1 CURSO ONLINE: PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO – AUGUSTUS NICODEMUS

Aula 12: Colossenses

INTRODUÇÃO

1) Colossenses foi escrita para uma igreja localizada em Colossos, uma cidade
pequena e sem muita relevância naquela época. A carta é uma combinação
primorosa de teologia profunda e exortações bem práticas.
2) Não é sem razão que é uma carta tão querida pelos cristãos, que nela encontram,
não somente revelação sobre a pessoa maravilhosa de Cristo, como também
instruções claras sobre como viver a vida cristã aqui nesse mundo.
3) Colossenses faz parte daquele grupo de cartas chamadas “cartas da prisão,”
escritas pelo apóstolo Paulo durante seu primeiro aprisionamento na cidade de
Roma (veja Cl 4.3).

I – GÊNERO LITERÁRIO

4) Sendo uma epístola, Colossenses funcionou como um substituto da presença de

Paulo na igreja de Colossos, uma vez que estava impossibilitado de visitar os
irmãos por causa da sua prisão.
5) Conforme já vimos, as epístolas seguiam o formato padrão das cartas daquela
época, constando de uma introdução, o conteúdo e a saudação final.
6) Os apóstolos e outros líderes da igreja adaptaram as cartas e as usaram como
veículo de transmissão dos seus ensinamentos para as igrejas. Elas eram sermões,
exortações a serem lidos diante da igreja, deveriam ser recebidas como Palavra de
Deus, obedecidas e transmitidas para outras igrejas.

II – AUTORIA E DATAÇÃO

1) Assim como a carta aos Efésios, existe por parte de alguns estudiosos dúvidas se
Paulo é de fato o autor de Colossenses. Alguns argumentos são usados para isso,
similares aos argumentos que vimos quando estudamos Efésios.
a. A linguagem e o vocabulário de Colossenses são diferentes daqueles das
cartas principais, sobre as quais não resta dúvida que foram escritas por
Paulo (Romanos, 1 e 2 Coríntios e Gálatas).
b. A cristologia de Colossenses é muito elaborada e avançada para ter sido
escrita no primeiro século. Parece refletir uma etapa posterior da igreja,

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quando a concepção dos cristãos da divindade de Cristo havia amadurecido

e se desenvolvido.
c. A carta refuta pontos próprios do gnosticismo, uma heresia cristológica que
se consolidou apenas no século II, muito tempo depois da morte de Paulo.
d. A semelhança com Efésios pode sugerir que Colossenses, sendo menor, é
um resumo de Efésios voltado para a cristologia.
2) Diante disso, esses estudiosos acham que a carta foi escrita por um discípulo
admirador de Paulo no século II, se fazendo passar por ele, que usou Efésios como
base. Contudo, esses argumentos são passíveis de refutação.
a. A diferença entre linguagem e vocabulário pode ser explicada pelo fato de
Paulo ter escrito essa carta numa época diferente das cartas principais e com
diferentes assuntos a tratar.
b. Não há nada na cristologia de Colossenses que já não tenha aparecido nos
Evangelhos ou nas cartas principais de Paulo. A divindade de Jesus era algo
que desde cedo fez parte da crença dos primeiros cristãos.
c. Muito embora o gnosticismo tenha se fortalecido e ganhado uma forma
institucional no século II, suas ideias principais já estavam na sociedade e no
pensamento religioso do mundo antigo no primeiro século, especialmente o
conceito de salvação pela gnose e o dualismo entre matéria e espírito.
d. A semelhança com Efésios se deve ao fato que ambas foram escritas na
mesma época e na mesma ocasião, a saber, da prisão em Roma. Assim
mesmo, há várias diferenças entre as duas cartas com relação aos assuntos.
Falta em Efésios a cristologia e heresiologia de Colossenses, bem como as
saudações pessoais ao final. E falta em Colossenses as referências à
Trindade, ao Espírito e à eleição, que abundam em Efésios.
e. E por fim, a prática da pseudonímia (escrever cartas sob nomes falsos)
nunca foi aceita pelos cristãos, que jamais teriam admitido no cânon a carta
aos Colossenses, caso soubessem que foi escrita por um “paulinista”.
3) A carta se apresenta como tendo sido escrita por Paulo (1.1; 4.18). Não há nada
que nos impeça de aceitar essa declaração, que foi aceita sem questionamentos
pelos pais da igreja.
a. Um detalhe interessante, é que Paulo cita Timóteo como “co-autor” da carta
(1.1), mas usa somente a primeira pessoa do singular na carta toda.

