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CRONOLOGIA DAS CARTAS PAULINAS

Ante as dificuldades que apresenta toda e qualquer cronologia, não admira que no caso das
epístolas de Paulo seja difícil atingirmos aquela certeza que todos desejariam. Vejamos:

I. A primeira epístola: Gálatas

Supunha-se, outrora, que esta epístola tivesse sido escrita cerca do ano 57, ou seja na mesma
altura em que foi a de Romanos, e talvez Coríntios. Não faltou quem reunisse casos paralelos
de doutrina e de estilo em Gálatas e Romanos, mas não se trata de prova convincente de
maneira a concluir-se que essas epístolas são contemporâneas, pois os temas comuns a
ambas, nomeadamente o da justificação, adaptam-se a qualquer época. Julgou-se, ainda, que
Gálatas fosse uma espécie de "rascunho" que Romanos aperfeiçoou, uma vez que se admitem
alguns anos de diferença entre a publicação ou aparecimento das duas cartas. Do mesmo
modo poderíamos também frisar, que alguns anos medeiam entre a doutrina da crucificação
com Cristo e do batismo "em Cristo" dos Gálatas com os mesmos temas mais desenvolvidos
em #Rm 6.3-11.

Há, no entanto, um caso que pode levar-nos a supor que a epístola aos Gálatas foi escrita
antes de 57, e dirigida aos crentes da Galácia do Sul. Supõe-se, na realidade, que Paulo a
destinou às igrejas de Antioquia da Psídia, de Icônio, de Listra e de Derbe, -regiões
evangelizadas pelo Apóstolo durante a sua primeira viagem missionária. Ora Paulo regressou
desta viagem a Jerusalém provavelmente no verão do ano 49, e a carta tinha por fim impedir
as atividades de certos doutrinadores judaizantes entre os neoconvertidos da Galácia, sendo,
portanto, escrita ainda nesse mesmo ano. Assim, tudo leva crer, que esta carta foi a primeira
que Paulo escreveu.

II. Epístolas da segunda viagem missionária: 1 e 2 Tessalonicenses

Durante a segunda viagem missionária Paulo partiu da cidade de Trôade, na Ásia Menor, para
a Europa, com o fim de evangelizar as cidades de Filipos, Tessalônica, Beréia, Atenas e Corinto,
onde chegou por fins do ano 51. Nesta última cidade encontrou-se com Timóteo e Silas, que
lhe narraram pormenorizadamente a situação dos neoconvertidos de Tessalônica (At 18.5),
aos quais Paulo logo dirigiu a sua 1Ts, possivelmente durante o ano de 52. A 2Ts deve ter sido
escrita pouco depois, também de Corinto.

III. Epístolas da terceira viagem missionária: 1 e 2 Coríntios e Romanos

Nesta viagem Paulo passou cerca de 3 anos em Éfeso (53-56), de cuja cidade escreveu a 1 aos
Coríntios, talvez no ano de 55 (1Co 16.8). Depois seguiu para a Macedônia, onde redigiu a 2
aos Coríntios, talvez só em 56 (2Co 7.5). Percorrendo, em seguida, diversos lugares da Grécia
(Acaia), permaneceu perto de três meses em Corinto, sendo hóspede de Gaio (Rm 16.23; 1Co
1.14), e aí teve oportunidade de dirigir a sua epístola aos Romanos, possivelmente cedo no
ano 57.
IV. Epístolas escritas na prisão em Roma: Efésios, Colossenses, Filemom e Filipenses

Após tormentosa viagem marítima, Paulo chega a Roma, talvez no ano 60. No ano seguinte, ou
seja em 61, escreveu Efésios, Colossenses e Filemom, com pequenos intervalos. As duas
primeiras contêm vários passos paralelos e foram enviadas pelo mesmo mensageiro, Tíquico
(Ef 6.21; Cl 4.7). A Carta a Filemom foi dirigida a um cristão de destaque, que se encontrava em
Colossos. Também deve ter tido o mesmo portador que as precedentes, embora desta vez o
acompanhasse um escravo de nome Onésimo (Cl 4.7-9). Só mais tarde, provavelmente em 62,
apareceu a epístola aos Filipenses, em que Paulo aguarda para breve a sua libertação (cf. Fp
1.25; Fp 2.23-24).

V. Epístolas pastorais: 1Timóteo, Tito e 2Timóteo

É muito possível que realmente só no ano 62 se tenha verificado a libertação do Apóstolo,


seguindo-se depois uma viagem à Espanha, que planejara há muito (Rm 15.24), e mais tarde a
Colossos (Fm 22), e outras cidades, sobretudo a Filipos (Fp 2.24) e a Éfeso (1Tm 1.3). Pelo
menos é certo, que visitou a ilha de Creta, onde deixou Tito, que até então o acompanhava (Tt
1.5). Talvez em 64, da Macedônia, tenha escrito a sua primeira carta a Timóteo, que deixara
em Éfeso (1Tm 1.3). Da mesma data deve ser a epístola a Tito. A 2Timóteo foi enviada de
Roma, quando da segunda prisão de Paulo (2Tm 1.8,16; 2Tm 2.9), na companhia de Lucas
(2Tm 4.11), entre 66 e 67. O Apóstolo sabe que não tarda a hora do martírio, aguardado com
serenidade e confiança (cf. 2Tm 1.10-12; 2Tm 4.6-8).

Dificuldades nos escritos de Paulo


É certo que não há nada tão difícil como compreender uma carta
Paulina. Demétrio (em On Style, 223) cita uma afirmação de Artimón,
que compilou as cartas do Aristóteles. Dizia Artimón que uma carta
deveria ser escrita na mesma forma que um diálogo, devido a que
considerava que uma carta era um dos lados de um diálogo. Dizendo o
de maneira mais moderna, ler uma carta é como escutar a uma só das
pessoas que tomam parte em uma conversação telefônica. De modo
que quando lemos as cartas de Paulo frequentemente nos encontramos
com uma dificuldade: não possuímos a carta que ele estava
respondendo; não conhecemos totalmente as circunstâncias que estava
enfrentando; só da carta podemos deduzir a situação que lhe deu
origem. Sempre, ao ler estas cartas, nos apresenta um problema dobro:
devemos compreender a carta, mas não a entenderemos se não
captarmos a situação que a motivou. Devemos tratar continuamente de
reconstruir a situação que nos esclareça carta.
As Quatro Cartas Antijudaicas de Paulo

De acordo com Gl 1.13,14 Paulo viveu pessoalmente no “judaísmo” em sua fase pré-cristã.
Caracterizava com esse termo seu zelo desmedido para obrigar seus irmãos convertidos a
Cristo, fossem eles oriundos do mundo judaico ou gentílico, a se submeterem à lei. Um zelo
similar ele encontrou mais tarde também dentro da igreja cristã (Gl 2.14). O programa era
mais ou menos o seguinte: A lei de Moisés constitui a revelação central de Deus para agora e
toda a eternidade. O próprio envio de Cristo era tão-somente medida auxiliar de Deus em
benefício da aliança do Sinai, de modo que a fé em Cristo deve ser integrada na aliança do
Sinai. É claro que esse judaísmo cristão implicava uma estrutura de características próprias. Ele
não esperava que a igreja de Cristo cumprisse todo o conjunto de leis farisaicas, mas, como
exigência mínima, apenas os três antigos rituais confessionais de Israel: circuncisão, sábado, e
pureza nos alimentos. Contudo, até mesmo nessas três exigências havia ênfases localmente
diferentes. Enquanto p. ex. na Galácia os judaístas demandavam com insistência a circuncisão
(Gl 5.2,3; 6.12), esse ponto parecia não ter uma importância especial em Roma. Segundo Rm
14.2,5 eram a celebração do sábado e a pureza nos alimentos que lá ocupavam o foco das
discussões.

A Missão Epistolar de Paulo

Foram-lhe concedidos três decênios de atividade, a saber, de cerca do ano 33 (vocação às


portas de Damasco) até, o mais tardar, o ano 67 (martírio em Roma). As cartas que foram
transmitidas de Paulo são todas da segunda metade desse período, começando por 1Ts,
aproximadamente no ano 50. Quanto aos anos anteriores, ou as cartas se perderam, ou foi
somente a expansão de sua obra que o direcionou para esse recurso. Por meio de escritos
apostólicos para serem lidos à igreja, ele substituiu visitas apostolares necessárias, mas
inviáveis no momento. 

Quatro cartas posteriores, dos anos 54 até no máximo 58, passaram para a primeira posição
no NT, e com isso para a ponta. São os seus chamados “escritos principais”: Rm, 1Co, 2Co e Gl.
Foram elas que fundamentaram a importância singular de Paulo para a igreja de Jesus Cristo
de todos os tempos.

O Anticristo nas Epístolas Paulinas

2. Epístolas Paulinas
As epístolas paulinas apresentam uma forma mais desenvolvida da doutrina [do anticristo. N
do T]. Na esfera espiritual, Paulo identifica o Anticristo com Belial. “Que acordo há entre Cristo
e Belial?” (2Cor 6:15). 2 Tessalonicenses, escrita mais cedo, fornece uma prova de que a
doutrina se desenvolveu consideravelmente, sendo aceita entre os crentes. A exposição de 2
Tess 2:3-9, em que Paulo apresenta o seu ensinamento sobre o “Homem do Pecado”, é muito
difícil, como pode ser visto a partir do número de tentativas de interpretação. Veja O HOMEM
DO PECADO. Aqui indicaremos o que nos parece mais plausível em vista da doutrina paulina.
Ela havia sido revelada ao apóstolo pelo Espírito, que a igreja devia ser exposta a um ataque
tremendo, mais do que qualquer outra que ainda não havia presenciado. Há cerca de doze
anos antes da epístola ser escrita, o mundo romano tinha visto em Calígula o presságio de um
imperador louco. Calígula tinha reivindicado a veneração de um deus, e teve um templo
erguido para ele em Roma. Ele foi mais longe e exigiu que a sua própria estátua deve ser criada
no templo em Jerusalém para ser adorado. As causas semelhantes podem ser esperadas para
produzir efeitos similares, Paulo, interpretando “o que o Espírito que estava nele de fato
significava,” podia ter pensado de um jovem, criado em glamor, elevado à dignidade, e ao
terrível isolamento do imperador, poderia, como Calígula, ser atingido com a loucura, e
poderia, como ele, exigir honra divina, e poderia ser possuído com uma sede de sangue
insaciável como a sua. A fúria de tal maníaco entronizado, com uma probabilidade muito
grande, devia ser dirigida contra aqueles que, como os cristãos, se recusam obstinadamente,
como também os judeus, a dar-lhe a honra divina; mas não foram suficientemente numerosos
para que os funcionários romanos pausassem antes de prosseguir à extremidades. Enquanto
vivia Cláudio, a manifestação do Anticristo, como um “sem lei”, foi restringida; no entanto,
quando o imperador mais velho falecesse, ou o tempo designado de Deus chegasse, de que o
“sem lei” seria revelado, o Senhor mataria “com o sopro de sua boca” (2Tess 2:8).

