdo do contexto remoto da perícope em estudo, neste trabalho
será usada a estrutura da carta aos Romanos proposta por Moo em seu comentário:15
I. A abertura da carta (1:1–17)
II. O coração do evangelho: justificação pela fé (1:18–4:25)
III. A garantia providenciada pelo evangelho: a esperança da salvação (5:1–
8:39)
IV. A defesa do evangelho: o problema de Israel (9:1–11:36)
V. O poder transformador do evangelho (12:1–15:13)
VI. O fechamento da carta (15:14–16:27)
A perícope em análise está localizada na seção III (5.1-8.39), que faz a transição
entre a exposição da doutrina da justificação pela fé e a exposição dos resultados dela.
No início da carta, Paulo se apresenta como alguém separado para o evangelho e
deixa bem claro os seus planos de levar a mensagem do evangelho a Roma (1.1-15). Paulo,
então, explica seu compromisso com o evangelho afirmando que este é poder de Deus que
produz salvação (1.16). Essa salvação consiste na ação justificadora de Deus, que é
aplicada a todos aqueles que respondem à ação de Deus com fé (1.17). O tema da carta é
anunciado em 1.16-17: a justificação pela fé. Logo após anunciar o tema da carta, Paulo
começa a desenvolvê-lo em 1.18-4.25. Ao fazer isso, o apóstolo demonstra que todas as
pessoas são pecadoras e não podem fazer nada para escapar do julgamento divino, por
isso a justificação pela fé só pode ser uma ação divina e só pode ser alcançada por meio da
fé em Deus e sua obra (1.18-3.20). Por meio do sacrifício do seu filho (3.21-26), Deus pode
resgatar seu povo sem incorrer em injustiça. Paulo continua sua exposição mostrando que o
novo relacionamento com Deus é só para aqueles que creem (3.27-4.25). Ele não pode ser
alcançado por obras, ou circuncisão, ou pela lei. Sendo assim, a distinção entre judeus e
gentios foi obliterada. Todos estão debaixo do poder do pecado (3.9) e só podem ser
justificados pela fé (3.28-30).16
13
CARSON, D. A.; MOO, D. J; MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Nova Vida, 1997, p. 264.
14
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 32.
15
Ibidem, p. 33.
16
Ibidem, p. 290.
4
A partir de 5.1, Paulo inicia a segunda grande seção de Romanos. Ele resume em
5.1 o tema da justificação pela fé ensinado em 1.18-4.25, e começa a construir um novo
tópico sobre o anterior. Os capítulos 5-8 são abarcados por 5.1-11 e 8.18-39, textos que
mostram a certeza da salvação final do cristão baseada no amor de Deus, na obra de Cristo
e no ministério do Espírito Santo. É por isso que o tema desta seção foi sugerido como
sendo “A garantia providenciada pelo evangelho: a esperança da salvação”. A garantia da
glória é o tema central da segunda grande seção de Romanos. O veredito da justificação é
dado ao crente já nesta vida e nada pode impedi-lo de ser salvo no último dia. Nem a morte
(5.12-21), nem o pecado (6.1-23), nem a lei (7.1-25), nem coisa alguma (8.1-39). Deus
começou a obra da salvação e a levará a uma vitoriosa conclusão.17
Visto que a justificação pela fé inseriu numa só comunidade gentios e judeus, Paulo
tem que tratar da relação entre esses dois povos de forma mais específica. Paulo mostra em
Romanos 9.1-11 que, apesar da falha de Israel em aceitar o evangelho, as promessas feitas
à nação escolhida não falharam. A promessa de salvação não era hereditária, mas segundo
a eleição de Deus. Ele também mostra que Deus está usando a rejeição de Israel de forma
salvífica para atrair os gentios. Mas essa rejeição da parte dos judeus é temporária, Deus
voltará a inclui-los no devido tempo.18
Na última grande seção da carta, Paulo muda do indicativo para o imperativo (12.1-
15.13).19 O ensino verdadeiro do evangelho sempre envolve um significado prático. O
apóstolo falou do poder transformador do evangelho. Agora ele insta com os crentes para
que eles manifestem no dia-a-dia o poder transformador do evangelho que já lhes foi
conferido.
Em Rm 15.14-16.27, Paulo finaliza sua carta. Ele encerrou sua exposição do
evangelho e de suas implicações, agora ele volta a falar dos crentes romanos, do seu
próprio ministério e dos seus planos.20
1.2.2 Contexto Próximo
A perícope em estudo está localizada na seção III de Romanos, definida como “A
garantia providenciada pelo evangelho: a esperança da salvação (5.1–8.39)”. Essa seção é
dividida em cinco partes: A. A esperança da glória (5.1–21); B. Liberdade da escravidão do
pecado (6.1–23); C. Liberdade da escravidão da lei (7.1–25); D. Garantia de vida eterna no
Espírito (8.1–30); E. A segurança crente celebrada (8.31–39).
Paulo falou sobre a justificação pela fé em Rm 1-4. Ele mostrou como todos os
homens, gentios e judeus estão sob o pecado e nada podem fazer por si mesmos. Eles
precisam da justificação mediada pelo sacrifício de Jesus Cristo, que foi proposto por Deus
17
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 293.
18
Ibidem, p. 554.
19
Ibidem, p. 744.
20
Ibidem, p. 884.
5
como propiciação pelos pecados dos seus eleitos. Essa justificação é alcançada somente
mediante a fé. Em Rm 5.1 Paulo resume esse ensino na expressão “tendo sido justificados
pela fé” e segue para mostrar as implicações dessa nova realidade.
A passagem em estudo anuncia diversos elementos que serão elaborados no
restante da segunda grande seção de Romanos (5.1-8.39). Paulo mostra em 5.12-21 como
os homens se tornaram pecadores destinados à morte em Adão, e como o povo de Deus se
tornou justo em Cristo para a vida eterna. O apóstolo também mostra que os cristãos não
são mais escravos do pecado (6.1-23), agora são servos de Deus e devem viver para Deus,
o que significa viver em santificação, o que, por sua vez, culminará na vida eterna.
O tema da ação do Espírito no coração do cristão é retomado em Rm 8.17. O
Espírito Santo habita no crente (8.1-11), fazendo-o viver agradando a Deus e dando a ele a
certeza de ser filho de Deus (8.12-17). Além disso, o capítulo 8 também retoma o tema da
esperança da glória de Deus (8.18-25). Habitados pelo Espírito Santo, os crentes aguardam
com confiança o dia em que experimentarão plenamente a liberdade da glória dos filhos de
Deus. Assim como no capítulo 5, Paulo também fala no capítulo 8 da presente realidade de
sofrimento na qual os crentes vivem (8.26-39). Essa realidade não é obstáculo para a
esperança, pelo contrário, o sofrimento serve apenas para reafirmar na experiência do
cristão a certeza de que Deus cumprirá a sua promessa. O crente que passa por
sofrimentos sabe que todas as coisas as coisas cooperam para fazê-lo semelhante a Cristo.
Sabe que a cadeia de eventos que começou com o conhecimento de antemão será
concluída com glorificação. Portanto, o crente pode se regozijar na esperança da glória de
Deus.
1.2.3 Estrutura do Contexto

A. A esperança da glória 1. Da justificação à salvação


(5:1–21). (5:1–11)

B. Liberdade da escravidão 2. O Reino da graça e da


do pecado (6.1–23). vida (5:12–21).

III. A garantia
providenciada pelo C. Liberdade da escravidão
evangelho: a esperança da lei (7.1–25).
da salvação (5:1–8:39).

D. Garantia de vida eterna


no Espírito (8.1–30).

E. A segurança crente
celebrada (8.31–39).

6
1.3 Contexto Canônico
A paz de Rm 5.1 é o ‫ ָׁש לֹום‬do Antigo Testamento, que é o estado de prosperidade e
completude de quem está em paz com Deus. ‫ ָׁש לֹום‬é o resumo de todas as bênçãos
desfrutadas dentro da aliança. Essa paz está presente na benção sacerdotal de Nm 6.23-26;
ela é prometida como parte da nova aliança, estaria presente na nova era inaugurada pela
vinda do Messias, conforme Is 9.6–7; 54.10; Ez 34.25–31; 37.26; Mic 5.4; Hag 2.9; Zc 8:12. 21
A importância dos sofrimentos na vida do crente é afirmada diversas vezes nas
Escrituras. Em 1Pe 1.3 É dito que os crentes foram regenerados para um viva esperança,
para a salvação que será revelada no último dia. Mas enquanto esse dia não chega, eles
precisavam ver as suas várias provações como algo que confirmaria a sua fé. É dito algo
parecido em Tg 1.2-4: o crente deve se alegrar pelo fato de passar por muitas provações,
pois ela desencadeia um movimento que culmina na perfeição e integridade.
O texto de Rm 5.1 fala que os crentes têm “acesso a esta graça”. Ef 2.17 lança luz
sobre essa afirmação ao dizer que os cristãos, depois da paz ter sido evangelizada a eles,
têm “acesso ao Pai em Espírito”, agora fazem parte da família de Deus.
As Escrituras falam do Espírito como tendo sido derramado nos crentes: Tt 3.4; At
2.17 e Jl 2.28-32. No texto em análise, é dito que o amor de Deus é derramado no coração
dos cristãos mediante a ação do Espírito Santo. Em outras, palavras, o Espírito que foi
derramado nos crentes agora derrama o amor de Deus no coração deles.
Em 2Co 3.12 Paulo fala que os cristãos estão contemplando, como por espelho, a
glória do Senhor, e estão sendo transformados, de glória em glória, na sua própria imagem,
como pelo Senhor, o Espírito. Em Fl 3.21 ele diz que o Senhor Jesus Cristo transformará o
corpo de humilhação dos cristãos, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia
do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas. Isso ajuda a entender o que
Paulo quer dizer ao falar da esperança da glória de Deus.
A reconciliação da qual Paulo fala em Rm 5.10 é algo cuja iniciativa é completamente
divina, nunca humana. Mas essa reconciliação tem a contraparte humana. Em 2Co 5.18-21
Paulo fala que Deus reconciliou o seu povo consigo, mas o apóstolo ainda tinha que sair
pelo mundo rogando que as pessoas se reconciliassem com Deus. Obviamente, aprende-se
nas Escrituras que mesmo a resposta humana depende da ação divina, mas não deixa de
ser necessária.
O tempo designado no qual Cristo morreu é descrito em Gl 4.3-5 como a plenitude do
tempo.
As Escrituras afirmam diversas vezes que a esperança colocada em Deus não
desaponta os que confiam no Senhor: Sl 22.5, 25.2-3; Is 50.7; 54.4; Is 28.16; 1Pe 2.6.
2 Estudo Textual
21
DUNN, J. D. G. Word Biblical Commentary: Romans 1-8. Dallas: Word, Incorporated, 2002, p. 247.
7
2.1 Tradução do Texto
2.1.1 Texto em Grego
1
Δικαιωθέντες οὖν ἐκ πίστεως εἰρήνην ἔχομεν πρὸς τὸν θεὸν διὰ τοῦ κυρίου ἡμῶν
2
Ἰησοῦ Χριστοῦ δι᾽ οὗ καὶ τὴν προσαγωγὴν ἐσχήκαμεν [τῇ πίστει] εἰς τὴν χάριν ταύτην ἐν ᾗ
3
ἑστήκαμεν καὶ καυχώμεθα ἐπ᾽ ἐλπίδι τῆς δόξης τοῦ θεοῦ. οὐ μόνον δέ, ἀλλὰ καὶ
4
καυχώμεθα ἐν ταῖς θλίψεσιν, εἰδότες ὅτι ἡ θλῖψις ὑπομονὴν κατεργάζεται, ἡ δὲ ὑπομονὴ
5
δοκιμήν, ἡ δὲ δοκιμὴ ἐλπίδα. ἡ δὲ ἐλπὶς οὐ καταισχύνει, ὅτι ἡ ἀγάπη τοῦ θεοῦ ἐκκέχυται ἐν
ταῖς καρδίαις ἡμῶν διὰ πνεύματος ἁγίου τοῦ δοθέντος ἡμῖν.
6 7
Ἔτι γὰρ Χριστὸς ὄντων ἡμῶν ἀσθενῶν ἔτι κατὰ καιρὸν ὑπὲρ ἀσεβῶν ἀπέθανεν.
μόλις γὰρ ὑπὲρ δικαίου τις ἀποθανεῖται· ὑπὲρ γὰρ τοῦ ἀγαθοῦ τάχα τις καὶ τολμᾷ ἀποθανεῖν·
8
συνίστησιν δὲ τὴν ἑαυτοῦ ἀγάπην εἰς ἡμᾶς ὁ θεός, ὅτι ἔτι ἁμαρτωλῶν ὄντων ἡμῶν Χριστὸς
9
ὑπὲρ ἡμῶν ἀπέθανεν. πολλῷ οὖν μᾶλλον δικαιωθέντες νῦν ἐν τῷ αἵματι αὐτοῦ
10
σωθησόμεθα δι᾽ αὐτοῦ ἀπὸ τῆς ὀργῆς. εἰ γὰρ ἐχθροὶ ὄντες κατηλλάγημεν τῷ θεῷ διὰ τοῦ
11
θανάτου τοῦ υἱοῦ αὐτοῦ, πολλῷ μᾶλλον καταλλαγέντες σωθησόμεθα ἐν τῇ ζωῇ αὐτοῦ· οὐ
μόνον δέ, ἀλλὰ καὶ καυχώμενοι ἐν τῷ θεῷ διὰ τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ δι᾽ οὗ νῦν τὴν
καταλλαγὴν ἐλάβομεν.
2.1.2 Quadro de tradução
Palavra Léxico Análise gramatical Tradução
Δικαιωθέντες δικαιόω vb. part. aor. pass. nom. masc. plu. tendo sido justificados
οὖν οὖν conj. coord. portanto
ἐκ ἐκ prep. gen. por meio de
πίστεως πίστις subs. gen. fem. sing. fé
εἰρήνην εἰρήνη sub. ac. fem. sing. paz
ἔχομεν ἔχω vb. ind. pres. at. 1ª plu. temos
πρὸς πρός prep. ac. com
τὸν ὁ art. def. ac. masc. sing. o
θεὸν θεός subs. ac. masc. sing. Deus
διὰ διά prep. gen. mediante
τοῦ ὁ art. def. gen. masc. sing. O, a.
κυρίου κύριος subs. gen. masc. sing. Senhor
ἡμῶν ἐγώ pron. pess. gen. plu. nosso
Ἰησοῦ Ἰησοῦς subs. gen. masc. sing. Jesus
Χριστοῦ Χριστός subs. gen. masc. sing. prop. Cristo
δι᾽ διά prep. gen. mediante
οὗ ὅς pron. relat. gen. neut. sing. qual
καὶ καί adv. também
τὴν ὁ art. def. ac. fem. sing. o
προσαγωγὴν προσαγωγή sub. ac. fem. sing. acesso
ἐσχήκαμεν ἔχω vb. ind. perf. at. 1ª plu. temos
[τῇ ὁ art. def. dat. fem. sing. pela
πίστει] πίστις subs. dat. fem. sing. fé
εἰς εἰς prep. ac. a
τὴν ὁ art. def. ac. fem. sing. a
χάριν χάρις subs. ac. fem. sing. graça
ταύτην οὗτος pron. dem. ac. fem. sing. esta
ἐν ἐν prep. dat. em
ᾗ ὅς pron. relat. dat. fem. sing. qual

