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MÓDULO

8 EVANGELHOS
E ATOS

LIVRO DIDÁTICO
FACULDADE
CRISTÃ DE CURITIBA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. A PALESTINA DO SÉCULO I a.C.
1.1. Contexto político e social do Novo Testamento
1.1.1. Antecedentes do século I d.C.
1.1.1.1. Período Grego
1.1.1.2. Os Macabeus
1.1.1.3. Período Romano
1.1.2. O século I d.C.
1.1.2.1. A política romana da Judeia
1.1.2.2. Aspectos Econômicos
1.1.2.2.1. A pirâmide social
1.1.2.3. Aspectos do Mundo Religioso
1.1.2.4. Filosofias greco-romanas
1.2. As Instituições religiosas e os partidos político-religiosos
1.2.1. O Templo
1.2.2. A sinagoga
1.2.3. O Sinédrio
1.2.4. Fariseus
1.2.5. Saduceus
1.2.6. Zelotes
1.2.7. Essênios
1.2.8. Samaritanos
1.3. EVANGELHOS: QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
1.3.1. Conceito teológico

02
SUMÁRIO
1.3.3. A Crítica das Formas
1.3.1. Categorias ou Gêneros
1.4. A QUESTÃO DOS EVANGELHOS SINÓTICOS
1.4.1. A Crítica das Fontes
1.4.2. As semelhanças nos Sinóticos
1.4.3. As diferenças nos Sinóticos
1.4.4. Inventário
1.4.5. A Crítica dos Evangelhos
1.4.5.1. Hipóteses de origem dos Evangelhos canônicos
1.4.5.2. Hipótese baseada na prioridade de Marcos
1.4.5.3. A Crítica da Redação
1.4.5.3.1. Propósitos da Crítica da Redação
1.4.5.3.2. Principais Características

2. O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS


2.1. Questões Históricas
2.1.1. Autoria
2.1.2. Data
2.1.3. Lugar de Composição
2.1.4. Propósito
2.2. Questões Literárias
2.2.1. Crítica Textual
2.2.2. Linguagem e Estilo
2.2.3. Estrutura Literária

03
SUMÁRIO
2.3. Questões Teológicas
2.3.1. Jesus é o Messias, o Cristo
2.3.1.1. Jesus: Messias investido com poder
2.3.1.2. O segredo messiânico
2.3.2. Jesus é o Filho do Homem
2.3.3. Jesus é o Filho de Deus

3. O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS


3.1. Questões Históricas
3.1.1. Autoria
3.1.2. Data
3.1.3. Lugar de Composição
3.1.4. Propósito
3.2. Questões Literárias
3.2.1. Crítica Textual
3.2.2. Linguagem e Estilo
3.2.3. Estrutura Literária
3.3. Questões Teológicas
3.3.1. Núcleo do pensamento mateano
3.3.1.1. Dimensão Eclesiológica
3.3.1.2. Dimensão Cristológica
3.3.1.3. Dimensão Ética e Moral
3.3.2. O Reino de Deus

04
SUMÁRIO
3.3.3. Escatologia

4. O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS


4.1. Questões Históricas
4.1.1. Autoria
4.1.2. Data
4.1.3. Lugar de Composição
4.1.4. Propósito
4.2. Questões Literárias
4.2.1. Crítica Textual
4.2.2. Linguagem e Estilo
4.2.3. Estrutura Literária
4.3. Questões Teológicas
4.3.1. A salvação
4.3.2. O universalismo da salvação
4.3.3. A paixão de Cristo
4.3.4. O Espírito Santo
4.3.5. A oração
4.3.6. O louvor, a gratidão e a alegria
4.3.7. A importância das mulheres
4.3.8. O Evangelho para os pobres
4.4. ATOS DOS APÓSTOLOS
4.4.1. Questões Históricas
4.4.1.1. Autoria

05
SUMÁRIO
4.4.1.2. Data
4.4.1.3. Lugar de Composição
4.4.1.4. Propósito
4.5. Questões Literárias
4.5.2.1. Crítica Textual
4.5.2.2. Linguagem e Estilo
4.5.2.3. Estrutura Literária
4.5.3. Questões Teológicas
4.5.3.1. A importância da ressurreição de Cristo
4.5.3.2. O Espírito Santo
4.5.3.3. A universalidade da salvação
4.5.3.4. Os marginalizados
4.5.3.5. A Igreja
4.5.3.6. A importância da oração

5. O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO


5.1. Questões Históricas
5.1.1. Autoria
5.1.2. Data
5.1.3. Lugar de Composição
5.1.4. Propósito
5.2. Questões Literárias
5.2.1. Crítica Textual
5.2.2. Linguagem e Estilo

06
SUMÁRIO
5.2.3. Estrutura Literária
5.3. Questões Teológicas
5.3.1. Deus
5.3.2. Jesus
5.3.3. Espírito Santo
5.3.4. Espírito Santo: fonte da vida eterna e princípio de
adoração ao Pai
5.3.5. O universalismo da salvação
5.3.6. A eficácia da oração
5.3.7. Perseverança final e ressurreição futura
5.3.8. O dualismo Joanino

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO 08
EVANGELHOS CAPÍTULO 4
E ATOS
O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

Olá estudante, nesse capítulo vamos estudar o Evangelho Segundo Lucas e


o livro de Atos, te convido a aprender mais sobre esses livros que são tão
ricos em detalhes. Vamos começar...

Lucas é o pesquisador dos fatos. Este Evangelho é o mais longo dos quatro.
Porém, é apenas a metade da grande obra lucana, uma vez que
originalmente estava unido aos Atos como a primeira parte de uma obra
em dois volumes, cuja extensão é maior que um quarto de todo O Novo
Testamento. Uma narrativa magnífica que conjuga a história de Jesus com
a da Igreja dos primórdios. Lucas se distancia de Marcos mais do que
Mateus, e podemos dizer que teologicamente está a meio caminho entre
Marcos-Mateus e João. Certamente, ainda que todos os evangelistas sejam
teólogos, o número de obras sobre a teologia de Lucas é surpreendente
(BROWN, 2002, p. 311).

O estudo do Evangelho Segundo Lucas também será feito em três seções:


questões históricas, questões literárias e questões teológicas. Os objetivos
continuam sendo os mesmos.

Cabe ressaltar que durante o estudo de Lucas faremos algumas menções ao


Livro de Atos. Isto se justifica tendo em vista que, ao que tudo indica,
trata-se de uma obra que pretende dar continuidade ao Evangelho. Dessa
forma, diversas questões tratadas aqui no Evangelho Segundo Lucas
servirão igualmente para o Livro de Atos e, por isso, devemos aproveitar
para trata-las em conjunto.

Te convido, nesse momento a conhecer algumas questões históricas.

4.1 QUESTÕES HISTÓRICAS

Como já deve ser de conhecimento do leitor, as questões históricas irão


tratar da origem, autor, data, lugar de composição, destinatários e
situação que motivou a obra. De igual modo, trata também das fontes
porventura utilizadas.

4.1.1. AUTORIA

O Evangelho Segundo Lucas e o Livro de Atos dos Apóstolos são obras


concebidas e escritas para o serviço da comunidade cristã e, portanto,
provavelmente foram escritas como obras anônimas. No século II, quando
foram sendo agrupados os diversos escritos apostólicos e teve início a
formação do cânon dos livros do Novo Testamento, foram colocados os
títulos nas duas obras, da mesma forma que nos outros escritos, para
distingui-las das demais. A primeira parte se chamou Evangelho Segundo
Lucas, atribuindo-se assim a obra a tal personagem. A segunda parte
recebeu o título de Atos dos Apóstolos, sem aludir ao autor, mas a tradição
antiga sempre o atribuiu à mesma pessoa que escreveu o Evangelho,

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EVANGELHOS CAPÍTULO 4
E ATOS
O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

devido às afinidades entre as duas obras, dedicadas, além disso, à mesma


pessoa (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 433).

A tradição, desde Marcião e Irineu, no século II, identificou esse Lucas com
o companheiro de Paulo, médico, aquele de quem falam as cartas de Paulo
(Cl 4.14; Fm 14; 2Tm 4.11), e até o século XIX não se duvidou dessa
identificação. Irineu afirma que “Lucas, o companheiro de Paulo, registra
em um livro o Evangelho pregado por ele”. Do mesmo modo, os
testemunhos de Orígenes, Eusébio, Atanásio, Gregório de Nazianzo,
“A ligação de Jerônimo, e outros condizem com isso (BERKHOF, 2014, p. 79).
Lucas com Paulo Ainda hoje prevalece a ideia de que o autor se chamava Lucas, pois este
parece ter sido nome nunca foi discutido na tradição; além disso, não pode ser
pseudoepígrafe, porque, neste caso, seria mais sensato atribuir a obra a
tão forte que o um personagem de maior relevância, como Pedro, Paulo, ou outro nome de
testemunho maior destaque na Igreja Primitiva. De mesma forma, se aceita que o
autor não foi uma testemunha direta de Jesus (Lc 1-4), mas um cristão da
antigo chega a segunda geração cristã; pessoa culta, familiarizada com a cultura helenista
afirmar que “A e veterotestamentária, possivelmente nascida fora da Palestina e de
compilação de origem gentílica, relacionada com as igrejas paulinas, para as quais
escreve (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 434).
Lucas é
frequentemente Estimado aluno, o único conhecimento que temos sobre Lucas deriva de
algumas passagens nas epístolas paulinas (cf. acima). Das duas primeiras
atribuída à passagens (Cl 4.14; Fm 14) resulta o seguinte: em primeiro lugar podemos
Paulo.” afirmar que Lucas foi um dos colaboradores de Paulo no trabalho
missionário entre os gentios; em segundo lugar, uma vez que em Cl 4.10s
Paulo destaca os colaboradores da circuncisão de forma específica, sem
arrolar Lucas entre eles, podemos ter certeza de que ele era um gentio
cristão; do título de médico (Cl 4.14) podemos inferir que ele era
cientificamente instruído. A partir do texto de 2Tm 4.11 descobrimos que
Lucas esteve com Paulo enquanto ele estava preso em Roma pela segunda
vez (por volta do ano 66) (RIENECKER, F. O, 2005, p. 11). As três vezes em
que Lucas é mencionado, Marcos também aparece, o que nos leva a crer
que os dois evangelistas se conheciam muito bem.

