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PRINCÍPIOS DA HERMENÊUTICA

Pr. Ricardo Galindo

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PRINCÍPIOS DA HERMENÊUTICA
2Pd. 3.18
Jo. 5.39
Introdução:

Definição de Hermenêutica
Hermenêutica é uma Palavra Grega derivada do nome Hermes,
um mensageiro da Mitologia que tinha como tarefa entregar e
interpretar mensagens dos “deuses aos Homens”.
É a Ciência que tem como objetivo descobrir e explicar o
verdadeiro sentido do Texto. É também a Ciência que nos ensina
as regras de Interpretação para o entendimento correto do texto.
Essa Ciência é fundamental para o estudante da Bíblia Sagrada.

Qual a importância da Hermenêutica?


2Pd. 1.20,21 “sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da
Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi
produzida por vontade de homem algum, mas os homens de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo.”
A Bíblia não pode ser encarada como um livro qualquer, ela é
atemporal, além do espaço geográfico, pode inserir-se em
qualquer cultura, e pode ser compreendida em qualquer língua.
Tudo isso porque a bíblia é uma produção Divina para revelar-se
ao Homem.
2Pd. 3.15,16 “...como também o nosso irmão Paulo vos escreveu,
segundo a sabedoria que lhe foi dada, falando disto, como em todas as
suas epistolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os
indoutos e inconstantes torcem e igualmente para sua própria perdição.”
A Bíblia é a Palavra de Deus, e compreensível a todos os homens,
porém não pode ser interpretada de qualquer maneira, existem
regras que precisam ser aplicadas para o verdadeiro entendimento
daquilo que o Senhor revelou a nós. A falta da verdadeira
interpretação gera heresias abrindo portas para surgimento de
falsos ensinos e seitas nocivas a Igreja que é a coluna e firmeza da
Fé.

A Bíblia é aplicada a todos os seres humanos, é a fonte mais


segura e inerrante de comunicação de Deus para com o ser

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humano, porém devemos ter alguns cuidados relacionados a
aplicação das Escrituras. Vejamos os usos dessas aplicações:
I. APLICAÇÃO PRIMÁRIA
A aplicação primaria é aquela que pode ser aplicada somente
para aquele contexto em que fora escrito. Ex:. no A.T. os
códigos civis, sociais, religiosos, para a nação de Israel diz
respeito aquela época, o que podemos aplicar são princípios
espirituais a partir dessas recomendações, leis Divinas.

II. APLICAÇÃO SECUNDARIA


A aplicação secundária diz respeito a todos os seres humanos
de forma atemporal ou seja de todas as épocas. Ex:. os ensinos
das escrituras relacionadas as doutrinas sobre Deus, Diabo,
salvação, pecado, céu, inferno... a aplicação dessas leis e
ensinos morais, sociais e espirituais são para todas as pessoas
independente de época, nação, raça, cultura, gênero e etc.

III. APLICAÇÃO PROFÉTICA


A aplicação profética diz respeito ao cumprimento futuro do
texto bíblico. Ex.: Jl.2:28,29 - At.2.1-18 – ao logo da História
(Rua Azuza em Los Angeles, Califórnia). A promessa da volta
de Cristo. O Milênio e etc.

É bom lembrar que, em alguns momentos encontramos duas ou


até mesmo as três aplicações juntas em um único texto. Ex:.
Mt.24.

REGRAS NA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Para interpretar a bíblia de forma correta precisamos de


algumas regras infalíveis que nos livram de cometermos
equívocos doutrinários e nos auxiliam a compreender e aplicar
o texto da maneira correta. Se as regras não forem aplicadas
segundo as regras da hermenêutica corremos o risco de
cometermos um erro muito comum em nossos dias,
interpretarmos errado e aplicarmos equivocadamente.

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I. A REGRA FUNDAMENTAL DA HERMENÊUTICA

A Bíblia interpreta a própria Bíblia


- Os textos da Bíblia não podem ser interpretados
isoladamente, deve-se prestar a atenção se a interpretação está
em conformidade com os ensinos gerais e não simplesmente
em “achismos”.
- A Bíblia não precisa de algum outro complemento para ser
interpretada, como livros, revistas, comentários, revelações.
Ela interpreta-se a si mesma sem a necessidade de outros
meios de interpretações.

