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GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

Disciplina: Literatura do “Novo Testamento”

UA 1: “Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos”

Professor Mestre: Aurélio Lima Correia.


 
Sumário
1.1 Carga-Horária da UA ..............................................................................1

1.2 Objetivo....................................................................................................1

1.3 Introdução................................................................................................2

1.4 Desafio ....................................................................................................3

1.5 Material de Estudo ..................................................................................3

1.6 Material Complementar..........................................................................24

1.7 Bibliografia..............................................................................................25

 
 
 
1.1 Carga-Horária da UA
 5 horas.

1.2 Objetivo
 Conhecer as palavras e as obras de Jesus para aprofundar a luz da
Hermenêutica Trilógica.


 
 
1.3 Introdução
Caro aluno nesta unidade, você estudará o conteúdo dos três primeiros livros
do “Novo Testamento”. Estes três primeiros livros são geralmente chamados de
“Evangelhos sinóticos”, porque apresentam visões semelhantes de Jesus. Todos
eles provavelmente foram escritos antes da destruição de Jerusalém em 70 d.C.
Os relatos sinóticos apresentam basicamente o mesmo material, enquanto o
relato de João apresenta material adicional. Mesmo quando engloba o mesmo
período, “João” geralmente apresenta informações diferentes das de “Mateus”,
“Marcos” e “Lucas”. O relato de “João” omite o nascimento, o batismo e a tentação
de Jesus, o sermão do monte, todas as parábolas, a transfiguração, a instituição da
ceia do Senhor e a agonia no Getsêmani, fatos esses todos descritos nos
Evangelhos sinóticos, sendo estes detalhes o motivo da sua importância.
No entanto os Evangelhos Sinóticos tem também por objetivo não apresentar
uma bibliografia da vida de Jesus Cristo e nem procurar descrever sua
personalidade; a finalidade então é compartilhar uma cristologia, ou seja, uma
apresentação da vida e do ministério de Jesus a partir de uma perspectiva teológica
particular e definida. Esta mesma finalidade se apresenta no livro dos “Atos dos
apóstolos”, ainda que em uma perspectiva universal “Lucas” introduza-nos no
mundo da primeira comunidade Cristã, testemunha vida da Ressurreição do Cristo.
Por isso que neste estudo você, caro aluno contará com o auxílio da
hermenêutica Trilógica que ajudará a compreender, entender e aprofundar na
finalidade dos três primeiros livros do “Novo Testamento” e nos “Atos dos
Apóstolos”.
Além disso, através de um aforismo, você encontrará um desafio que tem
como finalidade introduzi-lo no ambiente Trilógico. Isto permitirá a você adentrar em
si. Ao final desta unidade, você encontrará também um questionário que visa
depurar seus conhecimentos, verificar sua aprendizagem e auxiliá-lo no processo de
seus estudos e conhecimentos Trilógicos.


 
 
1.4 Desafio
Reflita o seguinte texto e escreva sua reflexão:
A palavra virtude em latim (virtus) significa energia, poder, influência,
o que mostra que na essência o ser humano é pura virtude, e o vício
uma privação e ataque à própria estrutura – sendo essa a razão de
grande bem-estar quando se pratica o bem (KEPPE, 1981, p. 67).

1.5 Material de Estudo

“Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos”

Em 1776, um pesquisador alemão chamado J.J. Griesbach publicou, em


Halle, a obra Synopsis evangeliorum (Sinopse dos evangelhos). Foi a primeira vez
que se utilizou o termo “sinótico” aos escritos dos três primeiros evangelhos.
A ideia de Griesbach era a de elaborar uma edição de “Mateus”, “Marcos” e
“Lucas”, que permitisse abranger “os três num único olhar” – a origem do termo
“sinótico” é grega oriunda de duas palavras: sun (“conjunto”) e oyis (“olhar”) – “olhar
em conjunto”. Assim agindo, ele se fizera eco da opinião que Agostinho de Hipona,
já em 399, expusera em seu De consensu evangelistarum. Para o bispo de Hipona,
os evangelhos teriam sido escritos na ordem em que estão no Cânon.
Essa intervenção da sinopse no século XVIII contribuiu enormemente para
instaurar a era da crítica evangélica. Até então, consideravam-se os evangelistas
como testemunhas oculares dos fatos ocorridos, e tudo quanto haviam escrito era
isento de qualquer erro ou contradição. Com a crítica literária, não só essa imagem
tradicional sofreu críticas como a abordagem da vida de Jesus ia também sofrer
profunda alteração.
A Sinopse evangélica dava como fim aquilo a que se chamava Harmonia
evangélica. Tratava-se de uma narrativa seguida da história de Jesus, constituída
exclusivamente dos elementos provenientes dos quatro evangelhos. Essa narrativa
era organizada de modo a que todas as informações reunidas se completassem
num conjunto coerente e harmonioso. Um bom exemplo desse esforço de síntese


 
 
narrativa foi o Diatessaron (“através dos quatro”) de Taciano (séc.II) que tinha como
objetivo provar a harmonia entre os evangelhos.
O trabalho de Griesbach contribuiu muito para o estudo da Questão sinótica.
A questão girava em torno da relação literária dos três primeiros evangelhos entre si,
mostrar a notáveis concordâncias e discordâncias entre “Mateus”, “Marcos” e
“Lucas”.
A exposição sinótica consiste numa série de unidades distintas de narrativas
e discursos, completas em si mesmas, e frequentemente colocadas uma após outra,
independentemente de qualquer ligação espacial ou temporal. À vista das
semelhanças, a conclusão parece se impor; os sinóticos, de alguma maneira,
parecem depender literalmente uns dos outros. Na realidade, a questão se complica
quando se sabe que os três evangelhos diferem também muito uns dos outros, tanto
no conteúdo quanto na forma.
O texto de “Marcos” é o mais breve: dos 673 versículos, só uns 30 são
exclusivamente seus e cerca de 90% se encontram em “Mateus” e 65% em “Lucas”;
“Mateus” tem um total de 1068 versículos, tendo de propriamente seus uns 330
(30%); coincide com “Marcos” em 503 (48%) e com “Lucas” em 235 (22%); “Lucas” é
o mais longo dos três, pois tem 1149 versículos; deles 548 (48%) só se encontram
neste evangelho; uns 350 (31%) também estão em “Marcos” e 235 (21%) são
comuns a “Mateus”.
Todos têm material próprio que não se encontram em outros Evangelhos. Por
exemplo, os relatos do nascimento e da infância de Jesus encontram-se apenas em
“Mateus” e “Lucas”, e são muito diferentes um do outro. O Sermão da Montanha,
que começa com as Bem-Aventuranças, é muito extenso em “Mateus”, breve em
“Lucas” e está ausente em “Marcos”. O relato da Paixão é essencialmente idêntico
nos três.

I. O Problema Nos Sinóptico

O Problema dos Sinópticos é a «teoria das duas fontes».


a) O Evangelho de “Marcos” é base dos outros dois, pois é o inventor do gênero
literário «evangelho». Assim se explicariam muitas coincidências. Por sua vez,

 
 
“Marcos” baseia-se numa fonte que lhe antecede: «Proto-Marcos», que conteria as
ações de Jesus, pois “Marcos” contém quase só fatos e não discursos do Senhor
(exceto: MC 4, 3-34; 13 2-27).
b) Que o que não está em “Marcos”, mas em “Mateus” ou “Lucas”, consiste
quase tudo em discursos recolhidos praticamente da mesma forma, o que faz
pensar que os dois o beberam na mesma fonte. A esta fonte de informação,
diferente de “Marcos”, chamamos de fonte «Q» (do alemão Quella, que significa
«fonte»), que conteria uma coleção de ditos de Jesus (os logia), do género “Jesus
disse”. Alguns intérpretes bíblicos consideram a fonte Q uma tradução grega de uma
redação primitiva aramaica cujo autor seria Mateus.
c) Que se tem de admitir, além disso, outra fonte desconhecida de cada
evangelho, especialmente do de “Lucas” (a fonte Q2), textos independentes que
circulavam. “Mateus” e “Lucas” têm alguns textos próprios, mas “Marcos” muito
poucos. A tradição dum mestre famoso se costumava reunir em dois blocos
distintos: um que narrava os fatos, outro que apresentava os ditos ou sentenças. O
mesmo teria acontecido com a tradição de Jesus.
Os textos semelhantes presentes nos três seriam de Tradição Tripla; os
textos que estão em “Mateus” e “Lucas”, mas não em “Marcos” (os que “beberam”
em Q), são os de Tradição Dupla; os que só aparecem num Evangelho são os de
Tradição Simples (exemplos em “Lucas”: o Filho Pródigo, os discípulos de Emaús;
exemplos dessa tradição em “Mateus”: o Sermão da Montanha tem textos que estão
em “Lucas”, mas organização é típica de “Mateus”; as Bem-Aventuranças aparecem
em “Lucas”, mas menos desenvolvidos.
Cada Evangelista tem a sua visão das coisas, influenciado pelas
comunidades cristãs em que se inseriam. Quanto ao conjunto do texto, “Mateus” é
sucinto, vai direto à questão sem rodeios (não diz donde Jesus vem); “Marcos”, que
costuma ser mais breve, diz de onde Jesus vem e para onde vai; entre “Marcos” e
“Lucas” as diferenças são poucas.
Em “Marcos”, Jesus «levantou-a», ou seja, a capacidade das curas remete
para capacidade de ressuscitar, foi Cristo quem a levantou (o verbo em grego é o
mesmo utilizado na Ressurreição de Jesus, sendo alusão a esta; “Marcos” quer

 
 
preparar o leitor para esse fato). “Lucas” apresenta um texto mais literário, pois é
mestre arte de contar (de narrar); utiliza o advérbio «imediatamente» para sublinhar
o caráter imediato das intervenções de Jesus, ficando a pessoa logo curada; é o que
mais se utiliza “hoje” nos discursos, pois a Salvação em Cristo não é algo do
passado, mas é algo que acontece agora. Em “Mateus” temos só duas personagens,
suprime detalhes da cura, os nomes (exceto o de Pedro) e a intercessão da família,
centrando a atenção em Jesus e a pessoa curada; «pôs-se a servi-Lo» e não a
«servi-los» como nos outros, pois a cura foi completa e aqueles que são salvos por
Cristo terão de se entregar a seu serviço.

II. Gêneros Literários

Vimos que “Marcos”, ao escrever um evangelho, reunindo diferentes


elementos veiculados pela tradição e organizá-los numa história de Jesus, com isto
abre caminho a um novo gênero literário sem precedentes em outras literaturas.
O Evangelho enquanto gênero literário é único; apresentam-se como textos
narrativos, sem serem crônica ou biografia. Falam da mesma pessoa e dos mesmos
fatos com intuitos específicos. O estilo literário é parecido com a midraxe (narração)
– designa ao mesmo tempo um método de exegese e a produção literária
decorrente deste método.
Os evangelhos não são história e nem um livro de memórias. Não se
interessam na história interior ou exterior do herói, mas manifestam um claro
interesse pela atividade terrena de Jesus sem uma cronologia ou uma topografia
precisa. São querigmas1 de um acontecimento único e definitivo, da intervenção de
Deus em Jesus Cristo. Em vez de biografia de Jesus, trata-se de testemunho de fé,
de anúncio para despertar a fé no ouvinte.
Os evangelhos são textos destinados ao uso das comunidades para que
todas conheçam a mistério da Fé. Precisa saber que estes textos foram escritos
posterior a Jesus e que as comunidades de cristão contribuíram. Os evangelistas
não podem ser reduzidos a meros compiladores: eles são ao mesmo tempo
intérpretes e portadores de uma tradição.
                                                       
1
Kήrugma (Kerygma), proclamação / anuncio.

 
 
Por isto que os evangelhos pertencem a um grande gênero literário e dentro
dele há outros gêneros (narrativas, milagres, parábolas, alegorias, metáforas,
apocalipse etc.) que conservam elementos da tradição cristã dos primeiros séculos.