Fonte: International Standard Bible Encyclopedia de James Orr, M.A., D.D., Editor General

O que são as Epístolas Pastorais?

Introdução:

A Primeira e a Segunda Epístola à Timóteo e a Epístola à Tito formam um grupo distinto entre
as cartas escritas por Paulo, e agora são conhecidas como as Epístolas Pastorais, porque elas
foram dirigidas a dois ministros cristãos. Quando Timóteo e Tito receberam estas epístolas,
eles não estavam agindo, como tinham feito anteriormente, como missionários ou
evangelistas itinerantes, mas haviam sido deixados por Paulo encarregados das igrejas; o
primeiro a superintendência da igreja em Éfeso, e o segundo dos cuidados das igrejas na ilha
de Creta. As Epístolas Pastorais foram escritas para orientá-los no exercício das funções que
lhes são confiadas como pastores cristãos. Essa é uma descrição geral destas epístolas. Em
cada uma delas, no entanto, não há muito mais do que é coberta ou implícita, com a
denominação, “Pastoral” - muito que é pessoal, e muito também que está relacionado com a
fé cristã, doutrina e a prática em geral.

Fonte: International Standard Bible Encyclopedia de James Orr, M.A., D.D., Editor General

Classificação das Cartas Paulinas

As Cartas Perdidas de Paulo — Em uma das mais antigas cartas de Paulo, ele escreveu acerca
de seu hábito de escrever (II Tess. 3:17). A não ser que este item de informação se refira
somente a Gálatas e I Tessalonicenses, todas as cartas anteriores, de Paulo, sejam lá quantas
tenham sido, perderam-se para nós. De I Coríntios 5:9, sabe-se que Paulo escrevera a carta
mais antiga àquela igreja. Talvez uma parte dessa “carta perdida” esteja preservada em II
Coríntios 6:14-7:1, embora nem todos os estudiosos estejam de acordo com esta idéia.
Também se sabe de II Coríntios 2:4 e 7:8 que Paulo escrevera ainda outra carta a Corinto.
Alguns estudiosos sentem que II Coríntios 10-13 é uma parte dessa “carta angustiosa”. Paulo
também menciona em Colossenses 4:16 uma carta aos laodicenses. Alguns acham que a
Efésios Canônica é essa carta; outros crêem que ela seja Filemom. A maioria, contudo, crê que
a carta à igreja em Laodicéia está perdida. O que é certo é que Paulo escreveu muito mais do
que está preservado no Novo Testamento.

As Cartas Existentes de Paulo — Na maioria das traduções modernas, quatorze, das vinte e
uma cartas, são atribuídas a Paulo. Os nomes e ordem são: Romanos, I e II Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemom e Hebreus.
Os textos gregos modernos têm como título, para estas quatorze cartas, somente a preposição
“a”, seguida pelo nome do receptor. Os problemas críticos de cada carta serão discutidos no
capítulo respecti¬vo que trata de cada uma.

A Ordem de Composição — Ê lamentável que a ordem canônica das cartas de Paulo não seja
cronológica. A presente ordem é basicamente a de extensão e se é escrita a uma igreja ou a
um indivíduo. Romanos é a mais extensa e Filemom a mais curta. As nove primeiras são
dirigidas a sete igrejas diferentes, e as quatro últimas, a três indivíduos diferentes. Por causa
de problemas críticos, Hebreus é colocada por último no corpus paulino, embora alguns dos
manuscritos gregos mais antigos a tenham entre Romanos e I Coríntios. Uma ordem
cronológica talvez mostrasse mais claramente os problemas encontrados por uma igreja que
emergia e indicaria o padrão teológico em desenvolvimento, de Paulo e da Igreja. O método a
seguir, de agrupamento das cartas, é baseado na narrativa contida em Atos e em informação
colhida das próprias cartas. Este agrupamento não é conclusivo, mas é usado para mostrar o
acordo geral entre os estudiosos do Novo Testamento, numa aproximação ao estudo do Novo
Testamento.
1. Epístolas escritas durante a Segunda Viagem Missionária (49:52 d.C): I e II Tessalonicenses,
de Corinto.

2. Epístolas escritas durante a Terceira Viagem Missionária (52-56 d.C): I Coríntios, de Éfeso; II
Coríntios, da Macedônia; Gálatas e Romanos, de Corinto.

3. Epístolas escritas de Roma durante o primeiro aprisionamento romano (58-60 d.C): Efésios,
Filipenses, Colossenses, Filemom.

4. As Epístolas Pastorais (62-65 d.C): I Timóteo, da Macedônia; Tito, da Macedônia ou de


Corinto; II Timóteo, de Roma, pouco antes da morte de Paulo.

Outra maneira de classificação é ver-se a ordem cronológica como representando ênfases


teológicas especiais. A correspondência tessalonicense lida com escatologia; as cartas da
Terceira Viagem Missionária tratam, primariamente da soteriologia; as cartas da prisão
acentuam a cristologia; as pastorais têm a eclesiologia como a ênfase dominante. Este
agrupamento teológico não é conclusivo, porque muitas das cartas contêm todas estas
doutrinas; mas a ênfase teológica principal de cada uma é observada.

Deve-se ressaltar, todavia, que muitos estudiosos do Novo Testamento, incluindo este escritor,
crêem que Gálatas foi escrita de Antioquia da Síria, antes da Segunda Viagem Missionária.
Outros sentem que Efésios foi escrita muito mais tarde, por um discípulo de Paulo, como
introdução a uma coleção das cartas de Paulo. Alguns acham que, de algum modo, Paulo está
por trás da Epístola aos Hebreus como autor, dando ao amanuense completa liberdade em sua
composição e publicação, esta última tendo ocorrido após a morte de Paulo e antes da
destruição de Jerusalém em 70 d.C.

A Preservação e Coleção das Cartas de Paulo — Num estudo em profundidade, das cartas de
Paulo, conclui-se que ele escreveu tanto como pastor quanto como “mestre dos gentios” (I
Tim. 2:7). A maioria de suas cartas existentes foi escrita para situações específicas; contudo,
Paulo foi capaz de distinguir entre a ordem do Senhor e seu próprio conselho pessoal (I Cor.
7:6, 25, 40). Algumas de suas cartas parecem ser dirigidas a uma audiência mais ampla, ao
invés de a um grupo específico. A Epístola aos Efésios é basicamente deste tipo. Contudo,
mesmo nesta, ele escreveu com a consciência de sua chamada como apóstolo. Paulo cria
possuir autoridade, e que sua palavra era de importância, quer para situações locais quer para
uma audiência mais universal. Nem todas as suas cartas, todavia, foram suficientemente
universais em sua aplicação, e muitas deixaram que se perdessem. A referência em Apocalipse
3:16 à apostasia da igreja em Laodicéia pode indicar que a carta a essa igreja, referida em
Colossenses 4:16, não foi preservada por essa razão. Pela época de II Pedro (68 d.C), contudo,
“todas as cartas de Paulo" estavam sendo aceitas em paridade com "outras escrituras”. Seria
de grande interesse e importância saber-se o que “todas as cartas de Paulo” e as “outras
escrituras” abrangem, mas seria apenas conjetura, a esta altura, na pesquisa bíblica.

Embora Clemente de Roma e Inácio de Antioquia conhecessem algumas das cartas de Paulo, a
coleção concreta e existente mais antiga é o Cânon de Marcião, de cerca de 140-150 d.C. Esta
lista inclui uma coleção editada de dez cartas de Paulo (em ordem: Gálatas, I e II Coríntios,
Romanos, I e II Tessalonicenses, Laodicenses (Efésios), Colossenses, Filipenses e Filemom). As
Pastorais foram, provavelmente, rejeitadas pelo fato de Marcião ter sido um gnóstico. O
Fragmento Muratoriano (cerca de 180 d.C.) inclui as Pastorais nas treze epístolas de Paulo,
Hebreus não estando na coleção. O mais antigo manuscrito grego (P 46 ) das epístolas de Paulo
que foi preservado data de cerca do fim do segundo século. Este manuscrito, pelo fato de
colocar Hebreus entre Romanos e I Coríntios, indica Paulo como sendo o autor de Hebreus. II
Tessalonicenses, Filemom e as Pastorais estão ausentes do manuscrito preserva¬do, mas a
ausência poderia ser devida à possível perda das últimas folhas, que conteriam estas cinco
cartas.

É impossível fixar-se uma data para a primeira coleção completa das epístolas de Paulo. O que
é certo, contudo, é que há ampla evidência, do final do primeiro século e início do segundo, de
que as cartas de Paulo circulavam largamente e eram estimadas como autoridade em
doutrina. A história da preservação e colecionamento destas cartas perdeu-se para nós.
Contudo, o processo deve ter-se iniciado cedo conforme está evidente na declaração contida
em II Pedro 3:15,16, e porque a coleção foi aceita pelo final do segundo século.

Visão Panorâmica das Epístolas Paulinas

O apóstolo Paulo é o autor do maior número de livros do NT, em número de 13.

As Primeiras Epístolas Paulinas

a) Gálatas – Escrita por Paulo em Corinto, no ano 57. Os gálatas tinham sido evangelizados por
Paulo. Todavia, depois que Paulo saiu da Galácia, chegaram lá uns “cristãos judaizantes”
(pregadores que diziam: “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não
podereis ser salvos” At.15.1b). Eram judaizantes, porque queiram que os crentes se fizessem
judeus, para serem salvos. Ao que Paulo era totalmente contrário, tendo enfrentando até ao
próprio Pedro por causa disto, Ef.2.11-14.

Assunto - Independência do Evangelho. A palavra principal é LIBERDADE. Em Gálatas está a


ênfase de que o crente é salvo pela fé, isto é, quem se acha escravo por causa da lei, agora
pode ficar livre pela fé em Cristo, pois “o homem não é justificado por obra da lei, e sim,
mediante a fé em Cristo Jesus” (2.16), porque “o justo viverá pela fé” (3.11); aqui Paulo cita o
VT (Hc.2.4) mostrando que, desde a antiga dispensação o plano de Deus é salvar o pecador
mediante a fé e não por meio das obras.

