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IBADIG – MÉDIO

2023
EPÍSTOLAS PAULINAS
PROF. FELIPE LIMA
AS EPÍSTOLAS PAULINAS DA PRISÃO
Uma abordagem sintética

COLOSSENSES: CRISTO, O CABEÇA DA IGREJA

Tema
Em sua epístola aos Colossenses, Paulo enfoca a pessoa divina e a obra criadora e remidora
de Cristo, em contra-ataque à desvalorização de Cristo, conforme vinha sendo feito por certa
variedade particular de heresia, que ameaçava a igreja de Colossos. Em seguida, Paulo extrai as
implicações práticas dessa exaltada cristologia no tocante à vida e à conduta diária dos crentes.

Cidade de Colossos
Situada no vale do rio Lico, Colossos ficava numa das regiões mais férteis do mundo, onde
pastagens luxuriantes hospedavam muitos rebanhos. Era um grande centro de
tecelagem, no qual se fabricavam as melhores lãs do mundo. Werner de Boor diz que a fertilidade
do vale dos rios Lico e Meandro, o tráfego comercial muito ativo e uma florescente tecelagem
geravam prosperidade e despertavam o espírito comercial e empresarial. Sua população consistia
de nativos locais (frígios), gregos e judeus. Colossos era uma cidade povoada por uma grande colônia de
judeus.
A região frigia do vale do rio Lico foi densamente povoada pelos judeus. Cerca de duas mil
famílias judias haviam sido deportadas da Babilônia e Mesopotâmia para essa região, por decreto
de Antíoco, o grande, no século quarto a.C. Esses judeus floresceram financeiramente nessa região
e cresceram em número.
Colossos era um canteiro fértil para o paganismo sincrético. Ralph Martin diz que o cenário
religioso na Frigia era eminentemente pagão. Florescia ali o culto a Cibele, a grande deusa-mãe da
Ásia. Todos os frígios a adoravam. A Frigia era o centro do culto a Cibele.

Fundação da igreja de Colossos


A cidade de Colossos ficava no vale do rio Lico, em um distrito montanhoso acerca de
160km de Éfeso. As cidades vizinhas de Laodicéia e Hierápolis ultrapassavam a Colossos em
escala de importância. A maneira distante com que Paulo diz que “ouvira” a respeito da fé cristã
de seus leitores (vide 1.4), e a inclusão desses leitores entre aqueles que nunca o tinham visto face a
face (vide 2.1) subentendem que Paulo nem fundara a igreja de Colossos e nem a visitara ainda. E
visto que os crentes colossenses tinham aprendido sobre a graça de Deus por intermédio de
Epafras (vide 1.6,7), este último é que deve ter sido fundador daquela igreja. Não obstante, Epafras
estava em companhia de Paulo, quando o apóstolo escreveu esta epístola (vide 4.12,13).
Podemos concluir disso que Epafras se tornara cristão através do ministério de Paulo
em Éfeso, que ele então se pôs a evangelizar a região circunvizinha de Colossos, Laodicéia e
Hierápolis, e que depois visitara a Paulo na prisão, a fim de solicitar seus conselhos acerca de uma
perigosa heresia que ameaçava tragar a igreja de Colossos. Paulo não foi a Colossos, mas a Palavra
de Deus chegou até lá através de Epafras, que fundou a igreja. As igrejas das cidades vizinhas de
Colossos, a saber, Laodicéia e Hierápolis, provavelmente também foram fundadas e pastoreadas
por Epafras (4.13).

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Uma igreja gentílica


Os crentes de Colossos eram predominantemente gentios. Paulo os classifica entre os
incircuncisos (vide 2.13). Em Colossenses 1.27, as palavras “entre os gentios” e “em vós” parecem
expressar pensamentos paralelos e equivalentes. E a descrição dos colossenses como quem outrora
foram “estranhos e inimigos no entendimento” (vide 1.21) faz-nos lembrar de fraseologia similar,
em Efésios 2.11 ss., onde Paulo indubitavelmente se reporta a gentios.