Os patriarcas da Igreja, Eusébio e Jerônimo, afirmam que Lucas era de


Antioquia, na Síria, o que bem pode ser verdade; contudo, também é
possível que esta afirmação se deva a uma variação do entendimento de
Lucas a partir do nome Lúcio (At 13.1) em vez de considerar o nome
Lucanus (BERKHOF, 2014, pp. 79, 80).

A ligação de Lucas com Paulo parece ter sido tão forte que o testemunho
antigo chega a afirmar que “A compilação de Lucas é frequentemente
atribuída à Paulo. E de fato é comum um discípulo publicar o trabalho de
seu mestre” (Tertuliano); e ainda “Lucas registrou certa quantidade de
coisas em seu Evangelho à medida que teve certeza delas através de seu
conhecimento e familiaridade profundos com Paulo, e sua ligação com

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EVANGELHOS CAPÍTULO 4
E ATOS
O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

outros apóstolos” (Eusébio). Por fim, vale mencionar que Atanásio afirmou
que o Evangelho Segundo Lucas foi ditado pelo apóstolo Paulo (BERKHOF,
2014, p. 80).

4.1.2. DATA
Vamos agora conhecer a data em que foi escrito o Evangelho Segundo
Lucas.

Se o Livro de Atos dos Apóstolos foi escrito por volta do final do primeiro
cativeiro de Paulo 62-63, o Evangelho deve ser situado antes disso. Se
Lucas depende de Marcos, deve ser situado depois da redação deste. Desse
modo, a redação do Evangelho Segundo Lucas deve ficar situada depois do
Evangelho Segundo Marcos e antes de Atos dos Apóstolos. É possível que,
durante os anos de prisão de Paulo em Cesareia, Lucas tenha realizado
suas investigações intensivas. Essa prisão pode ser datada para os anos 57-
59. Portanto, a redação deste Evangelho deve ter acontecido ou durante
esse período ou logo depois (BERKHOF, 2014, p. 80).

4.1.3. LUGAR DE COMPOSIÇÃO

Diversas fontes antigas citam como lugar da redação deste Evangelho a


Acaia, ou seja, a Grécia. Assim ocorre no prólogo monarquiano, Jerônimo e
Gregório Nazianzo. Alguns manuscritos sírios da Peshitta situam a redação
em Alexandria. Barth sugere Antioquia (BERKHOF, 2014, p. 184). Os
diversos estudiosos modernos têm sugerido Roma, Cesareia, Ásia Menor,
Éfeso e Corinto (BERKHOF, 2014, p. 84).

Da leitura de Atos 21 depreendemos que Paulo foi acompanhado por Lucas


quando retornou da terceira viagem missionária para Jerusalém. Assim,
Lucas presenciou a detenção do apóstolo, acompanhando-o dois anos mais
tarde até Roma. É provável que tenha ficado junto de Paulo até o martírio
dele (2Tm 4.11). Como alguns manuscritos já trazem Roma como lugar da
redação, podemos indicar Cesareia, a viagem para Roma ou a própria Roma
(MAUERHOFER, 2010, p. 185). Existe ainda quem fique mesmo com
Cesareia (EARLE, SANNER, A., CHILDERS, 2015, p. 350).

4.1.4. PROPÓSITO

Tanto o Evangelho quanto Atos são dirigidos ao mesmo destinatário: Teófilo


(Lc 1.3; At 1.1). Infelizmente, não há nenhum meio de determinar quem
foi esse Teófilo. Há quem suponha que o nome seja uma generalização
aplicada a todos os cristãos, como um ente querido ou um amigo de Deus.
Mas a opinião que prevalece é, com razão, de que se trata mesmo de um
indivíduo (BERKHOF, 2014, p. 82).

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LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

É perceptível, prezado estudante, que Teófilo é uma pessoa conhecida de


Lucas, grego ou romano. O fato de Lucas abordá-lo da mesma forma que
Félix (At 23.26; 24.3) e Festo (At 26.25), nos leva a concluir que Teófilo era
uma pessoa de posição elevada. Alguns sugerem até mesmo que ele tenha
patrocinado a redação das duas obras.

Note ainda que Lucas escreve primordialmente para que Teófilo tenha um
conhecimento mais completo e satisfatório a respeito de Jesus Cristo.
Pode ser que o destinatário tivesse recebido informações rudimentares e
Lucas pensava que fossem necessárias mais instruções, ou possivelmente o
próprio Teófilo tenha pedido ao evangelista para lhe fornecer um relato
mais adequado. Contudo, não resta dúvida de que Lucas tinha em mente
uma audiência mais numerosa que um único e “excelentíssimo” indagador.
Pode ser que o evangelista tenha percebido que a Igreja, como um todo,
precisava de um Evangelho mais completo do que aquele que existia na
ocasião (EARLE; SANNER; CHILDERS, 2015, p. 350).

4.2. QUESTÕES LITERÁRIAS

A unidade das duas obras, conforme mencionado no início deste capítulo,


já afirmada em 1679 por J. Lightfoot, foi claramente demonstrada por
estudos da primeira metade do século XX e hoje em dia é admitida pela
maioria dos exegetas; apoiados fundamentalmente na unidade da
linguagem, estilo e teologia. As duas obras juntas constituem um bloco de
aproximadamente 37.778 palavras. O conjunto quantitativamente mais
completo de todo O Novo Testamento (32.303 palavras nas cartas paulinas)
costuma ser designado com a sigla Lc-At. Este conjunto representa o
empreendimento literário mais ambicioso do cristianismo primitivo, que
pela primeira vez procurava autocompreender-se no marco da História da
Salvação (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 365).

4.2.1. CRÍTICA TEXTUAL

O texto alexandrino do Evangelho é representado, entre


outras testemunhas, pelos papiros î , î e
4 45

75
especialmente pelo î , todos eles do século III. Além
disso, ele também consta nos grandes manuscritos do
século IV, Sinaítico (¥) e Vaticano (B); é um texto que
possivelmente remonta ao século II. O texto ocidental,
contido no Codex Bezae Cantabrigiensis (D), do século V,
e na Vetus Latina, do século II/IV, oferece um texto
caracterizado por adições, omissões e trocas que
explicam o texto, suavizam-no ou harmonizam-no com os
outros sinóticos e às vezes lhe dão um caráter
antijudaico (CARSON; MOO, D. J.; MORRIS, 1997, p. 135).

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E ATOS
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Geralmente a Crítica Textual considera esse texto como secundário


embora, em casos concretos, possa conter leituras de maior valor do que o
alexandrino. Existe ainda um terceiro tipo de texto, o chamado Koiné ou
Textos Receptus, que possui pouco valor. As atuais edições dos manuais
críticos usam fundamentalmente o texto alexandrino, suprimem como não
autênticos 9.55b-56a; 23.17, e duvidam da autenticidade de 22.43-44;
23.34 e dos textos que Westcott e Hort chamaram de “não interpolações
ocidentais”, ou seja, uma série de fragmentos que não aparecem no texto
ocidental, como 22.19b-20; 24.3,6a,12,26b,40,51b,52a. O estado atual da
questão pode ser encontrado na quarta edição do O Novo Testamento
Grego, que duvida seriamente de 22.43-44; 23.24, apresentando o texto
entre colchetes, e admite a autenticidade das “não interpolações
ocidentais”, apoiado na autoridade de î75.( MONASTERIO; CARMONA, 1991,
pp. 367-368.)

Apesar de todas essas considerações não existem motivos para duvidar que
nós possuímos o texto de Lucas substancialmente como foi escrito
(CARSON; MOO, D. J.; MORRIS, 1997, p. 137).

As denominações mais antigas de que se tem conhecimento com base no


acervo de manuscritos são mencionadas abaixo (MAUERHOFER, 2010, p.
167).

KATA LOUKAN     ¥ B pc vgst boms


euaggelion kata Loukan    ADLW Q X Y
33 Û lat sam bo
ss pt

to kata Loukan agion euaggelion  209. 579. al


arch tou kata Loukan agiou euaggelion 1241 pc
Visão do monte
das oliveiras.