II. A PRIMEIRA REGRA DA HERMENÊUTICA

Sempre que possível é necessário, tomar as palavras


em seu sentido usual, popular ou comum.
- O sentido usual não é o mesmo do que literal.
- Gn.6.12 “carne” a linguagem usual refere-se ao ser humano.
- Rm 8.4 “carne” a linguagem usual significa natureza pecaminosa.
- Ez. 3.1,2 “comer o rolo de um livro” ler o livro na linguagem usual.
- Is. 53.6 “caminho” a linguagem usual é maneira de viver.
- 1Cor. 15.31 “dia após dia eu morro” a linguagem usual é: vivo para
Cristo e não para os prazeres do mundo.
- Em algumas passagens precisamos interpretar literalmente. A primeira
regra não pode ser realizada aleatoriamente.
- Lc. 24.43 “comer” Jesus realmente comeu peixe.
- Hb. 9.27 “morte” literal.
- O mais importante nesta regra é atentar-se para as palavras comuns a
cultura da época.

III. A SEGUNDA REGRA DA HERMENÊUTICA

Sempre que possível tomar as palavras no sentido


indicado pelo conjunto da frase.

- Existem palavras na Bíblia que tem um significado em um texto e em


outro um significado completamente diferente, e a verdadeira
interpretação depende do conjunto da frase.

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- Rm 13.11 “salvação” essa palavra está relacionada com salvação
eterna.
- Ex 15.2 “Salvação” essa palavra está relacionada com livramento
físico.
- Ef. 2.8 “Graça” essa palavra significa favor imerecido de Deus.
- 2 Co13.13 “Graça” pronunciamento de benção.
- At. 13.43 “Graça” os ensinos do evangelho.
- At. 4.33 “Graça” amor fraternal.
- Rm. 5.20 “Graça” significa perdão.
Existem outras palavras com vários significados como: fé, deus, lei e
etc.
A segunda regra não pode ser apenas uma opção. Pelo contrario, quando
o interprete da Bíblia encontrar palavras chaves em um texto,
necessariamente precisa buscar seu significado através do conjunto da
frase.

IV. A TERCEIRA REGRA DA HERMENÊUTICA

Sempre consultar o contexto.

- O contexto são os versículos que antecedem e sucedem o texto, não


significa que devemos observar apenas o capitulo porque o contexto em
alguns momentos ultrapassa o mesmo.
- Mt,16.28;Mc.9.1;Lc.9.27 - O que Jesus quis dizer com isso?
- Ef. 3.4 – a palavra mistério significa o quê? Ver. v.5,6.
- Mt. 13.3-8 – Qual a interpretação da parábola? Ver. v.18-23.
- Os parênteses existentes em algumas traduções bíblias significam
outro assunto ou a explicação do mesmo.
- O contexto precisa ser consultado todas as vezes que o texto for
interpretado. Não se pode formar doutrina sem o uso do contexto.
- At 5:29 “Porém respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: mais
importa obedecer a Deus do que aos homens”
- Esse texto poderia servir de base para desobediência as autoridades se
isolarmos do contexto, porque nesse caso a obediência as autoridades
esta confrontando com a Palavra de Deus.

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V. A QUARTA REGRA DA HERMENÊUTICA

Sempre considerar o objetivo e designo do livro ou da


passagem a ser analisada.

É importante sempre procurar compreender o objetivo geral do livro ou


passagem em análise, são importantes perguntas como: quem escreveu o
livro, em que época e sob quais circunstancias, qual o propósito, e quem
é o destinatário.
- Jo. 8 – O versículo 6 mostra os motivos pelos quais levaram a mulher
adultera diante de Jesus. Jesus expôs a pecaminosidade deles porque
viviam uma falsa religião.
- Lc. 10.25-37 – Por que a parábola do bom samaritano? O objetivo da
passagem é responder a pergunta: Quem é o meu Próximo?
- Tiago 2.17– Fé e obras: Tiago escreve a igreja sobre a prática da fé
através das obras de piedade.
- Paulo Gl. 3.2; Ef.2.8,9– Fé e obras: Paulo escreve aos gentios para que
não se submetam a lei judaica em detrimento da salvação.
- O estudo de todo o livro e passagens, é fundamental para
interpretarmos corretamente o texto escolhido.