Ensinos principais – Os gálatas haviam ouvido de Paulo a mensagem da salvação em Cristo, de


graça, mediante a fé. Mas, os judaizantes os confundiram, com a idéia de mistura com a lei.
Paulo lhes escreve indignado por eles terem aceitado tal idéia, e exclama: “Ó gálatas
insensatos! Quem vos fascinou a vos outros ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como
crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela
pregação da fé?” (3.1,2).

Ao tratar do sério caso dos gálatas, Paulo escreveu de próprio punho, pelo menos uma parte
(6.11) de sua carta. Ao dispensar o seu escriba, que sempre escrevia as cartas que ele ditava,
Paulo demostrava o seu zelo pelas ovelhas que estavam sob os seu cuidados.

Tão sério foi o desvio dos crentes gálatas para o legalismo, que Paulo chamou tal movimento
de “outro evangelho”(1.6.7) e recomenda que nenhuma mensagem estranha, venha de onde
vier, de anjo ou até do próprio Paulo, jamais poderia ser aceita (1.8,9).

A lei da semeadura e da colheita está no final da epístola (6.6-10) e a sua base é “de Deus não
se zomba” (v.7).

b) 1ª Tessalonicenses – Escrita por Paulo em cerca de 53, quando estava em Corinto. A cidade
de Tessalônica ainda existe, com o nome de Salônica. Pertencia a Macedônia. Paulo fundou
aquela igreja, depois que saiu de Filipos (At.17.1-4). A carta foi levada por Timóteo.

Assunto – A volta de Cristo é o tema principal. Para esperar a volta do Senhor, Paulo
recomenda a santificação, conservação da esperança, pois, sua volta é iminente e existe uma
recompensa para o servo fiel.
Ensinos Principais – Em Tessalônica, Paulo foi acusado de transtornar o mundo (At.17.6). Isso
mostra a dinâmica do trabalho do apóstolo. Fala do conceito adquirido pela igreja
tessalonicenses (1.8) e adverte acerca da pureza (4.1-5). Dá a doutrina da ressurreição (4.13-
18) e dá uma lista de recomendações: “Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai
graças ... Não extinguais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o
bem. Abstende-vos de toda aparência do mal.”(5.16-22).

c) 2ª Tessalonicenses – Paulo escreveu esta epístola logo após a primeira, no ano de 53 AD. A
igreja dos tessalonicenses ia bem. Sua fé crescia muitíssimo (1.3). Mas, uma falsa epístola os
havia confundido (2.2) Paulo apela que nada deveria demovê-los de sua firmeza da fé.

Assunto – A expressão “epístola como de nós”, indica uma perturbação criada por alguém que,
maldosamente, teria forjado uma epístola como se fosse escrita por Paulo, afirmando que a
consumação do “dia de Cristo” era para aqueles dias. Paulo o desmente, afirmando: “não será
assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da
perdição; o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus... (2.3,4). Não há
referências ao VT porque a epístola era dirigida a gentios, que não conheciam as Escrituras.

Ensinos principais - O ensino principal é sobre a Segunda vida de Cristo. A referência ao


“homem do pecado” esclarece pontos importantes da Escatologia (o estudo sobre as últimas
coisas), pois referem-se ao anticristo, que é a besta referida no Apocalipse, contra os que
aceitaram o falso ensino da volta iminente de Cristo e que não queiram mais trabalhar, Paulo
diz: “ ...se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns
entre vós andam desordenadamente, não trabalhando ... “ (3.10,11). O princípio ensinado por
Paulo é que, embora creiamos na volta de Cristo a qualquer momento, devemos viver nossa
vida normal.

Introdução à Epístola a Tito

Introdução à Epístola a Tito

Autor: Paulo 1:1


Comentário: Esta epístola do apóstolo Paulo, foi endereçada a Tito, seu verdadeiro filho na fé
(Tt 1:4), também tratado como irmão em Cristo conforme está descrito em II Co 2:13;
companheiro e cooperador em II Co 8:23; fiel administrador financeiro em II Co 12:18. Ainda
usando outro referencial fora desta carta temos em Gl 2:13, que Tito é grego de nascimento.

Foi escrita pelo apóstolo Paulo por volta do ano 66 d.C., segundo comentários sobre o Novo
Testamento, talvez da cidade de Corinto. Segundo o texto, o apóstolo Paulo escreveu a Tito
com os seguintes propósitos:

1. Ajudar Tito a refutar os falsos mestres;

2. Instruir Tito acerca da administração e do pastoreio da igreja;

3. Encorajar Tito e pedir-lhe que venha a Nicópolis (3:12)

No esboço a seguir temos o perfil desta carta:

1. INTRODUÇÃO (1:1-4);

2. QUALIFICAÇÃO DOS ANCIÃOS E BISPOS (1:5-16);

3. EXORTAÇÃO AOS MEMBROS DA IGREJA (2:1-3.11);

4. CONCLUSÃO (4:12-15);

Igualmente às epístolas anteriores, vemos o apóstolo Paulo preocupado com as questões


doutrinárias, pelo que pede a Tito para exortar os fiéis a serem sãos na fé (1:13); e a falar o
que convém a sâ doutrina (2:1); São ensinos com aplicação prática também em nossos dias,
pelo que devemos estar atentos para o bom exercício do ministério pastoral à frente do
rebanho do Senhor.

Os problemas que Tito estava enfrentando são semelhantes aos que nos deparamos em
nossos dias, principalmente com relação as "novidades teológicas" ou "teologias" que surgem
a cada dia. Sem consistente respaldo bíblico, se tratando de verdadeiras heresias; o que acaba
por requerer constante vigilância e zelo doutrinário.

http://bibliotecabiblica.blogspot.com/2009/11/classificacao-das-cartas-paulinas.html
CARTAS PAULINAS

Introdução às Cartas de Paulo

O conjunto das Cartas Paulinas compreende um total de treze Cartas que reivindicam a
paternidade do Apóstolo Paulo. A ordem em que se encontram no cânon bíblico não reflete a
data em que foram escritas, mas foram organizadas segundo a sua extensão.

Alguns procuram agrupar as Cartas do seguinte modo:

a) Cartas maiores: Romanos,1-2 Coríntios, Gálatas e 1-2 Tessalonicenses.

b) Cartas da prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon.

c) Cartas pastorais: 1-2 Timóteo e Tito

Outra classificação pode ser feita a partir da possível autoria das mesmas:

a) Cartas Proto-Paulinas: que seguramente são autênticas, isto é, que são de autoria do
Apóstolo Paulo, e que são aceitas por todos os estudiosos: Romanos, 1-2 Coríntios, Gálatas,
Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemon.

b) Cartas Deutero-Paulinas: são aquelas cuja autenticidade não é segura ou é negada por certo
número de estudiosos: Efésios, Colossenses e 2 Tessalonicenses.

c) Cartas Trito-Paulinas: 1-2 Timóteo e Tito. Essas dificilmente seriam do Apóstolo Paulo, pois
usam uma linguagem diversa e tratam de problemas que existiam nas comunidades no final do
I século.

É certo que algumas Cartas de Paulo foram perdidas. Em 1Cor 5,9 já se fala de uma Primeira
Carta aos Coríntios. Em Cl 4,16, Paulo se refere a uma Carta escrita aos cristãos de Laodicéia. E
temos ainda a famosa “Cartas em lágrimas” aos Coríntios (2Cor 2,4). Alguns estudiosos
afirmam também que a Carta aos Filipenses é um conjunto de vários bilhetes. E também que a
2Cor é um ajuntamento de várias cartas, enviadas em datas diferentes.

Outro aspecto interessante é o de que as cartas não foram escritas do próprio punho do
Apóstolo. Ele as ditava (cf. Rm 16,22) e às vezes assinava (cf. Gl 6,11). Talvez a carta a Filemon
tenha sido o único escrito com sua própria mão.

Uma constante nas cartas de Paulo é a afirmação que ele faz da sua vocação. Por várias vezes
lembra que o seu ser apóstolo de Jesus Cristo é sinal primordial da intervenção divina na sua
vida. À missão de evangelizar os gentios ele se dedica por inteiro e busca formas novas, através
das cartas, de se fazer presente junto às comunidades fundadas por ele como missionário
itinerante. Escrever era a forma de manter viva a fé das comunidades, porque Paulo não podia
estar em todas elas ao mesmo tempo. Isso tudo para que o evangelho seja anunciado.

O núcleo da mensagem de Paulo em todas as suas cartas é o Kerigma cristão, ou seja, o


anúncio da morte e ressurreição de Jesus. Toda a teologia paulina é gerada a partir do evento
da cruz, sinal de escândalo, portanto, de fraqueza, transformado em princípio de salvação e
ressurreição. Portanto, para compreender Paulo é importantíssimo considerarmos a
crucificação de Jesus, sua morte e ressurreição.

Paulo é um escritor que anuncia o Evangelho, ou melhor, é um missionário que escreve. Ele é
poeta e culto, mas para fazer-se compreender usa palavras simples e profundas. Todas as suas
cartas são portanto, como que geradas do seu coração. E assim Paulo deixa transparecer em
cada palavra que escreve sua paixão por Jesus e pelo seu povo.  

Capítulo V

Breve comentário das Cartas Paulinas

Romanos

Quando Paulo esteve em Roma?

Provavelmente entre 61 e 62, prisioneiro e deportado para o tribunal do imperador, onde foi
martirizado por volta do ano 67.

Onde foi escrita?

Em Corinto (inverno de 55\56).

Como era a comunidade?

Formada de cristãos vindos da Palestina e da Síria, provavelmente expulsos pelo imperador


Cláudio, no ano 49.
Qual a finalidade da carta?

Corrigir certas interpretações a respeito da pregação de Paulo entre os pagãos, provavelmente


levadas a Roma por judeus e por cristãos judaizantes. O apóstolo expõe de maneira serena e
organizada o que já havia exposto em Gl – A gratuidade da salvação vem pela fé – ele opõe o
Cristo Justiça de Deus ao Cristo da justiça que os homens pretendiam merecer por seus
próprios esforços. Paulo diz que a morte e ressurreição de Jesus operaram a destruição da
humanidade antiga, viciada pelo pecado de Adão e a recriação de uma humanidade nova, da
qual Jesus Cristo é o protótipo.