No Evangelho Segundo Lucas do manuscrito ¥


também encontramos na subscriptio a forma longa
EUAGGELION KATA LOUKAN. Os mesmos
75
dizeres constam na subscriptio também em î , o
mais antigo exemplar de Lucas preservado do período
entre 175 e 225.

Do mesma forma como foi feito com Marcos e Mateus,


iremos dispor em uma tabela os relatos que ocorrem
exclusivamente no Evangelho Segundo Lucas
(MAUERHOFER, 2010, pp. 165-167).

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Material Exclusivo Conteúdo

1.1-4 Prólogo

1.5-25 Anúncio do nascimento de João Batista

1.26-38 O anjo anuncia a Maria o nascimento de Jesus

1.39-45 Visita de Maria a Isabel

1.46-56 Louvor de Maria

1.57-80 Nascimento de João Batista e louvor de Zacarias

2.1-7 Censo e nascimento na estrebaria

2.8-14 Anúncio do nascimento por meio de anjos e pastores no campo

2.15-20 Pastores visitam o recém-nascido Jesus

2.21-40 Circuncisão de Jesus; sua apresentação no templo

2.41-51 O menino Jesus no templo aos 12 anos

3.10-14 João Batista responde à pergunta: “O que devemos fazer?”

3.23-38 Genealogia de Jesus (de sua mãe Maria)

4.16-30 “Sermão inaugural” de Jesus em Nazaré

5.1-11 A pescaria de Pedro

6.24-26 Os quatro ais

7.11-17 Ressurreição do jovem de Naim

7.36-50 Unção de Jesus pela pecadora

8.1-3 Mulheres na companhia de Jesus

9.51-56 Rejeição pelos samaritanos

10.1-12 O envio dos 70 discípulos

Mar da Galiléia. 10.17-20 Retorno dos 70 discípulos

10.21-24 Bem-aventuranças de Jesus aos discípulos

10.30-37 A parábola do samaritano misericordioso

10.38-42 Jesus com Maria e Marta

11.5-8 O amigo suplicante

11.27-28 Quem pode se dizer feliz

12.13-21 Parábola do rico agricultor

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Material Exclusivo Conteúdo

12.47,48 “A quem muito foi dado, muito será exigido”

13.1-5 Os galileus vitimados. Torre de Siloé

13.6-9 Parábola da figueira estéril

13.10-17 Cura, no sábado, da mulher encurvada

13.22-30 Conclamação para a decisão correta

13.31-33 Inimizade de Herodes

14.1-6 A cura de um hidrópico no Sábado

14.7-14 Da ordem hierárquica e seleção dos convidados

14.15-24 A parábola da grande ceia

14.28-32 Estimativa de custos para construir uma torre e para guerrear

15.8-10 A parábola da moeda perdida

15.11-32 A parábola do filho perdido

16.1-10 A parábola do administrador infiel

16.19-31 Lázaro e o homem rico

17.7-10 Trabalho indiscutível dos servos

17.11-19 A cura de dez leprosos

18.1-8 Parábola do juiz injusto e da viúva suplicante

18.9-14 A parábola do fariseu e do publicano

19.1-10 O publicano-mor Zaqueu

19.41-44 Jesus chora sobre Jerusalém

22.43,44 Um anjo fortalece Jesus no Getsêmani e agonia de morte

22.49-51 Pedro corta a orelha de um servo do Sumo Sacerdote

23.7-12 Jesus perante Herodes

23.27-31 No caminho ao Calvário Jesus fala com as mulheres que o seguem

23.34,43,46 Três palavras proferidas na cruz

23.39-43 Diálogo na cruz com os dois criminosos

24.4 Dois anjos com as mulheres na manhã da Páscoa

24.13-35 Jesus com dois discípulos a caminho de Emaús

24.50-53 A ascensão de Jesus

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E ATOS
O EVANGELHO SEGUNDO
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O Evangelho Segundo Lucas tem um total de 1.149 versículos. Possui, em


paralelo com Marcos, cerca de 350 versículos e, além desses, 250
versículos em paralelo com Mateus. Dessa forma, restam cerca de 520
versículos de material exclusivo em Lucas. Conforme pode ser observado,
são principalmente a introdução ao Evangelho e o relato de viagem (Lc
9.51-19.27) que apresentam a maior parte de “material exclusivo”
(MAUERHOFER, 2010, p. 165).

4.2.2. LINGUAGEM E ESTILO

Desde o período patrístico considera-se o grego de Lucas, junto ao de


Hebreus, como o mais cultivado e o mais elegante de todo O Novo
Testamento. Utiliza com correção literária o koiné, de uma forma superior
ao uso vulgar do povo e de muitos escritos bíblicos, mas sem chegar a ser
um classicista ou aticista. O domínio que Lucas tem da linguagem aparece
“Para Lucas, a nos mais diversos tipos de grego que utiliza em sua dupla obra, onde
linguagem está a encontramos por uma parte o grego literário aticista do prólogo do
serviço da fé e Evangelho e, por outra, os vários tipos de grego semelhantes aos da LXX, o
semitizante do evangelho da infância, o que aparece no restante do
somente levando Evangelho, semelhante ao de Marcos, mas melhorado, e o dos Atos, no
em consideração qual escreve com maior liberdade. Essa diversidade de estilos talvez seja
devida ao uso de diversas fontes. Toda a obra requer a utilização de uma
podem-se linguagem sagrada, semelhante à que fora utilizada pela LXX, para narrar
explicar a obra de Jesus e da primeira geração de cristãos, nas quais continuam as
maravilhas de Deus. Quem escreveu o prólogo poderia ter escrito toda a
adequadamente sua obra com um estilo semelhante. Se não fez isso, foi porque preferiu
todos os recursos imitar outro tipo de linguagem e porque preferiu respeitar suas fontes.
de seu estilo.” Lucas é, portanto, um verdadeiro historiador helenista menor, às vezes
elegante, às vezes vulgar, que não chega a alcançar a altura dos grandes
literatos de sua época (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 374, 375).

Caro estudante, há quem divida o Evangelho, linguisticamente, em três


seções. O Prefácio (1.1-4) escrito em estilo clássico. O resto do capítulo 1
e o capítulo 2 têm um sabor nitidamente hebraico. A partir de 3.1, o
Evangelho está escrito em um tipo de grego helenístico que lembra
fortemente a LXX. Às vezes a linguagem de Lucas contém hebraísmos e, às
vezes, aramaísmos. Além disso, sua linguagem é mais semítica em alguns
trechos do que em outros (MORRIS, 1983, p. 25, 26).

O evangelho emprega 2.055 palavras diferentes com um total de 19.404


usos, o que apresenta uma média de 9,44 usos por palavra. Destas, 971 são
hápax legomena e 640 não são usadas por Marcos nem por Mateus
(MONASTERIO, CARMONA, 1991, p. 375).

Em geral, é preciso afirmar que Lucas-Atos não é a obra de um estilista,


mas a de um pastor. Para Lucas, a linguagem está a serviço da fé e
somente levando em consideração podem-se explicar adequadamente
todos os recursos de seu estilo. Conhece os recursos estilísticos dos

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EVANGELHOS CAPÍTULO 4
E ATOS
O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

semitas e helenistas e domina as técnicas que ajudam a uma apresentação


viva dos materiais, como estes facilitam uma adequada composição dos
relatos (MONASTERIO, CARMONA, 1991, p. 378).

4.2.3. ESTRUTURA LITERÁRIA

Para determinar a estrutura de uma obra, prezado estudante, é possível


aplicar de modo especial critérios objetivos que nos ajudem a descobrir a
intenção do autor sem cair em subjetivismos. Os critérios geralmente
utilizados são: estilo, resumos redacionais, geografia, protagonistas,
temática, temas teológicos e sumários. Esses diversos critérios servem
para ajudar no descobrimento de uma possível leitura contínua,
progressiva e com sentido de todo o texto.

O Evangelho Segundo Lucas apresenta uma estrutura clara, que se pode


desenvolver da seguinte forma:

I. Prólogo 1.1-4.

II. Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus 1.5-2.52.

III. Pregação de João e apresentação de Jesus 3.1-4.13.

IV. Ministério de Jesus na Galileia 4.14-9.50.

V. Viagem a Jerusalém 9.51-19.27.

VI. Ministério de Jesus em Jerusalém 19.28-21.38.

VI. Última Ceia 22.1-38.

VII. A paixão de Jesus 22.39-23.56.

VIII. A ressurreição do Senhor 24.1-53.

Observe que se trata de uma estrutura simples que abarca


as grandes cenas da narrativa lucana.

