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A Necessidade da Demitologização ou Demitização da Bíblia em Rudolf Bultmann

Jaime Timóteo Arcanjo Sangarote1

Docente: Remígio2

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Resumo

O presente artigo discursa em torno de: A necessidade da desmitologização da Bíblia em


Bultmann. Sendo assim, o conceito de demitologização ou demitização vem de Rudolf
Bultmann, um proeminente teólogo, existencialista e estudioso do Novo Testamento no século
XX. Contudo,o porquê de Bultmann procurar demitizar a mensagem cristã não está em eliminar
o texto, mas interpretá-lo. Por isso que, a sua visão teológica é existencialista. Para Bultmann, é
impossível e totalmente sem sentido a imagem mítica do mundo nos nossos dias, na realidade em
que vivemos. Para ele o homem moderno não pode reconhecer como verdadeiro esta imagem
mítica do mundo formulada no passado, sem quase nenhum pensamento científico.
Palavras-Chave: Demitização. Existencialismo. Hermenêutica.

Introdução

O presente artigo tem como tema: A Necessidade da Demitologização ou Demitização da


Bíblia em Rudolf Bultmann. Sendo assim, houve a necessidade de abordar a temática como meio
para esclarecer o seu pensamento em torno da demitização da bíblia. Portanto, O porquê de
Bultmann procurar demitizar a mensagem cristã ou bíblica? Será que demitizar é eliminar a
bíblia na visão dele. Desta feita, o objectivo Geral do artigo é de compreender a interpretação do
pensamento de Bultmann em detrimento a demitização da bíblia. Para a concretização do
trabalho, usaram-se os métodos: dedutivo, analítico e hermenêutico. E como referência literária
para o trabalho, usou-se a obra do próprio autor em destaque intitulada “Jesus Cristo e
Mitologia”, que possuí vários aspectos em prol do seu pensamento teológico, sobretudo a
questão da demitização. Contudo, o corpo do trabalho possui um único item.

1
Licenciando em ensino de filosofia, pela Universidade Licungo-Beira, no curso de graduação, da Faculdade de
Letras e Humanidade.
2
Docente do curso de Filosofia da Faculdade de Letras e Humanidade, na Universidade Licungo-Beira.
2

1 A Necessidade da Demitologização ou Demitização da Bíblia em Rudolf Bultmann

O conceito de demitologização ou demitização vem de Rudolf Bultmann, um


proeminente teólogo, existencialista e estudioso do Novo Testamento no século XX. Bultmann
acreditava que o Novo Testamento era simplesmente o relato humano dos encontros divinos dos
escritores com Deus em Cristo. De acordo com Bultmann, os escritores dos Evangelhos usaram
os únicos termos e conceitos que tinham à sua disposição na época, e esses termos e conceitos
estavam inextricavelmente ligados ao milagroso e sobrenatural, o qual Bultmann via como mito.

Dentre suas diversas ideias teológicas de Bultmann é mais popularmente conhecido por
sua proposta a “desmitologização” do Novo Testamento como referenciado acima. Para este
teólogo alemão, os eventos narrados no Novo Testamento estão marcados por narrativas
sobrenaturais, que os mesmos não devem ser reconhecidos com créditos, mas antes deveriam ser
lidos e interpretados à luz da mitologia da perspectivas do pensamento oriental da época.

“É certa que a desmitologização adota como critério a visão moderna de mundo.


Porém, desmitologizar não significa recusar a escritura em sua totalidade ou a
mensagem cristã, senão que eliminar de uma e de outra a visão bíblica de mundo,
que é a visão de uma época passada, (...) desmitologizar supõe negar que a
mensagem da Escritura e da Igreja estão ineludivelmente vinculadas a uma visão
de mundo antiga” 3.

Portanto, é importante destacar que desmitologiza é um genuíno exercício hermenêutico.


Não significa, de modo algum, uma destruição da linguagem mítica como se essa fosse
simplesmente o resultado de uma visão de mundo ingênua. Contudo, a tarefa hermenêutica não
seria a de destruir o mito como uma falsa linguagem, mas sim, recuperar a resposta
neotestamentária sobre o lugar do ser humano em seu mundo.

“A visão bíblica do mundo é mitológica e, portanto, é inaceitável para o homem


moderno, cujo pensamento tem sido modelado pela ciência e já não tem mais
nada de mitológico. O homem se serve sempre dos meios técnicos, que são o
resultado da ciência. Em caso de enfermidade, recorre aos médicos e à sua
ciência médica. Se se trata de assuntos econômicos e políticos, utiliza os

3
Bultmann, 2008, p.29
3

resultados das ciências psicológicas, sociais, econômicas e políticas, e assim


sucessivamente. Ninguém conta com a intervenção direta de poderes
transcendentais” 4.