A heresia colossense
A epístola aos Colossenses gira em torno da chamada “heresia colossense”. Podemos
inferir certas características daquela falsa doutrina com base no contra-ataque de Paulo. Essa
heresia detratava a pessoa de Cristo, razão pela qual o apóstolo frisa a proeminência de Cristo
(vide 1.15-19); dava ênfase à filosofia humana, isto é, especulações vazias, à parte da revelação
divina (vide 2.8); continha elementos próprios do judaísmo, como a circuncisão (vide 2.11 e 3.11),
as tradições rabínicas (vide 2.8), regulamentos sobre alimentos e a observância do sábado e de
festividades religiosas (vide 2.16); incluía a adoração aos anjos, como intermediários, a fim de que
o Deus altíssimo (puro Espírito) fosse conservado incontaminado do contato com o universo físico
(vide 2.18) – característica tipicamente pagã, pois apesar de terem os judeus desenvolvido uma
hierarquia angelical, eles não os adoravam e nem consideravam má a natureza física do universo; e
alardeavam um ar exclusivista de segredo e superioridade, contra o que Paulo ressaltou a natureza
toda inclusa e pública do evangelho (vide 1.20,23,28 e 3.11).
A heresia colossense, por conseguinte, era mescla do legalismo judaico, das
especulações filosóficas dos gregos e do misticismo oriental. É possível que a localização de
Colossos, na importante via comercial que ligava o Oriente ao Ocidente, tenha contribuído para o
caráter misto da doutrina espúria em pauta. Segundo Donald Guthrie, a heresia de Colossos era
um sincretismo Judaico-Gnóstico. Nessa mesma trilha, Russell Shedd explica que essa heresia era
uma mistura ou apanhado de elementos judaicos e gnósticos. Tal heresia era uma espécie de
mistura do legalismo judaico com o gnosticismo, uma filosofia pagã. Bruce Barton corretamente
aponta que o sistema filosófico do gnosticismo ensinava que a salvação podia ser obtida através do
conhecimento, em vez da fé. Esse “conhecimento” era esotérico e somente poderia ser adquirido
por aqueles que tinham sido iniciados nos mistérios do sistema gnóstico.

Doutrina, sobretudo Cristologia


A epístola aos Colossenses conta com duas seções: (1) a seção de doutrinas (capítulos 1
e 2), e a seção de exortações (capítulos 3 e 4). Paulo acentua o aspecto doutrinário da cristologia. A
epístola abre com uma saudação, ações de graças e oração. Então ele dá início à grande discussão
cristológica
As declarações elogiosas de Paulo acerca de Cristo mencionam: 1. Seu reino (vide 1.13);
2. Sua obra remidora (vide 1.14); 3. O fato de ser Ele a representação externa (“imagem”) de Deus,
em forma humana (vide 1.15); 4. Sua supremacia sobre a criação, como seu Senhor e Herdeiro
(porquanto os filhos primogênitos recebiam o dobro da herança de outros filhos, o termo
“primogênito” veio a denotar prioridade e supremacia, pelo que “primogênito da criação” (1.15)
não precisa ser entendido como se quisesse afirmar ter sido Jesus o primeiro ser criado); 5. Sua

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posição de Criador (vide 1.16); 6. Sua preexistência e coesão do universo (vide 1.17); 7. Sua
preeminência sobre a nova criação, a Igreja; e 8. Seu primado por haver ressuscitado dentre os
mortos para nunca mais morrer (vide 1.18).
Em sua polêmica contra a heresia colossense (vide 2.8-23), Paulo esclarece
acusadoramente que aquele falso ensino obscurecia a preeminência de Cristo, que as suas
observâncias rituais, extraídas do judaísmo, servem somente para prefigurar as realidades
espirituais em Cristo, e que seu ascetismo e adoração a anjos fomentam o orgulho humano e
diminuem a glória de Cristo.