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EVANGELHOS CAPÍTULO 4
E ATOS
O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

4.3. QUESTÕES TEOLÓGICAS

Ao ler o Evangelho Segundo Lucas, você irá perceber que, ele se empenha
em narrar a história de Jesus na perspectiva de uma história da salvação
(Heilsgeschichte), e esta história é vista em três etapas: 1) o período de
Israel (16.16) – preparação; 2) o período do ministério de Jesus (4.16ss: At
10.38) – acontecimento; 3) o período desde a ascensão, ou seja, o período
da igreja – realização (MORRIS, 1983, p. 30, 31.). Há uma única história de
salvação em contínuo, está presente na vida, morte e ressurreição de
Jesus e nas diferentes economias de Deus. Assim, para Lucas, a Igreja
constitui o prolongamento da história da salvação.
“Há uma única
história de 4.3.1. A SALVAÇÃO
salvação em
contínuo, está A obra de Conzelmann resume admiravelmente em seu título a posição do
presente na vida, autor – O Centro do Tempo (Die Mitte der Zeit). Ele sustenta que Lucas vê
Jesus como totalmente central, e que escreve seu Evangelho baseado
morte e nesta convicção (MORRIS, 1983, p. 31).
ressurreição de
Jesus e nas Caro aluno, é por esse motivo que Lucas é chamado de “teólogo da
salvação”. Ele tem muito a dizer sobre a história da salvação
diferentes (Heilsgeschichte) (MORRIS, 1983, p. 33). Relacionando a salvação e os
economias de eventos históricos, Lucas traz à tona uma ideia nova sobre a teologia da
Deus. Assim, para salvação: a salvação divina manifestada na vida, morte, ressurreição e
ascensão de Jesus são perpetuadas na vida diária da Igreja. Deus se faz
Lucas, a Igreja presente na vida humana agindo em tudo o que Jesus disse e fez (cf. 2.1-
constitui o 2; 3.1) (MARCONCINI, 2012, p. 161).
prolongamento da
A libertação de toda a forma de mal, especialmente do pecado e da
história da perdição eterna e uma relação de amizade e comunhão com Deus está
salvação.” presente na forma como Lucas utiliza o termo “salvar” (sozêin) 17 vezes
no Evangelho e 13 vezes nos Atos dos Apóstolos (ZUCK, 2010, p. 130).
Outras variantes da palavra “salvar” aparecem em Lucas-Atos: “salvador”
(sóter), 4 vezes, e “salvação” (sotería ou sotérion), 13 vezes. Estas
citações revelam claramente a intenção do autor (MARCONCINI, 2012, p.
161).

É importante destacar o fato de que O Novo Testamento emprega o


vocábulo salvação com diversas matizes. Em geral estudante, é possível
resumir em dois blocos: 1) salvar do mal, tirando de uma situação de
ameaça: livrar de um mal que ameaça, livrar de um mal já presente,
manter-se fora desse mal (aspecto ontológico) e, consequentemente, nos
três casos, livrar da opressão psicológica que se sente diante do mal
iminente ou presente (aspecto psicológico); 2) dar um bem, situar num
estado positivo; dar o bem plenamente ou começar a dá-lo, com a
esperança de chegar a recebê-lo plenamente; nos três, manter-se nesse
situação (aspecto ontológico) e, consequentemente, na alegria e na

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LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

certeza dali derivadas (aspecto psicológico). A salvação que Jesus oferece


ao homem quer livrá-lo das trevas e na realidade do pecado, de Satanás e
seus demônios, da dor e da enfermidade, da morte, da incredulidade e dos
incrédulos e dos ídolos (MONASTERIO; CARMONA, 1991, pp. 418, 419).

4.3.2. O UNIVERSALISMO DA SALVAÇÃO

Se os sistemas humanos de salvação são parciais, uma vez que não cobrem
todas as necessidades do homem, com frequência marginalizam aqueles
que não têm meios salvadores (dinheiro, poder, prestígio), com o que
produzem dor; pelo contrário, a salvação que Jesus nos oferece é total,
pois cobre todas as necessidades do ser humano, e chega a todos, embora
privilegiando os marginalizados e, por isso, é motivo de alegria. É,
portanto, universal por seu conteúdo e por seus destinatários
(MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 422, 423).

O universalismo da salvação entra no plano de Deus como um


elemento essencial, desejado por si mesmo e não somente como
consequência da rejeição que o povo eleito fez de Jesus e de sua
missão (ZUCK, 2010, p. 97).

Nesta perspectiva, prezado estudante, Jesus não é somente


descendente de Abraão, senão de Adão, criado por Deus (3.38). Os
anjos cantam lembrando-se do ser humano em geral (2.14); a razão
disto é que Jesus é um Salvador (2.11), e é uma luz para todas as
nações (2.32). João Batista prega que “toda carne verá a salvação
de Deus” (3.6) e o evangelho será proclamado a todas as nações
(24.47). Observe estudante, que diversos personagens não judeus
se beneficiam da salvação trazida por Jesus: o samaritano
misericordioso (10.25-27); o leproso samaritano (17.11-19); o
centurião romano que tem fé em Jesus (7.9), ou o centurião que
reconhece a inocência do crucificado (23.47) (ALDAY, 2009, p. 35).

Ainda temos a salvação oferecida aos pecadores, aos pobres e às


mulheres (MONASTERIO; CARMONA, 1991, pp. 419-421).

4.3.3. A PAIXÃO DE CRISTO

Lembre-se de que o Evangelho Segundo Lucas, assim como os demais, não


é uma história ou biografia no sentido moderno da expressão. Lucas se
propõe não somente fazer referência aos feitos que narra, senão, dar-lhes
uma interpretação teológica. Isto se realiza projetando sobre eles a luz da
paixão e da ressurreição. Por isso caro estudante, Lucas é o evangelista do
Plano de Deus: o mistério da Páscoa é seu foco, o Espírito Santo é seu
autor e a comunidade universal dos crentes é seu término (MORRIS, 1983,
p. 41).

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O evento pascoal ilumina todo o Evangelho de Lucas. A tríplice profecia


sobre a paixão e ressurreição, que Lucas faz questão de sublinhar (9.22,44;
18.31-34) quer demonstrar:

1) Jesus como sinal de contradição (2.34);

2) Jesus, objeto de admiração e de ódio (4.16-30);

3) A transfiguração, durante a qual Jesus trata com Moisés e Elias


de sua partida que estava por realizar-se em Jerusalém (9.31);

4) Jesus arde em desejos de ser batizado em sua paixão (12.50);

5) Todo profeta deve morrer em Jerusalém (13.32-33);

6) O Filho do Homem tem que sofrer muito (17.24s);

Perceba atentamente, que depois da ressurreição, Jesus recorda às


mulheres, aos discípulos de Emaús e aos discípulos reunidos no cenáculo,
os anúncios que havia feito durante a sua vida (24.7,25s,45s.) (ALDAY,
2009, p. 34).

4.3.4. O ESPÍRITO SANTO

Lucas demonstra claramente que o propósito de Deus não cessa na cruz.


Continua na obra do Espírito Santo, que significava tanto na Igreja nos dias
de Lucas como significa na Igreja de todos os tempos (MORRIS, 1983, p.
43).

Deste modo caro estudante, o Espírito Santo é a alma, o princípio vital, em


toda a obra de Lucas (Evangelho e Atos). Sem o Espírito Santo não existe
nem Jesus-Messias, nem a Igreja. O Espírito Santo é o poder (du,namij -
dýnamis) do alto que está em plena atividade.

1) Ele é quem move aos pais de João Batista (1.41,67);

2) Ele enche o precursor do Messias (1.15,80);

3) O Espírito Santo opera na Virgem Maria a concepção de Jesus, o


Filho de Deus (1.35);

4) Ele ilumina a Simeão (2.25-27);

5) O Espírito Santo desce sobre Jesus para ungi-lo (3.22);

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LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

6) Impulsionado por Ele, Jesus foi levado ao deserto (4.1);

7) Sob sua ação soberana, Jesus inicia seu ministério (4.14);

8) O Espírito do Senhor repousa plenamente sobre Jesus-Messias,


com a finalidade de realizar o plano salvífico de Deus (4.18);

9) Na virtude do Espírito, Jesus expulsa os demônios (11.20);

10) Jesus exulta no Espírito (10.21);

11) O Espírito Santo é o dom de Deus por excelência (11.13);

12) Os discípulos serão instruídos pelo Espírito (12.12);

13) Lucas termina seu Evangelho anunciando que Jesus enviará


sobre seus discípulos a Promessa do Pai (24.49) (ALDAY, 2009, p.
35).

Ao ler o Evangelho Segundo Lucas, note que ele tem mais a dizer acerca
do Espírito Santo no seu Evangelho do que qualquer um dos demais
evangelistas. Isto forma um vínculo de continuidade. Tanto no ministério
de Jesus quanto na vida da Igreja Primitiva, o Espírito de Deus está
operante (MORRIS, 1983, p. 45).

Viver segundo o Espírito, estimado estudante implica caminhar em um


processo de crescimento e fortalecimento. A ação do Espírito não é
“mágica” como se ao invoca-lo Ele descesse do céu sobre nós. Mas Ele está
presente em nós. Ele irrompe na comunidade a partir das entranhas dos
fatos históricos.

4.3.5. A ORAÇÃO

Se no ensino acerca do Espírito Santo Lucas nos mostra que Deus leva a
efeito o Seu propósito; esta operação exige uma atitude da parte do povo
de Deus (MORRIS, 1983, p. 45). Dessa forma, no Terceiro Evangelho
encontramos o verbo “orar” até 19 vezes (1.10; 3.21; 5.16; 6.12,28;
9.18,28-29; 11.1,1,2; 18.1,10,11; 20.47; 22.40,41,44,46).

