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SERMÃO DE Nº 82

A SUPREMA SUFICIÊNCIA DE JESUS CRISTO

(PARTE UM)

Colossenses 1.1-12

Introdução

A carta de Paulo direcionado aos irmãos colossenses é um dos menores livros


do novo testamente, possuindo apenas 4 capítulos, apesar de ter sido escrita no
ano 60 d. C, durante a primeira prisão de Paulo em Roma. Numa provável prisão
domiciliar ele tenha recebido varias visitas de irmãos, assim como Épafras,
então a sua carte é uma resposta ao relato de Épafras a igreja daquela época.
Ainda assim essa carta possui em seu conteúdo lições preciosas para nós
igrejas contemporâneas.

A vital importância desta carta esta em virtude de que em nenhuma outra carta
Paulo trata tão bem a cerca da pessoa de Cristo como em colossos, há de fato
algo surpreendente em colossos, uma cidade tida como insignificante para sua
época, quando o comercio e as grandes cidades atraiam as multidões, mas nem
sempre Colossos foi assim.

Colossos era uma antiga cidade da Frígia, situada na margem esquerda do rio
Lico, a 200 km de Éfeso e uns 15 km de Laodicéia e 20 km de Hierápolis. As três
cidades estavam situadas na região sul da Frígia. No I século tinha em torno a
200 mil habitantes.

Os escritores gregos, Heródoto e Xenofonte, descrevem Colossos como a mais


bela, rica e importante cidade da região. Por ela passava uma importante
estrada que unia Éfeso à Cilicia e à Síria. Por ali passaram os exércitos dos reis
persas Ciro e Xerxes em suas conquistas da Ásia Menor. A região circunvizinha
eram ricas em pasto; daí a grande criação de gado miúdo. Colossos era
importante porque nela havia uma grande indústria de lã.

Porém, a partir de 250 a. C, a cidade foi perdendo importância, pois Antíoco II


fundou sobre a antiga cidade chamada Dióspolis ou Roas, a cidade de Laodicéia
em honra de sua mulher Laódice. A nova cidade, distante apenas 16km de
Colossos, tornou-se uma importante sede de uma escola de médico-oculistas
(Ap 3,8) e anos mais tarde tornou-se a capital do distrito.

Toda essa região tornou-se depois domínio do rei Átalo III de Pérgamo, que em
133 a.C. deixou seu reino para os Romanos. Em 129 a.C a Frígia tornou-se
parte da Província Romana da Ásia.

Assim, na época de Paulo, Colossos era uma pequena e insignificante cidade da


Ásia. Pelo ano de 60/61 a.C, durante o império de Nero, as três cidades,
Colossos, Laodicéia e Gerápolis, foram destruídas por um terremoto que assolou
todo o vale do rio Lico. Podemos supor que a carta de Paulo foi escrita antes do
terremoto, tendo em vista que não há citação em sua carta, e seria bem natural
que Paulo fizesse alguma recomendação a esse respeito.
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As cidades foram reconstruídas, mas a primazia coube a Laodicéia e Gerápolis.
Gerápolis tinha se tornado um importante centro por causa de suas águas
termais. Em 628, a cidade foi novamente destruída por outro terremoto e nunca
mais foi reconstruída. Seus habitantes fundaram uma nova cidade 4km ao norte
com o nome de Khonas.

A comunidade de Colossos

Segundo os Atos dos Apóstolos, Paulo evangelizou a Frígia em duas ocasiões:


na sua segunda viagem missionária quando percorreu a região norte indo da
Psídia para a Galácia (At16,6); e na terceira viagem ao dirigir-se para Éfeso (At
18,23). Porém, baseados em Cl 2,1, podemos deduzir que ele nunca esteve em
Colossos e Laodicéia. Por conseguinte, essas comunidades não foram fundadas
diretamente por ele. Foram seus colaboradores que evangelizaram a região sul
da Frígia.

