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Epistolografia Helenística
A estrutura simples das breves e singelas cartas helenísticas, mesmo quando
significativamente ampliada na forma ou na extensão, é responsável por uma maioria
considerável das cartas do Novo Testamento atribuídas a Paulo.
(1) Introdução, com (a) o nome do autor, (b) os destinatários e (c) uma breve saudação.
(2) Rápidas palavras de ação de graças e/ou um desejo ou oração pelo bem-estar dos
destinatários.
(3) Corpo da carta, (a) transmitindo as principais informações que o escritor queria
comunicar, (b) uma seção de pedidos ou exortações aos destinatários.
(4) saudações finais.
Os bons redatores de discursos
refletiam cuidadosamente sobre três
dimensões gerais de seu estilo
oratório: ethos, pathos e logos.
Ethos envolvia “um apelo ao caráter
moral do orador”;
Pathos, “um apelo às emoções”;
Logos, “um apelo à lógica”
Em um mundo de viagens e comunicações sem precedentes, mas ainda bastante distante
da tecnologia de hoje, as cartas, especialmente as de Paulo, substituíam a presença
pessoal de alguém. As questões sérias, sobre as quais acharíamos necessidade de
conversar pessoalmente com alguém, simplesmente não podiam, salvo raras exceções,
ser tratadas dessa maneira no antigo mundo mediterrâneo, caso a pessoa vivesse muito
longe. Blomberg, p. 139
As Cartas x As Epístolas
Qual a diferença de cartas e epístolas? Os escritores já imaginavam que seus escritos
chegariam até nós?
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Cartas - escritos ocasionais que tratavam de situações específicas para um público
temporal e restrito.
Epístolas - composições literárias destinadas à posteridade, ultrapassam gerações,
devido seu conteúdo ser produzido a partir de princípios.
Porém Luter Stirewalt a respeito das cartas de Paulo, diz: "É necessário dizer que nem
em forma, nem em função, nem em estilo as cartas de Paulo podem se restringir a uma
única categoria...... as cartas Paulinas surgiram num ambiente epistolar
extraordinário"
As Epístolas
No Período Helenístico era recorrente o uso da literatura epistolar tanto em função
privado como oficial. Os romanos usavam escravos de confiança pessoas contratadas
para o efeito ou amigo em viagem como correios. Augusto desenvolveu um sistema de
correios cujo serviço se prestava por jovens da idade Militar.
As epístolas na antiguidade demonstram ser o único meio de comunicação eficiente para
promover um dialogo com quem está longe. Sendo que este diálogo, muitas vezes
poderia conter mensagens que auxiliariam a uma comunidade ( a Igreja) ou uma pessoa
(cartas pastorais).
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Credos E Hinos
Cânticos da igreja primitiva. Podemos reconhecê-los na sua estrutura de estrofes e de
ritmos. Contém informações acerca da obra de Cristo, e considera essas verdades a base
da fé e da práxis evangélica. Exemplos: Filipenses 2.6-11; Colossenses 1.15-20; Efésios
1.3-14; 5.14; 1Timóteo 3.16; 1Pedro 2.22-24.
Profissões De Fé
São frases curtas e marcantes que resumem as convicções básicas da fé cristã. A
humanidade de Jesus, a morte vicária e a ressurreição são assim professadas.
Exemplos: Romanos 1.3s; 1Coríntios 15.3-5; 1Pedro 1.18-21; 3.18- 22.
Códigos Domésticos
São as responsabilidades recíprocas entre os membros da família: Marido e Mulher;
país e filhos; e senhor e escravo;
Orientações para os diferentes grupos de pessoas como casados, pais e filhos,
escravos e senhores.
Ressalta a relação de submissão
Mostra que o Cristianismo não era subversivo Ex.: Efésios 5.22—6.9; Colossenses
3.18—4.1; 1Timóteo 2.8-15; Tito 2.1-10; 1Pedro 2.13—3.12.
AS FÓRMULAS
Homologias - Declarações com que Deus, é aclamado e anunciado. São o
fundamento das profissões de fé e dos hinos. Ex.: 1Co 8.6; Ef 4.5s; 1Tm 2.5; Fp
2.11; 1Co 12.3; Rm 10.9.
Doxologias - Frases curtas com que Deus é exaltado. O seu pano de fundo são as
orações do judaísmo primitivo no AT. As doxologias nos abrem a cortina para os
cultos da igreja primitiva. Ex.: 2Coríntios 1.3; Efésios 1.3; 1Pedro 1.3; Romanos
1.25; 9.5; 2Coríntios 11.31
O modo em que o livro de Atos serve como base essencial para a leitura das
epístolas do Novo Testamento (sobretudo as de Paulo) pode ser demonstrado na
tabela a seguir:
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2. Fornecem uma teologia plenamente desenvolvida das implicações da obra de
Cristo para a vida do cristão, como o ensino de Paulo da união dos cristãos com
Cristo no nível individual e seu ensino sobre a igreja como o corpo de Cristo em
nível coletivo.
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modo parecido, de conformidade com suas outras promessas ainda não cumpridas.
(Espírito como Selo)
(11) Os cristãos devem se reunir para cultuar, para o exercício de seus dons
espirituais e para o incentivo mútuo, criando uma comunidade contracultural
convincente, contrária às instituições corruptas do mundo. (A igreja em adoração e
testemunho)
(12) Por fim, a história culminará na parousia (a volta de Cristo), na ressurreição de
todas as pessoas para a vida ou morte eterna e no triunfo final de Deus contra todos
os seus inimigos, humanos ou demoníacos. (Volta de Cristo)
A afirmação "Jesus é Senhor" (cf. Rm 10.9; ICor 12.3; F1 2.11) faz parte das
profissões de fé das comunidades primitivas, profissões que Paulo fez suas. Esta
afirmação encerra tanto a profissão de fé na ressurreição de Jesus por obra do Pai
quanto a sua constituição como Senhor da comunidade e do mundo.
A ressurreição de Jesus Cristo Estreitamente ligada com a profissão de fé no
Kyrios está a afirmação “Deus ressuscitou Jesus dos mortos" , frequente nas cartas
paulinas - adaptada de acordo com os diversos contextos - a qual deve ser lida à luz
da feliz conexão com a aclamação do Kyrios, de Rm 10.9: "Se confessares por tua
boca que Cristo é o Senhor e creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo".
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O dia da parusia, que, segundo o Antigo Testamento, está ligado com o juízo da ira
de Deus, traz para a comunidade a salvação definitiva, esperada de Cristo, o
Salvador.
Em suma, a pregação do Apóstolo se concentra na cruz e ressurreição do Senhor, omitindo
dados mais concretos sobre o "Jesus histórico" . O fato de Paulo concentrar o seu
querigma no essencial, representado pela cruz, pela ressurreição e pela parusia de Cristo
se explica pela sua dependência da forma de pregação que ele conheceu nos seus primeiros
tempos de vida cristã. Schreiner, p. 78
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UNIDADE 2 – AS EPÍSTOLAS PAULINAS GERAIS
Os Destinatários
Romanos é a primeira carta que sabemos que Paulo escreveu a uma igreja que não
fundou pessoalmente.
"É a carta de um missionário itinerante que, precedido de uma reputação mais ou
menos favorável, solicita acolhida e sustento de uma comunidade estabelecida, dotada
de suas próprias tradições e que possui uma história movimentada." p. 220
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A evangelização da Parte oriental do império está terminada (Rm 15.23), na medida em
que Cristo foi anunciado nos centros urbanos donde o Evangelho poderá se espalhar.
O apóstolo juntou a coleta da Macedônia e da Acaia (Rm 15.26) e se prepara para
embarcar para Jerusalém.
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uma justiça oferecida gratuitamente (3.24); Essa é uma Justiça pela fé (1.17; 3.26) ou
para a fé (1.17).
Em I Coríntios 16.8, Paulo ainda está em Éfeso, na esperança de voltar mais uma vez a
Corinto, mas querendo aguardar até depois da festa de Pentecostes, na primavera. Então,
dando margem para as viagens de Paulo e uma permanência de quase três anos em
Éfeso (At 19.10; 20.31), a data mais provável para essa carta é o final do inverno ou
início da primavera de 55 d. C.
As explicações teológicas são explicações sociológicas, pois diferentes igrejas nas casas
refletirem a rivalidade da lealdade a diferentes líderes cristãos. Além disso, as censuras
de Paulo sugerem que a igreja estava permeada por uma espécie de triunfalismo — a
sensação equivocada dos crentes sobre sua própria maturidade.
Analisando somente I Coríntios, é possível que o sectarismo dos capítulos iniciais tenha
se assemelhado à disputa entre patronos rivais e seus apoiados. O único motivo
concebível para a igreja não ter disciplinado o homem que praticou incesto mencionado
no capítulo 5 era ele ser um patrono poderoso. Os objetivos de escrita foram então:
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1- Auxiliar uma igreja em perigo.
2- Fornecer aos Cristão respostas adequadas as situações mais adversas da vida
cotidiana.
3- Resolver problemas internos e externos que agridem a pureza da igreja.
Destinatários
Coríntio era uma cidade nova e rica. Destruída em 146 a.C. foi reconstruída por Julio
Cesar em 44 a.C. como colônia para seus veteranos.
Economicamente era uma cidade rica graças a sua situação geográfica. Do ponto de
vista religioso, a população, muito misturada, convive com pluralismo e sincretismo. A
cidade tem má reputação: Já Aristóteles fala de "corintianizar" com o sentido de levar
uma vida dissoluta.
A igreja era representada por pagão cristãos que no passado adoravam ídolos mudos. A
igreja era constituída de representantes de longa escala social, na maioria pessoas
simples (pequenos artesãos, pequenos comerciantes e escravos) e uma minoria de
personalidades influentes da cidade que tinham um peso particular na comunidade.
A minoria era hedonista, cedendo aos impulsos do corpo, já que este era
irremediavelmente corrupto. Parece que ambas as linhas de pensamento estavam
presentes em Corinto.
Ascetas em Corinto - Aqueles que estavam promovendo o cefibato (cap. 7), as pessoas
temerosas de comer carne sacrificada a ídolos (caps. 8—10) e os membros da igreja que
negavam a ressurreição física (cap. 15) eram claramente ascéticos.
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IDENTIFICANDO OS GRUPOS EM CORINTO
Assim, conforme a teologia da cruz, a vida do cristão nada mais é do que “ser
crucificado com Cristo”. O batismo não está apenas no começo da vida cristã, mas no
ato do batismo temos o símbolo de toda a vida cristã: um constante morrer e ressuscitar
com Cristo.