8
ἑστήκαμεν ἵστημι vb. ind. perf. at. 1ª plu. estamos firmes
καὶ καί conj. coord. e
καυχώμεθα καυχάομαι vb. ind. pres. méd. 1ª plu. gloriamo-nos
ἐπ᾽ ἐπί prep. dat. em
ἐλπίδι ἐλπίς sub. dat. fem. sing. esperança
τῆς ὁ art. def. gen. fem. sing. da
δόξης δόξα subs. gen. fem. sing. glória
τοῦ ὁ art. def. gen. masc. sing. do
θεοῦ. θεός subs. gen. masc. sing. Deus
οὐ οὐ adv. neg. Não.
μόνον μόνος adv. só
δέ, δέ conj. coord. e
ἀλλὰ ἀλλά conj. coord. porém
καὶ καί adv. também
καυχώμεθα καυχάομαι vb. ind. pres. méd. 1ª plu. gloriamo-nos
θλίψεσιν, θλῖψις sub. dat. fem. plu. aflições
εἰδότες οἶδα vb. part. perf. at. nom. masc. plu. sabendo
ὅτι ὅτι conj. subord. que
ἡ ὁ art. def. nom. fem. sing. a
θλῖψις θλῖψις sub. nom. fem. sing. aflição
ὑπομονὴν ὑπομονή subs. ac. fem. sing. perseverança
κατεργάζεται, κατεργάζομαι vb. ind. pres. méd. 3ª sing. produz
ἡ ὁ art. def. nom. fem. sing. a
δὲ δέ conj. coord. e
ὑπομονὴ ὑπομονή sub. nom. fem. sing. perseverança
δοκιμήν, δοκιμή sub. ac. fem. sing. caráter aprovado
ἡ ὁ art. def. nom. fem. sing. o
δὲ δέ conj. coord. e
δοκιμὴ δοκιμή sub. nom. fem. sing. caráter aprovado
ἐλπίδα. ἐλπίς subs. ac. fem. sing. esperança
ἡ ὁ art. def. nom. fem. sing. a
δὲ δέ conj. coord. e
ἐλπὶς ἐλπίς subs. nom. fem. sing. esperança
οὐ οὐ adv. neg. não
καταισχύνει, καταισχύνω vb. ind. pres. at. 3ª sing. desaponta
ὅτι ὅτι conj. subord. porque
ἡ ὁ art. def. nom. fem. sing. o
ἀγάπη ἀγάπη subs. nom. fem. sing. amor
τοῦ ὁ art. def. gen. masc. sing. de
θεοῦ θεός subs. gen. masc. sing. Deus
ἐκκέχυται ἐκχέω vb. ind. perf. pass. 3ª sing. foi derramado
ἐν ἐν prep. dat. em
ταῖς ὁ art. def. dat. fem. plu. os
καρδίαις καρδία sub. dat. fem. plu. corações
ἡμῶν ἐγώ pron. pess. gen. plu. nossos
διὰ διά prep. gen. mediante
πνεύματος πνεῦμα subs. gen. neut. sing. Espírito
ἁγίου ἅγιος adj. gen. masc. sing. Santo
τοῦ ὁ art. def. gen. masc. sing. o
δοθέντος δίδωμι vb. part. aor. pass. gen. neut. sing. dado
ἡμῖν. ἐγώ pron. pess. dat. plu. para nós
Ἔτι ἔτι adv. ainda
γὰρ γάρ conj. coord. porque
Χριστὸς Χριστός subs. nom. masc. sing. Cristo
ὄντων εἰμί vb. part. pres. at. gen. masc. plu. éramos
ἡμῶν ἐγώ pron. pess. gen. plu. nós
ἀσθενῶν ἀσθενής adj. gen. masc. plu. fracos

9
ἔτι ἔτι adv. ainda
κατὰ κατά prep. ac. em
καιρὸν καιρός subs. ac. masc. sing. tempo designado
ὑπὲρ ὑπέρ prep. gen. em favor de
ἀσεβῶν ἀσεβής adj. gen. masc. plu. ímpios
ἀπέθανεν. ἀποθνῄσκω vb. ind. aor. at. 3ª sing. morreu
μόλις μόλις adv. dificilmente
γὰρ γάρ conj. coord. pois
ὑπὲρ ὑπέρ prep. gen. em favor de
δικαίου δίκαιος adj. gen. masc. sing. um justo
τις τὶς pron. indef. nom. masc. sing. alguém
ἀποθανεῖται· ἀποθνῄσκω vb. ind. fut. méd. 3ª sing. morreria
ὑπὲρ ὑπέρ prep. gen. em favor de
γὰρ γάρ conj. coord. pois
τοῦ ὁ art. def. gen. masc. sing. o
ἀγαθοῦ ἀγαθός adj. gen. masc. sing. bom
τάχα τάχα adv. possivelmente
τις τὶς pron. indef. nom. masc. sing. alguém
καὶ καί adv. também
τολμᾷ τολμάω vb. ind. pres. at. 3ª sing. atrever-se-ia
ἀποθανεῖν· ἀποθνῄσκω vb. inf. aor. at. morrer
συνίστησιν συνίστημι vb. ind. pres. at. 3ª sing. demonstra
δὲ δέ conj. coord. mas
τὴν ὁ art. def. ac. fem. sing. o
ἑαυτοῦ ἑαυτοῦ pron. reflx. gen. masc. sing. dele mesmo
ἀγάπην ἀγάπη subs. ac. fem. sing. amor
εἰς εἰς prep. ac. por
ἡμᾶς ἐγώ pron. pess. ac. plu. nós
ὁ ὁ art. def. nom. masc. sing. o
θεός, θεός subs. nom. masc. sing. com. Deus
ὅτι ὅτι conj. subord. em que
ἔτι ἔτι adv. ainda
ἁμαρτωλῶν ἁμαρτωλός adj. gen. masc. plu. pecadores
ὄντων εἰμί vb. part. pres. at. gen. masc. plu. éramos
ἡμῶν ἐγώ pron. pess. gen. plu. nós
Χριστὸς Χριστός subs. nom. masc. sing. Cristo
ὑπὲρ ὑπέρ prep. gen. em favor
ἡμῶν ἐγώ pron. pess. gen. plu. de nós
ἀπέθανεν. ἀποθνῄσκω vb. ind. aor. at. 3ª sing. morreu
πολλῷ πολύς adj. dat. neut. sing. muito
οὖν οὖν conj. coord. portanto
μᾶλλον μᾶλλον adv. mais
δικαιωθέντες δικαιόω vb. part. aor. pass. nom. masc. plu. tendo sido justificados
νῦν νῦν advb. agora
ἐν ἐν prep. dat. em
τῷ ὁ art. def. dat. neut. sing. o
αἵματι αἷμα sub. dat. neut. sing. sangue
αὐτοῦ αὐτός pron. pess. gen. masc. sing. seu
σωθησόμεθα σῴζω vb. ind. fut. pass. 1ª plu. seremos salvos
δι᾽ διά prep. gen. mediante
αὐτοῦ αὐτός pron. pess. gen. masc. sing. ele
ἀπὸ ἀπό prep. gen. de
τῆς ὁ art. def. gen. fem. sing. a
ὀργῆς. ὀργή sub. gen. fem. sing. ira
εἰ εἰ conj. subord. se
γὰρ γάρ conj. coord. pois
ἐχθροὶ ἐχθρός adj. nom. masc. plu. inimigos

10
ὄντες εἰμί vb. part. pres. at. nom. masc. plu. sendo
κατηλλάγημεν καταλλάσσω vb. ind. aor. pass. 1ª plu. fomos reconciliados
τῷ ὁ art. def. dat. neut. plu. com
θεῷ θεός subs. dat. masc. sing. Deus
διὰ διά prep. gen. mediante
τοῦ ὁ art. def. gen. masc. sing. a
θανάτου θάνατος subs. gen. masc. sing. morte
τοῦ ὁ art. def. gen. masc. sing. do
υἱοῦ υἱός sub. gen. masc. sing. Filho
αὐτοῦ, αὐτός pron. pess. gen. masc. sing. seu
πολλῷ πολύς adj. dat. neut. sing. muito
μᾶλλον μᾶλλον adv. mais
καταλλαγέντες καταλλάσσω vb. part. aor. pass. nom. masc. plu. tendo sido reconciliados
σωθησόμεθα σῴζω vb. ind. fut. pass. 1ª plu. seremos salvos
ἐν ἐν prep. dat. em
τῇ ὁ art. def. dat. fem. sing. a
ζωῇ ζωή sub. dat. fem. sing. vida
αὐτοῦ· αὐτός pron. pess. gen. masc. sing. sua
οὐ οὐ adv. neg. não
μόνον μόνος adv. só
δέ, δέ conj. coord. e
ἀλλὰ ἀλλά conj. coord. porém
καὶ καί adv. também
καυχώμενοι καυχάομαι vb. part. pres. méd. nom. masc. plu. gloriamo-nos
ἐν ἐν prep. dat. em
τῷ ὁ art. def. dat. neut. plu. o
θεῷ θεός subs. dat. masc. sing. Deus
διὰ διά prep. gen. mediante
τοῦ ὁ art. def. gen. masc. sing. o
κυρίου κύριος subs. gen. masc. sing. Senhor
ἡμῶν ἐγώ pron. pess. gen. plu. nosso
Ἰησοῦ Ἰησοῦς subs. gen. masc. sing. Jesus
Χριστοῦ Χριστός subs. gen. masc. sing. prop. Cristo
δι᾽ διά prep. gen. mediante
οὗ ὅς pron. relat. gen. neut. sing. o qual
νῦν νῦν advb. agora
τὴν ὁ art. def. ac. fem. sing. a
καταλλαγὴν καταλλαγή sub. ac. fem. sing. reconciliação
ἐλάβομεν. λαμβάνω vb. ind. aor. at. 1ª plu. recebemos

2.1.3 Sugestão de tradução


1
Portanto, tendo sido justificados por meio de fé, temos paz com Deus, mediante o
2
nosso Senhor Jesus Cristo; mediante o qual também temos acesso pela fé a esta graça,
3
na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus; e não só isso,
4
porém também nos gloriamos nas aflições, sabendo que a aflição produz perseverança, e
5
a perseverança, um caráter aprovado, e o caráter aprovado, esperança. E a esperança
não desaponta, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações mediante o
Espírito Santo dado a nós.
6
Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, no tempo designado morreu em
favor de ímpios; 7 pois dificilmente alguém morreria em favor de um justo; pois, em favor do
8
bom, alguém possivelmente se atreveria a morrer. Mas Deus demonstra o amor dele

11
mesmo por nós em que, quando nós ainda éramos pecadores, Cristo morreu em favor de
nós; 9 portanto, muito mais, tendo sido agora justificados no seu sangue, seremos salvos da
ira mediante ele. 10 Pois, se sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte
11
do seu filho, muito mais, tendo sido reconciliados, seremos salvos na sua vida; e não só
isso, porém também nos gloriamos em Deus mediante o nosso Senhor Jesus Cristo,
mediante o qual agora recebemos a reconciliação.
2.1.4 Comparação de versões
ST22 1 Portanto, tendo sido justificados por meio de fé, temos paz com Deus, mediante
o nosso Senhor Jesus Cristo;
ARA23 1 Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso
Senhor Jesus Cristo;
24
ACF 1 TENDO sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo;
NVI25 1Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo,
BJ26 1 Tendo sido, pois, justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso
Senhor Jesus Cristo,
BP27 1 Portanto, agora que recebemos a justiça pela fé, estamos em paz com Deus,
por meio de Jesus Cristo Senhor nosso.
Todas as versões, exceto a BP, colocam corretamente o particípio grego
Δικαιωθέντες no passado ao afirmar “tendo sido justificados”. Não há justificativa gramatical
para se colocar o particípio no presente, nem para adicionar o termo “agora”.
A ARA e a BP expressam bem a mediação de Jesus Cristo ao traduzirem διὰ como
“por meio de”. A outras versões não alcançaram o mesmo sucesso ao traduzir a preposição
como “por”. A ST seguiu a ARA e a BP traduzindo-a como “por meio de”.
ST 2 mediante o qual também temos acesso pela fé a esta graça, na qual estamos
firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus;
ARA 2 por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na
qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.
ACF 2 Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes,
e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
NVI 2 por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora
estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.
BJ 2 por quem tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos
gloriamos na esperança da glória de Deus.
BP 2 Também por ele (pela fé) obtivemos acesso a essa condição de graça na qual
nos encontramos, e podemos orgulhar-nos esperando a glória de Deus.
Todas as versões traduzem a expressão ἐσχήκαμεν com um verbo no passado.
Contudo, o termo grego está no perfeito, tempo verbal que foca nos efeitos presentes de

22
ST: Sugestão de Tradução.
23
ARA: Almeida Revista e Atualizada.
24
ARA: Almeida Corrigida Fiel
25
NVI: Nova Versão Internacional
26
BJ: Bíblia de Jerusalém
27
BP: Bíblia do Peregrino
12
uma ação completa. Portanto, o tempo presente transmite melhor o sentido da expressão
grega. Por isso, a ST a traduziu como “temos acesso”.
A BP faz duas traduções mais interpretativas neste versículo. Ela interpreta
corretamente a expressão προσαγωγή εἰς τὴν χάριν ταύτην ao traduzi-la como “acesso a
essa condição de graça”. Contudo, essa não é a tradução mais próxima do texto grego. Por
isso a ST manteve a tradução mais literal. Além disso, a BP traduz o substantivo ἐλπίδι
como um verbo, “esperando”. A ST preferiu a tradução mais literal e manteve o termo grego
como um substantivo, “esperança”.
ST 3 e não só isso, porém também nos gloriamos nas aflições, sabendo que a
aflição produz perseverança,
ARA 3 E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações,
sabendo que a tribulação produz perseverança;
ACF 3 E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que
a tribulação produz a paciência,
NVI 3 Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que
a tribulação produz perseverança;
BJ 3 E não é só. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a
tribulação produz a perseverança,
BP 3 Não só isso, mas além disso nos gloriamos de nossas tribulações; pois
sabemos que sofrendo adquirimos resistência,
A BJ não traduz a conjunção δέ. Todas as outras versões a traduzem como “mas”.
Como não justificativa para a omissão desse termo na tradução, a ST também o traduziu
como “mas”. Mais uma vez a BP traduz uma substantivo como verbo, fugindo da tradução
literal. A ST optou por traduzir o substantivo grego θλῖψις com o substantivo “aflição”.
ST 4 e a perseverança, um caráter aprovado, e o caráter aprovado, esperança.
ARA 4 e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.
ACF 4 E a paciência a experiência, e a experiência a esperança.
NVI 4 a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança.
BJ 4 a perseverança a virtude comprovada, a virtude comprovada a esperança.
BP 4 resistindo nos aprovam, aprovados, esperamos.
A BP traduz todos os substantivos deste versículo como verbos, o que a distancia
bastante do sentido literal do texto grego. A ST, prezando pela literalidade, preservou todos
os substantivos como substantivos.
ST 5 E a esperança não desaponta, porque o amor de Deus foi derramado em
nossos corações mediante o Espírito Santo dado a nós.
ARA 5 Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso
coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.
ACF 5 E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado
em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
NVI 5 E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em
nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.
BJ 5 E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
BP 5 E a esperança não engana, porque o amor de Deus se infunde em nosso
coração pelo dom do Espírito Santo.