As Igrejas de Colossos e as de Laodicéia e Gerápolis foram fundadas por


Épafras, um colossense. Provavelmente com Filemon, outro colossense, e
Ninfas, natural de Laodicéia, encontrou Paulo em Éfeso e se converteu. Paulo o
chama de “nosso amigo e companheiro de serviço...” (Cl 1,7).

O povo frígio era propenso ao misticismo e à fantasia. Praticava um culto


supersticioso aos anjos e demônios que existia ainda no século IV como
demonstram as atas do Concílio de Laodicéia.

Há um consenso em afirmar que esta heresia que estava assolando a igreja


colossos tenha sido um tipo embrionário de gnosticismo ou pré-gnosticismo.
Consistindo em uma mistura de filosofia grega com judaísmo pós-cristão.

Em resumo este gnosticismo “depositou no seio da igreja (um pensamento que)


que alegava apresentar um conhecimento secreto e misterioso a respeito de
Deus para poucos privilegiados”.

Não fosse a ação de Deus em levantar homens como Irineu e Tertuliano que
combateram ferrenhamente esse pensamento a igreja não teria resistido.

Mesmo com esse pensamento tendo sido derrotado, ainda assim devemos nos
precaver contra certas linhas que são derivações claras do gnosticismo,
apresentando a ideia de conhecimento secreto sobre Deus, um mistério que vai
além das escrituras reveladas, que Deus teria reservado para uns poucos
privilegiados.

Agora sim analisando o texto

Já nos dois primeiros versos vemos sua costumeira saudação e já vemos


algumas informações.

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Ele nos informação seu desígnio, (1) “Paulo apostolo de Cristo, pela vontade
de Deus”. Esta sua introdução é muito frequente, para que não haja duvidas de
sua autoria e autoridade que não procedem do próprio apostolo, mas de Deus.
Vemos também uma referencia a Timóteo que estava com Paulo e que ao que
tudo indica, por também ser algo frequente de Paulo, é provável que Timóteo
tenha auxiliado Paulo como seu amanuense. Transcrevendo as palavras ditadas
pelo apostolo.

Em seguida, vemos a quem foi direcionada a carta em especifico (2) “aos


santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontra em Colossos, graça e paz
a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai”.

Apesar da crescente influencia da heresia de colossos havia uma grande parte


de irmãos que estavam firmes, tornando a carta de Paulo dupla.

Em primeiro lugar Paulo deseja fortalecer os irmãos munindo-os com as armas


da fé.
E em seguida, combater essas heresias, pelo próprio evangelho.

Por essa firmeza, Paulo os elogia e não só isso mais também ora por estes
irmãos, (3) “Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, quando oramos por vós,” ”é importante ressaltar que Paulo, mesmo
não conhecendo os irmãos pessoalmente, mas tendo recebendo o relado de
Épafras é suficiente para colocar estes irmãos em suas orações “o apóstolo
orava não somente pelos que conhecia, mas também pelos que não
conhecia”. Orava por aqueles que tinham noticias, onde quer que o
evangelho estivesse sendo pregado e a palavra de Deus fosse anunciada”.
No verso (9) “Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos,
não cessamos de orar por vós...”.

(4) “Desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes
para com todos os santos”. Este gnosticismo embrionário sugeria alguns
questionamentos sobre a capacidade de Cristo, de ser ou não suficientes para a
salvação e neste breve verso ele lembra aos colossenses que o que eles já têm
em Jesus é suficiente.

(5) “Por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual
antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho”.

Fé, amor e esperança. Essas qualidades formam a base para o agradecimento


de Paulo e são fundamentais para seu entendimento da vida cristã. (Rm 5.2-5;
1Co13.13; GI 5.5-6; 1Ts 1.3; 5.8; cf. Hb 10.22-24) elas são dons de Deus, não
virtudes produzidas pelos próprios cristãos. Por isso Paulo enfatiza a soberania
de Deus em não só dar salvação, mas também a segurança dos Cristãos
mediante seu relacionamento com o Cristo.

(6) “que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo
fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e
entendestes a graça de Deus na verdade”. 