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b. Provavelmente Timóteo escreveu o que Paulo ditou e o apóstolo assinou no

final, “a saudação é de próprio punho, Paulo,” 6.18
4) Quanto à data, Colossenses foi escrita durante a primeira prisão de Paulo em
Roma, por volta de 61 a 62 d.C., na mesma ocasião em que escreveu Efésios e
demais cartas da prisão. As três cartas seriam levadas por Tíquico e Onésimo (4.7-
9; ver Ef 6.21).
5) Provavelmente, levaram também uma carta de Paulo à igreja de Laodicéia, que se
perdeu (4.16).

III – DESTINATÁRIOS E OCASIÃO

1) A carta é dirigida aos crentes de Colossos (1.2), uma pequena cidade no vale do rio
Lico, na província da Ásia, a cerca de 190 quilômetros de Éfeso.
2) Paulo não foi o fundador da igreja (2.1). Talvez Epafras tenha sido o fundador.
Paulo se refere a ele em termos que sugerem que Epafras era o pastor da igreja
(1.7-8).
3) Epafras pode ter se convertido a Cristo durante os três anos de ministério de Paulo
em Éfeso. Em Atos lemos que durante o tempo que Paulo ficou pregando em Éfeso,
“todos os habitantes da província da Ásia ouviram a palavra do Senhor, tanto judeus
como gregos” (At 19.10). Depois da sua conversão, Epafras começou o trabalho
cristão em Colossos e talvez em Laodicéia e Hierápolis, cidades próximas (2.1;
4.13,15).
4) A ocasião para a escrita dessa carta pode ter sido a visita de Epafras a Paulo, na
prisão em Roma, trazendo informações acerca da situação da igreja em Colossos.
Epafras lhe contou sobre a ameaça de um falso ensino que estava se infiltrando na
comunidade.
5) Paulo escreveu aos colossenses com o objetivo principal de instrui-los sobre tudo o
que os cristãos têm em Cristo Jesus, e assim expor o erro da heresia que estava
ameaçando a comunidade. Paulo trata também de outros assuntos relacionados
com a vida da igreja em Colossos, informado por Epafras.

IV – A HERESIA DE COLOSSOS

1) Esse é o nome que os estudiosos dão a esse falso ensino, que parece ter-se
localizado somente em Colossos.
2) A natureza dessa heresia continua sendo uma fonte de debate entre os estudiosos.

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3) Algumas coisas transparecem da carta, apesar de Paulo não ter criticado

diretamente a heresia:
a. Ela oferecia plenitude espiritual e sabedoria através da guarda de ritos
judaicos (circuncisão, dieta e calendário)
b. Incentivava o culto aos anjos e valorizava o conhecimento secreto (gnose).
c. Ensinava a necessidade do ascetismo para a libertação do pecado.
4) O ataque maior parece ter sido à pessoa e obra de Cristo. A ênfase de Paulo na
carta sobre a plena humanidade e divindade de Jesus, bem como sua posição como
Senhor da criação e da igreja, mostra que esses mestres estavam diminuindo ou
negando a plena humanidade de Jesus e os efeitos de sua morte e ressurreição.
5) Esse ensino estranho parece ter sido uma estranha mistura de conceitos judaicos,
gnósticos, filosóficos (dualismo) e cristãos. Não aparece, dessa forma, em mais
nenhuma das igrejas neotestamentárias.

IV – PROPÓSITOS

1) O propósito principal de Paulo com essa carta foi avisar os membros da igreja
acerca dos perigos da heresia.
2) A estratégia não foi criticar diretamente os ensinos dos falsos mestres, mas mostrar
como, em Cristo, os crentes já eram perfeitos e maduros, e já tinham tudo o que é
possível se receber, da parte de Deus, aqui neste mundo, como justificação, perdão
de pecados, comunhão com Deus e a vida eterna.
3) A conclusão era que os falsos mestres estavam oferecendo, mediante o esforço
pessoal e meritório, aquilo que os cristãos já tinham plenamente em Cristo Jesus,
pela fé. Os cristãos de Colossos nada tinham a ganhar com o ensino dessa heresia
e corriam o risco de ser enganados e se desviarem da verdade do Evangelho.
4) Paulo aproveita a ocasião para também tratar da santidade cristã e da conduta que
agrada a Deus, falando sobre família, trabalho e relações pessoais.