Exortação
A união do crente com Cristo, em Sua morte, ressurreição e ascensão, forma o alicerce
das exortações práticas existentes na epístola. Aos cristãos convém adquirirem a perspectiva
divina, reputando-se mortos para o pecado, em Cristo, e vivos para a justiça, também em Cristo.
Ler Colossenses 3 e 4. Os “citas” (vide 3.11) eram considerados bárbaros especialmente
indomáveis. Porquanto o sal retarda a corrupção dos alimentos, a linguagem “temperada com sal”
(vide 4.6), provavelmente indica a linguagem impoluta e sem obscenidades.

FILEMOM: APELO EM FAVOR DE UM ESCRAVO FUGIDO

Tema
Na epístola a Filemom, o apóstolo solicita a certo cristão chamado Filemon,
proprietário de escravos, que acolhesse gentilmente e perdoasse o erro de Onésimo, e talvez até
conferisse a liberdade, pois agora ele retornava à presença de seu senhor. O perdão e a igualdade
cristã são os temas desta carta.

Filemom, proprietário de escravos


Filemom, residente de Colossos, tornara-se cristão por intermédio de Paulo (“tu me
deves até a ti mesmo”, versículo 19). Mui provavelmente isso sucedeu na cidade vizinha de Éfeso,
durante o ministério efetuado ali por Paulo. Uma congregação costumava reunir-se na residência
de Filemom (vide o segundo versículo). Os primitivos cristãos não contavam com templos, e, por
isso mesmo, se reuniam nas residências de seus membros. Se o número de crentes fosse grande
demais para acomodá-los, usavam diversas residências.

Onésimo, o escravo
Um escravo de Filemom, de nome Onésimo, fugira levando consigo algum dinheiro de
seu senhor e se refugiara em Roma, onde, de algum modo, entrou em contato com Paulo. O
apóstolo foi o agente da conversão de Onésimo, tendo-o convencido que, na qualidade de cristão,
ele deveria retornar à companhia de seu senhor e viver à altura do significado de seu nome
próprio, porquanto “Onésimo” significa “útil” (vide os versículos 10-12). Com grande tato e
cortesia cristã, pois, Paulo escreveu a fim de persuadir a Filemom não somente a aceitar Onésimo
de volta sem puni-lo ou tirar-lhe a vida (o usual tratamento conferido a escravos que fugissem),
mas também a acolher a Onésimo como “irmão caríssimo no Senhor” (vide o versículo 16). Paulo
desejava reter Onésimo como um auxiliar (vide o versículo 13). Tem sido sugerido que as palavras

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que transcendam a confiança, “farás mais do que estou pedindo” (vide o versículo 21), dão a
entender que Filemom deveria mesmo dar a carta de alforria a Onésimo, mas talvez Paulo
estivesse sugerindo apenas que Filemom permitisse que Onésimo se ocupasse do trabalho
missionário. Paulo também se comprometeu a pagar a Filemom pela perda financeira causada pelo
furto praticado por Onésimo; entretanto, a menção imediata da dívida espiritual maior ainda de
Filemom ao apóstolo convida aquele a cancelar a dívida financeira que Paulo acabara de assumir
(vide os versículos 18-20).

Aplicação cristológica: Paulo se apresentou como mediador entre Onésimo e Filemom para quitar
todo o débito de Onésimo. A dívida de Onésimo foi colocada na conta de Paulo, que se dispôs a
pagá-la. Esse fato lança luz sobre a bendita verdade de que nossa dívida impagável não foi
colocada em nossa conta (2Co 5.19), mas na conta de Cristo (2Co 5.21), e ele, com sua morte, rasgou
o escrito de dívida que era contra nós, quitando completamente nosso débito. Além disso, sua
justiça completa e perfeita foi colocada em nossa conta (2Co 5.21).

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