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Neste verso Paulo, expande a nossa visão para percebermos que colossos é
uma dentre todas as cidades que foram impactadas pelo evangelho, com a boa
nova de Jesus Cristo, é preciso salientar que Paulo se utiliza de uma hipérbole
aqui, todo o mundo aqui o mundo conhecido até então, isso não pode ser
imposto para dizer que nos tempos de Paulo assim como em nossos dias
existem lugares onde o evangelho ainda não foi pregado.

Todavia como disse Albert Barnes, “o evangelho [...] não foi confinado aos
judeus, ou limitado ao país estreito onde foi pregado pela primeira vez,
mas foi enviado ao exterior para os gentios”.

O que nos parece é que o apostolo Paulo quer levar esses irmãos a gratidão,
pois foi a eles que o evangelho foi enviado. Deus em sua rica misericórdia
decidi-o que eles assim como nós, ouvíssemos e que alguns crescem.

(7) “segundo fostes instruídos por Épafras, nosso amado conservo e,


quanto a vós outros, fiel ministro de Cristo”. 

Como está claro Paulo não só não conhecia os irmãos de colossos


pessoalmente como também não foi ele que os instrui-o a cerca do evangelho,
pelo menos não diretamente, pois colossos foi evangelizada por Épafras o qual
Paulo disponha de nos expressar algumas características, pois dele nada
sabemos a não ser o que Paulo diz.

 Nosso amado;
 Conservo;
 Fiel ministro de Cristo.

(8) “o qual também nos relatou do vosso amor no Espírito”.

Ao que parece mesmo não conhecendo Paulo pessoalmente os irmãos em


colossos tem demonstrado de alguma forma um amor por Paulo um “amor
operado em você pelo Espírito Santo. Não foi mera afeição natural, mas o
amor operou em seus corações pela ação do Espírito Santo”.

Agora Paulo responde aos irmãos com o resultado de tudo isso, veremos a
seguir os quatro clamores da oração de Paulo a Deus pela igreja de Colossos:

1. Em primeiro lugar, CONHECIMENTO DA VONTADE DE DEUS - (9)


“Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não
cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno
conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento
espiritual”. Quanto mais Paulo conhece essa igreja, mas ele deseja intensificar
suas orações por essa igreja. Vemos que isso foi mencionado em
geral, Colossenses 1: 3, mas agora mais particularmente, para que sejais
cheios do conhecimento da sua vontade. Da sua vontade revelada. Com toda
a sabedoria do alto. E compreensão espiritual - Para discernir por essa luz tudo
o que concorda com, ou difere, a sua vontade .

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O fascinante é como Paulo usa os termos que eram conhecidos pelos pagãos
gnósticos, para ressaltar a supremacia de Cristo. O termo usado aqui é Gnose
que se refere ao conhecimento que só pode ser transmitido por Deus.

Em outras palavras o que Paulo esta dizendo é que em quanto à heresia de


colossos, promete um conhecimento diferente que será dado a alguns seres
especiais, não um conhecimento banal e místico, mas da vontade de Deus.

Paulo esta dizendo que Deus Já lhes deu o melhor e o maior conhecimento, o
de pode conhecer e entender a vontade daquele que tudo criou. Por isso Paulo
ora para que os irmãos se encham desse conhecimento, porem eles já o
possuem através do evangelho. Não há outro pensamento, outra revelação tudo
o que Deus quis revelar esta revelado e o que vier depois disso é maldito, e trará
maldições para os que pregam assim como os que nelas creem. (Gl 1. 8-9)

2. Em segundo lugar, VIDA DIGNA DO SENHOR - (10) “a fim de viverdes


de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda
boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus”.

Viver de maneira digna do Senhor é o resultado da compreensão do verdadeiro


conhecimento, não é possível ser levado à compressão do evangelho e não
haver mudança de vida na pratica. Como diz o pastor Augustos “aquilo que
uma pessoa professa e pensa controla suas atitudes, suas ações, suas
escolhas e seus posicionamentos”.