VI. A QUINTA REGRA DA HERMENÊUTICA

Sempre consultar as passagens paralelas, por palavra,


idéia ou ensinos gerais da Bíblia.
É importante saber que para uma doutrina ser estabelecida é necessário
além do uso do contexto o apoio de vários outros textos paralelos em
palavras, ou em idéia, ou até mesmo em ensinos gerais.

1. PARALELAS DE PALAVRAS
A mesma declaração com palavras paralelas ou termos com o mesmo
significado em outros textos.
- Mt. 7.7 “Pedi, e dar-se-vos-á...”
- Mc. 11.24 “pedir com fé”
- Jo. 15.7 “se vós estiverdes em mim e as minhas...pedireis tudo”
- 1Jo. 5.14 “Deus ouvirá segundo a vontade dele.”
- Cuidados quanto ao uso de palavras paralelas, por exemplo, a palavra
“arrepender”. Esse termo é usado no Antigo Testamento com outros
sentidos além do uso geral do Novo Testamento, no qual aparece 34
vezes como (arrepender) e 23 vezes como substantivo (arrependimento).
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Quase sempre significa uma mudança de mente comportamento do
pecador para com Deus.

2. PARALELAS DE IDÉIAS
A procura de outros textos que abordem o mesmo assunto auxilia na
compreensão do texto escolhido para ser interpretado.
Hb.13.8 “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e o será eternamente”
Mas Jesus foi o Verbo, encarnou, também teve seu corpo
transformado, como pode ser o mesmo? Resposta: O mesmo em
essência, em caráter, Jesus sempre foi, é e sempre será Deus.
Mt. 16.18 “...tu és Pedro e sobre esta pedra...” Onde a igreja é
edificada? 1Co.3.11; 1Pd.2.6.
O auxilio da terceira regra é fundamental no tocante as passagens
paralelas por idéia para que se tenha certeza, de que, trata-se do
mesmo assunto. Cuidado com dezenas de textos que concordam
entre si como a instituição do sábado, porem são severamente
confrontados em outros textos: Jo. 5.17,18; Cl. 2.16; Gl.

3. PARALELAS DE ENSINOS GERAIS


Existem determinadas passagens bíblicas que não se encontra palavras
semelhantes e nem a idéia de tal texto, fazendo-se necessário observar os
ensinos gerais da escritura sobre o determinado assunto.
- Jo 1.1 “No Principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o
Verbo era Deus.”
- Cl 1.15 “o qual é a imagem do Deus invisível e primogênito de toda
criação.” São textos que se interpretados de maneira equivocada podem
questionar a deidade de Cristo. Jo. 5.18; Jo 8.58,59; Jo. 20.28; At. 4.12;
1Tm. 2.5.
Os ensinos gerais das escrituras são geralmente encontrados em doutrinas
fundamentais como: Deus, Trindade, atributos de Deus, pecado, salvação,
igreja, volta de Cristo, céu, inferno e outros assuntos relevantes e
inabaláveis que norteiam a fé cristã.

A TIPOLOGIA BÍBLICA
Tipologia é a ciência que estuda os tipos e os tipos são elementos reais
que apontam uma realidade futura chamada antítipo.
Deus prefigurou no A.T. e cumpriu no N.T. sua obra redentora para a
humanidade, e revelou-se progressivamente na história e é exatamente
nesse principio que a tipologia se alicerça.

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Cuidados indispensáveis

- O antítipo é sempre mais forte do que o tipo. Ex. Isaque é o tipo de


Cristo.
- O tipo é algo sempre terrestre.
- O antítipo pode ser terrestre ou celeste. Hb. 9:24.
- O tipo é profético porque aponta para o futuro.
- Os tipos se assemelham de alguma forma ao antítipo, diferente do
símbolo.
- A tipologia é a busca de vínculos históricos, diferente da alegoria que
busca um significado secundário oculto no primário.
- Deve haver um ponto evidente de semelhança entre tipo e antítipo.
- Os tipos nunca servem de base para doutrina da fé cristã.