A teologia da cruz conhece a Deus no próprio lugar onde Ele se ocultou – na cruz, com
os seus sofrimentos, todos eles considerados fraqueza e loucura pela teologia da glória.
Deus é conhecido e compreendido não na força, mas na fraqueza, não numa
demonstração impressionante de majestade e poder, mas na exibição de um amor que se
dispõe a sofrer a fim de converter o homem para si: “Sendo justificados gratuitamente,
por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu
sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça” (Rm 3.24-25).
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3) Essa libertação não leva o sujeito à autonomia, porque ele se tornaria, então, escravo
do que é perecível, da carne e, portanto, de si mesmo (Rm 8.21): a existência nova é
precisamente livre porque está a serviço da justiça (Rm 6,15-23) e de Cristo (1Cor 7.17-
24).
4) Porque a liberdade é a existência nova e porque está sob o senhorio do Crucificado e
sob o único julgamento de Deus e de sua justiça, ela é nascimento da nova criatura,
amada e reconhecida como pessoa, independentemente de suas qualidades (Rm 14,1-
15.13).
5) É por essa razão que o programa da liberdade paulina não é simplesmente "tudo é
permitido" , o que levaria à existência na escravidão da carne e da corruptibilidade; a
liberdade, segundo Paulo, encontra seu limite no reconhecimento da pessoa e da
consciência do outro: "Tudo é permitido, mas nem tudo convém" ou "Tudo é permitido,
mas nem tudo edifica" (1Cor 6,12; 10,23).
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Anúncio de visita l: 1,15-17. Paulo queria ir diretamente de Éfeso para Corinto.
Anúncio de visita II: 1,23-2,4. Paulo não embarcou logo para Corinto, porque queria, antes,
resolver por carta o conflito com os corintios (1Cor 5,1-11?).
Anúncio de visita III: 9.4. Paulo irá a Corinto, na companhia de delegados da Macedônia, para
buscar a coleta.
Anúncio de visita IV: 10,2-11. Paulo irá a Corinto e será tão forte nas palavras quanto nas
cartas. Anúncio de visita V-VII: 12,14; 13,1-2; 13.10. Pela terceira vez (cf. 2Cor 1,15-17?), Paulo
está prestes a ir a Corinto.
c) As cartas paulinas não pertencem ao gênero de cartas pessoais, mas ao de cartas didáticas.
A esse respeito, 2 Coríntios é comparável, por sua extensão, pela diversidade de temas
abordados e pelas mudanças de tom, com as epistolas de Platão, de Epicuro ou de Séneca.
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A compreensão que o apóstolo tem de seu apostolado decorre imediatamente de sua
compreensão do Evangelho como revelação do poder da justiça de Deus, no acontecimento da
cruz.
Sua consciência apostólica encontra expressão imediata na forma que ele deu ao endereço e à
saudação de suas cartas: Paulo escreve como apóstolo de Jesus Cristo.
O apóstolo é apóstolo do Crucificado e não pode ser outra coisa senão o apóstolo do
Crucificado (1Cor 2,1-5; 2Cor 2,12-7,4).
b) Em sua fraqueza se revela o poder libertador da graça de Deus; é por isso que o
apóstolo só pode se gloriar do Crucificado e de seus sofrimentos (11,16-12,10).
Quer dizer o evangelho, que confere uma identidade nova ao sujeito individual enquanto
pessoa, funda também um tipo novo de sociedade humana.
O batismo define, com efeito, um espaço social caracterizado pelo reconhecimento mútuo de
seus membros, independentemente de suas qualidades, de sua pertença ou de suas lealdades.
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A visão do corpo como templo, se encontra, em uma perspectiva mais ampla, em Romanos
12,3-8. Ela não define mais a comunidade local, mas a pertença comum do apóstolo dos
gentios e dos irmãos e irmãs da Igreja de Roma ao mesmo Senhor. A concepção fundamental
permanece a mesma: todos têm dons; esses dons são de rentes, mas eles constituem um só
corpo em Cristo.
Essas mesmas implicações da unidade pluralista em que crentes e Igrejas se reconhecem, em
sua diversidade, membros do onde mesmo corpo determinam a concepção paulina da coleta:
se os pagãos da Galácia, da Macedônia e da Acaia participaram dos bens espirituais dos santos
de Jerusalém, eles devem, por sua vez, prover às suas necessidades materiais (Rm 15,27).
É impossível saber se antes da carta Paulo lhes fizera uma segunda visita. O que é certo
é que ele está bem informado sobre a evolução da comunidade:
Destinatários
A carta enviada por Paulo tem por intuito, primeiramente, clarear o espírito dos
gálatas: o evangelho dos novos missionários não tem nada a ver com o Evangelho
de Deus; e objetiva, em seguida, afastar os gálatas dos novos missionários reforçando
suas convicções.
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Concílio de Jerusalém At 15 Composição de Gálatas.
É por isso que o Evangelho é incompatível com qualquer definição da pessoa segundo
o critério de categorias abstratas (judeu, grego, escravo, pessoa livre, homem, mulher)
ou em virtude de sua qualificação por uma eleição particular, como faz o "outro
evangelho" dos missionários (1,6-9). VOUGA, p.290)
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A afirmação central de Gálatas sobre a Lei é que ninguém será justificado pelas obras
da Lei se não for pela fé de (ou em) Jesus Cristo (2,16);
Essa confiança na confiança de Jesus Cristo é a atitude existencial pela qual a existência
se vê transformada em nova criatura ("não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em
mim", 2,19-20) e pela qual recebe o Espírito (4,6-7).
Desdobramentos deste pressuposto
Concepção Apocalíptica Da História Desenvolvida Pela Epístola - A revelação
de Deus em Jesus Cristo, dividiu a história em dois: significa uma mudança de
época, o fim do tempo antigo no qual reinava a Lei (3,19) e o início dos novos
tempos que são os tempos do Espirito (4,6-7).
A consequência é que os crentes não estão mais sob a Lei, mas no Espírito, e que
são chamados a se deixar conduzir pelo Espirito e a produzir os frutos do Espirito
(5,16-24; 6,7-10)
O que fez da existência sob a Lei uma existência sob a maldição (3,10-14)? O que
vem a ser a Lei na nova época (5,13-15)?
A existência sob a Lei está condenada ao desespero porque ela supervaloriza a Lei:
se tivesse sido dado à Lei o poder de dar a vida, então a Lei teria o poder de
justificar (3,21). A lei foi dada por um tempo limitado e para ordenar a cidade
(3,19).
A existência sob a Lei se vê infeliz e maldita, seja porque não consegue cumprir
toda a Lei, seja porque consegue cumprir toda a Lei, pois nem por isso ela é
justificada, visto que só Deus, e não a Lei, tem o poder de dar a vida e de justificá-
la.
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Carne e o Espírito apare cem como duas forças contraditórias que determinam
duas atitudes existenciais contrárias (3,1-5).
A existência que recebe sua justiça pela fé encontra-se sob o poder do Espírito, ao
passo que viver sob o poder da carne é sinônimo de procurar ser justificado pelas
obras da Lei.
A carne e o Espírito caracterizam duas épocas da história da salvação (4,1-7): a
carne é o poder deste mundo que passa, ao passo que o Espírito é o da nova
criação.
A decisão de crer e de se deixar conferir uma nova identidade, simbolizada pelo
batismo, cria uma mudança sem retorno: os gálatas que creram e se fizeram
batizar tornaram-se filhos e vivem no Espírito (3,26-29).
A consequência é que aquele que creu e quer voltar a viver sob a Lei se vê em tensão, preso
entre os campos de força dos dois poderes; perde o controle de sua existência (5,16-24).
A consequência, os gálatas, que estão no Espírito, devem se deixar conduzir pelo Espirito e
deixar o Espírito produzir seus frutos neles (5,16-6,10).
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Relação Colossenses E Efésios - A relação foi definida, por exemplo, como
transição de um esboço (Colossenses) para uma realização plenamente acabada
(Efésios). ressaltando que a última seria teologicamente mais coerente e mais
sistemática do que a primeira. Essas duas epistolas constituem, assim, a coluna
vertebral daquilo que chamamos de escola paulina, a saber, um grupo de discípulos
ou colaboradores de Paulo que assumem a tarefa de pre- encher o vazio deixado
pela morte do grande apóstolo. Dettwiler, p. 357
Destinatários
A dificuldade de situar o meio histórico de produção é agravada pelo fato de o
endereço ("aos efésios") ter sido acrescentado posteriormente; ele não figura nos
manuscritos mais antigos. Somos obrigados, portanto, a extrair as informações sobre
os destinatários somente do texto do escrito, fazendo abstração do titulo.
Uma explicação desse fato perturbador poderia ser a seguinte: tratava-se de uma
carta circular, e uma lacuna permitia escrever o nome dos destinatários. Cada Igreja
recebia seu exemplar, sendo o nome do lugar acrescentado pelo portador da carta.
Seja como for, o caráter geral desse escrito leva a supor que se trata de uma carta
aberta, destinada não a uma única Igreja, mas a um grupo mais vasto de Igrejas,
provavelmente situado na Ásia Menor.
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Intenção Teológica - A Igreja
O tema teológico central de Efésios é a Igreja. Quando o autor fala da Igreja, trata-se sempre
da Igreja universal e não da Igreja local.
Essa mudança de perspectiva já fora preparada por Colossenses. A unidade da Igreja é
fortemente acentuada (4.1-16). As principais metáforas eclesiológicas utilizadas pela epístola
são as seguintes: a Igreja universal é compreendida como a "construção" ou o "templo santo"
(2,20-22), como o "novo ser humano" ou "o homem perfeito" (2,14-16), como a "esposa" de
Cristo (5,22-23), como a "plenitude de Cristo (1,23 etc.) e, sobretudo, como o "corpo" cósmico
de Cristo, corpo do qual ele é a "cabeça" (1.22-23, 4.15-16).
A Igreja é portanto, percebida como um "ser em Cristo" e não, prioritariamente, como uma
entidade empírica, institucional ou sociologicamente identificável. A Igreja universal não é a
soma de todas as comunidades cristãs locais, mas uma entidade à qual elas estão
subordinadas.
