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MÓDULO

EVANGELHOS
8 E ATOS

LIVRO DIDÁTICO
FACULDADE
CRISTÃ DE CURITIBA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. A PALESTINA DO SÉCULO I a.C.
1.1. Contexto político e social do Novo Testamento
1.1.1. Antecedentes do século I d.C.
1.1.1.1. Período Grego
1.1.1.2. Os Macabeus
1.1.1.3. Período Romano
1.1.2. O século I d.C.
1.1.2.1. A política romana da Judeia
1.1.2.2. Aspectos Econômicos
1.1.2.2.1. A pirâmide social
1.1.2.3. Aspectos do Mundo Religioso
1.1.2.4. Filosofias greco-romanas
1.2. As Instituições religiosas e os partidos político-religiosos
1.2.1. O Templo
1.2.2. A sinagoga
1.2.3. O Sinédrio
1.2.4. Fariseus
1.2.5. Saduceus
1.2.6. Zelotes
1.2.7. Essênios
1.2.8. Samaritanos
1.3. EVANGELHOS: QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
1.3.1. Conceito teológico

02
SUMÁRIO
1.3.3. A Crítica das Formas
1.3.1. Categorias ou Gêneros
1.4. A QUESTÃO DOS EVANGELHOS SINÓTICOS
1.4.1. A Crítica das Fontes
1.4.2. As semelhanças nos Sinóticos
1.4.3. As diferenças nos Sinóticos
1.4.4. Inventário
1.4.5. A Crítica dos Evangelhos
1.4.5.1. Hipóteses de origem dos Evangelhos canônicos
1.4.5.2. Hipótese baseada na prioridade de Marcos
1.4.5.3. A Crítica da Redação
1.4.5.3.1. Propósitos da Crítica da Redação
1.4.5.3.2. Principais Características

2. O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS


2.1. Questões Históricas
2.1.1. Autoria
2.1.2. Data
2.1.3. Lugar de Composição
2.1.4. Propósito
2.2. Questões Literárias
2.2.1. Crítica Textual
2.2.2. Linguagem e Estilo
2.2.3. Estrutura Literária

03
SUMÁRIO
2.3. Questões Teológicas
2.3.1. Jesus é o Messias, o Cristo
2.3.1.1. Jesus: Messias investido com poder
2.3.1.2. O segredo messiânico
2.3.2. Jesus é o Filho do Homem
2.3.3. Jesus é o Filho de Deus

3. O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS


3.1. Questões Históricas
3.1.1. Autoria
3.1.2. Data
3.1.3. Lugar de Composição
3.1.4. Propósito
3.2. Questões Literárias
3.2.1. Crítica Textual
3.2.2. Linguagem e Estilo
3.2.3. Estrutura Literária
3.3. Questões Teológicas
3.3.1. Núcleo do pensamento mateano
3.3.1.1. Dimensão Eclesiológica
3.3.1.2. Dimensão Cristológica
3.3.1.3. Dimensão Ética e Moral
3.3.2. O Reino de Deus

04
SUMÁRIO
3.3.3. Escatologia

4. O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS


4.1. Questões Históricas
4.1.1. Autoria
4.1.2. Data
4.1.3. Lugar de Composição
4.1.4. Propósito
4.2. Questões Literárias
4.2.1. Crítica Textual
4.2.2. Linguagem e Estilo
4.2.3. Estrutura Literária
4.3. Questões Teológicas
4.3.1. A salvação
4.3.2. O universalismo da salvação
4.3.3. A paixão de Cristo
4.3.4. O Espírito Santo
4.3.5. A oração
4.3.6. O louvor, a gratidão e a alegria
4.3.7. A importância das mulheres
4.3.8. O Evangelho para os pobres
4.4. ATOS DOS APÓSTOLOS
4.4.1. Questões Históricas
4.4.1.1. Autoria

05
SUMÁRIO
4.4.1.2. Data
4.4.1.3. Lugar de Composição
4.4.1.4. Propósito
4.5. Questões Literárias
4.5.2.1. Crítica Textual
4.5.2.2. Linguagem e Estilo
4.5.2.3. Estrutura Literária
4.5.3. Questões Teológicas
4.5.3.1. A importância da ressurreição de Cristo
4.5.3.2. O Espírito Santo
4.5.3.3. A universalidade da salvação
4.5.3.4. Os marginalizados
4.5.3.5. A Igreja
4.5.3.6. A importância da oração

5. O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO


5.1. Questões Históricas
5.1.1. Autoria
5.1.2. Data
5.1.3. Lugar de Composição
5.1.4. Propósito
5.2. Questões Literárias
5.2.1. Crítica Textual
5.2.2. Linguagem e Estilo

06
SUMÁRIO
5.2.3. Estrutura Literária
5.3. Questões Teológicas
5.3.1. Deus
5.3.2. Jesus
5.3.3. Espírito Santo
5.3.4. Espírito Santo: fonte da vida eterna e princípio de
adoração ao Pai
5.3.5. O universalismo da salvação
5.3.6. A eficácia da oração
5.3.7. Perseverança final e ressurreição futura
5.3.8. O dualismo Joanino

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO 08
EVANGELHOS CAPÍTULO 3
E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

Olá estudante! Agora você vai aprender sobre Evangelho Segundo Mateus,
te convido então a estudar atentamente este capítulo e expandir ainda
mais os seus conhecimentos.

Observe que na ordem tradicional, o Evangelho Segundo Mateus faz a


abertura do Novo Testamento. A justificativa e que ele é aquele entre os
quatro evangelhos que procura, mais acentuadamente, estar dentro da
linha do Antigo Testamento. Mateus lança uma ponte entre a expectativa
do reino messiânico, cuja vinda é proclamada nos livros proféticos do
Antigo Testamento, e o advento de Jesus Cristo, que O Novo Testamento
apresenta como a resposta a essa espera (Oscar CULLMAN).