13
A ARA traduz o perfeito ἐκκέχυται com um verbo no presente. Sua tradução dá ideia
de que o amor de Deus está sendo derramado constantemente nos corações dos cristãos.
Mas não é essa a ideia da expressão grega. Ela intende dizer que o amor de Deus foi
derramado uma vez de forma completa, e agora os cristãos desfrutam dos efeitos dessa
ação. Por conta disso, a ST, traduziu o termo grego com um verbo no passado, “foi
derramado”. A ACF se aproxima bem do sentido do verbo grego ao traduzi-lo como “está
derramado”, essa forma de presente expressa bem o sentido do perfeito grego.
A BP também traduz como um presente e por isso comete a mesma falha da ARA.
Além disso, a BP traduz o verbo como se estivesse na voz média, quando, na verdade, está
na voz passiva. A BP faz mais uma inversão na sua tradução, agora traduzindo o particípio
grego δοθέντος como um substantivo, “dom”.
ST 6 Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, no tempo designado morreu
em favor de ímpios;
ARA 6 Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos
ímpios.
ACF 6 Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.
NVI 6 De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos
ímpios.
BJ 6 Foi, com efeito, quando ainda éramos fracos que Cristo, no tempo marcado,
morreu pelos ímpios. –
BP 6 Quando ainda éramos inválidos, a seu tempo Cristo morreu pelos malvados.
Ao traduzir a expressão γὰρ como “de fato” e “com efeito”, a NVI e a BJ perdem a
relação de causalidade entre os versículos 6 e 5. Paulo está dizendo que o amor de Deus foi
derramado no coração dos cristãos por causa da obra de Jesus. Por isso, a ST traduziu a
conjunção grega como “porque”. A BP foi mais longe do que a NVI e a BJ ao não traduzir
γὰρ. Não justificativa gramatical para isso. A expressão que a BP escolheu para traduzir
ἀσεβῶν se distancia um pouco do sentido mais comum do termo grego, que geralmente é
traduzido como “ímpio”, “descrente”, “perverso”, ou “pecaminoso”.
ST 7 pois dificilmente alguém morreria em favor de um justo; pois, em favor do bom,
alguém possivelmente se atreveria a morrer.
ARA 7 Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom
alguém se anime a morrer.
ACF 7 Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom
alguém ouse morrer.
NVI 7 Dificilmente haverá alguém que morra por um justo, embora pelo homem bom
talvez alguém tenha coragem de morrer.
BJ 7 Dificilmente alguém dá a vida por um justo; por um homem de bem talvez haja
alguém que se disponha a morrer. –
BP 7 Por um inocente talvez alguém morresse; por uma pessoa boa talvez alguém se
arriscasse a morrer.
A ACF e a BP traduzem as duas orações do versículo como se tivessem o mesmo
sentido. Contudo, há uma diferença entre as duas construções. A segundo fala de algo mais
provável, enquanto a primeira fala de algo menos provável.

14
ST 8 Mas Deus demonstra o amor dele mesmo por nós em que, quando nós ainda
éramos pecadores, Cristo morreu em favor de nós;
ARA 8 Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo
morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
ACF 8 Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós,
sendo nós ainda pecadores.
NVI 8 Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando
ainda éramos pecadores.
BJ 8 Mas Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por
nós quando éramos ainda pecadores.
BP 8 Pois bem, Deus nos demonstrou seu amor no fato de que, sendo ainda
pecadores, Cristo morreu por nós.
A única versão que preserva a ênfase do pronome reflexivo grego ἑαυτοῦ. Ela o
traduz com “próprio”. A ST tentou preservar a ênfase a traduzir o pronome como “dele
mesmo”. A BP traduziu a conjunção δὲ como “pois bem”, assim ela deixou de transmitir
adversatividade entre o versículo 7 e 8. Além disso, a BP traduz o verbo συνίστησιν no
passado, sendo que, no grego, ele está no presente. Como não a justificativa gramatical
para isso, a ST seguiu as demais versões ao traduzi-lo com um verbo no presente.
ST 9 portanto, muito mais, tendo sido agora justificados no seu sangue, seremos
salvos da ira mediante ele.
ARA 9 Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele
salvos da ira.
ACF 9 Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por
ele salvos da ira.
NVI 9 Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por meio
dele, seremos salvos da ira de Deus!
BJ 9 Quanto mais, então, agora, justificados por seu sangue, seremos por ele salvos
da ira.
BP 9 Com maior razão, agora que seu sangue nos tornou justos, por ele nos
livraremos da condenação.
A ARA, ACF e a BJ entendem que o advérbio νῦν está modificando o verbo
σωθησόμεθα, e os traduzem como “agora... seremos salvos”. Contudo, essa conclusão não
corresponde à ordem dos termos gregos. Por isso, a ST seguiu as demais versões ao
entender que o advérbio νῦν modifica o particípio δικαιωθέντες.
Todas as versões, exceto a NVI, traduzem a expressão δι᾽ αὐτοῦ como “por ele”.
Essa tradução dá a atender que o agente primário da ação do verbo σωθησόμεθα é Cristo.
Mas não isso que o texto grego diz. Cristo é agente intermediário, e o agente primário é
sugerido pelo contexto como sendo Deus, o Pai.
A BJ traduz o verbo σωθησόμεθα como se ele estivesse na voz média, mas, na
verdade, ele está na voz passiva. Por isso, a ST o traduziu como “seremos salvos”.
A NVI não traduz πολλῷ οὖν μᾶλλον, e por isso não deixa clara que o versículo 9
acrescenta uma conclusão ou inferência à ideia do versículo 8.
ST 10 Pois, se sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do
seu filho, muito mais, tendo sido reconciliados, seremos salvos na sua vida;
ARA 10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a
15
morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua
vida;
ACF 10 Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de
seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
NVI 10 Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a
morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos
por sua vida!
BJ 10 Pois se quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus pela morte do
seu Filho, muito mais agora, uma vez reconciliados, seremos salvos por sua vida.
BP 10 Pois, se sendo inimigos, a morte de seu Filho nos reconciliou com Deus, com
maior razão, já reconciliados, sua vida nos salvará.
A NVI é a única versão que não traduz a conjunção γὰρ. Como não há justificativa
para essa ocultação, a ST seguiu as demais versões e traduziu o termo grego como “pois”.
A BP entende τοῦ θανάτου τοῦ υἱοῦ αὐτοῦ como a agente primário da reconciliação
com Deus. Contudo, “a morte de seu filho” é o meio impessoal que o agente primário,
sugerido pelo contexto como sendo Deus Pai, usou para produzir a reconciliação. A BP faz
a mesma coisa com τῇ ζωῇ αὐτοῦ, entendendo esta expressão como o agente primário da
salvação futura. Contudo, a sua vida (do Filho) é o meio que Deus Pai usa para executar a
salvação.
ST 11 e não só isso, porém também nos gloriamos em Deus mediante o nosso
Senhor Jesus Cristo, mediante o qual agora recebemos a reconciliação.
ARA 11 e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação.
ACF 11 E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.
NVI 11 Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso
Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação.
BJ 11 E não é só. Mas nós nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo,
por quem desde agora recebemos a reconciliação.
BP 11 Não somente isso: Por meio de Jesus Cristo, que nos trouxe a reconciliação,
colocamos nosso orgulho em Deus.
A ARA, a ACF e a BJ traduzem a expressão διὰ τοῦ κυρίου ἡμῶν como “por nosso
Senhor”. Assim, elas não expressam tão claramente quantos as outras versões a mediação
de Jesus Cristo no gloriar-se dos cristãos.
A ACF traduz o termo grego ἐλάβομεν como “alcançamos”. Essa tradução dá um
sentido mais ativo à ação verbal. A tradução das demais versões, “recebemos” e “nos
trouxe”, preserva a ideia de que os crentes, neste texto, são mais passivos que ativos na
obtenção da reconciliação.
A BP deixa de traduzir a conjunção adversativa ἀλλὰ. Como não há justificativa para
isso, e como essa conjunção é enfática, a ST seguiu as demais versões e traduziu o termo
grego como “porém”.
2.2 Estrutura do Texto28
Rom 5:1-2 e;comen ei vrh,nhn
28
Esta estrutura é um diagrama fornecido
pr o,j t pelo software
o.n qeo,
n BibleWorks
di a, t ou/ kurfor
i ,ouWindows,
V version
Ihsou/ Cr i st8.ou/
16
hm̀w/n
ou=
n

(X) (X) evsch,kamen t h.n pr osagwgh,n


kai ,
kai , di V ou-
ei vj t h.n ca,r i n
di kai wqe,nt ej
t au,t hn
kaucw,meqa (X) es̀t h,kamen
evk pi ,s t ewj
evpV evlpi ,di evn h-|
t h/j do,xhj
t ou/ qeou/
h`ql i /y i j kat er ga,zet ai up̀omonh,n
Rom 5:3-4 de, (X)
de,
(X) ouvmo,non
avll a. kai , h`up̀omonh, $kat er ga,zet ai % doki mh,n
kaucw,meqa de,
o[t i
evn t ai /j ql i ,y esi n ei vdo,t ej h`doki mh, $kat er ga,zet ai % evlpi ,da
Rom 5:5 de,

h`evlpi ,j kat ai scu,nei


ouv o[t i
h`avga,ph evkke,cut ai
t ou/ qeou/ evn t ai /j kar di ,ai j di a, pneu,mat oj
Rom 5:6 ga,r
hm̀w/n ag̀i ,ou t ou/ doqe,nt oj
Cr i st o,j avpe,qanen
hm̀i /n
kat a, kai r o,n up̀e,r avsebw/n

hm̀w/n o;nt wn avsqenw/n


e;t i e;t i
Rom 5:7-8 tij avpoqanei /t ai
ga,r mo,l i j ga,r avpoqanei /n
tij t ol ma/|
de, up̀e,r di kai ,ou
t a,ca kai , up̀e,r t ou/ avgaqou/

o`qeo,j suni ,s t hsi n t h.n avga,phn

ei vj hm̀a/j o[t i eàut ou/


Cr i st o,j avpe,qanen

up̀e,r hm̀w/n

hm̀w/n o;nt wn am̀ar t wl w/n


e;t i

Rom 5:9-10
5:9 ou=
n

(X) swqhso,meqa
ma/l l on di V auvtou/ di kai wqe,nt ej
pol l w/| avpo, t h/j ovrgh/j nu/n evn t w/| ai [mat i
ga,r
auvtou/ 17
(X) swqhso,meqa
ma/l l on evn t h/| zwh/|
(X) kat hl l a,ghmen
kat al l age,nt ej
qew/| di a, t ou/ qana,t ou
t ou/ ui òu/
o;nt ej evcqr oi ,
auvtou/
Rom 5:10-11 de,
(X) (X)

ouvmo,non
avll a. kai ,

(X) kaucw,menoi

evn t w/| qew/| di a, t ou/ kur i ,ou V


Ihsou/ Cr i st ou/
hm̀w/n

(X) evla,bomen t h.n kat al l agh,n


nu/n di V ou-

Rom 5:11

A perícope em estudo é iniciada pela conjunção οὖν. Está funcionando tanto como
uma conjunção inferencial quanto como transicional.29 O que Paulo diz no perícope em
estudo está baseado no que ele disse anteriormente. É uma conclusão que reflete sobre os
resultados da justificação descrita em Rm 1.18-4.25. Mas, ao mesmo tempo, a conjunção é
transicional, pois Paulo está mudando para um novo tópico na sua exposição do evangelho.
Essa mudança é comprovada não apenas pela conjunção, mas também pela mudança de
assunto e dos personagens do discurso. No capítulo 4, Paulo falou de Davi e de Abraão
como exemplo de pessoas justificadas pela fé. Agora ele passa a falar de um “nós”, que se
refere a ele e aos crentes de Roma. O assunto muda, pois ele pressupõe que a justificação
foi recebida, e agora passa a falar dos efeitos dela na vida dos cristãos. Portanto, o início da
perícope em estudo é Rm 5.1.
Rm 5.12 é iniciado pelos termos Διὰ τοῦτο, que pode ser traduzido como “portanto”.
Essa construção indica que o será dito a seguir é uma conclusão baseada na perícope de
Rm 5.1-11. Apesar da conexão, essa conclusão representa uma mudança no texto. Na
segunda perícope do capítulo 5, Paulo mostra que eventos estão por trás da justificação e
seus efeitos. Há uma mudança significativa nos personagens do discurso. Em 5.1-11, Paulo
usa a primeira pessoa do plural, em 5.12-21, ele usa a terceira pessoa do plural. Antes ele
29
WALLACE, D. B. Gramática grega: uma sintaxe exegética do novo testamento. São Paulo: Editora Batista
Regular do Brasil, 2009, p. 673-74.
18
estava falando de um “nós” que incluía ele e os crentes romanos, agora ele passa a falar de
um “eles” e de Adão e Cristo.30 Portanto, o fim da perícope em estudo é Rm 5.11.
2.3 Comentário
Rm 5.1 Portanto, tendo sido justificados por meio de fé, temos paz com Deus,
mediante o nosso Senhor Jesus Cristo; 2 mediante o qual também temos acesso pela
fé a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de
Deus;
Como foi dito na seção do contexto próximo, Paulo começa a perícope em estudo
referindo-se à discussão anterior e construindo um novo tópico sobre ela. A conjunção οὖν,
“portanto”, é tanto inferencial quando transicional. Ela introduz um novo tópico (por isso é
transicional) que é uma inferência ou conclusão fundamentada na exposição da doutrina da
justificação pela fé.31
Paulo não usa apenas a conjunção para se referir ao ensino anterior, ele o resume
por meio de uma oração que gira em torno de um particípio e que está subordinado à
oração principal do versículo 1. O apóstolo assume que ele e seus leitores haviam sido
justificados por meio da fé. O verbo δικαιόω neste texto tem o sentido de conferir ao pecador
o status de justo diante dos olhos de Deus. Essa ação acontece quando o pecador crê na
ação justificadora de Deus executada na morte e na ressurreição do seu filho. A linguagem
é forense, judicial. A imagem é de alguém sendo inocentado perante um tribunal. Essa ação
é tanto objetiva, aconteceu de uma vez por todas com o sacrifício de Jesus Cristo na cruz,
quanto subjetiva, acontece na vida particular do pecador quando ele crê em determinado
momento de sua existência.32
Δικαιωθέντες é um particípio verbal dependente, ou seja, ele é subordinado
gramaticalmente ao verbo principal. Como um particípio temporal no aoristo relacionado a
um verbo principal no presente, Δικαιωθέντες fala de uma ação completa (o aoristo descreve
a ação como um todo) que aconteceu antes da ação descrita pelo verbo principal. Ou seja,
antes dos cristãos terem paz com Deus, eles foram justificados por meio da fé. O particípio
está na voz passiva. Ele denota algo que foi feito nos crentes, e não algo que eles mesmos
produziram. Isso está em pleno acordo com o que foi dito anteriormente na carta, pois a
justificação é uma ação cuja iniciativa e execução é plenamente divina. O agente da passiva
não é descrito no texto, mas o contexto, tanto da perícope como da carta, deixa claro que o