V – DIVISÕES – seguindo a Bíblia de Estudos NVI

I. SAUDAÇÃO E AÇÃO DE GRAÇAS (1:1–23)

A. Saudação (1:1-2)

B. Ação de Graças (1:3–23)

1. Ação de Graças pela Recepção do Evangelho em Colossos e no

Mundo Inteiro (1:3-8)
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2. A Intercessão de Paulo pelos Colossenses (1:9-23)

a. Viver uma Vida Digna do Senhor (1:9–14)

b. Exaltação poética de Cristo (1:15-20)

c. Permanecer Firme e Firme na Fé (1:21–23)

II. CORPO DA LETRA (1:24-2:23)

A. Comissão, Mensagem e Luta de Paulo (1:24—2:5)

B. Plenitude espiritual em Cristo e ameaças de uma filosofia (2:6-23)

III. ADVERTÊNCIAS ÉTICAS (3:1—4:6)

A. Colocando seu coração nas coisas do alto (3:1–4)

B. A Antiga e a Nova Moralidade (3:5-17)

C. Comandos Sobre a Família (3:18—4:1)

D. Exortação à oração incansável e comportamento sábio (4:2-6)

IV. SAUDAÇÕES FINAIS (4:7–18)

VI – TEMAS MAIS IMPORTANTES.

1) Podemos identificar vários temas nessa carta, como união com Cristo e seus efeitos
na vida do cristão, o ministério apostólico de Paulo, a mortificação da velha natureza
e a vivificação da nova, os deveres domésticos e sociais, entre outros.
2) Mas um tema se sobressai, e serve de base para tudo o que Paulo ensina aqui, que
é a excelência da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Mais do que em suas outras
cartas, é aqui em Colossenses que Paulo exalta a pessoa de Cristo e a sua obra,
desenvolvendo uma cristologia focada na sua divindade, sua relação com a criação
e com a igreja e na suficiência de sua obra para salvar e redimir plenamente
aqueles que creem nele.
3) Unidos a Cristo, os cristãos recebem o poder necessário para mortificar o pecado
em suas vidas e viver de forma a agradar a Deus. Em Cristo, eles têm uma nova
vida, onde as marcas e efeitos do mundo estão sendo conquistados e vencidos.
4) Considerando que o objetivo principal da carta é orientar os crentes de Colossos a
enfrentar o ensino dos falsos mestres, fica claro o motivo de Paulo exaltar a pessoa
e a obra de Jesus. Em Cristo, os crentes já tinham tudo aquilo que os gnósticos

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prometiam, como plenitude, perfeição, acesso a Deus, conhecimento e libertação do

pecado.

VII – PASSAGENS DIFÍCEIS DE INTERPRETAR

“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1.15).

1) Primogênito significa normalmente o que foi gerado primeiro. Se Cristo é Deus,

como entender essa declaração de Paulo?
2) Algumas seitas acreditam que Cristo foi o primeiro ser criado por Deus, antes
mesmo de criar o mundo. Portanto, ele não é Deus e sim a mais importante das
criaturas de Deus.
a. Essa interpretação de primogênito foi defendida primeiramente pelo herético
Ário (260-336), cujo ensino deu origem ao arianismo, doutrina que nega a
divindade de Cristo e que foi condenada pelos primeiros concílios da igreja
cristã.
b. Atualmente, seitas como Testemunhas de Jeová adotam essa interpretação
do termo primogênito para dizer que Cristo foi o primeiro ser criado e que,
portanto, não é Deus.
3) Entretanto, ao examinarmos a passagem mais de perto, verificamos que Paulo não
usa o termo para falar da origem de Cristo, mas de seus direitos.
a. Assim como o filho mais velho herdava tudo de seu pai, Cristo, sendo Deus
Filho, é o herdeiro e governante de toda a criação.
b. Basta ler o contexto (1.15-20) que esse ponto ficará claro.

IX – COMO LER ESSE LIVRO

1) Colossenses nos avisa do perigo constante dos falsos ensinos e da importância da

sã doutrina, especialmente daquelas que introduzem ritos, elementos, condições
que vão além de Cristo. Leiamos atentos à firmeza com que Paulo enfrenta os
falsos ensinamentos.

2) A carta nos instrui a respeito da suficiência de Cristo, verdade que sempre precisa
ser resgatada. Examinemos nossa vida: sou um legalista? Místico? Ou confio
somente no Senhor para minha plena redenção?

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3) Leiamos essa carta atentos para o fato que ela reforça o ensinamento
neotestamentário da salvação e santificação mediante a graça de Deus, e não por
méritos ou obras, rituais e métodos.

Até a próxima aula!

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