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1 Coríntios

Quando Paulo esteve em Corinto?

Paulo chega à Corinto em abril de 50, após ter passado por Atenas e lá volta outras vezes.

Onde foi a carta foi escrita?

Provavelmente na Páscoa de 54

Como era a comunidade?

A comunidade situava-se em Corinto, que era uma cidade portuária e grande centro comercial,
com população pluralista e composta de cidadãos romanos e escravos. Tinha tendências e
religiões romanas, egípcias e gregas. A comunidade foi fundada na casa de Priscila e Áquila,
artesãos de couro, com os quais Paulo deve ter trabalhado. Na comunidade havia várias
classes sociais, a maioria era gente pobre, sobretudo escravos. Por isso, a comunidade era
predisposta para a divisão, sobretudo pela diversidade cultural e econômica, o que causava
muita competição.

Qual a finalidade da carta?

Trata de problemas vividos pela comunidade, informações e decisões cruciais para o


cristianismo primitivo, tanto em sua vida interior – pureza dos costumes, matrimônio e
virgindade, ordem das assembléias e celebração eucarística, uso dos carismas – como também
o relacionamento como o mundo pagão – apelo aos tribunais, carnes oferecidas aos ídolos etc.
Lembra em que consiste a verdadeira liberdade da vida cristã, a santificação do corpo, a
diversidade dos carismas, o primado da caridade, que é o sustentáculo da comunidade, a união
a Cristo.

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2 Coríntios

Onde a carta foi escrita?

Em Éfeso, por volta de 55.

Qual a finalidade da carta?


Paulo defende o seu apostolado, diante daqueles que queriam afastar a comunidade de Paulo,
alegando que ele não era apóstolo e portanto, que sua mensagem não merecia a consideração
dos coríntios. Por essa razão, Paulo descreve a grandeza do ministério apostólico e também
discorre sobre o tema concreto da coleta para a Igreja de Jerusalém, inspirado pelo ideal de
união entre as igrejas.

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Gálatas

Quando Paulo esteve na Galácia?

Paulo esteve na Galácia em sua primeira viagem missionária (por volta dos anos 46 a 48), na
segunda viagem, na primavera de 52 e talvez outras duas vezes.

Onde a carta foi escrita?

Em Éfeso ou na Macedônia entre 54 e 55.

Como era a comunidade?

A Galácia é uma região da Ásia Menor, e a comunidade lá auxiliou Paulo quando estava
enfermo. Por isso, Paulo tinha pelos Gálatas um grande afeto, se sentido pai e mãe daquela
comunidade. Mas, correntes judaizantes quiseram ridicularizar e se posicionar contra a
pregação de Paulo também na comunidade da Galácia.

Qual a finalidade da carta?

Gálatas representa um grito que parte do coração de Paulo, no qual a apologia pessoal se
justapõe à argumentação doutrinal e às advertências que ela faz à comunidade. Paulo
demonstra indignação e defende seu apostolado. É uma argumentação vibrante em prol da
liberdade cristã e universalidade da Igreja. A carta aos Gálatas é muitas vezes citada na carta
aos Romanos.

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Filipenses

Quando Paulo esteve em Filipos?

Paulo chega a Filipos durante sua segunda viagem, entre 48 e 49 e lá retorna duas vezes na
terceira viagem. Ao chegar à cidade, ele não vai à sinagoga, como era o seu costume, mas fala
às mulheres que estavam nas margens do Rio rezando.

Onde a carta foi escrita?

Quando Paulo estava preso em Éfeso (anos 55\57) ou em Roma (anos 61\62).

Como era a comunidade?


Filipos era um importante centro comercial entre o Oriente e o Ocidente, até ser conquistada
por Roma em 42 a.C. Uma cidade onde viviam muitos oficiais romanos, de religiões derivadas
dos cultos gregos (como a deusa Ísis) e dos cultos romanos (deuses Júpiter, Mercúrio, Minerva
e Diana). A comunidade é fundada na casa de Lídia, que ao escutar a pregação de Paulo
convida-o e a seus companheiros a se hospedarem na casa dela, se eles a considerassem digna
da mensagem que acabaram de anunciar.

Qual a finalidade da carta?

A comunidade de Filipos é considerada a comunidade amada por Paulo, é a única comunidade


da qual Paulo aceita receber algum auxílio também material. Por isso, ele escreve para
agradecer a ajuda enviada pela comunidade enquanto ele estava preso. Aproveita para
advertir contra algumas situações de competição existentes na comunidade e previne contra
os pregadores judaizantes ao relembrar que a autenticidade do Evangelho vivido e anunciado
pelos cristãos está na cruz de Cristo.

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1 Tessalonissenses

Quando Paulo esteve em Tessalônica?

A Tessalônica foi evangelizada na segunda viagem de Paulo, do outono de 49 à primavera de


50. De lá, Paulo saiu fugido para Atenas e Corinto. O apóstolo deve também ter retornado a
essa comunidade no verão de 54 e na primavera de 55, após os dissabores de Corinto e Éfeso.

Onde a carta foi escrita?

Em Corinto, durante o verão de 51.

Como era a comunidade?

Tessalônica era um importantíssimo ponto comercial, pois além de estar na rota da via Inácia
(Ignatia), tinha um ótimo porto aberto para o mar Egeu. Supõe-se que os membros da
comunidade fossem todos provenientes de escravos e da classe de pequenos comerciantes,
que mal tinham com o que viver. O próprio ambiente de trabalho freqüentado por Paulo pode
ter sido tão pobre quanto o do trabalho escravo. Do ponto de vista da religião havia as
divindades romanas e locais.

Qual a finalidade da carta?

Dar instruções sobre a Parusia (acreditavam que haveria uma segunda vinda de Cristo) e enviar
boas notícias aos tessalonicenses. É considerada uma carta escatológica, onde Paulo adverte à
comunidade a ter calma em ralação à Parusia e ao mesmo tempo ser vigilante. Nesta etapa
primitiva do seu apostolado, Paulo encontra-se todo concentrado na Ressurreição de Cristo e
na sua vinda na glória, que trará a Salvação aos que tiverem acreditado nele.

A primeira carta deixa entrever que era uma igreja jovem e fervorosa, firme no meio dos
sofrimentos. Ela nos diz algo sobre as crenças dos cristãos uns vinte anos depois da ascensão: a
Trindade, Deus como Pai, a missão de Jesus Messias, sua morte, ressurreição e futuro retorno,
as três virtudes, fé, esperança e caridade.

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Filemon

É uma carta à um Cristão de Colossas (Filemon) que era um cristão de boa posição e que tinha
um escravo fugido: Onésimo.

Onde a carta foi escrita?

Na prisão de Roma entre 61 e 63

Qual a finalidade da carta?

Expressa o dilema entre o Evangelho levado às últimas conseqüências, de não se tornar


somente uma lei, nem insensível aos dilemas humanos. Paulo acredita que o Evangelho pode
mudar as relações entre as pessoas, por isso, escreve à Filemon (provavelmente convertido
pelo apóstolo) para aceitar novamente Onésimo, que ele havia encontrado na prisão e que,
provavelmente havia pedido a intervenção de Paulo e fosse perdoado pelo patrão. Paulo
então, pede a Filêmon que aceite Onésimo não mais como escravo, mas como irmão.

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Deutero paulinas – Os erros combatidos são posteriores a Paulo e pertencem mais à idéias
gnósticas do século II.

Colossenses

Quando Paulo esteve em Colossas?

Fundada por volta do ano 53, por um nativo que Paulo havia batizado e evangelizado em
Éfeso.

Onde foi escrita?

Na prisão de Roma (61 a 63)

Como era a comunidade?

Composta da miscigenação de cultos mistérios com ritos e veneração a divindades gregas. A


comunidade durou apenas 7 anos, pois no ano 60, antes da morte de Paulo, foi atingida por
um terremoto e desapareceu.

Qual a finalidade da carta?

Carta cristológica. O principal problema da comunidade foi um erro de interpretação causado


pelo sincretismo religioso. Procuravam experiências exóticas e fortes e a presença de vários
mestres. O autor desenvolve a centralidade de Jesus Cristo, cabeça da Igreja. Ele incorpora
pessoas à sua morte e ressurreição.

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Efésios

Quando Paulo esteve em Éfeso?

Depois de passar pelas comunidades da Galácia, chegou a Éfeso em 52. Foi preso no verão de
54 e retornou em 55.

Onde a carta foi escrita?

Na prisão de Roma (61 a 63)

Como era a comunidade?

A comunidade situava-se numa cidade portuária, com muitos edifícios, entre os quais se
destacava o templo dedicado à deusa Artemis. A comunidade de Éfeso já existia antes da
chegada de Paulo. Uma florescente comunidade cristã, de pagãos convertidos.

Qual a finalidade da carta?

Carta eclesiólógica. Deus revela seu plano por Jesus Cristo, desenvolvido na Igreja, que é povo
de Deus e esposa do Messias e já não espera a Parusia, mas se empenha no constante
crescimento.