30
CRANFIELD, C. E. B. A critical and exegetical commentary on the Epistle to the Romans. London: T&T Clark
International, 2004, p. 271.
31
LONGENECKER, R. N. The New International Greek Testament Commentary. The Epistle to the Romans: a
commentary on the Greek text. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2016, p. 553.
32
KITTEL, G.; FRIEDRICH, G.; BROMILEY, G. W. Theological dictionary of the New Testament. Grand Rapids:
Eerdmans, 1964, v. 2, p. 215-216.
19
agente primário é Deus. O particípio está no nominativo, pois está descrevendo o sujeito do
verbo principal ἔχομεν: os que têm paz com Deus são os que foram justificados.
O versículo descreve o meio impessoal 33 usado por Deus na justificação com uma
preposição e um substantivo no genitivo, que aqui funciona como genitivo adverbial de meio:
ἐκ πίστεως. Esse é o único meio para se obter a justificação diante de Deus. É somente por
meio da fé no Deus que justifica pecadores que é possível receber a justificação. Não é por
nada que o homem faça, é somente pela confiança no que Deus fez. Fé, então, não é
apenas acreditar em fatos históricos, é se submeter ao método divino de salvação.34
Tendo sido justificados por meio da fé, agora os cristãos têm paz com Deus. O verbo
ἔχομεν tem um duplo acusativo: εἰρήνην é o primeiro acusativo e funciona como o objeto
direto do verbo, πρὸς τὸν θεὸν é o segundo acusativo e funciona como o complemento do
primeiro acusativo descrevendo a paz como sendo em referência a Deus. O verbo está na
primeira pessoa do plural. Paulo fala de sua própria experiência como alguém que está
desfrutando dos efeitos da justificação, e pressupõe que os cristãos romanos também
estavam vivendo isso. Por isso, ele usa o “nós”. 35 O verbo está no indicativo, que é o modo
da declaração ou apresentação da certeza.36 O apóstolo está certo de que ele e os seus
leitores estavam desfrutando da paz com Deus. O tempo do verbo é o presente. Neste texto,
ele tem o sentido de um presente estendido do passado e, por isso, é muito parecido com o
perfeito. Os crentes obtiveram a paz com Deus em algum momento do passado, e até
aquele presente momento estavam desfrutando dela. A voz do verbo é ativa, mas isso não
quer dizer que os crentes obtiveram paz por seus próprios esforços. Pelo contrário, a voz
ativa em ἔχομεν descreve o cristãos como existindo no estado descrito pelo verbo. 37 O
contexto deixa claro que eles foram inseridos nesse estado por Deus.
Há uma grande discussão sobre o modo do verbo ἔχομεν. Há fortes evidências
textuais que favorecem a leitura do verbo como um subjuntivo, ἔχωμεν. Porisso, muitos
autores preferem traduzir o texto de Rm 5.1 como “tenhamos paz com Deus”. Esse é o caso
de Calvino, por exemplo. Por conta disso, ele exorta aos seus leitores crentes que busquem
uma tranquilidade de consciência baseada na obra de Cristo, e não obras humanas. 38 Se
entendida dessa forma, a paz teria um caráter subjetivo. Entretanto, apesar da evidência em
favor do subjuntivo, há evidências textuais que sugerem o indicativo ἔχομεν como a leitura
33
“Meio impessoal” descreve o instrumento pelo qual ação do verbo é cumprida. É chamada de impessoal
porque não envolve um agente estritamente pessoal, mas sim uma coisa. Essa nomenclatura foi retirada a
gramática grega de D. B. Wallace, p. 433-34.
34
KITTEL, G.; FRIEDRICH, G.; BROMILEY, G. W. Theological dictionary of the New Testament. Grand Rapids:
Eerdmans, 1964, v. 6, p. 217.
35
HENDRIKSEN, W. Comentário do Novo Testamento: Romanos. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 222.
36
WALLACE, D. B. Gramática grega: uma sintaxe exegética do novo testamento. São Paulo: Editora Batista
Regular do Brasil, 2009, p. 448.
37
Ibidem, p. 448.
38
CALVINO, J. Romanos. 2 ed. São Paulo: Edições Parakletos. 2001, p. 179-80.
20
original. Há, por exemplo, um manuscrito muito antigo (séc. 3) que tem o indicativo.
Contudo, a maior evidência é o contexto da perícope e da carta. Rm 5.10-11 trata desse
mesmo assunto ao dizer que os cristãos receberam a reconciliação, ou seja, estão em paz
com Deus. E lá os verbos estão no indicativo aoristo. Além disso, Paulo ainda está na parte
indicativa da sua carta. Ele só começará a parte imperativa no capítulo 12. 39 Por conta
desses argumentos, este trabalho acompanhou a maioria dos comentaristas e versões
bíblicas optando por ler o verbo como um indicativo. Apesar do indicativo falar da paz com
Deus como uma realidade objetiva, algo fora do homem, ele implica uma realidade
subjetiva, pois o estado de paz com Deus, automaticamente, produz tranquilidade na
consciência do crente.40
O substantivo acusativo εἰρήνην descreve aquilo que os cristãos passam a possuir
após a justificação. Como dito no Contexto Canônico, εἰρήνην no Novo Testamento é
equivalente ao ‫ ָׁש לֹום‬do Antigo Testamento. Sendo assim, paz não tem apenas o sentido
negativo de ausência de guerra ou conflito, mas tem também o sentido positivo de
completude, bem-estar, prosperidade, e salvação concedidas por Deus ao seu povo. Isso
quer dizer que os pecadores justificados não estão mais em guerra contra Deus, um conflito
onde eles se opunham a Deus e Deus se opunha a eles. E, além disso, desfrutam de todas
as bênçãos concedidas dentro da Aliança como cumprimento das promessas divinas.41
Para deixar ainda mais claro que esse estado no qual os cristãos se encontram não
foi produzido por eles, Paulo acrescenta que a paz com Deus é διὰ τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ
Χριστοῦ. A frase toda está no genitivo, que aqui funciona como um genitivo adverbial de
meio descrevendo o agente intermediário (Jesus) usado pelo agente primário (Deus) para
cumprir a ação do verbo principal. Paulo está declarando que Jesus é o Messias prometido
no Antigo Testamento ao chamá-lo de Χριστός. Além disso, o apóstolo afirma a divindade de
Jesus ao chamá-lo de κύριος, pois esse termo era usado para traduzir o tetragrama YHWH,
o nome pactual de Deus, na LXX. 42 Os cristãos podem chamar o Senhor Jesus Cristo de
“nosso” (um pronome pessoal no genitivo funcionado como um pronome possessivo que
adjetiva os substantivos da frase), pois Jesus Cristo dá aos crentes não apenas a
justificação que resulta na paz com Deus, ele também se dá aos crentes. Ele entra num
relacionamento pessoal com os cristãos, a ponto de poder ser chamado por eles de
“nosso”.43
Paulo enfatiza nos capítulo 5-8 de Romanos que todas as bênçãos que o crente
recebe da parte de Deus são mediadas unicamente por Jesus Cristo. Não há um tópico

39
HENDRIKSEN, W. Comentário do Novo Testamento: Romanos. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 221-22.
40
HODGE, C. The Crossway classic commentaries: Romans. Wheaton: Crossway Books, 1993, p. 128.
41
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 299.
42
MOUNCE, R. H. The New American Commentary: Romans. Nashville: Broadman & Holman Pub., 1995, p. 133.
43
FITZMYER, J. A. Romans. London: Yale University Press, 2008, p. 395.
21
cristológico específico em Rm 5-8, mas cristologia é a base para tudo que é dito nesses
capítulos, assim como em Rm 5.1-11.44 Rm 5.1 deixa claro que ele media a justificação pela
fé e seu primeiro efeito, a paz com Deus.
O pronome relativo οὗ retoma a expressão τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ, pois
Paulo ainda está falando sobre o que o cristão obtém pela mediação de seu Senhor Jesus
Cristo. O pronome relativo está no caso genitivo, mesmo caso da preposição δι ᾽, e funciona
como um genitivo adverbial de meio. O pronome e a preposição juntos expressam que o
acesso descrito neste versículo é alcançado apenas em Jesus Cristo. O termo καὶ está
funcionando como uma conjunção conectiva, acrescentado uma ideia adicional ao discurso.
O verbo ἐσχήκαμεν está no indicativo, que é o modo da declaração ou apresentação
da certeza. Paulo está convicto de que ele e os crentes romanos já possuem tal acesso. O
apóstolo está mais uma vez usando um verbo na primeira pessoa do plural, eles continuará
fazendo isso até o fim da perícope em análise, pois ela trata de uma experiência comum a
todos os que foram justificados pela fé. O verbo está no perfeito, o que mostra que este
acesso foi dado aos crentes em determinado momento no passado, e permanecem em
posse no tempo presente desfrutando dos seus efeitos. O fato do verbo estar na voz ativa
não significa que foram os cristãos que obtiveram o acesso com seus próprios esforços.
Este é mais um caso onde a voz ativa descreve o sujeito como existindo no estado expresso
pelo verbo. Obviamente, quem colocou os cristãos neste estado foi Deus.
Mais uma vez, Paulo usa um verbo com duplo acusativo. προσαγωγὴν, o primeiro
acusativo, é o objeto direto do verbo. O substantivo denota algo que é um resultado
presente da justificação pela fé recebida no passado, o acesso constante à presença do
Senhor Jesus Cristo. A imagem é a de um súdito que recebe permissão para entrar no
palácio do seu rei após ser perdoado de seus crimes. 45 A expressão εἰς τὴν χάριν ταύτην, o
segundo acusativo, é o complemento que modifica o primeiro acusativo. O acesso é “a esta
graça”. Paulo tem o cuidado de especificar bem a graça de que ele está falando usando um
artigo definido e um pronome demonstrativo. Graça, geralmente, significa a maneira livre e
espontânea com a qual Deus lida com o seu povo ou os dons que ele concede liberalmente.
Contudo, neste versículo, graça denota algo levemente diferente. Ela denota o reino ou
estado para o qual Deus transferiu o seu povo quando os justificou. Como é dito pelo
apóstolo em Rm 5.21, os cristãos estão no reino governado pela graça. O reino da graça
está em radical contraste com o reino da lei (Rm 6.14-15). 46 É a esta esfera de graça que
Paulo se refere neste versículo.

44
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 554.
45
JEWETT, R. Romans: A commentary. Minneapolis: Fortress Press, 2004, p. 349.
46
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 300.
22
Além dos dois acusativos do verbo, Paulo adiciona um terceiro complemento: τῇ
πίστει. O artigo e o substantivo estão no caso dativo, que funciona aqui como um dativo de
meio ou instrumento. Paulo reafirma o que ele disse no v. 1: as bênçãos mediadas por
Cristo são obtidas pela fé. É sempre a confiança no que Deus faz que garante ao crente a
justificação e seus resultados, e nunca o que o homem faz.47
O apóstolo agora afirma que ele e os cristãos romanos estão firmados no reino da
graça mediada por Cristo e obtida pela fé. Ele retoma τὴν χάριν ταύτην com o pronome
relativo ᾗ, um dativo que está na função de locativo, indicando a esfera na qual o sujeito
está firme. O verbo ἑστήκαμεν é um indicativo, pois Paulo está convicto de que essa é sua
realidade e a dos crentes romanos. O verbo está no perfeito, pois os crentes se firmaram
nessa esfera em algum momento do passado, quando foram justificados, permanecem
firmes e desfrutando dos efeitos dessa ação. Mais uma vez, a voz ativa não fala de algo
produzido por esforços humanos, mas descreve o sujeito existindo no estado descrito pelo
verbo.48 O acesso à presença de Jesus Cristo e o estado de graça no qual o cristão vive não
são coisas periódicas ou esporádicas, mas perenes. O cristão vive no palácio do seu rei.49
Usando uma conjunção conectiva, καὶ, Paulo adiciona mais um resultado da
justificação pela fé. Eles e os crentes se gloriam na esperança da glória de Deus. O verbo
καυχώμεθα é um indicativo, pois Paulo está descrevendo uma certeza. O verbo está no
presente. A ideia é de uma ação que está em progresso no momento em que o apóstolo
está falando. Trata-se de algo contínuo. A voz média do verbo é depoente. O que significa
que ação descrita pelo verbo é ativa.50 É Paulo e os crentes romanos que estão agindo, eles
estão se gloriando. O verbo καυχάομαι tem um sentido negativo em vários textos da
escritura. Gloriar-se em realizações meramente humanas é algo reprovado nas Escrituras
(Rm 2.17; 23; 3.27; 4.2). Mas quando o objeto do verbo é o que Deus faz, então ele passa a
ter um caráter positivo.51 O verbo καυχάομαι, neste versículo, sugere confiança e alegria. É
como se Paulo estivesse dizendo “estamos alegremente confiantes na esperança da glória
de Deus”. Com este verbo, Paulo chama a atenção de seus leitores para o futuro. Este
futuro é tão maravilhoso, que ele só pode falar dele com alegria e confiança. 52 ἐπ᾽ ἐλπίδι
denota o objeto do gloriar-se. O termo ἐλπίς não fala de uma possibilidade, como muitas
vezes é o caso do termo “esperança” em português. Não se trata de algo que pode ou não