Paulo ora, assim, para que eles tenham o pleno conhecimento de Deus com
o intuito de viver de forma digna do Senhor, por causa da ética dos gnósticos.
Tal ética podia seguir em duas direções: havia os gnósticos que adotavam o
ascetismo e a negação plena da materialidade do corpo e havia aqueles que
desconsideravam o corpo e se entregavam aos prazeres — devido ao
argumento de que, uma vez que o corpo é inferior, Deus não se preocuparia
com ele. Esses dois tipos de ética eram encontrados no pensamento gnóstico,
mas nem uma coisa nem outra levariam a uma vida digna de Deus. Aquelas
atitudes não fariam ninguém observar o comportamento de seus praticantes e
dizer que, de fato, Deus é real e o evangelho é verdadeiro.

3. Em terceiro lugar, CRESCIMENTO EM SANTIDADE - (10) A terceira


petição de Paulo é para que os colossenses frutifiquem em boas obras (1.10b),
ou seja, produzam frutos, abençoem as pessoas e façam aquilo que agrada a
Deus, como está em 1 Pedro 1:15,16 “como é santo aquele que vos
chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver;
Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”.

Enquanto os gnósticos ensinavam um conhecimento adquirido quase que


instantaneamente, por meio de uma suposta iluminação, o apóstolo explica que
esse pleno conhecimento de Deus é algo que exige crescimento. É por isso que
na Bíblia e também na teologia cristã se ensina que a santificação é progressiva.

A perfeição espiritual e moral aqui neste mundo é um conceito inexistente no


cristianismo histórico. Não se pode afirmar, com base nas Escrituras, que vai

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chegar um momento na vida terrena em que o indivíduo alcançará a perfeição
ou o pleno conhecimento de Deus. O crescimento no conhecimento do Senhor
tem como consequência o crescimento também em santidade, pois os dois
fenômenos são inter-relacionados. Quanto mais se conhece Deus, mais
dignamente se vive com relação a ele e mais se frutifica em boas obras. 

Embora haja no cristão um crescer constante do conhecimento de Deus,


ele nunca chegará ao ponto que os gnósticos ensinavam, de perfeição plena
neste mundo. Essa esperança está reservada para o mundo ainda por vir, para
cada crente em Jesus. Aqui na terra, a igreja caminha de forma imperfeita em
direção à eternidade, crescendo e aprendendo sempre. Todo ensinamento que
propõe um ponto ideal neste mundo não condiz com o que a Palavra de Deus de
fato ensina.

4. E por quarto e ultimo lugar, FORTALECIMENTO ESPIRITUAL - (11)


“sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em
toda a perseverança e longanimidade; com alegria”. (12) “dando graças ao
Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na
luz”.

Paulo pede ainda que os crentes em Jesus sejam “fortalecidos com todo
vigor, segundo o poder da sua glória” (1.11), para que perseverem na
verdade do evangelho e sejam pacientes em meio a toda provação e tentação.
Paulo certamente tem em mente os desafios que aquela seita representa. Sua
oração contempla o desejo de que os colossenses vivam em atitude de gratidão
para com Deus, “que vos capacitou a participar da herança dos santos na
luz”. 

O contraste entre luz e trevas é mais um elemento que se encontra no


âmbito dos conceitos do gnosticismo, das religiões de mistério e até do
pensamento dos essênios e do judaísmo do período intertestamentário. Aqui
Paulo lança mão dos jargões conhecidos para recomendar aos irmãos de
Colossos que sejam gratos a Deus porque os fez idôneos, dignos de participar
da herança de Deus na luz. 

Luz, nesse contexto, é uma palavra que se aplica metaforicamente a tudo o que 
é de Deus: verdade; santidade; graça de Deus; amor de Deus; o que é certo,
correto e verdadeiro, em claro contraste com o que eles eram antes. Assim,
Paulo ora para que sejam gratos, pois o Senhor já havia cumprido para com eles
a promessa que aquela seita fazia: ele já os havia tornado dignos de receber a
herança dos santos na luz. 

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