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Tardias 
2 Tessalonissenses
1 Timóteo e 2 Timóteo
Tito

http://www.nospassosdepaulo.com.br/p/cartas-paulinas.html

O CORPUS PAULINUS E SUAS FONTES


VETEROTESTAMENTÁRIAS
por Neemias de Oliveira1
RESUMO: Neste artigo procurou-se verificar quais foram as fontes
disponíveis para a formação do Novo Testamento, mais especificamente
o corpus Paulino. Observou-se que o apóstolo Paulo não foi apenas
quem mais citou o Primeiro Testamento, tanto de forma direta ou
implícita, mas também, quem dispôs das mais variadas formas do texto
das Escrituras hebraicas. Destacou-se como e quais as formas que as
cartas paulinas dependem de uma ou mais passagens das Escrituras.
PALAVRAS-CHAVE: Escrituras hebraicas, septuaginta, corpus Paulino,
citações.
Introdução
A Bíblia dos autores do Novo Testamento eram as Escrituras judaicas,
que posteriormente passaram a ser denominadas Antigo Testamento, e
mais recentemente Primeiro Testamento.2 A Bíblia era central na vida
deles, como também na dos rabinos, essênios, e demais grupos
religiosos de sua época.
Uma importante questão é qual versão das Escrituras os autores
neotestamentários usaram em seus escritos, uma vez que em seus dias,
o texto do Primeiro Testamento existia em três formas lingüísticas: a
Bíblia Hebraica, a Septuaginta e os targuns.3 Ao que parece,
predominam as citações da Bíblia Hebraica e da Septuaginta, e nessa
ordem. Devido à limitação de se ter em mãos todas estas obras, os
autores do Novo Testamento, em alguns dos casos teriam citado as
Escrituras de memória. Daí, surge outra questão não menos importante:
qual versão eles teriam memorizado? Tomando Paulo como exemplo,
pode-se distinguir quando ele cita a Bíblia Hebraica ou a Septuaginta
porque nem sempre esta seguiu o texto hebraico de forma consistente, o
mesmo ocorre com os demais autores do Novo Testamento.
Outra questão a considerar é quais as formas de citação que Paulo faz
das Escrituras em seus escritos, ou seja, como eram essas citações, se
diretas, formais ou indiretas, ou apenas alusões. Também se poderiam
ser paráfrases, traduções livres, dos próprios autores em alguns casos.
O CORPUS PAULINO
O nome de Paulo aparece em treze das vinte e uma cartas do Novo
Testamento endereçadas a comunidades distintas, ou a indivíduos. No
entanto a autoria paulina é questionada, por vários estúdios, em quase
metade delas. Assim sendo, designa-se aqui como o corpus paulino as
sete cartas tidas como autênticas ou cuja autoria paulina é incontestável.
São elas: 1 Tessalonicenses, Gálatas, Filipenses, Filemom, 1 e 2
Coríntios e Romanos.4
1 FONTES VETEROTESTAMENTÁRIAS
AS ESCRITURAS HEBRAICAS
Todo o AT foi escrito em hebraico, o idioma oficial da nação israelita,
exceto algumas passagens de Esdras, Jeremias e Daniel, que foram
escritas em aramaico.
O hebraico faz parte das línguas semíticas, que eram faladas na Ásia
(mediterrânea), exceto em bem poucas regiões. As línguas semíticas
formavam um ramo dividido em grupos, sendo o hebraico integrante do
grupo cananeu. Este compreendia o litoral oriental do Mediterrâneo,
incluindo a Síria, a Palestina e o território que constitui hoje a Jordânia.
A SEPTUAGINTA
A Septuaginta é uma tradução do Primeiro Testamento hebraico para o
grego. O seu nome “septuaginta” vem diretamente do latim, com o
sentido de setenta, o que explica sua familiar representação em números
romanos, “LXX”. Esse nome deriva-se da tradição que diz que essa
versão foi feita por setenta (ou setenta e dois) anciões judeus, durante o
reinado de Ptolomeu II Filadelfo, tendo, sido feito na cidade de
Alexandria, no Egito (284-247 a.C.). A razão dessa tradução do hebraico
para o grego foi que os judeus que tinham voltado do exílio babilônico,
após três gerações, haviam-se esquecido do hebraico. Muitos deles
falavam o aramaico, mas, desde que a região da Palestina passara a
fazer parte do império dividido de Alexandre, o Grande, os judeus
também aprenderam a falar o grego, que se tornara a língua franca de
toda aquela circunvizinhança.5
OS TARGUNS
A segunda mais importante versão antiga, é na realidade uma coleção de
diferentes escritos conhecidos como targuns aramaicos, de uma palavra
aramaica antiga que significa ‘traduzir’, ou ‘interpretar’. Como no caso da
LXX, os Targuns eram resposta a uma necessidade prática. Depois do
cativeiro, o aramaico gradualmente tomou o lugar o hebraico como
linguagem popular.6 Os Targuns foram primeiro paráfrases orais das
Escrituras hebraicas, ensinadas nas sinagogas, que finalmente vieram a
ser escritas. Nesse tempo, a leitura em público, das Escrituras, era
seguida de explicação pelo leitor, para que o povo pudesse entender, Ne
8.8.
Contém muitas adições, interpretações e paráfrases livres. Mesmo assim
esclarecem pontos difíceis do texto original usado pelos escribas, entre
os quais se originaram os Targuns. Revelam também os métodos de
interpretações usados pelos judeus daquele período.7
O MIDRASH
O Midrash (pl. midrashim) ou midraxe era constituído de uma exposição
exegética feita pelos rabinos e eruditos acerca das Escrituras hebraicas.
O termo hebraico, proveniente do verbo darash, procurar, investigar,
indica tanto o método de exegese quanto a produção literária dele
resultante.8 O midraxe nascido na escola como pesquisa normativa, é
chamado midrash haláquico. O midrash nascido na sinagoga como
comentário edificante de leituras bíblicas litúrgicas é denominado
midrash hagádico.
FONTES VETEROTESTAMENTÁRIAS NO CORPUS PAULINOS
Paulo, então, tinha diante de si várias opções: a versão grega
(septuaginta), a Bíblia hebraica e versões em aramaico. Um estudo
cuidadoso demonstra que ele usou a Septuaginta, como Filo e,
possivelmente, Josefo, que também utilizou-se do texto hebraico, como
os rabinos e Qumran, e que ainda usou targuns9. Predominam se as
citações da Bíblia hebraica e da Septuaginta, nessa ordem.10 Pode-se
distinguir quando Paulo cita uma ou outra porque nem sempre a
Septuaginta seguiu o texto hebraico de forma consistente.
Além do uso das Escrituras hebraicas e da LXX, Paulo também combina
tradições exegéticas rabínicas e heleno-judaicas.
Embora não se atenha a nenhum esquema, encontram-se nos escritos
Paulinos citações literais, variações livres, alusões, associações de
conteúdos: mandamentos, fatos, pessoas.11
2 CITAÇÕES FORMAIS OU DIRETAS
As citações formais ou diretas são aquelas transcrições de passagens
cujo emprego de frases ou sentenças se deu na íntegra ou em partes,
mas com sentido completo. Uma boa parte dessas citações geralmente
têm uma fórmula introdutória12, como “está escrito” (Rm 1.17; 2.24;
3.4,10; 4.17; 8.36 etc, ao todo 29 vezes), “a Escritura diz” (Rm 4.3; 9.17;
10.11; 11.2, Gl 4.30), “Davi diz” (Rm 4.6; 11.9), “Isaías diz” (Rm 10.16,20;
15.12) “Moisés diz” (Rm 10.19), “diz a Lei” (Rm 3.19, 1 Co 14.34), “Deus
diz” (2 Co 6.16, Rm 9.15) ou coisa semelhante, e são seguidas pela
reprodução da passagem do Antigo Testamento à qual o autor se
refere.13
Mais da metade das citações do AT presentes nas cartas de Paulo [...]
encontram-se na carta aos Romanos. As demais concentram-se nas
cartas aos Coríntios e aos Gálatas. Isto deve-se seguramente ao fato de
que estas cartas eram dirigidas a comunidades de origem judaica, que
estavam em condições de entende-las e que, ademais mantinham vivas
polêmicas com seus antigos correligionários. Ao contrário, as cartas
dirigidas a comunidades de origem pagã [...] como Filipenses, estão
desprovidas de citações bíblicas. 14
Existem aproximadamente 99 citações formais nas cartas de Paulo. De
acordo com o índice de citações da terceira edição do texto crítico do
Novo Testamento grego15, Romanos tem 60 citações, 1 Coríntios 17, 2
Coríntios 11, Gálatas 11. Sendo que, apenas Filipenses e Filemon não
têm nenhuma citação formal ao Antigo Testamento.
Quase um terço dessas citações, 28, são extraídas da Septuaginta,
sendo que as restantes concordam com o texto hebraico.
Em Ef 4.8-12, um típico midrash, sobre o texto citado no v.8, onde as
palavras mais importantes da citação são retomadas e comentadas.16
Em 1 Co 10.1-4: Não quero que ignoreis, irmãos, que os nossos pais
estiveram todos sob a nuvem, todos atravessaram o mar e, na nuvem e
no mar, todos foram batizados em Moisés. Todos comeram o mesmo
alimento espiritual e todos beberam a mesma bebida espiritual, pois
bebiam de uma rocha espiritual, que os acompanhava, e essa rocha era
Cristo. (Bíblia de Jerusalém) em analogia com a Midrash palestineniense,
Paulo, coloca no mesmo plano tradições bíblicas (a passagem do mar, a
água brotada da rocha, o maná) e as tradições orais (a nuvem pairando
sobre o povo, o rochedo que os acompanhavam).17 Sem dúvida,
percebe-se uma alusão a todas as amplificações da hagadá, no
qualificativo espiritual dado ao alimento, à bebida e ao rochedo18. Ele diz
que a rocha doadora de água acompanhava a Israel no deserto, e ao
mesmo tempo, e a interpreta como sendo o Cristo preexistente, como
judaísmo helenista a associava à Sofia ou ao Logos.19
CITAÇÕES INDIRETAS OU ALUSÕES
São aquelas ocasiões onde o autor não se refere explicitamente às
Escrituras, mas onde claramente está dependente de uma ou mais
passagens do Primeiro Testamento. Pode-se considerar como alusões
as citações livres, reminiscências, referências a eventos, paralelos de
linguagem, ecos, etc. A característica comum é que as alusões não são
precedidas por uma fórmula introdutória.
O número de alusões é muito maior. Como é bem difícil distingui-las, a
lista, se comparada vários autores é bastante variada.20 Tomando por
base o índice de citações da terceira edição do texto crítico do Novo
Testamento grego, existem 271 alusões ao Primeiro Testamento.21
Por exemplo, Rm 5.12-14 faz uma alusão clara, mas não cita, a queda de
Adão e Eva no pecado, registrada em Gn 2 e 3. Em 1 Co 101.-15, Paulo
menciona fatos ocorridos durante a peregrinação do povo de Israel no
deserto, numa clara alusão ao que está registrado em Ex 32 e Nm 11,
14, 21 e 25. A alegoria de Sara e Agar em Gl 4.21-31 pe baseada em Gn
16.1ss.
Conclusão
Paulo, em suas cartas, construiu seus escritos à partir de textos
anteriores, o que reflete sua boa formação rabínica. O embasamento que
os escritos paulinos têm no Primeiro Testamento denota a idéia de este
foi a primeira Bíblia cristã, e que os eventos neles registrados serviram
para avisar e instruir os cristãos, para quem os séculos precedentes
existiram.
BIBLIOGRAFIA
ALAND, Kurt et al. (Eds.) The greek New Testament. 3a ed. cor. Stuttgart, Alemain: UBS, 1983.
BARRERA, Júlio Trebolle. A Bíblia judaica e a Bíblia cristã: uma introdução à história da Bíblia. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1995.
BERGER, Klaus. As formas literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1998.
BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004.
CROATTO. J. Severino. Hermenêutica Bíblica. São Leopoldo-RS: Sinodal, 1985.
DOCKERY, David S. (Ed.) Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2001.
DODD, Charles Harold. Segundo as escrituras: estrutura fundamental do Novo Testamento. 2a ed. São Paulo:
Paulinas, 1979.
GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento. 3° ed. São Paulo: Editora Teológica, 2003.
GUNDRY, Robert. H. Panorama do Novo Testamento. 4ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1987.
HAYS, Richard B. Echoes of Scripture in the letters of Paul. London: Yale University Press, 1989.
KETTERER, Eliane; REMAUD, Michel. O midraxe. São Paulo: Paulus, 1996.
LADD, Georg Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpetes: uma breve história da interpretação. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 2004.
SCHREINER, J.; DAUTZENBERG, G. Forma e exigências do Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1977.
SWETE, Henry Barclay. An introduction to the Old Testament in greek. Massachussetts: Hendrickson
Publishers, 1989.
ZENGER, Erich (et al). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003.
ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.
1 Neemias de Oliveira é bacharelando pela Faculdade Evangélica de Teologia de Belo Horizonte FATE BH,
onde cursa o 7° período.
2 Primeiro Testamento. Vide discussão apresentada em ZENGER, 2003 p. 19-20.
3 GUNDRY, 1987, 49.
4 Quanto a classificação das cartas paulinas vide BROWN, 2004. p. 55-74.
5 BARRERA, 1995, 603.
6 DOCKERY, 2001, 799.
7 CROATTO, 1985, 41.
8 KETTERER, 1996, 10.
9 CHAMPLIN, 1991, 794.
10 SWETE, 1989, 405.
11 SCHREINER, 1977, 21.
12 DODD, 1979, p. 28.
13 GOPPELT, op. cit., p. 305.
14 BARRERA, 1995, 603.
15 ALAND, 1983, 897-900.
16 BERGER, 1998, 105.
17 HAYS, 1989, 145.
18 KETTERER, 1996, 115.
19 GOPPELT, 2003, 305.
20 BRATCHER, 1987; NICOLE, 1979 apud ZUCK, 1994, 291.
21 ALAND, 1983, 901-911.