A questão suscitada por essa impressionante concepção eclesiológica é se a Igreja se torna,
assim, a mediadora entre o mundo terrestre e o céu, se ela é provida de uma função
soteriológica. Baseada no fundamento dos apóstolos e dos profetas, ela seria o espaço
exclusivo no qual a salvação é oferecida ao mundo. É preciso, entretanto, estar atento para
não opor exageradamente a eclesiologia de Efésios ao cristocentrismo das epistolas
protopaulinas: Efésios defende igualmente a primazia cristológica em relação à eclesiologia.
Um elemento novo, importante na eclesiologia de Efésios, comparada com a de Colossenses,
salta aos olhos. Cristo reconciliou os dois grupos da humanidade, judeus e pagãos, e fez deles
"um só homem novo": a Igreja (2,11-22).
Este texto (2,11-22) é capital para a compreensão da relação entre Israel e a Igreja em Efésios.
Duas compreensões são possíveis aqui. Conforme uma primeira interpretação, os pagãos são
integrados em Israel por Cristo, o Messias de Israel (2,12), e participam, doravante, das
promessas e da esperança de Israel. Nessa leitura, a Igreja é a nova manifestação de Israel ou
constitui, com Israel, o atual povo de Deus (M. Barth, E Mussner). Uma outra interpretação
acentua o fato de que é na Igreja que os pagãos, outrora "sem esperança e sem Deus" (2,12),
são reconciliados com Deus. Segundo esta segunda leitura, a Igreja seria uma nova relação ao
paganismo e a Israel, como parece sugerir a metáfora de um "homem novo" (2,15).
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A longa parte parenética (coletânea de discursos morais) da epístola se caracteriza pela ênfase
na ideia da unidade da Igreja e pelo necessário distanciamento em relação ao mundo
ambiente pagão. O comportamento ético, consequência da nova identidade religiosa dos
cristãos, é considerado uma batalha contra os poderes sobrenaturais "deste mundo de trevas
(6,10-17); a impressão de uma imagem triunfalista ou exaltada da Igreja é, assim, atenuada.
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Quanto a Edificação da comunidade
O tema constante da epístola é a continuidade da obra de Deus na comunidade
até o dia de Cristo (1,6).
Esta se efetua na lembrança da obra realizada por Deus em seu favor (1,2-11),
nas recomendações que faz o apóstolo de se colocarem sobre o senhorio do
Crucificado (2.27-2.11).
Destinatários
Em 358/357 a.C., Filipe da Macedónia se apossa da região dos Crenidos, habitada
originalmente pelos trácios, para aí fundar uma cidade grega sob o nome de Filipos.
Desde 27 a.C. a cidade leva o nome de Colônia Julia Augusta Philippensis. A maior
parte das inscrições aí descobertas é em latim: embora trácios e gregos ainda nela
habitem, trata-se de uma cidade essencialmente romana, regida pelo ius italicum
(significa ser governada pelas leis romanas).
Sua importância não decorre de seu papel administrativo (Filipos não era nem capital de
província, nem cidade principal), mas de sua situação geográfica na via Egnatia, que
liga a Ásia Menor a Roma.
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participam ativamente da obra apostólica, Paulo se alegra e dá graças a Deus, que
continua, neles, o que ele começou.
Do mesmo modo, o apóstolo não agradece os filipenses por seu apoio financeiro (FI
4,10-20), mas se alegra (4,10) pelo fruto que cresce a crédito deles (4,17); é, com efeito,
de Jesus Cristo que vem o fruto de justiça (1,11) e é Deus que é o destinatário real da
generosidade deles e que os cumula de bens (4,18-19). O objetivo tanto da primeira
(1,3-2,18) como da terceira parte da carta (4,10-23) é incluir o apóstolo e sua
comunidade na história de uma relação triangular da qual Deus é, ao mesmo tempo,
o autor e a origem, e da qual Jesus é o fim.
O que vale para os filipenses vale, de fato, também para o apóstolo. Paulo convida seus
destinatários a imitá-lo (FI 4,17). Ora, a argumentação põe imediatamente em evidência
que o apóstolo não se apresenta nem como modelo, nem como ideal de perfeição. Com
efeito, aquilo em que o apóstolo é exemplar e no que deve ser imitado pelos filipenses é
a obra que Cristo realizou nele (3,7-11).
Portanto, é entender Paulo de modo totalmente errado pensar que ele se apresenta
como o ser perfeito, por sua fé e por seu comportamento. Se a existência do crente e do
apóstolo consiste em ser achado em Cristo (3,9a), com uma justiça que só pode vir de
Deus e da confiança posta nele (3,9b), então o conhecimento do poder da ressurreição,
a comunhão nos sofrimentos de Cristo e em sua morte (3,10) são o questionamento
radical e a inversão de todo ideal de perfeição. (Vouga, p. 312)
A alegria que caracteriza o apóstolo e à qual ele convida os filipenses (FI 1,18.25;
2,2.17.18.28.29; 3,1; 4.1.4.10) não é a do fim do caminho; Ao contrário, ela é a de
conhecer a ressurreição de Jesus (3,10) e de esperar estar com Cristo (1,23, cf.
3,11.20-21), na comunhão com seus sofrimentos e com sua morte (3,10). Vouga, p. 312
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A renúncia ao ideal de perfeição no intuito de produzir os frutos da justiça que Cristo faz brotar
em nós (FI 1,11; 4,17) constitui o essencial do relato que o apóstolo faz de sua conversão em
3,4b-11.
Duas compreensões da existência são opostas uma à outra, simbolizadas:
Por duas maneiras de se gloriar (gloriar-se em Cristo Jesus ou por sua confiança na
carne, 3,3)
Por duas concepções da justiça (sua própria justiça, que é pela Lei, e a justiça de Deus,
que é pela fé. 3,6.9).
A primeira compreensão se qualifica e encontra sua perfeição nos três ideais, definidos e
sancionados pela Lei, da origem, da obediência e do zelo (3,4b-6). A segunda se apresenta
como um progresso do conhecimento (3,8); para ela, essas três qualidades não têm valor,
porque o sentido da vida não se atinge por ideais de perfeição, mas é oferecido como um dom
(3,7-11)
A Prática Ascética
A prática ascética, compreendida como um ato religioso de purificação, condiciona o
acesso ao mundo celeste. Tem por finalidade o distanciamento das pressões do mundo
e, finalmente, a libertação delas.
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Mas e a veneração dos anjos, mencionada em 2,18, que parece ligada a experiências
visionárias? Uma possível leitura dessa passagem difícil consiste em admitir que os
seres angélicos têm por função soteriológica decidir sobre o acesso ao mundo
superior, função que justificaria sua veneração.
Qual a consequência disso para a questão da identificação da "filosofia colossense" no
contexto religioso da época? Sublinha-se, frequentemente, que a "filosofia" revela
traços sincréticos.
As Influências Pagãs
De um lado, 2,16 mostra que os adversários foram influenciados por tradições
judaicas: "que ninguém vos condene por questões de comida ou bebida, a respeito de
uma festa, de uma lua nova ou do sábado". Nesse caso, não se trataria do judaísmo
majoritário da diáspora, mas de um grupo judeu que sublinhava a importância da ascese.
Destinatários
Os destinatários são, em primeiro lugar, os membros da Igreja de Colossos. "Paulo" se
dirige a uma comunidade que não foi fundada por ele, mas por Epafras (1.7: 4.12).
A cidade de Colossos estava situada na Ásia Menor, mais precisamente no vale do Lico,
na Frígia, cerca de 170 quilômetros a leste de Éfeso. Outrora cidade grande e próspera,
tinha perdido importância sob o império romano; Laodicea, a cidade vizinha (a cerca de
quinze quilômetros de Colossos; cf. Cl 2,1; 4,13-16), havia assumido o papel
preponderante na região. A existência de comunidades judaicas nas cidades da região da
Frígia é atestada (Flávio Josefo, Antiguidades judaicas 12,147-153; Cicero, Pro Flacco
28). Mas Colossenses se dirige prioritariamente a pagãocristãos (cf. p. ex. 1,21.27;
2,13).
Local de Composição
Se a carta foi escrita pelo próprio Paulo ou por um colaborador durante a vida do
apóstolo, três possibilidades se apresentam:
Se o autor se encontra na prisão, Colossenses 4,18 (cf. 1,24; 4,3):
Trata-se do cativeiro de Paulo em Cesareia, em Roma ou em Éfeso (a última não é
mencionada nos Atos, mas pode, até certo ponto, ser reconstruída com base em 1Cor
15,32; 2Cor 1,8 s.; 11,23)? A proximidade de Colossenses com Filemon pleiteia em
favor de um cativeiro durante a estada em Éfeso, entre 53 e 55.
Se, pelo contrário, a carta foi escrita por um membro da escola paulina, depois da
morte de Paulo, o lugar da redação permanece incerto:
28
Pensa-se na Ásia Menor, mais precisamente em Éfeso, lugar presumível da escola paulina. A
data mais provável seria, então, 70-80. Seja como for, Colossenses foi escrita antes de Efésios,
com a qual mantém laços estreitos.
O hino propõe, então, uma espécie de contraexperiência religiosa que consiste em dizer
que o cristo preexistente e ressuscitado garante e mantém a coerência do cosmo. torna
possível, assim, uma nova experiência do mundo como criação boa de Deus.
29
Colossenses não defende uma compreensão exaltada do homem. A vida nova
da comunidade é uma experiência escondida; ela só será inteiramente manifesta
no tempo da epifania de Cristo (3,3-4).
O futuro não vai trazer nada de qualitativamente novo (compare-se ICor
15,12 ss. com esta concepção). O futuro manifestará unicamente o que já existe.
O futuro será, assim, a epifania do presente.
Os códigos são marcados por uma tradição helenística da época, a gestão da casa. Essa
tradição defende um modo de vida social que, considerada em seu contexto, se
caracteriza por uma visão patriarcal e um conservadorismo moderado; ela ocupa uma
posição intermediária entre a concepção patriarcal romana clássica e as tendências
emancipadoras mais recentes. Colossenses retoma essa tradição e a retoca muito de
leve.
A razão pela qual a carta foi escrita aparece em suas duas partes complementares.
30
De um lado, ela reside:
Na insegurança criada pela ausência prolongada do apóstolo (ITs 2,17- 20)
Em sua preocupação paternal com a nova comunidade (2,1-12)
Vontade de confirmar seus destinatários em sua fidelidade ao Evangelho (3,1-10).