47
JEWETT, R. Romans: A commentary. Minneapolis: Fortress Press, 2004, p. 349.
48
WALLACE, D. B. Gramática grega: uma sintaxe exegética do novo testamento. São Paulo: Editora Batista
Regular do Brasil, 2009, p. 410.
49
STOTT, J. R. W. The message of Romans. Downers Grove: InterVarsity Press, 1994, p. 140.
50
LONGENECKER, R. N. The New International Greek Testament Commentary. The Epistle to the Romans: a
commentary on the Greek text. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2016, p. 553.
51
DUNN, J. D. G. Word Biblical Commentary: Romans 1-8. Dallas: Word, Incorporated, 2002, p. 264.
52
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 301.
23
acontecer, mas sim de uma certeza. Quem tem ἐλπίς está convicto de que receberá o que
espera.53
O objeto da esperança é descrito como τῆς δόξης τοῦ θεοῦ. O genitivo τῆς δόξης é
descritivo. O genitivo τοῦ θεοῦ é de origem, fala de onde procede a glória que é esperada. A
glória de Deus fala da perfeita semelhança com seu Criador que o homem tinha no Jardim
do Éden, mas perdeu por causa do pecado (Rm 3.23). O povo de Deus está sendo
transformado de glória em glória (2Co 3.18), mas o resultado final só será revelado no último
dia (Rm 8.18,21). Essa esperança da glória está fundamentada na união dos crentes com
Cristo (Cl 1.27).54 João descreve esta realidade com outras palavras ao dizer que quando os
cristãos virem Jesus como ele é, então serão como ele é (1Jo 3.2). 55 É nesta esperança que
Paulo e os crentes romanos se gloriavam com confiança e alegria.
3
e não só isso, porém também nos gloriamos nas aflições, sabendo que a
4
aflição produz perseverança, e a perseverança, um caráter aprovado, e o caráter
5
aprovado, esperança. E a esperança não desaponta, porque o amor de Deus foi
derramado em nossos corações mediante o Espírito Santo dado a nós.
Paulo usa pela primeira vez a expressão οὐ μόνον δέ, que voltará a ser usada no
versículo 11, para trazer a atenção de seus leitores de volta ao presente. Enquanto se
gloriam na esperança da glória que será revelado no último dia, os cristãos enfrentam
diversas dificuldades por causa de sua fé. Essas aflições, em vez de desanimar o crente,
fortalecem a sua esperança. Paulo usa a conjunção adversativa enfática ἀλλά para deixar
claro que os cristãos não se alegram apenas com o futuro, mas também (καὶ) com o
presente. O verbo usado neste versículo é idêntico ao anterior. καυχώμεθα é um verbo no
indicativo, declarando uma realidade concreta; no presente, descrevendo uma ação que
está em progresso; e é um verbo depoente na voz média, ou seja, funciona como um verbo
na voz ativa. Paulo e os cristãos se gloriavam nas aflições com a mesma alegria e confiança
com que se gloriavam na esperança. A frase ἐν ταῖς θλίψεσιν não quer dizer que o sujeito do
verbo se gloria nas aflições em si, mas sim em meio às aflições. A aflição por si não causa
alegria, mas o resultado do processo que ela desencadeia sim.56 Há um artigo definido antes
do termo θλίψεσιν, o que sugere que Paulo tinha em mente aflições específicas. A
referência é às perseguições e demais sofrimentos que os cristãos enfrentam por causa de
sua fé.57 Como, por exemplo, a expulsão dos judeus de Roma por causa de um certo
Chrestus.

53
SCHREINER, T. R. Baker exegetical commentary on the NT: Romans. Grand Rapids: Baker Books, 1998, p. 254.
54
MORRIS, L. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: W.B. Eerdmans, 1988, p. 220.
55
CALVINO, J. Romanos. 2 ed. São Paulo: Edições Parakletos. 2001, p. 179-80.
56
SCHREINER, T. R. Baker exegetical commentary on the NT: Romans. Grand Rapids: Baker Books, 1998, p. 255.
57
MURRAY, J. Romanos. São José dos Campos: Fiel, 2003, p. 190.
24
Paulo usa um particípio para falar do por que ele se gloria juntamente com cristãos
romanos. εἰδότες é um particípio verbal causal, expressa a razão ou fundamento do verbo
finito καυχώμεθα. εἰδότες está no perfeito, contudo, esse perfeito tem força de presente. οἶδα
é um dos verbos que “acontecem frequente ou exclusivamente no tempo perfeito sem a
preocupação com o aspecto. Simplesmente são usados como verbos presentes.”58 O que os
cristãos sabem é o que as aflições promovem um bom resultado em sua vida. A oração
subordinada objetiva direta que apresenta isso é introduzida pela conjunção de conteúdo
ὅτι. θλῖψις é mais uma vez precedida por um artigo, pois Paulo tem em mente os sofrimentos
específicos sofridos por cristãos por causa de sua fé. θλῖψις está no nominativo, pois é o
sujeito do verbo κατεργάζεται. Este está no indicativo, pois o apóstolo está declarando uma
certeza sua. O verbo está no presente, denotando uma ação contínua, algo que está em
processo no momento da fala. A voz do verbo é média, mas como é uma média depoente,
funciona como um ativo. A aflição produz perseverança já no presente e de forma contínua.
ὑπομονὴν, o acusativo que funciona como objeto direto do verbo κατεργάζεται, denota a
qualidade de um maratonista que persevera até conseguir concluir sua corrida. 59 O termo
não denota simplesmente uma característica passiva como paciência, mas sim a constância
e perseverança de alguém que mantém a fé mesmo diante das maiores adversidades.60
E (δὲ, conjunção conectiva) a perseverança, por sua vez, produz o caráter aprovado.
Nesta frase o verbo está subtendido. Isso é comprovado pelo fato de o primeiro substantivo
ser um nominativo e o segundo ser um acusativo. δοκιμήν, precedido por um artigo definido,
fala especificamente do caráter que foi submetido ao teste das aflições, suportou-o, e foi
aprovado no final. Não apenas aprovado, foi também purificado. A imagem é a de um metal
como ouro ou prata passando pelo fogo, tendo suas impurezas eliminadas e ressurgindo
como algo melhor do que antes.61 E (δὲ, conjunção conectiva) o caráter aprovado, por sua
vez, produz esperança. O acusativo ἐλπίδα fala da mesma espera confiante descrita no
versículo 2. Assim, o ciclo está completo. Enquanto falava da esperança da glória de Deus,
Paulo chamou a atenção dos seus leitores para as aflições do tempo presente, apenas para
mostrar que elas, em vez de serem obstáculos para aquela esperança maravilhosa,
desencadeiam um processo que culmina no fortalecimento daquela espera confiante.
Enquanto passa por aflições, o cristão vai experimentado o auxílio da graça de Deus em sua
vida, vai sendo fortalecido pelo poder de Deus e consegue resistir aos testes mais terríveis.
Enquanto desfruta dessa ação de Deus mediada pelo Espírito Santo, o crente fica cada vez

58
WALLACE, D. B. Gramática grega: uma sintaxe exegética do novo testamento. São Paulo: Editora Batista
Regular do Brasil, 2009, p. 579.
59
OSBORNE, G. R. Romans. Downers Grove: InterVarsity Press, 2004, p. 129.
60
MURRAY, J. Romanos. São José dos Campos: Fiel, 2003, p. 190.
61
HENDRIKSEN, W. Comentário do Novo Testamento: Romanos. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 225.
25
mais certo de que Deus usará seu poder para concluir sua obra nele. Assim, sua esperança
é fortalecida.62
Usando a conjunção conectiva δὲ, Paulo adiciona mais uma ideia ao seu fluxo de
pensamento. Agora ele diz que a esperança de que ele tem falado não desaponta aqueles
que a possuem. O verbo καταισχύνει está no indicativo, o apóstolo está mais uma vez
declarando algo que é uma certeza para ele. O tempo verbal é o presente, καταισχύνει
descreve uma ação contínua, uma que está em progresso no momento da fala. Não
importavam as circunstâncias que cercavam Paulo e seus leitores, eles podiam declarar
com certeza que a esperança não os estava desapontado. A voz ativa leva adiante a
personificação da esperança.
O verbo καταισχύνει, que foi traduzido como desapontar, tem o sentido de
envergonhar ou falhar com alguém. Essa ideia está presente em diversos salmos (22, 25,
31, 71), onde os salmistas declaram que a confiança em Deus não os desapontava, pois o
Senhor sempre salvaria o seu povo.63 O gloriar-se alegre e confiante de Paulo e dos cristãos
romanos na esperança da glória de Deus não resultaria em decepção. Eles podiam estar
certos disso por causa do que Deus já havia feito por eles. A conjunção adverbial causal ὅτι
introduz a oração que descreve o motivo dessa certeza: “porque o amor de Deus foi
derramado em nossos corações mediante o Espírito Santo dado a nós”.
O sujeito do verbo, ἡ ἀγάπη, é unido a um genitivo de origem, τοῦ θεοῦ, para mostrar
que o amor de que Paulo está falando é um que procede de Deus e que foi demonstrado na
cruz, como será dito no versículo 8. O genitivo é objetivo, fala do amor de Deus pelo
homem, e não subjetivo, o amor do homem por Deus.64 O verbo ἐκκέχυται está no indicativo,
pois trata-se da declaração de uma certeza, de algo que realmente aconteceu. Ele está no
perfeito, pois o apóstolo está se referindo a um evento que aconteceu no passado e cujos
efeitos permanecem sendo desfrutados no presente. O verbo está na voz passiva. O agente
primário da passiva não é descrito, mas o contexto deixa claro que é Deus. A preposição
διὰ, usada aqui como um genitivo de agência, introduz o agente intermediário usado por
Deus: o Espírito Santo. Este é caracterizado pelo particípio adjetival δοθέντος. O particípio
está no aoristo e, assim, descreve uma ação completa que aconteceu antes do verbo
ἐκκέχυται. O particípio está na voz passiva, pois fala de uma ação que foi efetuada por Deus
Pai sobre o Espírito Santo. O pronome ἡμῖν, um dativo puro ou de objeto indireto, mostra a
quem Deus concedeu o Espírito Santo.
O local onde o amor foi derramado é descrito com a expressão dativa locativa ἐν ταῖς
καρδίαις. O substantivo καρδία denota o conceito judaico do homem, no qual o coração

62
CALVINO, J. Romanos. 2 ed. São Paulo: Edições Parakletos. 2001, p. 184.
63
DUNN, J. D. G. Word Biblical Commentary: Romans 1-8. Dallas: Word, Incorporated, 2002, p. 252.
64
BARRETT, C. K. The Epistle to the Romans. Peabody: Hendrickson Publishers, 1991, p. 97.
26
funciona como a sede do conhecimento, entendimento e vontade; é o centro do ser do
homem que só é visível a Deus e seu Espírito.65 Portanto, a experiência do amor de Deus é
uma experiência espiritual que se dá no mais profundo do ser do cristão.66
O verbo ἐκχέω denota um derramamento efusivo, abundante, extravagante.
Derramado dessa forma, o amor de Deus permeia todo o ser do crente 67. Paulo usa este
mesmo verbo para falar do derramamento do Espírito Santo (Tt 3.6). O Espírito, depois de
ter sido abundantemente derramado nos crentes, derramou no coração deles a certeza de
que Deus o ama, e os efeitos dessa ação permanecem no presente. 68 Isso é parecido com
que o apóstolo fala em Rm 8.17, quando diz que o Espírito testifica com o espírito dos
crentes que eles são filhos de Deus. Assim, Paulo descreve a ação da Trindade na vida dos
cristãos como a razão por que a esperança da glória de Deus não pode desapontá-los. O
amor de Deus demonstrado em Jesus Cristo e aplicado ao coração dos crentes mediante o
Espírito Santo é a razão por que a esperança nos os desaponta.
6
Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, no tempo designado morreu
7
em favor de ímpios; pois dificilmente alguém morreria em favor de um justo; pois,
8
em favor do bom, alguém possivelmente se atreveria a morrer. Mas Deus demonstra
o amor dele mesmo por nós em que, quando nós ainda éramos pecadores, Cristo
morreu em favor de nós;
Tendo falado do processo que começa com a justificação de pecadores mediante a
fé e termina com a glória de Deus sendo restaurada neles, Paulo agora fala dos fatos em
que tal processo está fundamentado. Para tanto, ele usa a conjunção adverbial causal γὰρ.
O apóstolo enfatiza que a morte de Cristo aconteceu quando ele e seus leitores ainda eram
pecadores. Ele usa o advérbio ἔτι duas vezes no versículo para enfatizar a persistência da
condição em que os agora cristãos estavam quando Cristo morreu por eles.69
Para descrever esse estado, o apóstolo usa uma construção chamada de genitivo
absoluto, que é um uso adverbial do particípio. Essa construção é composta de um
particípio no genitivo e um substantivo ou pronome no genitivo que funciona como o sujeito
do particípio. Neste caso, o genitivo não retém seu sentido de descrição ou posse, ele é
usado arbitrariamente. O genitivo absoluto é colocado no início da frase tem como função
descrever a circunstância em que acontece a ação do verbo principal. 70 O genitivo absoluto
do versículo em análise é ὄντων ἡμῶν ἀσθενῶν. ὄντων é um particípio presente, portanto,
ele descreve que aconteceu simultaneamente ao verbo principal ἀπέθανεν. O particípio está