Um olhar atento sobre a obra de Mateus pode lhe ajudar a perceber, na


experiência de Jesus, o retrato da experiência de seu povo, que foi
exilado, perseguido por causa de sua fé, resistência aos seus profetas,
morte de suas lideranças e, mesmo assim, tornou-se luz das nações. Jesus
é o herdeiro e, ao mesmo tempo, a concretização das promessas dessa fé.
Mateus demonstra como as promessas feitas a Israel se cumpriram em
Jesus, filho de Davi, filho de Abraão e filho de Maria de Nazaré. Toda a
história do nascimento, vida, obra e morte de Jesus evocam a caminhada
do povo de Deus.

Da mesma maneira que Evangelho Segundo Marcos foi estudado, o


Evangelho Segundo Mateus também será dividido em três seções: questões
históricas, questões literárias e questões teológicas. O objetivo é o
mesmo, que você, estimado estudante, obtenha uma compreensão
panorâmica desse Evangelho e possa apontar caminhos pelos quais poderá
ler, interpretar e ensinar o conteúdo do texto.

Este evangelho – com cerca de 18.300 palavras em grego – é mais de 50%


maior que o de Marcos (11.300 palavras em grego). Observe que a maior
parte deste aumento se explica pelos dois capítulos que relatam
a infância de Jesus e pelos longos sermões formados com base
em ditos e sentenças do Mestre ausentes em Marcos. A cura do
jovem servo do centurião e a do endemoninhado cego e mudo (Mt
8.5-13; 12.22-23), tomadas de Q são as únicas histórias de
milagres completamente não marcanas no ministério de Jesus
segundo Mateus. Ademais, estima-se que Mateus reproduza cerca
de 80% de Marcos (BROWN, 2002, p. 247).

Convido você, novamente, a iniciar os estudos com as questões


históricas.

3.1 QUESTÕES HISTÓRICAS


Jericó atual
Recorde que com as questões históricas fazemos referência à origem,
autor, data, lugar de composição, destinatários e situação que motivou a
obra e as fontes utilizadas.

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MÓDULO 08
EVANGELHOS CAPÍTULO 3
E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

3.1.1. AUTORIA

Caro estudante, você já sabe que todos os quatro Evangelhos, em sua


origem, são anônimos. Ou seja, os manuscritos originais não levaram o
nome dos autores. Porém, a tradição da Igreja Primitiva os atribui
respectivamente a Mateus, Marcos, Lucas e João (EARLE; SANNER;
CHILDERS, 2015, p. 21).

Eusébio de Cesareia menciona Clemente de Roma – morto em 101 d.C. –


“Na atualidade, como dizendo que “o primeiro dos quatro Evangelhos, que são
inquestionáveis, foi compilado por Mateus, que 'outrora fora coletor de
alguns estudiosos impostos, mas posteriormente um apóstolo'”. Também Eusébio afirma:
contestam que o “Com efeito Mateus, que primeiramente tinha pregado aos hebreus,
texto grego seja quando estava a ponto de ir para outros, entregou por escrito seu
Evangelho, em sua língua materna, fornecendo assim por meio da escritura
uma tradução do o que faltava de sua presença entre aqueles de quem se afastava”(
original hebraico CESAREIA, 2002, p. 65). Se isto for um fato, uma edição grega acabou por
substituir completamente a hebraica (aramaica) uma vez que não se
ou aramaico em encontrou nenhum fragmento de um Mateus em sua língua materna.
virtude de que o
Na atualidade, alguns estudiosos contestam que o texto grego seja uma
texto não se tradução do original hebraico ou aramaico em virtude de que o texto não
parece com uma se parece com uma tradução. Contudo, as passagens “Q” de Mateus
tradução.” demonstram regularmente um cuidadoso paralelismo semita, “o evangelho
não é desprovido de seus semitismos e não é necessário se argumentar que
Mateus [...] tenha traduzido literalmente” (BLOMBERG, 2009, p. 180).
O nome próprio Mateus significa “dom de Deus, dádiva de Javé” e aparece
em todas as listas dos doze apóstolos (Mt 10.2-4; Mc 3.16-19; Lc 6.13-16;
At 1.13). Perceba que no primeiro Evangelho, Mateus é identificado como
um publicano, e isso não ocorre nas demais listas. Na narrativa da
chamada, o primeiro Evangelho menciona “Mateus” (Mt 9.9); Marcos o
chama “Levi, filho de Alfeu” (2.14) e Lucas menciona simplesmente “Levi”
(5.27). Sem dúvida os três querem indicar a mesma pessoa. Lembre-se que
era bastante comum um judeu ter dois nomes (HALE, 2001, p. 87).

Depois do texto de Atos 1.13, Mateus – Levi – não é mencionado outra vez
no Novo Testamento. Pouco se sabe de sua vida e ministério. Eusébio é
quem, novamente, preserva as tradições do século II acerca da autoria de
Mateus, mas existe pouca coisa a respeito de sua obra depois disso. Várias
histórias afirmam que ele evangelizou a Etiópia, Macedônia, Síria, Pérsia e
Média. Existe uma tradição sobre ele ter sofrido morte natural na Etiópia
ou na Macedônia. De outro lado, as Igrejas Grega e Romana celebram seu
martírio (HALE, 2001, p. 88).

Uma coisa deve ficar clara, em sua mente, estudante: a Igreja Primitiva é
unânime em atribuir a Mateus a autoria do primeiro Evangelho canônico. A
razão de remeter-se sempre à tradição da igreja antiga é que as
informações dela são muito precisas, de maneira que prometem fornecer,
ao menos, boas coordenadas para nossas indagações.
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MÓDULO 08
EVANGELHOS CAPÍTULO 3
E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

3.1.2. DATA

A data máxima para composição final deste Evangelho deve ser colocada
em 115 d.C., quando Inácio, Bispo de Antioquia da Síria, referiu-se a ele
em sua carta à igreja de Esmirna. Da mesma forma, como já visto, Eusébio
menciona Clemente de Roma como tendo feito referência ao Evangelho
Segundo Mateus. Como Clemente morreu por volta de 101 d.C., significa
que este Evangelho não poderia de modo algum ter sido escrito depois
desta data.