Por outro lado, a carta quer reforçar suas convicções:
Os apelos à santidade (4.1-8) e à edificação mútua na vida comunitária (5,12-22), que
visam a confirmar a Igreja em sua identidade própria, enquadram a resposta a três
questões que podem ter sido, talvez, propostas pelos tessalonicenses (4,9-12; 4,13-18;
5,1-11). Duas delas dizem diretamente respeito à parusia (volta de Cristo)
Os Questionamentos Da Igreja
1 Tessalonicenses 4,13: qual vai ser a sorte dos mortos?
Os autores entendem que serão surpreendidos, ainda vivos, pelo som da trombeta e
transportados, nas nuvens, ao encontro do Senhor (4,17). A incerteza a que dá lugar
essa convicção concerne ao futuro: morreram eles cedo demais para ser salvos com
os vivos?
1 Tessalonicenses 5,1: Se irmãos e irmãs, ou parentes, dentro ou fora da
comunidade, morrerem antes que intervenha a parusia, esta acontecerá
efetivamente?
Põem em dúvida a credibilidade da mensagem dos apóstolos, de modo que o
conjunto da carta poderia ter sido escrito para refutar a dupla objeção
formulada por elas. A resposta se encontra no anúncio da ressurreição dos mortos
(4.15-16), no apelo à vigilância (5,1-11) e na exortação à edificação mútua dos
membros da comunidade (4,18; 5.11).
Local de Composição
Que lugares são nomeados na carta?
31
Filipos (onde esteve Paulo antes de fundar a Igreja de Tessalônica: ITs 2,2),
Atenas (de onde Paulo, não podendo ir ele mesmo à Macedônia, enviou
Timóteo: 3,1-2) e Macedônia e Acaia, isto é, a Grécia inteira (onde a fé dos
tessalonicenses se tornou modelo para todos: 1,7-8).
Timóteo está, agora, de volta de Tessalônica (3,6-10) e se junta a Paulo e
Silvano para escrever a carta. Pela menção de "todos os crentes da Acaia" (1,7),
pode-se pensar que eles se encontram em Corinto, onde, provavelmente, a Igreja
acaba de ser fundada.
A estada de Paulo em Corinto, que segundo Atos 18,11 durou dezoito meses,
deu-se entre fins de 49 e início de 52; consequentemente, a carta foi, sem
dúvida, enviada em 50-51.
Intenção Teológica
Em seu conjunto, a carta parece ser uma repetição dos temas da pregação
apostólica:
1) A confissão do Deus vivo (1,9-10).
2) A ética. Interpretação metafórica e moral das categorias de santidade e pureza e,
por outro lado, no apelo à concórdia (philadelphie) como a uma forma helenística do
mandamento do amor (4,1-12).
3) A certeza da salvação diante da morte (4,13-18). 4) A determinação escatológica
do presente (5,1-11)
32
Deus vivo (1,2-10). A descrição da existência cristã nas categorias da eleição
(ITs 1,4) e da santidade (4.3.4.7) conferidas pelo poder do Espirito Santo (1,5.6;
4,8) parece estranha à teologia do apóstolo.
A eleição liberta o indivíduo dos poderes que o escravizam; ela o obriga ao amor e ao
respeito mútuo aos irmãos e irmãs no interior da comunidade, à solidariedade com as
outras Igrejas (4.9-12)
A ÉTICA PAULINA
I Tessalonicenses: Ética fundamentada na eleição e na santidade
1 Coríntios: Ética fundamentada na Liberdade
Romanos e Gálatas: Ética fundamentada na justiça de Deus e vida no espírito
Data De Redação
O problema principal em 2 Tessalonicenses, a saber, a efervescência escatológica e a
consciência da demora da parusia, leva a situar a data da redação por volta do fim do século
I, entre 80 e 100 (problemática análoga em 2Pd 3,1-13).
Mas não se deve excluir uma datação mais antiga-entre 70 e 80. O terminus ad quem é, em todo
caso, o fim do primeiro século, porque 2 Tessalonicenses foi integrada na coleção das cartas
paulinas.
34
A intenção de 2 Tessalonicenses concentra-se inteiramente na vontade de reavaliar o
tempo presente. A ênfase principal recai na questão escatológica.
O autor de 2 Tessalonicenses quer criar um espaço para o momento presente que tenha
uma qualidade sui generis (original e peculiar).
Por um lado, o tempo presente não pertence aos "últimos tempos" , mas é
claramente distinto deles. Por outro, o tempo presente não é, de alguma forma, um
tempo vazio; ele está sujeito ao agir poderoso do "mistério da impiedade" (2,7).
O Argumento De Paulo
A estratégia argumentativa da epistola consiste em opor, umas às outras, três hierarquias
que presidem as relações entre Filemon, Paulo e Onésimo.
1- Ordem jurídica, Onésimo não só é escravo de Filemon, mas também seu
devedor pelo tempo passado junto de Paulo. Quanto a Paulo, ele é, em princípio,
o igual de Filêmon, mas é co-responsável pela ausência de Onésimo (Fm 18).
2- Ordem eclesiástica, Paulo gerou Onésimo na prisão (Fm 10); mas Filêmon lhe
deve, também, a fé (v. 9b), de sorte que o apóstolo tem autoridade sobre o
senhor (v. 8) assim como sobre o escravo, que são seus filhos (v. 9).
3- Ordem cristológica, enfim, Paulo e Filêmon (Fm 17 e 20) são irmãos, tanto
quanto Paulo e Onésimo, bem como Filêmon e Onésimo (v. 16).
Reflexos Da Argumentação
35
Dá a compreender a Filêmon que Paulo está pronto, se necessário, a pagar-lhe o
que ele e Onésimo lhe devem (Fm 18-19a).
Dupla reestruturação de valores. De um lado, Paulo sugere a Filémon que, em
razão de sua autoridade de apóstolo, poderia ordenar que deixasse Onésimo a
seu serviço (vv. 8 e 13- 14); assim ele opõe a hierarquia eclesiástica à ordem
jurídica, e em nome da primeira suspende a segunda.
De outro lado, Paulo se apresenta como irmão de Filêmon e, como tal, renuncia
à sua autoridade apostólica (vv. 8-9) para lhe pedir que receba Onésimo,
convertido nesse entremeio, como irmão e não mais como escravo (vv. 16-17);
Destinatários
Curiosamente, os nomes de Filêmon e Onésimo constituem um programa em si
mesmos: Filêmon significa "amável" e Onésimo, "útil" . De Filemon, não se sabe
nada além das informações fornecidas pela epístola.
Segundo as informações dadas por Colossenses 4,17, Arquipo faz, novamente, parte
dos destinatários de Colossenses, ao passo que, conforme Colossenses 4,9, Onésimo
é também de Colossos e se reuniu ao apóstolo e seus colaboradores no lugar de seu
cativeiro; estes são, em grande parte, os mesmos que o cercavam por ocasião da
redação de Filemon.
Conforme o enredo proposto por Colossenses, Filemon acolhe em sua casa a
Igreja ou uma comunidade da Igreja de Colossos. Tendo recebido bem a carta do
apóstolo trazida por Onésimo, enviou este de volta a Paulo, como lhe fora sugerido.
Local De Escrita
Em razão das repetidas menções do cativeiro do apóstolo (Fm 1.9.13.22), a carta
pode ter sido escrita, como a epistola aos Filipenses, em Éfeso, ou na Cesareia, ou
em Roma.
A tradição manuscrita pleiteia Roma, mas a proximidade geográfica necessária para
que Onésimo pudesse, sem dificuldade, ir buscar refúgio junto a Paulo torna Efeso
mais plausível. Filemon provavelmente data, portanto, da estada do apóstolo na
Ásia, entre 51/52 e 54/55.
36
mas cada um é reconhecido e amado como uma pessoa, independentemente de
sua condição ou de suas qualidades. O reconhecimento e o amor mútuos não são,
entretanto, compatíveis com as relações senhor escravo; o batismo de Onésimo
acarreta, portanto, sua libertação por Filêmon.
Confessando Jesus Cristo como Senhor, são todos escravos de Cristo; é a pertença a
Cristo que, no interior da comunidade, estabelece, entre os membros, relações de
irmãos e irmãs, e que no exterior da comunidade permite viver, na liberdade, as
obrigações da vida cotidiana.
A fé leva os cristãos a inventar novos comportamentos em sua existência e no
espaço de liberdade constituído pela Igreja; ela não lhes permite transformar a
sociedade.
Como ficam pessoas que cometeram crimes e se convertem a Jesus, como recebê-las?
37
UNIDADE 3 – AS EPÍSTOLAS PAULINAS PASTORAIS
I e II Timóteo e Tito
O Autor E Os Destinatários
Timóteo é o colaborador de Paulo mais conhecido. Enviado, em nome do apóstolo, a
Tessalônica (ITs 3,2), a Filipo (FI 2,19-22), e a Corinto como seu "filho querido e fiel
no Senhor" (1Cor 4,17; cf. 16,10), Timóteo é corremetente em 2 Coríntios 1,1,
Filipenses 1,1 e 1 Tessalonicenses 1,1 (C11,1; 2Ts 1,1); ele saúda em Romanos 16,21.
Nascido de pai grego e mãe judia, segundo os Atos, encontrado em Listra (At 16,1-2),
Timóteo se torna colaborador de Paulo depois que este se separou de Barnabé (At 15,37
ss.).
Características Gerais
Partindo para a Macedônia, Paulo saiu de Éfeso, onde deixou Timóteo com o encargo
de dirigir a Igreja e lutar contra os que ensinam uma outra doutrina (1,3).
39
Conforme os grupos da comunidade (episcopos, diáconos, homens, mulheres,
viúvas, anciãos, escravos, ricos).
Primeiro Método:
CONTROLE CUIDADOSO SOBRE O CULTO E A LIDERANÇA DA IGREJA
(2.1—3.16)
40
Segundo Método:
DEDIQUE-SE À VERDADEIRA PIEDADE EM VEZ DO ASCETISMO (4.1-16)
Terceiro Método:
RESPEITO E REGRAS APROPRIADOS PARA OUTROS GRUPOS DE
PESSOAS NA IGREJA (5.1—6.2)
A natureza da heresia em Éfeso sugere que os líderes infectados por ela haviam
adotado uma mentalidade elitista, de maneira que atitudes apropriadas a todos os
grupos de membros da igreja se tornaram essenciais.
O texto dc 5.1,2 insiste no respeito pelos idosos e em intenções puras para com os
jovens, princípios ainda extremamente necessários em nossos dias e época.