III. Conteúdo dos Sinóticos

a) “Mateus”: Nome proveniente do aramaico “mattai” forma abreviada do


hebraico “mattanyah”, que significa “Dom de Iahweh”. O nome aparece na lista dos
Doze (em MT 10,3; MC3, 18; LC6, 15; AT1, 13). Entretanto apenas em MT9, 9-13 e
10,3 é que “Mateus” é identificado como o publicano Levi, cuja vocação é relatada
em MC2, 13-17; LC5, 27-32.
 Autor: Papias, Bispo de Hierápolis por volta do ano 130, atribui ao Apóstolo a
composição dos “ditos2 de Jesus”, porém segundo Orígenes e Eusébio
Cesaréia o Apóstolo também escreveu um evangelho em aramaico, chamado
de “hebraico”.
 Língua original: Existem duas teorias a primeira aquela da fonte “Q” que está
escrito em Aramaico, e a outra fonte que se baseia nas características da
escritura do evangelho que é o grego, pois nele encontramos muito
aramaismo.
 Data, local de composição, destinação: É São Ireneu que acrescenta que
Mateus escreveu quando Pedro e Paulo estavam fundando a Igreja em Roma
(60-65), porém não este testemunho não pode ser verificado. No entanto os
críticos literários concluem que a obra de “Mateus” não pode ser anterior ao
ano de 55, pois esta data negaria a existência do Evangelho em aramaico;
porém entre os hermenêuticos existe uma concordância em estabelecer a
data depois do ano 70, prova disto nos dá o próprio Evangelho MT22, 7, isto
nos levaria a estabelecer uma data posterior à queda de Jerusalém.

“Mateus” foi escrito por um judeu-cristão para judeus-cristãos e que tanto o


autor como os leitores aos quais eles se dirigiam eram de origem palestinense;

                                                       
2
Do grego logia (Logia).

 
 
entretanto, se a obra foi escrita depois do ano 70, poderia ter sido escrita na Síria,
porem alguns estudiosos sugerem Antioquia como o lugar da escrita do evangelho.

 Conteúdo e estrutura: “Mateus” apresenta o seguinte conteúdo e estrutura:


1. Prólogo 1,1-4,11, genealogia e pregação do Batista. 2. Pregação na
Galiléia 4,12-13,58. 3. Viagens de Jesus 14,1-20,34. 4. Pregação em
Jerusalém, paixão, morte e ressurreição 21 – 28.
 Apresentação de Jesus no Evangelho: Aqui em “Mateus” Jesus é
apresentado de duas maneiras, no discursos é apresentado como mestre
messiânico e nos milagres como taumaturgo messiânico. Esta apresentação
tem como finalidade mostrar a Jesus superior aos rabinos, os mestres do
judaísmo, nisto consistiria a grande reforma da vida espiritual no judaísmo.

b) “Marcos”: A tradição antiga, que remonta ao séc. II, atribui o texto deste
Evangelho a “Marcos”, identificado com João Marcos, filho de Maria, em cuja
casa os cristãos se reuniam para orar (AT12, 12). Com Barnabé, seu primo,
Marcos acompanha Paulo durante algum tempo na primeira viagem missionária
(AT13, 5.13; 15,37; 39)) e depois aparece com ele, prisioneiro em Roma. Mas
liga-se mais a Pedro, que o trata por «meu filho» na saudação final da sua
“Primeira Carta” (1PE5, 13). “Marcos” terá escrito o Evangelho pouco antes da
destruição de Jerusalém, que aconteceu no ano 70.

 Sobre o Evangelho: O Evangelho de “Marcos” reflete a catequese que


Pedro, testemunha presencial dos acontecimentos, espontâneo e atento,
ministrava à sua comunidade de Roma. É o mais breve dos quatro e situa-se
no Cânon entre os dois mais extensos “Mateus” e “Lucas” e a seguir a
“Mateus”, o de maior uso na Igreja. Até ao séc. XIX “Marcos” foi pouco
estudado e comentado, para não dizer praticamente esquecido. Santo
Agostinho considerava-o como um resumo de “Mateus”.

A investigação mais aprofundada desde o século passado, à volta da origem


dos Evangelhos, trouxe “Marcos” à luz da ribalta; hoje, é geralmente considerado o
mais antigo dos quatro. Na verdade, supõe uma fase mais primitiva da reflexão da

 
 
Igreja acerca do Acontecimento de Cristo, que lhe deu origem; e só ele conserva o
esquema da mais antiga pregação apostólica, sintetizada em AT1, 22: começa com
o batismo de João (1,4) e termina com a Ascensão do Senhor (16,19).

É comum afirmar-se que todos os outros Evangelhos, sobretudo os


Sinópticos, supõem e utilizaram mais ou menos o texto de “Marcos”, assim como o
seu esquema histórico-geográfico da vida pública de Jesus: Galiléia, Viagem para
Jerusalém, Jerusalém.

 Conteúdo: É desenvolvido ao longo das 5 secções em que podemos dividir o


Evangelho de “Marcos”:

1. Preparação do ministério de Jesus: (1,1-13);


2. Ministério na Galiléia: (1,14-7,23);
3. Viagens por Tiro, Sídon e a Decápolis: (7,24-10,52);
4. Ministério em Jerusalém: (11,1-13,37);
5. Paixão e Ressurreição de Jesus: (14,1-16,20).

 Aspectos Literários: Revelando certa pobreza de vocabulário e uma sintaxe


menos cuidada, “Marcos” é parco em discursos; apresenta apenas dois: o
capítulo das parábolas (cap. 4) e o discurso escatológico (cap. 13). Mas tem
muitas narrações. É exímio na arte de contar, enriquece os relatos de
pormenores e dá-lhes vida e cor. A este propósito são típicos os casos do
possesso de Gerasa, da mulher com fluxo de sangue e da filha de Jairo, no
cap. 5. Presta uma atenção especial às palavras textuais de Jesus em
aramaico, por ex. «Talitha qûm» (5,42) e «Eloí, Eloí, lemá sabachtáni»
(15,34). Também faz referência à atividade de Jesus, descrito como a
“jornada de Cafarnaúm” (1,21-34).

Dentre as perícopes3 e simples incisos próprios de “Marcos”, menciona-se o


único texto bíblico em que Jesus aparece como «o Filho de Maria» (6,3), ao
contrário dos outros que falam de Maria, mãe de Jesus.

                                                       
3
Pericope é um termo grego que significa “cortar ao redor” ou seja uma parte destacada de um texto,
para ser analisada e estudada em separado.

 
 
 Apresentação de Jesus no Evangelho: Pode dizer-se, porventura de uma
forma demasiado simples, que “Marcos” se faz espectador com os seus
leitores. Como ele acompanha e vive o drama de Jesus de Nazaré,
desenrolado em dois atos, coincidentes com as duas partes deste Evangelho.
Ao longo do primeiro, vai-se perguntando: Quem é Ele? Pedro responderá por
si e pelos outros, de forma direta e categórica: «Tu és o Messias! » (8,29). O
segundo ato pode esquematizar-se com pergunta-resposta: De que maneira
se realiza Ele, como Messias? Morrendo e ressuscitando (8,31; 9,31; 10,33-
34). O Evangelho de Marcos apresenta-nos, assim, uma Cristologia simples e
acessível: Jesus de Nazaré é verdadeiramente o Messias que, com a sua
Morte e Ressurreição, demonstrou ser verdadeiramente o Filho de Deus
(15,39) que a todos possibilita a salvação. «Pois também o Filho do Homem
não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por
todos» (10,45).

c) Lucas: O terceiro Evangelho é atribuído a “Lucas”, que também é o autor dos


“Atos dos Apóstolos”. Segue os usos dos historiógrafos do seu tempo, mas a
história que ele deseja apresentar é uma história iluminada pela fé no mistério da
Paixão e Ressurreição do Senhor Jesus. O seu livro é um Evangelho, uma
história santa, uma obra que apresenta a Boa-Nova da salvação centrada na
pessoa de Jesus Cristo.

 Divisão e conteúdo: O esquema geral do livro é o mesmo que se encontra


em “Mateus” e em “Marcos”: uma introdução, a pregação de Jesus na
Galiléia, a sua viagem para Jerusalém, a Paixão e Ressurreição como
cumprimento final da sua missão. A construção literária é elaborada com
cuidado e reflete grande sensibilidade, procurando salientar os tempos e
lugares da História da Salvação e pondo em evidência a projeção existencial
do projeto evangélico.

                                                                                                                                                                         

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Prólogo (1,1-4) em que anuncia o tema, o método e o fim da sua obra. Lucas
expõe por ordem o que se refere à vida e à mensagem de Jesus de Nazaré, filho de
Maria, Filho de Deus.

I. Evangelho da infância (1,5-2,52) de João Baptista e de Jesus.

II. Prelúdio da missão messiânica de Jesus (3,1-4,13).

III. Ministério de Jesus na Galiléia (4,14-9,50).

IV. Subida de Jesus a Jerusalém (9,51-19,28).

V. Ministério de Jesus em Jerusalém (19,29-21,38).

VI. Paixão, morte e ressurreição de Jesus (22,1-24,53).

 Composição e Data: Na composição do seu Evangelho, “Lucas” utilizou


grande parte de materiais comuns a “Marcos” e “Mateus”, além dos que lhe
são próprios e dos contactos com o Evangelho de “João”. Todos os materiais
da tradição estão marcados pelo trabalho do autor, que se reflete quer na sua
ordenação, quer no vocabulário, quer no estilo. A arte e a sensibilidade de
“Lucas” manifestam-se na sobriedade das suas observações, na delicadeza
de atitudes, no dramatismo de certas narrações, na atmosfera de misericórdia
das cenas com pecadores, mulheres e estrangeiros. A composição deste
Evangelho é situada por volta dos anos 80-90, porque “Lucas” deve ter
conhecido o cerco e a destruição da cidade de Jerusalém por Tito, no ano 70.

 Dedicatória e autor: O Evangelho de “Lucas” tem um diferencias e é a


dedicatória a Teófilo, mas destina-se a leitores cristãos de cultura grega,
como se vê pela língua, pelo cuidado em explicar a geografia e usos da
Palestina, pela omissão de discussões judaicas, pela consideração que tem
pelos gentios. Segundo uma tradição antiga (São Ireneu), o autor é “Lucas”,
médico, discípulo de Paulo. Pelas suas características, este Evangelho
encontra-se mais próximo da mentalidade do homem moderno: pela sua

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clareza, pelo cuidado nas explicações, pela sensibilidade e pela arte do seu
autor.

 Apresentação de Jesus no Evangelho: “Lucas” mostra a Jesus como o


Filho de Deus como Salvador de todos os homens, com particular atenção
aos pequeninos, pobres, pecadores e pagãos. Para ele, o Senhor é Mestre da
vida, com todas as suas exigências e com o dom da graça, que o discípulo só
pode acolher de coração aberto. Por isso, “Lucas” é o Evangelho da Salvação
universal, anunciada pelo Profeta dos últimos tempos que convida discípulos
profetas, aos quais envia o Espírito Santo, para que, por sua vez, sejam os
profetas de todos os tempos e lugares (LC24, 45; AT1, 8).

IV. “Atos dos Apóstolos”

Os “Atos dos Apóstolos” constituem a segunda parte da obra de “Lucas”.


Desde muito cedo, foram considerados Escritura sagrada, sendo lidos na liturgia da
Igreja como memória e norma de fé. Esta obra “apostólica” relata a fé confiada aos
Apóstolos e expõe os primeiros passos da comunidade cristã; por isso a Ekklesia
(da palavra grega Assembléia4) viu nela uma guia preciosa e um estímulo exemplar
para a vida de todos os seus membros. Ao igual que o evangelho de “Lucas” está
dedicado a Teófilo que significa “Amado por Deus”, este nome é simbólico, pois todo
aquele que acredita no Evangelho e o testemunha será Amado por Deus, portanto
este é um nome honorífico de todo cristão.

Autor e Data
A antiga tradição crista deu como Autor deste escrito ao Evangelista “Lucas”,
autor do terceiro Evangelho Sinóptico, esta tradição se fundamenta nos escritos do
Apóstolo Paulo, quando em “Colossenses” ele faz menção carinhosamente como:
“Saúdam-vos Lucas, o Médico amado... – CL4, 14”. Foi escrito por volta do ano 80,
depois do Evangelho de “Lucas”, para ser lido em todas as comunidades cristãs da

                                                       
4
Esta é a referência Antiga da palavra Igreja que nos entendemos na atualidade.
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diáspora5 tal como o próprio texto o justifica: “Ficai, pois, cientes: aos gentios é
enviada esta Salvação de Deus. E eles a ouvirão – AT 28, 28.