A data mais antiga depende da datação que fizemos do Evangelho Segundo


Marcos, uma vez que ele forma a estrutura de nosso Mateus. É preciso
conceder certo tempo para a composição e circulação de Marcos. Levando
em conta esses diversos fatores uma época antes de 60 d.C. seria difícil de
ser defendida (HALE, 2001, p. 89).

Existe quem coloque a redação deste Evangelho para o início da década de


70 do primeiro século (CHAVES, 2002, p. 25). Outros advogam o surgimento
do Evangelho entre os anos 80 a 90 d.C. Na nossa compreensão fica difícil
aceitar uma data posterior a 70 uma vez que Jerusalém já estaria
destruída e o Evangelho desenvolve toda a sua narrativa como se a cidade
e o Templo ainda existissem. Assim podemos assumir uma data entre 63 e
67 d.C.

3.1.3. LUGAR DE COMPOSIÇÃO

Caro estudante, com referência ao local em que foi escrito o Evangelho


Segundo Mateus, também existem diversas informações. Atanásio afirma
que foi escrito em Jerusalém; Ebedjesu, diz que foi na Palestina; e
Jerônimo, na Judeia, para que os discípulos daquela região fossem
beneficiados (BERKHOF, 2014, p. 61). Nos dias atuais grande parte dos
estudiosos afirma que o local foi Antioquia da Síria (EARLE; SANNER;
CHILDERS, 2015, p. 22).

Antioquia era capital da província romana da Síria e


a terceira cidade do império, depois de Roma
e Alexandria. Uma cidade bastante
cosmopolita que tinha o grego como língua
oficial e o helenismo como aglutinador de
diversos povos. A colônia judaica dessa
cidade era muito importante, e nela a
infiltração do helenismo era um fenômeno
bastante notável (MONASTERIO;
CARMONA, 1991, p. 343).

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EVANGELHOS CAPÍTULO 3
E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

3.1.4. PROPÓSITO

Vamos agora aprender o propósito desse Evangelho.


Estimado estudante, levando em conta o conteúdo do Evangelho podemos
inferir que a comunidade de Mateus era bastante heterogênea: tinha um
componente fundamentalmente judeo-cristã, parcialmente judeo-cristão
helenista – o texto está em grego e faz uso da LXX, mas também parece
abrigar cristãos procedentes do paganismo. A igreja de Mateus polemiza
com o judaísmo farisaico. É uma igreja estabelecida num centro urbano,
“É preciso com certa organização, como se depreende por seus ministérios (23.8-10,
34) e seu procedimento disciplinar (18.15-20) (MONASTERIO; CARMONA,
lembrar da 1991, p. 342).
crescente tensão
Uma leitura de todo o texto pode apontar pelo menos quatro finalidades
entre o básicas: litúrgica, “kerygmática”, didática e apologética (HALE, 2001, pp.
cristianismo e o 93-98).
judaísmo; parece
Dessa forma, você pode perceber que Mateus escreveu para atender as
ter surgido certa necessidades de adoração e leitura pública; uma leitura casual demonstra
indecisão, por que este é o mais fácil, dos evangelhos, de se ler. Parece dispor o material
por tópicos.
parte de alguns
judeus, em No que diz respeito ao kérygma Mateus propõe-se a preservar todos os
entrarem elementos da pregação apostólica primitiva. Seu interesse é evangelizar os
judeus (15.24; 10.5,6), mas não se limita a eles (8.11; 24.14; 28.20). O
completamente tema da morte de Jesus é desenvolvido através da demonstração do
na justiça, que só cumprimento das profecias, descendência davídica, nascimento, vida,
morte, ressurreição, ascensão e a promessa da volta de Jesus.
pode ser recebido
como um dom de Observe que a estrutura desse Evangelho também tem o propósito de
Deus.” instruir, ou seja, didático. O texto está divido em cinco seções em torno
dos discursos do Senhor.

Quanto ao caráter apologético, é preciso lembrar da crescente tensão


entre o cristianismo e o judaísmo; parece ter surgido certa indecisão, por
parte de alguns judeus, em entrarem completamente na justiça, que só
pode ser recebido como um dom de Deus. Perceba que Mateus retrata a
trágica rejeição, por parte de Israel, de seu Messias. A meta apologética
pode ser resumida na seguinte sentença: “Jesus é o Messias e nele a
profecia judaica foi cumprida” (TASKER, 1980, p. 14).

3.2. QUESTÕES LITERÁRIAS

Nesse momento vamos analisar as questões literárias desse Evangelho.


Seguiremos o padrão adotado para Marcos: crítica textual, conteúdo,
linguagem e estilo. Depois, dentre inúmeras opções, propomos uma
estrutura geral do Evangelho Segundo Mateus. Mais uma vez é importante

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EVANGELHOS CAPÍTULO 3
E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

alertar, a você estudante, para a necessidade de uma primeira leitura da


obra como um todo. Para que seja feito um reconhecimento inicial.uma
primeira leitura da obra como unidade literária.

3.2.1. CRÍTICA TEXTUAL

Podemos dizer que Mateus faz fundamentalmente uma síntese a partir de


dois projetos anteriores, o Evangelho Segundo Marcos e o documento Q
(Quelle). Ele assume o Evangelho Segundo Marcos como referência, o que
resulta, assim, em uma obra com forte essência narrativa, mas na qual
inclui material discursivo do documento Q (MONASTERIO; CARMONA, 1991,
p. 149).

A leitura mais bem documentada de Mt 1.16 é “Jacó gerou José, o esposo


de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo”. Existem leituras variantes
desse versículo: uma destinada a evitar chamar José de “esposo de Maria”,
outra preservando o padrão usual de X gerou Y, mas ainda assim chamando
Maria de virgem.