Os versículos 3 a 16 introduzem outra categoria de pessoas para a qual se enumeram
critérios formais (v. 9,10):
O texto de 5.17-25 passa a tratar do sustento dos presbíteros, que de novo são
associados ao ensino e ao exercício de autoridade na direção dos assuntos da igreja (v.
17; lit., “estão sobre ela”), bem como honrá-los corretamente é protegê-los de acusações
falsas ou prematuras. Uma maneira de evitar ter de disciplinar esses líderes é não
ordená-los para esse ofício antes que estejam preparados para isso (v. 22).
Por fim, Paulo fala sobre os escravos cristãos (6.1,2), Assim como nas regras da casa de Efésios
e Colossenses, ele ordena que respeitem seus senhores. Tal como em Tito, ele destaca o
impacto positivo que esse comportamento terá sobre os de fora.
Características Gerais
41
Segunda 2 Timóteo, Paulo está na prisão em Roma, devido a perseguição de Nero
contra os cristãos entre 64 e 68 d. C (1.8.16 s.) e seu fim está próximo (4,6-8).
À exceção de Lucas (4,11) e de Onesiforo (1.16 s.), todos os seus companheiros o
abandonaram (1.15).
Foi sozinho que ele já apresentou sua primeira defesa (4,16).
Paulo, então, convida Timóteo, que se supõe encontrar-se ainda em Efeso, a vir ter
com ele (4.9.21) junto com Marcos (4.11), ao passo que Timóteo e Marcos estavam
com Paulo em Roma pelo menos durante uma parte de sua prisão domiciliar (Cl 1.1;
4.10; Fm 21).
Dessa maneira, ele (Paulo) escreve com o intento de passar para Timóteo o bastão de seu
ministério em Éfeso, em uma incumbência final de dar testemunho ousado do evangelho. Essa
carta tem sido chamada de o "testamento” final de Paulo, semelhante aos discursos de
despedida de personagens importantes do Antigo Testamento. De forma mais técnica, a carta
se enquadra na categoria de "carta parenética pessoal" . A carta também revela a fé e a
esperança de um valoroso apóstolo diante da solidão e da adversidade, pouco antes de ser
executado. Bloomberg, p. 497
O Conteúdo Epistolar
É mais difícil encontrar uma acentuação para o corpo da carta.
2 Timóteo não contém instruções para os grupos da comunidade.
Encontram-se, de novo, a alternância de denúncias contra os falsos doutores
(2.14.16-18,26; 3,1-9) e exortações a Timóteo para se tornar o modelo oposto a eles
(1,6-8; 2,1-7.15.22-25; 3,10-4,5).
42
O texto de 2.1,2 resume a tese dessa carta. Ao passar o bastão do ministério para seu
discípulo, Paulo quer que, em termos gerais, Timóteo seja fortalecido pela graça de
Deus e, de modo específico, não deixe quebrar a cadeia da liderança piedosa.
44
EPÍSTOLA DE PAULO A TITO
Propósito
Instruir um ministro na organização de uma igreja local com sérios desvios da
verdade.
Fundamentar a base experimental das instruções na regeneração operada pelo
Espírito Santo.
A Proposta de resolução da vida moral decadente de uma igreja aparentemente
seduzida por heresias.
Tito
Foi em Creta que Paulo deixou Tito com a tarefa de lá completar a organização da
Igreja (1,5).
De Nicópolis (em Épiro?), de onde escreve, Paulo pede a Tito que venha a ter com
ele, quando Ártemas ou Tíquico o tiverem substituído (3,12-15).
Introdução Da Carta
A ênfase na piedade permeia as Pastorais; o que distingue essas cartas é a descrição
de Deus como Salvador, o que pode até mesmo constituir o tema unificador de Tito?
Assim como em Gálatas, não aparece ação de graças alguma. Os problemas de
imaturidade e impiedade são suficientemente sérios para que Paulo tenha de ir direto ao
assunto. Essa saudação formal funciona logicamente como uma legitimação pública de
Tito em seu papel de delegado de Paulo.
46
Paulo acrescenta mais um incentivo a “fazer o bem” , em um contexto que poderia
respaldar a interpretação financeira da expressão (v. 14).
O problema de uma vida “improdutiva” (lit., “infrutífera”), que poderia ser um
problema de clientes viverem às custas de seus antigos patronos também existisse
em Creta.
Paulo conclui com suas saudações finais e sua costumeira graça (v. 15).
47
UNIDADE 4 – AS EPÍSTOLAS UNIVERSAIS
Apresentação
Primeira Parte: doutrinal, soteriológica e cristológica.
Apresenta sistematicamente o acontecimento da salvação (1,5-10,18).
Faz exposição geral de Jesus, logo de início, como o Filho de Deus que traz a seus
irmãos, os homens, o repouso escatológico e como o sumo sacerdote fiel e
misericordioso (1,5-5,10).
Segunda Parte: Parenética (10,19-13,21)
Faz referência à situação dos destinatários (ver 10,32-34 e, de modo mais convencional,
12.4);
A segunda seção da Exposição doutrinal é consagrada à significação da morte e da
elevação de Jesus, sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedec: Jesus é, como
sumo sacerdote escatológico e celeste, o mediador da nova aliança (9,15) que abre aos
crentes o acesso ao mundo do Pai (7,1- 10,18).
O final epistolar (13,22-25) com um postscriptum (aquilo que se acrescenta a uma carta
depois de assinada) (13,22), sai do quadro literário do sermão.
Ao mencionar Timóteo (12,23), liga Hebreus ao corpus das cartas paulinas; ao
apresentar as saudações aos irmãos da Itália (13,24), transplanta o livro para a bacia
ocidental do cristianismo.
Destinatários
A localização tradicional da epístola situa seus destinatários na Palestina ou em
Jerusalém mesmo. Uma proposta alternativa sugere uma comunidade particular no
interior da Igreja de Roma. Aqui também a ausência de dados no próprio texto
provoca a multiplicação de conjecturas: pensou-se em Samaria, Antioquia, Chipre,
Éfeso, Colossos, Bitínia e Ponto, ou ainda em Corinto.
A epístola é conhecida em Alexandria desde a metade do século Il como epístola
"aos Hebreus", antes mesmo de esse título ter sido atestado pela tradição manuscrita
48
As repetidas advertências sobre a impossibilidade de uma segunda conversão
(6,4-6; 10,26) e a perspectiva de um possível afastamento do Deus vivo (3,12)
tendem a confirmar a hipótese de destinatários pagão-cristãos
As informações fornecidas pelo próprio escrito são, de novo, extremamente
modestas.
Os destinatários não são cristãos da primeira geração (2,3-4; 10,32). Eles
aprenderam os rudimentos do catecismo há muito tempo (a fé em Deus, a doutrina
do batismo e da impoção das mãos, ressurreição e último julgamento).
Parecem perder a convicção e têm necessidade, segundo o autor, de alimentos
sólidos 34) pode, é verdade, fazer alusão às perseguições dos cristãos em Roma,
por Nero (64 d.C.)
Local De Composição
Com toda probabilidade, a redação de Hebreus se deu entre os anos 60, data da
morte dos apóstolos da primeira geração, e os anos 80-90.
Hebreus não é um escrito da primeira geração cristã. De um lado, o próprio autor se
apresenta como pertencente à segunda geração dos apóstolos: as testemunhas da
primeira geração confirmaram a salvação anunciada pelo Senhor (Hb 2,3).
De outro lado, os destinatários se converteram há muito tempo (5,12) e o autor o
exorta a se lembrar dos inícios de sua existência cristã (10,32).
Autoria
A questão do autor constitui um enigma desde os inícios da recepção da epistola no
cristianismo antigo. A impossibilidade de encontrar seu traço na historiografia cristã
provocou a multiplicação de hipóteses plausíveis mas pouco convincentes.
Autoria de Paulo
A segunda bênção final (13,22-25) colocam a epistola sob a responsabilidade
literária do apóstolo Paulo. Na tradição manuscrita tradição patrística mais antiga
Clemente de Alexandria (c. 150-215) e Origenes (185-253) sugerem que o apóstolo
seja o responsável pelo conteúdo, enquanto a redação teria sido assegurada por um
tradutor (que Clemente identifica com Lucas). Ambos constatam que nem a forma
literária nem o estilo são os das outras epístolas paulinas.
49
Autoria de Barnabé e Paulo
Uma primeira alternativa à atribuição tradicional foi proposta por Tertuliano (c. 155-
220, De Pudicita 20): Barnabé. Em favor dessa hipótese pleiteia a origem helenista
do primeiro companheiro de Paulo;
Autoria Anônima
O autor se apresenta como homem (e não mulher, como demonstra o particípio
dunyúuevov em 11,32)
Como um pagão-cristão ou judeu-cristão, experiente na leitura alegórica da
Escritura tal como era praticada no judaísmo helenístico, influenciado pelas escolas
filosóficas estoicas e neoplatônicas.
Talvez originário da Alexandria ou de um outro centro intelectual do Mediterrâneo
oriental.
Ele faz parte da segunda geração cristā (Hb 2,3) e trabalha com base em tradições
teológicas das quais outros traços se encontram em Filon, em Qumran ou na
gnóstica do Egito.
O autor é, antes de tudo, um exegeta e um pregador. Ele trabalha com a ajuda de certos
métodos de leitura aplicados a textos e temas que escolheu pregar, comentar e atualizar.
VOUGA, p. 427
Melquesedeque
Hebreus não é o primeiro escrito judaico ou cristão a explorar a figura de
Melquisedeque. Melquisedeque aparece duas vezes, de modo enigmático, no Antigo
Testamento (Gn 14,18-20) e Salmo 110: o Messias anunciado será sacerdote para toda a
eternidade, à maneira de Melquisedeque (SI 110,4).
50
MELQUESEQUE (GN 14,18-20 E SL 110)
Nesses textos há uma caracterização de jesus como sumo sacerdote.
Melquisedeque é uma figura messiânica, seu sacerdócio é eterno e o sumo sacerdote
de sua ordem é eterno, santo e sem pecado: melquisedec é a figura do enviado
celeste do altíssimo.
A combinação desses dois textos faz de melquisedeque o protótipo ideal de um
sacerdócio celeste e perfeito que se opõe à ordem sacerdotal, terrestre e imperfeita,
das ordens levíticas.
A ordem celeste e perfeita de melquisedeque, conforme à qual jesus, sumo
sacerdote, celebra de uma vez por todas o sacríficio de sua vida (10,10), é o modelo
do qual o culto veterotestamentário era a parábola imperfeita e terrestre.