http://teologiacomcafe.blogspot.com/2009/04/o-corpus-paulinus-e-suas-fontes.html

Biografia de Saulo de Tarso - Apóstolo Paulo

Saiba um pouco sobre o Apóstolo Paulo

O nome original do Apóstolo Paulo era Saulo; no judaico Saulo, em hebreu Shaul
(Saul) e no grego Saulus. O Apóstolo Paulo nasceu entre os anos 5 e 10 dC, na
cidade de Tarso da Cilícia . Por isso era e é chamado Paulo ou Saulo de Tarso.

"E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em


casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está
orando" (Atos 9:11).
Era filho de judeus, da tribo de Benjamin e como era o costume foi circuncidado
ao oitavo dia. Também cresceu seguindo a mais perfeita tradição judaica.

"Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu


de hebreus; segundo a lei, fui fariseu" (Filipenses 3:5).

Tinha uma irmã e um sobrinho que moravam em Jerusalém.

"E o filho da irmã de Paulo, tendo ouvido acerca desta cilada, foi, e entrou na
fortaleza, e o anunciou a Paulo" (Atos 23:16).

Sua profissão era artesão, fabricante de tendas.

"E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por
ofício fazer tendas" (Atos 18:3).

O seu estado civil também é um tanto incerto, ainda que na maioria das vezes se
afirme que era solteiro. Pelo que vemos nas cartas paulinas, parecia ele ser
solteiro:

"Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem
de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra. Digo, porém,
aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu" (I coríntios 7:7,8).

Alguns ficam em dúvida por causa do que está escrito em I Coríntios:

"Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os
demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?" (I Coríntios 9:6)

Ainda jovem foi para Jerusalém e, na escola de Gamaliel, se especializou no


conhecimento da sua religião. Tornou-se fariseu, ou seja, especialista rigoroso e
irrepreensível no cumprimento de toda a Lei e seus pormenores.

"Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos
pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso de
Deus, como todos vós hoje sois" (AtOS 22:3).

Cheio de zelo pela religião, começou a perseguir os cristãos.

"Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei,


irrepreensível "(Filipenses 3:6).

Esteve presente no martírio de Estevão, cujos mantos foram depositados aos seus
pés.

"E quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também eu


estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as capas dos que o
matavam" (Atos 22:20).

Continuou perseguindo a Igreja até que se encontrou com o Senhor na estrada de


Damasco.
"E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e
mulheres, os encerrava na prisão (Atos 8:3). E Saulo, respirando ainda ameaças e
mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe
cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns
daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. E,
indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o
cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe
dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o
Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os
aguilhões" (Atos 9:1-5).

A experiência de Paulo com Jesus mudou completamente a sua vida. De


perseguidor passou a ser o anunciador até a sua morte.

Na sua primeira missão apostólica, entre os anos 45 e 49, anunciando o Evangelho


em Chipre, Panfilia, Pisidia e Lacaônia (At 13-14), passou a usar o nome grego de
Paulo de preferência a Saulo, seu nome judaico.

"Todavia Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo, e fixando
os olhos nele" (At 13,9).

Era um homem bem preparado, além de conhecer bem a sua religião (o que pode
ser comprovado pelas muitas citações ao AT), possuía boas noções de filosofia e
das religiões gregas do seu tempo. Em Tarso, sua cidade natal, havia escolas
filosóficas (dos estóicos e cínicos) e também escolas de educadores.

Ali nasceu Atenodoro, professor e amigo do imperador Augusto. Paulo algumas


vezes utiliza frases desse educador: “Para toda criatura, a sua consciência é
Deus” (Cf. Rm 14,22a). Ou: “Guarde para você, diante de Deus, a consciência que
você tem” ou: “Comporte-se com o próximo como se Deus visse você, e fale com
Deus como se os outros ouvissem você” (Cf. 1Ts 2,3-7). Além disso conhecia bem
o grego e o método da retórica. Esforçava-se para compreender o modo grego de
viver.

E também era cidadão romano.

"O tribuno mandou que o levassem para a fortaleza, dizendo que o examinassem
com açoites, para saber por que causa assim clamavam contra ele. E, quando o
estavam atando com correias, disse Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito
açoitar um romano, sem ser condenado? E, ouvindo isto, o centurião foi, e
anunciou ao tribuno, dizendo: Vê o que vais fazer, porque este homem é romano.
E, vindo o tribuno, disse-lhe: Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim. E
respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de
cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento" (Atos 22:24-28).

Embora não mencione isso em suas cartas, como se o desprezasse, a sua


verdadeira cidadania é outra pois sua visão era no reino celestial.

"Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o
Senhor Jesus Cristo" (Filipenses 3:20).
Porém, ele soube tirar proveito desse título, bem como de toda a bagagem
cultural adquirida, para conduzir todos a Jesus.

"Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda
mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que
estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão
debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando
sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão
sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo
para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por
causa do evangelho, para ser também participante dele" (I Coríntios 9:19-23).

Lendo as Cartas percebemos o caráter do Apóstolo: às vezes muito meigo e


carinhoso; às vezes, severo. Não abria mão das suas idéias e ameaçava com
castigos. Escrevendo às comunidades comparava-se à mãe que acaricia os
filhinhos e era capaz de dar a vida por eles.

"Antes fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos. Assim nós,
sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não
somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos
éreis muito queridos" (I Tessalonicenses 2:7,8)

Sentia pelos fiéis as dores do parto.

"Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja
formado em vós; Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha
voz; porque estou perplexo a vosso respeito" (Gálatas 4:19,20).

Amava-os, e por isso se sacrificava ao máximo por eles.

"Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda
que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado" (II Corítnios 12:15).

Mas era também pai que educava e gerava as pessoas por meio do Evangelho à
vida nova.

"Assim como bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos, a cada
um de vós, como o pai a seus filhos" (I Tessalonicenses 2:11). "Porque ainda que
tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; porque eu pelo
evangelho vos gerei em Jesus Cristo" (I Coríntios 4:15).

Sentia, pelas comunidades que fundou, o ciúme de Deus, temendo que elas
perdessem a fé.

"Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para
vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo
que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam
de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade
que há em Cristo" (II Coríntios 11:2,3).

Quando se fazia necessário exigia obediência.


"Que quereis? Irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de mansidão?" (I
Coríntios 4:21).

Muitas vezes Paulo é apresentado como alguém distante do povo e das suas
comunidades, incapaz de manifestar sentimentos, indiferente ao drama das
pessoas, anti-feminista, moralista e assim por diante. Os que vêem Paulo com
esses olhos esquecem-se de suas viagens, cadeias, sofrimentos, perigos e,
sobretudo, sua paixão por Jesus e pelo povo. Era capaz de amar todos os
membros de todas as comunidades, sem distinção, chamando-os de queridos,
amados, irmãos e até mesmo filhos. Queria que todos fossem fiéis a Deus.

É interessante ler as suas Cartas e anotar com quanta freqüência ele usava
expressões, tais como: tudo, todo, sempre, continuamente, sem cessar, etc., e
com elas expressar sua constante preocupação para com todos. E basta uma
leitura mais cautelosa das suas Cartas para descobrir que Paulo não é assim tão
insensível e que todo o seu apostolado vem carregado de sentimentos.

"O coríntios, a nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado.
Não estais estreitados em nós; mas estais estreitados nos vossos próprios afetos.
Ora, em recompensa disto, (falo como a filhos) dilatai-vos também vós" (II
Coríntios 6:11-13).

Encontrou dificuldade para ser aceito como Apóstolo. As suspeitas vinham do fato
ser um perseguidor e sobretudo porque não foi escolhido pessoalmente por Jesus.
Quatorze anos após a sua conversão, subiu a Jerusalém, para o Concílio, onde
defendeu a não circuncisão para os pagãos. Ele mesmo se defendeu das
acusações.

"Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é
segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas
pela revelação de Jesus Cristo" (Gálatas 1:11,12).

Para ele, anunciar o Evangelho era uma obrigação:

"Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta


essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!" (I Coríntios 9:16).