Divisão e Conteúdo
O livro divide-se em duas grandes partes, prefigurando assim as duas partes
do Cristianismo (Ocidente e Oriente):
 1-12 - “Atos referentes a Pedro”
 13-28 - “Atos referentes a Paulo”.

Porém no esquema didático temos:


Introdução: Cap. 1,1-11;
1. A Igreja de Jerusalém: Cap.1,12-6,7;
2. Expansão da Igreja fora de Jerusalém: Cap. 6,8-12,25;
3. Missões de Paulo fora de Jerusalém: Cap. 13,1-21,26:

 1.ª Viagem: Cap. 13,1-14,28.


 2.ª Viagem: Cap. 15,35-18,22.
 3.ª Viagem: Cap. 18,23-21,26.

4. Paulo, prisioneiro de Cristo: Condenação e Viagem do Cativeiro (21 27,28).


Além da distinção acima encontramos: narrações de missão, processo de
conversão, viagens, discursos, orações, sumários, ordenanças e cartas.
As narrações e os discursos dos “Atos” são confirmados pelos dados da
História e da Arqueologia, por um lado, e, por outro, concordam com o quadro dos
Evangelhos e com as “Cartas de Paulo”, que ajudam na compreensão. Portanto
visão histórica do livro aparece integrada numa visão teológica. Assim, Deus é ator e
autor do crescimento da Igreja (2,47; 11,21. 23).
Para “Lucas”, a História do mundo é uma História de Salvação que tem Deus
como autor principal e se divide em duas etapas principais: a primeira é o tempo da
Promessa, da prefiguração, da preparação, da Profecia o “Antigo Testamento”; a

                                                       
5
O termo diáspora vem do grego: διασπορά, que significa “dispersão".
13 
 
 
segunda é o tempo do cumprimento, da realização, da salvação presente o “Novo
Testamento”. É esta a contribuição desde autor: “Tenhamos na Memória a fé do
Cristo Ressuscitado”.

Aspecto Teológico dos “Atos dos Apóstolos”


O aspecto Teológico está fundamentado na passagem do judaísmo para o
cristianismo. De fato, os primeiros cristãos, que eram judeus, deviam dar “um salto6”
da convicção da Lei (15, 1.5) para a fé em Cristo (15, 9.11). Daí as tensões que
surgiram entre os circuncisos e incircuncisos, da Igreja Ad Intra (Igreja em
Jerusalém) para a Igreja Ad Extra (Igreja da missão de Paulo). Sem rejeitar os
judeus, e sem se deixar “judaizar”, a Boa-Nova de Cristo tem como fronteira a
universalidade.
Ao compor a sua obra, Lucas pensava, sobretudo, num público cristão,
constituído por judeus e não-judeus. Homem da unidade e da comunhão, ele apela a
que os cristãos espalhados pelo mundo voltem sempre a Jerusalém e os de
Jerusalém não se esqueçam dos cristãos espalhados pelo mundo. Portanto a
mensagem teológica central é a unidade como Cristo é um assim também os
Cristãos deveram ser um.

V. Aspecto Trilógico

Caro aluno, agora vamos ver Trilogicamente aspectos que se relacionam


entre os Evangelhos sinóticos e a hermenêutica Trilógica. Vimos nas páginas
anteriores como estão estruturados os escritos sobre Jesus (Evangelho), neste
momento faremos a ligação da mensagem evangélica a “Salvação” com a
característica principal da psicanálise a “psicoterapia”. Esta ligação será realizada
por médio de 7 fatos de exorcismos descritos nos sinóticos, veremos a existência
dos 7 fatores humanos que prejudicam a sanidade-santidade do homem na
psicanálise.

                                                       
6
Esta palavra faz referência ao termo hebraico “pesach” que significa passagem.
14 
 
 
Por que a função primordial do demônio é desagregar tudo o que
existe, porque ele próprio, não aceitando o que ele era, desintegrou-
se todo, não podendo ser o que imagina – esse delírio que teve
contaminou o ser humano, que passou a delirar também, e a
acreditar ser o que não é criando para si mesmo uma ideia de tanta
grandeza, que teve o nome de soberba, o maior dos vícios, levando-
o às corrupções sem fim, e outras patologias (pecados): inveja, ódio,
avareza, gula, luxúria e preguiça. Temos de notar que os anjos, que
se tornaram diabos, sofrem das agruras da presunção, da raiva e da
cobiça invejosa, que no ser humano atingiram os setores
organicistas, como o excesso de comida e drogas, de prazeres
físicos e dinheiro, o desejo de ser inútil, não realizando coisa alguma.
As desavenças na existência humana atingiram sua vida física
também, levando ao seu perecimento (KEPPE, 2018).

a) Os Exorcismos nos Evangelhos Sinópticos (MEIER, 2000, pp. 745-780).


Os milagres de Jesus foram narrados de acordo com os motivos, temas e
formas habituais no mundo greco-romano. Um determinado relato que fora não
somente histórico, mas também insólito, pode adquirir facilmente, no decurso da
transmissão oral, o perfil convencional da forma literária que chamamos relato de um
milagre, perdendo durante o processo as características específicas do
acontecimento histórico. Por outro lado, os narradores da Igreja primitiva e o público
a que se dirigiam puderam fomentar a tendência oposta: acrescentando detalhes de
modo a dar vida ao narrado.
Os evangelistas em particular utilizavam os relatos dos milagres como
símbolos da salvação que Jesus havia trazido os traços úteis para essa função
simbólica haviam sido destacados ou inclusivamente criados. Em alguns casos, não
é de descartar a ideia de que todo o relato de um milagre proceda do desenrolar
dramático de uma afirmação ou uma parábola de Jesus. Uma coisa é segura que
nos sinóticos, Jesus é apresentado como o Senhor da Vida, o grande terapeuta e
médico das almas. O fato de tomar a Jesus como o “grande terapeuta”, é a fonte de
ligação entre a Trilogia e a mensagem evangélica, pois segundo a Trilogia Analítica

15 
 
 
realizar exorcismo é realizar psicoterapia, assim como fazer psicoterapia é também
realizar exorcismo, porque são dois fatores semelhantes, nesta e na outra vida
sobrenatural. Pois o cientista e o exorcista trabalham exatamente no mesmo plano,
pois toda doença é ligada aos fatores físicos, e no mesmo instante aos espirituais
(KEPPE, 2018).

b) Os Exorcismos:

Nos Evangelhos sinóticos existem 7 casos de exorcismo, o fato de serem 7


revela a importância que tiveram os exorcismos no ministério de Jesus, na trilogia
analítica podemos fazer menção a existência de 7 fatores humanos que prejudicam
a sanidade-santidade do homem tais são o medo, a raiva, a fantasia, a inveja, a
inversão, a projeção e a teomania. Assim como os relatos que são mostrados nos
sinóticos são de uma imensa valia os aspectos trilógicos também, pois a vida física
está profundamente ligada com a vida espiritual, não existe separação o homem é
um só Ser, criado por Deus, receptor da mensagem Divina a “Salvação”.

c) Casos Comparativos de Exorcismos nos Sinóticos com Hermenêutica


Trilógica:

 O endemoninhado na sinagoga de Cafarnaum (MC 1,23-28 ‖ LC 4,33-37):

“Marcos” utiliza este relato como parte de uma cena paradigmática: o primeiro
dia do ministério de Jesus em Cafarnaum, oportunamente situado no sábado. De
fato, para “Marcos”, é o começo não somente da atividade de Jesus em Cafarnaum,
mas de todo o seu ministério público.
Em Cafarnaum Jesus provavelmente deve ter realizado um ou mais
exorcismos, pelo que o fundamento de tal probabilidade reside não tanto em MC
1,23-28, mas nas várias referências existentes ao longo dos quatro Evangelhos
sobre a atividade de Jesus em Cafarnaum.

Diz o Evangelho:

16 
 
 
Neste momento, um homem que estava na Sinagoga e que estava
possuído por um espírito maligno gritou "Que temos nós contigo,
Jesus Nazareno? Vieste a perder-nos. Bem sei quem és, és o Santo
de Deus! Jesus repreendeu-o, dizendo: Cala-te e sai desse homem.
O espírito imundo, agitando-o violentamente e bradando em alta voz,
saiu dele." As pessoas ficaram novamente espantadas e
perguntaram umas às outras: "Que é isto? uma nova doutrina com
autoridade! ele manda aos próprios espíritos imundos, e eles lhe
obedecem!” Notícias sobre Jesus então se espalharam por toda a
região.

Aqui no relato vemos a emoção do medo e a raiva do demônio contra Jesus...


E a maneira firme do proceder de Jesus, não nega, senão que assume sua missão e
diz: “Cala-te e sai desse homem”.
Segundo o Dr. Keppe, não existe diálogo com o demônio, pois a exemplo de
Jesus eles têm que ser calados e expulsados do homem. Por que a função
primordial de todo e qualquer psicoterapeuta é a de livrar seu cliente da influência
penosa dos demônios.

 O geraseno endemoninhado (MC 5, 1-20):

É um dos milagres de Jesus relatado nos evangelhos. Ele aparece nos


três sinóticos, especificamente em “Marcos”, “Mateus” 8, 26-39 e “Lucas” 8, 26-39.
Em todos eles, Jesus aparece exorcizando demônios, cujo nome é dado como
sendo Legião em “Marcos” e em “Lucas”.

Diz o Evangelho:

Lá, um homem possuído por espíritos malignos saiu das cavernas


para encontrá-lo. Ninguém foi capaz de prendê-lo, nem mesmo com
uma corrente, pois não havia ninguém forte o suficiente para dominá-
lo. Ele passava noite e dia rondando pelo cemitério e nas colinas,
gritando e se cortando com pedras. Quando Jesus o viu, à distância,
ele correu e caiu de joelhos à sua frente. E ele gritou a plenos
pulmões: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Por
17 
 
 
Deus te conjuro que não me atormentes.", ao que Jesus respondeu-
lhe: "Qual é o teu nome?”. "Legião é o meu nome, porque somos
muitos.". Os espíritos malignos então imploraram para que não
fossem expulsos da região. Uma grande horda de porcos estava se
alimentando nas redondezas e os demônios imploraram a
Jesus: "Envia-nos para os porcos, a fim de que entremos neles.", ao
que Jesus consentiu, e os espíritos malignos saíram do pobre
homem e entraram nos porcos. A manada, com aproximadamente
2.000 porcos, correu ladeira abaixo até o lago e lá se afogaram.

Segundo a Trilogia Analítica:

Neste relato Evangélico existem muitas coincidências conforme o pensar


Trilógico, um deles é o lugar onde o homem possuído mora na caverna, já desde a
antiguidade a caverna representava “a falta de Conhecimento” (PLATÃO 514 a-
517c), porem no pensamento trilógico a caverna representa também às trevas, a
escuridão, a tristeza, a inveja, a raiva. O demônio rebaixa completamente ao
homem, que faz dele pior que os animais; diz-nos o evangelho que nenhuma força
podia prender o geraseno, porem quando Jesus passa por essa região ele (o
possuído) sente a dynamis7 de Jesus, uma energia superior que não entrava em
sintonia com seu poder maligno. Uma energia que organiza todo é por isto que o
endemoniado corre ante Jesus e suplica que não o atormente porem seu pedido é
invertido, pois quem atormenta é o demônio, atormenta a mente, o corpo do homem,
não sendo capaz de adentrar no intimus humano, é lá onde Jesus reconhece ao
homem que foi criado a imagem e semelhança de Deus, é aqui onde se realiza o
milagre da Metanóia.

Diz o Dr. Keppe:

Toda energia que existe no universo é de caráter físico (material,


vegetal, ou biológico) e espiritual, que só os homens e os seres
imateriais podem captar como tal — ou melhor, explicando: a mesma

                                                       
7
Energia, força, poder, potencia.
18 
 
 
força que os elementos materiais, plantas e os animais recebem em
seus planos, os seres humanos a recolhem de modo superior no
setor espiritual desde que habitam lá.

 O rapaz possuído por um espírito mau (MC 9,14-29)

O relato sobre o rapaz possuído por um espírito mau recorda o do geraseno


endemoninhado no que diz respeito à sua longitude, à sua apresentação tortuosa e
alguns detalhes gráficos e concretos. Os críticos debatem sobre se MC 9,14-29 se
deve a uma combinação de duas versões diferentes do mesmo acontecimento ou à
lenta evolução de um só relato.