51
Eles creram (11.1-38), operaram prodÍgios (11,33-35a) e pagaram o preço de suas
convicções (11,356-38).
São, no sermão, os modelos de fé e a nuvem de testemunhas (12.1), dados como
exemplo para os destinatários.
A razão pela qual são o protótipo da existência crente decorre da definição da "fé"
dada pela epístola (4.2; 6.1.12; 10,22.38 s.; 12.2; 13,7, 25 ocorrências em Hb 11):
"A fé é um modo de possuir desde agora o que se espera, um meio de conhecer
realidades que não se veem" (11,1).
A fé é a condição indispensável para a obtenção da paz escatológica; ela é a visão do
mundo divino e, por isso, o conhecimento é a base sobre a qual repousa a esperança
(3,6; 6,11.18; 7,19; 10,23).
Diferentemente de Paulo, que pode considerar Abraão como uma figura contemporânea
da fé cristã (Rm 4,1-25), o autor de Hebreus mantém uma clara distância entre seus
destinatários e si mesmo, de um lado, e os "ancestrais" do outro (Hb 11,2). Essa
distância é devida à sua concepção das duas alianças e à visão da história que dela
decorre:
1. Os ancestrais creram, mas não obtiveram a realização da promessa. Deus
previa melhor ainda: o envio de seu Filho, de sorte que os ancestrais não
conheceram a realização antes do autor e de seus destinatários cristãos (11,39-40).
2. À superioridade do Filho sobre os anjos e à da nova aliança sobre sua réplica
(doravante abolida) corresponde a superioridade da salvação anunciada em relação
ao período das testemunhas antigas.
EPÍSTOLA DE TIAGO
Circunstâncias Para Escrita
Tiago constitui, sob muitos aspectos, um texto único no Novo Testamento. Parece
estar ausente nela qualquer reflexão explícita sobre a cristologia, sobre a paixão, a
morte e a ressurreição de Jesus e sobre o anúncio da salvação. Por essa razão, às
vezes até mesmo se duvidou de sua proveniência cristã.
A epístola de Tiago lança um olhar abrangente sobre a vida econômica e social que
envolve o cristianismo primitivo. Ela oferece as comunidades cristãs uma lição de
ética social. Sua linguagem não é especulativa; parte de uma observação precisa da
vida cotidiana dos cristãos, mas também do homem do início do império.
A cultura única e a unidade de língua herdadas do helenismo fazem do mundo
ocidental um grande espaço de prosperidade econômica e de trocas intensivas de
mercadorias, ideias e pessoas.
Engajadas, material e espiritualmente, na mobilidade de uma sociedade que promete
tanto as ascensões vertiginosas como a miséria, as pessoas cuja existência Tiago
evoca perdem sua identidade e deixam esboroar-se o que constitui o essencial
de sua vida (Tg 4,13-5,6). Enraizado numa espiritualidade veterotestamentária
52
e numa tradição de palavras de Jesus, frequentemente semelhantes às do
Sermão da Montanha (Mt 5-7).
Tiago opõe à ideologia dominante uma ética da pobreza; a quem a ela aderir ele
promete não somente a salvação escatológica (1,21; 2,14; 4,12.15; 5,20), mas o
lucro da vida e da felicidade presente.
Destinatários
O endereço designa os destinatários como as "doze tribos": os leitores aos quais se dirige a
argumentação não são judeus, mas cristãos. A ausência na epístola de qualquer alusão às
problemáticas próprias do judeucristianismo permite pensar que ela é escrita para pagão-
cristãos ou para comunidades nas quais a origem judaica ou paga não cria mais conflitos
de identidade.
A noção de dispersão na diáspora implica o universalismo da carta. O endereço não constrói um
círculo de destinatários reunidos geograficamente, como o fazem todas as epistolas paulinas ou
a primeira epístola de Pedro, mas implica, ao contrário, sua difusão no mundo pagão.
Data Da Composição
A datação da epístola é sugerido pela argumentação de 2,14-26; essa passagem retoma
tão maciçamente a terminologia das grandes cartas paulinas que é difícil não supor no
autor um conhecimento da epistola aos Romanos e, talvez, da epistola aos Gálatas.
A epístola de Tiago muito provavelmente for redigida, no mínimo, no fim dos anos 50
ou no início dos anos 60.
Fé designa a confiança ativa dos crentes (1,3.6; 2,1.5; 5,15), torna-se em 2,14-26 a
demonstração verbal de uma confissão puramente formal, à qual os próprios demônios
podem se associar (2,19).
Uma posição que poderia ser estabelecida pelos irmãos entre fé e obras. Essa oposição é
estranha ao pensamento paulino.
A epístola de Tiago, ao opor justificação "pela fé somente" (2,24) e justificação "pelas
obras" (2,21), se revela como elo indispensável entre a teologia paulina da justiça de Deus
e a doutrina luterana da justificação.
Paulo fala da fé cristã (confiança em Cristo) e obras judaicas (obedecer à lei para se
justificar), ao passo que aqui Tiago trata da fé judaica (monoteísmo puro) e obras
cristãs (boas ações que decorrem da salvação) Bloomberg, (Apud JOACHIM
JEREMIAS p. 568)
53
Não há ortodoxia para a epístola de Tiago; há uma ortopraxia da fé cristã. A linha
de demarcação passa pela escolha existencial e real da pobreza. Não se trata, em Tiago,
de um "pauperismo sentimental" , como é eventualmente o caso na obra lucana, mas de
uma atitude existencial que tem valor de confissão de fé e se exprime na realidade
da prática cotidiana.
Tiago retoma Três ideias de pobreza.
1. Tradição espiritual veterotestamentária e judaica dos "pobres de Deus", que vivem da
mão do Criador.
2. Doutrina dos filósofos cínicos e estoicos, segundo a qual aquele que abandonou tudo
e não tem nada a perder está livre de tudo.
3. Tradição evangélica do ensino de Jesus, que convida a multidão e os discípulos a
segui-lo, abandonando suas posses para entrar na liberdade convivial do Reino.
A injustiça econômica é, de fato, para Tiago, uma consequência da desgraça existencial a que a
riqueza condena (5,1-6). A análise de Tiago é mais de ordem antropológica. A busca da riqueza
é uma procura de instabilidade (1,5-8), porque a posse da riqueza é um bem perecível (1,9-11),
que leva as pessoas a passar ao largo da vida (4,13-17); ao mesmo tempo em que lhes dá a
ilusão da segurança e do conforto, ela os consome e os embota por dentro (5,1-6).
O convite à pobreza é, ao contrário, a oferta evangélica de viver na liberdade que resulta da
confiança na providência de Deus; é ela que dá o fruto precoce e o fruto temporão (5,7-11).
Essa certeza é a força que permite manter sua identidade em face do conformismo social, da
ambição e do arrivismo; ela torna capaz de resistir à fascinação dos poderes do mundo (4,1-
10); ela permite enfrentar fielmente, e na perseverança, a precariedade do real (1,2-4; 5,7-11).
EPÍSTOLAS DE PEDRO
A PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO
Circunstâncias Para Escrita
O vocabulário do estrangeiro, tão característico de 1 Pedro (1,1.17; 2,11), é posto a
serviço de uma espiritualidade do homo viator (homem viajante) a caminho da pátria
verdadeira, a pátria celeste, ou na verdade indica, logo de saída, a dura condição de
pessoas que não se sentem em casa onde habitam?
Conforme 5,12, Pedro escreveu sua carta circular para exortar e para testemunhar. Esses
dois verbos correspondem bem ao conteúdo e à maneira da carta: ela mistura a
exortação ética e a recordação dos grandes eixos do querigma cristão.
Destinatários
As precisões geográficas fornecidas por 1 Pedro 1,1 situamos destinatários nas
províncias romanas (de preferência a regiões não administrativas) que abrangem uma
grande parte da Ásia Menor, (Ásia, Galácia) são terras da missão paulina.
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A imagem do perfil sócio-religioso dos destinatários estabelecem claramente sua
proveniência pagã, marcada-segundo uma terminologia tradicional por ignorância,
imoralidade e idololatria (1.14.18; 2,25; 4,3 s.; ver 2,10).
Mas certos críticos tendem a admitir que a comunidades a que se dirigia eram mistas
(pagão-cristãs e judeu cristãs);
Autoria
Na própria carta, nada confirma diretamente que o apóstolo Pedro seja o autor.
As referências às palavras de Jesus (p. ex. IPd 2.12 // Mt 5,16; 1Pd 3,14 + 4,14 // Mt
5,10-12) não supõem nada mais do O que um contato com a tradição evangélica.
Quanto à forte pretensão do autor de ser "testemunha do sofrimento de Cristo" (IPd 5.1),
ela é expressa mediante uma longa aposição ao sujeito, desprovida de verbo; não
comporta, portanto, referência explicita ao passado e designa, sem dúvida, o testemunho
existencial do confessor mais do que o testemunho ocular daquele que se encontrava lá
na hora certa.
Intenção Teológica
Dirigindo-se a destinatários que sofrem a opressão do meio ambiente em sua vida
cotidiana, o autor os "encoraja" (5,12) ao sublinhar, principalmente, dois pontos: o
sentido do sofrimento e o valor e a dignidade da existência cristã aos olhos de Deus.
Entre os diversos termos que evocam o que os cristãos têm de sofrer em sua
existência, o verbo "sofrer" e o substantivo correspondente "sofrimento" se destacam
nitidamente. O verbo é empregado oito vezes (2.19.20; 3.14.17; 4,16.15.19; 5,10) a que
se junta o emprego do substantivo (5,9). As mesmas palavras designam a paixão e
morte de Cristo, três vezes o substantivo (1,11; 4,13; 5,1), sugere uma ligação entre
Cristo e os crentes. Mas nosso autor não se priva de explicar essa relação.
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As provações suportadas são uma "participação" (kotvwéw) nos sofrimentos de
Cristo, e essa via desemboca também na glória (4,13), como no caso de Cristo (4,13;
5,1).
Essa perspectiva escatológica é, aliás, um reconforto que Pedro não hesita em
propor a seus destinatários desde a entrada no assunto (1,3-5.7.9.13) e em
relembrar no fim de sua carta (5,6.10).
Autoria
Usando o nome de "Simão", decalque do nome semítico do personagem (1,1), o autor se
diz Pedro, "o apóstolo de Jesus Cristo" . Com poucas exceções, a crítica moderna não dá
crédito a essa informação; a carta é considerada, quase unanimemente, pseudepigráfica.