Lucas revela Jesus como “um homem de oração”, através da qual cultiva a
intimidade com o Pai. Ora no momento de seu batismo (3.21); durante seu
ministério (5.16); para escolha dos Doze (6.12); para multiplicação dos
pães (9.16); antes da confissão messiânica de Pedro (9.18); durante a
transfiguração (9.28); durante a dolorosa agonia no Getsêmani (22.39-44);
e finalmente durante as horas em que esteve pendurado na cruz (23.34,
46) (ALDAY, 2009, p. 36).

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LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

4.3.6. O LOUVOR, A GRATIDÃO E A ALEGRIA

No Evangelho Segundo Lucas você pode respirar constantemente em um


ambiente de louvor, de ação de graças, de bênção e de glorificação a Deus
(ZUCK, 2010, p. 177). Nesta atitude aparecem Zacarias, Maria, os anjos em
Belém, os discípulos, o centurião ao pé da cruz (cf. 1.46,64,68;
2.13,20,28; 5.26; 7.16; 10.17; 13.13,17; 17.15; 18.43; 23.47; 24.41,53)
(ALDAY, 2009, p. 36). Alguns dos grandes hinos da fé cristã são registrados
aqui: Magnificat, Benedictus e Nunc Dimitis (1.46ss., 68ss.; 2.29ss)
(MORRIS, 1983, p. 45).
“No Evangelho
Segundo Lucas O verbo “regozijar-se” e o substantivo “alegria” são encontrados com
você pode muita frequência (1.14, 44, 47; 3.17; 10.21). Note estudante que existe
respirar alegria na recepção que Zaqueu fez para Jesus (19.6); quando a ovelha
perdida e a moeda perdida são achadas, e há jubilo no céu por causa da
constantemente recuperação de pecadores perdidos (15.6-7, 9-10). O Evangelho Segundo
em um ambiente Lucas termina, assim como começou, com regozijo (24.52; 1.14) (MORRIS,
de louvor, de 1983, p. 45).
ação de graças,
de bênção e de 4.3.7. A IMPORTÂNCIA DAS MULHERES
glorificação a
Deus. Nesta É importante também destacar, caro aluno, o lugar que Lucas concede às
atitude aparecem mulheres através de seu Evangelho. As mulheres ocupam lugar especial. No
relato da infância de Jesus, mulheres (Maria e Isabel) são as duas
Zacarias, Maria, protagonistas. Em Lucas-Atos, mulheres são mencionadas mais do que
os anjos em pelos demais autores de O Novo Testamento: Jesus as cura (8.43-48; 13.10-
Belém, os 17), defende-as (7.36-50; 13.10-17) perdoa-as (7.36-50), ressuscita uma
discípulos, o jovem (8.49-56; cf. At 9.36-39) e o filho de uma viúva (7.11-17), e elogia
uma viúva (21.14), aceita seus serviços materiais (8.1-3). Contrariando o
centurião ao pé costume da época, Jesus admite mulheres em seu seguimento (24.1-
da cruz.” 11,22). Elas estão presentes no grupo que persevera na oração, esperando
o dom do Espírito Santo (At 1.14) (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 421).

No século I as mulheres não tinham vez. Lucas, contudo, as vê como


objetos do amor de Deus, e escreve a respeito de muitas delas (MORRIS,
1983, p. 39).

4.3.8. O EVANGELHO PARA OS POBRES

No Evangelho de Lucas estudante, Maria canta à pobreza e à humildade


(1.52); os anjos aparecem aos pastores pobres (2.8); José e Maria são
pobres (2.24). Jesus é pobre (9.58) e prega aos pobres (6.21). Os apóstolos
deixam tudo e se fazem pobres (5.11; 14.33; 18.22; cf. 2.24; 4.18; 6.20;
16.15,20; 21.3) (ALDAY, 2009, p. 37).

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Nesse Evangelho, você ainda pode observar que os pobres não são
espiritualizados, como em Mateus. São carentes economicamente,
marginalizados e excluídos socialmente. Não têm relevância na sociedade.
O contraste entre “ricos” e “pobres” transcende as dimensões
socioeconômicas.

Note que os pobres formam um conjunto heterogêneo, que podemos


separar em três grupos, conforme o grau de carência de bens. O primeiro
grupo é formado pelos pobres-miseráveis, os anawim (~ywIn"[]) do Antigo
Testamento (Am 2.7, por exemplo). O segundo grupo (6.20-23) se refere
aos cristãos perseguidos, que foram reduzidos à situação de miséria. O
último grupo é formado pelos que vivem na pobreza por austeridade
(MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 419).

Desta forma caro aluno, fica evidenciado que Lucas escreveu com um
propósito profundamente teológico. O evangelista consegue enxergar Deus
operando para trazer a salvação e tem prazer em ressaltar uma variedade
dos aspectos desta grande e universal obra salvífica (MORRIS, 1983, p. 45).

Na concepção, da história de Lucas, caro aluno, o acontecimento Cristo


finca suas raízes na história humana, com uma visão universalista. A
cristologia lucana com ênfase na soteriologia é uma das peças teológicas
da sua obra. Lucas apresenta um Jesus eminentemente humano e, por
isso, divino.

Dante Alighieri, autor da Divina Comédia, descreveu Lucas como scriba


mansuetudinis Christi, isto é, “cronista da magnanimidade de Cristo”
(http://www.internetculturale.it/opencms/directories/ViaggiNelTesto/dan
te/print/c10.html Acesso em 06/02/2017). De fato, as qualidades de
misericórdia, amor, atenção, alegria e delicadeza que configuram a
imagem de Jesus no Terceiro Evangelho tende a suavizar uma apresentação
mais rude dos outros Evangelhos.

4.4. ATOS DOS APÓSTOLOS

Nesse tópico iremos conhecer um pouco mais sobre o Livro de Atos dos
Apóstolos, te convido outra vez, a ler e a estudar atentamente esse livro e
aumentar os seus conhecimentos.

Certo estudioso afirmou que é muito estranho ler um livro que traz em seu
encerramento um advérbio. É o que ocorre com o Livro de Atos que, em
grego, encerra-se com akolytos (avkwlu,twj), um advérbio que pode ser
traduzido por “desimpedido” ou “desimpedidamente”. Segundo este
mesmo estudioso, parece ser essa a ideia central do segundo volume da
obra de Lucas, mostrar que o evangelho alcançou a liberdade, mesmo a
muito custo (STAGG, 1994, p. 15).

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De todos os textos do Novo Testamento, prezado estudante, o livro Atos


dos Apóstolos – ou simplesmente Atos, ocupa uma posição ímpar. É o único
livro que tenta apresentar uma narrativa histórica dos tempos
imediatamente seguintes à ascenção de Cristo aos céus. Esse segundo
volume da obra de Lucas retoma a narrativa onde o primeiro terminou.

Tenha em mente que é de extrema importância o estudo desta obra, uma


vez que muita coisa do Novo Testamento só é compreensível quando vista
à luz do pano de fundo histórico encontrado no segundo livro de Lucas
(HALE, 2001, p. 169).

Conforme salientado acima, durante o estudo de Lucas fizemos algumas


menções ao Livro de Atos. Deve ter ficado evidente, a você que o estudo
do Terceiro Evangelho está necessariamente ligado a um estudo de Atos.
Que o mesmo autor escreveu ambos os livros, é amplamente aceito. As
duas obras iniciam sendo endereçadas à mesma pessoa, Teófilo (Lc 1.1-4;
At 1.1). No prefácio de Atos, o autor faz referência ao primeiro volume
(tratado), a respeito da vida de Jesus. Além disso, temos a semelhança de
estilo e vocabulário.
Ruínas em Éfeso.
Para encerrar com o mesmo padrão que iniciamos nos capítulos anteriores,
vamos às questões históricas.

4.4.1. QUESTÕES HISTÓRICAS

A estrutura de um livro revela, sem dúvida, algo da intenção do autor.


Contudo, informações externas à obra também podem auxiliar na
compreensão dessa mesma intenção. É o que estamos tentando fazer ao
procurar situar o leitor quanto à origem, autor, data, lugar de composição,
destinatários e situação que motivou a obra em destaque.

4.4.1.1. AUTORIA

É importante ressaltar que você, estudante, está diante de duas obras com
uma mesma autoria, tanto Lucas quanto Atos são anônimos, no sentido
estrito da palavra. Usando como ponto de partida o prefácio de Lucas, com
o qual o autor provavelmente pretendeu introduzir tanto seu Evangelho
como Atos, você pode concluir que o autor foi uma pessoa de boa cultura.
O grego de Lucas 1.1-4, como visto é grego literário de bom nível. Disso
resulta que não deve ter sido um dos apóstolos ou discípulos originais de
Cristo – o próprio autor escreve das coisas que “nos transmitiram os que
desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da
palavra” – mas mesmo assim pode ser alguém que participou de alguns dos
eventos que narra – “fatos que entre nós se realizaram”. Perceba, caro
aluno, que o autor tem conhecimento do Antigo Testamento na versão dos
LXX, além de possuir um ótimo conhecimento das condições políticas e
sociais vigentes em meados do século I e tem o apóstolo Paulo em alta
estima (CARSON; MOO; MORRIS, 1997, pp. 208, 209).
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Outra inferência bastante comum sobre o autor, que você pode observar,
procede dos trechos que empregam o pronome “nós” em Atos. São quatro
trechos em que o autor passa da narrativa na terceira pessoa “eles” para
uma narrativa na primeira pessoa do plural (16.8-10 é a primeira delas).
Ademais, parece que o autor acompanhou Paulo até Roma e
provavelmente esteve com o apóstolo durante os dois anos em que este
esteve sob prisão domiciliar em Roma (CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p.
209).