Note que em Mateus 6.13 temos o término “do Maligno, do mal”. Segundo
o testemunho de importantes e antigos manuscritos alexandrinos e
ocidentais, dentre outros, bem como de comentários sobre o Pai-Nosso
escritos por diversos Pais da Igreja antiga, o texto termina com ponerou.
Entenda que, para adaptar essa oração ao uso litúrgico na Igreja antiga,
copistas acrescentaram vários finais diferentes, com destaque para os
seguintes: “pois teu é o reino, e o poder, e a glória para sempre, Amém”;
“pois teu é o reino e a glória para sempre. Amém”; e, “pois teu é o reino e
o poder e a glória do Pai e do Filho e do Espírito Santo para sempre.
Amém” (OMANSON, 2010, p. 7, 8).

As denominações mais antigas de que são conhecidas a partir dos


manuscritos são as seguintes:

KATA MAQQAION     ¥B
euaggelion kata matqaion  
13
D f 33 Û bo
euaggelion kata maqqaion     W

1
agion euaggelion kata matqaion f al
arch sun qew tou maqqaion euaggelion  1241 al
ek tou kata maqqaion    L al

EUANGGELION KATA MAQQAION também foi preservada


A inscrição
4.64.67
em uma folha de papiros conexos î com fragmentos de Mateus e Lucas do
final do século II. Essa forma longa também é sustentada pela tradução latina
antiga, que presumivelmente tenha surgido no último quartel do século II
(MAUERHOFER, 2010, p. 78, 79).

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EVANGELHOS CAPÍTULO 3
E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

Na tabela abaixo estão dispostos os relatos que ocorrem exclusivamente


no Evangelho Segundo Mateus (MAUERHOFER, 2010, p. 77, 78).
Material Exclusivo Conteúdo

1.1-17 A genealogia real de Jesus

1.18-25 Anúncio do nascimento de Jesus a José

2.1-12 Visita dos astrólogos do Oriente

2.13-23 Fuga para o Egito e assassinato de crianças em Belém

5.4s, 7-10 Partes do Sermão do Monte


5.14, 16-24
5.27-29
5.31-37
6.1-18
7.6, 15

9.27-31 Cura de dois cegos e um mudo possesso

10.5-15 Envio dos discípulos exclusivamente aos israelitas

10.34-39 Condições do discipulado

10.40-42 O salário dos que auxiliam os mensageiros de Jesus

11.28-30 O convite de Jesus – Venham a mim

12.36-37 Advertência contra o falar inútil

13.24-30,36-43 Parábola do joio no trigo

13.44 Parábola do tesouro no campo

13.45, 46 Parábola da pérola preciosa

13.47-50 Parábola da rede de pesca

13.50-52 Comparação com um patrão

14.28-32 Pedro anda sobre a água

16.17-19 Resposta de Jesus à confissão de fé de Pedro

17.24-27 O imposto do templo

18.15-22 Sobre o perdão

18.23-35 A parábola do servo impiedoso

20.1-16 A parábola dos trabalhadores na vinha

21.14-16 Curas no templo e o louvor das crianças

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O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

Material Exclusivo Conteúdo

21.28-32 Os dois filhos desiguais

22.1-14 As bodas reais

23.15-22 Contra os fariseus

25.1-13 Parábola das dez virgens

25.31-46 Discurso sobre o julgamento dos povos

27.3-10 O fim trágico do traidor Judas

27.19 O sonho da esposa de Pilatos

27.52,53 Ressurreição de muitos santos durante a crucificação de Jesus

27.62-66 A guarda do sepulcro de Jesus

28.11-15 A fraude do Sinédrio

28.16-20 Aparição no monte da Galileia, ordem missionária e promessa

É importante ressaltar que Mateus modifica a ordem de suas fontes para


obter composições de caráter temático, diferente de Lucas, que respeita a
ordem de Marcos, embora seja interrompido em alguns momentos para
introduzir o material do documento Q e o material próprio (MONASTERIO;
CARMONA, 1991, pp. 149, 150).

3.2.2. LINGUAGEM E ESTILO

Lembrem-se de que os textos de O Novo Testamento surgem na


encruzilhada cultural do mundo helenístico e do mundo semítico. Perceba
isso de maneira nítida no Evangelho Segundo Mateus, o mais judaico dos
“Lembrem-se de Evangelhos, que não obstante, escreve num grego mais correto que o do
que os textos de Evangelho Segundo Marcos e que, contra o que se acreditava em outros
O Novo tempos, não pode mesmo ser mera tradução de um original aramaico ou
hebraico. Contudo, faz uso de diversos procedimentos estilísticos de
Testamento origem semítica. Ao ler Mateus você descobre de imediato esses recursos
surgem na estilísticos. Vamos destacar aqui os recursos que mais se sobressaem ao
encruzilhada longo do texto mateano (MONASTERIO; CARMONA, 1991, pp. 150-154):
Inclusões são a repetição de palavras ou expressões-chave no início e no
cultural do fim de uma seção que a delimita e a orienta sobre o conteúdo. No
mundo princípio do Evangelho, Jesus é apresentado como o Emanuel
helenístico e do (VEmmanouh,l), Deus-Conosco (1.23); ao final, o Senhor diz aos apóstolos
“eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (28.20).
mundo semítico.” Os versículos 4.23 e 9.35 são uma inclusão que delimita a seção melhor
construída de toda a obra e indica seu conteúdo. As inclusões ocorrem com
frequência em seções pequenas (pelos seus frutos os conhecereis –

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E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

7.16,20; Reino dos céus na primeira e na oitava bem-aventurança, 5.3,10).