O autor real tinha também demonstra:
Algum conhecimento das ideias e da espiritualidade helenística (uso de
"conhecimento")
Interesse pelas virtudes gregas, bem como o emprego de um termo técnico dos
mistérios (1,16).
Certa qualificação para a filosofia popular.
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Destinatários
Os destinatários da carta são "aqueles que receberam, pela justiça de nosso Deus e
Salvador Jesus Cristo, uma fé do mesmo valor que a nossa" (1,1), o que quer dizer: o
conjunto dos cristãos, numa perspectiva decididamente "católica".
Mas o conhecimento das cartas de Paulo, atribuído indiretamente aos destinatários, e
a referência de 2 Pedro a I Pedro dão a entender que o autor se dirige, de fato, aos
cristãos das terras paulinas (Grécia e Asia Menor).
Algumas indicações, na verdade muito gerais, levam a pensar que se trata de antigos
pagãos (1.4; 2.18.20).
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Os "falsos doutores" negadores da parusia são opostos aos apóstolos cuja
mensagem dizia respeito, precisamente, a "o poder e a parusia [entenda-se: a
manifestação no poder] de nosso Senhor Jesus Cristo" (1,16);
A transfiguração do Senhor é lida aqui como uma figura antecipada dessa poderosa
parusia final. Longe de aparecer como um traço particular ou mesmo marginal, a
insistência na parusia, com sua dupla dimensão de salvação realizada e de
condenação definitiva, é incontestavelmente o tema teológico central de 2 Pedro; ele
já está presente nas "grandes promessas" de 1,4. Para o autor, negar esse ponto
significa solapar os fundamentos mesmos da teologia.
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1- Convém distinguir o corpo central da carta (1,5-5,12) de seu prólogo (1,1- 4) e
de sua conclusão-epílogo (5.13-21)
2- O corpo central assim delimitado pode ser dividido em três partes principais:
A primeira parte (1,5-2,17) mostra que comunhão com Deus e conhecimento de
Deus só se tornam realidade autêntica no amor ao irmão.
A segunda parte (2.18-3,24) situa o aparecimento dos opositores no contexto da
expectativa do fim e convida os destinatários a permanecer firmes em sua
confissão de fé e na esperança.
A terceira parte (4,1-5,12) estabelece intima ligação entre amor e fé.
Destinatários
1 João é provavelmente dirigida a um grupo de destinatários que adotou o quarto
evangelho como escrito de referência. Mais ainda:
I João só é plenamente compreensível para os leitores que veem no evangelho
de João o escrito fundador de sua fé. Ao imitar alguns elementos característicos
do evangelho, o autor de I João justifica a ideia de que ele se mantém na esteira
do evangelho, de que reconhece sua autoridade e cultiva sua herança.
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A Confissão De Fé Ortodoxa
1 João é um dos primeiros testemunhos do nascimento da noção de ortodoxia.
Em I João, o que distingue a confissão de fé "ortodoxa" da do opositores? A questão é
de natureza cristológica: a significação exata da encarnação e da pessoa do Jesus
terrestre.
O Conflito Cristológico
Esse conflito cristológico parece ser a questão central.
O direito de pensar que os opositores se prevaleciam da presença do Espírito,
conferido no batismo (2,27), para pretender ter um pleno conhecimento de Deus e
uma plena comunhão com ele.
Essa certeza da inabitação do Espírito lhes dava a convicção de estar sem pecado
(1,8.10; 3.4-6);
Para eles, o universo da carne - e, com isso, o lugar da ética - tinha perdido qualquer
importância, e tinham se tornado seus próprios profetas e mestres (4.1.5.6).
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Concerne à ética: Os opositores parecem ter pretensão à impecabilidade (1,6.8.10) e
negligenciado ética (2,3 s.). Assim como o Cristo cumpriu sua missão, acontece com os
crentes: sua impecabilidade não é um estado, mas uma vocação que a eles cabe
concretizar na fidelidade e, particularmente, no amor ao irmão (3.23 s.; 5.2 s.). A fé
desconectada do amor é uma ilusão.
Características
A existência e a leitura de 2 João e 3 João só tardiamente são atestadas na Igreja
antiga. Sua admissão no cânon gerou controvérsia.
2 João e 3 João são escritos extremamente breves. Trata-se de verdadeiras cartas.
2 João é uma carta parenética dirigida a uma comunidade. Após uma breve
recordação da fé joanina, o Ancião formula uma advertência contra os heréticos.
Ele ordena, em seguida, que se recuse entrada na comunidade aos enviados
itinerantes que não partilhem sua concepção teológica.
Autoria
O autor não é designado por seu nome, mas, o autor se nomeia "o Ancião", um titulo.
A pessoa do "Ancião" deve ser considerada uma terceira figura eminente da
escola joanina.
Essa figura tem grande autoridade, pois ela se considera legitimada para se dirigir
às Igrejas joaninas e doutriná-las, 2 João e 3 João são de sua lavra e constituem
um bom exemplo de sua atividade pastoral.
Este título "Ancião" pode ser considerada a marca do respeito de que goza essa
figura nas comunidades joaninas. A identificação, frequentemente proposta, do
Ancião com o presbítero João permanece pura conjectura.
A Problemática De 2 João
Provavelmente dirigida a uma Igreja distante da comunidade de Éfeso, talvez a uma
Igreja doméstica. Essa comunidade local não foi ainda tocada pela crise
denunciada em I João.
Pregadores itinerantes, oriundos do campo dos opositores denunciados em 1 João
(cf. 2 Jo 7), estão a carinho.
Invocando a fé tradicional, ele convida os destinatários a recusar todo contato
com os representantes de uma leitura "desencarnada" da tradição joanina, com
a intenção de impedir toda propagação do que julga ser uma heresia. À
argumentação teológica sucede o gesto disciplinar.
O Ancião E Diótrefes
A disputa entre o Ancião e Diótrefes não é de natureza doutrinal.
3 João não acusa Diótrefes de heresia em matéria cristológica, mas denuncia seu
gosto pelo poder, seu menosprezo pelo ancião e sua recusa a acolher os missionários
itinerantes, particularmente os da escola joanina.
Mais fundamentalmente, o conflito entre o Ancião e Diótrefes anuncia a maneira
de dizer a verdade de fé nas Igrejas joaninas.
À escola joanina, que privilegia a ação do Espírito, conferido a todos os crentes (1
Jo 3,10-24) e intérprete vivo da tradição, se opõe, doravante, a autoridade do
62
dirigente que guia sua comunidade, afastando-a das influências exteriores,
especialmente das ameaças de cisma.
EPÍSTOLA DE JUDAS
Circunstâncias Para Escrita
A carta de Judas é o escrito do Novo Testamento mais negligenciado pela pesquisa:
pode-se supor que ela não prenda muito a atenção na leitura individual.
Por causa da abundância de elementos bíblicos em Judas, há alguma razão de
aproximar o escrito do comentário bíblico.
"vos escrever" (v.3) confirma, no entanto, a indicação fornecida pelos versículos 1-
2: o gênero literário é o da carta.
O autor, por assim dizer, mudou de assunto no meio do caminho 9.3-4): ele queria
escrever a seus correspondentes a propósito de "nossa salvação comum" , mas a
urgência leva-o a reagir à situação criada nas comunidades por agitadores.
Composição
A integridade de Judas não é questionada. A hipótese do caráter secundário do
contexto epistolar não conseguiu se impor, e a unidade do escrito é comumente
admitida.
Para Judas 5-7, a fonte é o Antigo Testamento: o pecado dos anjos (Gn 6) e o
crime de Sodoma e Gomorra (Gn 18) são facilmente reconheciveis, o castigo do
povo infiel, depois da saída do Egito (Jd 5), evoca, sem dúvida, os acontecimentos
de Números 14.
63
Destinatários E Os Opositores
Nossa epístola não oferece nenhum dado concreto que permita identificar os
destinatários e situá-los no espaço
A maneira que o autor se refere à história bíblica e a suas releituras bíblicas leva a
pensar que os leitores se sentem em casa nessa tradição e a identificá-los como
judeu-cristãos, mas também a comunidades mistas, e se fossemos nos arriscar a
indicar um lugar ele seria a Ásia Menor.
A crítica mais fundamentada aos opositores diz respeito às deficiências morais dos
adversários:
1- não dão frutos (v. 12)
2- deixam-se guiar por suas paixões (vv. 16.18)
3- vivem uma sexualidade desenfreada (vv. 7 s.10).
Estes, de certa forma, ameaçavam, seduzir os cristãos de origem pagā na comunidade.
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UNIDADE 5 – APOCALIPSE
GÊNERO APOCALÍPTICO E PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS
“Em linha geral, essa literatura inclui conflito, escatologia e universalismo. A história
humana e a cósmica pertencem conjuntamente a um desdobramento do grande e
dramático conflito entre Reino de Deus e Reino de Satanás. A era do conflito será
difícil e amarga, mas se encerrará brevemente. O triunfo de Deus está assegurado, e
junto com ele o triunfo de seu povo. Essa vitória se alcançará não por desenvolvimento
natural, mas por revolução ou, preferivelmente, por uma intervenção catastrófica e
sobrenatural. O próprio Deus dominará sobre a história em um ato poderoso de
julgamento e estabelecerá seu reino. Essa noção de final da história é um tema
constantemente repetido nessa literatura, e é esse fim que dá sentido ao presente e ao
passado; e, também nele, todas as coisas, na Terra e no Céu, receberão sua
recompensa merecida.”
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4- Discurso ético: Há constantes pronunciamentos éticos, mas eles são mais
positivos, chamando o povo de Deus para resistência e para a vida justa à luz das
visões. Sendo o apocalipse um literatura inicialmente de encorajamento a
resistência e perseverança, entretanto, faz-se necessário a sua perspectiva
presente dos vencedores terem um padrão correto de conduta. Ap16.15;22,7
5- Simbolismo Esotérico: Há diversidade de símbolos grotescos. Sendo retirados
do mundo da fantasia e do mito, como bestas de muitas cabeças, dragões,
gafanhotos com rabos de escorpiões. Assim, isto tornou-se um modo
convencional de comunicar as verdades, Exemplo: Animais representando
Homens, Sinais cósmicos nos lugar de fenômenos sobrenaturais e números
significando o controle de Deus sobre a História.
O significado da numerologia é particularmente notável.
Números: 3,4,7,10,12 e 70.
O Número 666 Ap. 13.18. Como desvendar estas informações?