Diz o texto:
Um homem se ajoelha diante de Jesus e explica: “Mestre, eu trouxe
meu filho para o senhor, porque ele tem um espírito mudo. Onde
quer que esse espírito o apanhe, lança-o no chão, e ele espuma pela
boca, range os dentes e perde a força. Eu pedi aos seus discípulos
que expulsassem o espírito, mas eles não foram capazes de
fazer isso (MC9, 17-18).

A vítima do espírito, assim como o geraseno, sofre de comportamento


assustador: convulsões e atos auto-destrutivos. O narrador chama o espírito de
espírito impuro (9,25), o pai da vítima o chama de espírito mudo (9,17) e Jesus, de
espírito mudo e surdo (9,25). Esta linguagem relembra a cura de alguém com
dificuldade de falar (7,31-36) e a aclamação de Jesus como aquele que faz tudo
bem e até os mudos falarem e os surdos ouvirem (7,37). Desta maneira, os temas
de cura e exorcismo se aproximam, embora as duas coisas continuem distintas.
Jesus exorciza primeiro e, depois, cura.
No relato facilmente verificamos que ele parece sofrer de algum tipo de
epilepsia. Contudo, “Marcos” e todos os presentes, incluindo Jesus, viam um caso
de possessão por parte de um demônio, que era necessário expulsar. Porém
encontram-se aqui algumas situações tais: a incapacidade dos discípulos para

19 
 
 
exorcizar, a súplica do pai pelo seu filho, a clara descrição da epilepsia, a petição de
fé por parte de Jesus antes do exorcismo.
Pelo visto, os escribas estão criticando os discípulos por não conseguirem
curar o menino, talvez zombando de seus esforços. Então, em vez de responder ao
pai, que está desesperado, Jesus diz à multidão: “Ó geração sem fé e pervertida, até
quando terei de continuar com vocês? Até quando terei de suportá-los?” Com
certeza, essas fortes palavras se aplicam aos escribas, que estão causando
problemas aos discípulos de Jesus enquanto ele está fora. Depois Jesus diz ao pai
aflito: ‘Traga-o aqui’ (MT 17,17).
Quando o menino se aproxima de Jesus, o demônio que está nele o joga no
chão e o lança em fortes convulsões. O menino fica rolando no chão, espumando
pela boca. Jesus pergunta ao pai: “Há quanto tempo isso acontece com ele?” O pai
responde: “Desde a infância, e o espírito o lança muitas vezes no fogo e também na
água, para matá-lo.” Então o homem implora: “Se o senhor puder fazer algo, tenha
pena de nós e ajude-nos” (MC 9, 21-22).
O pai está desesperado porque nem os discípulos de Jesus conseguiram
ajudá-lo. Em resposta ao forte apelo do homem, Jesus dá uma garantia consoladora
com esta expressão: ‘Se tu podes’! ...Tudo é possível àquele que crê!” E o pai
imediatamente responde: “Eu creio! Ajuda a minha incredulidade!” (MC9, 23-24).
Jesus percebe a multidão se aproximando dele. Na presença dessas
pessoas, censura o demônio: “Espírito mudo e surdo, eu lhe ordeno que saia dele e
não entre nele novamente!” Ao sair, o demônio faz o menino gritar e ter muitas
convulsões. Agora o menino está deitado no chão, sem se mexer. Ao ver isso,
muitas pessoas dizem: “Ele está morto!” (MC9, 25-26). Mas, quando Jesus pega na
mão do menino, ele se levanta e fica “curado daquele momento em diante” (MT17,
18).

 O endemoninhado mudo (MT 12,22-23A ‖ LC 11,14)

Em MT 12,22-23a ‖ LC 11,14 temos provavelmente o único relato, ainda que


breve, de um exorcismo procedente da fonte Q, ou seja, o único próprio e verdadeiro

20 
 
 
atribuível a esta fonte. Este relato é extremamente lacónico, pelo que só existe para
introduzir a versão Q da controvérsia sobre Belzebu. Assim, torna-se pertinente
questionarmo-nos se estamos ante um produto puramente literário criado com esse
fim pelo autor de Q. Independentemente da resposta, o caráter estranho do relato dá
que pensar.
O beneficiário do exorcismo, além de endemoninhado, é mudo ou pelo menos
sofre algum transtorno que o impede de falar, além de ser cego na versão de
“Mateus”. Este último detalhe é deveras interessante, já que em toda a tradição
evangélica não há um único caso de uma pessoa simultaneamente cega e muda. Se
chegarmos à conclusão de que a descrição de “Mateus” do endemoninhado
corresponde à forma Q original, então a insólita combinação de mudez e cegueira
num possesso poderia servir de argumento favorável à historicidade desse
exorcismo.

Nesse exorcismo também se encontra o fator de energia Divina, pois


o único que podia expulsar o demônio era Jesus, com a Dynamis da
Oração: Deus criou todas as coisas da Energia Dele, e não do Ser
Dele, senão cairíamos na ideia panteísta, que todos seríamos
deusinhos – de qualquer modo, começamos a existir, porque após
aceitar o mal (que se caracteriza pela ignorância), rejeitamos ser,
mas como fomos criados imortais (à semelhança do Ser Divino),
continuamos existindo no aspecto energético, tendo havido a
liberdade de escolher a vida, ou sua negação – como não podemos
acabar com ela, elaboramos um confronto entre o bem e o mal,
lutando para ser o que não podemos ser. Daí a enorme confusão
entre o que é, e o que não pode ser. Desde que a espiritualidade se
tornou mais um processo acadêmico, dentro do qual foi exigida a
existência de um diploma para exercer sua atividade, perdeu sua
verdadeira existência, que se baseia na estrutura virtuosa, seja das
pessoas, ou da própria sociedade. Posso afirmar que todo ser
humano que tenha um mínimo de virtude, está exercendo exorcismo,
até mesmo o que não for religioso – pois assim, ele está vivendo
dentro da Energia Divina (KEPPE, 2018).
21 
 
 
 O mudo possuído por um demônio (MT 9,32-33)

Grande parte dos comentadores consideram este breve relato como uma
criação narrativa de “Mateus” sobre o modelo da tradição Q utilizado também em MT
12,22-23. Tal deve-se à complexa e harmoniosa estrutura que “Mateus” idealizou
para o capítulo 8-9 do seu Evangelho, onde alberga um ciclo de 9 relatos de
milagres. Aí o evangelista forma 3 grupos de 3 relatos e insere entre cada grupo
uma secção sobre o discipulado. Aparentemente, quando chega ao nono milagre, já
havia esgotado a sua provisão de relatos desse gênero e supre a carência criando
um relato similar ao do exorcismo que no capítulo 12 leva à controvérsia sobre
Belzebu.

Ele expulsou o demônio e o mudo começou a falar. O povo,


admirado, dizia: Nunca se viu isso em Israel. Os fariseus, porém,
diziam: É pelo poder do chefe dos demônios que ele expulsa os
demônios.

 A alusão a Maria Madalena (LC 8,2).

A frase de LC 8,2-3, um tanto vaga e digressiva, não aclara se, além de Maria
Madalena, outras mulheres haviam experimentado exorcismos ou se todas elas
foram curadas de enfermidades. “Lucas” refere que Maria Madalena havia sido
liberta de um gravíssimo caso de possessão demoníaca, sublinhando a gravidade
com o número 7.
Madalena foi salva, convertida dos pecados do espírito (enfermidades),
passando a seguir Jesus, juntamente com todas as outras mulheres, entre elas
Joana e Suzana. Note-se que o versículo diz que Madalena, incluindo Joana e
Suzana, foram curadas de espíritos malignos e enfermidades, mas só no caso de
Madalena o espírito maligno foi tomado como sinônimo de prostituição. No entanto,
estes sete demônios poderiam ser obstáculos para uma vida plena em espírito e
poderiam ser identificados como: gula ou bulimia, cólera, estupidez e irascibilidade,

22 
 
 
lassidão, tristeza, estupidez, orgulho. Enfatizamos que no tempo de Jesus, as
doenças mentais eram explicadas como casos de possessão demoníaca8.

Diz o Dr. Keppe,

podemos chamar de neuro-espirituais os processos neurológicos de


informação no córtex-cerebral, devido à necessidade da “colheita de
energia dentro dos impulsos nervosos recolhida do ambiente” (Body
and Mind, Atlas Rand McNally, pág. 79) — a maior parte dessa
energia ainda é de caráter desconhecido e se manifesta em todos os
setores da natureza, desde o físico até o imaterial; o que os minerais,
vegetais, animais e seres humanos captam constitui uma pequena
parte dessa força que controla e segura no espaço todas as leis que
regulam a vida. Temos de prestar atenção para notar que essa
energia espiritual e psicológica é a fonte de todos os movimentos, e
fornece vida aos seres vivos; secundariamente se transforma em
outros tipos de ondas: rádio, televisão, eletromagnética, raios-X etc.
No entanto, ela pode sofrer interferência, não apenas por parte do
homem como dos seres maléficos, que têm condições de desviar
inteiramente seu rumo (KEPPE, 2002).

 A mulher sirofenícia (MC 7,24-30 ‖ MT 15,21-28)

Por um lado, o relato sobre a mulher sirofenícia assemelha-se ao do


centurião que, sendo gentio, dirige-se a um judeu, pedindo-lhe um milagre que é
realizado à distância. Por outro lado, é semelhante ao do oficial real que, não
desanimando perante uma atitude menos favorável de Jesus, não desanima e
persiste em seus rogos até receber a confirmação de que o seu filho foi curado.
Porem aqui neste texto bíblico encontra-se dois exorcismo o primeiro a mulher
sirofenícia e o segundo a sociedade desde tempo, pois existia o pensamento que a

                                                       
8
Sob a ordem de seu mestre, os demônios se ‘apossavam’ igualmente dos indivíduos, provocando
problemas como a epilepsia, a paralisia histérica, ou ainda, o entorpecimento dos corpos. Nessa
ordem de ideias, os milagres de Cristo – que consistiam, em sua maior parte, precisamente na cura
desse gênero de problemas – eram considerados como medidas enfraquecedoras do poder de Satã,
cada milagre abrindo uma espécie de brecha na autoridade maligna (NOGUEIRA, 2000, p.27).
23 
 
 
salvação do Messias seria exclusivamente para os judeus, com o ato de Expulsão
do demônio da filha desta mulher, Jesus erradica este pensamento ambíguo. Pois a
Salvação é de todo aquele que aceita em sentimento, pensamento, e ato a
Mensagem e a Energia Divina.

Diz o Dr. Keppe:

As sensações são realizadas basicamente pelas vibrações externas


que nos chegam do mundo exterior (principalmente através dos
sentidos) atingindo toda a vida orgânica e psicológica; temos de
admitir que a maior parte da vida nos advém dessas ondas de
energia que penetram na estrutura psicorgânica. Ser é praticamente
sinônimo de energia; ser é ter (ser) energia — pois esse fator
constitui o núcleo de toda e qualquer realidade que no homem se
expande no sentido psicológico (espiritual) e orgânico (material). As
sensações são provenientes dessa força que atinge a estrutura
psiconeurofísica transformando-se em sentidos, sentimentos,
consciência, intuição e ideias9” (KEPPE, 2002, p. 121).

1.5 Material Complementar


Analise o seguinte diagrama do Livro “Metafísica Trilógica”, Vol. 2.
Fenômenos Sensoriais “Transcendentais” p. 121:

                                                       
9
 AS SENSAÇÕES CAPTAM GRANDE PARTE DA ENERGIA ESSENCIAL (ESCALAR).  
24 
 
 
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1.6 Bibliografia

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Editora Paulinas, 2002.


KEPPE, Norberto da Rocha. A Consciência. 2. ed. São Paulo: Editora Proton,
2004.
KEPPE, Norberto da Rocha. Metafísica Trilógica, Vol. 2. Fenômenos Sensoriais
“Transcendentais”. São Paulo: Editora Proton, 2002.
KEPPE, Norberto da Rocha. Metafísica Trilógica, Vol. 1. Libertação do Ser.
2.ed.São Paulo: Editora Proton, 2000.
KEPPE, Norberto da Rocha. O Universo dos Espíritos Malignos. 2. ed. São
Paulo: Editora Proton, 2019.
KEPPE, Norberto da Rocha. Psicoterapia e exorcismo – B1. São Paulo: Editora
Proton, 2018.
LEIPOLDT J.,GRUDMANN W. El Mundo del Nuevo Testamento II y III. Madrid:
Editora Cristiandad, 1975.
NOGUEIRA, Carlos Roberto. O Diabo no imaginário cristão, 2000.
MEIER, John P. – Un judío marginal: nueva vision del Jesús histórico. Tomo
II/2: Los milagros. Navarra: Verbo Divino, 2000.
PACHECO, Claudia Bernhardt de Souza. ABC da Trilogia Analítica –
Psicanálise Integral. Editora Proton. São Paulo, 2010.
PLATÃO. A República (514 a-517c).