Desde o segundo século afirma-se que Lucas, o médico amado (Cl 1.14)
também foi o autor de Atos. O prólogo antimarcionista de Lucas (160-180
d.C.) identifica o autor do Evangelho como sendo Lucas, uma pessoa de
Antioquia da Síria, e médico de profissão. Além do que, estimado aluno,
adiciona que “o mesmo Lucas posteriormente escreveu os Atos dos
Apóstolos”. Do mesmo modo, o Cânon Muratori (170 d.C.) afirma que
“Lucas compilou para 'o mui excelente Teófilo' aquelas coisas que se deram
em detalhe em sua presença”. Tanto Ireneu quanto Clemente de
Alexandria, de modo explícito, admitem Lucas como o autor de Atos
(STAGG, 1994, p. 33).

Além dos testemunhos externos mencionados acima ainda há Tertuliano


(Adv. Marc. 4.2) e Eusébio (H.E. 3.4; 3.24.25) (CARSON; MOO; MORRIS,
1997, p. 210). Um pouco mais tarde também testemunham Cosmas
Indicopleustes e George Hamartolos. Jerônimo ainda acrescenta que a
data da redação deve ter ocorrido por volta do final da prisão de dois anos
de Paulo (MAUERHOFER, 2010, p. 273).

Assim sendo, não existe motivo algum para negar que o autor de Atos foi
um companheiro de Paulo; de igual modo o testemunho da Igreja antiga
deveria ser suficiente para continuarmos afirmando a autoria lucana.

4.4.1.2. DATA

Conforme você pode observar, ao estudar o Terceiro Evangelho, a sua


datação dependeria do lugar de composição a ser assumido e da data em
que Atos foi escrito. Na ocasião afirmamos que o livro dos Atos dos
Apóstolos foi escrito por volta do final do primeiro cativeiro de Paulo 62-
63. Podemos afirmar com absoluta certeza que só foi redigido depois de 62
d.C. (a história termina em 62, com a primeira prisão de Paulo em Roma).
A narrativa de Lucas termina com Paulo preso (At 28.30-31). Caro
estudante, a maneira abrupta de encerrar pode ser mais bem
compreendida justamente pelo fato de Atos ter sido escrito antes do
aparecimento de Paulo perante Nero. Não seria natural um livro ser
terminado assim, se o autor tivesse conhecimento de que Paulo havia sido
solto. Outro forte argumento é que não há nenhuma insinuação de que a
Guerra Judaico-Romana (66-70 d.C.) já se havia iniciado, ou de que
Jerusalém havia sido destruída (70 d.C.). Por causa de tudo isso, se pode
sugerir que o livro de Atos dos Apóstolos deve ter sido redigido por volta de
62-63 d.C.
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4.4.1.3. LUGAR DE COMPOSIÇÃO

Alguns estudiosos consideram insolúvel a questão do lugar de composição,


condicionados que são por sua rejeição da autoria do companheiro de
viagens do apóstolo Paulo. É preciso lembrar a você, mais uma vez que o
Livro de Atos termina com uma breve menção do primeiro cativeiro de
Paulo em Roma (28.30s). Por isso, nós somos adeptos da convicção de que
Lucas escreveu este segundo volume em Roma (MAUERHOFER, 2010, p.
287).

4.4.1.4. PROPÓSITO

É preciso admitir que, por vezes, uma obra pode abarcar uma diversidade
de propósitos. Atos talvez seja o melhor exemplo desta afirmação em O
Novo Testamento. Com certeza, caro aluno, isso depende muito das
pressuposições do leitor que, muitas vezes, podem extrapolar a intenção
do autor. Assim é necessário tomar cuidado com isso. Os leitores em geral
enxergam em Atos o livro da história da Igreja Primitiva. Tenha em mente
novamente que se trata da segunda parte de uma obra em dois volumes, e
que, os propósitos de ambas podem estar interligados. Na realidade, os
estudiosos têm enfatizado, em geral, os seguintes propósitos: apologético,
teológico, didático, história dos começos do cristianismo, confirmação do
Evangelho e foco na salvação. Veja cada um desses propósitos ainda que
de forma resumida.

Alguns autores advogam a teoria de que Lucas pretendia defender o


apostolado de Paulo, complementando, assim, com base histórica, as
defesas do próprio Paulo em tais cartas como Gálatas e 2 Cortíntios. Além
disso, estudante, muitas vezes acrescenta-se a ideia de que Lucas-Atos
tenha sido escrito como um dossiê jurídico para o primeiro julgamento de
Paulo em Roma, com o objetivo de demonstrar que o apóstolo não se
envolve com atividades antiromanas, uma vez que esta seria a principal
acusação a ser levantada contra ele pelos seus compatriotas judeus
(PINTO, 2008, p. 188).

Veja na tabela abaixo as comparações que podem ser feitas entre o


ministério apostólico de Pedro e de Paulo (PINTO, 2008,p. 188).
Atos poderosos de Pedro Atos poderosos de Paulo

3.1-11 Curou um homem paralítico de 14.8-18 Curou um homem paralítico de nascença.


nascença.
19.11-12 Lenços e aventais de Paulo curavam
5.15-16 Sua sombra curava pessoas. pessoas.

8.9-24 Lidou com Simão, um ilusionista. 13.6-11 Lidou com Bar-Jesus, um feiticeiro.

9.32-35 Curou Enéias de paralisia. 28.7-9 Curou o pai de Públio e outros.

9.36-41 Trouxe Dorcas de volta à vida. 20.9-12 Trouxe Êutico de volta à vida.

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Prezado aluno, quanto ao propósito teológico, não resta dúvida de que


uma obra de O Novo Testamento o tenha. Mas aqui se defende a ideia de
que a afirmação teológica primária que Lucas tentava fazer através de sua
obra em dois volumes era a continuidade do Reino de Deus no livro de
Atos. De fato, o segundo volume começa com uma pergunta escatológica
(1.6) e encerra com terminologia escatológica (28.31). Afirma-se,
portanto, que Lucas pretendia explicar o relacionamento entre a Igreja e o
Reino de Deus, ou seja, como a mensagem do Reino soberanamente
passara de um fenômeno principalmente judaico para um movimento
principalmente gentílico, com seu centro passando de Jerusalém para
Roma (PINTO, 2008, p.189).

Lucas, ao mencionar “o primeiro tratado” que compôs, referiu-se a esse


propósito declarado em seu Evangelho, isto é, apresentar um relato
preciso e sistemático do desenvolvimento do cristianismo. No Evangelho,
ele narra as palavras e as obras de Jesus Cristo, e em Atos, ele narra a
obra do Cristo Ressurreto levada a cabo por meio dos Seus apóstolos e
discípulos. Você pode perceber que a intenção do evangelista era que
Teófilo e outros leitores conhecessem plenamente as coisas em que foram
instruídos. Lucas escreve tendo em vistas o fortalecimento e a edificação
(PINTO, 2008, p.190).

Observe que Lucas procurava escrever a história dos começos do


cristianismo em amplo sentido. O evangelista reúne juntamente a história
de Jesus Cristo e a história da Igreja Primitiva. Além disso, ele considera
que essas duas obras juntas formam a narrativa da fundação da Igreja. Ele
quer explicar como tiveram início as boas-novas, e como elas se
espalharam ao ponto de abarcar o mundo mediterrâneo, desde Jerusalém
até Roma (MARSHAL, 1991, p. 17).

Lucas-Atos pode ser considerada uma obra evangelística


que proclama aos seus leitores a universalidade da salvação
em Cristo Jesus. Ele demonstra que o evangelho tinha em
mira os gentios também, e não apenas os judeus. Ele
evidencia que o que ocorreu na Igreja Primitiva estava em
plena conformidade com as profecias (Lc 24.47; At 1.4-5,
20; 2.16-21; 3.24; 13.40-41, 47; 15.15-18; 28.25-28)
(MARSHAL, 1991, p. 18).

Se você quiser adotar os diversos conceitos apresentados


acima, terá que rejeitar a ideia de que o Livro de Atos
tenha sido redigido para providenciar algum tipo de
apologética política em prol do cristianismo ou mesmo de
Paulo. Não se pode negar o interesse apologético, mas
colocá-lo, contudo, como um alvo subordinado em
comparação com o tema principal da apresentação do
fundamento histórico da fé cristã (MARSHAL, 1991, pp. 19,
20).

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EVANGELHOS CAPÍTULO 4
E ATOS
O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS

4.4.2. QUESTÕES LITERÁRIAS

Nestes próximos tópicos tentaremos compreender alguns aspectos relativos


ao texto. Você vai ver quais são os principais manuscritos de que dispomos
atualmente (Crítica Textual). O estudo será introduzido ao estilo e à
linguagem do autor para, ao final, sugerimos uma estrutura literária, um
esboço mesmo da obra. Vamos em frente...