Em sua incansável missão de anunciar o Evangelho Paulo sofreu muito, mas não
desistiu. Ele mesmo relata algumas das situações difíceis que passou:

"São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos,
muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de
morte, muitas vezes. Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um.
Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri
naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; Em viagens muitas vezes, em
perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em
perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no
mar, em perigos entre os falsos irmãos; Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas
vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez" (II Coríntios
11:23-27).
Teve que lutar contra os falsos missionários (2Cor 10-12) que anunciavam um
Evangelho fácil, que fugiam da humilhação e da tribulação. Anunciavam um Jesus
sem a cruz. Paulo anunciava o Jesus Crucificado, ainda que isso fosse escândalo.

"Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura
para os gregos" (I Coríntios 1:23).

Porém a cruz não era o fim. O mesmo Jesus da cruz é também o Jesus
Ressuscitado (1Cor 15).

http://curiosobiblico.blogspot.com/2011/06/biografia-de-saulo-de-tarso-apostolo.html

SEGUNDA-FEIRA, 7 DE JUNHO DE 2010

A teologia de São Paulo (Artigo de D. Antonio Couto [Bispo Auxiliar de Braga])

- É do domínio público que Paulo não nos deixou tratados teológicos. Deixou-nos Cartas, que
são sempre escritos de circunstância, endereçados a comunidades concretas ou a pessoas
concretas. É igualmente sabido que as Cartas endereçadas de Paulo surgem quase todas (a
excepção é a Carta aos Romanos) depois do contacto pessoal de Paulo com as comunidades
ou com as pessoas a que a Carta é enviada. É, portanto, inquestionável que as Cartas de Paulo
não são tratados teológicos temáticos abstractos, mas teologia «activa» e «interactiva», que
deixam ver Paulo como teólogo, mas sempre também como apaixonado missionário, pastor,
pai, apóstolo. É, por isso, absolutamente de evitar dissociar o Paulo teólogo da sua vida real,
das suas comunidades concretas, dos seus caminhos poeirentos. Uma vida tão intensa não
pode ser simplesmente anestesiada e dissecada. E é imperioso visitar e revisitar, frequentar,
uma e outra vez, com redobrada atenção e amor, a paisagem epistolar (não paisagem lunar!)
Paulina, em ordem a podermos compreender e receber o forte impacto da mensagem cristã
vivida e endereçada que a atravessa.

- Dado que na teologia de Paulo se entra por caminhos concretos e por Cartas endereçadas,
convém começar por enumerar as sete Cartas autênticas de Paulo, aquelas que
consensualmente se atribuem a Paulo: 1 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses,
Filemon e Romanos, sendo que a primeira (1 Tessalonicenses) terá sido escrita de Corinto no
ano 50 ou 51, e a última (Romanos) terá sido escrita também de Corinto, talvez no Inverno de
55-56. A Segunda Carta aos Tessalonicenses, e as Cartas aos Efésios e Colossenses são hoje
consideradas Cartas editadas tardiamente, depois da morte do Apóstolo, pelos seus discípulos.
Mais tardias ainda serão as chamadas Cartas Pastorais (duas a Timóteo e uma a Tito).

- Nota-se, neste elenco, o lugar privilegiado que ocupa a Carta aos Romanos. É a última Carta
autêntica de Paulo, e a única que escreve a uma comunidade que ainda não conhece
pessoalmente. O que escreve não tem, por isso, tanto a ver com a situação da comunidade
cristã de Roma, mas com as preocupações e anseios que Paulo vive nessa altura, depois de dar
por terminada a sua missão na parte oriental do império romano (Romanos 15,19.23), e antes
de partir para Jerusalém na mais arriscada das suas viagens, a viagem da comunhão das Igrejas
em Cristo, a viagem da unidade, a verdadeira viagem da sua vida. A Carta aos Romanos é o
último escrito saído da mão de Paulo, obra madura, amadurecida nas esperanças e nas dores,
súmula das suas cartas anteriores e de todas elas a mais extensa (7101 palavras) e completa,
que bem podemos considerar o testamento espiritual do Apóstolo. De fato, Paulo vive,
anuncia, ensina e escreve a unidade e a liberdade de todos em Cristo, e é por esta realidade
que dará a vida.

- É quase um aforismo dizer-se que a história da teologia cristã se revê na história da
interpretação da Carta aos Romanos. Ou que «as grandes horas da história» são as da Carta
aos Romanos (P. Althaus). É sabido que Agostinho consumou a sua conversão quando, como
ele conta nas Confissões VIII, 12, motivado pelo canto de uma criança que repetia «Toma e lê!
Toma e lê!», pegou nas Cartas do Apóstolo, abriu à sorte e à sorte leu Romanos 13,13b-14:
«Não em orgias e bebedeiras, não em devassidão e libertinagem, não em rixas e ciúmes, mas
revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não presteis atenção à carne através da concupiscência ».
Nascia assim um dos teólogos mais influentes da história do cristianismo. Grande impacto para
o cristianismo e para a civilização ocidental teve outra vez a Carta aos Romanos, quando
Lutero começou a proferir sobre ela as suas primeiras lições, na Universidade de Wittenberg,
em 1515-1516. «Uma bomba no recinto de recreio dos teólogos»: foi com estas palavras que
Karl Adams definiu o enorme impacto do grande Comentário sobre a Carta aos Romanos de
Karl Barth, publicado em 1918 (2.ª ed. Muito melhorada em 1022), e que inaugurou uma nova
era na teologia do século XX. A Carta aos Romanos marcou indelevelmente a Igreja primitiva,
mas também a Idade Média e a Idade Moderna. E marcará, também, seguramente todos
aqueles que ousarem confrontar-se com ela de forma séria. Um pouco como confessa o
conhecido exegeta Lagrange que, em 1916, publicou Saint Paul, Épître aux Romains, e
confessa: «O primeiro contacto foi arrasador» (Avant-propos, III).

- Salta à vista que não se pode anestesiar tamanho impacto, sob pena de ficarmos com uma
idéias sobre S. Paulo, mas de não o recebermos corretamente. Proponho, pois, que não
dissequemos S. Paulo em tranquilas idéias teológicas, seguramente redutoras, mas o
acompanhemos nos caminhos poeirentos e tortuosos da sua vida.

- Que tesouro transporta, com orgulho, este judeu piedoso, organizado, determinado e
apaixonado? (2 Coríntios 11,22; Romanos 11,1; Filipenses 3,5-6; Gálatas 1,13-14).

- A «reviravolta» ou o novo começo de Paulo, imprevisível e não programável, operada por
uma luz que vem de fora, por Cristo, dita com dois verbos de Revelação (1 Coríntios 15,3-5.8-
10; Gálatas 1,11-12.15-16) e um de Luta (Filemon 3,12-13).

- A experiência da Graça e do Amor novo, que não pode mais deixar de dizer: é assim que abre
e fecha todas as suas cartas.

- O coração e os olhos de uma testemunha, com um Amor perfeito e um Ver perfeito (1
Coríntios 9,1), o que significa que Paulo não deixará mais de amar e ver Cristo Ressuscitado.
Paulo sabe que Outro morreu por ele, por amor. É, por isso, que é um bom teólogo, para usar
as palavras de Soren Kierkegaard.
- A necessidade de anunciar esta imensa notícia de Cristo, que não pode conter, porque
transvaza dele (1 Coríntios 9,16).

- A Igreja como “ekklésía”, obra de um Deus que chama e ama.

- A metodologia maternal e paternal da Evangelização que Paulo vive e efetua: gerar, dar à luz,
acalentar, tratar com ternura e afeto entranhado (1 Coríntios 4,14- 15; Filemon 10; Gálatas
4,19; 1 Tessalonicenses 2,2-12; Filipenses 1,7-8).

- A outra rede da missão feita de muitos e bons cooperadores (Romanos 16,1-15).

http://escritosdepaulo.blogspot.com/2010/06/teologia-de-sao-paulo.html

QUINTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2010

Paulo, o Apóstolo dos Gentios (I)

INTRODUÇÃO

Archibald Thomas Robertson afirmou com muita propriedade que, excetuando o próprio Jesus,
Paulo é o principal representante de Cristo e o expoente mais hábil da fé cristã.[i] O apóstolo
dos gentios desempenhou diversas funções no cristianismo primitivo: missionário, apologista,
hagiógrafo, mestre, polemista, entre outras importantes atribuições.

Enquanto em Atos dos Apóstolos Pedro é proeminente nos primeiros doze capítulos, o


missionário da incircuncisão ocupa a segunda e maior metade do livro, do capítulo 13 a 28.
Além da proeminência que Lucas dispensa ao fundador das igrejas gentílicas em Atos dos
Apóstolos, Paulo foi o escritor sacro mais profícuo do Novo Testamento. Dos vinte e sete
livros, escreveu treze epístolas, conhecidas como corpus paulinum e, dos duzentos e oitenta e
oito capítulos do Novo Testamento, escreveu cento e quinze, restando apenas cento e setenta
e três para todos os demais hagiógrafos. De seu cálamo incansável, diz F.F.Bruce, Paulo deixa
patente “quão familiarizado era com os ensinos do Senhor”.[ii]

Paulo foi derrubado para ser cegado;


foi cegado para ser mudado;
foi mudado para ser enviado;
foi enviado para que a verdade aparecesse”
(Santo Agostinho)

I. Paulo, o cidadão histórico

A identidade e historicidade de Paulo jamais foram seriamente postas em dúvida. Ernest Renan
(o Cético), por exemplo, no segundo volume, Les Apotres (Os Apóstolos), da famosa
obra Histoire des Origines du Christianisme (33-45), afirma que Paulo foi a maior conquista
da Igreja Primitiva e o “mais ardente dos discípulos de Jesus”.[iii] Se por um lado o Cético
atestava a veracidade de Paulo, por outro, Marcião o considerava, em detrimento aos demais,
o único apóstolo de nosso Senhor Jesus Cristo.

Já o biblicista Fabris declara que Paulo é o personagem da primeira geração de cristãos que


possui as mais comprobatórias evidências de sua pessoa e trabalho.[iv] As fontes tão variadas
são que o exegeta classificou-as em:

 fontes cristãs canônicas – o epistolário paulino;

 fontes cristãs apócrifas – Atos de Paulo e Tecla, Apocalipse de Paulo, o Martírio de


Paulo [...];

 fontes profanas – de caráter epigráficas, literárias, papirológicas e arqueológicas [...].


[v] A essas fontes devemos acrescentar os testemunhos dos sucessores dos primeiros
apóstolos: Clemente de Roma, Inárcio, Policarpo e até mesmo as evidências em
Marcião, o herege.