25 
 
 
RAYMOND E. Brown, SS. FITTMYER. A. Joseph, SJ. MURPHY Roland O.
Carm. Comentario Bíblico de San Jerónimo, Tomo III y IV – Novo Testamento
I y II. Madrid: Editora Cristiandad.

26 
 
 

GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

Disciplina: Literatura do “Novo Testamento”

UA 2: “Evangelho de João e Apocalipse”

Professor Mestre: Aurélio Lima Correia.


 
Sumário
2.1 Carga-Horária da UA ..............................................................................1

2.2 Objetivo....................................................................................................1

2.3 Introdução................................................................................................2

2.4 Desafio ....................................................................................................2

2.5 Material de Estudo ..................................................................................3

2.6 Material Complementar............................................................................9

2.7 Bibliografia..............................................................................................10

 
 
2.1 Carga-Horária da UA
 5 horas.

 
2.2 Objetivo

 Conhecer em forma geral a Teologia Joanina e sua importância dentro


da Literatura do "Novo Testamento".


 
 
 
2.3 Introdução

Caro aluno nesta unidade, você estudará o conteúdo de dois livros do “Novo
Testamento” considerados extraordinários, por sua profundidade teológica. Estes
são: o Evangelho de “São João”, considerado por muitos estudiosos como o
Evangelho mais Teológico, por existir nele muitos simbolismos que nos sinópticos
não existem e o Livro do “Apocalipse” ou Revelação. Estes dois textos segundo a
Tradição Cristã – patrística pertencem ao próprio Apóstolo João, e foram escritos
entre os anos 80 e 100 d. C.
O Evangelho de “João” apresenta muitas lições importantes sobre como viver
aqui na terra e como determinar o nosso destino eterno.
Além disso, existe uma mensagem clara da Verdade neste Evangelho que
nos ajuda a compreender o Reino de Deus. No entanto no Livro do “Apocalipse”,
encontramos a coragem e o entusiasmo para manter viva a nossa Esperança em
Cristo.
Nesta aprendizagem, você, caro aluno contará com o auxílio da hermenêutica
Trilógica que ajudará a compreender, entender e aprofundar na finalidade de estes
dois livros do “Novo Testamento”.
Além disso, através de um aforismo, você encontrará um desafio que tem
como finalidade de introduzi-lo ao ambiente teológico-espiritual do curso. Ao final
desta unidade, você encontrará também um questionário e uma atividade
complementar que visam depurar seus conhecimentos, verificar sua aprendizagem e
auxiliá-lo no processo de seus estudos e conhecimentos.

2.4 Desafio

Reflita o seguinte texto e escreva sua reflexão:

O homem aceita a oferta divina e tem a vida eterna, ou a rejeita e


sofre a condenação definitiva (JO3, 36).


 
 

2.5 Material de Estudo

I. O Evangelho de João

Este Evangelho apresenta uma perspectiva especial da vida do Cristo. Ele faz
referência aos outros três evangelhos anteriores, chamados de sinópticos (“Mateus”,
“Marcos” e “Lucas”), porem com uma perspectiva mais teológica, deixando o caráter
histórico, que existe nos sinópticos. O autor deste Evangelho é o próprio Apóstolo
“João”, um dos doze que Jesus chamou. Sabemos sobre a autoria por que é o
próprio discípulo que se identifica no último capítulo do livro:

Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu; e


sabemos que o seu testemunho é verdadeiro (JOÃO 21, 24).

Diferença Entre os Sinópticos e o Evangelho de “João”

Alguns temas importantes dos Sinópticos não aparecem aqui: a infância de


Jesus e as tentações, o sermão da montanha, o ensino em parábolas, as expulsões
de demônios, a transfiguração, a instituição da Eucaristia… Por outro lado, só “João”
apresenta as alegorias do bom pastor, da porta, do grão de trigo e da videira, o
discurso do pão da vida, o da ceia e a oração pelo povo, os episódios das bodas de
Caná, da ressurreição de Lázaro e do lava-pés, os diálogos com Nicodemos e com a
samaritana…

Ao contrário dos Sinópticos, em que toda a vida pública de Jesus se enquadra


fundamentalmente na Galiléia, numa única viagem a Jerusalém e na breve presença
nesta cidade pela Páscoa da Paixão e Morte, no quarto Evangelho Jesus atua sobre
tudo na Judéia e em Jerusalém, onde se encontra pelo menos em três Páscoas
diferentes (JO 2,13; 6,4; 11,55; ver 5,1).

O vocabulário é reduzido, mas muito expressivo, de forte poder evocativo e


profundo simbolismo, com muitas palavras-chave: verdade, luz, vida, amor, glória,
mundo, julgamento, hora, testemunho, água, espírito, amar, conhecer, ver, ouvir,
testemunhar, manifestar, dar, fazer, julgar.


 
 
Sendo a grande originalidade de “João” os discursos a diferencia dos
sinópticos que são pequenas unidades sistematizadas. O estilo literário é muito
desenvolvido, dá a entender que este livro foi destinado à comunidade que já
conhecia ao Cristo, pois só ela seria capaz de entender tais simbologias. Tem
caráter dramático, pois ao igual que quando o Cisto apareceu continua a ser
rejeitado pelo seu próprio povo e os judeus cristãos a serem hostilizados pelos
judeus incrédulos.

Composição e Autor

Este Evangelho tem na base uma testemunha ocular

que dá testemunho destas coisas e que as escreveu (JO 19,35.


21,24).

O autor esconde-se atrás de um singular epíteto1:

O discípulo que Jesus amava (JO 13,23; 19,26; 20,2).

A tradição, a partir de Santo Ireneu2, é unânime em atribuir este Evangelho a


“João”, irmão de Tiago e filho de Zebedeu, um dos Doze Apóstolos. Este foi o último
Evangelho a ser publicado, entre o ano 90 e 100.

Historicidade do Evangelho

Uma das características deste evangelho é a forma como chama os prodígios


realizados por Cristo o fato de dizer “sinais” aos milagres indica que se trata de fatos
significativos e não de meros símbolos. Com efeito, o próprio Jesus se proclama
testemunha da verdade (JO18, 37). Portanto é um texto que não se confina a meros
acontecimentos históricos, eles são testemunhados.

                                                       
1
Substantivo masculino Apelido; palavra que ligada a outra, é usada para qualificar, caracterizar um
nome ou pronome.
2
Santo Irineu de Lyon (ou Lião, cidade francesa da qual foi bispo). Nasceu provavelmente em
Esmirna, Ásia Menor, na primeira metade do século II. Alguns historiadores estimam a data entre 115
e 125, enquanto outros a põem entre 130 e 142. Foi discípulo de São Policarpo de Esmirna, que, por
sua vez, tinha sido discípulo de São João Apóstolo, discípulo Amado de Jesus Cristo.
 

 
 
Este Evangelho encontra-se alguns termos aramaicos e uma sintaxe semita,
isto mostra que é um escrito ligado à primitiva tradição oral palestinense. Por outro
lado, os muitos pormenores relativos às instituições judaicas, à cronologia e
geografia, provam o rigor da informação, às vezes confirmada por descobertas
arqueológicas. Sem as informações de João, não se poderiam entender
corretamente os dados dos Sinópticos.

Divisão e Conteúdo
A concepção desta obra obedece a uma linha de pensamento teológico
coerente e unificadora. Vamos a dividir este evangelho em duas grandes partes,
considerando em cada uma sua riqueza e profundidade:

 Prólogo (JO 1,1-18): uma solene abertura – finalidade conscientizar da vinda


do Cristo e a rejeição por parte dos homens “pois veio ao que era seu e os
seus não o conheceram”.
I. Manifestação de Jesus ao mundo (JO 1,19-12,50), como Messias, Filho
de Deus. Assinalo aqui cinco secções:

1. Primeiro ciclo da manifestação de Jesus: (JO 1,19-4,54).


2. Jesus revela a sua divindade: Ele é “o Filho”, igual ao Pai: (JO 5,1-47).
3. Jesus é “o Pão da Vida”: (JO 6,1-71).
4. Jesus é “a luz do mundo”: declarações messiânicas: (JO 7,1-10,42).
5. Jesus é “a vida” do mundo: (JO 11,1-12,50).

II. Revelação de Jesus aos seus (JO 13,1-21,25): manifestação a todos como
Messias e Filho de Deus.

1. A Última Ceia: (JO 13,1-17,26).


2. Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus: (JO 18,1-20,29).

 Epílogo (JO 20,30-21,25): dupla conclusão / Aparição na Galiléia.


 
 
Objetivo e Teologia

Possui um único objetivo:

Confirmar a fé em Jesus, como Messias e Filho de Deus (JO 20,30-


31).

Destina-se aos cristãos tanto vindos do paganismo (pois explica as palavras e


costumes hebraicos), como a aqueles que vinham do judaísmo.

Por tanto a finalidade de João é dar-nos a chave da compreensão do mistério


da pessoa e da obra salvadora de Jesus, sobretudo através do recurso constante às
Escrituras:

Investigai as Escrituras (...): são elas que dão testemunho de mim


(JO 5,39).

Além, fala-nos da fé e do amor verdadeiro, contendo assim a revelação mais


completa dos mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação do Verbo, o Filho
Unigênito, que nos torna filhos (adotivos) de Deus; também faz menção da
verdadeira comunhão de Deus com o homem (JO 10,1-18; 15,1-17; 21,15-17), os
Sacramentos (JO 3,1-8; 6,51-59; 20,22-23) e sobre o papel de Maria, a “mulher”,
nova Eva, Mãe da nova humanidade resgatada (JO 2,1-5; 19,25-27).

II. O Apocalipse de João “Ἀποκάλυψις Ἰωάννου”

“Apocalipse”, termo grego Ἀποκάλυψις, que significa “revelação”.

“Revelação” é, na verdade, o título com que o último livro da Bíblia aparece


em algumas edições. O estilo deste livro é estranho para a cultura ocidental, mas
enquadra-se perfeitamente na mentalidade grega e semita.

As raízes desta literatura encontram-se no “Antigo Testamento” (“Isaías”,


“Zacarias”, “Ezequiel” e, sobretudo “Daniel”), mas também em vários livros judeus
considerados não canônicos é dizer que não entraram na recopilação canônica da
Bíblia: “Henoc”, “2 Esdras” e “2 Baruc”. Estes últimos foram escritos depois da
destruição do primeiro Templo de Jerusalém. No entanto o primeiro (“Henoc”) faz


 
 
parte da tradição judaica cristã antiga. Porém, é preciso saber que foram estes os
livros que o Apóstolo “João” conheceu é inspiraram a compor o Livro da Revelação.

Gênero Literário

Este livro é escrito no gênero Apocalíptico, e tem seu início no “Antigo


Testamento” com “Daniel” e sua culminação no “Novo Testamento” com “João”. É
uma literatura própria das épocas de crise e de perseguição, em que se procura
“revelar” os caminhos de Deus sobre o futuro, para consolar e encorajar os justos
perseguidos, dando-lhes a certeza da vitória final.

Características do Livro

Por pertencer ao gênero Apocalíptico possui:

 Imagens grandiosas e simbólicas, constituídas por elementos da natureza,


apresentadas em forma de visões e “explicadas” ao vidente por um anjo. Tais
imagens são tiradas do “AT”, dos apocalipses judaicos, dos mitos e lendas
antigas. Assim, o papel dos anjos (JO 7,1-3); o livro selado (JO 5,1); o livro
para comer (JO 10,1-11); as trombetas (JO 8,2); as taças (JO 15,7); os
relâmpagos e trovões (JO 4,5; 10,3).
 Seres de outro mundo que nada tem a ver com a realidade. Trata-se de puros
símbolos (JO 1,16; 5,6; 21,16), que podem referir-se a pessoas, animais,
números e cores, deixando ao leitor um espaço para alguma criatividade e
“inteligência” (JO 13,18; 17,9).
 As visões simbólicas são projetadas no Céu, para dizer que pertencem ao
mundo espiritual, da fé e o que nelas se revela acontece também na terra.
 Duas forças antagônicas estão em luta permanente: o Dragão a possível
personificação do império romano, no tempo de Domiciano (JO 81-96 d.C.) e
o Cordeiro: Cristo, Cordeiro pascal, é o vencedor de todas as forças do Mal.