Um outro recurso estilístico bastante comum em Mateus são os
paralelismos e quiasmos. Em 7.24-27 você encontra duas estrofes paralelas
em tudo, mas com conclusões contrárias: trata-se de um paralelismo
antitético; o texto paralelo em Lucas 6.47-49 não apresenta essa forma
literária exata. Por vezes, o paralelismo tem forma circular, dando lugar
ao quiasmo. Veja a estrutura abaixo:

porque aquele que quiser salvar a sua vida (a)


perdê-la-á (b)
e quem perder a sua vida (b')
por amor de mim achá-la-á (a')

Você também encontra outros exemplos em 10.39; 13.13-18; 18.10-14. O


quiasmo é um procedimento frequente no Antigo Testamento.
É importante incluir aqui as citações de cumprimento: 1.22; 2.5; 2.15;
2.17; 2.23; 4.14; 8.17; 12.17; 13.14; 13.35; 21.4; 27.9. São citações do
Antigo Testamento próprias de Mateus, que se caracterizam por uma
reflexão introdutória do evangelista, na qual se afirma explicitamente o
cumprimento do texto das Escrituras hebraicas em algum episódio da vida
de Jesus.

Podemos destacar ainda a fórmula que está no final dos discursos de Jesus
em 7.28; 11.1; 13.53; 19.1 e 26.1. É evidente a importância dessas
fórmulas mateanas; servem tanto para fechamento como transição. Além
disso, modifica o ambiente ou o assunto.

Existem diversos outros recursos estilísticos, mas eles podem ser


verificados à medida que você, prezado estudante, ler e
estudar o texto mesmo.

3.2.3. ESTRUTURA LITERÁRIA

Repare que, enquanto Marcos termina seu relato de


forma abrupta, sem a descrição formal da ressurreição,
Mateus inclui um capítulo inteiro dedicado à volta de
Jesus do mundo dos mortos e à comissão final dada por
ele aos discípulos. Mateus apresenta basicamente cinco
grandes blocos de material discursivo. A intensão de
Mateus de que esses cinco principais sermões de Cristo
fossem vistos como unificados, intercalados ao longo de
sua narrativa, fica evidente que por meio da repetição, já
mencionada acima, com que encerra cada um dos
sermões: “Havendo Jesus concluído essas palavras”.

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EVANGELHOS CAPÍTULO 3
E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

Aqui também adotaremos a estrutura que procura demonstrar as diversas


etapas da vida de Jesus de acordo com o desenvolvimento natural do
texto. Veja abaixo a estrutura do Livro:

ESTRUTURA DO LIVRO

I. A origem e a infância de Jesus, o Messias 1.1-2.23.


II. Início do Ministério de Jesus, o Messias 3.1-4.25.
III. A Ética do Reino de Deus 5.1-7.29.
IV. As obras poderosas de Jesus 8.1-9.34.
V. Jesus e seus pregadores missionários 9.35-10.42.
VI. As prerrogativas de Jesus, o Messias 11.1-12.50.
VII. Sete parábolas do Reino do Céu 13.1-52.
VIII. A rejeição de Jesus em Nazaré
e o martírio de João Batista 13.53-14.12.
IX. Jesus se retira dos domínios de Herodes 14.13-17.27.
X. A vida na comunidade messiânica 18.1-35.
XI. A viagem para Jerusalém 19.1-20.34.
XII. O Messias desafia Jerusalém 21.1-22.46.
XIII. O Messias denuncia os escribas e fariseus 23.1-39.
XIV. A queda de Jerusalém
o aparecimento do Filho do Homem 24.1-51.
XV. Três parábolas de julgamento 25.1-46.
XVI. A narrativa da paixão 26.1-27.66.
XVII. A ressurreição de Jesus 28.1-10.
XVIII. Narrativas pós-ressurreição 28.11-20.

Aqui optamos por uma estrutura um tanto quanto


mais detalhada apenas por objetivos didáticos.

3.3. QUESTÕES TEOLÓGICAS

Chegamos agora à última seção de nossa análise do


Evangelho Segundo Mateus. Lembre-se de que as obras
dos evangelistas são fundamentalmente teológicas. Dessa
forma, interessa-nos saber qual a abordagem teológica
mateana. Nisto consiste o grande diferencial no que diz
respeito ao conteúdo. Isso também é importante para as
questões interpretativas.

Rio Jordão
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MÓDULO 08
EVANGELHOS CAPÍTULO 3
E ATOS
O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

3.3.1. NÚCLEO DO PENSAMENTO MATEANO

Você já deve ter observado que o Evangelho Segundo Mateus desenvolve


uma teologia da história em perspectiva dupla: do passado, com as
genealogias (1.1-7), as citações e as frases evocativas de amplos contextos
do Antigo Testamento, como a “Boa Nova do Reino” (4.23; 9.35; 24.14),
palavra e doutrina do Reino (13.19,52); do futuro, anunciando que todos os
povos devem ser feitos discípulos através do ministério da pregação dos
enviados (28.16-20). Deus faz história com os seres humanos de maneira
“ Pouco a pouco, única e decisiva em Jesus, o Cristo e Filho de Deus (MARCONCINI, 2012, p.
130).
Jesus foi se
revelando às O trajeto terreno de Jesus proposto por Mateus é único. Pouco a pouco,
Jesus foi se revelando às multidões enquanto formava seus discípulos na
multidões construção progressiva de sua Igreja – instrumento para o mundo da
enquanto presença do Reino dos Céus (como ele chama o Reino de Deus).
O ponto de partida desse trajeto aparece no evangelho da infância.
formava seus
discípulos na Evocando as profecias hebraicas, Mateus explicita a maneira como Jesus
realiza as esperanças judaicas. Mateus atribui-lhe os títulos messiânicos
construção tradicionais. Segundo o anúncio profético, ele nasce em Belém, cidade
progressiva de real: é verdadeiramente “Filho de Davi” (9.27). Contudo, Jesus não é o
Messias nacionalista esperado pelos seus contemporâneos. Perceba que a
sua Igreja – fim de corrigir este equívoco, Mateus apela para a figura do “Servo” de
instrumento para Deus (8.17); extraída de Isaías (Is 42.1-4 e 53.4); se ele é rei (21.5), é um
o mundo da rei humilde, segundo a visão de Zacarias (9.9). De toda forma, são as
Escrituras que, incessantemente, legitimam sua identidade.
presença do
Reino dos Céus .” Caro aluno, assim o núcleo do pensamento de Mateus é dividido em três
dimensões fundamentais que dão sustentação à teologia do Evangelho: a
dimensão eclesiológica, a dimensão cristológica e a dimensão ética e
moral. Veja abaixo de forma introdutória cada uma dessas três dimensões.