65
JEWETT, R. Romans: A commentary. Minneapolis: Fortress Press, 2004, p. 357.
66
OSBORNE, G. R. Romans. Downers Grove: InterVarsity Press, 2004, p. 129.
67
CALVINO, J. Romanos. 2 ed. São Paulo: Edições Parakletos. 2001, p. 185.
68
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 304.
69
FITZMYER, J. A. Romans. London: Yale University Press, 2008, p. 398.
70
REGA, L. S.; BERGMANN, J. Noções do grego bíblico. São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 228-29
27
na voz ativa e descreve o sujeito do particípio existindo no estado expresso per verbo. O
sujeito do de ὄντων é ἡμῶν, que se refere, em primeira instância, a Paulo e seus leitores.
Isso faz com que o estado descrito por Paulo, “nós éramos fracos”, tenha que ser descrito
como uma realidade de todos os cristãos antes da justificação. O adjetivo ἀσθενῶν funciona
como o predicativo do sujeito, descrevendo o que os cristãos eram. O termo ἀσθενής nem
sempre se refere a fraqueza moral. Às vezes se refere a fraqueza física. Contudo, neste
versículo, Paulo se refere à incapacidade que todos os seres humanos têm de conquistar
algo de valor eterno por si só. Isso não quer dizer que eles nunca possam fazer nada que
seja relativamente bom, mas sim que eles não podem fazer nada que os façam justos diante
de Deus. Em outras palavras, o apóstolo está se referindo ao homem como incapaz de se
salvar.71
Foi quando os cristãos ainda estavam nessa situação, que Cristo morreu em favor
deles. O nominativo Χριστὸς foi colocado logo no início da frase para enfatizar o sujeito do
verbo. O verbo ἀπέθανεν foi colocado no fim da sentença, também para enfatizar a ação do
verbo.72 O problema do homem teve que ser resolvido com nada menos do que a morte do
Filho de Deus. O verbo está no indicativo, pois Paulo está declarando uma certeza. Está no
aoristo, pois se trata de uma ação completa efetuada no passado (aor. ind.) de uma vez por
todas. Está na voz ativa, descrevendo o sujeito como experimentado a ação verbal. O verbo
é complementado com a frase genitiva ὑπὲρ ἀσεβῶν, que descreve aqueles em favor de
quem Cristo morreu. A preposição ὑπὲρ sugere que Cristo morreu em benefício de ímpios.
Contudo, a ideia de substituição também está presente, pois, para beneficiar os ímpios,
Cristo teve morrer no lugar deles, cumprindo a pena que estava destinada a eles. 73 O
adjetivo ἀσεβής se refere a irreligiosidade e imoralidade. Ele descreve aquilo que é chamado
no AT de transgressão. As pessoas descritas por Paulo com o adjetivo ἀσεβής são aquelas
que viviam em rebelião contra o criador e transgredindo a lei divina. 74 ἀσεβῶν é usado como
um paralelo a ἀσθενῶν, os dois descrevem as mesmas pessoas.
Tendo enfatizado que Cristo morreu quando os beneficiários de sua morte eram
incapazes de se ajudar e viviam transgredindo a lei de Deus, o apóstolo agora diz que Cristo
morreu no tempo designado. O acusativo de tempo κατὰ καιρὸν modifica o verbo ἀπέθανεν
e descreve aquilo que Paulo chama de “a plenitude do tempo” em Gl 4.4. A morte de Jesus
Cristo não foi um acidente histórico, foi algo planejado e decretado por Deus na eternidade,
e que aconteceu no momento perfeito da história da salvação.75
71
OSBORNE, G. R. Romans. Downers Grove: InterVarsity Press, 2004, p. 132.
72
JEWETT, R. Romans: A commentary. Minneapolis: Fortress Press, 2004, p. 357.
73
STOTT, J. R. W. The message of Romans. Downers Grove: InterVarsity Press, 1994, p. 144.
74
KITTEL, G.; FRIEDRICH, G.; BROMILEY, G. W. Theological dictionary of the New Testament. Grand Rapids:
Eerdmans, 1964, v. 7, p. 189.
75
BARRETT, C. K. The Epistle to the Romans. Peabody: Hendrickson Publishers, 1991, p. 98. Cf.: CRANFIELD, C. E.
B. A critical and exegetical commentary on the Epistle to the Romans. London: T&T Clark Int., 2004, p. 264.
28
Para explicar a natureza extraordinária da ação de Deus mediante Jesus, Paulo
contrata a atitude divina com a atitude geral dos homens. Para fazer isso, ele introduz a
próxima oração com a conjunção explicativa γὰρ. O advérbio μόλις fala do baixíssimo grau
de possibilidade de alguém morrer por um justo. Trata-se de algo muito raro, ainda que
possível.76 A preposição ὑπὲρ tem o mesmo sentido daquela que apareceu no versículo 6,
fala da ação de alguém em benefício de outra pessoa. O adjetivo δικαίου, genitivo de
representação/vantagem em consonância com a preposição ὑπὲρ, funciona nesta frase
como um substantivo. Paulo usa o termo δίκαιος no versículo 7 no mesmo sentido em que
os judeus usavam. Ele se refere alguém que tinha uma vida exemplar, em conformidade
com a lei.77 Não se trata de alguém justo aos olhos de Deus, mas de um justo aos olhos dos
homens. Mesmo notando a justiça dessa pessoa, dificilmente alguém morreria em benefício
dela. O verbo ἀποθνῄσκω está no indicativo que, neste caso, é potencial. Assim, o sentido
dele se aproxima mais do modo subjuntivo. O verbo está no futuro, mas não se trata de uma
previsão de algo que certamente acontecerá dentro de algum tempo. O futuro aqui é
gnômico, fala da possibilidade de um evento genérico acontecer. 78 A voz média do verbo é
uma média permissiva, o sujeito permite que algo aconteça com ele.
Algo um pouco mais possível, mas ainda muito raro, é que alguém morra por um
bom. O advérbio τάχα fala de algo mais provável que μόλις, mas ainda assim fala de uma
contingência que fica entre o possível e o remotamente possível. 79 O adjetivo ἀγαθοῦ,
genitivo de representação/vantagem em consonância com a preposição ὑπὲρ, pode ser
entendido como “benfeitor”, alguém conhecido por fazer boas obras em favor de outras
pessoas. O ἀγαθός tem um possibilidade de alcançar a simpatia das pessoas do que o
δίκαιος, pois este é respeitado por sua conduta justa, enquanto aquele é capaz de cativar a
emoção das pessoas. Ainda assim, seria difícil encontrar alguém que se atrevesse a morrer
em benefício de um bom.80 O verbo τολμᾷ, assim como o verbo anterior, é um indicativo
potencial, está no futuro gnômico. Está na voz ativa, pois é o sujeita que pratica a ação de
se atrever. O verbo é complementado por um infinitivo adverbial, ἀποθανεῖν, que está no
aoristo, pois descreve uma ação completa ou pontual. Modificada pelo advérbio τάχα, a
oração fala da baixa probabilidade de um ser humano ter coragem de morrer em benefício
de uma pessoa boa.

76
ARNDT, W.; BAUER, W.; DANKER, F. W. A Greek-English lexicon of the New Testament and other early
Christian literature. 3 ed. Chicago: University of Chicago Press, 2000, p. 657.
77
MORRIS, L. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: W.B. Eerdmans, 1988, p. 223.
78
WALLACE, D. B. Gramática grega: uma sintaxe exegética do novo testamento. São Paulo: Editora Batista
Regular do Brasil, 2009, p. 571.
79
ARNDT, W.; BAUER, W.; DANKER, F. W. A Greek-English lexicon of the New Testament and other early
Christian literature. 3 ed. Chicago: University of Chicago Press, 2000, p. 992.
80
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 307.
29
As duas frases do versículo 7 se unem para falar da qualidade do amor humano.
Mesmos os melhores objetos de admiração e simpatia, o justo e o bom, dificilmente
conseguem alguém que morra por eles.
Descrita a atitude geral dos seres humanos, Paulo agora insere a contrastante ação
divina com a conjunção δὲ, que funciona no versículo 8 como uma adversativa. O verbo
συνίστησιν é um indicativo, pois o apóstolo está declarando uma certeza. Está no presente,
pois se trata de uma ação que está em progresso, é contínua. Apesar da grande evidência
do amor de Deus ser uma ação completa realizada no passado, a demonstração desse
amor é uma realidade presente. Deus continua usando o evento histórico da morte de Cristo
para demonstrar ou provar o seu amor ao seu povo no tempo presente. O verbo συνίστησιν
tem como sujeito ὁ θεός, substantivo nominativo. Ele está na voz ativa, pois fala de uma
ação realizada pelo próprio Deus. O verbo tem um duplo acusativo: τὴν ἑαυτοῦ ἀγάπην, o
primeiro acusativo, é o objeto direto do verbo. É isso que Deus está demonstrando. O
pronome reflexivo ἑαυτοῦ serve para enfatizar que o amor é do próprio Deus. εἰς ἡμᾶς, o
segundo acusativo, é o complemento de ἀγάπην, deixando claro que o amor de Deus é
direcionado ao “nós” que Paulo tem usado desde o começo desta perícope.
O apóstolo usa a conjunção ὅτι para inserir a oração que explica em que consiste
esse amor que Deus demonstra. O sujeito dessa oração é Χριστὸς. Paulo pode dizer que
uma ação de Cristo é uma demonstração do amor de Deus porque, ao enviar seu Filho para
morrer por pecadores, Deus Pai estava doando o seu próprio ser. 81 Não foi a pessoa do
Deus Pai quem morreu na cruz, mas o amor de Cristo que o levou a morrer é o mesmo
amor do Pai, pois eles são um.82 O verbo ἀπέθανεν está no indicativo, que é a declaração
de uma certeza. Está no aoristo, pois se trata de uma ação completa que foi realizada no
passado. E está na voz ativa, pois descreve o sujeito como experimentando ativamente a
ação descrita pelo verbo. A preposição ὑπὲρ é usada mais uma vez para apresentar os
beneficiários da morte de Cristo. Foi dito que Cristo morreu em favor pessoas fracas e
ímpias, agora Paulo as descreve como ἡμῶν, “nós”. O apóstolo usa mais uma vez um
genitivo absoluto para descrever a circunstância em que a morte de Cristo aconteceu: ἔτι
ἁμαρτωλῶν ὄντων ἡμῶν. O advérbio ἔτι é mais uma vez para descrever a persistência do
estado escrito. O sujeito do particípio é ἡμῶν, que se refere, em primeira instância, a Paulo
e aos cristãos romanos. O particípio ὄντων, já usado desta mesma forma no versículo 6,
está no presente, descrevendo uma ação simultânea à do verbo ἀπέθανεν. Está na voz
ativa, descrevendo o sujeito existindo no estado expresso pelo verbo. O predicativo do verbo
é adjetivo ἁμαρτωλῶν, que aqui está funcionando como um substantivo. ἁμαρτωλός

81
STOTT, J. R. W. The message of Romans. Downers Grove: InterVarsity Press, 1994, p. 144.
82
MORRIS, L. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: W.B. Eerdmans, 1988, p. 224.
30
descreve alguém cujo comportamento ou atividade não corresponde ao padrão moral da lei
de Deus.83
Foi quando os cristãos estavam neste estado, que Jesus Cristo morreu em favor e no
lugar deles. Nestes três versículos, 6-8, o verbo ἀποθνῄσκω apareceu quatro vezes, sempre
ao fim das sentenças gregas. Assim, enfatizou-se que é essa ação que demonstra o amor
de Deus. Um amor sem precedentes, sem analogia na história humana, pois ninguém se
atreveria a morrer por pessoas descritas como fracas, ímpias, e pecadoras. É precisamente
por isso que a demonstração do amor é Deus é algo extraordinário. A esperança da glória
está baseada no amor surpreendente e infalível de Deus. O cristão pode ter certeza de que
chegará ao final do processo da salvação, pois ela está baseada no que Deus faz, e não
que o homem faz. Se Deus fez isso tudo pelos seus quando eles eram ainda pecadores,
então eles podem estar seguros quando ao futuro sabendo que a esperança não os
desapontará.84
9
portanto, muito mais, tendo sido agora justificados no seu sangue, seremos
10
salvos da ira mediante ele. Pois, se sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus
mediante a morte do seu filho, muito mais, tendo sido reconciliados, seremos salvos
na sua vida;
Tendo estabelecido o quão extraordinário é o amor divino em comparação com a
atitude humana, Paulo agora esclarece as implicações para a esperança do cristão. Ele
introduz a próxima oração com a conjunção inferencial οὖν, pois está prestes a acrescentar
uma conclusão ao que foi dito anteriormente. A expressão πολλῷ μᾶλλον introduz um
argumento chamado de a minori ad maius (do menor ao maior), que é equivalente ao tipo de
argumento hebraico ‫( קל וחמר‬qal waḥomer, “leve e pesado”). Esse tipo de argumentação foi
promovido pela escola de Hillel, e pode ter sido parte do treinamento rabínico de Paulo, visto
que ele o usa diversas vezes (Rm 5.9,10,15,17; 2Co 3.9,11; Fl 1.23; 2.12). Neste tipo de
argumento, compara-se duas realidades, se a menor for verdadeira, a maior também será.
O argumento também pode ocorrer na direção oposta: se a realidade maior for verdadeira, a
menor também será.85 Este é precisamente o caso de Rm 5.9-10. Paulo utiliza o mesmo
particípio que iniciou esta perícope para lembrar os seus leitores do que já aconteceu com
eles. δικαιωθέντες é um particípio aoristo, descreve uma ação completa que foi realizada de
uma vez por todas. Está na voz passiva, descrevendo uma ação que o sujeito (Paulo e seus
leitores) sofreu. O agente primário da passiva não é citado, mas o contexto deixa claro que é
Deus. O meio impessoal é descrito como ἐν τῷ αἵματι αὐτοῦ. A preposição ἐν está sendo