 
 
Finalidade e Autor

A perseguição a que se refere o “Apocalipse” poderia ser a que açoitou as


igrejas da Ásia no tempo do imperador Domiciano, por volta do ano 95. Também
havia as perseguições internas, isto é, as heresias, sobretudo os nicolaítas (2, 6.15),
os marcionitas e os que prestavam culto ao imperador.

O livro pretende responder à questão: “Quem manda no mundo? Os tiranos,


os senhores da Terra, ou o Senhor do Céu?” Este paralelismo entre o Céu e a Terra
assegura aos crentes que Deus os acompanha a partir do Céu, e a História segue o
seu curso na Terra sob o controle de Deus e não sob o controle dos poderes maus.
O “vidente” vive na terra, mas vê o que se passa no Céu e transmite aos seus
irmãos sofredores a certeza de que Jesus está com eles e a sua vitória está para
breve.

O simbolismo assegura aos cristãos que o Reino de Deus ultrapassa a


História que eles estão a viver, e ao mesmo tempo é uma linguagem secreta para os
perseguidores. No entanto o autor apresenta-se a si mesmo como “João” e escreve
em Patmos pequena ilha do Mar Egeu onde se encontra desterrado por causa da fé
(JO 1,9). A tradição cristã antiga identificou este João com o Apóstolo “João” (MT
4,21; JO 21,1-14).

Estrutura e Conteúdo

Aqui propomos duas divisões tendo em conta a Teologia existente no livro:

 Introdução (JO 1,1-20):

Introdução e saudação: (JO 1,1-8);


Visão do Ressuscitado: (JO 1,9-20).
I. Cartas às Sete Igrejas (JO 2,1-3,22):
II. Revelação do sentido da História (JO 4,1-22,5):
 Epílogo (JO 22,6-21).


 
 
Teologia

O “Apocalipse” exprime a fé da “segunda geração dos discípulos do Mestre”,


isto é, dos Apóstolos e dos discípulos dos mesmos. João coloca ao Cristo no meio
dos sete candelabros (JO 1,13) e têm na mão direita as sete estrelas (JO 1,16),
símbolos das sete igrejas, que personificam as comunidades onde foi proclamado o
mistério da Fé3. Portanto a mensagem é esta: “YHWH é o único Senhor da História”
No meio desta História encontram-se os discípulos como terra sagrada onde o
Cordeiro possui presença central e seu poder traspassa a terra e os Céus e neste
reinado o mal não tem poder nem força.

Por isso, o “Apocalipse” não pretende só “revelar” pormenores sobre o futuro


da Humanidade, mas dai-nos a certeza absoluta na bondade de Deus, que se
manifestou em Cristo.

2.6 Material Complementar

Analise e compare os seguintes texto:

A teologia deveria mostrar as


maravilhas de Deus, enquanto a filosofia, «Investigai as Escrituras (...): são elas
a beleza que o homem teria obrigação que dão testemunho de mim»
de ver, e a ciência a recusa que (JO 5,39).
realizamos a tudo isso; se algum desses
campos deixa de ver tais dificuldades é
porque está falhando em seus objetivos.
Livro “Metafísica Trilógica –
Libertação do ser”(KEPPE, 2002).

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3
A Boa Nova – a mensagem do Reino de Deus.

 
 
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2.7 Bibliografia

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Editora Paulinas, 2002.


KEPPE, Norberto da Rocha. A Consciência. 2. ed. São Paulo: Editora Proton,
2004. 
KEPPE, Norberto da Rocha. Metafísica Trilógica, Vol 2. Fenômenos Sensoriais
“Transcendentais”. São Paulo: Editora Proton, 2002.
KEPPE, Norberto da Rocha. Metafísica Trilógica, Vol. 1. Libertação do Ser.
2.ed.São Paulo: Editora Proton, 2000.
KEPPE, Norberto da Rocha. O Universo dos Espíritos Malignos. 2. ed. São
Paulo: Editora Proton, 2019.
KEPPE, Norberto da Rocha. Psicoterapia e exorcismo – B1. São Paulo: Editora
Proton, 2018.
LEIPOLDT J.,GRUDMANN W. El Mundo del Nuevo Testamento II y III. Madrid:
Editora Cristiandad, 1975.
MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. 2 ed. São Paulo: Edições
Paulinas,1984. 
NOGUEIRA, Carlos Roberto. O Diabo no imaginário cristão, 2000.
PACHECO, Claudia Bernhardt de Souza. ABC da Trilogia Analítica –
Psicanálise Integral. Editora Proton. São Paulo, 2010.
RAYMOND E. Brown, SS. FITTMYER. A. Joseph, SJ. MURPHY Roland O.
Carm. Comentario Bíblico de San Jerónimo, Tomo III y IV – Novo Testamento
I y II. Madrid: Editora Cristiandad.  

10 
 
GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

Disciplina: Literatura do “Novo Testamento”

UA 3: Escritos Paulinos e Pseudo Paulina

Professor Mestre: Aurélio Lima Correia.

Sumário
3.1 Carga-Horária da UA ..............................................................................1

3.2 Objetivo....................................................................................................1

3.3 Introdução................................................................................................1

3.4 Desafio ....................................................................................................2

3.5 Material de Estudo ..................................................................................2

3.6 Material Complementar...........................................................................9

3.7 Bibliografia.............................................................................................10

3.1 Carga-Horária da UA
• 5 horas.

3.2 Objetivo

• Conhecer em grandes rasgos a doutrina e a teologia Paulina.

1
3.3 Introdução

Caro aluno, nesta unidade você conhecerá a doutrina e a Teologia Paulina, a


importância de Paulo, de seus escritos e sua influência nas primeiras comunidades
cristãs nascidas fora de Jerusalém.
Paulo foi o grande responsável por expandir a pregação do evangelho no
intuito de robustecer o “Corpo místico de Cristo”. Tornou-se um dos mais
proeminentes líderes do nascente Cristianismo.
Neste estudo você, caro aluno contará com o auxílio da hermenêutica
Trilógica que ajudará a compreender, entender e aprofundar na teologia Paulina.
Além disso, através de um aforismo, você encontrará um desafio que tem
como finalidade introduzi-lo no ambiente Teológico. Ao final desta unidade, você
encontrará também um questionário e uma atividade complementar que visam
depurar seus conhecimentos, verificar sua aprendizagem e auxiliá-lo no processo de
seus estudos e conhecimentos Trilógicos.

3.4 Desafio

Reflita o seguinte texto e escreva sua reflexão:


É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai,
portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão
(GÁL 5,1).

3.5 Material de Estudo

I. Escritos Paulinos
Paulo (Paul(l) us): Este é o nome patrício romano assumido por Saulo de
Tarso e o nome pelo qual é conhecido, esta mudança de nomes hebraicos para
romanos ou gregos era comum, pois o nome simboliza a ação. Isto se certifica na
própria escritura do “Antigo e Novo Testamento” GN 17, 5. 15 e JO 1, 42.
Paulo nasceu em Tarso (AT 22,3), de pais judeus, que remontavam seus
antepassados a tribo de Benjamim (RM 11,1; Fl3, 5). A data de seu nascimento é
2
calculada a partir do martírio de Estevão (AT 7, 58), pois como o texto diz: “... um
jovem chamado Saulo” entre os anos 5 – 15 A.D1.
O percurso da sua vida pode-se relacionar com três datas fixadas da história:
a morte de Herodes Agripa (44 d. C); a administração de Galião em Corinto (50 – 51
ou 51 – 52 d. C) e a administração de Felix em Cesaréia (58 – 60 d. C). Erudito no
grego e no aramaico, e chega a Jerusalém depois da morte de Jesus.
Foi discípulo de Gamaliel (AT 22, 3), e considerado um dos mais rígidos
fariseus, pela sua educação chegou a ser parte do Sinédrio de Jerusalém, tendo a
missão de perseguir os discípulos do Caminho (Cristãos).
Sua Conversão foi o resultado de sua experiência com a Energia Incriada de
Deus na estrada de Damasco, diz o texto: Jesus apareceu-lhe e Saulo ficou “Cego2”
– (AT9. 22,6 – 16. 26,12 – 18). Depois deste episódio de metanoia Paulo converte-
se em companheiro de Barnabé e junto com ele inicia-se na proclamação da Boa
Nova, posteriormente será ele sozinho quem levará o Evangelho foras de
Jerusalém.
Resumindo a personalidade de Paulo, era um indivíduo vigoroso e
determinado tanto na mente como no corpo é evidente de sua atividade. Sua clareza
de pensamento era fortíssima porque fundada na sua identificação com Jesus Cristo
que ele pregava. Falava não para se vangloriar, mas porque se sente
necessariamente impelido a fazê-lo (1COR 9, 16- 17).
Não é meramente seu zelo que é impressionante; é também sua segurança
calma com que ele pode pregar o evangelho em qualquer lugar, segurança que ele
funda na fé e na esperança (2COR 12, 9), este é o principal motivo pelo qual é
considerado de “Apóstolo”. Foi morto em Roma antes da morte de Nero, em 67-68 d.
C, visto que era cidadão romano foi decapitado.

Paulo como Escritor

1A.D- AnnoDomini – Ano do Senhor


2Esta palavra, “CEGO” é uma figura teológica, que mostra a nova Criação Espiritual de Saulo... “Te
chamas Paulo”.
3
Paulo não foi primariamente um escritor, senão um anunciador do Evangelho
de Jesus. Todos seus escritos são espontâneos devido ás circunstancias nas quais
se encontravam (viagens), e o meio utilizado eram as Cartas porque este era o único
meio ao seu alcance para comunicar com as comunidades recentemente formadas:

Ai de mim, se não evangelizar! (1COR 9,16).

Gêneros Literários e Estrutura

As Cartas de Paulo encerram gêneros literários bem diferentes: desde o


tratado teológico sobre a fé, da Carta aos Romanos, até ao simples bilhete a
Filemon, passando pela multiplicidade temática de 1 e 2 Coríntios.

Estes gêneros literários devem-se, sobretudo as circunstancias da sua


viagem, pois, muitas das suas Cartas foram escritas nelas, mas também ao
temperamento arrebatado de Paulo, unido à sua espiritualidade de convertido. Não
podemos esquecer que ele era membro do Sinédrio, portanto conhecedor dos
métodos da exegese rabínica, aluno de Gamaliel, e portador de uma linguagem
semita muito aguda. Por tudo isto, utiliza frequentemente a linguagem da diatribe3
cínico-estóica e da antítese e do exagero semita (GL 3, 19; 1 COR 2,2).

As grandes antíteses de conteúdo teológico de Paulo são: Vida-Morte, Carne-


Espírito, Luz-Trevas, Sono-Vigília, Sabedoria-Loucura da Cruz, Letra-Espírito, Lei-
Graça (2COR 3, 1-19).

Estrutura das Cartas de Paulo

Todos os escritos de Paulo possuem esta estrutura:

• Saudação. Paulo dirige-se a determinada comunidade cristã e saúda-a, por


vezes longamente, desejando-lhe os bens cristãos em que aparece, com
frequência, a fórmula trinitária. Nesta saudação encontra-se já um resumo da
fé cristã.

3 Exposição critica filosófica (cínica e estóica).


4
• Corpo da Carta. Aqui desenvolve a sua doutrina, faz as suas exortações e
responde aos problemas e questões da comunidade. Esta parte constitui a
quase totalidade da Carta e mostra-nos qual o seu objetivo.
• Conclusão. Por vezes, é bastante extensa e contém várias saudações e
ações de graças de origem litúrgica (FL 4 2-23).