3.3.1.1. DIMENSÃO ECLESIOLÓGICA

A primeira dimensão é Eclesiologia. Ela é profundamente enfatizada. O


Evangelho Segundo Mateus sempre foi considerado o evangelho eclesial por
antonomásia, devido a duas razões fundamentais: em primeiro lugar, dos
Sinóticos, Mateus é o único Evangelho em que aparece a palavra ekklesia,
três vezes (ZUCK, 2010, p. 54). Nas duas vezes que Jesus utiliza o termo,
uma tem conotação universal, referindo-se uma a todo o novo povo do
Messias Jesus (16.18) e outra, tem um sentido particular, como uma
comunidade ou igreja local, com seus problemas disciplinares (18.17); em
segundo lugar, na obra inteira, sobretudo nas partes discursivas,
transparece a vida da Igreja. É possível descobrir mesmo os conflitos da
comunidade e, até certo ponto, seus ministérios (MONASTERIO, CARMONA,
1991, p. 318).

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O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS

Note que a dimensão eclesiológica desse Evangelho está centrada no


discipulado daqueles que são chamados a viver no “agora” o “ainda não”,
ou seja, a viver no tempo presente os ensinamentos do Mestre como se
estivessem vivendo os tempos finais, do juízo. A comunidade de Mateus,
formada por judeo-cristãos, é chamada a viver no aqui o Reino de Deus. A
Igreja, neste Evangelho, é apresentada como uma realidade complexa na
multiplicidade de imagens que a representam: ora como a rede lançada ao
mar, que acolhe uma diversidade de peixes (13.47-50), ora é figurada no
campo de um pai de família, que plantou nele a boa semente e o inimigo
nele semeou a cizânia. Ambos crescem juntos e a colheita só pode ser
feita no final (13.24-43).

É preciso destacar que quando Jesus declarou que edificaria a Sua Igreja,
não tinha em mente a formação de uma estrutura como se tornou a Igreja
posteriormente. Não se pode afirmar categoricamente que Jesus queria
formar a Igreja da maneira como a conhecemos hoje. Naquele momento
Jesus estava dando os fundamentos para o surgimento do novo conjunto do
povo de Deus, a partir da afirmação de Pedro: “tu és o Cristo, o filho de
Deus vivo” (16.16), do mesmo modo como estava estabelecendo a
autoridade conferida a essa nova comunidade (18.19). A vida da Igreja de
Cristo deveria ser marcada pela comunhão e pela unidade (CHAVES, 2002,
p. 42).

Caro aluno, o Evangelho é um discipulado continuado referente à


construção da comunidade, constituída de regras próprias, o perdão, a
oração, a correção fraterna (18) e que termina no Reino. A Igreja está
aberta para todos os povos, fazendo aí uma diferença com o Antigo Israel
(21.43) (MARCONCINI, 2012, p. 131).

Lembre-se de que Jesus chamou pessoas para o


seguirem, formando um grupo de fiéis, a quem
chamou de discípulos (maqhth,j - mathetes),
servos ou escravos (dou/loj - dulos) e serviçais da
casa (oivkiako,j - oikiakós) (10.25) (CHAVES, 2002,
p. 43).

Em Mateus, você pode notar que, a Igreja é uma


continuidade de Israel, enquanto povo separado
por Deus. Como novo povo de Deus, a Igreja é o
lugar para congregar pessoas vindas de todas as
partes, gentios e judeus, em torno do Reino dos
Céus (8.11). A Igreja e o Reino de Deus são
expressões que estão muito próximas, mas dizem
respeito a realidades distintas. O Reino é o
domínio total de Deus sobre tudo o que existe; a
Igreja é a família composta pelas pessoas que
entram no Reino e estão submissas ao poder soberano de Deus. A Igreja,
portanto, é o verdadeiro povo de Deus, pertencente ao Messias (CHAVES,

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3.3.1.2. DIMENSÃO CRISTOLÓGICA

A segunda dimensão é a Cristologia. Jesus é o fundamento da Igreja. A


Igreja pertence a Ele. Ele é o seu Senhor. Entre os vários títulos dados a
Jesus, Filho de Deus (2.15) unido a Senhor (ku,rioj - Kýrios) fortalece a
imagem referencial para as comunidades em formação (MARCONCINI,
2012, p. 131). Talvez possamos afirmar com segurança que este seja o mais
importante título em Mateus dado para Jesus. Muitas pessoas chamavam
Jesus de “Senhor” e, em diversos casos, parece que isso queria significar
pouco mais que “Mestre”. Porém, em muitos lugares, o contexto sugere
que Senhor (Kýrios) é o título correto utilizado pelos discípulos plenos,
especialmente quando eles precisam da ajuda que apenas alguém que
possua prerrogativa e poder divinos pode oferecer (8.2,6,25; 9.28) (ZUCK,
2010, p. 27). Portanto, parece mesmo apropriado falar de pessoas
“adorando” (proskune,w - proskynéo: termo utilizado para o culto a Deus)
o Senhor durante a sua vida (2.2,8,11; 14.33) (BLOMBERG, 2009, p. 172,
173). Você pode observar, que em Mateus, muitas vezes, a expressão
Senhor em si mesma não precisa indicar meramente cortesia social (LADD,
2003, p. 287). Por esse, e os demais motivos é que você vai observar
abaixo, a cristologia de Mateus é “mais elevada” e mais explícita do que a
de Marcos e de Lucas.