4.4.2.1. CRÍTICA TEXTUAL

Nos diversos manuscritos que chegaram até nós, as denominações mais


comuns possuem as seguintes variantes (MAUERHOFER, 2010, p. 272).

PRAXEIS    ¥ 1175 pc
PRAXEIS APOSTOLWN   B Y pc
PRAXIS APOSTOLWN    D
ai praxeij twn apostolwn  323 .945 al
s

ai praxeij twn agiwn apostolwn 1505.1739 s

praxeij twn agiwn apostolwn   453. 1884 pm


arch sun qew ai praxeij twn apostolwn 1241
Louka euaggelistou praxeij twn agiwn apostolwn 3. 189. 1891.2344 al
praxeij twn agiwn apostolwn suggrafeis para tou apostolou kai
euaggelistou Louka     614
praxeij twn agiwn apostolwn suggrafeis para tou agiou Louka
tou apostolou kai euaggelistou    1704

Conforme você pode observar, exceto alguns manuscritos tardios, não


consta nenhum nome de autor no título, “não porque se estivesse incerto
quanto ao autor, mas porque o título deve ser de uma época em que o
evangelho de Lucas e Atos ainda eram transmitidos como uma só obra
dupla”(W. Michaelis, p. 129, apud MAUERHOFER, 2010, p. 272).

Estimado estudante, ainda que o título não seja preciso, uma vez que o
livro se concentra nas atividades de apenas dois dentre treze indivíduos
reconhecidos como apóstolos, Pedro e Paulo, e dedica porções
consideráveis a não apóstolos, como Estêvão e Filipe, o título é
perfeitamente aceitável, visto que os apóstolos foram os instrumentos
através dos quais Jesus Cristo deu prosseguimento na difusão da mensagem
do Reino de Deus (PINTO, 2008, p. 179).

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O texto alexandrino é representado principalmente pelos papiros î (s.45

III), î (s. VII) e pelos manuscritos Sinaítico (¥), Vaticano (B), Alexandrino
74

9ª), Ephraemi Rescriptus (C) e outros. Trata-se estudante, de um texto


breve que costuma ser considerado autêntico até mesmo pela maioria dos
críticos. O texto ocidental, a seu turno, é representado pelos papiros î 38

(s. IV), î (s. III) e especialmente pelo manuscrito Codex Bezae


48

Cantabrigiensis (D), além da Vetus Latina (s. II/IV). Possui um texto quase
1/10 mais amplo que o anterior, com aproximadamente 400 adições nas
quais atenua as dificuldades, corrige as inexatidões, oferece detalhes
pitorescos, inclusive textos litúrgicos. A linguagem, por vezes, é vulgar e
“A linguagem, por possui diversos semitismos; as citações bíblicas são tomadas de um texto
vezes, é vulgar e bastante diferente da LXX; teologicamente ressalta as figuras de Pedro e
possui diversos Paulo e, pelo contrário, apresenta de forma negativa o povo judeu. É um
texto bem difundido tanto no oriente quanto no ocidente, remonta a
semitismos; as meados do século II e parece ser tão antigo como o anterior. Hoje em dia,
citações bíblicas as edições críticas dos manuais reproduzem o texto alexandrino e
são tomadas de suprimem como não autênticos 8.37; 15.34; 24.6b-8a; 28.29 (MONASTERIO;
um texto CARMONA, 1991, pp. 283, 284).
bastante
diferente da LXX; 4.4.2.2. LINGUAGEM E ESTILO
teologicamente
ressalta as figuras Ao que já foi dito com relação à linguagem e estilo do Evangelho Segundo
de Pedro e Paulo Lucas, que também se aplica a Atos, ainda se pode acrescentar as
e, pelo contrário, seguintes informações. A obra de Atos emprega 2.036 palavras de um total
apresenta de de 18.374 usos, das quais 942 são hápax legomena; a proporção entre
forma negativa o vocabulário e total dos usos é de 9,01, quase igual à do Evangelho, uma
povo judeu. É um boa proporção numa obra literária (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 289).
texto bem
difundido tanto Você pode observar que as metáforas são frequentes, o estilo direto, os
no oriente quanto discursos, os sumários e os coros. O texto oferece elementos psicológicos
no ocidente, que evocam com maestria a presença do divino: além da apresentação da
remonta a transfiguração de Jesus (9.28), o rosto de Estêvão parece o de um anjo ao
meados do século ver a glória de Jesus (At 6.15, 56). Quanto à composição mesma, caro
estudante, ele une os materiais estreitamente, formando um todo
II e parece ser coerente, mas evita formar blocos ininterruptos e demasiado grandes, cuja
tão antigo como o leitura cansaria o leitor. Com objetivo de apresentar a sua história como
anterior.” plano salvador de Deus, ele une acontecimentos com as categorias de
promessa (anúncio, pregação, projeto) e cumprimento (cf. citações do
Antigo Testamento) (At 2.17-21) (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 292).

Os resumos redacionais ajudam a descobrir as diversas etapas da narrativa,


conforme a intenção do autor. At 1.1-2 resume-o em fazer e ensinar,
marcado entre um “começo” e a subida de Cristo ao céu; At 1.8 explicita-
se o campo do testemunho, concretizando-se em Jerusalém, Judeia,
Samaria e até os confins da terra. Em 14.27 apresenta o sentido desse
itinerário afirmando que a salvação também foi dada aos gentios,
sugerindo assim duas grandes partes: judeus e gentios (MONASTERIO;
CARMONA, 1991, pp. 294, 295).
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4.4.2.3. ESTRUTURA LITERÁRIA

O Segundo Volume da obra de Lucas apresenta uma estrutura consistente


com o conteúdo programático de 1.8 (BROWN, 2002, p. 378). Dessa forma,
a obra parece estruturada geograficamente:

I. Introdução: preparação para o recebimento do Espírito 1.1-26.

II. Missão em Jerusalém 2.1-8.1a.

III. Missão em Samaria e Judeia 8.1b-12.25.

IV. Missão de Barnabé e Saulo aos gentios,


aprovação de Jerusalém 13.1-15.35.

V. Missão de Paulo até os confins da terra 15.36-28.31.

Você pode notar que, até o final da obra, o texto está muito bem travado
por uma sequência geográfica sem solução de continuidade, na qual os
acontecimentos vão sendo entrelaçados a partir da atividade missionária
do apóstolo Paulo, livre, até a sua chegada em Roma, aprisionado
(MONASTERIO; CARMONA, 1991 p. 298).

4.4.3. QUESTÕES TEOLÓGICAS

Ainda pensando que Lucas serviu a Paulo como seu fiel companheiro, seus
escritos parecem não ser dependentes das epístolas que o apóstolo enviou
para várias igrejas e pessoas. Quando Lucas escreveu Atos, Paulo já havia
escrito muitas de suas cartas. Contudo, em Atos, o propósito de Lucas
parece ser escrever tanto como historiador quanto como teólogo.
Encontramos diversos aspectos da teologia que podemos dizer ser
propriamente lucana (KISTEMAKER, 2001, p. 25).

Como vimos quanto aos propósitos, o livro de Atos quer fornecer um


esboço da história da Igreja desde seus primeiros dias, em Jerusalém, até
a chegada de seu maior personagem – Paulo – na principal cidade do
Império Romano. Assim estimado aluno, teologicamente, Lucas quer
demonstrar como isso aconteceu através da atuação do Espírito Santo na
vida dos primeiros discípulos. Antes é claro, veja a importância da
ressurreição de Cristo nesta obra lucana.

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4.4.3.1. A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

Os discípulos de Jesus se apegaram firmemente à esperança do


estabelecimento do Reino de Deus dentro de um breve período. A morte de
Jesus, contudo, abalou todas as esperanças. Quando Jesus foi aprisionado,
seus discípulos o abandonaram e fugiram, procurando colocar-se em
segurança, a fim de não serem aprisionados também (LADD, 2003, p. 454).

Caro estudante, em poucos dias, todavia, tudo mudou. Aqueles galileus


que haviam ficado desiludidos começaram a proclamar uma nova
mensagem em Jerusalém. Afirmavam que Jesus era de fato o Messias (At
2.36), que sua morte tinha sido a vontade e o Plano de Deus, muito
embora fosse humanamente falando, um assassinato indesculpável (At
2.23). Com ousadia eles asseveravam que aquele que os judeus tinham
assassinado era o autor da vida (At 3.15), e que, por intermédio desse
Jesus, Deus oferecia o arrependimento e o perdão dos pecados e, além
disso, cumpriria tudo o que havia prometido pelos profetas do Antigo
Testamento (At 3.21) (LADD, 2003, p. 455).

Sabe-se que a ressurreição é o cerne da mensagem cristã primitiva – o


kérygma. O primeiro sermão registrado refere-se a uma proclamação do
fato e da importância da ressurreição (At 2.14-36). Observe que Pedro não
declara quase nada a respeito da vida e do ministério terreno de Jesus (At
2.22). Cabe ressaltar que o mais importante foi o fato de Jesus, que fora
executado como criminoso, havia ressuscitado dentre os mortos (At 2.24-
32). É assim que, a função primária dos apóstolos na comunhão cristã
primitiva não era dominar ou governar, mas dar testemunho da
ressurreição de Jesus (At 4.33) (LADD, 2003, p. 456).