Cartas de Paulo
As cartas de Paulo são 13, anteriormente se indica que era 14, porem
estudos exegéticos descartaram do Corpus Paulinum a Carta aos Hebreus, por
possuir rasgos diferentes tanto na escritura como na doutrina do texto, portanto
Hebreus, é uma carta Seudo Paulina. As Cartas de Paulo se dividem em dois
grupos:

• As epístolas paulinas autênticas


1. 1a Carta aos Tessalonicenses (provavelmente a mais antiga, escrita entre os
anos 50-51 d. C).
2. Carta aos Filipenses.
3. 1a Carta aos Coríntios.
4. 2a Carta aos Coríntios.
5. Carta aos Gálatas.
6. Carta a Filemon.
7. Carta aos Romanos.

• As epístolas paulinas pseudo-epigráficas o epístolas deutero-paulinas


1. Carta aos Efésios.
2. Carta aos Colossenses.
3. 2 a Carta aos Tessalonicenses.
4. 1a Carta a Timóteo.
5. 2a Carta a Timóteo.
6. Carta a Tito.

5
Teologia Paulina

O conteúdo teológico das Cartas de Paulo é variado, nelas temos:

• Escatologia, ou seja, a doutrina que se refere aos últimos acontecimentos


da História da Salvação;

• Antropologia, a graça atuando no homem (Paulo divide o homem em três


dimensões, (Soma (Soma), yixh (psique), hous (pneuma – espírito)).

• Soteriologia, sobre o papel de Deus e do crente na salvação.

• Cristológico, o lugar central de Cristo na realização do plano salvador de


Deus.

• Eclesiológico, o papel que Deus confiou à Igreja, por meio de Cristo, para a
realização do seu plano de salvação integral da humanidade.

Além de todo o conteúdo teológico já visto, é Paulo quem elabora o corpo da


Tradição Cristã (COL 2,8. 14.20-22) Parádosis (Parádosis), a partir de temas
tradicionais do judaísmo-cristão ou do helenismo. Recopilou hinos, exortações,
citações, profecias, tanto do judaísmo, do helenismo e do mundo semita...

Caro estudante é preciso entender que a figura de Paulo é importante, foi


Nele, pela primeira vez, que os discípulos de Jesus se encontraram com a
civilização do mundo, e nunca o mundo aprendeu uma linguagem cristã mais
verdadeira que a do Apóstolo Paulo.

II. Carta Pseudo Paulina

Hebreus4:

Olhando para Jesus autor e consumador da fé, o qual pelo gozo que
lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta, e
assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois aquele que

Este termo vem da palavra hebraica i&bri, um nome do povo hebreu ou israelita.
4

6
suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que
não enfraqueçais, desfalecendo em vosso ânimo (HB 12, 2-3).

A “Carta aos Hebreus” não foi escrita por São Paulo e não é uma carta. Nela
o autor fala, não escreve, e mantém um tom oratório. É na realidade uma pregação
escrita, destinada a ser falada. O fim da carta dá a impressão de uma verdadeira
carta escrita por Paulo, no entanto trata-se de um sermão cristão, da era apostólica,
obra de um discípulo ligado ao pensamento paulino.
O tema central da pregação é Cristo Jesus “Sumo Sacerdote da Nova
Aliança”, que por sua morte alcançou o perdão dos pecados uma vez por todas.
Tudo converge para ele. A humanidade é chamada a entrar no seu repouso
percorrendo o itinerário que passa pela conversão, pela fé perseverante, pelo
aprendizado da palavra de Deus e pela vivência da caridade fraterna. Unido a Cristo
e integrado na comunidade, o cristão oferece a Deus por sua vida um continuo culto
de louvor.
A grande novidade da “Carta aos Hebreus” é o título de “Sumo Sacerdote”
dado a Cristo. É o único texto do “Novo Testamento” que chama Cristo de Sumo
Sacerdote. Os Evangelhos, os Atos, as Cartas já sejam Paulinas e Apostólicas, ou o
“Apocalipse” nunca dizem que Jesus é Hieratéia (Hieratéia) é dizer “Sacerdote”. Os
primeiros cristãos não usavam a palavra “sacerdote”. A expressão era própria dos
pagãos e dos judeus. Os cristãos não tinham sacerdotes como os judeus e os
pagãos. Eles tinham supervisores, anciãos, servidores.
A “Carta aos Hebreus” chama Jesus de sumo sacerdote, mas sem confundi-lo
com o sumo sacerdote conhecido dos judeus. A expressão aparece pela primeira
vez em HB 2,16-18. O texto afirma primeiro que Jesus não veio ocupar-se com anjos
e sim com a descendência de Abraão. Por isso, conclui, “ele teve que se tornar em
tudo semelhante aos irmãos”: não um “sacerdote” segregado, separado, diferente
dos outros. “Para ser um sumo sacerdote misericordioso e confiável”: ás duas
expressões “misericordioso e confiável” caracterizam o sacerdócio de Cristo.

7
Destinatários
Não encontramos no texto nenhuma referência aos Hebreus como
destinatários, e nada indica que o grego em que está escrito seja uma tradução do
hebraico. É, portanto, difícil dizer quais os seus destinatários, embora o título «aos
Hebreus» seja muito antigo do século II).
Pode facilmente admitir-se que fosse dirigida a judeus convertidos ao
cristianismo, saudosos do culto judaico que antes praticavam. O título parece
justificar-se ainda mais, se tivermos em conta o conteúdo da carta, pois ela
pressupõe leitores bem conhecedores do culto e da liturgia judaica.

Autor, Local e Data


São igualmente imprecisos o autor, o local e a data da sua composição. As
Igrejas do Oriente sempre a considerarão uma carta canônica, já no ocidente foi
aceita como canônica depois dos ano 350 d. C.
Há apenas um dado que pode apontar-nos para o lugar de composição.
Trata-se de HB13,24: «Os da Itália saúdam-vos.» Mas trata-se de uma expressão
que nada ajuda, por ser muito vaga e se prestar a várias localizações.
Quanto à data de composição, não pode aceitar-se uma época muito tardia,
pois Clemente de Roma cita-a por volta do ano 95. Por outro lado, a relativa
afinidade entre a sua teologia e a das Cartas do cativeiro de Paulo (EF, CL, FLM),
aponta para uma data próxima do martírio de Paulo, situado pelo ano 67. Uma vez
que o autor se refere à liturgia do templo de Jerusalém como uma realidade ainda
atual, tudo parece convergir para que os últimos anos antes da destruição de
Jerusalém e do Templo, ocorrida no ano 70, sejam a data mais provável da sua
composição.

Estrutura da Carta

Vamos a dara á “Carta dos Hebreus” a seguinte estrutura:

• Prólogo (1,1-4).
I. O Filho de Deus é superior aos anjos (1,5-2,18).
8
II. Jesus, Sumo Sacerdote fiel e misericordioso (3,1-5,10).
III. Sacerdócio de Jesus Cristo (5,11-10,18).
IV. A fé perseverante (10,19-12,29):
• Apêndice (13,1-25): últimas recomendações (13,1-19); bênção e saudação
final (13,20-25).

Teologia da Carta aos Hebreus

A Teologia da carta é cristológica. O tema central é o “Sacerdócio de Cristo” e


o culto cristão. A novidade é grande:

Uma pessoa, Jesus Cristo, Filho de Deus e irmão dos homens, é o Sumo
Sacerdote superior a Moisés e comparável à figura misteriosa de Melquisedec.

Nenhum documento bíblico fora dos quatro evangelhos se concentra tão


totalmente e com tanta força sobre a pessoa e a conquista redentora de Jesus.
Provavelmente este fator mais do que qualquer outro assegurou o seu lugar de
destaque no cânon da comunidade primitiva nas Escrituras (a comunidade cristã do
oriente sempre a considero por este motivo canônico), apesar das dúvidas quanto a
sua origem no Ocidente.

3.6 Material Complementar

Análise o seguinte texto:


GÁL 5,16-25
...deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da
carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes
aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não
fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito,
não estais sob a Lei. Ora, as obras da carne são estas: fornicação,
impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas,
ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras,
orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos previno,

9
como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de
Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz,
paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança.
Contra estas coisas não há Lei. Pois os que são de Jesus Cristo
crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências. Se vivemos
pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito. Não
sejamos ávidos da vanglória. Nada de provocações, nada de invejas
entre nós.
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Sugestão: Veja o seguinte vídeo para reforçar sua aprendizagem - Paulo


Apóstolo de Cristo - Dublado Filme Completo. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=YE7oDFw__40 >. Acesso em: 14 fev.2023.

3.7 Bibliografia

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Editora Paulinas, 2002.


HAMMAN, A. G. A Vida Cotidiana dos primeiros cristãos (95-197). São Paulo:
Paulus, 1997. (Patrologia).
KEPPE, Norberto da Rocha. A Consciência. 2. ed. São Paulo: Editora Proton,
2004.
KEPPE, Norberto da Rocha. Metafísica Trilógica, Vol 2. Fenômenos Sensoriais
“Transcendentais”. São Paulo: Editora Proton, 2002.
10
KEPPE, Norberto da Rocha - O Reino do Homem. Vol. I, Cap. VIII. São Paulo:
Editora Proton, 1983.
KEPPE, Norberto da Rocha. O Universo dos Espíritos Malignos. 2. ed. São
Paulo: Editora Proton, 2019.
KEPPE, Norberto da Rocha. Psicoterapia e exorcismo – B1. São Paulo: Editora
Proton, 2018.
KOESTER, Helmult. Introdução ao Novo Testamento. Volume 2: história e
literatura do cristianismo primitivo. São Paulo: Paulus, 2005 a.
KOESTER, Helmult. Introdução ao Novo Testamento. Volume 1: história,
cultura e religião do período helenístico. São Paulo: Paulus, 2005 b.
LEIPOLDT J.,GRUDMANN W. El Mundo del Nuevo Testamento II y III. Madrid:
Editora Cristiandad, 1975.
MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. 2 ed. São Paulo: Edições Paulinas,
1984.
MEEKS, Wayne. A. As origens da moralidade cristã: os dois primeiros séculos.
São Paulo: Paulus, 1997. (Bíblia e sociologia).
NOGUEIRA, Carlos Roberto. O Diabo no imaginário cristão, 2000.
NUNES, Ruy. A. C. História da educação na antiguidade cristã: o pensamento
educacional dos mestres e escritores cristãos no fim do mundo antigo. São Paulo:
EPU, 1978.
PACHECO, Claudia Bernhardt de Souza. ABC da Trilogia Analítica –
Psicanálise Integral. São Paulo: Editora Proton, 2010.
RAYMOND E. Brown, SS. FITTMYER. A. Joseph, SJ. MURPHY Roland O. Carm.
Comentario Bíblico de San Jerónimo, Tomo III y IV – Novo Testamento I y II.
Madrid: Editora Cristiandad.
BOM SAMARITANO. Paulo o Apóstolo de Cristo (Filme completo dublado).
Youtube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YE7oDFw__40>.
Acesso em: 14 fev. 2023.

11
 

GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

Disciplina: Literatura do “Novo Testamento”

UA 4: Cartas Católicas ou Apostólicas

Professor Mestre: Aurélio Lima Correia.


 
Sumário
4.1 Carga-Horária da UA ..............................................................................1

4.2 Objetivo....................................................................................................1

4.3 Introdução................................................................................................2

4.4 Desafio ....................................................................................................3

4.5 Material de Estudo ..................................................................................3

4.6 Material Complementar............................................................................8

4.7 Bibliografia................................................................................................9

 
 
4.1 Carga-Horária da UA
 5 horas.

 
4.2 Objetivo
 Conhecer o núcleo da mensagem das sete cartas católicas, para
diferencia-las das Cartas Paulinas.

 
 


 
 
4.3 Introdução

Caros alunos existem sete cartas ou epístolas do “Novo Testamento” que não
são do Apóstolo Paulo, estas foram reunidas bem cedo numa mesma coleção, não
obstante de origens diversas, estas são: uma de Tiago, uma de Judas, duas de
Pedro, três de João. Os títulos delas são muito antigos. A palavra “católica” significa
universal, pelo fato delas ser um escrito para todas as comunidades Cristãs
dispersas pelo mundo, portanto nenhuma delas tem destinatário particular. Alguns
dão o nome de Cartas Universais ou Apostólicas, para não usar o termo “Católico”,
pois dá a entender que os escritos são de posse de uma só confissão religiosa e
esta forma de compreender fechar a amplitude destes escritos. Elas possuem
riquezas, espirituais e teológicas, aspectos importantes para o nosso estudo em
Teologia.
No entanto, o conteúdo destas cartas passam pelo cuidado a ter com os
falsos mestres, a necessidade de guardar a integridade da fé, a exortação à
fidelidade na perseguição e a proximidade dos fins dos tempos. Estas temáticas
denunciam uma época relativamente tardia, em que estes problemas eram os mais
prementes, devido ao aparecimento das primeiras heresias cristológicas e as
perseguições as quais a primeira e segunda geração de cristãos viveram.
Neste estudo você, caro aluno contará com o auxílio da hermenêutica
Trilógica que ajudará a compreender, entender e aprofundar na finalidade de este 7
escritos do “Novo Testamento”.
Além disso, através de um aforismo, você encontrará um desafio que tem
como finalidade introduzi-lo no ambiente Teológico das Epístolas Católicas. Ao final
desta unidade, você encontrará também um questionário e uma atividade
complementar que visam depurar seus conhecimentos, verificar sua aprendizagem e
auxiliá-lo no processo de seus estudos Teológicos.