Evangelho de João: CRISTO – antítipo


Tipos- cordeiro de Deus(1;29); templo(2.19-21); serpente de
bronze(3.14); água da vida(4.14); maná(6.35); a rocha da água
viva(7.37,38); pastor(10.11); grão de trigo(12.24)

PESSOAS:
Enoque – Igreja
Eliezer – Espírito santo
Faraó – Inimigo
Rute – O que renuncia tudo
Isaque – Cristo
EVENTOS:
O sacrifício de Abraão – Deus oferecendo seu Filho.
Noite da Páscoa – O sangue de Cristo protegendo seu povo
PAÍSES:
Egito – o mundo
Babilônia – poder do mal
ANIMAIS:
Cordeiro – Cristo
Ovelha – Crente
Raposa – inimigo astuto

EXPRESSÕES HEBRAICAS

A bíblia foi escrita em grande parte em um ambiente cultural dos


hebreus, alguns termos são peculiares ao povo hebreu e são chamados
de “hebraísmo”. Ex.

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Lc. 14.26 “...se alguém não aborrecer pai, e mãe...” a palavra aborrecer
é um hebraísmo. (leia Mt.10.37).
Sl.14.7 “...exultará Jacó e Israel se alegrará” o nome dos pais pra
designar seus descendentes. Outros exemplos: filhos de Davi, de Levi e
etc.
Lugares que tem vários nomes:
Horebe e Sinai – é o mesmo monte
Mar – Tiberíades (Mc.1.16; Jo.6.1) ou Galileia ou Quinerete (Nm
34.11) é o mesmo mar (lago).
Israel – Terra Santa, Canaã, Palestina, Terra da Promessa.

AS PARABOLAS E SUA APLICAÇÃO NA


BÍBLIA

O termo parábola significa “colocar ao lado de”. A parábola é um tipo


de comparação, e através dela, transmite-se uma verdade moral ou
espiritual. Jesus usou esse recurso em sua didática de ensino em
aproximadamente 50 vezes, e seu objetivo era simplificar o evangelho
do Reino aos indoutos.
A Parábola se limita ao real e não vai além daquilo que não pode
acontecer, para interpretar a parábola sempre se faz necessário consultar
o contexto. Essa maneira de ensino é marcante porque sempre que se
remete a um determinado assunto os ouvintes se remetiam aquele fato
do cotidiano dos ouvintes.

METODOS DE INTERPRETAÇÃO DA
PARABOLA
- Não confundir parábola com alegoria, porque na alegoria cada
elemento tem um significado diferente da própria história, enquanto a
parábola busca em sua maioria um único significado.
- O propósito da parábola precisa esta bem clara na mente do interprete.
- Sempre consulte o contexto para entender a centralidade do ensino.

EXEGESE

O Termo EXEGESE vem da expressão grega “conduzir para fora”


sendo assim o papel da Exegese é revelar ou trazer a luz o texto de
maneira genuína e fidedigna.
A Exegese Bíblica é a Disciplina que Aplica técnicas que auxiliam o
estudante das Escrituras ao real entendimento do Texto Sagrado
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utilizando-se da Etimologia através do Conhecimento das línguas
originais (Hebraico, Aramaico e Grego) para uma compreensão exata do
Texto.
Portanto para se fazer um Estudo Exegético do texto é necessário o
estudo das Línguas: Hebraico e Grego coinê.

CONCLUSÃO:

A Bíblia é um manancial de Deus para a Humanidade em todos os


tempos, a Interpretação Bíblica é fundamental para o leitor e estudante
da mesma, percebemos que não é de particular interpretação e para que
se tenha êxito na compreensão do texto existem regras a serem seguidas,
aprendemos além das regras as figuras de linguagem, os métodos de
interpretação, os aspectos peculiares da cultura lingüística da época,
portanto, acreditamos que este material é uma ferramenta importante
para o entendimento e o mais relevante a pratica das Escrituras Sagradas
em nossa vida. E a Deus seja a Gloria.

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