4.4.3.2. O ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é quem conduz a ação da


comunidade cristã nos Atos dos Apóstolos, guia os
apóstolos enviados e irradia a Palavra de Deus de
“Jerusalém até Roma”. Por 52 vezes o Espírito é
mencionado como condutor da ação nos Atos dos
Apóstolos. Aqui o Espírito é “o grande personagem”. Na
primeira parte de Atos (At 1.1-15.35), o Espírito Santo é
mencionado 19 vezes, enquanto na segunda parte (At 15.36-
28.31) aparecem 11 referências.

Você pode perceber que a vida da Igreja foi dirigida por Deus em
etapas cruciais. Às vezes o Espírito dirigia a Igreja naquilo
que deveria fazer (13.2; 15.28; 16.16). Em outras ocasiões,
anjos falavam a missionários cristãos (5.19-20; 8.26; 27.23),
ou vieram mensagens através dos profetas (11.28; 20.11-12).
Em algumas ocasiões, o próprio Senhor aparecia aos Seus
servos (18.9; 23.11) (MARSHAL, 1991., p. 23).
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4.4.3.3. A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO

Prezado aluno, a salvação está disponível para todas as pessoas, judeus e


gentios, mediante o arrependimento. Os judeus, de certa forma, são
considerados culpados pela morte de Jesus, e os gentios são entendidos
como pecadores.

O Evangelho pregado trata do que Jesus fez e ensinou até sua morte. Atos
mostra o Cristo ressuscitado, vivo e ativo como o Senhor que salva e doa o
Espírito Santo aos crentes. Note que o conceito que Lucas tem da história
da salvação (Heilsgeschichte) não cessa na ascensão de Cristo. Os judeus
têm um lugar especial da dispensação divina, e até ao fim é “a esperança
de Israel” que os pregadores do evangelho proclamam (At 28.20). Mas a
recusa deles importou em a Igreja ficar predominantemente gentia (At
13.36ss). Tiago especificamente inclui os gentios em “um povo para o seu
nome” (At 15.14). O Evangelho é oferecido gratuitamente a todos os
homens, mas eles têm uma responsabilidade no sentido de se
arrependerem, e serão julgados no devido tempo (At 17.30-31) (MORRIS,
1983, p. 34, 35).

4.4.3.4. OS MARGINALIZADOS

Preste atenção que assim como no Evangelho, em Atos os marginalizados


encontram seu lugar. “Cuidem dos enfraquecidos” (At 20.35); este é o
apelo do apóstolo Paulo no seu testemunho espiritual, escrito por Lucas,
que conservava na mente e no coração a imagem de Paulo como alguém
que dava especial atenção aos empobrecidos. No discurso aos presbíteros
(At 20.17-35), você encontra o alerta para o cuidado com os pobres,
porque provavelmente os presbíteros estavam preocupando-se menos com
aqueles.

Aqui, caro estudante, como no Evangelho, a mensagem é anunciada aos


samaritanos (At 8.4), ao “eunuco” etíope (At 8.27), aos judeus da cidade
de Lida, da planície de Saron e da cidade de Jope (9.32-43), e finalmente
aos gentios (At 10.1-11-18).

Lucas menciona diversas mulheres nos Atos dos Apóstolos. Elas até lideram
comunidades cheias da força do Espírito. Além de Maria, a mãe de Jesus,
Safira foi a primeira mulher citada como membro efetivo e participante
nas decisões da comunidade. Ela se solidarizou com a comunidade ao
consentir em vender bens e colocá-los a serviço da comunidade. Lucas
ressalta que o pecado de Safira não foi o mesmo do seu marido Ananias.
Ela pecou pelo fato de não ter reagido em público, na assembleia, ao
sistema que regia o casamento patriarcal, segundo o qual era muito difícil
a mulher reagir de modo diferente do modo do marido. Safira acabou
sendo conivente e coautora da traição feita à comunidade e consequente
traição ao Espírito Santo (MORRIS, 1983, p. 39, 40).

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Na tradicional “instituição da diaconia” (At 6.1-7), viúvas helênicas,


pobres e estrangeiras, aparecem reagindo contra a discriminação (At 6.1s).
Lucas não diz que todas as viúvas estavam sendo relegadas na assistência
social, mas apenas as viúvas de origem grega. Outro exemplo de mulher
que exerceu liderança libertadora nas primeiras comunidades cristãs foi
Tabita (At 9.36-43). Maria, a mãe de João Marcos (At 12.12-17) aparece
como ponto de referência para uma igreja, uma reunião da comunidade.
Além disso, prezado aluno, temos a escrava Rode (At 12.12-17), Lídia (At
16.13-15-40) – líder de comunidade, Priscila (At 18.18,26-27), as quatro
filhas de Filipe, que eram profetisas (At 21.9) (MORRIS, 1983, p. 39, 40).

4.4.3.5. A IGREJA

No dia de Pentecostes acontece algo de maravilhoso. Os discípulos


experimentam uma manifestação divina, acompanhada de certas
manifestações visíveis e audíveis, que os convenceu que Deus derramará
seu Espírito Santo sobre eles. Aqui você vê mais uma vez a importância do
Espírito Santo na obra lucana. A vinda do Espírito manifestou-se de várias
formas, que foram evidentes às percepções físicas. Um som veemente e
impetuoso; algo que parecia com chama de fogo. Pedro esclarece que esse
maravilhoso poder foi o sinal visível do cumprimento da profecia de Joel,
de que Deus derramará seu Espírito Santo. Pedro interpretou o dom
pentecostal com o cumprimento profético. Assim nasce a Igreja em
Jerusalém (ZUCK, 2010, p. 155).

Contudo estudante, a experiência pentecostal não levou os cristãos


primitivos a romper com o judaísmo e a formar uma comunidade separada
e distinta. Mesmo assim, certos elementos distintos são evidentes, os
primeiros dos quais é “o ensinamento dos apóstolos” ou didaquê. O
batismo; a igreja recebia em sua comunhão todos os que aceitassem a
proclamação de Jesus como o Messias, se arrependessem e recebessem o
batismo nas águas.

Os empregos do termo ekklêsia (evkklhsi,a)


levam à compreensão de que a Igreja não é
meramente um número total de igrejas
locais ou a totalidade de todos os crentes;
antes, a congregação local é a Igreja em sua
expressão local. Estimado aluno, somente
podia haver uma Igreja; e essa única Igreja
de Deus se expressava de forma local na
comunhão dos crentes. Um dos elementos
mais admiráveis na vida das Igrejas
Primitivas era o sentido de comunhão (At
2.42; 2.44, 47). O sentimento de partilhar
das bênçãos da era messiânica levou a um
compartilhamento real de suas posses (LADD,
2003., pp. 488-502).
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4.4.3.6. A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

Segundo os Atos dos Apóstolos, uma das colunas mestras que sustentava a
vida das primeiras comunidades cristãs era a oração. Oravam juntos
(12.12) e cultivavam um novo ambiente na vida em comum. Perseveravam
na oração (1.14; 2.42; 6.4; 10.2) nas casas, no Templo (3.1), às margens do
rio (16.13), na praia (21.5) etc. Pela oração criava-se intimidade com o
Espírito Santo (4.31; 8.15; 10.30; 22.17) e consagravam-se líderes na
comunidade a serviço da Palavra e da assistência social (6.6; 9.11). Os
visitantes também entravam no clima da oração (16.13). Pela oração, os
seguidores de Jesus permaneciam unidos entre si e a Deus (5.12b),
fortaleciam-se nas tribulações (4.23-31) e faziam discernimento crítico e
criativo (1.24; 13.3).

As orações eram libertadoras (28.8) e acolhidas por Deus (10.4,31). A


comunidade orava pelos que tinham sido presos na perseguição (12.5) e,
muitas vezes, jejuava enquanto orava (e vice-versa). Fazia como Jesus,
que, pela oração, enfrentava as tentações (Mc 14.32; At 8.24; 16.25)
(MARSHAL, 1991, p. 30).

O acento posto sobre a atividade do Espírito Santo como motor da história


da salvação é praticamente único em todo O Novo Testamento. Observe
que a escatologia lucana diz que a parousia já começou com Jesus. Jesus
não voltará somente no final dos tempos, pois já está voltando desde sua
encarnação.

Nós vimos nesse capítulo o Evangelho de Lucas e o livro de Atos dos


Apóstolos, nesses dos livros estudamos as questões históricas, que
incluíram, a data em que eles foram escritos, o lugar onde foram escritos
e o propósito de cada um deles. Na sequência, como nos outros
Evangelhos, vimos as questões literárias e o estilo com que cada um deles
foi escrito, tendo destaque para a linguagem do escritor desses livros,
Lucas tinha uma linguagem mais nobre do que os outros evangelistas. Por
fim você aprendeu as questões teológicas de cada um desses livros.

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FACULDADE
CRISTÃ DE CURITIBA
Rua Presidente Faria, 275
Centro - Curitiba/PR CEP 80.020-290
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