Para o homem de nosso tempo, a concepção mitológica do mundo, as representações da


escatologia, do redentor e da redenção, já está superada e carecem de valor. Sendo assim, para nós
modernos, uma pessoa quando fica doente procura um médico e não se põe a rezar para que
milagrosamente sua doença seja curada. Contudo, exigir que essa mesma pessoa, que na sua vida
cotidiana age dessa forma, tenha que aceitar uma visão de mundo arcaica onde a doença era vista
como possessão de algum espírito maligno, é afastá-la da possibilidade de experienciar a força e
atualidade do Kerigma em sua vida, é bloquear a possibilidade de a experiência acontecer.

Para Bultmann a Teologia de cada época precisa ser contextualizada, tentando


compreender o Kerigma, ou seja, a mensagem revelada, bem como traduzi-la tornando-a bem
atual. Bultmann observa a teologia como ultrapassada, precisando ser atualizada e reavaliar os
conceitos em relação ao que ele considera mito: anjos, demônios, céu, inferno.

“A ciência atual já não é a mesma que a do Século XIX, ainda que todos os seus
resultados seguem relativos e nenhuma visão de mundo seja de ontem, de hoje ou
de amanha, é definitiva. Porém, o essencial não são os resultados concretos da
investigação científica e os conteúdos específicos de uma visão de mundo, senão
o método de pensamento do qual se seguem tais concepções de mundo (...). Por
conseguinte, o homem moderno só reconhece como reais os fenômenos que
sejam compreensíveis no marco da ordem racional do universo. Não admite a
existência de milagres, porque não se encaixam nesta ordem racional. Quando
ocorre algum acidente estranho ou maravilhoso, não descansa até ter encontrado
uma causa real que o explique” 5.

O porquê de Bultmann procurar demitizar a mensagem cristã não está em eliminar o


texto, mas interpretá-lo. Por isso que, a sua visão teológica é existencialista. Para Bultmann, é
impossível e totalmente sem sentido a imagem mítica do mundo nos nossos dias, na realidade em

4
Bultmann, 2008, p.29-30
5
Ibidem
4

que vivemos. Para ele o homem moderno não pode reconhecer como verdadeiro esta imagem
mítica do mundo formulada no passado, sem quase nenhum pensamento científico.

Portanto, os milagres e eventos sobrenaturais, não deveriam ser entendidos como eventos
históricos, mas sim como histórias mitológicas que devem ser eliminadas a fim de chegarmos às
verdades que estariam inseridas por detrás delas. Pois para Bultmann o homem moderno, devido
ao ambiente avançado pela tecnologia e da sua capacidade de desvendar e desconstruir o que era
mistério pelos supersticiosos antigos, proporcionado pela ciência, de não aceitar mais linguagens
mitológicas. Pois para o homem/mulher secularizado os elementos mitológicos das escrituras
frutam de uma cultura passada há quase dois mil e quinhentos anos não fazem nenhum sentido.

“O contraste entre a antiga visão bíblica do mundo e a visão moderna é o que


separa as duas maneiras opostas de pensar, a mitológica e a científica. O método
que o pensamento segue hoje em dia e a investigação científica são, em princípio,
o mesmo que regia nos começos da ciência metódica e crítica da Grécia antiga
(...). Porém, de momento, nos basta dizer que o pensamento dos homens
modernos tem sido realmente modelado pela visão científica do mundo, a qual
responde às necessidades de sua vida quotidiana” 6.

Contundo, o existencialismo presta-se admiravelmente à interpretação da Escritura, não


só por sua pré-compreenção da existência humana em geral, mas também por sua concepção do
homem em suas características específicas. Segundo o existencialismo, o homem distingue-se
das outras criaturas porque, diversamente delas, não é algo finito, verificável, tangível, mas sim
uma mina de possibilidades, as quais fazem de sua vida uma vida de decisões. A existência
humana é uma luta perene entre vida inautêntica e vida autêntica. A plenitude e a completeza da
vida só podem ser alcançadas quando se aceita e vive para extrema possibilidade, a morte.

Considerações finais

Concluindo, o artigo discursava em torno da necessidade da demitologização ou


demitização da bíblia em Rudolf Bultmann, onde segundo ele, para o Homem de nosso tempo, a
concepção mitológica do mundo, as representações da escatologia, do redentor e da redenção, já está
superada e carecem de valor. Sendo assim, para nós modernos, uma pessoa quando fica doente

6
Bultmann, 2008, p.30 e 31
5

procura um médico e não se põe a rezar para que milagrosamente sua doença seja curada.
Contudo, exigir que essa mesma pessoa, que na sua vida cotidiana age dessa forma, tenha que
aceitar uma visão de mundo arcaica onde a doença era vista como possessão de algum espírito
maligno, é afastá-la da possibilidade de experienciar a força e atualidade do Kerigma em sua
vida, é bloquear a possibilidade de a experiência acontecer. É por esta razão que ele demitiza
uma parte da bíblia por causa dessas concepções mitológicas do mundo arcaico em detrimento
do Homem moderno.

Referência Bibliográfica

Bultmann, R. (2008). Jesus Cristo e Mitologia. Tradução: Daniel Costa. São Paulo, Brasil: Fonte
editorial.

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