6- Relato Histórico: A Literatura apocalíptica constrói uma percepção no seu
leitor da realidade soberana de Deus sobre a história. Ao Refletir sobre o
controle que Deus tem do passado , pede-se a Israel ou a igreja para confiar nele
no presente. Dn 2; 7—12- União da história passada com realidade futuras que
explicam aos problemas
7- Pseudonímias: Os escritos apocalípticos intertestamentários e os que pertencem
a Cânon são postos em dúvidas quanto a sua autoria. Isto advém de uma prática
comum no passado da produção literária Judaica. Os escritores com objetivo
religioso de ressaltar a revelação do escritos, expunham o mesmo a autoridade
um herói da fé. Exemplos: Enoque (1Enoque), Moisés (Assunção de Moisés),
Esdras (4Esdras) e Baruque ( 3 e 4 Baruque)
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O controle e presença de Deus são traduzidos:
1- A Mediação por um ser divino;
2- A comunicação transcendente com um eixo temporal (por vir)
3- Eixo espacial (A Nova ordem a ser estabelecida por Deus na Terra).
Expectativas apocalípticas: A) Catástrofes cósmicas, colocando fim ao pecado e
a desordem; B) intervenção divina por meio de Deus ou de uma figura
messiânica; C) Julgamento associado ao Castigo; D)Punição do mal; E) salvação
daquele
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5- Ações emblemáticas - Ezequiel e João comendo o Rolo, Ez. 2 e Ap.10.
Ágabo amarrando a si Mesmo com um sinto em Atos 21.
6- Rituais emblemáticos - As festas judaicas celebrando a colheita ou o
Êxodo, a circuncisão como sinal da aliança, a eucaristia como celebração da
morte de Jesus.
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Sentido Diacrônico - o uso dos símbolos no passado.
A EPÍSTOLA DE APOCALIPSE
Estrutura, composição literária, conteúdo histórico, panorama teológico, panorama
hermenêutico e intenção teológica.
Estrutura
Torna-se nítida por parte dos autores e pesquisadores do N.T. que o apocalipse de João,
contém um desafio de identificar, de modo claro e objetivo, a estrutura bem
elaborada e organizada do seu texto. Assim, alguns formam uma simples estrutura
baseada em três visões. Estas articulam a compreensão temática do livro, facilitando
sua interpretação em alguns pontos.
A Estrutura aqui proposta, visa apenas um referencial, compreendendo que há outras
propostas estruturais.
Estrutura – Simbolismo
Devido a presença ampla do simbolismo no livro do Apocalipse, torna-se impraticável a
interpretação literal.
O Fim perseguido pelo autor não é a descrição de um desenvolvimento cronológico dos
acontecimentos.
69
Mas fundamentalmente ele anuncia, na história dos homens a história de Deus e de
Seu Cristo sobre o mal e sobre Satanás.
Cordeiro contra besta Cristo
Contra satanás Grande;
Prostituta/Babilônia - Roma e o sistema;
Anticristo contra a Esposa – Igreja;
O dragão e a serpente - alusão ao texto das origens Gênesis;
A trindade diabólica - dragão, besta e o Falso profeta;
O mar é símbolo do mal
Israel é um povo camponês, não haverá mar na nova Jerusalém - Do mar vem os invasores,
no mar reside a besta, O Abismo.
Ao contrário o céu onde Deus reside;
Quanto a terra é lugar onde se defronta no horizonte o céu e o mar, Deus e Satanás.
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Ele é antes de tudo e principalmente um fator de estabilidade social e política. As
afirmações sobre a divindade do imperador não têm, aliás o sentido teológico forte que
os cristãos judeus terão tendência a lhe atribuir.
O recurso a palavra “deus” denota apenas que uma ação, uma conduta humana
Excepcional manifestam uma inspiração um impulso extraordinário e sobrenatural.
Parece, realmente, que a administração romana limitava suas exigências ao
cumprimento de determinadas ações ligadas ao culto imperial. De seu ponto de vista,
tais imperativos não podiam afetar a convicção religiosa de ninguém.
5- Enfim, o tom geral da obra deve ser levado em conta. é mais do que um
encorajamento a uma comunidade perseguida:
João de Patmos não cessa de censurar seus ouvintes uma instalação na sociedade da
época. Ao convidar seus ouvintes a olhar de maneira muito crítica a sociedade romana e
o poder imperial, João de Patmos toma em sentido contrário a própria vida das
comunidades, tal como a carta às igrejas permitem reconstruir. O Apocalipse de João é
uma tentativa de responder às pressões que sofrem as comunidades cristãs e , ao mesmo
tempo, ao desejo que elas têm de se conformar às práticas sociais tradicionais nas
províncias romanas da Ásia Menor.
PANORAMA TEOLÓGICO
Fundamento Apocalíptico e Cristológico
O Fim Do Mundo Antigo A Vinda De Um Mundo Novo Inaugurado No Advento Pascal
A Dimensão Cristológica é a Chave Para a Compreensão Do Apocalipse
PANORAMA HERMENÊUTICO
Interpretação Passadista
A) Valoriza apenas a mensagem como produto de uma realidade passada, sem
previsões proféticas. Comtemplou a necessidade do sofrimento das igrejas
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passadas e contemplará a necessidade de resposta ao sofrimento das igrejas
contemporâneas.
B) Produzida na perseguição de Roma a Igreja, simplesmente para fornecer
encorajamento e esperança.
Interpretação Histórica
A) Aborda o apocalipse e suas realidades ao longo da história da Igreja. Os
reformadores contra o papado e toda colisão com o iluminismo etc.
B) A dificuldade deste método compreende-se pela busca na história da Igreja, por
seus fatores e acontecimentos, que não são respondidos de modo ordenado.
72
O Fundamento Cristológico
Mais do que revelar o futuro ou o fim dos tempos como realidade objetiva, o que o
Apocalipse de João procura é proclamar o advento desse fim dos tempos no
acontecimento Jesus Cristo, com a crítica do mundo presente que isso implica.
Em Jesus, o Cristo, o "Cordeiro imolado que se encontra no trono" (Ap 5,6), o
crente é convidado a reconhecer aquele que venceu as potências de morte, das quais
Roma
Para João, o fim dos tempos, compreendido como o fim das potencias, é, sem
dúvida, uma expectativa futura, mas igualmente uma realidade presente na fé. O
eixo central do apocalipse de joão não é, portanto, a volta de cristo, mas sua
encarnação já ocorrida. esse acontecimento muda radicalmente o curso da
história e dá sentido ao presente e ao futuro.
A Escatologia E O Julgamento
O Apocalipse de João se propõe, contudo, "mostrar o que deve acontecer em breve"
(1.1). Embora a visão de Apocalipse 21-22 marque realmente o coroamento da ação de
Deus, é impossível descobrir um desenvolvimento cronológico coerente na parte central
da narração (Ap 4- 20).
A vitória de Cristo: ela está presente desde o primeiro capítulo, mas se repete ao longo
do livro (no culto celeste, nos capítulos 7.11.12.19 e 20).
A condição da Igreja: ela reina com o Cordeiro e, no entanto deve lutar neste mundo
(1.9; 7; 14; 20).
O julgamento do mundo e é iminente, já se realizou e é futuro (comparar 6 e 7:8-9:18).
A Eclesiologia
O Apocalipse de João é escrito "às Igrejas" (1.11). Ele se apresenta não só como um
texto de encorajamento, mas, em primeiríssimo lugar, como uma interpelação radical
às comunidades cristãs.
No final do século I, João de Patmos constata que nas comunidades asiáticas a
proclamação do advento do tempo novo dá lugar a uma preocupação de
compromisso.
O que constitui o sujeito cristão é o testemunho dado ao acontecimento pascal
como contestação do mundo. Essa proclamação institui o crente em ruptura com a
sociedade.
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Estudos têm mostrado o enraizamento da escritura de João de Patmos na liturgia da
Igreja antiga:
Dimensão simbólica, própria da linguagem litúrgica, permite olhar de maneira
diferente a realidade: a liturgia não é desinteresse ou fuga do mundo. Elas
constituem uma linguagem que faz uma ruptura mas assume a história com toda a
sua complexidade (contra uma lógica do puro afastamento).
A linguagem litúrgica do Apocalipse é uma outra maneira de habitar o mundo.
Trata-se de se manter em um lugar simbólico, que não é geográfico, mas espiritual:
estar no mundo, participando do que não é do mundo, isto é, da liturgia celeste
de adoração do Cordeiro, cuja importância política não deve ser ocultada.
A Crítica Do Político
João de Patmos desenvolve uma leitura crítica da sociedade na qual vive. Em suas
linhas gerais, ela pode ser definida assim:
No mundo romano, e particularmente na cidade romana, toda a existência humana
se resume à ordem política e econômica imperial. Não é uma ordem forçosamente
persecutória, mas certamente sedutora. Ela convence todos de que não há vida
possível fora dos limites do império e fora das esferas do político e do
econômico, entendidos como englobando a totalidade da existência humana.
João afirma que é possível e necessário habitar o mundo, Roma e o império de uma
outra maneira.
Ele nos convida a habitá-lo como pessoas "de todas as nações, tribos, povos e línguas"
(Ap 7,9) cujo nome só é conhecido daquele que o recebe (2,17) isto é, cuja integridade
está protegida contra os poderes e está inscrito "no livro da vida" (3,5; 13,8; 17,8; 20,15;
21,27).
Indivíduos cuja identidade reside em outro lugar fora da realidade da cidade, do Império
e das hierarquias compartimentadas que isso implica. Esse outro lugar é situado por
João "nos céus", na "Nova Jerusalém" (21.2.10), expressões que não designam
espaços geográficos, mas lugares simbólicos.
O caráter profundamente litúrgico do Apocalipse indica que para João não se trata de
opor um lugar ao outro, mas de afirmar que existe uma linguagem, a da fé, que
permite ao crente habitar a cidade de uma outra maneira.
De tal maneira que "sair" de Babilônia (cf. 17,4) tem uma dimensão antes de tudo e
essencialmente simbólica trata-se, para o crente que habita na cidade (na época, as
comunidades cristãs eram comunidades urbanas), de não se deixar seduzir pelo
discurso ideológico sobre o poder e o sucesso da cidade e, mais ainda, do império.
Trata-se, para as comunidades asiáticas, de viver no coração mesmo das cidades
imperiais sem sucumbir à sedução que o império exerce através delas, sabendo que
a cidade verdadeira está noutro lugar.
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Bibliografia Básica
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