Essas evidências textuais, seja canônica, seja profana, literária ou arqueológica, auxiliam no
estabelecimento e compreensão do contexto eclesiástico dos primeiros cinco séculos da Igreja
Cristã. Sabe-se pelos registros dos cristãos que viveram os quingentésimos anos da Igreja, que
os Pais jamais contestaram a historicidade de Paulo, muito embora haja discordância a
respeito de suas epístolas. Atualmente, as controvérsias referem-se mais a autoria de algumas
epístolas, chamadas deuterocanônicas, do que propriamente a pessoa e obra do apóstolo
Paulo. Há, portanto, mais evidências da pessoa, ensinos e obras de Paulo do que qualquer
outro grande personagem cristão da igreja nascente.

FONTES HISTÓRICAS DA VIDA DE PAULO

Epistolário Paulino
Cristãs Apócrifas

Profanas

Pais Apostólicos

Gráfico 1: Taxonomia das fontes paulinas.

1. Saulo de Tarso

Paulo era natural da célebre[vi] cidade de Tarso, localizada na Cilícia (At 9.11; 11.25; 21.39; At
22.3; Gl 1.21). Essa rica e culta cidade de língua grega ficava 26 metros acima do mar e distante
16 quilômetros do nível do Mediterrâneo. [vii] Além de ser uma das mais antigas cidades do
mundo, no século 1, era a capital e a maior cidade da Cilícia.

A população de Tarso jactava-se de sua riqueza agrícola e 


comercial, bem como de sua universidade, julgada superior às grandes academias de
Alexandria e Atenas. O historiador, geógrafo e filósofo grego Estrabão (58 a.C.) descreve o
povo de Tarso como “apaixonados pela filosofia” e de “espírito enciclopédico”; e a cidade
como aquela que eclipsou todas as outras que foram “terra natal de alguma seita ou escola
filosófica”.[viii]

Do vulto de seus intelectuais, a cidade de Tarso orgulhava-se do filósofo estoico Athenodoros,


nascido em 74 a.C., preceptor de César e autor profícuo de diversas obras históricas e
filosóficas.[ix] Murph-O’Connor, assinala que os habitantes de Tarso eram seriamente
entusiasmados com a educação, a ponto de saírem da terra natal em busca de mais
conhecimentos.[x]

1.1. A educação do jovem hebreu de Tarso

A influência da cultura e do espírito crítico da cidade de Tarso nota-se na formação heleno-


latina de Paulo. Como já citei em nossa obra Hermenêutica Fácil e Descomplicada, em Atos
17.28, por exemplo, o apóstolo cita o poeta e filósofo estoico natural da Cilícia, Arato (315-240
a.C.), e também a poesia Hino a Zeus, do filósofo estoico Cleantos (331-232 a.C.), discípulo de
Zenão de Cício (332-269 a.C.), fundador da escola estoica.

Em 1 Coríntios 15.32, Paulo faz também uma referência provável a Isaías 22.13: “Comamos e
bebamos, que amanhã morreremos”. Todavia, escavações arqueológicas descobriram em
Anquiale, cidade vizinha a Tarso, uma estátua do fundador da “metrópole da Cilícia”,
Sardanapalo, com a seguinte inscrição: “Come, bebe, desfruta a vida. O resto nada significa”. É
provável que Paulo ao citar positivamente a exortação de Isaías tivesse intenção de criticar
essa declaração hedonista.[xi]
Embora empregasse diversos recursos estilísticos e retóricos greco-romanos, e citasse
perícopes e versos dos filósofos e poetas, a exegese paulina era fundamentalmente hebraica,
condicionada, principalmente, pela sua formação judaica e leitura do Antigo Testamento dos
Setenta. Mas o que sabemos concretamente a respeito da formação de Paulo em Tarso?

Entre os especialistas não há muita unidade a respeito da formação universitária de Paulo.


Todos concordam que ele era um judeu culto da diáspora e familiarizado com a poesia e
filosofia de sua época, porém discordam entre si a respeito da educação formal de Paulo. F. F.
Bruce, baseado em Atos dos Apóstolos 22.3, afirma que Paulo embora “nascido em Tarso, foi
educado em Jerusalém” e, por essa razão, o erudito não aceita a hipótese de que Paulo tenha
frequentado as escolas de Tarso, muito embora vivesse em um centro de cultura grega. [xii]

Outro biblista, Christopher Forbes, ao comparar as epístolas paulinas com os recursos retóricos
antigos, se convence de que “Paulo não é, em termos greco-romanos, um ‘homem de
letras’ (anēr logios, At 18.24)”.[xiii] Para Forbes, a educação formal de Paulo não atingiu os
níveis superiores.

Todavia, Ronald F. Hock afirma que “as cartas de Paulo, a despeito de seus desmentidores,
denotam uma pessoa que havia passado pela sequência curricular da educação greco-
romana”. [xiv] Para provar sua assertiva, Hock recorre à estrutura da educação formal do
primeiro século e sua relação com as citações paulinas dos poetas e filósofos. As citações
primárias de filósofos como Eurípedes e Menandro, justificam, para o rapsodo, a passagem de
Paulo pela primeira etapa da educação grega ou pelo currículo primário; e o uso de recursos
literários e das citações explícitas da Septuaginta, a participação no currículo secundário. Hock
está convencido, pela análise da extensão, complexidade e vigor das epístolas paulinas que o
seu autor “recebeu um treinamento continuado em composição e retórica” e, por essa razão,
cursou o currículo terciário, que preparava os seus aprendentes nessas técnicas.[xv]

Há tantas lacunas cronológicas na biografia de Paulo, que estou convencido de que nenhuma
das posições pode ser afirmada com certeza, e a exiguidade desse espaço não permite
aprofundar as discussões. Contudo, o fato de o apóstolo ser educado em Jerusalém, não
significa necessariamente que ele não completou os estudos formais comuns aos jovens de
Tarso. Para retomar de outro modo a generalidade do problema, a dificuldade de se encontrar
os elementos retóricos mais sofisticados e apurados nas epístolas, justifica-se por elas não
serem tratados retóricos formais, mas escritos desenvolvidos para dirimir dúvida e
controvérsias pontuais nas igrejas cristãs citadinas. Paulo as escreve na urgência do trabalho
missionário, como justifico em nossa obraIgreja: Identidade e Símbolos.[xvi] É óbvio que os
escritos de Paulo testificam da genialidade de seu autor. Dificilmente alguém negaria ao
apóstolo o status de pessoa educada e instruída na filosofia, retórica e composição literária. De
modo geral, em círculos mais ortodoxos, a cristandade está mais disposta a aceitar a posição
de Hock do que a de Bruce e Forber, muito embora alguns especialistas prefiram o contrário.

Controvérsias à parte, independente de Paulo ter cursado ou não uma universidade em Tarso,
ele era um teólogo e homem extremamente culto. E as influências culturais de ser criado em
uma cidade cosmopolita, que se orgulhava de seu sistema de ensino e de seus filósofos,
deixaram marcas indeléveis no jovem judeu de Tarso.
Todavia, Paulo mostra-se reticencioso no emprego de sua educação na formação das igrejas
cristãs citadinas. Apesar de encontrarmos diversos recursos estilísticos e retóricos no
epistolário paulino, o apóstolo recusava-se, como afirmou Ronald F. Hock, a “incorporar a
sabedoria mundana na sua pregação apostólica (1 Co 2.1-4).” [xvii]

Notas

[i] ROBERTSON, A.T. Épocas na vida de Paulo: um estudo do desenvolvimento na carreira de


Paulo. 2.ed., Rio de Janeiro: JUERP, 1982, p.17.

[ii] BRUCE, F.F.Merece confiança o Novo Testamento? São Paulo: Edições Vida Nova, 1965, p.
102.

[iii] RENAN, Ernest. Histoire des Origines du Christianisme (33-45): Les Apotres. Paris:


Calmann-Lévy, Éditeurs [?], p.163.

[iv] FABRIS, Rinaldo. Para ler Paulo. São Paulo: Edições Loyola, 1996, p.7.

[v] Id.Ibid., p.7-12.

[vi] Em At 21.39, Paulo refere-se a Tarso como “cidade pouco célebre na Cilícia”,
provavelmente faz jus a Estrabão que da cidade dissera, “ela pode reivindicar o nome e o
prestígio de metrópole da Cilícia”; Geografia XIV, 5.5-15, apud Fabris, Id.Ibid., p.22.

[vii] Ver PFEIFFER, C. F. (et al.) Dicionário bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.1884.

[viii] Descrição geográfica e histórica da cidade de Tarso feita por Estrabão, Geografia XIV, 5.5-
15, apud Fabris, Id.Ibid., p.22.

[ix] Estrabão afirma que a cidade possuía dois grandes intelectuais de mesmo nome, o citado é
Athenodoro Cananita, tutor e conselheiro de Augusto, e o outro é o Estóico, companheiro de
Cato, o jovem; Geografia XIV, 5.5-15, apud Fabris, Id.Ibid., p.22.

[x] MURPHY-O’CONNOR, Jerome. Paulo, biografia crítica. São Paulo: Edições Loyola, 2004,


p.50.

[xi] BENTHO, Esdras C. Hermenêutica fácil e descomplicada: como interpretar a Bíblia de


maneira prática e eficaz. 9.ed.,Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.196-198; ver ainda CHAMPLIN,
R.N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Candeias, 1995,
p.377, vl. III, Atos a Romanos.

[xii] BRUCE, F.F. Paulo nos Atos e nas Cartas. In: HAWTHORNE, Gerald F.; MARTIN, R.P.; REID,
D.G. (orgs.) Dicionário de Paulo e suas Cartas. São Paulo: Paulus, Vida Nova, Edições Loyola,
2008, p.940.
[xiii] FORBES, Christopher. Paulo e a comparação retórica. In: SAMPLEY, J. P. (org.) Paulo no
mundo greco-romano: um compêndio. São Paulo: Paulus, 2008, p.133.

[xiv] HOCK, Ronald F. Paulo e a educação greco-romana. In: SAMPLEY, J. P. (org.) Paulo no


mundo greco-romano: um compêndio. São Paulo: Paulus, 2008, p.185.

[xv] HOCK, Ronald F. Id. Ibid, p.186,187.

[xvi] BENTHO, Esdras C. Igreja: Identidade e Símbolos. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

[xvii] HOCK, Ronald F.Id. Ibid, p.171.

http://teologiaegraca.blogspot.com/2010/10/paulo-o-apostolo-dos-gentios-i.html

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