83
ARNDT, W.; BAUER, W.; DANKER, F. W. A Greek-English lexicon of the New Testament and other early
Christian literature. 3 ed. Chicago: University of Chicago Press, 2000, p. 51.
84
LONGENECKER, R. N. The New International Greek Testament Commentary. The Epistle to the Romans: a
commentary on the Greek text. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2016, p. 562.
85
JEWETT, R. Romans: A commentary. Minneapolis: Fortress Press, 2004, p. 362.
31
usada como instrumental. τῷ αἵματι é um dativo de meio ou instrumento, denota o meio
pelo qual a ação verbal é cumprida. O pronome pessoal αὐτοῦ está no genitivo e adjetiva o
sangue como sendo “dele”. O pronome funciona como um possessivo, e seu antecedente é
Cristo. O sangue de Cristo foi o meio que Deus usou para justificar o seu povo. O advérbio
νῦν modifica o particípio δικαιωθέντες adicionando a nuance de presente continuidade ao
status de justo daqueles que foram justificados86. A morte mediante cruz, por si só, não é
algo primariamente sangrento, como o é, por exemplo, a morte por decapitação. Contudo,
Paulo se refere ao sangue para deixar claro que a linguagem é sacrificial. 87 Cristo foi
oferecido como sacrifício pelos pecados do seu povo, para que os seus fossem justificados.
Essa é parte maior ou pesada do argumento. Se isso realmente aconteceu, então a
segunda parte do argumento também acontecerá.
“Muito mais seremos salvos da ira mediante ele”. Essa é a parte menor do
argumento. O verbo σωθησόμεθα está no indicativo, pois Paulo está declarando uma
certeza. Está no futuro, que aqui é preditivo, descrevendo uma ação que está por vir. O
verbo está na voz passiva, pois não são os cristãos que produzem sua salvação, eles são
salvos, sofrem a ação. O agente primário mais uma vez não é descrito, mas o contexto
sugere ser Deus. O agente intermediário é descrito com o pronome pessoal αὐτοῦ, que é
um genitivo de adverbial de agência em consonância com a preposição de agência δι᾽. O
antecedente do pronome é Cristo. Deus salvará o seu povo no último dia por meio do seu
Filho. O genitivo τῆς ὀργῆς funciona como um genitivo objetivo, e complementa o sentido do
verbo σωθησόμεθα. O artigo definido diante do substantivo deixa claro que a ira de que
Paulo está falando é uma específica. Trata-se do castigo divino eterno que cairá sobre as
criaturas rebeldes no dia do juízo final.88 A salvação da ira escatológica é parte da
esperança da glória em que os cristãos se gloriam. Apesar de ser algo maravilhoso, salvar
um justificado da ira é menos difícil do que justificar um pecador. Se Deus realizou isto, sem
dúvida, ele realizará aquilo.
No versículo 10, Paulo usa novamente o argumento a minori ad maius com o objetivo
de enfatizar o que acabou de dizer. Ele o introduz com a conjunção inferencial γὰρ, algo
será adicionado à discussão anterior para a esclarecer ainda mais. A parte maior do
argumento é “se sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu
filho”. A conjunção εἰ não expressa dúvida como o “se” do português, ela pressupõe a
verdade da suposição que a segue.89 O estado em que os cristãos viviam quando foram
reconciliados é descrito com o particípio ὄντες. Ele está no presente, denotando um estado
contínuo e simultâneo ao tempo do verbo principal κατηλλάγημεν. Está na voz ativa,
86
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 310
87
KEENER, C. S. Romans: A New Covenant Commentary. Eugene: Cascade Books, 2009, p. 136.
88
SCHREINER, T. R. Baker exegetical commentary on the NT: Romans. Grand Rapids: Baker Books, 1998, p. 263.
89
MORRIS, L. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: W.B. Eerdmans, 1988, p. 220.
32
descrevendo o sujeito existindo no estado indicado elo verbo. Está no nominativo, pois
descreve o sujeito do verbo principal κατηλλάγημεν, “nós” (Paulo e seus leitores).
O complemento do é o adjetivo ἐχθροὶ, que está funcionando como um substantivo.
O adjetivo ἐχθρός descreve aqui pessoas que, com sua conduta pecaminosa, se opõem
contra Deus ativamente. O termo fala de pessoas que odeiam a Deus interiormente e se
opõem a ele exteriormente. Elas fazem isso ao deixarem de adorar ao verdadeiro Deus, ao
colocar ídolos no seu lugar, e ao transgredir a sua lei continuamente. Contudo, o termo não
se refere apenas à inimizado do homem para com Deus, mas também à inimizade de Deus
para com o homem. Deus se opõe aos pecadores e derrama sua ira sobre eles (Rm 1.18).90
Quando os cristãos estavam neste estado de inimizade, foram reconciliados com
Deus. O verbo κατηλλάγημεν significa unir, ou estabelecer a paz entre duas partes
estranhas ou hostis. É equivalente ao que Paulo disse no versículo. 1, quando afirmou que
os cristãos têm paz com Deus mediante o Senhor Jesus Cristo. Enquanto a justificação é
forense, apelando para a imagem de um criminoso sendo inocentado diante de um juiz, a
linguagem da reconciliação é relacional, apela para a imagem das relações pessoais.91
O verbo está no indicativo, pois Paulo está declarando uma certeza. Está no aoristo,
pois ele está descrevendo uma ação completa que foi executada no passado (aor. ind.) de
uma vez por todas. Está na voz passiva, pois não se trata de algo que os cristãos fizeram ou
podiam fazer, trata-se de algo que somente Deus podia fazer e fez. Apesar do agente
primário não ser afirmado diretamente, o contexto deixa claro que é Deus. O meio impessoal
usado por Deus para cumprir a ação do verbo é introduzido pela preposição de meio διὰ. O
meio é τοῦ θανάτου τοῦ υἱοῦ αὐτοῦ. τοῦ θανάτου é um genitivo adverbial de meio. τοῦ υἱοῦ é
um genitivo descritivo que mostra quem foi morto. E αὐτοῦ é um pronome pessoal no
genitivo, funciona como um possessivo, que adjetiva o filho como sendo “dele”, ou seja, de
Deus. Mais uma vez Paulo deixa claro que a obra salvadora de Deus foi realizada mediante
o sacrifício de seu Filho.
A parte maior ou pesada do argumento a minori ad maius é introduzida com a
construção πολλῷ μᾶλλον, “muito mais”. Tendo falado da reconciliação efetuada por Deus,
Paulo a enfatiza com o particípio καταλλαγέντες. Este é um particípio verbal que está no
aoristo, descrevendo uma ação completada, efetuada de uma vez por todas, e anterior
àquela descrita pelo verbo principal σωθησόμεθα. O particípio está na voz passiva, assim
como o verbo καταλλάσσω anterior, pois não se trata de algo que os cristãos fizeram ou
podiam fazer, trata-se de algo que somente Deus podia fazer e fez. Agora que os cristãos
estão reconciliados, ou seja, agora que a parte mais difícil foi realizada, eles serão salvos. O
verbo σωθησόμεθα é exatamente igual ao que aparece no versículo 9. Está no indicativo,
90
SCHREINER, T. R. Baker exegetical commentary on the NT: Romans. Grand Rapids: Baker Books, 1998, p. 263.
91
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 311.
33
pois Paulo está declarando uma certeza. Está no futuro, que aqui é preditivo. Descreve uma
ação que está por vir. O verbo está na voz passiva, pois não são os cristãos que produzem
sua salvação, eles são salvos, sofrem a ação. O agente primário não descrito, mas o
contexto sugere ser Deus. O meio impessoal, por assim dizer, é descrito como ἐν τῇ ζωῇ
αὐτοῦ. A preposição ἐν está funcionando como um dativo instrumental. τῇ ζωῇ é um dativo
de meio ou instrumento, descreve o meio pelo qual a ação verbo é cumprida. O pronome
pessoal αὐτοῦ está no genitivo, funciona como um possessivo. O seu antecedente é o
substantivo Filho. A salvação dos cristãos é executada por Deus mediante a vida de Cristo.
Aqui Paulo deixa claro que a obra salvadora de Cristo é um composto que abrange não
apenas a sua morte, mas também a sua ressurreição.92 Trata-se de uma reafirmação do que
foi dito em Rm 4.25.
Mais uma vez a esperança da glória na qual os cristãos se gloriam com alegria e
confiança é reforçada. A parte mais difícil foi realizada, Deus reconciliou consigo o seus
inimigos. Com toda certeza, a parte mais fácil será realizada, Deus salvará seu povo da ira
futura e restaurará neles a sua glória. O fato de os cristãos estarem desfrutando o “já”
(justificados pela fé, reconciliados), lhes dá a garantia de que eles desfrutarão o “ainda não”
(a glória de Deus restaurada neles, a salvação da ira futura).93
11
e não só isso, porém também nos gloriamos em Deus mediante o nosso
Senhor Jesus Cristo, mediante o qual agora recebemos a reconciliação.
No último versículo da perícope, Paulo fecha sua discussão retomando diversos
assuntos tratados nela. O primeiro é o “gloriar-se” dos versículos 2-3. O apóstolo falou de
como os cristãos se gloriam na esperança da glória, sabendo que o amor de Deus
demonstrado no sacrifício de Cristo e derramado nos seus corações pelo Espírito é garantia
suficiente de que a obra da salvação será concluída por Deus. Agora ele usa a expressão
οὐ μόνον δέ para trazer a atenção dos crentes para o presente. Ele fez isso no versículo 3,
quando, depois de falar da esperança da glória de Deus, chamou a atenção dos crentes
para as aflições do tempo presente que iniciam um processo que culmina no fortalecimento
da esperança. No versículo 11, Paulo mostra que os crentes não se gloriam apenas com
referência ao futuro, mas (a conjunção adversativa ἀλλὰ é enfática) se gloriam no presente
em Deus.94 O verbo καυχώμενοι é um particípio presente. Fala de uma ação que está em
processo, que é contínua. A voz é média, mas é depoente. Portanto, o verbo descreve algo
que o sujeito pratica ativamente. καυχώμενοι não é um particípio verbal dependente
subordinado a um verbo principal. Ele deve ser tomado aqui como o verbo principal de sua

92
SCHREINER, T. R. Baker exegetical commentary on the NT: Romans. Grand Rapids: Baker Books, 1998, p. 264.
93
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 311.
94
Ibidem, p. 313.
34
sentença.95 Por isso, ele foi traduzido como um verbo finito na ST: “porém também nos
gloriamos em Deus”.
Paulo criticou um tipo de pessoa que se “gloriar em Deus” em Rm 2.14. Lá, o
apóstolo descreve uma atitude de autoconfiança e autoglorificação de alguém que repousa
na lei, e acha que pode conquistar o status de justo diante de Deus. Aqui, Paulo fala de um
gloriar-se alegre e confiante baseado no que Deus fez, e não que o homem faz. Isso fica
ainda mais claro quando o apóstolo diz que os cristãos se gloriam em Deus τοῦ κυρίου ἡμῶν
Ἰησοῦ Χριστοῦ.96 τοῦ κυρίου é um genitivo de meio, expressando o instrumento pelo qual a
ação do verbo é cumprida. ἡμῶν é pronome pessoal no genitivo, que está funcionando
como um possessivo. Ele adjetiva τοῦ κυρίου como “nosso”. Isso traz à mente o
relacionamento pessoal com a Trindade em que os cristãos entrarão quando foram
justificados pela fé e reconciliados com Deus. Assim como no versículo 1, o apóstolo afirma
a divindade de Jesus ao chamá-lo de κύριος, declara que Jesus é o Messias prometido no
Antigo Testamento ao chamá-lo de Χριστός. O crente pode se gloriar em Deus com alegria e
confiança, desde que isso esteja baseado na obra salvífica mediada por Cristo. O cristão se
regozija em Deus não com base no que pode fazer para ele, mas com base no que Deus já
em favor de seu povo.
Isso é enfatizado pela descrição que Paulo faz de Jesus Cristo como aquele por
meio de quem os cristãos receberam a reconciliação. Essa descrição é introduzida pela
preposição de meio δι᾽. O pronome relativo οὗ está no genitivo, e funciona como um genitivo
adverbial de meio, descrevendo o instrumento pelo qual a ação do verbo é cumprida. O
pronome retoma o substantivo τοῦ κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ. Ele é o agente intermediário
do verbo ἐλάβομεν. Este está no indicativo, pois Paulo está declarando uma certeza. Está
no aoristo, pois descreve uma ação completada efetuada no passado de uma vez por todas.
Está na voz ativa, pois descreve os cristãos recebendo a reconciliação. Eles não a
produziram por conta própria. Ela foi produzida por Deus mediante seu Filho. E tudo o que
os cristãos fizeram foi recebê-la pela fé. Sabendo disso, os cristãos podem se gloriar em
Deus já no presente.97
2.4 Mensagem para a Época da Escrita
A carta aos Romanos foi escrita pelo apóstolo Paulo com o auxílio de seu
amanuense Tércio em 57 d. C. Ela é uma exposição cuidadosa do evangelho pregado pelo
apóstolo dos gentios. Ele trata especialmente das questões histórico-salvífica de judeus e
gentios, a lei e ao evangelho, continuidade e descontinuidade entre o antigo e o novo. O
propósito de Paulo ao fazer isso é múltiplo: esclarecer pontos de sua luta com os

95
MOO, D. J. The Epistle to the Romans. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. 1996, p. 313.
96
DUNN, J. D. G. Word Biblical Commentary: Romans 1-8. Dallas: Word, Incorporated, 2002, p. 261.
97
SCHREINER, T. R. Baker exegetical commentary on the NT: Romans. Grand Rapids: Baker Books, 1998, p. 265.
35
judaizantes que ele enfrentou na Galácia e em Corinto; conseguir o apoio da igreja de
Roma, fazendo dela uma base missionária para a sua viagem à Espanha; unificar em torno
do evangelho a comunidade cristã dividida de Roma.98
A perícope em estudo cumpre esses propósitos ao ensinar aos crentes a esperança
da glória dos que foram justificados. Paulo relembra os cristãos que eles já foram
justificados e, por conta disso, eles já têm paz com Deus, já estão inseridos no reino da
graça mediante Jesus Cristo. Portanto, eles se gloriam na esperança da glória de Deus,
sabendo que a obra salvífica de Deus será concluída. Mesmo as aflições do presente não
são suficientes para abalar esta esperança, pois os sofrimentos servem apenas para
desencadear um processo que culmina no fortalecimento da esperança. Além disso, Paulo
estabelece que o amor de Deus demonstrado de forma surpreendente na morte sacrificial
de seu Filho é a base da esperança da glória.
O uso da primeira pessoa do plural em toda a perícope inclui todos cristãos romanos
na experiência descrita por Paulo. Ao fazer isso, o apóstolo está mostrando que não há
razão para dividir a igreja entre judeus e gentios. Todos eles eram pecadores, todos foram
justificados, todos agora têm paz com Deus, e todos compartilham da mesma esperança da
glória. Sendo assim, não poderia haver divisão entre eles. A única divisão que existe é entre
os pecadores que foram justificados e os que não foram justificados.
Paulo esclarece também que a salvação é efetuada exclusivamente por Deus
mediante o seu Filho, e é recebida somente por meio da fé. Qualquer outro método de
salvação está excluído. Lei, circuncisão, boas, ou qualquer coisa parecida não conseguem
livrar o homem da ira escatológica, nem conseguem restaurar neles a glória de Deus.
A esperança da glória deveria ser usada pelos cristãos para reinterpretar toda a sua
existência. Mesmo as aflições, que parecem transmitir apenas tristeza, são encaradas pelo
crente com alegria e confiança. Pois ele sabe dos resultados produzidos pelo sofrimento nos
que possuem a esperança da glória baseada no amor de Deus.
2.5 Mensagem para todas as épocas
A mensagem da perícope em estudo é muito pertinente à época atual. A esperança
da glória de Deus deve pregada e vivida pela igreja. É preciso que os crentes reflitam no
que já receberam de Deus (justificação, paz, reconciliação), e se alegrem cada vez na
espera confiante pelo dia em que serão glorificados e tornados perfeitamente semelhantes a
Cristo.
Numa época em que se enfatiza cada vez mais o poder do homem, é preciso
anunciar a mensagem de que toda a obra salvífica está baseada no que Deus fez por
intermédio de seu Filho. A garantia de sucesso desse processo é justamente o fato de que
ele está baseado no que Deus faz e não no que o homem.
98
CARSON, D. A.; MOO, D. J; MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Nova Vida, 1997, p. 282.
36
Numa época cada vez mais hedonista e avessa a qualquer tipo de sofrimento, é
preciso pregar a mensagem de que a esperança da glória é reforça quando os cristãos
passam por aflições.
2.6 Teologia do Texto
2.6.1 Implicações para a Teologia Bíblica
Um dos pontos da Teologia Bíblica mais chamativo na perícope em estudo é o tema
da justiça de Deus. Nas perícopes anteriores e nesta, Paulo mostra que Deus pode perdoar
pecadores e permanecer justo. Ele faz isso ao fazer seu Filho morrer expiatoriamente no
lugar de pecadores. A morte de Jesus é a prova do amor de Deus, mas também é a prova
de sua justiça.99 Relacionado a este tema está o da ira de Deus. Ela é a reação de Deus ao
pecado. É tanto presente quanto futura. Mediante Jesus Cristo, Deus livrou o seu povo da
sua ira tanto presente quanto futura. Ele fez isso por causa do seu amor. Ele decidiu agir
com graça para com os seus escolhidos.100
Há muitas implicações cristológicas para a Teologia Bíblica que aparece nesta
perícope. Paulo chama Jesus Cristo de Filho de Deus, descrevendo-o como o representante
101
de Deus Pai que executa fielmente a vontade deste. O apóstolo o chama de Senhor,
numa clara referência ao Tetragrama YHWH, reconhecendo-o como Deus. Paulo reconhece
o como o Messias que cumpre as promessas do Antigo Testamento ao chamá-lo de Cristo.
Para ele, Jesus é o mediador da salvação prometida desde tempos antigos.102
Há também a descrição do Espírito Santo como o agente que aplica a obra salvífica
de Deus ao coração do homem. Ele é o membro da trindade presente no mundo, e que
executa a vontade do Deus Pai e do Filho. Assim, toda a Trindade está envolvida na obra
salvífica descrita por Paulo na perícope em estudo e em Romanos.103
A tensão escatológica entre o “já” e “ainda não” também está presente na perícope.
Paulo fala da salvação como sendo algo presente e futuro ao mesmo tempo. Os cristãos já
estão justificados e reconciliados, mas ainda aguardam a salvação da ira escatológica.104
O apóstolo também fala da glorificação, um tema que é desenvolvido amplamente na
carta aos Romanos e também nas demais cartas paulinas. A glorificação é compartilhar da
glória de Deus e participar dela. É a última etapa da obra da salvação, e está
completamente baseado no amor de Deus e na obra salvífica de Cristo.105
2.6.2 Implicações para a Teologia Sistemática