Observe, estimado aluno, que a primeira designação que aparece para


Jesus é Messias (Cristo,j - Cristós) (1.1), título que se repete diversas
vezes no início do Evangelho (1.16,17,18). Esse título corresponde a uma
preocupação fundamental dessa seção introdutória: apresentar a Jesus
como o Messias enviado a Israel e como cumprimento das promessas.
No restante da obra, esse título ocorre poucas vezes (11.2-3;
16.16; 26.63) (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 311).

Ainda na seção introdutória, junto ao título de Messias (Cristo),


tem importância fundamental o tema da descendência davídica de
Jesus. Observe isso em 1.1,6,17,20; 2.6. O Evangelho Segundo
Mateus é o texto de O Novo Testamento que mais faz uso da
expressão “Filho de Davi”; das nove vezes em que aparece no
Evangelho, sete foram introduzidas pelo seu redator, ou seja, por
Mateus. O uso do título Filho de Davi confirma o caráter judeu-
cristão de Mateus (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 311).

O ressuscitado ainda conserva a fisionomia do Mestre. Ele não


envia os onze, como aparece em Marcos e Lucas, Atos e João,
como testemunhas da sua ressurreição, ou para proclamar o
evangelho. Jesus envia seus apóstolos para fazerem discípulos
Seus em todas as nações. Isto é, eles são enviados não apenas
para ensiná-las, mas para torná-las seus discípulos, ensinando-as
a observarem tudo o que Jesus lhes havia ensinado a observar
(28.19s). O Jesus glorioso, ressuscitado, os reenvia para que
recordem seus ensinamentos, dados na condição terrena, antes
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Estimado estudante, outro aspecto oculto e doloroso da pessoa de Jesus


reflete-se em sua obra. O Reino de Deus, que ele inaugura, possui origens
modestas e difíceis. O capítulo das parábolas traz esta afirmação (4.1-34).
Seus discípulos somente podem segui-lo por um caminho de humilhação,
de desprendimento e de cruz (8.34s; 9.35; 10.15; 10.24s,29s,39; 13.9-13).
A narrativa marcana demonstra que os acontecimentos foram a
confirmação deste plano divino. Em Jesus, humanamente falando,
“Para Mateus, em encontramos somente contradições e fracassos. É assim que Marcos
Jesus se realiza a destaca a insensibilidade das multidões (4.12; 5.40; 6.2s), as hostilidades
das autoridades judaicas (2.1-3,6; 3.22; 7.5; 14.1), a incompreensão de
presença de Deus sua própria família (3.21) e, por fim, a fraqueza de seus discípulos (6.52;
no meio de seu 7.18; 8.17s.21,33; 9.19,32,34; 10.38; 14.4s,27,30,37s,66-72).
povo e, De outro lado, Jesus como “o Filho do Homem”, manifesta, como
consequentement adiantamos acima, um mistério mais profundo. Ele é o misterioso
e, esse novo povo personagem messiânico de origem celeste anunciado em Daniel (7.13-14),
o qual padecerá, morrerá, mas ressuscitará (8.31; 9.9,31; 10.33-34) e virá
de Deus se na glória de seu Pai com os anjos (8.38), sentado à destra de Deus sobre as
caracteriza por nuvens e com grande poder (13.26; 14.62).
sua relação com Perceba estudante, que a chave para a compreensão desse Evangelho está
Jesus. ” na eminente dignidade de Jesus e em sua condição menosprezada: Jesus é
um Messias crucificado. Contudo, o escândalo da cruz só pode ser
compreendido através do fato de sua ressurreição gloriosa.

Jesus é o único Mestre (23.10) capaz de iluminar, exortar, julgar e tornar


leve o jugo (11.28-30) da Igreja. Ele está constantemente presente, desde
a encarnação, quando se apresenta como Emanuel (VEmmanouh,l - Deus
conosco, 1.23), no dia-a-dia, quando garante “estar no meio” daqueles
que se reúnem para orar (18.20), continuando a assistência também após
a ressurreição (“estarei com vocês todos os dias até a consumação dos
séculos”, 28.20) (MARCONCINI, 2012, p. 131).

Prezado aluno, para Mateus, em Jesus se realiza a presença de Deus


(VEmmanouh,l) no meio de seu povo e, consequentemente, esse novo
povo de Deus se caracteriza por sua relação com Jesus. Em 18.20,
Jesus fundamenta o poder da comunidade e a eficácia de sua oração
na promessa de que, “onde estiverem dois ou três reunidos em
meu nome, aí estou eu no meio deles” (evkei/ eivmi evn me,sw| auvtw/n
- ekei eimi em mesô autôn). Jesus, que por seu nascimento
humano era Deus-Conosco, continua agora desempenhando esse
mesmo papel para além de sua vida terrena.

o u h ,l Mateus não diz que Jesus é Deus, mas fala de tal forma que

m man insinua sua pertença especial à esfera da divindade. Em 9.2

V E Jesus é acusado de blasfêmia por sua pretensão de perdoar


os pecados, do que não se retrata em absoluto
(MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 314).