 
 
4.4 Desafio

Reflita o seguinte texto e escreva sua reflexão:


Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos
amou… (1JO 4, 10).

4.5 Material de Estudo

Cartas Católicas ou Apostólicas


Estas cartas são um grupo de sete escritos do “Novo Testamento”, possuem
o nome de Católicas, a partir do século IV, estas cartas são: Tiago, 1.ª e 2.ª de
Pedro, 1.ª, 2.ª e 3.ª de João e Judas.

O termo de “Católico” significa universal, a designação deste nome se deve a


que estas cartas são dirigidas a todos os homens da terra, e não a comunidades ou
pessoas concretas, portanto elas são uma coleção de sete “Encíclicas”. Mas nem
todas estas Cartas foram, desde os primeiros tempos, universalmente reconhecidas
como escritos inspirados; por isso, o historiador Eusébio colocou as Cartas de Tiago,
2.ª de Pedro, 2.ª e 3.ª de João e Judas (assim como o “Apocalipse”) entre os “livros
discutidos, embora admitidos pela maioria”, aos quais chamamos Deuterocanónicos.

Conteúdo Comum das Sete Cartas

O que estas Cartas têm de comum é a temática:

 Cuidados a ter com os falsos mestres: 2 PE 2,1-3.10-22; 2 PE 3,3-4.16-17;


1 JO 2,18-23.26; 1 JO 4,1-6; 2 JO 7-11; JD 4-19.

 Necessidade de guardar a integridade da fé: TG 2,14-26; TG 3,13; TG 4,3-


12; TG 5,7-11; 1 PE 2,11-12.13-17; 1 PE 4,1-4; 2 PE 3,1-7.14-18; 1 JO 2,18-
29; 1 JO 4,1-6; 2 JO 7-11.

 Exortação à fidelidade na perseguição: TG 1,2-4.12; TG 4,7; 1 PE 1,6-7; 1


PE 2,11-17; 1 PE 3,13-17; 1 PE 4,12-19; 1 PE 5,6-10; 1 JO 2,24-28.


 
 
 Proximidade do fim dos tempos: TG 5,3.7-9; 1 PE 1,5; 1 PE 4,7; 2 PE 3,3-
4.8-10; 1 JO 2,18-19; JD 18.

Descrição das Cartas Individualmente

1. “Carta ou Epistola de Tiago”


Foi escrita por Tiago, chamado “irmão do Senhor “(GL 2,6-12), Bispo de
Jerusalém, aquele que convocou o primeiro concilio dos Apóstolos em Jerusalém no
ano 49 d.C (AT.15) morreu mártir no ano 62 aproximadamente.
Mais que uma carta, poderia classificar-se como uma homilia ou catequese
que exorta à paciência nas tribulações, ao domínio da língua, à misericórdia e as
virtudes como dom do Espírito Santo. É dirigida a todas as comunidades cristãs,
simbolizadas pelas doze tribos de Israel. A Carta, sobretudo, reduz a lei ao
mandamento do amor ao próximo: exalta os pobres e adverte severamente os ricos.
Insiste nas práticas das boas obras e previne contra uma fé estéril.

Conteúdo Teológico
Como escrito tipicamente didático e moral, a Carta não obedece a um plano
doutrinal previamente elaborado. Os temas apelam a que os fiéis vivam o espírito
cristão em todas as circunstâncias de um modo coerente com a fé, em perfeita
unidade de vida: o comportamento dos cristãos tem de ser um reflexo da sua fé.
Esta Carta, também é importante para a Teologia Sacramental pois é o único
escrito do “Novo Testamento” que faz referência ao Sacramento da Unção dos
Enfermos (TG5,13-15), que não aparece como um piedoso costume, mas como um
dos Sacramentos instituído por Cristo, capaz de revigorar o corpo, a alma e a mente.

2. “Cartas ou Epístolas de Pedro” (1 E 2)


 1a Pedro
É um escrito didático e exortatório que se propõe afiançar na fé grupos de
cristãos ameaçados pelo perigo da apostasia. O ensino gira em torno da graça e do
compromisso do Batismo e da esperança na vinda de Cristo.


 
 
Os cristãos foram escolhidos e convocados por Deus para seguir e obedecer
a Jesus Cristo na sua vida e em seus ensinamentos. A comunidade cristã é
escolhida como Templo de Deus e do Espírito, cuja firmeza é Cristo, a pedra angular
sobre a qual está construída.
O autor é o apóstolo Pedro, conforme nos diz na própria carta. É escrita na
Babilônia. Embora alguns coloquem em dúvida sua autenticidade, não há razões
para não atribuí-la a Pedro. Data do ano de 64, anterior à perseguição de Nero.

Divisão e Conteúdo

A carta encontra-se dividida em 4 secções:

Saudação inicial e acção de graças: 1,1-12;


I. Exortação à santidade: 1,13-2,10;
II. Os cristãos perante o mundo: 2,11-3,12;
III. Os cristãos perante o sofrimento: 3,13-4,11;
IV. Últimas exortações: 4,12-5,14.

 2a Pedro
Apresenta-se como o testemunho de Pedro que vê próxima a sua morte.
Alguns exegetas, no entanto, costumam atribuir-lhe uma data posterior, apoiados em
razões de tipo interno, de estilo, vocabulário, etc. É atribuída a um discípulo do após-
tolo na primeira metade do século II.
O tema central da carta é a volta de Cristo. Não a descreve como uma
transformação do mundo nem como o reinado de Deus sobre a sua criação, senão
como a destruição total da realidade presente.
Três pontos da carta merecem destaque: a vocação cristã à “participação da
natureza divina”; a definição do caráter inspirado das Escrituras; a certeza da
Parusia futura (segunda vinda de Cristo no final dos tempos), apesar da demora e
da incerteza de seu dia. Termina com a perspectiva de um mundo novo onde
habitará a justiça.


 
 
Divisão e Conteúdo

Podemos estruturar 2 PE do seguinte modo:

Saudação: 1,1-2;
I. Exortação à perseverança na fé: 1,3-21;
II. Denúncia dos falsos mestres: 2,1-22;
III. A segunda vinda do Senhor: 3,1-16;
Conclusão: 3,17-18.

3. Cartas ou Epístolas de João (1, 2 E 3)

O “Novo Testamento” inclui três Cartas atribuídas ao apóstolo João, além do


IV Evangelho. A 1.ª sempre foi aceite como escrito inspirado; as dúvidas de
autenticidade incidem na 2.ª e na 3.ª carta, certamente por serem menos conhecidas
e utilizadas, dado o seu menor interesse e importância. Se diz que o autor é o
apóstolo João devido as enormes semelhanças de vocabulário, estilo, ideias e
doutrina. As Cartas não aparecem assinadas, apenas existe uma menção de um
“Ancião – Presbítero” no primeiro capítulo da 2.ª e da 3.ª carta, sem declarar o seu
nome, por este motivo toda a tradição as atribuiu ao Apóstolo João.

 1.ª João:

Não tem endereço e não parece ser dirigida apenas a uma comunidade, mas
provavelmente ao conjunto das igrejas que estavam ligadas ao Apóstolo João. A
tradição diz que ele passou os seus últimos tempos em Éfeso; os destinatários
seriam provavelmente as comunidades cristãs da Ásia Proconsular, sobretudo
aquelas a quem se endereçam as Cartas do início do “Apocalipse”.

Divisão e Conteúdo

Prólogo: 1,1-4;
I. Caminhar na Luz: 1,5-2,29;
II. Viver como filhos de Deus: 3,1-24;


 
 
III. A fé e o amor: 4,1-5,12;
Conclusão: 5,13-21.

 2a João:

É um brevíssimo escrito dirigido «à Senhora eleita e a seus filhos» (v.1),


designação simbólica de uma igreja concreta da Ásia Menor; pois, se fosse uma
pessoa singular, não teria o mesmo nome da sua irmã: «Saúdam-te os filhos da tua
Irmã eleita» (v.13). Incentiva os fiéis à vida cristã e à caridade e defendê-los da
heresia.

 3a João:

Também é um brevíssimo escrito e dirigida a um cristão, chamado Gaio.


Anima-o a continuar a receber em sua casa os enviados do Apóstolo João, que
eram mal recebidos pelo chefe da comunidade local, um certo Diótrefes. Portanto
exorta a caridade e à cordialidade.

4. Carta ou Epístola de Judas


O autor apresenta-se como «irmão de Tiago» (1,1), ou seja, «irmão do
Senhor». O estilo e a linguagem retórica da carta não são próprios de um judeu
palestinense. Isso e outras referências as pregações dos apóstolos sobre os tempos
difíceis sugere uma época relativamente tardia. Assim como a carta de Tiago, pare-
ce ser do final do séc. I.
O que interessa a Judas é delatar os perversos doutores que colocam em
perigo a fé cristã. Ameaça-os com um castigo divino. Suas blasfêmias e abusos
morais não passarão sem o castigo diante Deus.
A Carta não menciona os destinatários; seriam cristãos residentes fora da
Palestina, que correriam o perigo de se deixarem seduzir por vícios próprios do
paganismo.


 
 
Conteúdo
A maior parte desta pequena carta dirige-se contra os falsos mestres, que se
tinham infiltrado nas comunidades. Além do falado, esta carta faz menção de um
escrito muito antigo o Livro de “Henoc” (v.6) considerado como apócrifo, também
menciona a Assunção de Moisés no verso 9.
Aqui nesta Carta podemos encontrar uma das mais belas bênçãos
relacionada à Sagrada Escritura. Ela menciona o ato de Deus de preservar o ser
humano queda espiritual e a sua providência em nos conduzir ao seu futuro Reino
Celestial.
Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e
apresentar-vos ante a sua glória imaculados e jubilosos, ao único
Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória,
majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, e agora, e
para todo o sempre. Amém (JD 24,25).

4.6 Material Complementar

Analise o seguinte texto Bíblico: “Epistóla de Judas” 12b.13.19


São nuvens sem água arrastadas pelos ventos; árvores de Outono
sem fruto, duas vezes mortas e arrancadas pela raiz; ondas furiosas
do mar a cuspir a espuma das suas desvergonhas; astros errantes,
para os quais está reservada para sempre a mais tenebrosa
escuridão (12 b-13).
Estes são os que semeiam divisões, pessoas guiadas pelos seus
instintos, pessoas que não têm o Espírito (19).
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4.7 Bibliografia

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Editora Paulinas, 2002.


BALZ. Horst, SCHANEIDER Gerhard. Diccionario Exegético del Nuevo
Testamento I (a-k). Salamanca: Edições Sígueme, 2005.
BORING. M. Eugene. Introdução ao Novo Testamento, História, Literatura e
Teologia - volume 2- Cartas católicas, Sinóticos e Escritos Joaninos. São Paulo:
Editora Paulus, 2016.
CARREZ, M. et al. As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e Judas. São Paulo:
Paulinas, 1987.
La Bíblia Latinoamericana. Madrid: Editora San Pablo. 109. ed. 1988.
Lacueva. F. Interlineal – Nuevo Testamento Griego - Español. Barcelona:
Editora Terrassa, 1987.
LEIPOLDT. J. e GRUNDMANN, W. El Mundo del Nuevo Testamento. Madrid:
Ediciones Cristiandad. 3. ed., 1973.
MORESCHINI, Claudio. e NORELLI, Enrico. História da Literatura Cristã
Antiga Grega e Latina. São Paulo: Edições Loyola, 1996.


 

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