99
LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 612.
100
ZUCK, R. B. (Ed). Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 272-76.
101
Ibidem, p. 280-82.
102
LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 568-80.
103
ZUCK, R. B. (Ed). Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 284.
104
LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003, p. 533.
105
ZUCK, R. B. (Ed). Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 738-39.
37
A primeira implicação da perícope em estudo para a Teologia Sistemática é
soteriológica. Ela contribui com a Sistemática ao falar da doutrina da justificação pela fé,
mostrando que ela está baseada na vida e no sacrifício de Jesus Cristo e ao mostrar que a
justificação garante ao cristão a paz com Deus e a salvação da ira futura. A doutrina da fé
salvadora, por meio da qual o cristão recebe a salvação, também é fundamental na perícope
em estudo.106
Há implicações também para a Cristologia nesta passagem. Jesus é descrito nela
como Cristo/Messias, pois ele é o cumprimento das promessas salvadoras do Antigo
Testamento. Ele é chamado de Senhor e, assim, é reconhecido como o mesmo Deus que
se manifestou no Antigo Testamento como Yahweh. A obra de Cristo também é destacada.
O seu ofício sacerdotal e sua obra expiatória são a base para a justificação e glorificação do
cristão.107 Visto que Jesus Cristo satisfez a ira justa de Deus com seu sacrifício, pecadores
são reconciliados com Deus. Na reconciliação é Deus quem age, o homem é passivo.108
Em relação à doutrina de Deus, destaca-se nesta perícope a ação das três pessoas
da Trindade na produção da salvação do homem. 109 Ela também destaca a justiça de Deus
tendo que ser satisfeita mediante o sacrifício de Jesus Cristo, e mostra o seu amor agindo
para salvar pecadores mediante seu Filho.110
A obra do Espírito Santo é outro tema importante para a Teologia Sistemática que
aparecem nesta perícope. O Espírito Santo é o despenseiro da graça, aquele que toma a
obra de Cristo e a aplica aos crentes. Na passagem em estudo, a sua obra é descrita como
um derramamento do amor de Deus no coração do seu povo.111
A doutrina das últimas coisas também é destacada na perícope em análise. Paulo
fala da esperança da glória e da salvação da ira escatológica. Ele está falando do dia em
que a obra da salvação será consumada, quando o povo de Deus será glorificado, receberá
um corpo incorruptível, verá a Cristo como ele é e será como ele, passará a viver isento de
todo pecado e dor, e terá perfeita comunhão com Deus. Essa bendita esperança é o que o
apostolo chama de esperança da glória de Deus.112
2.6.3 Implicações para a Teologia Prática
Por meio da perícope em estudo todos os cristãos de todas as épocas são
conclamados a se gloriar na esperança da glória de Deus. O crente deveria ser a pessoa

106
BERKHOF, L. Teologia Sistemática. 4ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 463, 471-484.
107
Ibidem, p. 331-360.
108
HORTON, M. Doutrinas da Fé Cristã: Uma Teologia Sistemática para os Peregrinos no Caminho. São Paulo:
Cultura Cristã, 2016, p. 529.
109
BERKHOF, L. Teologia Sistemática. 4ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 68, 79-93.
110
HORTON, M. Doutrinas da Fé Cristã: Uma Teologia Sistemática para os Peregrinos no Caminho. São Paulo:
Cultura Cristã, 2016, p. 284-85.
111
BERKHOF, L. Teologia Sistemática. 4ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 463, 394-95.
112
HODGE, C. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 1652.
38
mais contente e feliz do mundo, pois ele sabe que está num processo que culminará na sua
glorificação. O que o aguarda é uma eternidade de perfeita comunhão com Deus e o
desfrute de todas as bênçãos prometidas nas Escrituras. A vida do crente não caracterizada
por um triunfalismo autocentrado, mas por uma adoração centrada em Deus, uma que é a
expressão da certeza inabalável de que o Senhor concluirá sua obra salvífica.113 Alegria e
adoração caracterizam a vida do cristão consciente do que já tem em Cristo.
Outra implicação prática da perícope em estudo é a relação do crente com o
sofrimento. O propósito do sofrimento é mais comunhão com Deus. Em meio ao sofrimento,
o crente experimento socorro divino, e faz progresso em sua santificação. Assim, a atitude
do crente em meio às aflições não é de desespero, mas de alegria confiante, pois ele sabe
que o resultado das tribulações é um caráter aprovado e o fortalecimento da esperança da
glória.114 O cristão precisa estar plenamente convicto de que não será abandonado por Deus
em meio às tribulações. Precisa estar confiante de que a esperança da glória não o
desapontará. Todos os problemas devem ser encarados pelo crente com a convicção de
que a corrente de eventos salvíficos que se iniciou com o conhecimento de antemão não
será quebrada. Ela culminará na glorificação do povo de Deus.

113
STOTT, J. R. W. The message of Romans. Downers Grove: InterVarsity Press, 1994, p. 148.
114
CALVINO, J. Romanos. 2 ed. São Paulo: Edições Parakletos. 2001, p. 179-80.
39
3 Sermão
Título do Sermão: A esperança da glória de Deus
Tema: A esperança da glória de Deus está baseada na obra salvadora de Deus e no
sacrifício expiatório de Cristo.
Doutrina: Teontologia, Cristologia, Pneumatologia e Soteriologia, Escatologia.
Necessidade: Há uma ênfase no poder humano cada vez mais forte nas igrejas e na
sociedade em geral. Esse otimismo na capacidade humana leva muitas pessoas a acharem
que o homem consegue fazer qualquer coisa, até mesmo ajudar Deus na obra da salvação.
Esta perícope o perfeito antídoto contra essa tendência, pois mostra como a salvação é
executada por Deus somente, e como o homem é incapaz de se salvar. Outra ênfase
distintiva desta época é o hedonismo. Para muito a felicidade está baseada na ausência de
sofrimento. Esta perícope corrige esse pensamento ao mostrar que, para o cristão, os
sofrimentos não o abalam, pelo contrário, servem para fortalecer a esperança na qual ele se
gloria com alegria e confiança.
Imagem: Quando Benjamin foi pego com o copo de Prata na sua bagagem, ele foi
condenado à escravidão por José, governador do Egito. Então, Judá, irmão de Benjamin fez
um discurso comovente se propondo a pagar a pena do crime de seu irmão no lugar dele.
Foi isso que aconteceu quando Deus enviou Jesus ao mundo para pagar o preço dos
pecados do seu povo. Ao contrário de Benjamin, as pessoas por quem Jesus morreu eram
realmente culpadas dos crimes de que eram acusadas. Ao contrário de José, Deus
realmente executou a pena decretada.
Objetivo: Que os crentes entendam que a esperança da glória está baseada na obra
salvadora de Deus e no sacrifício expiatório. Que eles se comprometam a se gloriar com
alegria e confiança nesta esperança, mesmo em meio às piores aflições.
Esboço
Introdução: Há muitos vídeos na internet com gigantescas demonstrações do efeito
dominó. Pessoa passam horas arrumando dezenas de milhares de dominós que desenhos
impressionantes. Tudo que é necessário para que todos os dominós caiam é que o primeiro
da cadeia seja derrubado. A obra da salvação efetuada por Deus é uma cadeia de eventos
com efeito parecido. O primeiro evento da cadeia (“os que de antemão conheceu”) já foi
realizado, portanto, a realização do último acontecerá com toda a certeza (“também os
glorificou”). Deus mesmo cuida para que cada evento da ordem da salvação seja realizado.
Pontos e Subpontos:
A esperança da glória de Deus
1. A esperança da glória de Deus está baseada na obra salvadora de Deus
a) A obra salvadora de Deus começa com a justificação

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b) A justificação garante paz com Deus
c) A obra salvadora de Deus transfere o cristão para o reino da graça
d) A obra da salvação leva o cristão a se gloriar na esperança da glória de
Deus
e) As aflições não abalam esta esperança, mas iniciam um processo que
culmina no fortalecimento da esperança
f) A ação do Espírito Santo no coração do crente é prova suficiente de que
sua esperança não é vã
2. A esperança da glória de Deus está baseada no sacrifício expiatório de Cristo
a) O sacrifício expiatório de Cristo aconteceu quando os cristãos eram fracos
b) Amor sacrificial de Deus por pecadores é sem precedentes
c) O contraste com a atitude geral dos homens realça a grandeza do amor
divino
d) A obra da salvação tem uma continuidade ininterrupta, a justificação e a
reconciliação implicam salvação da ira futura.
e) Se Deus fez o mais difícil, ele fará o mais fácil.
i. O mais difícil: justificar pecadores mediante a morte de seu filho.
ii. O mais fácil: salvar pecadores justificados da ira futura.
f) Por conta da obra expiatória de Cristo, o cristão pode se gloriar na
esperança.
g) Sabendo de tudo que Deus já fez em Cristo em favor do seu povo, o
cristão se gloria em Deus já no presente.
Conclusão e Aplicação: A obra salvífica que Deus começou na eternidade, ao ser
concluída, resultará em eternidade para o povo. Nada será capaz de evitar a realização dos
eventos salvíficos na vida dos filhos de Deus, pois ele mesmo os decretou. O seu amor
derramado no coração do seu povo promove esta certeza bendita. Por isso, os cristãos
podem se gloriar com alegria e confiança na esperança da glória de Deus. O sacrifício de
Cristo justificou pecadores e garantiu que os pecadores justificados serão salvos da ira e
serão feitos perfeitamente semelhantes a Jesus.
Aplicação 1: O cristão deve adorar ao Senhor com alegria e confiança sabendo do
que ele já recebeu de Deus na justificação e reconciliação, e confiando na promessa divina
de que Deus consumará sua obra.
Aplicação 2: O crente precisa reconhecer que toda a sua salvação está baseada no
que Deus fez mediante Jesus, e descansar com fé no consolo que isso proporciona.
Aplicação 2: O cristão precisa ver suas aflições de forma diferente de como o mundo
enxerga o sofrimento. Precisa vê-las à luz da consumação. As tribulações deste mundo

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servem apenas para desencadear um processo que culminará na fortalecimento da
esperança.
Conclusão
Ao término deste trabalho, a conclusão a que se chega é que a perícope de
Romanos 5.1-11 anuncia que a esperança da glória está baseada na obra salvadora de
Deus e no sacrifício expiatório de Cristo.
Essa interpretação é fruto de um trabalho no qual foram utilizadas várias
ferramentas. Uma delas foi o contexto histórico da passagem, que forneceu informações
sobre os judeus em Roma, a perseguição aos judeus e cristãos, cartas e amanuenses no
mundo greco-romano, o paganismo em Roma, e a data e local da escrita da carta. A análise
desses elementos ajudou na compreensão da passagem.
O contexto literário da passagem também contribuiu para a compreensão do texto
bíblico, pois ele mostrou como a perícope em estudo se encaixa na exposição do evangelho
que Paulo faz nesta carta. Foi demonstrado que o texto de Rm 5.1-11 faz a transição entre a
exposição da doutrina da justificação pela fé e a exposição dos seus efeitos. Outros textos
do livro e das Escrituras foram analisados e também ajudaram na compreensão da
mensagem da perícope em análise.
O estudo textual contribuiu para a melhor compreensão da perícope ao analisar e
traduzir o texto grego, ao comparar a sugestão de tradução com diversas traduções em
português, e ao fornecer uma estrutura para o texto. Estes três elementos desembocaram
no comentário do texto grego, o qual esclareceu o sentido da passagem ao analisar os
efeitos da justificação pela à luz da esperança da glória de Deus. Em seguida, a
interpretação da perícope foi formulada em termos de mensagem para a época da escrita e
para todas as épocas. Foram observadas também as implicações do texto em estudo para a
teologia bíblica, sistemática e prática.
Na última fase do trabalho, a mensagem da passagem foi estruturada em forma de
sermão, a fim de que o leitor perceba quais as implicações deste trabalho para a sua vida. O
objetivo do sermão, ao falar da esperança da glória de Deus, é o mesmo deste trabalho
exegético: Que os crentes entendam que a esperança da glória está baseada na obra
salvadora de Deus e no sacrifício expiatório, e que eles se comprometam a se gloriar com
alegria e confiança nesta esperança, mesmo em meio às piores aflições.

42
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