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3.3.1.3. DIMENSÃO ÉTICA E MORAL

A terceira e última dimensão é a Ética e moral. O Evangelho Segundo


Mateus coloca-se na mesma linha de Tiago. Ele oferece indícios da ética e
moral da comunidade cristã. O que importa é agir (7.21). O juízo final,
fortemente enfatizado, é levado a cabo com base nas obras de caridade.
Não basta pertencer fisicamente à comunidade: tem-se o chamado, mas
“Se quisermos ainda não se é eleito. A condição de eleito transparece diante de ações
cristãs concretas (MARCONCINI, 2012, p. 132).
tratar de normas,
podemos resumi- Desta maneira, prezado estudante, esse Evangelho traz cinco grandes
discursos descritos em uma forma característica de apresentação (Mt 5.1-
las em quatro 2; 13.1-3, por exemplo). Ao terminar, Mateus faz a conclusão do discurso
atitudes: o amor com fórmulas fixas: “... concluindo Jesus este discurso” (7.28; 19.1) ou
“... acabando Jesus de dar instruções aos doze discípulos” (11.1; 13.53;
(ágape); a 26.1). O conteúdo desses discursos é a ética. Nesse enfoque se entende
justiça, a retidão, melhor o sentido da afirmação de Jesus que veio para levar ao
cumprimento a Lei (5.17-19), a superação de certas normas mosaicas
a piedade (5.21-48), isso não para atenuar, antes, para realizar, de forma mais
(dikaiôsyne); a profunda, a vontade de Deus (19.8), concentrando-se no amor que já era
central no Antigo Testamento (ZUCK, 2010, p. 50).
misericórdia
(heléos); o Em Mateus, Jesus deixa claro que a fonte de todas as ações humanas,
justas e boas, consiste em três princípios elaborados em polêmica, contra
perdão (afiémi).” uma religião superficial e hipócrita: 1) a experiência religiosa dos
discípulos de Jesus deve superar o comportamento dos escribas e fariseus
(5.20); 2) a experiência religiosa dos discípulos deve levá-los a uma
confiança tal no Pai dos céus, a ponto de acreditarem na recompensa
daquilo que é feito em segredo (6.4,6,18) e não se mostrarem religiosos e
piedosos aos outros, apenas pelas aparências (6.1,5,16); 3) essa
experiência religiosa, deve levar os discípulos a consagrarem sua vida,
seguindo um só mandamento: amar a Deus totalmente, na experiência
concreta do amor aos irmãos (7.12) e não se deixarem aprisionar na gaiola
dos preceitos e de normas religiosas (MARCONCINI, 2012, pp. 133-142).
Contudo, se quisermos tratar de normas, podemos resumi-las em quatro
atitudes: o amor (ágape); a justiça, a retidão, a piedade (dikaiôsyne); a
misericórdia (heléos); o perdão (afiémi). Essas quatro atitudes, como
essência da religião, são aprofundamentos e princípios norteadores da vida
moral e espiritual.

3.3.2. O REINO DE DEUS

Em Mateus, estimado aluno, você encontra a declaração de que,


juntamente com o advento de Jesus Cristo, é chegado o Reino de Deus
(basilei,a| tou/ qeou - Basileía tou Theoû) ou Reino dos Céus (basilei,a tw/n
ouvranw/n - Basileía tôn ouranôn). A expressão preferida por Mateus é Reino
dos Céus, empregada 32 vezes, enquanto Reino de Deus é empregada
apenas quatro vezes (CHAVES, 2002, p. 39).
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Note que o Reino de Deus é apresentado em Mateus como um tesouro


(13.44-46), como um presente aos pequeninos (19.14) e como uma
prioridade (6.33). O próprio Evangelho é a boa nova do Reino (4.23). O
Senhor Jesus nos convida para tomarmos parte de seu Reino como quem
convida para um baquete ou uma festa (8.11; 22.1-14) (ZUCK, 2010, p.
36). A entrada no Reino de Deus se dá por meio do arrependimento (4.17).
Isso implica em uma vida que deve ser marcada por uma nova ética
(conforme vimos acima) que Jesus Cristo veio ensinar, baseada na nossa
condição de sal da terra e luz do mundo (5.13-14). Desse modo, a nossa
justiça deve exceder a dos escribas e fariseus (5.20). Um dia prestaremos
conta de nossas atitudes e pensamentos, quando do juízo eterno (12.36).
Portanto, Jesus exige a renúncia total a todo o tipo de apego aos valores
seculares (16.24) (CHAVES, 2002, p. 40, 41).

3.3.3. ESCATOLOGIA

Estudante, perceba que Mateus destaca a vinda de Cristo como Filho do


Homem na função de juiz universal e glorioso, que dará a cada um segundo
as suas obras (16.27). Este é o único evangelista que utiliza a expressão
parousia (parousi,a - 24.3,27,37,39) para falar da vinda do Filho do Homem
(ZUCK, 2010, p. 63). Também é Mateus quem dá mais destaque ao juízo
futuro, com um anúncio de juízo mais ou menos claro. O homem pode
seguir o caminho largo que leva à perdição ou o estreito que conduz à vida
(7.13-14), pode edificar sua casa sobre rocha, de modo que possa resistir
sempre, ou sobre a areia, que acaba logo em ruínas (7.24-27). O discurso
do capítulo 13 termina com a parábola da rede, que é tipicamente de
juízo, sobre a separação dos peixes bons e dos maus (13.47-50; cf. 13.36-
43) (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 329, 330).

Em Mateus o juízo será precedido pela ressurreição dos mortos. A segunda


vinda de Jesus será o evento escatológico marcante. O termo preferido por
Mateus para descrevê-lo, como vimos acima, é parousia, que significa
presença. O sermão do monte das Oliveiras concentra o maior conteúdo
dos ensinos de Jesus a esse respeito. Aqui, fica evidente que a segunda
vinda de Cristo será iminente (24.24), repentina (24.27) e visível em poder
e grande glória (24.30). A incerteza do tempo em que acontecerá é
comparada com a chegada do ladrão da noite (24.43) e com os tempos de
Noé (24.37-39) (CHAVES, 2002, p. 45).

Quantas informações novas você aprendeu até aqui. Permaneça firme em


seus estudos!

Nesse capítulo você aprendeu sobre o Evangelho Segundo Mateus, vimos a


data de composição, o lugar em que este Evangelho foi escrito, e qual o
propósito dele. Também aprendemos sobre as questões literárias e para
finalizar estudamos as questões teológicas e dividimos o pensamento
mateano em três dimensões: a dimensão eclesiológica, a dimensão
cristológica e a dimensão ética e moral.

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FACULDADE
CRISTÃ DE CURITIBA
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